Tutoria em EAD
Tutores ou professores?
João Luís de Almeida Machado1
Tutoria – Cargo ou autoridade de Tutor. [Mini Aurélio – Dicionário]
Tutor – Indivíduo legalmente encarregado de tutelar alguém;
Protetor. [Mini Aurélio – Dicionário]
Não existe ainda uma terminologia própria para utilizar-se no que tange
ao papel exercido pelos educadores que trabalham em Educação a Distância
[EAD]. Ao observarmos com atenção a descrição dos verbetes Tutor e Tutoria
apresentadas no Dicionário Aurélio, por exemplo, notamos que a conotação
dada a estas palavras relaciona-se mais diretamente as necessidades e a
realidade jurídica que propriamente a educacional.
Ainda assim estes termos foram aos poucos se estabelecendo no Brasil
como representativos da função exercida pelos profissionais que oferecem
suporte ao crescente público de cursos em EAD. Não se fala e nem se
mencionam os responsáveis pelos cursos como sendo professores ou
educadores. Há, certamente, um distanciamento provocado pela compreensão
do trabalho de professores e/ou educadores como sendo aquele que se
executa numa sala de aula, em moldes mais convencionais.
Salas de aula virtuais, estabelecidas em ambientes próprios para a
realização de cursos a distância, não correspondem a esta leitura mais
tradicional do trabalho dos educadores e, como conseqüência disto, decidiu-se
1
Editor do Portal Planeta Educação [www.planetaeducacao.com.br]; Doutorando em Educação:
Currículo pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie [SP]; Graduado em História pela Univap; Autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte
– Aprendendo com o Cinema” [Editora Intersubjetiva].
pela não utilização dos vocábulos professor e educador como referenciais para
estes profissionais.
Isto também pode ser indicativo de que há cursos onde os tutores não
são graduados em pedagogia ou áreas afins, como as licenciaturas? Pela
rápida proliferação dos cursos, por seus baixos custos, pela rapidez com que
se processam ou ainda pela recente cassação de direitos de manutenção de
cursos por algumas das maiores instituições operando em EAD no país pelo
MEC [Ministério da Educação e Cultura] é evidente que sim. As estruturas
operacionais tendem a ser enxutas e compostas por núcleos diretivos
diretamente relacionados aos administradores das instituições e também pela
linha de frente, composta pelos responsáveis pelo atendimento direto aos
clientes [que executam serviços de atendimento online relativo a serviços
burocráticos] e pelos tutores.
Se os tutores tiverem formação superior em Pedagogia ou licenciaturas
[matemática, história, geografia, letras, artes...] configura-se uma estrutura
funcional que podemos considerar como adequada, mas ainda não ideal.
Mesmo porque é preciso que estes tutores não apenas dominem os elementos
específicos das áreas do conhecimento em que se graduaram. Espera-se deles
que conheçam o projeto do curso [e que preferencialmente tenham participado
de sua composição] – de suas origens até os elementos disciplinares
específicos com os quais irão trabalhar.
Mas não é só isso. Os tutores, além de graduados e habilitados para o
planejamento e exercício de funções pedagógicas ou da compreensão geral da
estrutura de funcionamento do curso em que trabalham, devem também
compreender o conceito de EAD, seu modo de operação, suas funcionalidades,
a cultura relativa ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação e
saber como operacionalizar seu curso dentro desta diferente realidade.
É preciso que o tutor tenha, no caso, “horas de vôo” ou de “navegação”
em Internet para que consiga atuar em EAD. Conhecimentos básicos não
resolvem o problema, ou seja, não dá para trabalhar neste segmento apenas
conhecendo superficialmente o navegador Internet Explorer e os aplicativos do
pacote Office da Microsoft. A utilização da Internet apenas de forma rasteira e
básica, com o uso de e-mails, comunicadores instantâneos ou de páginas de
pesquisa como o Google também são insuficientes neste caso.
O tutor deve formar-se para o uso de plataformas específicas criadas
para o exercício de sua função profissional online nos cursos de EAD, isto
significa conhecer, por exemplo, o Moodle e o Teleduc [as duas mais populares
bases de operação em EAD utilizadas no Brasil] e atualizar-se constantemente
quanto às ferramentas que são usadas de forma regular como mecanismos de
comunicação, troca, intercâmbio, estudo e aprofundamento nas referidas
plataformas de EAD.
Camtasia, Blogs, Webquest, Vídeo-Conferência, Wikis, Hot Potatoes,
Vídeos, Fóruns, Podcasts e Chats [Salas de Discussão] são algumas das
ferramentas de uso corriqueiro em EAD e, certamente, para trabalhar no ramo
é preciso que os candidatos a tutores não conheçam apenas a descrição dos
referidos aparatos tecnológicos, mas que igualmente tenham colocado a “mão
na massa”, literalmente. Conhecer teoricamente e não possuir as mencionadas
“horas de navegação” é como fazer o curso de direção apenas na auto-escola,
sem que se tenha sentado ao volante do veículo e realizado balizas, rampas,
manobras em trânsito...
Seria então este o perfil esperado dos tutores em EAD: Conhecimento e
formação em área pedagógica; Participação ou conhecimento do processo de
estruturação dos cursos em EAD em que irá atuar; Competência técnica em
Tecnologias de Informação e Comunicação [Geral]; Conhecimento e preparo
para o trabalho com plataformas educacionais para EAD e todas as suas
ferramentas e funcionalidades? Isso já resolveria?
Não, ainda não. O tutor deve ter disponibilidade de tempo e o necessário
ensejo e satisfação [gosto] pelo trabalho com tecnologias. Além disso, tem que
ser organizado e, de antemão ter previamente definidas as estruturas e
caminhos que pretende seguir na consecução de um curso em EAD.
Comunicar-se adequadamente, em alto nível, sem correr os riscos de transmitir
idéias e conceitos utilizando gírias ou jargões da internet [como palavras
abreviadas utilizadas em comunicadores instantâneos] é outra característica
básica. Ter conhecimento de mundo, informando-se regularmente através da
própria web e também da leitura de jornais, revistas, artigos científicos e livros
é outro requisito.
E é nesse ponto que reside minha dúvida quanto ao termo Tutor... Se
deste profissional se esperam todas estas qualidades e características, porque
não chamá-los de professores ou educadores, afinal de contas, com tantas
demandas para o seu exercício profissional, o que se espera não é apenas
uma tutoria, mas realmente a efetivação de um processo formativo bastante
completo, não é mesmo...
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