ISSN 1645-9032 Número 21 l Setembro de 2005 ALTERAÇÃO DE PRÁTICAS DE CUIDADOS Promoção do desenvolvimento nos recém-nascidos RUI MATOS QUANDO SE PERDE UM FILHO O adeus ao enfermeiro “brincalhão” Um berço vazio notas locais “SEPARAR PARA AJUDAR” Dê tampas a quem mais precisa “Separar para ajudar” é uma iniciativa que tem por objectivo juntar o maior número de tampas possíveis para reciclar, que servirão como “moeda de troca” na compra de material ortopédico. À imagem de muitas outras instituições e de particulares, também o nosso Hospital está a aderir a esta iniciativa. O empurrão foi dado pelo pessoal dos Recursos Humanos, local onde existe um garrafão destinado a depositar as agora valiosas tampinhas de plástico (de água, refrigerantes, iogurtes líquidos, detergentes, shampoos, desodorizantes, etc.). A empresa responsável por esta campanha na zona metropolitana de Lisboa, a Valorsul, ao receber um determinado volume de tampas, compra material ou equipamento ortopédico a pessoas necessitadas que se tenham inscrito nesta acção. De cada vez que se enche um camião com cerca de 7 ou 8 toneladas de tampas, estamos a contribuir para ajudar aqueles que mais precisam. São muitas toneladas mas a vontade e a solidariedade de ajudar o próximo tem de ser ainda maior ou, neste caso, mais pesada. Por isso, já sabe, todas as tampas com que se cruzar no seu dia-a-dia, entregue-as nos Recursos Humanos. Estas, serão depois depositadas no Centro de Triagem e Ecocentro, que as enviará para a Valorsul. Contactos: Centro de Triagem e Ecocentro Vale do Forno, Estrada Militar ao Lumiar 1750-164 Lisboa. Tel: 21 754 22 50 VALORSUL Direcção de Comunicação, Imagem e Documentação. Tel: 21 953 59 00 Para saber mais informações consulte o site: www.valorsul.pt O Serviço de Recursos Carlos Aurélio Santos Humanos não poderia - Chefe de Serviço e deixar de referenciar, à Director do Serviço semelhança do que fez de Cirurgia Geral para outros trabalhaEugénia Nunes dores, o falecimento Alcobia - Enfermeira do Enfermeiro Rui Graduada (Bloco de Matos, que vimos Partos) ALICE LUCAS partir no passado mês Graciete Pereira Silva Chefe de Repartição de Julho. - Auxiliar de Acção A curta frase com que Médica Principal nos presenteava quando, por (Esterilização) qualquer motivo nos deslocá- Isilda Fernanda Lobo - Enfervamos ao Serviço de Urgência - meira Graduada (Cirurgia Geral) ‘Precisa de ajuda?’ -, é bem o sinal da sua humanidade e o sentir da Felicidades para esta nova etapa sua profissão. das suas vidas. O Enfermeiro Rui deixou-nos mas o seu exemplo, não! LEGISLAÇÃO: Portaria n.º 685/2005 de 18 CONCURSOS de Agosto - Aprova as quantias DE PROMOÇÃO: devidas pelos exames e perícias O actual Conselho de Admi- médico-legais e forenses realinistração autorizou a abertura zados pelos peritos contratados de concursos de promoção nas para o exercício dessas funções. carreiras dos funcionários com vínculo à Função Pública, inserido Decreto-Lei n.º 157/2005 de 20 no Plano de Concursos para 2005, de Setembro - Altera o regime da tendo presente a valorização dos aposentação e pré-aposentação seus trabalhadores e procurando do pessoal com funções policiais corresponder às expectativas dos da PSP. mesmos. Estes concursos (22), que abrangem Decreto-Lei n.º 158/2005 - Aprova todos os grupos profissionais, o regime jurídico de assistência na irão permitir que cerca de 81 doença da GNR e PSP. funcionários possam progredir nas suas carreiras. NOTA FINAL : Para todos os trabalhadores que APOSENTAÇÕES: pretendam saber a data a partir da Por motivo de aposentação, qual poderão aposentar-se, tendo despedimo-nos de: por base a nova legislação, poderão Balbina Guiomar Carrelo - Enfer- fazê-lo através do site: http://www. meira Especialista (Cirurgia Geral) cga.pt/simuladorAnoPC.asp A Ponte ficha técnica 2 Propriedade Hospital de São Francisco Xavier, Estrada do Forte do Alto do Duque, 1449 - 005, Lisboa Codex Telefone: 21 300 03 00 Telefax 21 301 75 33 Redacção Helena Pinto, Isabel Marcus e Thereza Vasconcellos Edição Nuno Miguel Mota Distribuição Serviços Gerais Revisão Alexandra Flores Fotografia Thereza Vasconcellos e Nuno Miguel Mota Concepção Gráfica Paulo Reis Impressão Grafivedras – Torres Vedras Tiragem 2 000 exemplares ISSN 1645-9032 Distribuição gratuita Depósito Legal 207196/04 SITE www.hsfx.pt O HSFX tem preocupações ambientais: esta publicação é impressa em papel reciclado editorial DESDE HÁ VÁRIOS ANOS QUE EXISTEM MOVIMENTOS no sentido de levar a efeito reformas profundas na gestão hospitalar, através da introdução de diversos instrumentos e mecanismos, com a JOSÉ MIGUEL BOQUINHAS Presidente do Conselho de Administração finalidade de torná-la mais expedita e capaz de responder de uma forma mais eficiente aos grandes desafios que hoje se colocam à moderna administração hospitalar. Desde as diversas alterações legislativas dos últimos anos que culminaram na chamada empresarialização dos hospitais, seja sob a forma de S.A., seja de E.P.E., até à forte intervenção que se tem vindo a processar a nível dos sistemas de informação, tudo tem sido feito no sentido de conseguir dotar os hospitais públicos de serviços, na vertente administrativa, que sejam capazes de dar respostas adequadas aos grandes desafios da eficiência e do combate ao desperdício. No entanto, as preocupações com a reforma da gestão hospitalar não têm levado em conta as alterações ao modelo de gestão dos serviços clínicos, porventura as mais determinantes e sem as quais nenhuma reforma poderá ter êxito assegurado. Trata-se, no fundo, de mexer com a estrutura daquilo que é o “core-business” da organização hospitalar, e sem cuja alteração o êxito da reforma ficará certamente comprometido. A criação de centros de responsabilidade e a implementação de instrumentos como a contratualização interna, auditorias clínicas, elaboração de protocolos clínicos e terapêuticos, auto-avaliação, entre outros, e a sua ligação a modelos de incentivos equilibrados e justos, são absolutamente necessários numa gestão hospitalar moderna. A preocupação dos vários governos, que sucessivamente têm produzido alterações legislativas, tem apenas sido focada nos serviços mais periféricos da organização hospitalar, enquanto a gestão fundamental e central a nível dos serviços de prestação de cuidados de saúde, mantém, no essencial, o mesmo modelo de organização interna desde há mais de 30 anos. É este o grande desafio que falta lançar, em particular, aos responsáveis pela “produção” final dos serviços, sendo junção dos três hospitais da área ocidental de Lisboa. A Ponte este também o objectivo que é preciso traçar, aproveitando a grande oportunidade que nos é dada pela 3 ALTERAÇÃO DE ALGUMAS PRÁTICAS DE CUIDADOS Promoção do desenvolvimento nos recém-nascidos Nas últimas duas décadas, um número cada vez maior de investigadores tem-se debruçado na necessidade da alteração de algumas práticas de cuidados, assim como do ambiente envolvente mais apropriado para a promoção do desenvolvimento no recém-nascido. Tem sido demonstrado que estes bebés obtêm melhores resultados quando nos preocupamos em reduzir o stress causado pelo excesso de estímulos no meio ambiente, tais como a luminosidade e o ruído, em conjunto com o posicionamento e manipulações apropriadas. O trabalho pioneiro de Als et al demonstrou que a avaliação das capacidades individuais da criança, em resposta aos estímulos excessivos, proporciona ao prestador de cuidados informação para modificar o ambiente e as estratégias do cuidar. Verificaram que: - O número de dias de ventilação era menor - O êxito na amamentação era mais precoce - O número de dias de internamento era menor - Houve uma redução no número de complicações - Melhores resultados no desenvolvimento neural nos primeiros 18 meses de vida A Ponte 1 - Algumas práticas dos cuidados directos ao recém-nascido: 4 1.1 - O Posicionamento Está comprovado que o posicionamento e a manipulação correctos e/ou incorrectos interferem nos diversos parâmetros fisiológicos e neurocomportamentais da criança prematura. Não se consegue atender às necessidades do sistema músculo-esquelético sem incorporar o sentido do tacto. Sem tocar na criança, não conseguimos posicioná-la, garantindo assim um alinhamento do sistema músculo-esquelético. O feto dentro do útero está continuamente flectido, contido e alinhado. A superfície corporal da criança está banhada pelo líquido amniótico. Este ambiente líquido permite movimentos livres dentro do saco uterino. O desenvolvimento músculo-esquelético é estimulado quando a criança se estica no ambiente uterino, estimulando as terminações nervosas sensoriais das mãos ou pés, cabeça ou costas. Estes movimentos promovem comportamentos auto reguladores, contribuindo assim para o desenvolvimento neurocomportamental. O posicionamento correcto do corpo pode evitar deformações de postura, como a abdução dos quadris com rotação externa, eversão do tornozelo, ombros em abdução ou retracção, aumento da hiperextensão do pescoço com elevação dos ombros e moldagem do crânio. Existem estudos que nos dizem que a posição de decúbito ventral aumenta a oxigenação, o volume respiratório do ar corrente e a flexibilidade dos pulmões, relativamente ao decúbito dorsal. O decúbito lateral também auxilia a oxigenação e, por sua vez, diminui a incidência da rotação externa das extremidades. Além disso, favorece a flexão e o alinhamento médio. A contenção corporal é um factor importante, uma vez que contribui para a segurança, reduz o stress e promove a auto regulação. As crianças a quem se proporciona a contenção são geralmente mais calmas, exigem menos medicação e aumentam de peso mais rapidamente. 1.2 - O toque/manipulação O tacto é o 1º dos sentidos a desenvolverse in útero. Tão precocemente quanto às 8 Long et al, observaram que 75% dos episódios de hipoxémia ocorreram durante a prestação de cuidados numa Unidade de Neonatologia. A equipa de Saúde destas Unidades deverá ter em conta a individualização de cuidados e a identificação dos sinais de stress, programação das intervenções, proporcionando períodos de descanso para as crianças poderem recuperar o seu bem-estar. 1.3 - Sucção não nutritiva Field et al demonstraram os benefícios da sucção não nutritiva para a alimentação por gavagem. As crianças a quem lhes são oferecidas uma chupeta durante a alimentação, ganham peso mais rapidamente, passando a coordenar o reflexo de sucção/ deglutição/respiração mais precocemente, favorecendo assim um internamento mais curto. Outros estudos também demonstraram outros benefícios: - Frequência cardíaca estável - Melhor oxigenação - Melhor organização dos estados - Maior socialização - Menos sinais de stress O tipo de chupeta para proporcionar uma sensação positiva é muito importante. Deverá ter forma e tamanho apropriado para encorajar a maturação normal da coordenação da sucção/deglutição/respiração, diminuindo o período de transição até à alimentação oral. 2 - Factores ambientais que interferem na qualidade de cuidados 2.1 - Luminosidade A luz, na maioria das Unidades de 2.2 - Ruído Quando nascem, os recém-nascidos de termo já têm 12 semanas de experiência auditiva, conseguindo discriminar aquilo que gostam de ouvir. A voz materna é o som favorito, especialmente se ela falar num tom alto, cantar num estilo melodioso e suave. As crianças ouvem bastante bem ao nascer e as suas capacidades auditivas continuam a melhorar até à idade escolar. A audição desenvolve-se gradualmente, em paralelo com as capacidades linguísticas. A Ponte semanas de idade gestacional, o embrião responde ao toque suave na face e por volta das 32 semanas cada parte do seu corpo é sensível ao toque, dor e temperatura. Às 12 semanas de idade gestacional, o feto pode começar a chuchar nos polegares e, em breve, explorará o que o rodeia através do toque. Muito deste mundo é o seu próprio corpo. O excesso da manipulação pode ser sobre estimulante para os recém-nascidos, em particular, os doentes ou prematuros. Esta sobre estimulação pode apresentar diversas formas: - As práticas de rotina na admissão - A mudança de fraldas - Os procedimentos invasivos de diagnóstico - Todos eles expõem a criança a experiências tácteis nocivas ou negativas. Cuidados Intensivos Neonatais, costuma ser contínua, forte e fluorescente. Rivkees (2004) estudou bebés com menos de 32 semanas. O grupo de bebés sujeito a ciclos alternados de luz, mostrou períodos de alerta-repouso bem distintos. Os ritmos diurno-nocturno foram também observados no feto, sendo estes regulados pela mãe. Estes ritmos servem o propósito de sincronizar e coordenar funções fisiológicas compatíveis. Estas funções incluem a frequência cardíaca, temperatura corporal, ciclos de alerta-repouso e a secreção de várias hormonas (cortisol, ACTH e melatonina). Também num estudo feito por Glass et al, foi descoberta uma menor incidência de retinopatia em crianças com um peso inferior a 2000g, quando a luminosidade na incubadora foi reduzida para cerca de 270 lux (cerca de 25W). A criança continuamente exposta à luz, despende uma maior quantidade de energia e fica sujeita a mais stress. Quando se preconiza, pelo menos um ciclo de dia/noite, a criança apresenta ciclos de sono mais prolongados, menor tempo consumido na alimentação e um ganho de peso mais rápido. Têm mais facilidade em sincronizar os ritmos comportamentais e hormonais com o ambiente externo. 5 PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO… O ouvido humano é sensível às ondas de pressão entre os 20 e as 20.000 vibrações por segundo, ou hertz. A velocidade do desenvolvimento auditivo está exposta ao padrão de mielinização individual. Podem ocorrer estragos auditivos na audição das crianças prematuras. O período de grande susceptibilidade para os danos auditivos inicia-se aos 6 meses de gestação e prolonga-se até aos primeiros meses após o nascimento. Estes danos irão ter influência na linguagem/ comunicação e, consequentemente, na socialização. Os prematuros, sem a protecção das paredes uterinas e do corpo da mãe, nesse período crítico, estão sujeitos ao barulho das incubadoras e de todo o ruído que existe numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN). Podem apresentar reacções fisiológicas e de comportamento adversas, incluindo hipóxia, aumento da pressão intracraneana e pressão arterial, apneia e bradicárdia de sono profundo, menos períodos de choro e diminuição dos níveis de stress (Strauch, Brandt et al, 1993). Zahr e Traversay (1995), num estudo idêntico, verificaram que quando a média das saturações de oxigénio aumentava, as crianças apresentavam comportamentos mais organizados. Alguns melhoramentos nas UCIN podem também diminuir o ruído ambiente. Cada vez mais se preconiza quartos individuais ou salas com menos postos de internamento, bem como a divisão entre a - Executar alguma contenção sempre que for necessário estabilizá-lo - Respeitar os períodos de sono - Planear os cuidados com toda a equipa de Saúde - Ajudar os pais na identificação das reacções do seu bebé Este tipo de cuidados provou ter impacto no desenvolvimento e bem-estar das crianças, tais como: - Redução do tempo de ventilação assistida - Menor taxa de complicações Têm sido realizados diversos estudos que demonstram os níveis sonoros nas zona onde estão as crianças e a zona de trabalho dos profissionais. A utilização de painéis visuais para avisar os profissionais do nível de ruído existente no ambiente é também muito importante para a sensibilização dos mesmos. A Ponte Unidades de Neonatologia, entre 50 a 90 decibéis, com picos de 120 decibéis. Foi estabelecido como padrão de segurança para níveis sonoros os 80 decibéis. 6 Pequenas alterações na prática de cuidados e na estrutura física destas Unidades podem trazer grandes benefícios para estas crianças. Ao protocolar uma só “hora do silêncio” por dia, em que não se toca no recém-nascido, se não houver uma situação emergente ou prioritária, consegue-se que a criança apresente mais períodos Cuidados para promover o desenvolvimento e o seu impacto na criança - Redução da iluminação ambiente - Escurecimento da incubadora com coberta apropriada - Diminuição do ruído na sala - Falar suavemente com a criança antes e durante os cuidados - Ajudar a criança a manter uma postura flectida - Facilitar a actividade de levar a mão à boca - Identificar as reacções de cada criança durante os cuidados - Menor incidência de hemorragia intraventricular - Redução da incidência e gravidade das displasias broncopulmonares - Diminuição de casos de retinopatias - Menor necessidade de sedação - Redução do período até conseguir alimentação oral exclusiva - Aumento de peso mais rápido - Melhores laços de vinculação entre a tríade (pais/criança) Os cuidados de suporte para promover o desenvolvimento destas crianças devem ser resultado de um processo individualizado, procurando satisfazer as suas necessidades individuais. Esta filosofia de cuidar requer uma equipa de saúde que partilhe os mesmos objectivos. A educação e a cooperação entre os vários técnicos são primordiais. Thereza Vasconcellos Rui Matos (1954 – 2005) O nosso Rui Manuel Perdigão Matos, nasceu no último dia do ano de 1954. Era a primeira marca que o diferenciava de todos os elementos da equipa. “Por direito” tinha feriado sempre na passagem de ano quando a sua equipa fazia noite. Era um facto, indiscutível, que hoje nos faz sorrir.... Graduado da Escola de Enfermagem Bissaya Barreto de Coimbra, iniciou o seu percurso profissional em 1980, nos Hospitais Civis de Lisboa. Veio para este hospital, à data da sua abertura, para o serviço de Cirurgia e posteriormente, em 1995, para a nossa urgência. Aqui desenvolveu o gosto pela intervenção de emergência. vvv O sorriso permanente, a afabilidade contagiante, o trabalhador inesgotável e finalmente a dignidade e a serenidade perante um destino anunciado. A nós resta-nos a nossa memória de ti, sempre carregada de afecto, a ti ninguém devolve os beijos que deixaste por dar, a vida que deixaste por viver. “De morte natural nunca ninguém morreu”, dizia o poeta, muito menos a tua, cruelmente absurda. Aqui nos deixas sobre o nosso fio da navalha, entre momentos em que tudo faz sentido e outros em que os deuses nos deixam desamparados... Luís Campos Querido Rui: Todos te amamos nas diferentes e múltiplas formas de amar. Estás sempre connosco e a cada segundo ouvimos as tuas gargalhadas. Os teus colegas, os teus amigos, sempre contigo. Equipa de Urgência vvv Obrigado Rui! É esmagador. Ver-te assim, sem vida. Sem a vida a que nos habituaste durante tanto tempo. Sentimos muito a falta do teu riso, das tuas partidas, da alegria que transmitias a todos quantos te rodeavam. Nos momentos de brincadeira, eras o primeiro a brincar. Naqueles momentos mais difíceis, eras o primeiro a ter uma palavra de encorajamento. É esmagador ver o nosso serviço sem ti. Como vai isso aí por cima? Tenho a certeza que tens uma nuvenzinha especial só para ti. Como devem estar contentes os anjos por te ter por perto! De estar perto das tuas gargalhadas e das tuas partidas. De estar perto de tudo aquilo que sentimos saudade.... Mas que prometemos preservar. Porque a melhor maneira de homenagear a tua vida é preservar tudo aquilo que ajudaste a construir. A tua última palavra para comigo foi “Obrigado”. Mas sou eu que te tenho de agradecer. Eu e todos nós que contigo convivemos e que ensinaste a crescer. Obrigado Rui! Por tudo aquilo que foste... e que sempre serás nos nossos corações. Pedro Vasconcelos A Ponte Se é certo que os sítios por onde passamos como profissionais nos marcam, é também verdade que neles deixamos alguma coisa de nós. Connosco, do Rui, ficaram marcas do profissional, do seu espírito de liderança, de personalidade forte, espírito combativo e defensor dos interesses dos utentes e dos colegas, mas sobretudo da pessoa: o ar afável, as gargalhadas infindáveis e mais que tudo o grande, grande amigo. A saudade imensa que nos molha a alma e os olhos, porque ele não está fisicamente, é compensada pela lembrança permanente desse sorriso brincalhão que não nos larga, a todos nós equipa da Urgência, a todos nós seus amigos... a cada minuto! Até sempre! Lurdes Almeida 7 A Ponte Rui Matos 8 “Quando alguém morre, uma nuvem transforma-se em anjo e voa pelo ar dizendo a Deus que coloque outra flor no travesseiro. Um pássaro transporta a mensagem para o mundo e canta uma oração silenciosa que faz chorar a chuva. As pessoas desaparecem mas, realmente, nunca se vão embora. Os espíritos, lá em cima, põem o Sol na cama, acordam a relva e percorrem a Terra em círculos vertiginosos. Por vezes, podem ser vistos a dançar numa nuvem durante o dia, quando se supunha que estariam a dormir. Pintam o arco-íris e também o por do Sol e criam o ruído das ondas e as correntes das marés. Lançam as estrelas cadentes e escutam os desejos e, quando cantam as músicas do vento, sussurram-nos para não o lamentarmos demasiado. A vista é linda e eu sinto-me tão bem.” Alguns dias depois da morte do Rui, uma aluna que estagiava no Serviço veio entregar-me este pequeno trecho (taduzido aqui do inglês para o português) dizendo-me: “tenho ali uma pequena coisa para lhe dar, se quiser pode ficar com ela; acho que vai gostar”. Tinha-se apercebido o quanto me tinha tocado esta perda. De facto ao Rui ligam-me dezoito anos, os mesmos que tem este Hospital, apesar de contemporâneos em S. José não tínhamos ideia de nos termos conhecido por lá. Durante os últimos cinco anos privamos mais, fruto de organizarmos actividades em conjunto integrados num grupo com uma forma muito própria de estar em que o trabalho, a boa disposição, a diversão e a amizade se misturam de modo peculiar. As brincadeiras de um grupo de miúdas e miúdos já com idade para terem juízo proporcionaram momentos que estarão certamente na memória de todos nós, sei que a partir do dia 28 de Julho nada será igual, mas também sei que aquilo que o Rui gostaria era que continuássemos, da mesma forma, como se ele estivesse presente. Por mim assim farei. Ao contrário do que diz a sabedoria popular não sou dos que pensam que somos substituíveis; cada um de nós tem uma individualidade própria que ninguém é capaz de substituir por isto teremos que manter o seu lugar ocupado com ele, com as recordações que temos, com aquilo que ele nos deixou. Há sempre algo daqueles que partem que fica presente nos que permanecem, todos somos fruto das experiências de vida e as experiências de hoje não são as mesmas de amanhã; estamos em permanente construção. Acompanhando o seu processo da doença conheci outra face do Rui, alguém que dizia se um dia tiver um tumor não quero fazer nada; e lutou com quantas forças tinha. Apesar de todos os contratempos que foram surgindo, demonstrou a coragem de alguém que, em determinada altura reconhece a irreversibilidade da situação e tenta fazer umas quantas coisas que estavam à espera de uma oportunidade como por exemplo uma simples visita ao Oceanário. De facto, cada dia que vivemos será sempre uma ocasião especial e nunca sabemos se esse será o último. Lembro-me que na véspera do desencadear de todo o processo de intervenção cruenta, fomos ao Alentejo onde almoçamos e nada fazia supor o que viria a seguir. Falar do Rui, para quem o conhece é perfeitamente desnecessário mas, para aqueles que o conheceram menos que fique a imagem de alguém muito dinâmico, que gostava do que fazia, que mobilizava, motivava, dinamizava, trabalhava, divertia e se divertia; de alguém que tinha um grande mau feitio quando se aborrecia, de alguém afável mas que raramente exprimia os seus sentimentos (como bom capricorniano!) e que era extremamente prestável. Numa época em que multiplicamos os nossos bens mas reduzimos os nossos valores humanos, em que chegamos à Lua mas temos problemas em conhecer o nosso vizinho, valeu a pena conhecer o Rui. Disso foi prova toda a solidariedade que recebeu de diversos sectores durante este período. Voltando ao trecho que me ofereceram e dentro do seu espírito, espero que a vista seja linda e que o Rui se sinta muito bem. Obrigado por seres meu amigo e por me teres deixado ser teu amigo. João Fernandes vvv Rui Como explicar com palavras aquilo que sinto… Já não estás… aqui ficamos nós, sozinhos… A vida é um momento. A tua passagem pela minha, deixa lembranças inesquecíveis. Agora caminho pelo Serviço de Urgência e sinto saudades da tua presença, do teu riso, do teu bom humor. Muitos foram os momentos partilhados, as alegrias e as tristezas, mas sobretudo foram alegrias, e isso é o que fica, o teu eterno sorriso que não esquecerei. Eras um excelente profissional mas antes de tudo eras um excelente Amigo. Como nobre guerreiro nunca te queixaste das tuas feridas, porque não é próprio de cavalheiros queixar-se e sempre que te visitava recebias-me com uma piada das tuas. Para mim és o meu Quixote, meu herói de carne e osso. Travaste a maior das batalhas, sempre lutando, mesmo até ao fim. Nós como fiéis Sanchos acompanhámos-te, amigo, com a esperança que nossa história tivesse um final feliz. Não foi possível, mais aí onde tu estás, fica a saber que no nosso coração partido ficou gravado o teu nome para sempre. Virgínia Bombassaro Ao longo da vida, há pessoas que passam e não deixam nada... Há pessoas que passam e deixam muito... E há outras que não passam, ficam para sempre! Luísa Garcia vvv Para ti, Rui Matos Adeus... Um último Adeus Adeus jamais esquecido Estendeu-se a mão de Deus Para acolher o nosso Amigo Ficou então a lembrança Em cada gesto ou improviso Fecho-me então na esperança De rever o teu sorriso Olho a noite pela janela Teu sorriso preenche a escuridão Como uma figura numa tela Moldada com o coração Despeço-me com Homenagem Do Profissional, do Amigo Homem que lutou com coragem Até ao dia do Adeus Sentido. Mónica Perfeito vvv É com muita saudade que dedicamos estas poucas palavras ao Enf. Rui Matos, de quem nunca nos esquecemos. Sentimos muito a sua falta. De ouvir as suas palavras, as suas gargalhadas, a sua boa disposição, o seu companheirismo e o lado humano que o caracterizava. Estás sempre entre nós! Carla Barros Sofia Barroso Sónia Brito “Se conhecesses o mistério imenso do Céu onde agora vivo, não chorarias se me amas. Já estou no encanto de Deus, da Sua beleza sem fim... Lembra-te dos bons momentos que vivemos juntos E verás que a saudade também é presença. Quando estiveres triste, infeliz, chama-me... Eu irei ajudar a consolar-te E verás como é bom ter um amigo do outro lado. E quando chegar a tua vez, não chorem os que ficam Porque não será um adeus Mas simplesmente um até à vista E Eu estarei lá para te receber...” Da Dulce, em nome do Rui, para todos os que me amavam A Ponte “Não chores se me Amas” 9 QUANDO SE PERDE UM FILHO Berço vazio de afectos A Ponte Há alguns meses atrás escrevi para este jornal um artigo que tinha como objectivo dar a conhecer melhor a Saúde Materna, as alegrias, o empenhamento e a realização pessoal que um serviço nesta área nos pode dar. Hoje, escrevo para dar a conhecer a parte menos boa, a dor, o sofrimento, a impotência que sentimos quando nos chega ao serviço uma mãe de olhos “inchados” de tanto chorar, acompanhada de um pai a tentar conter as suas lágrimas, que por vezes rolam cara abaixo com um soluço, e percebemos naquele instante que aqueles pais perderam o seu maior sonho: um filho. 10 A qui percebemos natureza cruel, que não que algo que avisou e deixa aqueles não foi sonhado, pais à deriva nos seus aconteceu, talvez afectos que, perplexos, o pior pesadelo tenha recusam-se muitas vezes tomado conta daquela a aceitar a realidade que o família. futuro lhes reservou. Estas E pergunto-me nessa palavras podem parecerLEONTINA RAMOS altura ”O que é que posso -vos amargas, tristes Enfermeira fazer para ajudá-los?”. e até talvez um pouco Dificilmente encontro resposta, violentas, mas têm uma razão de pois estas situações são delicadas ser, pois quando resolvi escrever este e muito difíceis de ultrapassar, artigo, sabia que viriam ao de cima mas no mínimo tenho que tentar sentimentos que já me foram famifazer alguma coisa, nem que seja liares enquanto mãe, ao ter perdido dar um pouco de conforto! Então, um filho, e que os continuo a viver tento encontrar um espaço vazio e enquanto Enfermeira. proporcionar aos dois privacidade Lembro-me, também, de um caso para poderem chorar, gritar, extraque me tocou particularmente, no vasar todas as emoções que estão dia em que nasceu a minha filha. presas naqueles corações desfeitos Umas horas antes do seu nascimento, por desgosto. Em seguida, poucas uma grávida em trabalho de parto são as palavras que profiro, apenas no quarto ao lado do meu, desceu digo: ”Se precisarem de alguma coisa, para o bloco operatório para ser eu estou aqui!”. E fecho a porta do submetida a cesariana. A cesariana quarto. Saio em silêncio e frustrada, correu bem, mas à nascença o por vezes também de lágrimas nos olhos por não conseguir fazer mais nada para aliviar aquela dor, e só penso ”Porque é que isto tem que acontecer? ”Não é justo!” É que também na obstetrícia se lida com a dor da perda, até talvez do modo mais forte que existe. O mais doloroso revelase quando uma família planeia, anseia, sonha, muda de vida, enfim, faz tudo para receber de braços abertos aquele filho tão desejado e, abruptamente, esse sonho esvai-se por uma Esta foi uma situação complicada que vivi enquanto mãe, e que me marcou para sempre. Como enfermeira, episódios idênticos a este também estão na minha memória e, sempre que acontecem, fazem-me parar, pensar e repensar, que enquanto profissional de saúde, por muito que queira estar preparada para estas situações e interiorizar que são situações que acontecem, nunca o vou conseguir! O que mais quero quando tenho uma mãe nesta situação é dar-lhe todo o carinho, apoio, ou qualquer outra coisa que a possa fazer sentir um bocadinho melhor. Aqui o toque terapêutico revela-se extremamente importante. Por vezes esta é a ”porta” para que a mãe manifeste tudo o que lhe vai no coração e, muitas vezes, inicia-se assim um processo de consciencialização e consequente processo de luto. Para mim, é difícil gerir todos estes sentimentos. Não é fácil, no dia-a-dia, conseguir ultrapassar sentimentos tão divergentes que, de alguma forma, influenciam a nossa forma de estar, o nosso trabalho e até a nossa vida, quando transpomos para nós todo aquele sofrimento. Não sei se, passados cinco anos, já consegui fazer uma consciencialização dos meus sentimentos e consigo separar na totalidade os papéis de mãe e enfermeira, talvez por isso ainda me seja tão difícil enfrentar situações como estas. É assim que amadurecemos pessoal e profissionalmente, e tentamos de alguma forma encontrar estratégias para nos defendermos um pouco destas situações, que nunca nos “irão passar ao lado”. Não é fácil entrarmos num quarto e encontrarmos mães enamoradas pelos seus fi lhos, com todos os sentimentos de amor e alegria que as envolve, e logo no quarto seguinte encontramos uns pais com tanto amor para dar, mas com um “berço vazio de afectos!“ NO HSFX, A PARTIR DE 17 DE OUTUBRO Vacine-se contra a gripe O s trabalhadores do nosso Hospital vão ter à sua disposição a vacinação contra a gripe, de 17 de Outubro a 30 de Novembro. Para tal, deverão inscrever-se nos seus respectivos serviços. Uma medida de extrema importância para os profissionais de saúde, não só para protecção individual mas também porque contactam diariamente com grupos considerados de maior risco. O vírus da gripe pode atingir qualquer grupo etário, estando as crianças e as pessoas com idade superior a 65 anos mais vulneráveis, bem como os doentes imunocomprometidos e/ou com doenças crónicas. A Organização Mundial de Saúde recomenda esta vacina a todas as pessoas, visto tratar-se do método mais eficaz para a prevenção da doença e das suas complicações severas. A acção de vacinação levada a cabo no HSFX é desenvolvida pela Saúde Ocupacional. De modo a permitir um planeamento eficaz, pede-se a todos os trabalhadores do Hospital que informem nos próprios serviços – aos Directores e/ou Enfermeiros Chefes – se pretendem ser vacinados. Esta informação deverá ser posteriormente encaminhada, por escrito, para a Saúde Ocupacional, até ao dia 7 de Outubro do presente ano. A Ponte recém-nascido apresentava alguns problemas e foi transferido para a neonatologia. O internamento decorreu durante dois dias sem intercorrências, a mãe visitava o seu bebé, e tudo parecia bem encaminhado. Numa noite, lembro-me que, de repente, começo a ouvir gritos aflitivos acompanhados de um choro desmedido. Não estava a entender nada, pois os gritos vinham do piso de cima. Levantei-me e fui tentar saber o que se estava a passar. Foi então que soube que aquela mãe que tinha estado ao meu lado tinha perdido o seu filho, e eu não parava de pensar “E se fosse eu?” “Eu morria, não ia aguentar!” Num momento de alegria tão grande que era ter a minha filha comigo, aquela foi sem dúvida, uma das piores noites da minha vida; ainda hoje consigo ouvir os gritos daquela mãe desesperada! Na manhã seguinte, encontrei-a no corredor, pronta para se ir embora e, quando a vi, frente a frente, não sabia o que fazer; ali não estava a Enfermeira a pôr as suas competências em prática, estava uma mãe igual a ela que apenas conseguiu dizer:”Tenha coragem!” 11 L CARTAS AO HOSPITAL Venho por esta via, felicitar a equipa que se encontrava de urgência na sala de pequena cirurgia, cerca das 21h30, no dia 30 de Agosto, pelo carinho e extremo sentido de humor que revelaram quando estive a acompanhar a minha filha menor Beatriz Leite Pinto. Devo confessar que nunca tive razão de queixa sempre que acorri a este Hospital, quer à urgência, quer a outro tipo de serviços do HSFX, bem pelo contrário! Frequento o Hospital desde há 18 anos, com o nascimento da minha filha mais velha e que aí foi operada pelas mãos miraculosas do Dr. Fernando Ferreira, a quem se deve o facto de ela hoje em dia se encontrar com saúde. Mas o que me leva agora a escrever, foi o facto de ter entrado na urgência, no citado dia (por sorte a urgência não estava saturada!) com a minha filha de 13 anos. Embora o problema não fosse grave, o facto é que nunca tinha assistido a um atendimento tão carinhoso e bem disposto… devo dizer “Exposto”! A médica que a assistiu – Dra. Isabel Melo – foi de um carinho extremo, ao mesmo tempo que o Dr. José Exposto conseguiu transformar um ambiente que, normalmente é taciturno, numa alegre cavaqueira, aliviando o sofrimento de quem estava a receber tratamento. E, inclusivamente, uma senhora que tinha recebido curativo disse que não se queria ir embora, porque se estava a sentir muito bem ali. Esta passagem pela urgência foi uma lição de vida e deveria ser ressalvada e aproveitada, dado que a boa disposição, sentido de humor e carinho são meio caminho para a cura. A minha filha, que até aí se encontrava enervadíssima, não conseguia parar de rir, conseguindo abstrair-se do tratamento a que estava ser sujeita. Mais uma vez, Muitos Parabéns! Continuem assim! Melhores cumprimentos, Mª DA CONCEIÇÃO LEITE PINTO 1 de Setembro de 2005 P.S: A ideia das obras de arte, também é uma excelente terapia! Exmos. Senhores, Venho por este meio agradecer e louvar os vossos Serviços, pela organização, competência, eficiência e amenidades. Fui submetida a intervenção cirúrgica no dia 18 de Maio de 2005, tendo estado internada no Serviço de Cirurgia, entre 17 e 19 de Maio. Tanto na Consulta Externa como no Serviço de Cirurgia e Bloco Operatório, gostaria de enaltecer o profissionalismo e eficiência de médicos e enfermeiros. O restante pessoal – auxiliares, pessoal da alimentação e da higiene – primaram igualmente pela simpatia e afabilidade no trato, aspectos que são importantes e complementam os cuidados de saúde. Quero agradecer particularmente ao Dr. Carlos Neves, cuja competência e simpatia é bem conhecida, mas que quero sublinhar. E também uma palavra de agradecimento à sua equipa, ao Dr. Pais Martins e à Enfermeira Susana Lavinha. A Ponte Ao Hospital de São Francisco Xavier deixo os meus agradecimentos e votos de que continue assim. 12 MARIA CRISTINA ROBALO FERREIRA 29 de Maio de 2005