http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 POLÍTICA DE COMBATE À DE DESERTIFICAÇÃO NO CONTEXTO DOS ESTADOS BRASILEIROS Israel de Oliveira Junior Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia [email protected] Jocimara Souza Britto Lobão Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia [email protected] INTRODUÇÃO Com a recente discussão sobre a crise ambiental planetária, a atenção da comunidade mundial voltou-se para os diferentes problemas ambientais. Alguns deles de ocorrência zonal, outros locais; no entanto, todos fundamentaram a discussão que denota o estado de desequilíbrio ambiental decorrente da relação sociedade – natureza. Na busca de sensibilizar a sociedade frente aos danos ao ambiente e das consequentes mazelas, a degradação das terras secas e o processo de desertificação começaram a ser pauta de discussão entre os diferentes seguimentos sociais, mas ainda de modo incipiente. Como o processo ainda é desconhecido em sua totalidade, há dúvidas em relação às causas, efeitos, mitigação e solução, o que dificulta no estabelecimento de métodos investigativos (BRASIL, 2005). Essa realidade ainda é mais preocupante no Brasil, em razão da escassez de pesquisas que promovam o conhecimento mais abrangente desse problema. As discussões sobre a desertificação no Brasil remontam a década de 1970, quando Vasconcelos Sobrinho (1971) publicou a monografia intitulada Núcleos de Desertificação no Polígono das Secas (MATALLO JUNIOR, 2001). A partir daí, iniciaram estudos para monitorar a desertificação em terras brasileiras, os quais tiveram um caráter pontual e de elucidar lacunas referentes ao processo. A soma dos resultados de pesquisas internacionais e nacionais colocou em evidência fatos importantes sobre a desertificação. Inicialmente, que é um problema 3059 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 específico das terras secas – ou seja, daquelas dominadas pelo clima árido, semiárido e subúmido seco – e resultante de fatores sociais (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1997). Ademais, demonstrou que os impactos consequentes geram instabilidades sociais, como o declínio da produtividade da terra. Com isso, tornou-se consensual a urgência em discutir o problema, para a promoção de medidas de reconhecimento e monitoramento das causas e consequências, e da complexa reversão de seus efeitos, como aponta Hare e outros (1992, p. 23): a necessidade de atuar para combater a desertificação é muito urgente porque se trata de um processo dinâmico. A desertificação pode alimentar-se a si mesma e tornar-se autoacelerada. Desde que se atrase, a recuperação torna-se crescente morosa e dispendiosa e a degradação pode atingir um limiar para além do qual passa a ser prática e economicamente irreversível. Torna-se necessário adotar medidas preventivas, tão cedo quanto possível, sob a forma de práticas apropriadas de uso do solo, ao mesmo tempo socioeconômicas e ambientais, capazes de melhorar os microclimas e os solos e de impedir que a desertificação avance ainda mais. Diante das consequências da desertificação, a comunidade internacional estimulou estudos que pudessem levar a compreensão do processo (BRASIL, 2005). Em razão disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou a década de 2010-2020 como a da desertificação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010). Todos os países que possuem terras vulneráveis à desertificação realizam pesquisas para o conhecimento do processo e elaboração de propostas políticas que mitiguem e/ou solucionem os efeitos do mesmo, a exemplo do Brasil. Hoje, em todo o planeta, inúmeros países possuem terras desertificadas e/ou suscetíveis ao processo, entre os quais Argentina, Brasil, China, Espanha, Portugal e Sudão. Segundo a ONU (2010), são mais de 36.000.000 km2 (cerca de 25% das terras do planeta) distribuídos entre 100 países, onde vivem mais de um bilhão de pessoas. No Brasil, os cenários tendenciais da região Semiárida denotam preocupação (SOUZA, 2006). A manutenção do equilíbrio clima – solo – vegetação é ameaçada por práticas e técnicas empreendidas em um frágil ambiente, realidade típica das terras mapeadas como Área Suscetível a Desertificação (ASD); a intensa exploração do patrimônio ambiental ampliou a suscetibilidade à desertificação dos municípios que integram a ASD brasileira. Geralmente, os impactos são resultantes da supressão da cobertura vegetal – que acelera os processos físicos, como a erosão eólica e pluvial – em uma região demarcada pela fragilidade ambiental decorrente, sobretudo, das condições climáticas; isso torna a 3060 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 “degradação mais fácil, impedindo a reconstituição da vegetação quando lhe é dado um prazo, [podendo] provocar uma verdadeira euforia dos processos de degradação” (TRICART, 1977, p. 53-54). A discussão política da desertificação tem sensibilizado os governos nacionais e demais setores da sociedade para o enfrentamento do problema. Algumas deliberações de convenções internacionais contribuíram para o combate à desertificação em níveis regionais e nacionais. No Brasil, foi elaborado o Programa nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca (PAN-Brasil), pelo qual traçaram estratégias de luta contra a desertificação, a exemplo dos planos de ação estaduais de combate à desertificação. Pretende-se, com este trabalho, expor resultados de análise de documentos e convenções internacionais e nacionais sobre a questão da desertificação e dos Programas de Ação Estadual de Combate a Desertificação e Mitigação da Seca (PAE) publicados por alguns estados brasileiros da ASD. Foram examinadas as definições teóricas referentes ao processo, os ideais de desenvolvimento, as deliberações das convenções, o plano de gestão dos PAE e as atribuições e relevância dada aos agentes sociais, sobretudo a sociedade civil. Acredita-se que a análise de políticas de desertificação é de importância por criticá-las e repensá-las, no tocante de elevar a qualidade de vida das populações que habitam a ASD. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a realização deste estudo foram estabelecidas etapas e metas, sistematizadas na figura 1 e descritas a seguir: 3061 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Figura 1. Diagrama metodológico. 1. Análise, seleção e crítica das discussões sobre os conceitos, causas e consequências e ações de enfrentamento da desertificação e temas afins na literatura científica. 2. Análise e comparação com a literatura científica, sobre as convenções, tratados e documentos internacionais sobre a Desertificação: II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano – Rio 92 (Agenda 21), Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (CCD), Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), Programa Regional de Combate à Desertificação na América do Sul. 3. Estudo do Programa nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca (PAN-Brasil) e a relação desse com as convenções internacionais e literatura científica. 4. Avaliação dos Programas estaduais de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca dos estados de Alagoas, Minas Gerais, Paraíba, Piauí e Recife e a correspondência deles com os documentos originados nas convenções internacionais e nacional sobre a desertificação e com a literatura científica. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E A DESERTIFICAÇÃO: O COMBATE E OS DIRECIONAMENTOS POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS BRASILEIROS A degradação das terras em ambiente de clima seco é percebida por populações mundiais há anos. Em razão dela, algumas civilizações antigas enfrentaram processos de declínio e extinção, como a dos sumérios e babilônicos (HARE et al., 1992). No ano de 1949, o francês Aubreville advertiu sobre os danos ambientais ocasionados pela exploração insustentável das terras secas da África, intitulando o problema como desertificação. A partir 3062 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 desse período até a segunda metade do século passado, foram realizadas pesquisas esporádicas no intuito de se estabelecer as causas e consequências da intensa pressão ambiental em locais de clima árido, semiárido e subúmido seco. Muitos estudiosos, políticos e agentes sociais notaram a necessidade de realizar pesquisas a respeito da desertificação a partir da periodicidade de secas acentuadas em determinadas áreas geográficas mundiais, uma vez que estas intensificavam a rusticidade e deterioração ambiental, com impactos na sociedade e economia (BRASIL, 2005). Nas pesquisas realizadas, constataram que as consequências da degradação ambiental eram dramáticas, por reduzir a produtividade agropecuária, ampliar a ocorrência da fome, ocasionar a morte de animais, feições vegetais e da população local, (a exemplo do ocorrido no Sahel entre os anos de 1967 e 1976) e aumentar o fluxo migratório (SALES, 2003). A partir de 1960, aprofundaram-se a discussão sobre a relação entre seca, ação humana e o processo de desertificação (PACHÊCO et al., 2006), resultando, no ano de 1977, na primeira Conferência das Nações Unidas sobre a Desertificação, em Nairobi – Quênia (VERDUM et al., 2009). Nesse encontro, considerado o marco dos estudos do referido processo, relevantes informações foram consolidadas, a exemplo da identificação das áreas com suscetibilidade à desertificação e a conceituação do processo como: diminuição ou destruição do potencial biológico da terra, ocasionando formação de desertos. A ideia central estabelecida pela definição era que a desertificação originava desertos e que não haveria medidas para revertê-la (SALES, 2003). Com isso, realizaram-se críticas sobre a fragilidade conceitual da desertificação, pois dificultava a caracterização do processo; a escala de ocorrência, ao afirmar que abrangia apenas as zonas áridas e semiáridas, correspondentes a cerca de 15% da superfície terrestre (VERDUM, et al., 2001); e a irreversibilidade da degradação. Nos anos posteriores, prosseguiram os debates em nível mundial a respeito da conceituação, escala espaço-temporal de ocorrência e metodologia de estudo para o estabelecimento de indicadores da desertificação. Durante a Rio-92 – conferência realizada na cidade de Rio de Janeiro (RJ) em 1992 – dedicaram-se esforços para a discussão sobre a desertificação e a seca. No documento intitulado de Agenda 21, destinaram-se o capítulo 12 para o estabelecimento do conceito de desertificação e programas para o combate a desertificação e seca. Em relação ao processo de desertificação, conceituaram-no como a “degradação da terra em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variação climática e de atividades humanas” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1995). Definiram-se seis 3063 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 áreas de programas relacionados à desertificação, para o fortalecimento do conhecimento sobre a desertificação, combater a degradação do solo, erradicação da pobreza, programas antidesertificação e participação popular (Quadro 1). Quadro 1. Informações sobre as áreas dos programas relacionadas à desertificação estabelecidas no capítulo 12 da Agenda 21. Área Característica do programa Estabelecimento/fortalecimento Obtenção do conhecimento sobre o processo, do conhecimento estabelecimento/fortalecimento de centos nacionais de coordenação de informações sobre o ambiente, criação de um sistema permanente de informação, em nível regional e mundial, para o monitoramento da desertificação e degradação das terras secas Degradação do solo Combater a degradação do solo, promover o manejo para a conservação do solo, expandir a cobertura vegetal por meio de reflorestamento e silvicultura Erradicação da pobreza Melhoramento dos sistemas produtivos para obter maior produtividade; fortalecimento de organizações produtivas rurais; ampliação do crédito rural; desenvolvimento de infraestrutura e capacitação produtiva e comercial da população rural Programas antidesertificação Fortalecimento de instituições locais, nacionais e internacionais para o desenvolvimento de programas de combate à desertificação, para mitigar os efeitos negativos sociais da seca e promover o desenvolvimento nas áreas propensas à desertificação; elaboração de planos nacionais integrados de desenvolvimento, proteção ao meio ambiente e contra a desertificação; realização de pesquisas ambientais e treinamento de pessoas para o manejo da terra em áreas propensas à seca e desertificação Participação popular Favorecimento de políticas educativas para as áreas propensas à desertificação; contribuir com a sensibilização dos atores sociais envolvidos com o problema da desertificação; participação popular, democrática e descentralizada nas políticas ambientais. Fonte: Organização das Nações Unidas (1995). Elaboração: Israel de Oliveira Junior; Jocimara Souza Britto Lobão, 2014. Destaca-se, neste momento, a área do programa sobre antidesertificação e a integração desta aos planos nacionais de desenvolvimento e planejamento ambiental. As indicações estabelecidas apontam para a construção de planos de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca em nível nacional de forma participativa e que contribua com o desenvolvimento sustentável. Para tanto, especificaram-se a necessidade de fortalecimento das instituições nacionais, cooperação regional e internacional em pesquisas e programas e políticas sociais de remediação contra os efeitos da desertificação e seca (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1995). 3064 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Como resultado da primeira conferência sobre desertificação, em 1977, e entre as atividades de implantação da Agenda 21, têm-se a criação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (CCD), na qual o Brasil é signatário. No documento originado – cuja elaboração iniciou no ano de 1993 e finalizou em 1994 – salientaram-se que a desertificação é uma problemática de dimensão global, consequente da interação complexa de fatores físicos, biológicos, políticos, sociais, culturais e econômicos, que impedem a sustentabilidade dos ambientes de clima secos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1997). A referida convenção objetivou a adoção de medidas, por meio de acordos de cooperação e parcerias internacionais coerentes com a Agenda 21, para o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, como meio de elevar o padrão de desenvolvimento e o manejo das terras secas. Atribuíram-se importância à busca de incentivos financeiros para a realização de pesquisas referentes ao conhecimento sobre a desertificação e programas de combate ao processo e mitigação dos efeitos sociais. Indicaram-se medidas para ampliar a participação de atores sociais locais nas decisões referentes à desertificação, bem como a cooperação entre as instituições acadêmicas, comunidade científica e organização não-govenamental (ONG) para a construção e acompanhamento dos programas de ação nacional. Em âmbito regional, notabiliza-se o Programa de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca na América do Sul, com financiamento do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por meio do Fundo Especial do Governo do Japão e tem como membros a Argentina, Brasil, Chile, Bolívia, Peru e Equador (BEEKMAN, 2006). Com o programa, objetivaram-se, sobretudo, a identificação de indicadores uniformes de desertificação e monitoramento das consequências da degradação ambiental das terras secas. Esse programa contribuiu para fundamentar a elaboração dos Programas nacionais de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca dos países membros (Argentina, Brasil, Chile, Bolívia, Peru e Equador), estabelecido na CCD (BEEKMAN, 2006). Tendo em vista as deliberações da CCD, os países signatários dessa se comprometeram a construir os seus programas de enfrentamento à desertificação. No Brasil, O PAN-Brasil, configurou-se entre as iniciativas mais relevantes do âmbito do governo federal para o controle, combate e discussão sobre a desertificação. Estabeleceram-se, com o PAN-Brasil, diretrizes, instrumentos legais e institucionais para a formulação, execução e revisão de políticas e de investimentos privados nas ASD, como forma de promover o 3065 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 desenvolvimento (BRASIL, 2005). Pelo programa, objetivou especificamente: criar mecanismos de participação de diversos setores governamentais, privados, sociedade civil para aprimorar o conhecimento sobre desertificação, os efeitos da seca e políticas para as áreas afetadas pelo processo de desertificação; colaborar com os estados e municípios para implementar estratégias de combate ao problema, manejos sustentáveis da terra e melhorar a qualidade de vida da população local (BRASIL, 2005). Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), ocorrida no ano de 2012, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), sugeriram, superficialmente, algumas ações de controle à desertificação, como investimentos de recursos públicos e privados no intuito de evitar a degradação dos solos, restaurar as terras degradadas e estabelecer indicadores de desertificação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012), decisões contidas na Agenda 21. O PROGRAMA DE AÇÃO ESTADUAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA: UMA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS E AÇÕES POLÍTICAS No Estado brasileiro, os estudos pioneiros de Vasconcelos Sobrinho (1971, 1974, 1978a) realizaram-se no nordeste Semiárido do Brasil e identificou seis pontos de referências designados de áreas-piloto (MATALLO JUNIOR, 2001), localizados nos estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. As escalas espaciais dos estudos foram pontuais e, inicialmente, fomentavam pesquisas para elucidar dúvidas referentes ao processo. O aprofundamento dos estudos por Vasconcelos Sobrinho em algumas áreas-piloto demonstrou que a principal causa da desertificação é a substituição das feições vegetais do bioma caatinga pela agricultura, pecuária, mineração, extração de argila, madeira e lenhas (BRASIL, 2005). Entre a década de 1970 até o final do século passado, alguns trabalhos sobre o estado da desertificação no nordeste do Brasil foram desenvolvidos, a exemplo de Ab'saber (1977), Conti (1995), Nimer (1980, 1988), Rodrigues e outros (1992) e Vasconcelos Sobrinho (1974, 1978a, 1978b, s/d). A discussão da dimensão política da desertificação na Eco-92 ocasionou impactos positivos nos Estados nacionais com áreas suscetíveis e/ou desertificadas. No Brasil, o governo federal responsabilizou-se pela construção do PAN-Brasil. A delimitação da ASD pelo Ministério do Meio Ambiente configurou-se no âmbito dos primeiros esforços da política nacional de desertificação do país. Esta região foi demarcada a partir dos 3066 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 pressupostos da CCD, que estabeleceu o Índice de Aridez de Thornthwaite (1941) como classificação climática para determinação das ASD, pois este problema é específico dos ambientes de clima árido, semiárido e subúmido seco. A ASD brasileira é constituída pelos estados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte), norte/nordeste de Minas Gerais e noroeste do Espírito Santo (BRASIL, 2005). São 1.482 municípios, cuja superfície total é de 1.338.076,0 km², o que representa cerca de 15,7% do território nacional (BRASIL, 2005). No campo da política brasileira de combate à desertificação, os governos dos estados com terras inclusas na ASD incumbiram-se na elaboração dos PAE. Esses programas foram considerados fundamentais para o enfretamento do problema, como forma de elaboração de medidas de prevenção, mitigação e combate da desertificação e uma estratégia de operacionalização do PAN-Brasil. A maioria dos estados iniciou as atividades de construção do PAE no ano de 2009 e todos já finalizaram e publicaram o documento (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe). Atualmente, pode-se ter acesso aos PAEs de Alagoas, Minas Gerais, Paraíba, Piauí e Sergipe no site do Ministério do Meio Ambiente; esses foram analisados e os resultados são apresentados neste trabalho. As políticas estabelecidas no PAN-Brasil são definidas em quatro eixos temáticos (BRASIL, 2005), orientados pelas decisões da CCD, que se referem à redução da pobreza e da desigualdade (subtemas: reforma agrária, educação e segurança alimentar e outros); ampliação sustentável da capacidade produtiva (subtemas: desenvolvimento econômico, questão energética, recursos hídricos e saneamento ambiental e irrigação/salinização); conservação, preservação e manejo sustentável dos recursos naturais (subtemas: melhoria dos instrumentos de gestão ambiental, zoneamento ecológico-econômico, áreas protegidas, manejo sustentável dos recursos florestais e revitalização da bacia hidrográfica do São Francisco); gestão democrática e fortalecimento institucional (subtemas: capacitação de recursos humanos e criação de novas institucionalidades para cuidar da gestão das iniciativas de combate à desertificação) . As propostas estabelecidas nos PAE derivam dos eixos norteadores do PAN-Brasil, e por isso convergem para os princípios de desenvolvimento sustentável, inclusão social (sobretudo dos jovens e mulheres) e interdisciplinaridade, além de concessão de políticas descentralizadas. Os princípios norteadores dos PAE analisados encontram-se sistematizados na figura 2. 3067 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Historicamente, ao termo desenvolvimento atribuíram-se diferentes significados que, habitualmente, demarcam ideologias próximas à visão economicista de bem-estar social, a qual seria promovida, sobretudo, pelo crescimento econômico. Esta concepção não difere dos ideais contidos na Agenda 21 – os quais norteiam as discussão do PAN-Brasil e PAE (Figura 2); pelo contrário, defendem a reprodução do capital por meio, entre outros fatores, do liberalismo econômico e transformação do patrimônio ambiental em recursos, para ocasionar o crescimento econômico e aumento da qualidade de vida humana. Na Agenda 21, estabeleceram-se que o desenvolvimento sustentável é obtido pela: liberalização do comércio; estabelecimento de um apoio recíproco entre comércio e meio ambiente; oferta de recursos financeiros suficientes aos países em desenvolvimento e iniciativas concretas diante do problema da dívida internacional; estímulo a políticas macroeconômicas favoráveis ao meio ambiente e ao desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES ÚNICAS, 1995) 3068 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Figura 2. Princípios estabelecidos nos PAEs de Alagoas, Paraíba, Minas Gerais, Piauí e de Sergipe. Elaboração: Israel de Oliveira Junior; Jocimara Souza Britto Lobão, 2014. Alguns autores, ao analisarem o conceito de desenvolvimento sustentável e as políticas sociais e econômicas concebidas no domínio da ONU, assinalaram para as incoerências políticas, econômicas e ambientais nas concepções de desenvolvimento sustentável. Daly (2004) indicou que o desenvolvimento sustentável é utilizado como sinônimo de crescimento sustentável e a impossibilidade da solução da pobreza e degradação ambiental por meio do crescimento econômico mundial. Porto-Gonçalves (2006) afirmou que as concepções de livre comércio estabelecida no âmbito da ONU interessam as grandes corporações econômicas e dificultam a realização das políticas ambientais dos países. Leff (2008) argumentou que a construção de sociedades sustentáveis somente é possível ao substituir a racionalidade econômica hegemônica e dominante, estabelecida no modelo econômico globalizante, pela racionalidade ambiental, a partir de questionamentos sobre o pensamento, ciência, tecnologia e instituições que cristalizaram a racionalidade da modernidade, logo, impossível de conceber a sustentabilidade, associado ao conceito de 3069 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 desenvolvimento. Nas descrições dos procedimentos metodológicos dos PAE são recorrentes a utilização do termo participação (Quadro 2). Esta, geralmente ocorreu em oficinas nos municípios (em média de três por estado) da ASD e em seminários, geralmente para a apresentação dos resultados da versão final dos planos, com a presença de representantes do governo executivo (federal, estadual e municipal), legislativo (estadual e municipal), judiciário, setor privado, sociedade civil organizada etc. A inclusão de diferentes setores nas políticas de combate à desertificação é uma orientação contida na Agenda 21, CCD, a qual foi importada pelo PAN-Brasil e PAE. No entanto, os números de participantes das oficinas e a quantidade dessas permitem indicar que não houve uma ampla participação de agentes da sociedade civil, dificultando a elaboração de políticas com a participação massiva dos interessados nelas. Nos programas demonstraram-se a importância da abordagem multidisciplinar da desertificação, em razão da amplitude e complexidade do conceito do processo. Matallo Junior (2001) indicou que a noção de degradação da terra concatena a investigação da qualidade ambiental dos distintos componentes do ambiente (físicos, biológicos e sociais). Nesse caso, refere-se à degradação dos solos, da vegetação, dos recursos hídricos; redução da qualidade de vida da população. Logo, as investigações relativas ao processo exigem o emprego de conhecimentos produzidos pelos mais variados campos científicos, demonstrando a multi e transdiciplinaridade dos estudos do processo (PACHÊCO et al., 2006). Uma rede de processos interativos envolve-se no desencadeamento e potencialização da desertificação. As características naturais de um ambiente tornam-no mais vulnerável ao processo de desertificação, como as comandadas pelo clima, pois “quanto mais reduzida e incerta for a pluviosidade, mais elevada será o potencial de desertificação” (HARE et al., 1992, p. 18-19). Todavia, o que torna um espaço mais vulnerável à desertificação é, principalmente, a pressão humana exercida a partir do uso da terra, com reflexos em todo o sistema ambiental. Sob condições de usos inadequados para os ecossistemas das terras secas, a sociedade perturba o equilíbrio de troca de água e energia (HARE et al., 1992). Por exemplo, o desmatamento pode contribuir para a acentuação da irregularidade pluviométrica local, redução e escassez generalizada da vegetação, com o aumento da superfície de solo exposto; nessas áreas os processos de erosão são mais intensos e há perdas acentuadas dos solos; os sedimentos transportados pelas águas das 3070 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 chuvas são depositados em cursos de água, favorecendo as inundações de áreas ribeirinhas; assim, torna-se difícil a continuação da produção agrícola e pecuária, com amplas consequências sociais e econômicas, como o agravamento das condições de pobreza e deterioração da base econômica local. Com isto, evidencia-se a intensificação do processo da desertificação, o que reflete na complicação e dificuldade de estabelecer políticas para a ASD. Quadro 2. Procedimentos metodológicos adotados para a construção do Plano de Ação Estadual de Combate a Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAE). Estados Metodologia Alagoas Construção articulada com diversos setores sociais (governamental, empresarial, acadêmicos, representantes da sociedade civil organizada), no sentido de sensibilizá-los sobre a temática, inseri-los nas políticas e corresponsabilizá-los na implantação do PAE-AL. Escutaram-se os atores (pontos focais) para a elaboração do plano em três oficinas realizadas nos municípios de Palmeiras dos Índios, Pão de Açúcar e Piranhas. Nessas, organizaram seis grupos temáticos, com finalidades de descrever os objetivos e estratégias de ação para cada tema, os quais contribuíram para a seleção das áreas prioritárias de intervenção técnica em vista ao combate à desertificação. Um seminário de validação final realizou-se em Maceió, com 52 representantes (pontos focais), tendo como pauta de discussão: indicadores de monitoramento de desertificação, políticas de preservação ambiental e gestão de empreendimentos e impactos na desertificação. Minas Gerais Levantamento bibliográfico dos trabalhos realizados por órgãos estaduais e federais, instituições de ensino, ONGs e sociedade civil sobre as ASD. Integração, ao documento, de resultados obtidos nas oficinas participativas e seminário final realizados nas regiões de pesquisa. Delimitação da área de abrangência estadual do plano baseada em dados climáticos (Thornethwaite) Paraíba Elaborou-se o plano a partir da discussão de três eixos temáticos, em oficinas realizadas em Campina Grande, Patos e Monteiro, com a participação de representantes governamentais (federal, estadual e municipal), setor produtivo, comunidade científica, parlamentares (estadual e municipal) e da sociedade civil organizada. As ações propostas para o PAE-PB foram extraídas das oficinas e agrupadas de acordo com os órgãos que desenvolvem programas referentes aos eixos temáticos. Piauí Detalhamento dos procedimentos utilizados para a construção do documento, formação da equipe técnica e articulação das parecerias institucionais. Realização de diagnóstico ambiental (físico, biológico, social) por meio de levantamento bibliográfico, estudos de campo e geoprocessamento, para a construção de três cenários prospectivos. Realização de consultas públicas (representantes do poder público, executivo, judiciário e legislativo, da iniciativa privada e sociedade civil da ASD) nos municípios de Picus e Gilbués, fundamentadas pela versão preliminar do PAE-PI. Construção da versão final do PAE-PI a partir dos dados técnicos revistos nas audiências públicas Sergipe A construção do PAE-SE, iniciou-se com um diagnóstico da ASD, relacionado a quatro eixos. Posteriormente, avaliou-se as políticas, programas e projetos relacionados aos eixos para dimensionar a realidade ambiental da ASD do estado e os mecanismos de combate à desertificação. Realizou-se uma oficina interna, com consultores e técnicos dos governos envolvidos com o PAE-SE, para a construção das oficinas regionais e para a elaboração preliminar do plano. Cumpriu-se quatro oficinas nos municípios de Canindé, 3071 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Porto da Folha, Poço Redondo e Gararu, nas quais se discutiu temas. A terceira oficina objetivou a definição dos gestores de monitoramento das ações; na última, apresentou-se à sociedade civil a versão final do PAE-SE, para validação. Fonte: Alagoas, 2011; Minas Gerais, 2012; Paraíba, 2011; Piauí, 2010; Sergipe, 2010. Elaboração: Israel de Oliveira Junior; Jocimara Souza Britto Lobão, 2014. Como uma relação dialógica entre as comunidades humanas com os demais componentes do ambiente, é também a sociedade quem busca produzir ações desencadeadoras da previsão, impedimento e reversibilidade do processo de desertificação. Com isto, as políticas de combate à desertificação, ora assinaladas pelos PAE, constituem um caminho primordial para a solução dos problemas da ASD. A resolução e mitigação da desertificação no Brasil dependem, entre outros fatores, dos modelos de gestão adotados para implementação dos PAE, os quais foram analisados e comparados. Procurou-se identificar os agentes envolvidos, função desses, estratégias de gestão, enfatizando o papel da sociedade civil estabelecidos nos planos. Nos programas estaduais destacaram-se a parceria de diferentes instituições governamentais nas esferas municipais, estaduais e federais, privadas (sobretudo do setor produtivo), instituições acadêmicas, organização não-governamental (ONG), representantes da sociedade civil organizada, entre outros, para o gerenciamento das ações executoras do plano. Está previsto no PAE-AL, que as estratégias de gestão deverão realizar-se a partir do conhecimento das demandas de planejamento, revisão de programas, execução de programas, monitoramento, avaliação e revisão dos programas. Estas funções deverão ser especificamente atribuídas aos diferentes agentes sociais, como aos órgãos estaduais, ministério público, parlamentares e representantes da sociedade civil organizada (PARAÍBA, 2011). O PAE-PB prevê a instalação de comitê gestor, pelo qual deverão ser identificados os agentes sociais e as funções desses nas políticas de reparação e combate ao processo de desertificação, monitoradas por representantes da sociedade civil organizada, selecionados no período de elaboração do PAE-PB (PARAÍBA, 2011). Estabeleceram-se, no plano do estado de Piauí, a criação de outras instâncias para contribuir com um maior controle social e descentralização das políticas de combate à desertificação (PIAUÍ, 2010). Todavia, as funções são definidas em três níveis (estratégico, tático e operacional), com ampla participação de instituições governamentais e insipiente participação popular (PIAUÍ, 2010). Apesar dos esforços em demonstrar a necessidade de incluir as populações da 3072 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ASD brasileira na elaboração, operacionalização e monitoramento das políticas de combate à desertificação, algo recorrente nas resoluções das convenções internacionais e no PAN-Brasil, a participação da sociedade civil é debatida superficialmente nos PAE analisados. Isso é consequente do processo histórico de centralização das políticas brasileiras, da inexperiência dos órgãos ambientais em dialogar com a sociedade civil e do trabalho setorizado nas instituições governamentais. Este último problema foi sinalizado em alguns PAE, a exemplo de Paraíba (PARAÍBA, 2011), ao indicar a dificuldade da elaboração do diagnóstico ambiental (componentes físicos, biológicos e sociais), pelo monopólio e difícil acesso dos dados e informações sociais em diferentes instituições, o que precisa ser solucionado rapidamente, para um conhecimento mais amplo da ASD e proposição de políticas mais eficazes. Cabe afirmar que o Estado da Bahia encontra-se na retaguarda na política de combate à desertificação no Brasil, pela morosidade das atividades de elaboração do PAE-BA. Essas iniciaram em junho de 2007, com a assinatura do Decreto Estadual n. 11.573/09 que instituiu o PAE-BA, e era coordenado pelo antigo Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ) em parceria com o extinto Instituto do Meio Ambiente (IMA) – atualmente as mencionadas instituições (INGÁ e IMA) fundiram-se para a criação do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA). Entre as tarefas estabelecidas no referido decreto, tiveram: o diagnóstico ambiental (físico, biológico e social) em quatro regiões distintas da ASD no estado da Bahia, designadas como polo regionais de Guanambi, Irecê, Jeremoabo e Juazeiro, que integram os mencionados municípios e adjacentes (BAHIA, 2009). No PAN-Brasil, averiguou-se que a Bahia foi um estado pioneiro nas políticas contra a desertificação (BRASIL, 2005), hoje contrastando com os diversos problemas no processo de construção e de validação do documento, como a dissolução dos órgãos responsáveis e a falta de participação social, que podem contribuir para a ampliação da degradação estadual da ASD e sérios prejuízos à sociedade baiana. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde que o termo desertificação foi empregado pela primeira vez esteve relacionado aos efeitos negativos sobre o ambiente, ocasionados por ações humanas. A queda da produção agropecuária, insegurança alimentar, ampliação da pobreza e redução da qualidade de vida são fatos recorrentes entre populações que habitam as áreas desertificadas, o que contribuem para gerar discussões sobre o processo em todo o mundo. 3073 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A partir da consolidação do conceito de desertificação pela comunidade mundial na Rio-92, passou-se a questionar quais métodos deveriam ser empregados na pesquisa sobre o processo e quais medidas deveriam ser tomadas para enfrentar o problema em suas dimensões política, biofísica, econômica e social. Acordos políticos resultaram em documentos e convenções, nos quais políticos, cientistas, empresários e demais membros da sociedade civil (muitos representantes de instituições, como as ONG) empreenderam esforços para propor soluções e mitigação para os impactos da desertificação. Concepções econômicas capitalistas estão solidamente presentes nos documentos, como a utilizada para a conceituação de desenvolvimento sustentável na Agenda 21, termo importado para os PAN-Brasil e PAE. Alguns avanços políticos foram identificados nos documentos internacionais (Agenda 21 e CCD) sobre a desertificação, os quais nortearam a elaboração de planos para a ASD do Brasil. Entre esses, destacou-se a inclusão da sociedade civil na elaboração, operacionalização e monitoramento das políticas, a abordagem multidisciplinar e a descentralização da gestão do PAN-Brasil e PAE. No entanto, por meio da análise dos PAE percebeu-se a dificuldade de estabelecer essas orientações, devido às características históricas das políticas brasileiras, como a centralização e setorização (fragmentação) das decisões e ações nos órgãos executivos estaduais. Cabe indicar, que a análise das políticas de combate à desertificação é um processo importante para repensar e avaliar as ações de mitigação e reversão dos problemas das áreas suscetíveis ao processo. Neste trabalho, ela pautou-se, sobretudo, na análise dos conceitos relacionados à desertificação, principais deliberações oriundas das convenções internacionais sobre o processo e do PAN-Brasil, para relacioná-los com os planos estaduais brasileiros e com a literatura científica. REFERÊNCIAS AB’SABER, A. N. 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ISBN: 978-85-7506-232-6 POLÍTICA DE COMBATE À DE DESERTIFICAÇÃO NO CONTEXTO DOS ESTADOS BRASILEIROS EIXO 5 – Meio ambiente, recursos e ordenamento territorial RESUMO O processo de desertificação ganhou destaque nas discussões políticas internacionais e nacionais nos últimos anos, resultante dos esforços em conhecer e combater os seus efeitos, que são drásticos para o ambiente e sociedade. Algumas decisões internacionais no âmbito da Organização das Nações Unidas motivaram diversos países e os estados brasileiros a empenharem-se para enfrentar a desertificação. Alguns documentos, como a Agenda 21, e convenções internacionais (Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação – CCD), regionais (Programa Regional de Combate à Desertificação na América do Sul), nacionais (Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN-Brasil) e de estados brasileiros (Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAE) refletem isso. No Brasil, a delimitação da Área Suscetível à Desertificação (ASD) pelo Ministério do Meio Ambiente constituiu-se no âmbito dos primeiros esforços da política nacional de combate à desertificação do país, desenvolvida em quatro eixos temáticos: redução da pobreza e da desigualdade; ampliação sustentável da capacidade produtiva; conservação, preservação e manejo sustentável dos recursos naturais; e gestão democrática e fortalecimento institucional. Este trabalho objetivou avaliar e comparar os acordos e decisões políticas internacionais, nacionais e regionais, além de indicações contidas na literatura científica, com os princípios e gestão do PAE de Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Piauí e Sergipe. Salienta-se que nos PAE são expostos os ideais de desenvolvimento sustentável, participação da sociedade civil e descentralização das políticas de combate à desertificação, os quais são orientações contidas na Agenda21, CCD e PAN-Brasil. Apesar dos esforços em demonstrar a necessidade de incluir as populações da ASD brasileira na elaboração, operacionalização e monitoramento das políticas de combate à desertificação, algo recorrente nas resoluções das convenções internacionais e no PAN-Brasil, a participação da sociedade civil é debatida superficialmente nos PAE analisados. Isso é consequência do processo histórico de centralização das políticas brasileiras, da inexperiência dos órgãos ambientais em dialogar com a sociedade civil e do trabalho setorizado nas instituições governamentais. O estado da Bahia encontra-se na retaguarda na política de combate à desertificação no Brasil, pois somente em 2014 houve a publicação do PAE-BA, com diversos problemas no processo de construção e de validação do documento à sociedade, que vão desde a dissolução dos órgãos responsáveis à falta de participação da sociedade. Palavras-chave: desertificação; política ambiental; gestão ambiental. 3077