A educomunicação na produção de conteúdos
audiovisuais na formação de jovens
Everaldo Costa Santana1 (UFPE)
Cleyton Douglas de Apolônio Vital2 (UFPE)
Resumo:
Este projeto estuda, através da observação participante, os aprendizados
gerados, a partir de produções e exibições de audiovisuais na formação de
jovens comunicadores na zona da mata norte de Pernambuco, da
Organização não Governamental – Giral, tendo como embasamento o
conceito de Educomunicação entendido por Ismar de Oliveira Soares como
“o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e
avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e
fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais
ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádios
educativos”, e outros espaços informais de ensino.
Palavras-chave: educomunicação, audiovisual, jovens comunicadores.
Abstract:
This project studies, including participant observation, the learnings
generated from production and exhibition of audiovisual works in the
training of young communicators in the area of forest north of
Pernambuco, the nongovernmental organization - Giral, taking as its
foundation the concept of Educommunication understood by Ismar de
Oliveira Soares as "a set of actions related to planning, implementation
and evaluation of processes, programs and products to create and
strengthen communication ecosystems in education or virtual spaces such
as schools, cultural centers, TV stations and radios educational "and other
informal learning spaces.
Palavras-chave: educational communication, audiovisual, young
communicators.
Introdução
Os espaços informais de ensino ampliam-se cada vez mais contribuído no
processo de aprendizagem de adolescentes e jovens e estimulado a inserção social.
O uso da tecnologia audiovisual nesses ambientes revela que os aprendizados vão
além dos limites de sua utilização no sentido político, pedagógico e didático.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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Dessa forma, a integração da comunicação com a educação está se
legitimando como um importante campo interdisciplinar de ação e reflexão frente
ao desenvolvimento da sociedade midiática, das novas tecnologias da comunicação
e da informação e do deslocamento da escola como fonte privilegiada do
conhecimento. Nesse cenário, a ação educomunicativa tem contribuído não só para
a valorização da cultura e dos conhecimentos empíricos e educativos, como
também vem favorecendo o debate da comunicação como direito humano.
O conceito de Educomunicação entendido por Ismar de Oliveira Soares é “o
conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de
processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas
comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, tais como escolas,
centros culturais, emissoras de TV e rádios educativos”, e outros espaços informais
de ensino aprendizagem.
Com a utilização da educomunicação estudamos e trabalhamos em cima de
nossas atitudes, em nossos comportamentos, em nossos valores, e nossas decisões
considerando as relações com o mundo e com os fatores sociais, políticos, culturais
e econômicos. Nesse sentido, o desafio é como inserir na escola e na educação,
conteúdos comunicativos que contemplem experiências culturais heterogêneas,
através das novas tecnologias da informação e da comunicação.
Segundo Litwin, não se admira por sua vez se o destino da tecnologia deve ter
sempre em conta um desafio metodológico, porque tecnologia sempre caminha dois
passos a frente de seu tratamento material. Para o professor pesquisador Sergio
abranches, do curso de pós-graduação em Educação, Matemática e Tecnológica da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - professores que não são "nativos
digitais" começam a utilizar tecnologias, seja por vontade própria ou por imposição
de algum tipo. Este processo se dá por uma certa adaptação, onde o professor vai
incorporando estas tecnologias de um modo próprio e que muitas vezes o fascina,
pois acha que o simples uso já caracteriza um grande avanço na aprendizagem dos
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seus alunos. Alguns destes professores parecem entender que tal uso vai
impactando sua forma de atuar e também de produzir conhecimento. Este processo
não tem uma única alternativa, ou seja, é um processo múltiplo.
Novo campo de intervenção social permeado pela inter-relação
comunicação/educação, mediante a qual na primeira predomina a
excelência da forma, do poder estético, enquanto a segunda elege valores
éticos, morais e políticos que buscam romper a lógica dos discursos
hegemônicos, fundados na racionalidade econômica e de mercado.
(SCHAUN, 2002, p. 76).
Fazer ensino atraente não é uma ferramenta, muito embora, as ferramentas
possam permitir um tratamento atraente. O conteúdo deve ser desafiador,
relacionada com a vida e os interesses dos jovens. As novas tecnologias permitem
esses tratamentos mais de uma vez, mas não melhoram o currículo.
Segundo Paulo Freire, “se a educação sozinha não transformar a sociedade,
sem ela tampouco a sociedade muda”. A citação nos remete a refletir sobre a
importância da educação na transformação da sociedade e dos cidadãos que as
forma. E ambos se transformam constantemente. Seja pela educação, seja pelas
novas tecnologias que na maioria das vezes, se desenvolve, desenfreadamente a
frente dela. Nesse sentido, as produções audiovisuais, elaboradas por jovens de
dois municípios da Zona da Mata Norte de Pernambuco (Glória do Goitá e Lagoa de
Itaenga) têm se tornado uma experiência relevante no campo da tecnologia
educacional informal e na formação de cidadãos críticos e resistentes a
massificação e homogeneização imposta pela globalização.
Referencial Teórico
A Educomunicação vem firmando-se no Brasil como campo de estudo para
pesquisadores. No núcleo de Comunicação e Educação - NCE, da Escola de
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Comunicações e Artes da USP, sob orientação do professor Ismar de Oliveira Soares
pesquisas estão sendo ampliadas e sistematizadas. Uma pesquisa realizada de 1997
a 1999 (Soares 1999) entre estudiosos e profissionais de Comunicação e de
Educação do Brasil e de toda a América Latina mostrou que o campo da interrelação
comunicação/educação
legitima-se
como
importante
novo
campo
interdisciplinar de conhecimento e aprendizagem.
Acreditamos que a discussão entre comunicação e educação pode ser
estudada através de ferramentas conceituais dadas pelos teóricos que penetraram
por essa relação. Razão pela qual adotaremos, os conceitos estudados e
vivenciados por Paulo Freire, Ismar de Oliveira Soares¹, Mário Kaplún e Jesús
Martín-Barbero. Nesta perspectiva vamos nos deter sobre a contribuição do
conceito de educomunicação para a investigação dessas experiências, tendo em
vista que esses teóricos contribuíram e contribuem para a construção da base dessa
corrente de estudo. É nesse sentido que se entende “educomunicação”, conceito
que adotaremos ao longo do trabalho, como toda experiência de envolvimento dos
agentes sociais, suas empresas e organizações, na implementação de ações
voltadas para o planejamento e desenvolvimento de ecossistemas comunicativos
abertos, democráticos e participativos, tendo como meta a promoção da cidadania
mediante o exercício da expressão comunicativa, possibilitada pela mediação
tecnológica e pelo acesso e gestão democrática dos recursos da informação.
O conceituado teórico Néstor Garcia- Canclini coloca em evidência a
necessidade de o sistema educativo envolver-se em seu confronto com a moderna
produção da cultura - com o mercado, o consumo e o sistema de comunicação.
No que diz respeito à apropriação da cultura, Garcia Canclini entende que
uma verdadeira revanche cultural vem ocorrendo pelas mãos dos próprios usuários
e receptores dos meios o que o faz com que essas práticas sejam verdadeiros
diamantes para a localidade.
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A parte técnica de elaboração de roteiros, gravação e edição normalmente é
feita por uma equipe de produção da própria comunidades. Viabiliza-se a
participação das pessoas nas várias etapas do processo de produção dos vídeos, tais
como na definição da temática do vídeo, na idealização do roteiro, na edição, no
desempenho de papel de ator, de cantor, do emissor de informações (depoimentos,
entrevistas).
Metodologia
Este projeto se propõe a pesquisar e estudar possivelmente, através da
observação participante, sobre os aprendizados gerados, a partir das pequenas
produções e exibições de audiovisuais na formação de jovens comunicadores na
zona da mata norte de Pernambuco. A importância e os resultados dessa formação
analisando a percepção da regionalidade dos jovens comunicadores durante as
produções.
De acordo com Robert K. Merton é preciso integrar em um levantamento
empírico e e teórico, perspectivas que se julgavam antagônicas e predominavam no
campo da sociologia norte-americana, concebendo uma abordagem sociológica.
Além disso, é preciso consolidar um programa de pesquisa e analisar não só como
ciência e tecnologia causam transformações na sociedade, mas também como a
sociedade interfere na produção popular, científica e tecnológica. Temos hoje, na
produção audiovisual, uma ferramenta que quebra o isolamento do ensino, pois a
escola sempre foi o lugar de educação numa perspectiva moral.
_____________________________
¹ SOARES, Ismar de Oliveira. Educom.Rádio, na trilha de Mario Kaplún. In Educomídia, alavanca da cidadania: o legado
utópico de Mario Kaplún. Org. José Marques de Melo et al. São Bernardo do Campo: Cátedra UNESCO : Universidade
Metodista de São Paulo, 2006. p. 179.
²Ismar de Oliveira Soares, é jornalista, professor, educomunicador, com pós-doutorado pela Marquette University Milaukee
Wisconsin. É citado por muitos estudiosos como o primeiro a usar o termo educomunicação no Brasil.
³ GARCIA-Canclini, Néstor. Consumidores e cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro:Editora da
UERJ, 1995.
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Hoje, ela tem uma ferramenta poderosa para permitir integração entre as
atividades, escolas, comunidades, regiões e ensinamentos. Ações que transcendem
a tecnologia.
No projeto de formação de jovens comunicadores do Giral essa prática é uma
constante. Utilizando a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento
Sustentável (PEADS), desenvolvida especificamente para ser utilizada em
ambientes rurais, por Abdalaziz de Moura, presidente do Serta, o jovens envolvidos
no projeto seguem quatro etapas básicas no processo da formação para a produção
de conteúdos. Eles escolhem um tema, pesquisam, analisam, avaliam e socializam
informações da realidade para depois começarem as produções, que são feitas
sempre de forma coletiva.
É um trabalho de valorização da realidade das comunidades rurais. A partir
disso, os jovens começam a conhecer melhor a cultura local, a escola, a família e a
comunidade. Os temos quase sempre são desafios enfrentados diariamente na luta
pela sobrevivência. Dessa forma, a falta de água, o desemprego, a desigualdade
social, a cultura, o desemprego ganham destaques nas produções.
Considerações Finais
O uso da tecnologia audiovisual nos espaços informais de ensino, cada vez
mais, tem contribuído no processo de aprendizagem de adolescentes e jovens e
estimulado a inserção social. Esses ambientes revelam que os aprendizados vão
além dos limites de sua utilização no sentido político, pedagógico e didático.
Dessa forma, a integração da comunicação com a educação está se
legitimando como um importante campo interdisciplinar de ação e reflexão frente
ao desenvolvimento da sociedade midiática, das novas tecnologias da comunicação
e da informação e do deslocamento da escola como fonte privilegiada do
conhecimento.
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O uso de recursos audiovisuais só tem função social relacionada à educação
quando está vinculado a um projeto educacional que norteia os procedimentos
pedagógicos. Entendemos que a escola, em todos os níveis e em todos os aspectos
de trabalho desenvolvidos, tem como preocupação maior a compreensão e
apreensão de conceitos e a construção do conhecimento que permitem ao aluno
aprender as relações existentes na sociedade.
A introdução dos conceitos básicos de elaboração de projetos audiovisuais que
possam auxiliar na documentação, na criação de empreendimentos em uma
perspectiva de trabalho a médio e longo prazo e/ou o desenvolvimento de um
projeto de vídeo, permite a constituição de um espaço amplo de discussão acerca
de um tema ou objeto de estudo.
Concluindo, a realização de uma obra audiovisual pode tornar-se elemento
catalisador
no
envolvimento
de
estudantes
e
educadores
em
tarefas
multidisciplinares. A familiarização com a captação de imagens e sons e os
desdobramentos de sistematização do material gravado, possibilita o contato com
questões éticas, técnicas e de linguagem que envolve a elaboração do roteiro e a
preparação da edição valorizando os saberes empíricos e populares da comunidade
local incentivando o ensino-aprendizagem, a prática da leitura e escrita e todo um
processo de desenvolvimento cognitivo do estudante.
Referências
SOARES, Ismar de Oliveira. Educom.Rádio, na trilha de Mario Kaplún. In
Educomídia, alavanca da cidadania: o legado utópico de Mario Kaplún. Org. José
Marques de Melo et al. São Bernardo do Campo: Cátedra UNESCO : Universidade
Metodista de São Paulo, 2006. p. 179.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
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BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e linguagem. Discurso e Ciência. São
Paulo: Moderna, 1998.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
PERUZZO, Cicília Maria krohling. Comunicação nos movimentos populares – a
participação na construção da cidadania. Petrópolis: Vozes, 1998a.
LITWIN, E. Comp.(2000) La Educación a Distancia. Buenos Aires: Amorrortu.
KAPLUN,
Mario.
Processos
educativos
e
canais
de
comunicação.
Revista
Comunicação & Educação. São Paulo: Moderna/ECA-USP, jan/abr. de 1999.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996,
p.60.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação?. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
______. A educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1981
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