REPRESENTAÇÃO PARA APURAÇÃO SOBRE POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NO CUMPRIMENTO DO TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA - TAC 08112.000968/97-41 E RESPECTIVO TERMO ADITIVO. ÓRGÃO QUE REALIZOU A APURAÇÃO DOS FATOS: Grupo de Trabalho GT nomeado pelo Conselho Consultivo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. O Conselho é composto pelas seguintes instituições: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, Ordem dos Advogados de Minas Gerais, Fundação Nacional do Índio, Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais, Prefeitura Municipal de Januária, Prefeitura Municipal de São João das Missões, Prefeitura Municipal de Itacarambi, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Várzea Grande, Associação dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Araçá, Associação Comunitária Professora Ana Maria dos Pequenos Produtores de Olhos D’Água I, Associação dos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Areião e Adjacências, Associação Comunitária Unidos do Agreste, Associação Comunitária de Brejal, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Riachão Pajeú, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Junco, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Volta da Serra, Associação dos Pequenos Produtores e Agricultores Familiares Rurais de Vereda Grande I, Associação dos Pequenos Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Fabião I, Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Fabião II, Conselho Comunitário de Segurança Pública de Itacarambi, Povo Indígena Xakriabá, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Onça, Quilombolas e Adjacências, Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Pedras e Buritizinho, Associação dos Agentes Ambientais do Vale do Peruaçu, Instituto Cultural e Ambiental Rosa e Sertão, Cáritas Diocesana de Januária, Fundação Pró Natureza, Casa da Memória do Vale do São Francisco, Organização para o Desenvolvimento do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, Organização para o Desenvolvimento do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, Sociedade Brasileira de Espeleologia, Espeleogrupo Vale do Peruaçu. PARTES ENVOLVIDAS: Fiat Automóveis S/A Instituto Chico Mendes– ICM-Bio Ministério Público Federal - MPF APRESENTANTE DESTA REPRESENTAÇÃO: Instituições relacionadas e assinadas nas últimas páginas e que integram o Conselho Consultivo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A representação está sendo encaminhada pelas instituições de forma independente do Conselho, uma vez que embora tenham deliberado durante reunião extraordinária do próprio Conselho pelo seu encaminhamento ao Ministério Público Federal, foram comunicadas pelo ICMBio da impossibilidade deste encaminhamento, uma vez que o próprio ICMBio é integrante e preside o Conselho e não poderia encaminhar uma representação ao MPF da qual é parte envolvida. DA REPRESENTAÇÃO As instituições nas últimas páginas descritas, assinadas e que integram o Conselho Consultivo do PARNA Peruaçu (portaria ICMBio Nº 3 DE 13/07/2015 - DOU 16/07/2015), de forma independente, vem perante ao MPF solicitar a apuração sobre possíveis irregularidades no cumprimento do TAC 08112.000968/97-41 e respectivo Termo Aditivo, conforme segue: A FIAT Automóveis S/A celebrou junto ao MPF e ICMBio em 14/10/1997 e 20/06/2002 o Termo de Ajuste e Conduta-TAC supra especificado e em 24/06/2010 o respectivo Termo Aditivo no qual assumiu diversas obrigações em relação a implantação de Parque Nacional Cavernas do Vale do Peruaçu – PARNA Peruaçu, dentre outras a aquisição de áreas para repasse ao ICMBio; a construção de centros de atendimento aos visitantes e pesquisadores, trilhas, e a recuperação da estrada de acesso. É exatamente neste último item que se concentra a presente representação. Pessoas, Instituições e Responsabilidades no Processo de Recuperação da Estrada do Parque - Fiat Automóveis S/A – compromissária responsável pelo cumprimento das obrigações do TAC. - Vertical Green do Brasil – Empresa de Engenharia contratada pela FIAT para elaborar os projetos de engenharia e as obras de recuperação da estrada de acesso ao Parque do Peruaçu. - Representante do ICMBio e responsável pelo Parque Nacional Cavernas do Peruaçu – Chefe da Unidade: Evandro Pereira da Silva –nomeado por cargo comissionado através do decreto 03/2003 do IBAMA. - Instituto Ekos Brasil – Entidade contratada pela FIAT para acompanhar, intermediar e auxiliar a empresa no cumprimento das obrigações do TAC. O Instituto Ekos foi fundado pelos proprietários da Geoklok, empresa que elaborou o plano de manejo do Parque Nacional do Peruaçu. - Engenheiro Amauri Fonseca– funcionário do Instituto Ekos Brasil, supra qualificado, com a função de acompanhar os serviços e medições da empresa Vertical Green em relação as obras de recuperação da estrada. - Divino Aquino – funcionário e encarregado como mestre de obras da empresa Vertical Green e responsável pelas equipes e serviços de recuperação da estrada. - Engenheiro José Alberto Martins Campos– Analista e funcionário do ICMBio lotado na unidade de Teresópolis no estado do Rio de Janeiro e que foi designado para se deslocar até Januária/MG para fiscalizar e dar o aceite da conclusão da obra da estrada. DOS FATOS E CRONOLOGIA A FIAT, face a uma infração ambiental que cometeu, firmou em 14/10/1997 junto ao IBAMA (posteriormente convertido em ICMBio) e ao Ministério Público Federal o TAC 08112.000968/97-41. Este TAC teve uma nova versão assinada pelas partes em 20/06/2002 e posteriormente um Termo Aditivo firmado em 24/10/2010. Antes da assinatura deste Termo Aditivo, o IBAMA/ICMBio e a FIAT elaboraram com a participação do Instituto Ekos um “Projeto Detalhador” no qual constava as obras e benfeitorias que a FIAT deveria implantar no Parque Nacional do Peruaçu e que passou a ser parte integrante do referido Termo Aditivo. No quesito “estrada”, que é o objeto desta representação, esse “Projeto Detalhador” contextua claramente que a estrada não possui sistema de drenagem de água adequado; que nos períodos chuvosos vários trechos ficam intransitáveis, e que a proposta previa regularizar este eixo de acesso ao Parque. Foto 1 - Trecho da estrada do Parque em épocas de chuva (Fonte: Ronaldo Lucrécio Sarmento, jan/2015). Embora se entenda que toda a estrada deveria ser recuperada pois praticamente sua totalidade fica intransitável em épocas de chuvas, o Anexo do Plano Detalhador dividiu a estrada em trechos, onde alguns destes trechos seriam recuperados e outros não. Assim foram incluídos somente os trechos planos ou com pouca declividade e excluídos outros mais críticos e inclinados. Um bom exemplo de trecho esquecido é a conhecida “Ladeira Branca”, que historicamente fica intransitável quase todo ano, principalmente na época de chuvas, impossibilitando a passagem de qualquer tipo de veículo, mesmo 4x4. É importante se ressaltar que é muito mais barato realizar uma obra num trecho plano do que num inclinado, o que traz indícios de que o referido trecho, apesar da necessidade de ser trabalhado, não foi incluído porque geraria um custo maior na obra, demonstrado pela Figura 1 com o mapa de toda estrada. Apenas os trechos hachurados foram indicados para recuperação. Figura 1 - Mapa de localização dos trechos de intervenção. (Fonte: Memorial Descritivo Projeto Executivo para Melhorias das Vias de Acesso ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu – PNCP, 2013). Segundo informações apuradas, a vistoria que precedeu a confecção do Anexo do Plano Detalhador e onde foram indicados alguns dos trechos da estrada a serem recuperados em detrimento a outros necessários, foi realizada por diversas entidades, leia-se FIAT, representada pelo Instituto Ekos e seus subcontratados e também pelo IBAMA/ICMBio e seus funcionários, representado pelo Chefe Parque o Sr. Evandro Pereira da Silva, Evandro Pereira da Silva. Este último tinha e tem ciência dos piores trechos da estrada, uma vez que é servidor desta Unidade de Conservação - UC desde 2003 e transitava regularmente pela estrada a partir das atividades inerentes às suas funções no parque, porém não os apontou. Um fato relevante e que levantou suspeitas é a presença da empresa Vertical Green nesta fase, conforme se constata nas fotos do Plano Detalhador e onde aparecem veículos da empresa. Esta fase serviu para indicar os trechos que necessitariam de recuperação. Não existiria qualquer problema na presença da empresa se a participação da mesma se limitasse apenas a esta fase. Entretanto não só participou do processo de escolha e indicação dos trechos, como mais tarde fez os projetos de engenharia e também realizou toda a obra. Foto 2 – Veículo da empresa Vertical Green durante a vistoria para indicação no Plano Detalhador dos trechos a serem recuperados. (Fonte: Anexo do Plano Detalhador apresentado pela FIAT - leia-se Instituto Ekos – ao MPF antes da assinatura do Termo Aditivo do TAC 08112.000968/97-41 e que passou a ser parte integrante do mesmo). Questiona-se por que no Plano Detalhador não foi indicado toda estrada para ser recuperada uma vez que quase sua totalidade está precária? Ou, por que foram indicados apenas alguns trechos em detrimentos de outros? Foto 2- Ladeira Branca, pior trecho da estrada e que não foi incluído para ser recuperado. (Fonte: Ronaldo Lucrécio Sarmento, 2014). Este Plano Detalhador é o documento que indica e descreve as obrigações da FIAT em relação a implantação das obras de infraestrutura e melhorias do Parque Nacional e foi incluído como parte do Termo Aditivo do TAC. Comparece assinando este Termo Aditivo, dentre outros, o chefe do Parque Sr. Evandro Pereira da Silva. Uma vez assinado o Termo Aditivo, a FIAT passou a tomar as ações para cumpri-lo. No quesito estrada, o próximo passo foi a elaboração dos projetos de engenharia do traçado, base, sub-base, pavimento e drenagem. Para isto a FIAT contratou a empresa Vertical Green, a mesma que participou do processo de escolha dos trechos a serem recuperados. A Vertical Green elaborou os projetos de engenharia da estrada e os submeteu à análise do ICMBio, que os aprovou. Questiona-se: “Quem aprovou estes projetos? Se engenheiros do ICMBio participaram desta análise? Se visitaram e conheceram o local da obra e suas características geológicas e, sobretudo, hidrológicas? O próximo passo seria a execução das obras de recuperação da estrada, para tanto a FIAT abriu uma licitação privada com o intuito apurar o menor preço e a melhor proposta para realização de tais serviços. Segundo informações, apareceram no certame três empresas, sendo uma delas desqualificada por falta de documentos, restando outras duas. Uma delas, com nome de ART, fez a proposta para executar a recuperação da estrada por R$3.200.000,00. A outra empresa participante apresentou a proposta de R$4.293.000,00 – a Vertical Green, a mesma que esteve presente no ato da indicação dos trechos a serem recuperados e que elaborou o projeto de engenharia da estrada. Ainda conforme informações apuradas, a FIAT, “por ter melhores referencias de uma empresa em relação a outra”, preferiu contratar a empresa com a proposta mais alta. A princípio, não há ilícito nisso, uma vez que a licitação é privada e a FIAT apenas tem o compromisso no TAC de entregar a estrada recuperada, dentro de normas estabelecidas quanto ao tráfego e a contento para utilização segura, além das condições especificadas pelo próprio Projeto Detalhador. Ocorre que isso não foi cumprido como veremos mais adiante, uma vez que foi entregue uma obra totalmente inadequada e que causa protestos das comunidades no entorno do parque, dos utilizadores sazonais (leia-se turistas) e das instituições verdadeiramente preocupadas com as questões do Parque Nacional, e ainda, que não se presta aos fins pretendidos no TAC. Apenas como referência, o valor que a FIAT pagou para a Vertical Green executar a “recuperação com cascalho” de aproximadamente 10 km de estrada seria suficiente para pavimentar com asfalto a totalidade da estrada, ou seja, todos os seus 18 km, ou ainda realizar 14 km de calçamento em bloquete de pedra, idêntico ao existente nas ruas dos municípios próximos, que conforme diversas literaturas é o calçamento adequado para regiões onde é necessário uma drenagem que favoreça as especificidades regionais (geológicas, geomorfológicas, pedológicas, climatológicas, hidrológicas, entre outras) e a permeabilidade do solo. Foto 4 - Estrada do Parque Estadual Alto Ribeira em SP com mais de 10 anos desde sua conclusão. Na sua recuperação foi utilizada a técnica Solo-Cimento que continua em bom estado mesmo com intempéries climáticas frequentes naquela que é a região que mais chove em SP. (Fonte: Carlos Giunco – abr/2015) Foto 5 – Estrada do PARNA Peruaçu poucos meses depois da obra concluída e entregue. Região com índices pluviométricos na maior parte do ano próximo a zero e parte do pavimento já apresenta extremo desgaste, sobretudo nos trechos de declive. (Fonte: Carlos Giunco – jul/2015) A Vertical Green, vencedora da licitação, então iniciou a execução das obras. Para tanto começou a fazer as sondagens e análise laboratoriais para identificar as jazidas que contém o material adequado a ser aplicado na estrada. A jazida escolhida fica no bairro Fabião II, dentro da APA - Área de Proteção Ambiental do Parque e de propriedade do Espólio de José de Aquino e administrado pelo sr. Aparecido Aquino, sogro e cunhado respectivamente, do sr. Evandro Pereira da Silva, Chefe do Parque. Segundo informações não confirmadas e que necessitam ser checadas, as análises de solo dessa jazida estavam inadequadas e teriam sido reprovadas, sendo que a jazida mais próxima com material adequado fica na comunidade do Agreste, na Fazenda Minará, a 11 km do Parque por estrada asfaltada. A FIAT, através do Instituto Ekos, contratou o Engenheiro Amauri Fonseca para acompanhar e fiscalizar os serviços e as medições de obra da Vertical Green. Da parte governamental, leia-se ICMBio, nenhum fiscal ou engenheiro acompanhou efetivamente a execução da obra. Paralelo a isso ocorre o reativação do Conselho Consultivo do Parque Nacional Cavernas do Vale do Peruaçu e da APA do Peruaçu, formado por representantes da sociedade civil e governo. Estranhamente, este conselho estava paralisado desde 2009 sem uma explicação oficial e sua reativação vinha sendo cobrado pelas instituições que o integram e que têm interesse nos assuntos que envolvem o Parque Nacional, sobretudo na sua conservação. Fazem parte do conselho, principalmente, líderes de comunidades ao redor do Parque Nacional e tais pessoas já vinham há tempos questionando e reclamando verbalmente ao escritório local do ICMBio no bairro do Fabião I em Januária/MG sobre a qualidade das obras de recuperação da estrada. Entretanto, nada foi feito para verificar tal situação. Somente em 26/03/15, durante a reunião do Conselho do PARNA Peruaçu, após muitas cobranças verbais anteriormente feitas por instituições Governamentais, Não-governamentais e Privadas e que integram este Conselho, onde solicitavam que o ICMBio realizasse urgentemente uma vistoria nas obras da estrada para verificar sua qualidade e correta execução, uma vez que esta já indicava vários problemas técnicos, é que o ICMBio anunciou que essa fiscalização seria realizada no dia 31/03/2015. Logo algumas das instituições integrantes do Conselho indicaram seus representantes para acompanharem de forma voluntariosa a referida fiscalização, a saber: o CREA-MG (Conselho Regional de Engenharia e Agrimensura) / Inspetoria Regional de Januária-MG, a Sociedade Brasileira de Espeleologia, Espeleo Grupo Vale do Peruaçu e comunidades locais. Para esta fiscalização, o ICMBio designou o analista ambiental e engenheiro José Alberto Martinez Campos, funcionário do órgão e lotado em Teresópolis no estado do Rio de Janeiro. Mesmo sem nunca ter existido de maneira efetiva qualquer fiscalização pelo ICMBio em todas as fases da obra, esse engenheiro, no dia 31/03/15, espantosamente em menos que 3 horas conseguiu “fiscalizar” mais de 10 km de estrada, o que é tecnicamente totalmente inadequado e impraticável. O restante do tempo que esteve no Parque Nacional (chegou à unidade às 16h00 do dia anterior e foi embora as 14h00 do dia da fiscalização) se dedicou a reuniões e visita às cavernas e trilhas para verificar outras obras. Durante a fiscalização da estrada pelo engenheiro José Alberto Martinez Campos representante do ICMBio, os representantes das instituições que voluntariamente acompanhavam tal ato questionaram parecer que o engenheiro mal sabia o que estava fiscalizando, uma vez que não possuía em mãos qualquer projeto da estrada, tampouco os laudos de análise e CBR de solo previstos no Plano Detalhador, não conferiu itens importantes como a inclinação abaloada da leito carroçável, a grande quantidade de resíduo de obra depositada na lateral de toda estrada (resto de cascalho); o carreamento de material e o assoreamento dos pontos de escoamento de água; o desgaste do pavimento poucos meses após sua conclusão com início do surgimento de sulcos de erosão no leito da estrada; a grande quantidade de pedras que está se desprendendo do pavimento; também não conferiu se os trechos de estrada executados estavam dentro das especificações dos projetos “As Built” principalmente nos quesitos espessura de sub base, base e pavimento; se a técnica de solo cimento e/ou cascalho cimento estão dentro das normas NBR; dentre vários itens que estão sendo apontados no questionamento técnico a seguir. Nenhuma dessas anomalias foram sequer objeto de discussão ou indicadas como pontos de irregularidades técnicas por parte do citado engenheiro, mesmo estando evidentes e apesar dos questionamentos feitos pelos presentes. A verdade é que o engenheiro do ICMBio fiscalizou mais de 10 km de obras portando apenas algumas folhas de croquis em formato A4 (tamanho de um papel sulfite) e que lhe fora fornecido no mesmo dia pelo escritório local do ICMBio. Durante a vistoria, o engenheiro do ICMBio ainda ignorou praticamente todos os questionamentos e indicativos sobre possíveis irregularidades da obra quanto à execução e qualidade, feitos pelos membros das instituições que integram o Conselho do Parque e que voluntariamente acompanharam a fiscalização, inclusive apontamentos técnicos levantados por representante do CREA local. Indignados com a postura do engenheiro do ICMBio em ignora-los, alguns dos representantes destas instituições abandonaram o local e foram embora pois não iriam corroborar e avalizar uma fiscalização ineficiente e da maneira que foi realizada. Mais tarde se soube que a fiscalização realizada pelo engenheiro José Alberto Martinez Campos do ICMbio não se tratava de um ato de acompanhamento da obra ou mesmo provocado pelas constantes reclamações dos membros que integram o Conselho, que reclamavam quanto a execução e qualidade dos materiais e serviços aplicados na estrada, mas sim para que a obra fosse entregue em definitivo pela Vertical Green e pela FIAT ao ICM-Bio, o que atestaria o cumprimento desta parte do TAC. Na sequência, o Chefe do Parque Sr. Evandro Pereira da Silva emitiu o termo de recebimento da obra, apesar de todos os indícios de irregularidades citadas. Paralelamente a isso, chegaram informações importantes que ainda necessitam ser averiguadas pelo Ministério Público a saber: que as refeições e lanches dos funcionários da empresa Vertical Green e que trabalharam na obra eram fornecidas pela senhora Luciene, sogra do Chefe do Parque, Sr. Evandro Pereira da Silva. Que a senhora Michele Aquino, esposa do Sr. Evandro Pereira da Silva, Chefe do Parque, era funcionária da empresa Vertical Green, trabalhando como secretária no escritório da empresa e que a casa de alojamento de alguns funcionários e o pátio que servia de estacionamento de máquinas e que foram alugadas pela empresa Vertical Green pertencem ao Sr. Aparecido Aquino, cunhado do sr. Evandro, chefe do Parque. Em 13/08/2015 acontece uma nova reunião do Conselho Consultivo do Parque Nacional, onde alguns de seus membros apresentam em plenária os detalhes supra narrados deixando muitos dos presentes indignados com a ocorrência de tais fatos. Nesta mesma reunião foi convidado para dar alguns esclarecimentos o engenheiro Amauri Fonseca representando o Instituto Ekos (instituição contratada pela FIAT) o qual, pasmem, foi enfático em dizer que o material aplicado na estrada não era adequado. Justificou inclusive que ao assumir a responsabilidade de acompanhar a obra o material já estava comprado pela Vertical Green, e que se tivesse participado do processo de escolha teria rejeitado o material comprado (leia-se a Jazida). Diante de todo o exposto, ficam, dentre outras, as seguintes indagações: a) Algum engenheiro do ICM-Bio participou da vistoria e da indicação dos trechos da estrada que necessitavam de recuperação? Ou participaram apenas engenheiros representando a compromissária FIAT? b) Existem relatórios sobre a escolha dos trechos da estrada a serem recuperados, tecnicamente fundamentados e resultantes das diligências, apontando as decisões tomadas com respectivas fundamentações, laudos, ensaios, literaturas? Estes relatórios foram analisados e assinados com o “de acordo” por engenheiros civil do ICMBio com especialidade em estradas ou apenas por analistas ambientais do órgão? c) Existem relatórios que apontam os trechos da estrada que não foram incluídos no TAC e que também necessitavam de recuperação (como exemplo, dentre outros a Ladeira Branca que é o trecho mais crítico de toda estrada)? Qual motivo da não inclusão? Estes relatórios foram levados ao conhecimento do MPF antes da assinatura do TAC? d) Qual era a função da empresa Vertical Green na fase de vistoria e indicação dos trechos da estrada? Por que houve o fatiamento da recuperação da estrada em trechos e não a recuperação de toda estrada? Por que foram indicados trechos planos e de pouca inclinação e foram excluídos trechos críticos como exemplo o conhecido por Ladeira Branca? e) Existe alguma irregularidade no fato da empresa Vertical Green participar do processo de escolha e indicação dos trechos da estrada que deveriam ser recuperados e posteriormente ser contratada para elaborar os projetos de engenharia e também executar a obra? No momento que participou, mesmo que indiretamente, na indicação dos trechos a serem recuperados, esta empresa poderia ter se favorecido ao influenciar na exclusão dos trechos chamados mais “complexos” e que demandariam maiores custos, e apenas contemplar trechos planos e que necessitariam de menos intervenções, portanto mais baratos? f) A indicação para recuperação de trechos planos ou historicamente trafegáveis, portanto menos críticos e “mais baratos”, em detrimento da recuperação de trechos críticos em aclive/declive que comumente e de forma recorrente apresentam problemas que comprometem a trafegabilidade da estrada, pode ter sido uma ação tomada de maneira intencional e com fins outros que não aqueles com viés técnico? g) Por que em trechos como a Dolina do Macacos a estrada foi recuperada apenas até sua metade, não chegando até o localatrativo? h) O Chefe do Parque, Sr. Evandro, participou da fase de indicação dos trechos a serem recuperados? Em caso afirmativo, por que deixou de indicar vários trechos críticos, já que trafegava frequentemente pelo local e é conhecedor destes pontos, dentre outros, da Ladeira Branca? i) O engenheiro Amauri Fonseca tem algum vínculo com o ICMBio ou trabalhou exclusivamente acompanhando a obra como representante da Compromissária FIAT e/ou de seus prepostos, leia-se Instituto Ekos? Qual sua experiência em obras de recuperação de estrada, principalmente em solo-cimento ou cascalho-cimento? O ICMBio acompanhou a obra fiscalizando-a? Caso sim, de que forma e por quem? j) Existe alguma omissão do chefe do Parque na fiscalização da obra, ou mesmo na delegação dessa responsabilidade de forma a determinar que funcionários fiscalizassem; ou mesmo que informasse e cobrasse das instâncias superiores do ICMBio que a obra da estrada estava sendo executada sem qualquer fiscalização ou efetivo acompanhamento técnico pelo ICMBio. k) Existe ou existiu algum vínculo direto, indireto ou pessoal do chefe do Parque com a empresa Vertical Green? l) É possível realizar a fiscalização da execução de obra deste porte em apenas 3 horas e sem qualquer documento técnico, laudo ou projetos em mãos, apenas com croquis em folhas A4 (tamanho de papel sulfite), como fez o engenheiro do ICMBio? m) A estrada da maneira que foi entregue e se encontra está satisfatória? Condiz com normas de uma estrada-parque, considerando inclusive a magnitude de importância daquela Unidade de Conservação? Se comparada com outras estradas de solo-cimento (ou cascalho-cimento) está compatível? n) A título de ilustração-comparativa está anexo imagens de uma estrada construída utilizando a tecnologia solo-cimento no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira em São Paulo, com mais de 10 anos de uso e submetida a ações de intempéries climáticas bem mais severas que aquelas que normalmente ocorrem na região do PARNA/Peruaçu. Por que a estrada do PARNA Peruaçu, com a mesma técnica de solo-cimento (ou cascalho-cimento) não apresentou o mesmo resultado de acabamento? o) Os termos pavimento em solo cimento ou cascalho cimento são a mesma coisa? Em caso de negativo, é possível justificar com embasamentos técnicos e convincentes? p) É sabido que, para o pavimento solo-cimento existem algumas NBRs – Normas Brasileiras definidas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Existem essas mesmas normatizações para o pavimento cascalho-cimento? q) O termo cascalho-cimento tem fundamento técnico? Em quais outras estradas foi aplicado e qual nível de sucesso? r) É sabido que o índice pluviométrico do último ano na região foi o menor da década e mesmo assim observou-se a ocorrência de sulcos erosivos no próprio leito da estrada, e consequentemente a deposição desse material transportado para locais de cotas inferiores, promovendo assim a degradação da estrada e o “assoreamento” das áreas mais baixas. A estrada da maneira como foi entregue apresenta sistema de drenagem adequado? Foto 7 – Exemplo de assoreamento que o material que está se soltando da estrada pode causar no Rio Peruaçu. s) O material e as técnicas construtivas utilizadas na execução da obra, favorecem a ocorrência de processos erosivos que implicariam em comprometimento da sua vida útil, além de severos impactos ambientais nas áreas adjacentes e no próprio leito do Rio Peruaçu? t) A estrada foi concluída exatamente como constou em seus projetos “As Built” entregue pela empresa Vertical Green ao ICMBio? As inclinações, espessuras de pavimento também estão de acordo com o projeto “As Built”? Foram realizados ensaios de conferencia? O engenheiro do ICMBio que fiscalizou a obra verificou estes itens? Caso sim constou isso em relatório? u) O fluxo vertical de água em locais pontuais de afloramento do lençol freático, comum no período chuvoso, pode comprometer todo o trabalho realizado e trazer problemas às áreas do entorno da obra, como erosão e assoreamentos face o material utilizado (cascalho)? v) A inclinação da seção transversal do leito da estrada recuperado está condizente com o Projeto-Detalhador, permitindo ou facilitando a drenagem da água? Existem impedimentos físicos à essa drenagem, como o acúmulo de material grosseiro nas suas bordas? w) Da maneira que a estrada foi realizada e entregue, existe algum risco dela contribuir para o assoreamento dos rios e mananciais da região? x) A grande quantidade de resíduo (cascalho) acumulado nas laterais da estrada pode trazer prejuízos ao meio ambiente? Na época de chuvas, este material pode manter a água pluvial confinada no leito da estrada ao invés de permitir sua dispersão pelas laterais prejudicando assim a própria estrada? O leito da estrada e o sistema de drenagem nos trechos executados estão de acordo para suportar o período chuvoso em uma região de clima semiárido caracterizada por chuvas torrenciais, de alta intensidade concentradas em um período relativamente curto do ano? Foto 6 – Grande sobra de material e rejeito (pedras grandes) depositados nas margens da estrada e que podem manter a água pluvial confinada dentro da estrada, além de ser um material que pode com as chuvas ser carreado para o rio Peruaçu. y) Houve alguma irregularidade na escolha da cascalheira que forneceu o material? Os laudos de análise laboratorial do material escolhido e teoricamente aprovados são os mesmos da cascalheira onde foram retirados? Houve alguma adulteração destes laudos? z) O material utilizado na estrada pela Vertical Green é adequado, uma vez que o próprio engenheiro que acompanhou a obra pela compromissária FIAT afirmou em reunião do Conselho Consultivo não ser este material o mais indicado? DOCUMENTOS ANEXOS - RELATÓRIO FOTOGRÁFICO - PROJETO DETALHADOR - PROJETO “AS BUILT” Diante de todo o exposto, solicitamos ao Ministério Público Federal a apuração se ocorreram irregularidades nas fases do processo relacionado à recuperação da estrada. Caso existam, que se tome as providências legais cabíveis. Pleiteamos ainda a anulação do termo de recebimento da obra de recuperação da estrada, termo este emitido pelo chefe do Parque e, por consequência, que se determine a execução da estrada de maneira satisfatória e adequada. Januária-MG, 26 de agosto de 2015. INSTITUIÇÃO NOME DO REPRESENTANTE ASSINATURA INSTITUIÇÃO NOME DO REPRESENTANTE ASSINATURA INSTITUIÇÃO NOME DO REPRESENTANTE ASSINATURA