CLIMA E PRODUTIVIDADE DE SOJA NOS MUNICÍPIOS DE CEREJEIRAS E VILHENA LOCALIZADOS NO CONE SUL DE RONDÔNIA Deise Nunes Furlan 1 Dorisvalder Dias Nunes 2 Joiada Moreira da Silva 3 Luiz Cleyton Holanda Lobato 4 Tatiane Rodrigues Lima 5 Aldina Gomes de Assunção 6 Gizele Carvalho Pinto 7 RESUMO: O presente estudo teve como objetivo descrever as variáveis climáticas nos municípios rondonienses Vilhena e Cerejeiras e quais as relações destas com a produtividade de soja. Os dados climáticos: precipitação e temperatura, obtidos na SEDAM e EMBRAPA de Vilhena, foram utilizados nos cálculos de balanço hídrico através do método de Thornthwaite e Mather (1955). A partir dos resultados de evapotranspiração potencial (ETP), evapotranspiração real (ETR), déficit hídrico (DEF) e excedente hídrico (EXC), foi estabelecida a estação de crescimento das plantas, outubro a junho e, como as variáveis temperatura, pluviosidade e balanço hídrico, se apresentam nesse período. Para correlacionar a precipitação com a produtividade foi utilizada a equação de SPEARMAN através do sistema computacional BioEstat (Ayres et. al., 2000), onde constatou-se significativa correlação no município de Vilhena, (r 0,79) para o período anterior a implementação da Hidrovia do Madeira. Após esse período não houve correlação significativa entre o clima e a produtividade para nenhum dos municípios estudados. Isso nos leva a concluir que o aumento da produção de soja no cone Sul de Rondônia está, significativamente, ligado aos insumos e tecnologias utilizados no sistema de produção, sendo o clima um fator importante, porém secundário. PALAVRAS-CHAVE: Clima, Balanço Hídrico, Soja ABSTRACT: This study aimed to describe the weather variables in the municipal districts of Vilhena and Cerejeiras, and it’s correlations to the soybean production. The climate data: rain volume and temperature, obtained from SEDAM and EMBRAPA in Vilhena, were used for water balance calculations through Thornthwaite and Mather methods (1955). From de results of potential evapotranpiration (PET), actual evapotranpiration (RET), water deficits (WD) and water surplus (WS), the plants growing season was established from October to June. The presentation of temperature variably, pluvial and hydro balance, were also collected from the same results in the period. In order to relate the rain with productivity, the SPEARMAN equation was used through the computer system BioEstat (Ayres et. Al.,2000), there was a significant correlation verified at municipal district of Vilhena, (r 0,79) for the period previous to the implantation of Madeira river Hydro way. After that period there was no correlation between climate and productivity in the studied municipal districts. This led us to the conclusion that the increase of soybean production at the southern part of Rondonia is 1 Graduated in Biology – [email protected] Coordinator of LABOGEOPA – Orientation responsible – [email protected] 3 Master Degree in Regional Development and Environment (on course)– Co-Orientation responsible – [email protected] 4 Associated Researcher of LABOGEOPA – [email protected] 5 Master Degree in Regional Development and Environment (on course) [email protected] 6 Associated Researcher of LABOGEOPA [email protected] 7 Scholarship Holder of PIBIC/UNIR/CNPq [email protected] 2 significantly tied to the technology and materials used for the production, been the weather an important but secondary factor. KEY-WORDS: Climate, Water Balance, Soybean INTRODUÇÃO A expansão do agronegócio em especial, das lavouras de soja no estado de Rondônia a partir da metade da década de 90 esteve aliado a fatores como a implementação do transporte fluvial com a consolidação da Hidrovia do Madeira, representando um corredor estratégico de escoamento de grãos. Além desse, outros fatores contribuíram para a expansão da lavoura de soja no Estado, como as condições físicas e climáticas favoráveis e a influência da expansão de áreas plantadas no estado do Mato Grosso (NUNES, 2004; SILVA, 2005). De modo geral a produtividade de soja está aliada a três tipos de situações: as de ordem natural, como o clima e as características do solo; as artificiais, como insumos, maquinários e tecnologias e as sócio-econômicas, como políticas de incentivo ao agronegócio e contratação de mão-de-obra qualificada (SANTOS, 2002). Como observado, uma diversidade de fatores pode influenciar na produtividade de soja, porém, o presente estudo teve como objetivo central analisar as influências dos fatores climáticos no desenvolvimento fenológico da soja na área de estudo. METODOLOGIA A metodologia utilizada fundamenta-se nos pressupostos de Monteiro (1976) que considera o clima como insumidor energético importante na organização do espaço agrícola. Sendo assim, forma levantados dados de temperatura, pluviosidade e produtividade referente à área de estudo que se localiza no Cone Sul do estado de Rondônia, estando delimitada pelos municípios de Vilhena e Cerejeiras. Os dados de temperatura e pluviosidade foram obtidos a partir das estações meteorológicas digitais controladas pela Secretaria de Desenvolvimento Ambiental - SEDAM, e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária - EMBRAPA do município de Vilhena no período de 1989 a 2004. Quanto aos dados de produtividade, os mesmos foram obtidos através do site do IBGE www.sidra.ibge.gov.br. Para a análise dos dados climáticos foi utilizado o método de Thornthwaite e Mather (1955) que determina a perda hídrica do solo em função de uma superfície vegetada, fenômeno conhecido como 2 evapotranspiração (ET). A capacidade máxima de água disponível no solo (CAD) adotada para os cálculos foi de 50mm. Os dados foram calculados mês-a-mês durante o período de 1998 a 2004, seguindo o roteiro elaborado por Camargo (1971). Os dados pluviométricos foram submetidos a cálculos de variância e desvio padrão, onde foi verificado o grau de dispersão do conjunto de dados em torno da média, possibilitando uma melhor inferência sobre a regularidade da distribuição de chuvas na área de estudo (VIEIRA, 1998). A relação entre os totais pluviométricos e a produtividade foi realizada pelo sistema computacional BioEstat por meio da equação de SPEARMAN (Ayres et. al., 2000). A área de estudo localiza-se ao sul do estado de Rondônia, aproximadamente 700 Km da capital Porto Velho. O tipo de solo predominante são os Latossolos e Areias Quartzosas. Os tipos climáticos da área são Am, segundo Koppen, ou seja, tropical chuvoso, que corresponde às florestas tropicais e o Aw, que se refere às savanas tropicais, com verão úmido e inverno seco. Apresenta em média 600m de altitude (NIMER,1999; SEDAM, 2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO Como primeiro passo nessa análise foi definida a estação de crescimento das plantas segundo a metodologia da FAO (FRÈRE & POPOV, 1986:166 apud SANTOS, 2002). Essa estação se inicia quando a precipitação ultrapassa 50% da evapotranspiração potencial (ETP) e termina quando a precipitação torna-se 50% inferior à evapotranspiração potencial (ETP). Sendo assim, a estação de crescimento das plantas foi definida na região dos municípios de Vilhena e Cerejeiras como o período entre outubro a junho. A partir dessa definição seguiu-se para o estudo das temperatura, pluviosidade, balanço hídrico e, finalmente, a relação entre precipitação e produtividade no período de outubro a junho. As temperaturas extremas absolutas apresentaram os meses de outubro e abril como os mais quentes, 31,4 e 31,7ºC, respectivamente e os meses de maio e junho, como os mais amenos com temperaturas de 17,4 e 14,9ºC. Apesar das variações ocorridas entre as temperaturas máximas e mínimas, as temperaturas médias são favoráveis ao cultivo de soja, estando entre 22,1 e 25,4ºC (GODINHO, s/d). Quanto aos totais pluviométricos no período de 1989 a 2004 referentes a estação de crescimento das plantas, outubro a junho, a média dos dados se apresentam bastante elevados ficando em 2023,22mm. Esses valores podem ser considerados regulares, com 205,17mm de desvio padrão, ou seja, com uma variação de 10,01%. Ao contrário disso, os totais pluviométricos mensais não 3 apresentam a mesma regularidade, como por exemplo, o mês de maio onde o desvio padrão chega a 71,87% da média pluviométrica. Através da proposta de Schroeder (1956) apud SANTOS, (2002) que classifica como “baixo”, os desvios positivos ou negativos, situados entre 0 e 25%; “moderados” aqueles entre 25 e 50%; “alto” aqueles entre 50 e 75%; e “muito alto” aqueles superiores a 75% pode-se verificar que os meses de outubro, novembro e dezembro foram os que apresentaram os maiores desvios. Quanto a regularidade nas variações dos totais pluviométricos, os meses de janeiro e abril foram os mais estáveis. De forma geral, os desvios positivos ou negativos da classe “baixo” mostram que 60% dos valores estão dentro dessa classe, ou seja, as variações não são tão acentuadas, oscilando entre valores “baixo negativo” e “baixo positivo”. A partir da classificação das variações ocorridas no período de outubro a junho nos totais pluviométricos, foram feitos cálculos de balanço hídrico através do método de Thornthwaite e Mather (1955) para verificar em quais meses ocorreram os excessos e déficits hídricos para as lavouras de soja. Os dados de balanço hídrico mostram que a evapotranspiração real (ETR) no período de 1998 a 2004 é, em média, 650,32mm, estando bem próximo dos valores de evapotranspiração potencial (ETP), 690,32mm, o que indica que as demandas hídricas são bem supridas nessa região. A deficiência hídrica (DEF) não é acentuada no período considerado, porém os excessos hídricos (EXC) apresentam valores elevados, 940,64mm em média, sendo os mais prejudiciais para as lavouras de soja. No balanço hídrico mensal pode ser observado que até o mês de abril não ocorrem déficits hídricos na área de estudo, estando as lavouras de soja com disponibilidade hídrica suficiente para o seu desenvolvimento, pois a evapotranspiração real é igual a potencial, 98,44mm. Porém os excedentes 300.00 500.0 250.00 400.0 200.00 300.0 150.00 200.0 100.00 (ETR) (EXC) hídricos nesse mesmo período são elevados, como mostra a figura 01. 100.0 50.00 0.00 0.0 Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Mes Precip. (ETR) (EXC) Fig 01: Gráfico de Balanço Hídrico. Variações de Excedente Hídrico, Evapotranspiração real e Precipitação. 4 Para quantificar as influências que as variáveis climáticas, em especial, a disponibilidade hídrica, tem sobre a produtividade de soja, os dados de produtividade (Kg/ha) e precipitação (mm) foram correlacionados através da equação de SPEARMAN no sistema computacional BioEstat (Ayres et al, 2000). Primeiramente foi realizada a análise referente ao período de 89/90 a 95/96 para o município de Vilhena e, em seguida, para o período de 96/97 a 03/04 para os municípios de Vilhena e Cerejeiras. Os dados da análise mostram que para o período de 89/90 a 95/96 no município de Vilhena a produtividade estava significativamente ligada aos índices de pluviosidade como pode ser observado pelo índice de correlação de SPEARMAN igual a 0,79 (Fig. 02). Produtividade (Kg/ha) 2500 2400 r de SPEARMAN (0.79) 2300 2200 2100 2000 1900 1200 1700 2200 2700 3200 Precipitação (mm) Fig. 02: Correlação entre produtividade (Kg/ha) e precipitação (mm) para o município de Vilhena no período de 89/90 a 95/96. Essa significativa correlação pode ser em função do tipo de agricultura que era desenvolvida no começo da década de 90 no estado. Os produtores não tinham informações e tecnologia, sendo o clima o principal agente com influência sobre a produtividade (OLIVEIRA, s/d). Quando submeteu-se os dados de precipitação e produtividade referentes ao período de 96/97 a 03/04 desse mesmo município à equação de SPEARMAN não foram obtidos resultados significativos, como pode ser observado pelo índice de correlação igual a -0,39. Quanto ao mesmo período referente ao município de Cerejeiras, também não foram obtidos resultados significativos. Isso mostra que a partir de 96/97 outros fatores contribuíram para os índices de produtividade, além das variáveis climáticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar das dificuldades na obtenção de dados climáticos referentes a uma série histórica longa, 1990 a 2004 da área de estudo, pode-se verificar que os municípios de Vilhena e Cerejeiras apresentam boas condições para o cultivo de soja. A estação de crescimento das plantas se estende por um período de nove meses. Nesse período ocorre a produção de soja nos municípios estudados, que normalmente é de novembro a março. 5 Além da boa disponibilidade hídrica nesse período, como pode ser observado pela ausência de déficits hídricos, as lavouras de soja dispõem de temperaturas favoráveis que oscilam entre 22,1 no mês mais ameno e 25,4ºC no mês mais quente. As precipitações se apresentam regulares, porém com valores elevados, estando em média com 2023,22mm no período de outubro a junho. Em função disso, podemos observar que os excedentes hídricos também são elevados. Relacionando os dados de produtividade (Kg/ha) e precipitação (mm) foi verificado que para o período de 89/90 a 95/96 no município de Vilhena a variável climática – precipitação – está fortemente correlacionada com os valores de produtividade. Porém para o período de 96/97 a 03/04 os testes de correlação mostram que não houve relação entre a precipitação e produtividade para nenhum dos municípios estudados. Isso nos leva a concluir que antes de 96/97 o clima era uma variável com forte influência nos índices de produtividade, porém após essa data outros fatores passaram a ter uma maior relação, como insumos e tecnologias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SEDAM, Atlas Geoambiental de Rondônia. Porto Velho: SEDAM, 2002, v.2 AYRES, M.; AYRES, Jr; AYRES, D.L. & SANTOS, A.S. Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Biológicas e Médicas. BioEstat 2.0 – Belém : Sociedade Brasileira Mamirauá; Brasília: CNPq, 2000, xii, 272p. CAMARGO, A.P.de. Balanço Hídrico no Estado de São Paulo. 3ª ed. Instituto Agronômico de Campinas. Boletim 116, 1971. GODINHO, V de P.C; et al. Práticas para produção de soja em Rondônia.Vilhena, s/d. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados de Produção. Disponível em: www.sidra.ibge.gov.br/bda. Acesso em 20/02/2006 MONTEIRO, C. A. F. Teoria e Clima Urbano. Instituto de Geografia. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1976. NIMER, E. Climatologia do Brasil. 2ªed. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1989. NUNES, D. D. Hidrovia do Madeira: (Re) Configuração Espacial, Integração e Meio Ambiente. 379 p. Tese (Doutorado em Ciências: Desenvolvimento Sócio-Ambiental), Belém, 2004. OLIVEIRA, S. J. M. et al. Diagnóstico da Cultura da soja em Rondônia. Vilhena, {s/d}. SANTOS, J. W. M. C. Clima e Produtividade da Soja nas Terras de Cerrado do Sudeste de Mato Grosso. 338p.Tese (Doutorado). 2002, Universidade de São Paulo. SILVA, R.G.da C. Avanço dos Espaços da Globalização: a produção de soja em Rondônia. Porto Velho: UNIR, 2005 (Dissertação de Mestrado). THORNTHWAITE, C.W. & MATHER, J.B. The water balance publications in climatology. Vol. 8,nº1 centerton, New Jerse, 1955. VIEIRA, S. Introdução a bioestatística. 3ª ed.Rio de Janeiro: Campus, 1998. 6