AS CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO PARA O
ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE EM MAGISTÉRIO
ALINE BRANDÃO DE MORAES
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO,UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ, BOLSISTA PIBIC/CNPQ, CEP: 66.620-260, BELÉM – PA,
TEL: 243-4908, E-MAIL: [email protected]
MARIA NEUSA MONTEIRO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ, ORIENTADORA DO PIBIC/CNPQ, CEP:66.063-390, BELÉMPA,TEL:229-9316, E-MAIL: [email protected]
RESUMO
A filosofia da educação é um saber indispensável para o ensino médio
profissionalizante em magistério pois conduz o futuro educador à reflexões sobre o seu fazer e
viver educativo. Assim a pesquisa teve como objetivos analisar as contribuições da filosofia
da educação para o ensino médio profissionalizante em magistério, refletir sobre a prática
educativa dos professores desta disciplina , identificar a representação que os educandos
possuíam da filosofia e a importância que ela passou a apresentar ou não para eles durante os
seus estudos. O estudo foi realizado em 2 escolas públicas de Belém e teve como
procedimentos observações em sala de aula, questionários ( alunos) e entrevista (
professores). Nele pudemos constatar que a maioria dos alunos chegam à disciplina
despojados de qualquer representação acerca da mesma. Quanto as contribuições da filosofia
de educação todos os alunos afirmaram que ela trouxe contribuições para as suas vidas e
profissões ,mas a maioria não soube dizer como ela teria contribuido.Com relação a prática
educativa, os professores procuravam introduzir seus alunos no ato de filosofar utilizando
para tanto metodologias que possibilitavam o exercício filosófico. Contudo muitas são as
dificuldades enfrentadas por professores e alunos na busca pela construção do conhecimento
filosófico que impede-os, muitas vezes, de realizarem um aprofundamento no estudo da
disciplina. Mas é importante lembrarmos que é a partir de todas essas dificuldades presentes
na área educacional que a filosofia poderá mostrar todas as suas contribuições e fecundidade.
ABSTRACT
The education of philosophy indispensable knowledge for the teaching medium
professional in masterchip because conduct the future educator the reflection about his
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educative actions. So there objective search was to analyze the contribution of education of
philosophy for the teaching medium professional in masterchip; To reflect about the practice
on the teaches of this discipline; To identify the representation that the students owned of
philosophy and the importance that it passed the to present or not for they during the their
studies. The study went realize with 67 students and 2 teaches on 2 public school of Belém
and was achieved by observation in classroom, questionary (students) and interview (teaches).
It evidenced to that do the Marjory on the students informed that they came to the discipline
dispossesses of any representation about it. In terms of the contributions on the education of
philosophy all the students affirmed than believed than it bringed contributions for your life
and profession. But the majory not knowed to say how it hat contribute. With regart to
educative pratice, the teaches searched to introduce your students in the act on to philosophize
utilizing, for thus, methodologies that enabled the philosophic exercise. Yet, very is the
difficulty confront for the students and teaches seek in the construction on the philosophic
lose the impede him, often, to realize a deepen in the study on discipline. But is important
remind that is the part of all those difficulty presents in the education area, that the philosophy
can to show all the your contributions and fecundity.
INTRODUÇÃO
Percebemos hoje uma certa desvalorização da Filosofia que é vista, muitas
vezes, como um saber que não apresenta resultados imediatos, logo, não tem utilidade para a
sociedade, que reivindica para si, conhecimentos científicos que possam trazer benefícios
práticos para a vida.
Mas ela se faz necessária para todos, pois no mundo globalizado de hoje, o
homem não pára mais para refletir sobre sua condição humana, já que seus esforços estão
voltados à busca incessante pela tecnologia e isso vem fazendo com que ele se subordine cada
vez mais à máquina onde “... de criador o homem passou a ser criatura de sua criação (...)”
(Maia, 1998)[9] , perdendo desta forma o seu humanismo, sem pensarmos com isso em uma
relação maniqueísta entre o homem e a tecnologia.
É mister então, o retorno da atitude filosófica, que é caracterizada pela
indagação, principalmente nos problemas que concernem à educação, visto que a mesma, vem
sofrendo muitas transformações no decorrer do período histórico, que estão sendo
acompanhadas de forma crítica por alguns educadores mas que necessitam da atenção de
todos os demais, pois precisamos entender a escola que tínhamos e temos para saber então, a
que queremos e lutar para que a mesma seja efetivada. Neste sentido desenvolvemos um
estudo em duas escolas públicas de Belém que oferecem o ensino médio profissionalizante em
magistério - ou modalidade normal como atualmente é conhecido- onde procuramos analisar
as contribuições que a filosofia da educação traz para esse curso.
Entendemos portanto que seja indispensável que aos alunos do ensino médio
profissionalizante em magistério seja ofertado um bom curso de Filosofia, para que eles
possam atuar posteriormente, de forma mais crítica, numa realidade educacional complexa e
que muitas vezes escamoteia suas finalidades. É essencial que estes professores em potencial
se mantenham em vigilância crítica diante da realidade. E esta vigilância crítica é propiciada
pelo estudo da Filosofia que é ministrada pelos professores de Filosofia da Educação devendo
estes portanto, guiarem seus alunos à construção de suas consciências filosóficas para que
Revista Científica da UFPA http://www.ufpa.br/revistaic Vol 4, abril 2004
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desta forma, eles possam atuar na realidade educacional como mais que professores, na
verdade, como educadores.
REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
A Filosofia é um saber que leva o homem a uma reflexão mais rigorosa e radical sobre
ele mesmo e sobre o mundo com o qual interage. Desta forma, ao apresentar uma consciência
filosófica ele se afasta do senso comum, caracterizado por não realizar uma reflexão crítica à
cerca da realidade, pois começa a questionar todas as verdades em que acreditava, não
aceitando-as como prontas e acabadas e procurando pensá-las de uma nova forma, mais
sistemática e coerente, encontrando então, respostas que não são absolutas mas que
apresentam um caráter provisório, já que seu pensamento se dá em uma realidade histórica
que sofre constantes mudanças. Assim Cartolano afirma:
“A atividade filosófica (...) é trabalho do pensamento sobre a
experiência real, ou seja, negação da experiência imediata,
empírica, não pensada, e criação de saber, no interior do
não-saber. Nesse sentido, as respostas que sugere e os
problemas que levanta são sempre provisórios, pois a
realidade sobre a qual trabalha é histórica e não
permanente”.(CARTOLANO, 1985)[3].
Por ser a filosofia uma reflexão e por apresentar respostas provisórias aos seus
questionamentos, muitos acreditam que ela seja um saber puramente contemplativo, que não
apresenta resultados práticos logo, não tem valor, sendo portanto, um saber inútil e
dispensável para os propósitos atuais da humanidade pois esta procura saberes que
apresentem resultados imediatos que possam contribuir para o aprimoramento da tecnologia.
Contudo mesmo que a Filosofia fosse inútil ela assim o seria porque sua finalidade se
encontra nela mesma, se apresentando como um saber que pode ajudar o homem a se libertar
das vendas que o deixa cego ou com uma visão distorcida da realidade que o cerca.
Mendonça(1970)[10] faz uma discussão interessante acerca da dita “inutilidade” da
Filosofia afirmando que se analisarmos a palavra útil perceberemos que seu significado seria
o de que é tudo o que tem finalidade no outro, assim inútil seria então, o que não tem um fim
no outro. Desta forma pode-se pensar o seguinte: não tem um fim no outro porque não tem
finalidade alguma ou não tem um fim no outro porque tem finalidade em si mesma. E se for
para pensar a Filosofia como inútil, voltamos a afirmar que ela o é porque sua finalidade se
encontra dentro dela.
Assim engana-se também, aquele que pensa na filosofia como um saber
contemplativo, ela é uma reflexão que visa a ação, pois ao pensar a realidade, ela a faz de
forma sistemática, se constituindo então em um entendimento coerente e crítico que
possibilita um direcionamento para a ação. Desta forma concordamos com Luckesi ao afirmar
que “A Filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma
concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva”. (LUCKESI,
1993)[8].
Portanto urge a necessidade de recuperarmos a importância da Filosofia para o
homem, já que o mundo hoje, precisa muito mais dela, principalmente porque ela nos leva a
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indagação e a reflexão que são indispensáveis para a sociedade global, que a cada dia
persegue mais os avanços tecnológicos, não parando, muitas vezes, para refletir nas mudanças
políticas, econômicas, sociais, morais, entre outras, que ocorrem a todo momento, decorrentes
algumas vezes, destes mesmos avanços.
E uma das áreas de conhecimento em que a Filosofia é indispensável, devendo o seu
valor ser recuperado é a educacional onde, por meio de políticas educacionais, a Filosofia
vem sendo retirada dos currículos escolares do ensino médio deixando, portanto, de atuar na
formação de muitos jovens.
Desta forma se formos analisar o texto da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
de número 9394/96, observaremos que a Filosofia não adquire o papel de uma disciplina tão
importante quanto as demais que compõe a grade curricular do ensino médio, não nos
deixando claro que o seu ensino é necessário para a formação dos nossos jovens.
Neste texto, afirma-se que ao final do ensino médio os alunos devem demonstrar
conhecimentos sobre a Filosofia. Como podemos observar no que estipula o Artigo 36,
Parágrafo I do Inciso III:
“Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio
o educando demonstre: (...)domínio dos conhecimentos de
Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da
cidadania”(Grifo nosso)(BRASIL,1996)[2].
Não concordamos com o que este texto nos diz pois entendemos que ele destina um
papel secundário para a Filosofia e a Sociologia na formação dos jovens já que não defini de
forma clara, que as escolas devem oferecer a disciplina Filosofia .Na forma como está escrito
é possível de se entender que a Filosofia possa ser trabalhada imbricada em outras disciplinas
desde que , ao final do ensino médio, os alunos apresentem algum conhecimento sobre ela.
Não estamos querendo fazer uma apologia a Filosofia, apesar de compreendermos
que ela é indispensável para a humanidade, mas entendemos que no texto da Lei, ela deva
adquirir a mesma importância que outras disciplinas como a matemática, o português, a
biologia ou a física.
Diante desta situação realizamos um estudo para tentarmos analisar as contribuições
que a Filosofia da educação traz para o ensino médio profissionalizante em magistério.
Contudo manifestamos também a preocupação de sabermos que Filosofia é relevante para a
formação dos jovens e esta inquietação nos levou a refletir sobre o papel do professor de
Filosofia da Educação já que este é quem tem um contato mais direto com seus alunos e é
quem irá aproximá-los da matéria em questão conduzindo-os à questionamentos sobre a
realidade, muitas vezes não realizados pelos alunos pois estes, acostumaram-se a decorar
conteúdos repassados por alguns professores ficando portanto, impossibilitados de manifestar
uma reflexão à cerca da mesma e de poder articular o aprendizado da sala de aula com as suas
vivências práticas. Fabrini afirma que na Filosofia:
“O professor, sobretudo de 2.º grau, deve introduzir seu
aluno na experiência inaugural do estranhamento, num
desenraizamento que o fisgue do falatório (do repetir e
repassar adiante a mesma fala), ativando-lhe a curiosidade
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pelas possibilidades
(FABRINI, 1995)[1].
e
ambigüidade
dos
discursos”
Por isso se faz necessária uma Filosofia que desenvolva o pensamento crítico através
da vinculação entre problemas vivências e problemas filosóficos para que esta Filosofia não
se torne uma abstração para nossos jovens.
Assim nos propusemos também a refletir se os professores de Filosofia da Educação,
através de suas práticas educativas, estão propiciando aos alunos a capacidade de construírem,
através de seus próprios esforços, suas reflexões críticas à cerca da realidade educacional.
Nosso posicionamento nesta reflexão realizada, era a de que o saber se constrói a partir de
trocas de experiências entre alunos e professores, onde ninguém tem um saber absoluto mas
todos possuem um saber relativo e o educador tem a função de orientar o educando na
produção do seu saber. Desta forma concordamos com Gramsci quando nos fala que: “(...) a
aprendizagem ocorre notadamente graças a um esforço espontâneo e autônomo do discente,
e no qual o professor exerce apenas a função de guia amigável (...)” (GRAMSCI, 1995)[7].
Entendemos que a aprendizagem da Filosofia deve articular as vivências
práticas e o saber filosófico para a construção de uma consciência crítica, ora dito acima,
vemos que o professor pode fazer com que seu aluno estabeleça uma melhor relação com esta
disciplina se afastando então da atitude de acreditar que ela é um saber inútil. Daí decorreu, a
inquietação de identificarmos a representação que os educandos possuíam sobre a Filosofia e
a importância que ela passou a apresentar ou não para eles no decorrer de seus estudos, pois
muito do que os alunos pensam sobre a Filosofia, reflete a prática de seus professores, sem
pensarmos com isso que este seja o único responsável pelo conhecimento produzido por
aquele.
Assim realizamos nossa pesquisa em duas escolas públicas que ofereciam ensino
médio profissionalizante em magistério, no horário noturno: a Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Luís Nunes de Direito e a Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Joaquim Viana.
Nessas escolas nossa coleta de dados se pautou em três técnicas: a observação
participante, a entrevista com os professores e o questionário aplicado juntos aos alunos. Essa
coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2000 e no primeiro semestre de 2001.
A intenção que tínhamos com a dupla coleta era tentarmos compreender a
aproximação dos alunos com a filosofia no decorrer de um ano letivo. E a única forma que
possuíamos para realizarmos nosso intuito foi acompanharmos turmas diferentes em dois anos
letivos, onde trabalhamos com duas concluindo o ensino médio e posteriormente, com duas
iniciando o 3º ano, devido ao período de vigência da bolsa de iniciação científica
PIBIC/CNPq que ia de agosto de 2000 à julho de 2001.
Desta forma, ao todo, realizamos as observações em quatro salas de aula, nas duas
escolas por um período total de quatro meses. E tivemos como amostra um total de sessenta e
sete alunos e dois professores de filosofia da educação participantes da pesquisa.
Por ter sido realizada duas coletas de dados em períodos e com turmas diferentes,
iremos relatar a analise e discussão dos dados em sub-itens onde procuraremos
primeiramente, caracterizarmos os sujeitos da pesquisa ( alunos e professores ) que compõem
o universo pesquisado. Em seguida discutiremos os resultados obtidos com a analise dos
dados coletados em 2001 para finalmente, relatarmos os dados conseguidos em 2000.
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Essa organização dos dados, voltamos a afirmar, nos possibilitará compreendermos a
aproximação dos alunos com a filosofia da educação num período que equivale a um ano
letivo.
É claro que sabemos que cada turma é única, elas tem suas peculiaridades sendo
portanto, heterogêneas. Mas entendemos que essa “linearidade” na análise e discussão dos
dados seja possível, já que as respostas dadas foram semelhantes e os professores de filosofia
da educação participantes, continuaram, sendo os mesmos no decorrer da pesquisa.
Feitas estas primeiras observações ao leitor, relataremos agora o andamento de nossa
pesquisa “As Contribuições da Filosofia da Educação para o Ensino Médio Profissionalizante
em Magistério” e as primeiras reflexões que realizamos sobre os dados coletados desta
realidade.
CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
Assim para um melhor entendimento, acreditamos ser relevante caracterizarmos os
sujeitos da pesquisa (alunos e professores) pois elas exerceram um certa influência em nossas
análises e reflexões.
Desta forma dos 67 alunos participantes da pesquisa apenas 21% pertenciam ao sexo
masculino e os outros 79% ao feminino, o que demonstra que a profissão de professor
primário ainda é vista pela sociedade como destinada à mulher, que é quem tem o” dom da
maternidade” e logo, quem poderá cuidar melhor da educação das crianças. Discurso este
presente a muito em nossa sociedade e que serviu e ainda serve para desvalorizar essa
profissão.
A idade destes alunos variava da acordo com a tabela abaixo:
TABELA 1: Idade dos alunos das turmas pesquisadas do 3.º ano de magistério das Escolas Estaduais Joaquim Viana e Luís Nunes de Direito
nos anos de 2000 e 2001.
Idade dos alunos
Freqüência Simples (Fi)
18 |- 24
24 |- 30
30 |- 36
36 |- 42
42 |- 48
48 |- 54
54 |- 60
TOTAL
27
20
13
3
1
1
2
67
Freqüência Relativa
Simples (Fri)
40%
30%
19%
4%
2%
2%
3%
100%
FONTE: Dados compilados pela bolsista Aline Brandão de Moraes sob a orientação da professora Maria Neusa Monteiro a partir dos
questionários das turmas das escolas acima citadas.
Como podemos observar 60% dos alunos possuíam idade igual e superior a 24 anos
o que demonstra que as quatro turmas eram formadas, predominantemente, por pessoas
adultas que são quem geralmente procuram o ensino noturno.
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Destes 67 alunos ainda, 55% declararam estarem terminando o ensino médio
modalidade normal sem terem parado durante os seus anos de estudos. Outros 34% afirmaram
terem parado de estudar em um período que variava de 1 a 16 anos e 10% já haviam
terminado o ensino médio ou um curso de ensino profissionalizante e voltaram a estudar para
adquirirem uma nova formação que possibilitasse o emprego no mercado de trabalho.
Quanto a profissão que exerciam 50% afirmaram serem apenas estudantes, outros
46% informaram as suas profissões que eram as mais variadas. Por isso citaremos as maiores
freqüências verificadas que foram as profissões de: professor (8 alunos), vendedor (8 alunos),
doméstica (3 alunos), balconista (2 alunos) entre outras. Apenas 4% dos estudantes não
informaram suas profissões.
Isto nos demonstra que metade do universo pesquisado era constituído de pessoas
que declararam apenas estudar e quase metade era de estudantes. O que nos conduziu a
levantar a hipótese de que entre estes que somente estudavam haviam aqueles que
trabalhavam em casa como donas-de-casa, o que nos conduziria a entender que no universo
pesquisado havia uma porcentagem muito maior de trabalhadores se considerássemos a labuta
do dia-a-dia de uma casa e de filhos, como trabalho.
Esta hipótese foi levantada a partir de dois indicativos, o primeiro seria o de que as
turmas pesquisadas eram formadas em sua maioria, por mulheres onde 60% possuíam idade
superior a 24 anos, que não terminaram seus estudos no tempo mínimo por algum motivo que
as levaram a parar como, por exemplo, uma possível gravidez ou um casamento; o segundo é
o de que o ensino noturno geralmente é procurado por pessoas que pela manhã e pela tarde
teriam o seu tempo preenchido com outras atividades.
No referente aos professores realizamos no período de 2000 à 2001 as entrevistas
com duas cuja formação acadêmica era em Pedagogia, uma pela UFPA e a outra pela antiga
UNESPA (hoje UNAMA), ambas habilitadas em Orientação escolar e especialistas em
educação infantil. Uma delas declarou estar terminando outra especialização em currículo e
avaliação na educação básica.
Todas as duas declararam, ainda, estarem trabalhando pela primeira vez com turmas
de Filosofia da Educação. Já haviam dado aulas de matérias como Didática, Metodologia da
Educação Infantil e Sociologia da educação. Uma delas inclusive, encontra-se este ano
ministrando aulas para algumas turmas de Filosofia da Educação e para outras de Sociologia
da Educação. Em 2001 continuaram com turmas de filosofia da educação.
Assumiram as turmas de Filosofia da Educação porque estas lhes foram propostas
pelas escolas como forma de complementar carga horária e afirmaram que trabalham os
conteúdos com os alunos de acordo com o que haviam aprendido nas disciplinas de Filosofia
que constituíam a grade curricular de seus cursos. No caso da UFPa, a antiga grade curricular
do curso de Pedagogia pela qual uma das professoras se formou era composta por 4
disciplinas filosóficas a saber: Introdução à Filosofia e Filosofia da Educação I, II e III que
eram vistas por semestre. Já na UNESPa a professora nos informou que a Filosofia se dividia
em duas: Filosofia Geral e Filosofia da Educação ministradas, cada uma durante um ano
letivo.
Além destes conhecimentos filosóficos obtidos nos cursos de graduação, haviam tido
contato com a Filosofia em cursos de capacitação que haviam realizado. O que a nosso ver é
muito pouco, pois no decorrer das entrevistas e das observações notamos uma certa falta de
domínio dos conteúdos filosóficos em suas falas. Nenhuma delas soube responder o que para
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elas era a Filosofia e apenas uma disse que poderia se encontrar conceitos dela nos antigos
clássicos.
Não queríamos com este questionamento que nos fosse ofertado um conceito
fechado, acabado e portanto dogmático de Filosofia, mas acreditamos que o professor deva ao
menos saber o que é Filosofia? Que Filosofia? Para que Filosofia? Pois percebemos também,
que muitas das perguntas dos alunos deixaram de ser respondidas, ou o foram de forma
superficial, pelo fato das professoras apresentarem um domínio parcial do que estavam
debatendo.
Em seus relatos as professoras enfatizaram bastante as dificuldades que enfrentam
em sala de aula e que são reflexos de uma política educacional maior que a cada dia se
apodera do nosso sistema educacional tornando-o deficitário.
Dentre estas dificuldades podemos citar a falta de recursos dentro da escola como
sala de vídeo e biblioteca equipada com livros atualizados. Há também, segundo elas, a
necessidade de maior literatura filosófica voltada para o ensino médio e para o
profissionalizante em magistério pois, muitas vezes, os professores querem utilizar a pesquisa
como uma forma de enriquecer a aprendizagem mais acabam se deparando com estes
obstáculos já que os alunos terminam por pesquisar em livros técnicos dentro da universidade
e que possuem uma linguagem bastante rebuscada.
Além destas enfrentam ainda, as dificuldades econômicas dos alunos que os
impedem de comprar livros e textos reproduzidos. Privando-os, muitas vezes, até mesmo de
fazer um trabalho de pesquisa ou em grupo se, para tanto, necessitarem se locomover para
longe.
Muitos destes alunos, como vimos, trabalham e acabam se atrasando para chegar a
escola perdendo toda a explicação do primeiro horário o que leva os professores a
retomarem, em outra oportunidade, o que já haviam trabalhado e isto, retarda o conteúdo
programático e atrasa os alunos que freqüentemente vêm acompanhando as discussões.
Grande parte dos alunos tem, ainda, dificuldades na leitura, na escrita e na oratória se
recusando, muitas vezes, a manifestar oralmente suas idéias.
Todos esses obstáculos são enfrentados diariamente pelos professoras que ao
planejarem suas aulas já procuram considerar todos estes problemas mas que segundo elas,
acaba desmotivando-os. Sobre estas dificuldades um professora fez a seguinte declaração:
sua prática em sala de aula mas, dentro dela, a sua atuação
acaba ficando restrita ao quadro e giz já que várias são as
dificuldades que você enfrenta “Muitas vezes na sua cabeça
você tem uma idéia de como gostaria que fosse a para tentar
ter uma prática diferente. Lembro que tentei realizar um
debate em sala de aula e os alunos pediram que eu enchesse
o quadro e passasse um exercício.” ( Fala da professora )
Contudo acreditamos que é diante de todos esses problemas enfrentados por
professores e alunos que podemos perceber a importância que a Filosofia apresenta para a
educação pois ela nos permitirá refletir criticamente sobre os mesmos, buscando suas raízes e
os impactos que eles causam nas nossas vidas. Assim, de posse dessa reflexão os sujeitos da
educação – alunos e professores – podem direcionar suas ações para poderem lutar de forma
efetiva por uma educação pública e de qualidade.
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Mas devemos perceber também, que todos os problemas apontados pelos professores
trazem influências para as suas práticas prejudicando, muitas vezes, a dinâmica ensinoaprendizagem. O que nos leva a entender que os professores não são os únicos culpados pela
precariedade de nossa educação, e nem os únicos que poderão salvá-la desta situação.
Eles podem ajudar a torná-la melhor na sua prática cotidiana, enfrentando e
superando alguns obstáculos. Mas a luta por uma boa educação é de todos nós – cidadãos
brasileiros – interessados em que nossos filhos e netos tenham direito a uma educação de
qualidade e sem que tenhamos que pagar, além do que já pagamos com impostos, para obtêla.
O PRIMEIRO OLHAR DOS ALUNOS SOBRE A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: O
INICIAR DO ANO LETIVO
Realizamos a aplicação do questionário a 35 alunos que estavam pela primeira vez,
tendo acesso a aulas de Filosofia já que o ano de 2001 era o primeiro ano em que tinham
contato com esta matéria. Iniciamos perguntando o que seria a Filosofia para eles. Essa
questão tornou-se fundamental pois nos daria a dimensão de como eles estavam percebendo a
Filosofia já que este questionamento também foi feito a alunos no final do ano letivo e que
portanto estavam terminando o curso de filosofia.
Assim obtivemos, a partir das semelhanças encontradas 10 eixos a saber:
• Reflexão crítica – 22,9%
• Repensar sobre o homem – 17,1%
• Busca de conhecimento – 11,4%
• Filosofia de vida – 5,7%
• Estudo sobre assuntos referentes ao passado – 11,4%
• Filosofia relacionada à educação – 5,7%
• Filosofia ensina direitos e deveres – 2,9%
• Filosofia ensina temas religiosos – 2,9%
• Atitude de questionamento – 11,4%
• Não soube responder – 8,6%
Nas respostas obtidas podemos notar que os alunos ainda estão se aproximando da
filosofia. Sendo assim, eles ainda não possuem uma resposta mais elaborada para esta questão
e começam a esboçar o entendimento deles acerca desta disciplina.
Assim, uma grande parte afirmou que a Filosofia se apresenta como uma reflexão e
crítica sobre assuntos da realidade. Nestas respostas alguns alunos falaram desta matéria ora
como reflexão, ora como crítica e muitos utilizaram o termo reflexão crítica o que demonstra
o começo de um caminhar filosófico já que é o primeiro ano que eles tem contato com a
disciplina em questão. Assim um aluno nos diz que a Filosofia “...é uma forma que temos
para podermos nos aprofundarmos mais na nossa reflexão” (Fala do aluno). Mas é importante
percebermos que a Filosofia não é apenas uma reflexão pois refletir todos nós refletimos.
Portanto,
“...ninguém precisa de Filosofia para refletir sobre o que
quer que seja: acredita-se dar muito à filosofia fazendo dela
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a arte da reflexão, mas retira-se tudo dela, pois os
matemáticos como tais não esperam jamais os filósofos para
refletir sobre a matemática, nem os artistas sobre a pintura
ou a música.” (DELEUZE & GUATTARI, 1992)[4].
E nem tão somente uma crítica. Se pensarmos na Filosofia devemos entendê-la como
uma reflexão crítica que visa uma ação consciente e coerentes sobre problemas encontrados
na realidade.
Outros alunos disseram que a filosofia era um repensar sobre o homem e em suas
respostas enfocaram dimensões sociais como as relações que os homens tecem dentro da
sociedade e aspectos psicológicos como o comportamento. Acreditamos que ela se preocupe
com o homem afinal, muitos estudiosos se dedicam ao estudo da antropologia filosófica. Mas
ela se preocupa também, e principalmente, com a prática social dos homens e com os
problemas que ele enfrenta dentro da sua existência. Segundo Silveira,
“... o ponto de partida da reflexão filosófica é a prática
concreta dos homens, da qual emergem os problemas que
dão origem ao processo de reflexão, cujo objetivo é,
justamente, buscar respostas que permitam reorientar essa
prática com vistas à superação desses problemas.”
(SILVEIRA, 2000)[5].
Assim, entendemos que estes alunos começam a formar um entendimento sobre a
Filosofia o que permitirá que futuramente eles possam perceber que a preocupação da
Filosofia está nos problemas que os homens enfrentam onde a reflexão sobre eles pode
direcionar ações com vistas a superá-los. Afinal, “... a reflexão filosófica não é meramente
teórica porque, nela, reflexão e prática determinam-se reciprocamente, dialeticamente. Numa
palavra, a reflexão filosófica constitui uma prática.” (SILVEIRA, 2000)[5].
Outros alunos afirmaram que ela é uma busca pelo conhecimento. A filosofia pode
ser uma busca pelo conhecimento mas é principalmente uma procura por respostas que não
são absolutas e nem dogmáticas mas sim, provisórias, já que, são respostas para questões
referentes a uma realidade histórica.
Alguns discentes afirmaram que ela estudava a Filosofia de vida das pessoas
concepção essa, muito presente no senso comum. Outros ligaram-na ao estudo do passado
confundido filosofia e história talvez porque o filosofar implique em estudar o que permanece
de novo no pensamento de Filósofos antigos.
Houve alunos que a relacionaram à educação e isso pode ser atribuído ao fato deles
estarem, no momento da pesquisa, obtendo conhecimentos referentes a Filosofia da Educação
como podemos observar na resposta de um aluno, “Para mim a filosofia é o estudo das
tendências pedagógicas do meio de ensino.” (Fala do aluno). Tendências pedagógicas era o
assunto que estava sendo trabalhado em sala neste período o que demonstra uma falta de
entendimento sobre o que é a Filosofia, a Filosofia da educação, a Educação e seus
respectivos objetos de estudo.
Alguns alunos ligaram a filosofia aos direitos e deveres e ao ensino de temas
religiosos o que não necessariamente seja a sua preocupação apesar de podermos filosofar
sobre estes temas.
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11
Uma freqüência relativamente grande de respostas se referiram ao fato da filosofia
ser uma atitude de questionamento o que acrescentaríamos, diante dos problemas da
sociedade procurando respostas para estes problemas.
E finalmente, encontramos respostas vagas e imprecisas, referentes a esta questão,
como alunos que afirmaram ser ela uma disciplina e outros que deixaram a questão em branco
o que demonstra que não sabiam responder a mesma.
Quanto as metodologias mais utilizadas pelos professores podemos observar que:
TABELA 2: Metodologias mais utilizadas pelos professores de Filosofia da Educação das Escolas Estaduais Joaquim Viana e Luís Nunes de
Direito segundo os alunos do 3º ano do ensino médio modalidade normal no ano de 2001.
Metodologias
Pesquisa
Debate
Aula expositiva
Seminário
Outros
TOTAL
Freqüência Simples (Fi)
28
27
20
10
1
86
Freqüência Relativa
Simples (Fri)
32,6%
31,4%
23,2%
11,6%
1,2%
100%
FONTE: Dados compilados pela bolsista Aline Brandão de Moraes sob a orientação da professora Maria Neusa Monteiro a partir do
questionário dos alunos das turmas pesquisadas.
A maior freqüência registrada pelos alunos se encontra na pesquisa, seguido de
debate e aula expositiva. Nesta questão eles podiam escolher mais de uma alternativa.
Perguntamos ainda se eles acreditavam que estas metodologias utilizadas facilitavam
suas aprendizagens e cerca de 90% dos alunos afirmaram que sim, que estas metodologias
ajudavam na aprendizagem.
Contudo, no relato dos professores uma de suas maiores preocupações se encontra no
fato dos alunos não quererem participar da aula, apesar dos alunos terem apontado o debate
como metodologia mais utilizada e desta metodologia facilitar a aprendizagem. Então, a
hipótese que levantamos é a de que os alunos reconhecem o esforço dos professores em fazer
das aulas um locus de debate e portanto, de troca de conhecimento apesar de muitos deles não
participarem.
Essa preocupação com a falta de participação dos alunos se manifestou na questão
em que pedíamos que eles dessem sugestões para a melhoria das aulas de Filosofia da
Educação. Conseguimos agrupar estas sugestões em 8 eixos citados a seguir:
• Necessidade de novas metodologias – 34,2%
• Mais aulas de Filosofia – 11,4%
• Trabalhar a participação/dedicação dos alunos – 20,0%
• Que o professor mudasse o seu comportamento – 2,9%
• Mais materiais didáticos para a escola – 2,9%
• Que o professor estabelecesse uma relação entre o assunto trabalhado e a
realidade – 2,9%
• Melhor explicação da matéria – 5,7%
• Não tem sugestões/em branco – 20,0%
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Notamos com as respostas acima que em média 34% dos alunos gostariam que novas
metodologias fossem utilizadas para melhorar a aula de Filosofia. Contudo, estas novas
metodologias que muitos citaram referiam-se, em sua maioria, a utilização do debate em sala,
além de outros recursos como aulas com vídeo, pesquisa e trabalhos em grupo menos citados.
“Seria interessante a utilização de debates com termos que envolvesse a realidade
brasileira.” (Fala do aluno). Esta foi uma das sugestões dadas por um dos alunos onde
percebemos duas preocupações em sua fala: a primeira referente a troca de informações entre
os sujeitos da aprendizagem – alunos e professores – e a segunda referente a necessidade de
se estabelecer relação entre o assunto trabalhado e a realidade dos alunos.
Estas duas preocupações são compartilhadas por outros alunos como podemos
observar em dois eixos acima citados: trabalhar a participação/dedicação dos alunos com
20,0% e que o professor estabelecesse uma relação entre o assunto trabalhado e a realidade
2,9% .
O que demonstra que a participação é um problema que vem sendo sentido pelos
alunos e pelos professores e que pode estar sendo ocasionado por vários fatores dentre os
quais, podemos destacar, a dificuldade de se expressar em público, o não entendimento dos
assuntos que estão sendo debatidos e a necessidade do professor tornar suas explicações mais
acessíveis, procurando articular mais o assunto com a realidade dos alunos pois, acreditamos
que as aulas só começarão a ter uma participação mais efetiva dos mesmos, quando eles se
sentirem convidados a participar, o que necessariamente requer que o que está sendo
trabalhado em sala tenha alguma significação para eles.
Essa necessidade de uma melhor explicação aparece em outro eixo com 5,7% dos
alunos que talvez estejam tendo dificuldade de se expressar por não estarem entendendo o que
o professor busca explicar.
O que demonstra que o professor deve procurar pensar no seu ato educativo para
compreender o que leva os alunos a não participarem das aulas e que novas metodologias
podem ser utilizadas com vistas a superação destes problemas. Afinal, “Se cabe ao professor
de filosofia fazer com que os estudantes tenham condições de pensar por si próprios também
cabe ao professor de filosofia pensar as condições que possibilitam o filosofar.”(Gallina,
2000)[5].
Mais aulas de filosofia surgiu com 11,4% , sugestão esta que poderia ajudar os
professores a debaterem mais determinados assuntos com os alunos. Além destes tivemos
alunos que pediram mudança de comportamento do professor e outros que gostariam que
houvesse mais materiais didáticos na escola. E finalmente alunos que disseram que não
tinham sugestões a dar ou que deixaram a questão em branco.
Percebemos que as sugestões destes alunos trazem no seu bojo um ponto
fundamental que é a necessidade da filosofia estar presente como disciplina durante mais anos
de nossa vida escolar. Entendemos assim, que não há como em um único ano trabalhar de
forma profícua com estes alunos. O saber que eles obtém neste único ano, com uma carga
horária tão pequena e com problemas tão presentes na realidade educacional como greves e a
própria precariedade do ensino público, acaba fazendo com que esse saber não adquira uma
significação real para eles, acaba portanto, se perdendo com o tempo.
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AS CONTRIBUÍÇÕES DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO AO FINAL DE MAIS UM
PERÍODO LETIVO
Realizamos a aplicação de um outro questionário para alunos que estavam
terminando o ensino médio no ano de 2000. Este questionário não se diferenciava muito do
utilizado em 2001 já que continha questões iguais ao aplicado aos alunos que estavam
iniciando o ano letivo mas também havia nele questões diferentes.
Com as questões formuladas visávamos entender como ocorreu a relação entre os
alunos e a filosofia já que estes estavam terminando o estudo desta disciplina.
Assim perguntamos no questionário destinado aos alunos, o que seria a Filosofia para
eles que estavam terminando o curso e a partir das semelhanças encontradas nas respostas
conseguimos agrupá-las em 9 eixos que demonstram as várias concepções que eles formaram
sobre a Filosofia.
• Reflexão que conduz à compreensão da realidade – 40,4%
• Atitude crítica – 9,4%
• Construção do conhecimento – 6,2%
• Definição de Filosofia – 6,2%
• Dimensão ética – 12,7%
• Filosofia ligada à História – 6,2%
• Estudar a Filosofia de vida – 3,1%
• Filosofia ligada ao ensino – 3,1%
• Não souberam responder – 12,7%
A partir dos dados acima percebemos que alguns eixos que foram formados por
alunos que estavam iniciando os estudos filosóficos também se fizeram presentes nas
respostas dos que terminavam o curso de filosofia com os que dizem que ela é uma reflexão e
os que a ligam a história, ao ensino e a filosofia de vida.
Notamos com os eixos acima que a maioria dos alunos entendem que a Filosofia
seja uma possibilidade de reflexão sobre a realidade que permita conhecê-la melhor. O que
demonstra uma primeira aproximação deles sobre um dos sentidos que teria a Filosofia.
Assim nos diz a fala de uma aluna: “A Filosofia é o momento de ver e refletir. Aprendi muito
com essa disciplina que me levou a várias reflexões sobretudo o que acontece ao meu redor”.
(Fala do aluno)
Entendemos que ela possibilita uma reflexão sobre a realidade mas de forma
sistemática, crítica e profunda. E nesse sentido extrapola a reflexão pois seu pensamento se dá
sobre uma realidade concreta visando a elaboração consciente de ações efetivas dentro desta
realidade. Portanto “....a tarefa da Filosofia é ser reflexão da prática; é orientar, organizar e
fundamentar a atividade prática do homem, com vistas à transformação efetiva da
realidade”. (CARTOLANO, 1985)[3].
Houve alunos que em suas respostas se aproximaram da identificação da Filosofia
como atitude crítica diante dos fatos, onde o homem não aceita a realidade como pronta e
acabada, buscando respostas para as suas inquietudes não se contentando, portanto, facilmente
com o que lhe é dito sem antes pensar criticamente à respeito disso. Neste sentido, uma aluna
nos diz que a Filosofia “É a ciência da reflexão, na qual o homem busca respostas para os
seus questionamentos, sempre buscando a verdade e o porquê das coisas”. (Fala da aluna).
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Assim a definição de Filosofia nesta resposta aparece um pouco mais ampla,
incorporando outros aspectos como questionamento e busca da verdade, que irão
complementar a reflexão sobre a realidade para a formação de uma definição mais abrangente
do que seria a Filosofia.
Outros afirmaram ainda que a Filosofia possibilita a construção de conhecimento, o
que para nós se efetiva realmente. Afinal, ao refletir filosoficamente acerca da realidade nós
começamos a entendê-la de uma outra forma, construindo então um novo conhecimento.
Houve alunos que procuraram definir a filosofia através de sua etimologia ou
afirmaram que ela não tinha objeto de estudo, o que não é verdade pois, segundo Cartolano
(1985)[3] a Filosofia tem como objeto de estudo os problemas que se manifestam nas relações
que o homem estabelece com outros homens e com a natureza.
Outros alunos tinham uma definição de Filosofia voltada mais para uma dimensão
ética, no sentido de uma reflexão sobre as ações dos homens, pois afirmavam que a Filosofia
busca um sentido para a existência humana, questiona as ações dos homens e os conduz a
relativizar seus conceitos para que consigam dialogar com seus semelhantes.
Alguns alunos ligaram a Filosofia à História e demonstraram uma certa confusão
entre o que seria a Filosofia, a História e a História da Filosofia. Outros afirmaram que a
Filosofia estuda a Filosofia de vida, mas na verdade, no nosso entendimento, aquela parte
desta, desse conjunto de idéias e opiniões espontâneas que constitui o senso comum refletindo
criticamente acerca das mesmas e construindo um conhecimento novo e crítico.
Houve ainda alunos que conceituaram a Filosofia como uma forma de pensamento
sobre assuntos ligados à educação sem nos dizer entretanto, como ocorreria tal ligação, nos
demonstrando com isso que não entenderam o sentido mais amplo que a Filosofia possui,
ligando-a apenas a educação como se aquela fosse um utensílio para esta.
E finalmente, alunos que chegaram ao final do curso sem entender o que seria a
filosofia já que não souberam responder a questão distorcendo o sentido da Filosofia ou
afirmando somente, que ela era importante para eles.
Com isso percebemos que o significado da Filosofia não foi apreendido em toda a
sua amplitude por estes alunos. Eles compreenderam fragmentadamente o que seria a
Filosofia e isto, pode ser atribuído ao fato de que nem mesmo os professores conseguiram nos
relatar o que seria a Filosofia para eles, demonstrando a falta de domínio sobre a matéria que
lecionavam. Assim “...para que o acesso dos jovens à aventura do pensamento filosófico seja
possível é necessário que tenhamos bons professoras de Filosofia”. (GALLO & KOHAN,
2000)[5].
Perguntamos ainda, aos alunos se eles acreditavam que a Filosofia da Educação
poderia contribuir para as suas práticas educativas e todos afirmaram que sim. Mas ao serem
questionados de que maneira ela poderia contribuir a maioria continuou sem saber responder.
Conseguimos agrupar em 6 eixos as respostas dos poucos alunos que perceberam as
contribuições da Filosofia da Educação para as suas práticas docentes e pela maioria não ter
conseguido dar uma resposta significativa a questão, não trabalharemos com porcentagem.
Assim, segundo eles, a Filosofia da Educação contribui:
•
•
•
•
Para que o professor ajude na construção da atitude crítica no aluno.
Para que o professor tenha uma práxis (reflexão-ação) educativa.
Para o melhoramento da relação professor x aluno.
Para o aprimoramento da prática docente.
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• Para uma melhor compreensão do homem.
• Para o exercício da reflexão.
Os alunos do magistério (professores em potencial) que responderam que a Filosofia
da Educação contribui para a construção da atitude crítica em seus alunos, afirmaram que
gostariam de formar indivíduos mais questionadores e que não se conformassem com o que
lhes é dito sem antes refletirem criticamente à respeito disso. Como nos diz uma aluna: “...
poderemos ajudar nossos alunos a serem indagadores e sempre questionar e não
simplesmente aceitarem algo como pronto e acabado”. (Fala da aluna).
O que para nós só pode se efetivar concretamente, se esse professor estiver
constantemente refletindo criticamente sobre os problemas educacionais e as dificuldades que
enfrenta em sala de aula para que consiga direcionar sua prática docente da melhor forma.
E essa reflexão e ação do professor estiveram presentes no segundo eixo de
respostas. Contudo se restringiram somente aos problemas de sala de aula ,não fazendo
referência aos problemas educacionais como um todo e nem aos da própria sociedade já que
entendemos que um está ligado ao outro. Assim, não dá para pensarmos separadamente as
dificuldades enfrentadas em sala de aula das outras da sociedade já que todos esses problemas
estão interligados, sendo assim, um exerce influência sobre o outro.
As outras respostas dos alunos foram muito vagas mas conseguimos extrair a
essência delas e estas se referiam aos 4 eixos identificados acima.
Neles os alunos restringiam a Filosofia da Educação a uma técnica que possibilitaria
um melhor diálogo entre professores e alunos, afirmando que ela contribui “...de maneira que
venha me trazer mais entendimento com meus alunos” (fala do aluno). Ou ligaram a Filosofia
a possibilidade dela ofertar uma melhoria e/ou aumento da prática sem contudo, dizer como
ou de que forma ela poderia contribuir neste sentido.
Os outros dois eixos de respostas se referiram a possibilidade da Filosofia contribuir
para o professor obter uma melhor compreensão do homem e isso, ajudá-los em suas práticas
educativas. E finalmente, houve referências a necessidade de um constante exercício de
reflexão que, como já dissemos, em nosso entender, deve ser uma reflexão voltada para uma
ação transformadora.
Mais da metade dos alunos não souberam responder a esta questão, o que para nós é
uma demonstração de que eles não conseguiram vincular os problemas filosóficos com os
problemas vivenciais. Sendo assim, não conseguiram identificar durante o período em que
cursaram a disciplina, as possíveis contribuições que a Filosofia da Educação poderia trazer
para as suas práticas educativas bem como, para as suas vidas de uma forma mais abrangente.
Com relação à prática educativa dos professores de Filosofia da Educação os alunos
afirmaram que a metodologia mais utilizada por elas eram:
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TABELA 3: Metodologias utilizadas pelos professores de Filosofia da Educação, das escola Joaquim Viana e Luís Nunes de Direito segundo
os alunos do 3.º ano do ensino médio modalidade normal no ano de 2000.
Metodologia
Trabalho em grupo
Pesquisa
Debates
Aula expositiva
Seminário
Σ
Freqüência Simples (Fi)
31
25
22
16
13
107
Freqüência Relativa
Simples (Fri)
29%
23%
21%
15%
12%
100%
FONTE: Dados compilados pela bolsista Aline Brandão de Moraes sob a orientação da professora Maria Neusa Monteiro, a partir do
questionário dos alunos das turmas pesquisadas.
Nesta questão os alunos poderiam marcar mais de uma alternativa. Notamos que em
relação aos alunos de 2001 houve uma mudança nas metodologias utilizadas pois a maior
freqüência verificada foi nas pesquisas e debates e aqui, com os alunos de 2000, percebemos
uma maior incidência nos trabalhos em grupos metodologia esta, que nem apareceu nas
respostas daqueles alunos seguida então, de pesquisas e debates que são metodologias que
permitem trocas de idéias e de conhecimento e a construção de novos saberes ou seja, de um
saber no interior de um não-saber.
Estas respostas estão em consonância com o que coletamos nas entrevistas com as
professoras, que afirmaram que procuravam utilizar variadas metodologias para que a aula
não fosse monótona. Contudo, as dificuldades enfrentadas por elas também permearam suas
falas neste período.
Uma das professoras nos disse que a aula expositiva era muito difícil de ser
ministrada com uma das turmas pois, os alunos não conseguiam acompanhar o seu
raciocínio. E como podemos notar na tabela, a aula expositiva aparece com uma freqüência
relativamente baixa, o que demonstra que realmente este era um recurso pouco utilizado em
sala, talvez porque os professores não soubessem introduzir os alunos em suas discussões.
Uma dificuldade encontrada na fala das duas professoras foi em relação à leitura dos
textos filosóficos e sua compreensão por parte dos educandos. Segundo elas, isso gerava a
necessidade delas procurarem textos em periódicos, revistas, semanários que trouxessem o
debate dos conteúdos, em uma linguagem mais simples que permitisse o entendimento dos
alunos.
As condições financeiras dos alunos é uma das dificuldades citadas pelas duas
professoras e isso, impede-os de tirar cópias dos textos. Na tentativa de superar esse obstáculo
as professoras dividem as turmas em grupos para a leitura desses textos.
Dividir a turma em grupos para a realização de leituras ou trabalhos se tornava mais
interessante pois, segundo elas, possibilitava a participação de todos os alunos na atividade, já
que mesmo os que não tinham o texto liam com os que o possuía, possibilitando ainda a troca
de idéias dentro do grupo e uma maior manifestação dos alunos dentro de sala de aula.
Os alunos também gostavam desta metodologia pois afirmavam em suas respostas
que o trabalho em grupo facilitava a aprendizagem porque ocorria a socialização de idéias,
onde um aluno procurava ajudar o outro, o que para eles contribuía no aprimoramento de seus
conhecimentos, apesar de haver um certo desinteresse por parte de alguns colegas.
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Contudo, nossas observações mostraram que o trabalho em grupo não se efetivava
no mesmo dia e consumia muitas aulas em torno de um mesmo assunto onde, nem sempre, os
questionamentos dos alunos eram respondidos pelos professores.
Em uma das turmas pesquisadas, a professora tentava introduzir seus alunos nas
temáticas em estudo, através de questionamentos vinculados a escola ou a vivência prática
deles mas a maior parte não participava, o que apareceu inclusive, na auto-avaliação que eles
fizeram, como um dos fatores principais que poderiam prejudicar suas notas.
A participação esteve bastante presente nas falas dos professores e alunos do ano de
2001 o que nos conduziu a conjecturar que este é um problema que pode estar na prática
destes professores e no próprio sistema escolar que ainda hoje não trabalha, muitas vezes, a
participação dos alunos nas aulas, não levando em consideração a subjetividade dos mesmos e
as suas opiniões. E quando eles são convidados a participarem não se sentem “a vontade”
para fazer isso, necessitando portanto, de um trabalho do professor que ajude-o a superar esta
dificuldade.
É importante notarmos que estes alunos poderiam participar da aula e trazer muitas
contribuições já que são pessoas adultas que no decorrer de suas vidas acumularam uma gama
de experiências, que poderiam estar vinculando-as aos conteúdos filosóficos e socializando
com a turma.
Outra a hipótese que levantamos , é a de que esses alunos por terem dificuldade na
escrita e na compreensão dos textos, ficavam receosos de se manifestar em sala por temerem
estarem errados em seus discursos já que, não conseguiram entender muito bem o que
estavam estudando.
Nas nossas observações percebemos que esta dificuldade de compreensão do texto e
do significado de palavras bem corriqueiras, se fazia muito presente dentro de sala. Esta fato
pode ser atribuído ao gradual sucateamento que a escola pública vem sofrendo, o que gera um
ensino de péssima qualidade para os estudantes que a ele tem acesso.
Quanto a representação que estes estudantes possuíam da Filosofia e do seu ensino
no início da disciplina a maioria declarou que não tinha um conhecimento prévio sobre a
Filosofia pois como podemos observar nos 12 eixos que conseguimos formar a partir de suas
respostas, muitos colocaram como resposta que não esperavam nada, que fosse como é, que
fosse parecida com Português.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Esperava que fosse difícil de entender – 18,8%
Não esperava nada – 12,7%
Que só falasse de Filósofos – 9,4%
Como é – 6,2%
Disciplina que conduzisse à reflexão – 3,1%
Disciplina que envolvesse debate em sala – 3,1%
Que fosse uma disciplina limitada – 3,1%
Já conhecia – 3,1%
Esperava algo diferente – 3,1%
Que fosse super-interessante – 3,1%
Que fosse parecida com Português – 3,1%
Não colocou – 31,2%
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É importante lembramos que era o primeiro ano que eles tinham contato com uma
matéria filosófica que era a Filosofia da Educação.
Observa-se ainda nos eixos que alguns alunos já demonstravam terem um certo
conhecimento sobre o que seria a Filosofia ou o que iriam estudar nesta disciplina onde
obtivemos respostas do tipo: eu já conhecia, seria uma disciplina que conduzia a reflexão ou
disciplina que envolvia debate.
É importante frisarmos que nas duas turmas pesquisadas haviam alunos que já
tinham terminado o ensino médio e retornaram à escola para fazer um curso profissionalizante
então, levantamos a hipótese de que provavelmente eles já tivessem tido um contato com a
Filosofia nas outras escolas em que estudaram.
CONCLUSÃO
O estudo que realizamos nos permitiu conhecermos melhor a realidade da
filosofia no ensino médio – modalidade normal – em Belém. Com ele tivemos a possibilidade
de tecermos reflexões que nos conduziram a entendermos o quanto ainda temos que caminhar
para que a filosofia consiga trazer contribuições efetivas para os jovens e adultos do ensino
médio.
Nele pudemos verificar que a maioria dos alunos, participantes da pesquisa, chegam
a disciplina despojados de qualquer representação, a priori, da mesma e nenhum
conhecimento prévio dela. Não apresentando, portanto, barreiras em relação a esse novo
conhecimento apesar de no relato das professoras as mesmas terem afirmado que no início da
disciplina alguns alunos apresentam atitudes de aversão em relação a mesma.
Entretanto estas atitudes não prejudicam o processo de ensino-aprendizagem pois
todos os alunos declararam que a filosofia contribui nas suas vidas e profissões sendo
portanto, uma disciplina importante para eles, o que demonstra o quanto foi e vem sendo
profícuo para estes jovens o estudo da mesma.
Contudo, muitos deles não conseguiram dizer como ou quais seriam as contribuições
da filosofia para eles o que para nós, demonstra a necessidade desta disciplina se fazer
presente em mais anos da vida escolar dos educandos já que eles se interessam pela matéria,
mais com uma carga horário pequena, o rendimento escolar não chega a ser tão proveitoso.
Os professores, por sua vez, vem procurando na medida do possível, introduzir seus
alunos no ato de filosofar utilizando para tanto, procedimentos que possibilitam o exercício
filosófico como debates, pesquisas e trabalhos em grupos que ajudam a desenvolver o
encadeamento lógico das idéias, a oralidade e a troca de conhecimentos, metodologias estas
que segundo os alunos, ajudam na concretização da aprendizagem.
Contudo, muitas são as dificuldades enfrentadas pelos professores e alunos na busca
pela construção do conhecimento filosófico, que impede-os de, muitas vezes, de realizarem
um aprofundamento no estudo da disciplina.
Dentre estas dificuldades podemos citar a falta de participação dos alunos nas aulas,
que podem estar sendo ocasionadas pelos problemas que os mesmos enfrentam de leitura,
interpretação de texto e escrita. Outra dificuldade, é a falta de biblioteca equipada com livros
atualizados dentro da escola, o que possibilitaria que os alunos tivessem acesso a leituras que
complementassem as discussões de sala e que tornaria possível, também, que os professores
utilizassem mais a pesquisa como forma de estimular a leitura, a escrita e as reflexões dos
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alunos. E a própria condição material de existência dos alunos que não permite, a muitos
deles, comprarem livros, textos reproduzidos e até priva-os, muitas vezes, de vir a escola.
Todas essas dificuldades prejudicam o ensino de filosofia, e não somente ele, pois
para que a aprendizagem se efetive realmente é necessário que haja o mínimo de condições
indispensáveis para o processo educativo. Porém, a maioria das escolas públicas hoje,
principalmente as que se encontram em bairros pobres, não oferecem tais condições de ensino
o que leva, muitos professores a tentar vencer de todas as formas estes obstáculos mas que,
segundo eles, aos poucos vai desmotivando-os.
Assim, no nosso entendimento todos estes problemas que vem ocorrendo com a
educação são decorrentes das políticas impostas pelo neoliberalismo, que visam a privatização
das escolas públicas. O que nos conduz a concordarmos com Gentili quando afirma que o
neoliberalismo pretende“...transferir a educação da esfera política para a esfera do mercado,
negando sua condição de direito social e transformando-a em uma possibilidade de consumo
individual”. (GENTILI, 1987)[6].
Mas é importante lembrarmos que, algumas vezes, nós educadores passamos um
grande tempo pensando em grandes soluções para os problemas que enfrentamos em sala.
Porém, estas soluções podem vir de pequenas ações bastando para isso, criatividade. Assim,
por exemplo, um professor pode iniciar as aulas, de vez em quando, com dinâmica de grupo
que é uma forma de disinibir os alunos, integra-los e motiva-los ajudando a amenizar o
problema da falta de participação dos alunos. Pois muitas vezes, estes alunos não se sentem
convidados e motivados a participarem da aula e sabemos que: “Essa motivação é
importante e, na medida do possível, deve ser buscada, pois, afinal, se a filosofia é trabalho
árduo de reflexão, é também amor, desejo (philo) pelo saber.” (SILVEIRA, 2000)[5].
Além disso é a partir de todos esses obstáculos, de todas essas dificuldades presentes
na área educacional que o ensino de filosofia poderá mostrar as contribuições que ele pode
oferecer pois os debates, as discussões podem estar partindo de todos estes problemas que o
ensino público vem passando afinal,
“... é na prática cotidiana da sala de aula, é na concretude
do processo pedagógico – repleto de contradições,
dificuldades, esperanças e no interior do qual professores e
alunos se encontram como sujeitos de seu fazer educativo,
embora limitados pelas condições objetivas em que atuam que o ensino de filosofia pode revelar toda a sua riqueza e
fecundidade.” (SILVEIRA, 2000)[5].
Porém entendemos que não há como construir uma consciência crítica, em apenas
um ano, com professores e alunos enfrentando tantas dificuldades. Assim, o ideal seria que a
Filosofia fosse trabalhada desde a mais tenra infância pois fica até difícil dizemos que
contribuições ela pode vir a trazer, em um único ano, para os educandos já que, é uma matéria
que nos conduz a pensar de forma mais sistemática, profunda e global e a nossa educação,
muitas vezes, não nos conduz a isso, não nos faz pensar criticamente.
Desta forma, acreditamos que a maior contribuição que a Filosofia da Educação
ofereceu para esses alunos em um ano foi conduzi-los a uma atitude muito inaugural, e aí é
necessário frisarmos que este muito significa bem inicial, de estranhamento da realidade, que
talvez tenha conduzido alguns deles, a algumas reflexões críticas a cerca da realidade
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circundante. Mas que, com certeza não é o suficiente se nossa pretensão é, realmente, a
formação de indivíduos críticos e autônomos intelectualmente.
PALAVRAS CHAVES
Filosofia, Educação, Magistério, Alunos E Professores
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus por vir iluminando meus caminhos. À professora
Neusa , educadora que tanto tem contribuído para minha formação profissional e pessoal. À
minha família, principalmente à minha mãe. Ao PIBIC/CNPQ pelo financiamento concedido
a esta pesquisa e à todos os que contribuíram para a concretização deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SP: EDUC, 1995. ( Série Eventos).
[ 2 ] BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( LDB ). Lei 9394 de
1996.
[ 3 ] CARTOLANO, M. T. Penteado. Filosofia no Ensino de 2º Grau. SP: Cortez:
Autores Associados, 1995.
[ 4 ] DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Assim pois a questão...
IN:___________________. - O que é a Filosofia? RJ: edição 34, 1992.
[ 5 ] GALLO, Silvio & KOHAN, Walter Omar (orgs.). Filosofia no ensino médio.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
[ 6 ] GENTILI, Pablo. O consenso de woshington e a crise da educação na América
Latina. Petrópolis, RJ:Vozes,1998.
[ 7 ] GRAMSCI, Antônio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. 9º ed. RJ:
Civilização Brasileira, 1995.
[ 8 ] LUCKESI, Carlos Cipriano. Filosofia, Exercício do Filosofar e Prática
Educativa. Pontos de Vista: Em Aberto, Brasília, ano 9, nº. 45, jan / mar, 1990.
[ 9 ] MAIA, Nayala. Papel da Filosofia no Mundo Contemporâneo: Filosofia x
Tecnologia. Symposium de Filosofia. Pernambuco, vol. I, nº.1, jan / dez, 1998.
[ 10 ] MENDONÇA, Eduardo Prado de. O Mundo Precisa de Filosofia. 2º ed. RJ:
Agir,1970.
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as contribuições da filosofia da educação para o ensino médio