NORDESTE EMPREENDEDOR Por Ribamar Mesquita Banco do Nordeste ALGODÃO Produtividade na Bahia s Os produtores de algodão das áreas de cerrado do Piauí e da Bahia deverão obter os maiores incrementos na produção, garantindo também os melhores níveis de produtividade na safra 2011/12, acima da média nacional e do Centro-Oeste. No caso do oeste da Bahia, o rendimento obtido é recorde mundial para algodão em sequeiro. D e acordo com o penúltimo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deverá colher cerca de 5,2 milhões de toneladas de algodão em caroço na safra 2011/2012, com pequeno decréscimo de 1,7% sobre a anterior. No Nordeste, a expectativa segue o panorama nacional, com incremento de 3,3% na área cultivada e de 0,9% na produção, que pode alcançar 1,8 milhão, com destaque para os estados do Piauí e Bahia, onde o cultivo é concentrado nas áreas de cerrado. Em âmbito nacional, a estimativa de área plantada é de 1.405,3 mil hectares (+0,4%) para uma produção em torno de 5,3 milhões de toneladas de algodão em caroço, aumento de 1,7% com relação à última safra. Tanto a pesquisa de dezembro de 2011 quanto a de janeiro último da Conab mostram também que a produtividade do algodão em caroço no Nordeste deverá se situar acima da média nacional e do Centro-Oeste na safra 2011/12, assinalando 3.808 quilos por hectare, com destaque para a Bahia, onde é estimada em 3.900 quilos. Liderança mundial – O rendimento em território baiano, que é um pouco maior nos cerrados a oeste de Salvador, coloca essa região do estado como campeã mundial de produtividade. Na safra 2010/11, o cerrado local cravou produtividade de 270 arrobas de algodão (em caroço) por hectare, em regime de sequeiro, a mesma da Austrália em cultivo 100% irrigado, e acima da obtida na China (226,1@/ ha). Segundo informa a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), em 2012, mesmo com uma ligeira queda nesse patamar (265@/ha), a Bahia continuaria na liderança mundial. O Conselho Técnico da AIBA não esconde o entusiasmo, informando que em algumas áreas do cerrado, a exemplo do município de São Desidério, maior produtor nacional de algodão e segundo maior PIB agropecuário do Brasil, a média geral de produtividade chegou a 285@/ha. A previsão é que, isoladamente, o cerrado colha cerca de 1.542 mil toneladas de algodão em caroço na safra 2012, 3% superior à anterior. Trata-se de expansão modesta diante da registrada em 2011 (cerca de 50%), provocada pela elevação dos preços. O valor bruto de produção do algodão (VBP) estimado para a atual safra, da ordem de R$ 2.450 milhões, é o segundo maior entre as culturas do oeste da Bahia, perdendo apenas para a soja (R$ 2.742 bilhões), que possui o dobro de área plantada. Para os técnicos da entidade, contribui para isso uma série de fatores relevantes nos cerrados baianos: clima e solo em condições favoráveis, adoção de modernas tecnologias, informação técnica e mercadológica, recursos hídricos e profissionalismo entre os produtores. Meio Norte – Entre maranhenses e piauienses, o entusiasmo com a cotonicultura é até maior que na Bahia. No intervalo entre os dois últimos censos agrícolas do IBGE (1996 e 2006), o Maranhão elevou de 0,6% para 13,5% sua participação na área cultivada com algodão no Nordeste, enquanto na Bahia saltou de 62,4% para 79,3%. Considerado um avanço de apenas 50% na área cultivada, o Nordeste apresentou um desempenho extraordinário na produção algodoeira: 916,5% entre 1996 e 2006, evidenciando um grande acréscimo de produtividade em função do cultivo nos cerrados, para onde migraram produtores do Sul e Sudeste do país que praticam uma agricultura em bases empresariais. No Piauí, o incremento foi de 241,1%, alcançando 18.530 toneladas, em 2006. No Maranhão, a produção disparou de 1,8 mil toneladas para 98 mil toneladas, e na Bahia, evoluiu de 43,7 mil para 649,2 mil toneladas. Mais recentemente, esse desem- RUMOS - 38 – Janeiro/Fevereiro 2012 a supera média mundial penho avançou bastante no chamado Meio Norte em função da troca da soja pelo algodão em alguns centros produtores. No cerrado maranhense a área plantada cresceu para 18,1 mil hectares na safra 2010/11, com produção de 71,1 mil toneladas, devendo cair um pouco na safra atual para cerca de 70 mil toneladas. No Piauí, por outro lado, nas últimas três safras a área de plantio dobrou, de 11,2 mil hectares (2008/09) para 22,1 mil hectares (2011/12). No mesmo intervalo, a produção saltou de 34,3 mil toneladas para 76,2 mil toneladas. Uma revolução em dez anos – O Nordeste, onde a atividade algodoeira sempre foi muito relevante sob o aspecto socioeconômico, apresentou uma recuperação extraordinária no cultivo de algodão no espaço de dez anos. Depois de praticamente dizimada pela praga do bicudo a partir da década de 1980 e pela abertura do mercado no decênio seguinte, a cultura migrou do semiárido para os cerrados, atraindo produtores do Sul e do Sudeste, que praticam agricultura em bases empresariais. O resultado foi um aumento de 50% na área cultivada e de quase 1.000% na produção entre 1996 e 2006, anos que assinalam a realização dos dois últimos censos agropecuários realizados no Brasil. Um projeto executado pela Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB), com o apoio do BNB-Etene-Fundeci, teve muito a ver com essa recuperação da cotonicultura regional. Agregando valor – O norte da pesquisa foi buscar a agregação de valor à fibra do algodão e com isso revitalizar a atividade. Desse esforço do Banco do Nordeste (BNB) e dos cientistas da Embrapa surgiram as novas opções para o produtor. Hoje, o algodão de fibra colorida (marrom, vermelho, verde e bege) faz sucesso em todo o mundo. Com os resultados das pesquisas foram alcançados dois pontos importantes: agregação de valor ao algodão da fibra natural e benefícios ao meio ambiente, desde que o novo produto eliminou o processo de coloração química do fio que tem impacto ambiental. Controle de pragas – Além do algodão colorido, no momento a Embrapa de Campina Grande, com apoio do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci), faz estudos visando ao isolamento e à introdução de um gene inseticida em planta de algodão para controle de insetos. A obtenção de um cultivar modificado tem impacto socioeconômico imediato em todos os segmentos da cadeia produtiva, sem contar os benefícios para o meio ambiente, dada a possibilidade de redução do uso de agrotóxicos, e para a balança comercial, pela menor importação de defensivos agrícolas. Transformação rápida – Com a recuperação da cultura no Nordeste e sua adoção no Centro-Oeste, na atual década, o Brasil voltou ao pódio dos maiores produtores mundiais de algodão. Levantamento realizado pelo BNB-Etene entre os censos agropecuários de 1995/96 e 2006 mostra que a cotonicultura brasileira, e principalmente a nordestina, experimentou profundas transformações no período. Além de quase triplicar sua produção no intervalo entre os censos, de 814 mil toneladas para 2.350 mil toneladas, o segmento viu surgir uma nova fronteira agrícola para exploração do produto – o cerrado – e tecnologias inovadoras como o cultivo de algodão colorido e orgânico destinadas a viabilizar economicamente o cultivo em áreas como o semiárido, com a consequente geração de mais emprego e renda. De acordo com o trabalho do Etene, após enfrentar os percalços provocados pela praga do bicudo (inseto), o Nordeste voltou ao mapa da grande produção algodoeira na safra 2000/01. Contribuiu, decisivamente, para tanto, a disponibilidade de terras aptas nos cerrados da Bahia, Piauí e Maranhão, onde a atividade é praticada em bases empresariais, coexistindo com o modelo que voltou a ser praticado no semiárido, em que prevalece o minifúndio e a produção familiar. Em 2006, a produção regional atingiu 777,8 mil toneladas, volume correspondente a mais de dez vezes as 76,2 mil toneladas produzidas em 1996. Relevância social – A cadeia produtiva do algodão tem grande importância social e econômica no Nordeste, especialmente pelo número de empregos que gera direta e indiretamente. A área cultivada com o produto passou de 162,4 mil hectares, em 1996, para 237,7 mil hectares, em 2006, o que contribuiu para elevar de 26,2% para 30,2% a participação no total nacional. O acréscimo de área ficou restrito aos estados da Bahia e Maranhão, que respondem por 76% do total. n RUMOS - 39 – Janeiro/Fevereiro 2012