Foto: José Lins tecnologia Energi FURNAS participa de estudos para implantação da primeira usina termelétrica movida a resíduos texto Luciana Freitas colaboração Eduardo Franklin M uito se discute sobre a questão do lixo, um problema que exige a reeducação e o comprometimento de todos. A concentração No Rio de Janeiro, são recolhidas, em média, 8,8 mil toneladas de lixo por dia. No Brasil, são produzidos 88 milhões de toneladas de lixo por ano ou 470 quilos por habitante. Média de lixo percapita na cidade: 1,5 kg/hab.dia. Fonte: www.rio.rj.gov.br/comlurb demográfica e o aumento do consumo nas grandes cidades geram uma enorme quantidade de resíduos de todo tipo, procedentes de residências, indústrias e atividades públicas. O que fazer com as toneladas de lixo recolhidas diariamente? A eliminação e o possível reaproveitamento ainda são um desafio a ser vencido pelas sociedades modernas. Com a idéia de que é possível produzir energia a partir do lixo, Gilberto de Paula e Silva, assistente da Superintendência de Engenharia (SE.E), desenvolveu um projeto sobre energia renovável e representa FURNAS em grupo de estudos que analisa a viabilidade de implantação da primeira usina no Brasil que utilize o lixo como combustível. A solução desperta a atenção e o interesse de algumas prefeituras por substituir os depósitos existentes de forma mais eficiente. A intenção é produzir energia elétrica através do processo de pirólise, decomposição química por calor em uma atmosfera com pouco oxigênio, ou utilizando um método de incineração tecnologicamente mais avançado. O processo é auto-sustentável, não necessita de energia externa e seu balanço é positivo, já que produz mais energia do que consome. Detalhe dos equipamentos de usina alemã que utiliza processo de incineração 24 Revista FURNAS - Ano XXXV - Nº 365 - Junho 2009 gia lixo a partir do Tempo de decomposição MaterialTempo Papel 2 a 4 semanas Palito de Fósforo 6 meses Papel plastificado 1 a 5 anos Casca de banana ou laranja 2 anos Chiclete 5 anos Latas 10 anos Ponta de cigarro 10 a 20 anos Couro 30 anos Sacos plásticos 30 a 40 anos Cordas de nylon 30 a 40 anos Latas de alumínio 80 a 100 anos Tecido 100 a 400 anos Vidro 4.000 anos Pneus indefinido Garrafas plásticas indefinido Processo Gilberto Silva já visitou usinas na Holanda e Alemanha que utilizam a tecnologia, e acompanhou de perto todas as etapas. A pirólise gera uma corrente de gás composta por hidrogênio, metano, monóxido de carbono (os três são combustíveis), dióxido de carbono, cinza inerte e outros gases. Os resíduos são previamente selecionados e triturados antes de ser enviados ao reator pirolítico, que por uma reação endotérmica promove as separações dos subprodutos. O reator possui fases específicas de pré-secagem e secagem, onde os detritos que irão alimentar o reator passam por temperaturas que variam de 100º a 150º. Durante a fase de pirólise propriamente dita, ocorrerão as reações de volatização, oxidação e fusão, devido às altas temperaturas que chegam a 1.600º. A última etapa é a de resfriamento, quando os resíduos gerados pelo processo são coletados. Estação de gaseificação e incineração de usina na Alemanha visitada pelo assistente Fotos: Gilberto de Paula Fonte: www.rio.rj.gov.br/comlurb Revista FURNAS - Ano XXXV - Nº 365 - Junho 2009 25 tecnologia Benefícios De acordo com o assistente da SE.E, apesar de considerado caro, as vantagens do projeto são muitas como a diminuição dos aterros sanitários e lixões, menor produção de gases poluentes, menos riscos ao meio ambiente e à saúde humana, eliminação do chorume que contamina os lençóis freáticos, mais economia e empregos. A economia é um dos grandes atrativos ao se transformar lixo em energia, por meio de ações que aportam receita como conservação de energia, venda de recicláveis e comercialização de créditos de carbono. O resíduo produzido ainda pode ser misturado ao asfalto ou ao cimento para produção de blocos para calçamento, e o gás metano pode ser aproveitado como combustível. “Vale ressaltar que este processo pode eliminar o lixo hospitalar e os aterros sanitários, diminuindo o volume de detritos enviados aos lixões gradativamente após a entrada em operação de cada unidade”, conclui Gilberto de Paula. Etapas do Reator Pirolítico 26 Revista FURNAS - Ano XXXV - Nº 365 - Junho 2009 A geração de energia a partir do lixo urbano já é comum nos países desenvolvidos que não dispõem de áreas físicas para depósitos. Eles também adotam a incineração para gerar energia. Há 600 plantas de geração de eletricidade a partir de resíduos em 35 países. Na Europa, 400 dessas unidades produzem energia para quase 30 milhões de pessoas. Cada mil toneladas de lixo podem gerar 30 MW. Fonte:www.mma.gov.br / www.lixo.com.br