Varginha - Mineração de Pequeno Porte Usina de beneficiamento Fazenda Varginha em Andradas Tirando projetos da gaveta para iniciar novo ciclo de crescimento Amundsen Limeira C onhecida no mercado principalmente pela sua produção de bauxita, a Varginha Mineração começa a tirar da gaveta os primeiros projetos que deverão marcar o novo ciclo de crescimento desse que é o braço mineiro do grupo Guazelli, fundado em 1994 pelo empresário Reynaldo Guazelli Filho, em Poços de Caldas (MG), com investimentos também nas áreas do agronegócio, empreendimentos imobiliários e de hotelaria. A empresa possui mais de 400 jazidas registradas de bauxita, manganês, calcário, lítio, titânio, granito, argila e turfa, espalhadas por sete estados brasileiros. Tem, atualmente, oito minas a céu aberto em atividade, sendo três de bauxita, duas de argila e duas de manganês, que correspondem a uma produção anual de, aproximadamente, 560 mil toneladas entre minério 60 e argila, sem falar de um depósito de turfa de onde são extraídas cerca de 30 mil toneladas/ano desse energético fóssil. Além disso, mantém duas unidades de beneficiamento de bauxita, uma na Fazenda Varginha Andradas e outra na Eletro Varginha Caldas, ambas em Minas Gerais. Mas a Varginha tem planos ambiciosos. “Já estamos pensando na expansão das nossas atividades”, informa Ivan Leleko, sócio e responsável pelo setor de mineração da companhia. Os projetos, segundo ele, aguardam apenas a finalização dos trâmites burocráticos, mas já estão definidos pela empresa. O investimento previsto deve passar de R$ 230 milhões, somente em três dos principais empreendimentos previstos: R$ 130 milhões na construção de uma fábrica de cimento em Poté, no Nordeste de Minas Gerais, próximo ao município de Teófilo Otoni; uma usina termelétrica estimada em R$ 80 milhões, no Triângulo Mineiro; e mais R$ 23 milhões em uma nova uma mina de bauxita, na região de Manhuaçu/Cataguazes, um projeto de 50 mil toneladas mensais de material bi-hidratado. Ao contrário da bauxita tri-hidratada que a empresa já produz em Poços de Caldas, a de Manhuaçu/ Cataguazes terá que ser lavada antes de ser colocada no mercado. As “grandes jazidas de turfa” da companhia no Triângulo serão aproveitadas também para a produção de energia elétrica. De acordo com Leleko, a companhia planeja construir uma usina termelétrica com capacidade de geração da ordem de 25 MW. O local ainda não está definido. Sabe-se, no entanto, que nos primeiros anos de operação apenas 5% daquele total serão aproveitados para consumo próprio e os BRASIL MINERAL - nº 304 - Março de 2011 outros 95% comercializados junto ao mercado de energia elétrica. “Mas essa parcela de consumo próprio não deverá passar de 10%”, prevê o dirigente. Na lista dos novos projetos consta a construção de uma fábrica de cimento em Poté, onde a mineradora possui reservas da ordem de 200 milhões de toneladas de calcário e já planeja a abertura de uma mina com capacidade instalada de 2,2 milhões de toneladas anuais desse material. “Para aproveitar essa produção de calcário, a cimenteira terá uma capacidade instalada de 1,2 milhão de toneladas de cimento por ano”, acrescenta Ivan Leleko. O programa de expansão da Varginha inclui ainda a abertura de uma nova mina de manganês, em Congonhal, a mesma região de onde já extrai 100 mil toneladas/ano dos dois depósitos desse minério empregado na produção de silicomanganês, ferro liga com 12% de manganês. “Nossa intenção é iniciar uma frente para extração de 8 mil a 10 mil toneladas/mês de minério de manganês”, declara Leleko. Mas os planos de retomada do crescimento da Varginha não param por aí e prevê também a instalação de uma unidade de fertilizantes Jazida de turfa Boa Esperança orgânicos. Como explica o diretor de mineração, essa unidade deverá começar com uma produção entre 10 mil e 15 mil toneladas mensais de fertilizantes orgânicos e organominerais utilizando como matéria prima os depósitos de turfa que dispõe em Boa Esperança e na região do Triângulo Mineiro. Situação atual Ivan Leleko conta que a Varginha Mineração produz, anualmente, 310 mil toneladas de bauxita, 100 mil toneladas de minério de manganês, 120 mil toneladas de argila e mais 30 mil toneladas de turfa No caso específico da turfa, o processo de extração é cíclico. A preparação da área de EMH BRASIL MINERAL - nº 304 - Março de 2011 61 Varginha - Mineração de Pequeno Porte Unidade de britagem Eletrovarginha exploração envolve a drenagem de área mais o nivelamento e limpeza dos campos turfados. Já a produção propriamente dita é feita obedecendo as fases de escarificação, revolvimento e secagem da turfa. A partir daí seguem as etapas de enleiramento, estocagem, carregamento e transporte do produto para as áreas de consumo. No momento, a companhia extrai e beneficia o linhito, um energético fóssil com alto teor de material orgânico, em Boa Esperança (MG). No que diz respeito à bauxita, as reservas conhecidas até agora já somam 40 milhões de toneladas. “Trabalhamos para aumentar nossas vendas e assim otimizar o aproveitamento dessas reservas”, declara o diretor de mineração Ivan Leleko. Segundo ele, das minas de Poços de Caldas saem a bauxita seca e moída para sulfato de alumínio, bauxita ativada para tratamento de óleo isolante, e a bauxita para a produção de alumínio primário, para a indústria cimenteira e para a indústria siderúrgica. Para as empresas do setor de jateamento são fornecidos dois tipos de bauxita: a sinterizada classificada GA, entregue na faixa solicitada pelo cliente, e a sinterizada angular, produto de qualidade superior para jateamento desenvolvido para atender às necessidades técnicas e econômicas das indústrias de acabamento superficial. Além destas, a Varginha atende à indústria de polimento com a bauxita calcinada GA, que é utilizada no tratamento de superfícies metálicas. A preocupação em aumentar o valor agregado da produção desse minério levou a empresa a reforçar a linha de produtos beneficiados como oxido de alumínio marrom, bauxita para abrasivos, para polimento e para regeneração de óleo, bauxita seca e moída para sulfato de alumínio. 62 São materiais processados nas unidades Fazenda Varginha-Andradas e Eletro Varginha-Caldas. A primeira está equipada com dois fornos calcinadores, lavador de bauxita e lavador de argila. Lá, são feitas a moagem e a classificação dos materiais e a fabricação de chamote e bauxita sinterizada. Dos fornos rotativos para calcinação e sinterização da Eletro Varginha, com capacidade de 3 mil toneladas mensais, saem os produtos eletrofundidos óxidos de alumínio branco e óxidos de alumínio marrom. Quanto ao manganês, o minério extraído, “mesmo de baixo teor (cerca de 30%) já encontra mercado”, faz questão de destacar Leleko. Conforme descreve ele, das minas Congonhal e Sena- dor José Bento saem 100 mil toneladas por mês de minério de manganês, um tipo de silicato, usado para fazer ferroliga. Nessas duas unidades, todo o material é processado na granulometria padrão, que é de no mínimo 10mm. “Também temos uma produção de argila, na região do Triangulo Mineiro, onde extraímos mais 120 mil toneladas anuais desse material”, completa o diretor de mineração. Dessa unidade saem argilas para refratários, engobes cerâmicos (camadas terrosas para dar a cor natural do barro a uma peca de cerâmica), para revestimentos cerâmicos, além de chamotes, que são o resultado da mistura de alumínio e sílica que se acrescenta à argila a ser submetida a calor para constituir material refratário. Ivan Leleko conta que a Varginha Mineração começou em 1994 produzindo argila e bauxita na Fazenda Varginha, localizada em Andradas, município vizinho a Poços de Caldas, a 463 km da capital Belo Horizonte. Foi fundada por Reynaldo Guazzelli, amigo de infância a quem se uniu para iniciar um mapeamento geológico pelo Brasil em busca das regiões de maior potencial em jazidas minerais. A primeira iniciativa na direção de dar maior valor agregado à bauxita da Fazenda Varginha aconteceu em 2000, com a aquisição da Andrada Indústria Química, onde passou a produzir 1 mil toneladas de sulfato de alumínio, produto que encontra aplicação no tratamento de água. O passo seguinte, recorda Leleko, foi a compra da Mineração Miguel da Costa, equipada com um forno de calcinação. É desse período o “primeiro grande salto” filtro eletrovarginha Filtros na planta da Eletrovarginha BRASIL MINERAL - nº 304 - Março de 2011 da companhia. “Com a empresa já mais bem estruturada”, foi possível mirar novos mercados para os quais passou a fornecer produtos de maior valor agregado. Resultado: em 2006, a Varginha negociou com o grupo francês Saint Gobain a compra da Norton, unidade de eletrofusão dotada de dois fornos de eletrofusão e mais três de calcinação instalada no município de Caldas, ao lado de Andradas e localizado a 434 km da capital mineira. “Nosso faturamento praticamente dobrou depois dessa operação com o grupo francês”, comenta Ivan Leleko. Como de resto em todas as empresas do setor, a crise da economia mundial do começo de 2009 acabou respingando sobre a Varginha Mineração. “Realmente, este não foi um bom ano. Tivemos que fechar a unidade de Miguel da Costa”, declara. No entanto, acrescenta Leleko, a empresa absorveu o golpe e logo tratou de concluir a montagem do beneficiamento de manganês, que de 2010 para cá já recuperou 50% da sua produção. “Chegamos a paralisar a produção de minério de manganês logo no inicio de 2009, que foi retomada a partir de maio desse mesmo ano”, diz o empresário. O faturamento da companhia foi reduzido a 30% do que era antes Galpão de eletrofusão na Eletrovarginha da crise e aos poucos foi sendo retomado. “Desde julho de 2010 estamos operando a 85% da nossa capacidade total. Já temos até planos para expandir nossa produção”, conclui Ivan Leleko. Dos tempos em que começou a operar, em 1994, aos dias de hoje, a Varginha Mineração cresceu e se tornou fornecedora de grandes empresas como a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), da Votorantim Metais, e Alcoa, além de um grande número de compradores de menor porte de manganês, calcário e argila. Sem falar dos clientes arregimentados no exterior para onde a Varginha exporta o equivalente a 18% da sua receita. ☐ Majestic BRASIL MINERAL - nº 304 - Março de 2011 63