INSTITUTO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CNPq/FAPERJ/CAPES ---- iBEU ---ÍNDICE DE BEM-ESTAR URBANO COORDENAÇÃO LUIZ CÉSAR DE QUEIROZ RIBEIRO EQUIPE RESPONSÁVEL ANDRÉ RICARDO SALATA LYGIA GONÇALVES COSTA MARCELO GOMES RIBEIRO Rio de Janeiro, setembro de 2010. Índice de Bem-Estar Urbano - iBEU Apresentação: O que é o iBEU? O Observatório das Metrópoles apresenta o Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU) para as regiões metropolitanas do Brasil. O objetivo principal do IBEU é avaliar as condições urbanas das regiões metropolitanas brasileiras, procurando aferir múltiplas dimensões da vida urbana capazes de propiciar qualidade de vida a seus habitantes. O IBEU foi construído a partir dos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) para os anos de 2001 a 2009. Como a PNAD disponibiliza os dados para apenas dez regiões metropolitanas: Belém, Belo Horizonte, Brasília1, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, 1 Brasília foi considerada como região metropolitana porque está assim classificada na PNAD, mas corresponde apenas ao Distrito Federal. Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, resolvemos investigar através deste índice como andam as condições urbanas dessas metrópoles. Esse índice varia de 0 (zero) a 1 (um). Quanto mais próximo de 1, melhor é o bem-estar urbano. O IBEU é composto por três dimensões (ou indicadores): i. Indicador de atendimento de serviços coletivos; ii. Indicador de condições habitacionais; iii. Indicador de mobilidade urbana. O Indicador de atendimento de serviços coletivos considerou os domicílios atendidos adequadamente por água, esgotamento sanitário e lixo. O indicador de condições habitacionais considerou a quantidade de pessoas que moram em aglomerados subnormais e a densidade domiciliar. O indicador de mobilidade urbana considerou o tempo de deslocamento casa-trabalho das pessoas. Como vai o Bem-Estar Urbano nas Regiões Metropolitanas? O comportamento do IBEU foi de melhoria ao longo da primeira década do século XXI, apesar de apresentar pequenas oscilações para baixo, nos anos de 2005 e 2008. Gráfico 1 IBEU: Índice de Bem-Estar Urbano das Regiões Metropolitanas do Brasil 2001 a 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles, a partir de dados da PNAD/IBGE. A melhoria do IBEU ao longo da década se deveu, principalmente, à expansão do atendimento de serviços coletivos, sobretudo, à ampliação do atendimento de esgotamento sanitário. O atendimento dos serviços de água e de lixo não apresentou expansão contínua ao longo da década, pois demonstrou oscilação nesse período. Gráfico 2 Indicador 1: Atendimento de Serviços Coletivos das Regiões Metropolitanas do Brasil 2001 a 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles, a partir de dados da PNAD/IBGE. Gráfico 3 Indicador 2: Condições Habitacionais das Regiões Metropolitanas do Brasil 2001 a 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles, a partir de dados da PNAD/IBGE. O indicador de condições habitacionais foi o que apresentou melhor desempenho na primeira década do século. Isso se deveu, principalmente, pela melhoria da densidade domiciliar, já que o percentual de pessoas que vivem em aglomerado subnormal não sofreu grande variação nesse período. O indicador de mobilidade urbana foi o que mais contribuiu para que o índice não apresentasse aumento tão expressivo, uma vez que as condições de mobilidade avaliadas pelo tempo de deslocamento casa-trabalho pioraram nas regiões metropolitanas brasileiras, apesar de em 2009 o indicador de mobilidade urbana ter apresentado sinais de recuperação. Gráfico 4 Indicador 3: Mobilidade Urbana das Regiões Metropolitanas do Brasil 2001 a 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles, a partir de dados da PNAD/IBGE. É evidente que há mais dimensões relacionadas ao bem-estar urbano que às que foram utilizadas para composição desse índice. Porém, para construção do índice foram consideradas aquelas variáveis disponíveis na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Como se trata de uma pesquisa domiciliar, não há, por exemplo, informações sobre segurança, condições ambientais (apesar de, neste caso, termos como sua proxy o atendimento de esgotamento sanitário), entre outros aspectos que são fundamentais para que haja boas condições de bem-estar urbano, sem contar, ainda, vários aspectos de ordem subjetivas que também apresentam sua importância quando se trata de bem-estar. Mesmo assim, consideramos que a PNAD oferece informações relevantes da vida urbana que nos possibilita realizar uma aproximação das condições de bem-estar urbano, como são as dimensões relativas à habitabilidade, ao atendimento de serviços coletivos e à mobilidade urbana, que são aspectos fundamentais da problemática urbana na contemporaneidade. Como vai o Bem-Estar Urbano entre as Regiões Metropolitanas? Na comparação entre as regiões metropolitanas do Brasil, observamos diferenças importantes com relação ao Bem-Estar Urbano. Em 2001, a região metropolitana de Porto Alegre foi a que apresentou o melhor desempenho em bem-estar urbano, com 0,899. Por outro lado, a região metropolitana de Belém foi a que apresentou o pior resultado, registrando 0,714. De modo geral, observamos que as regiões metropolitanas do Norte e Nordeste apresentam os piores resultados de bem-estar urbano, de acordo com o IBEU. E as regiões metropolitanas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste mostram resultados melhores, apesar de as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo apresentarem desempenho inferior ao verificado no conjunto das regiões metropolitanas. Gráfico 5 Comparativo do IBEU entre as regiões metropolitanas do Brasil - 2001 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles a partir de dados da PNAD, 2001. O indicador de atendimento de serviços coletivos demonstra que as regiões metropolitanas do Norte e Nordeste são as que apresentam os piores resultados, no ano de 2001, sendo as únicas que ficam abaixo da média do conjunto das regiões metropolitanas. Importante destacar, por outro lado, que São Paulo é a região metropolitana com o melhor desempenho nesse indicador, decorrente, sobretudo, do atendimento de abastecimento de água e de coleta de lixo. O indicador de condições habitacionais mostra que Belém, Fortaleza, São Paulo e Salvador, nesta ordem, são as regiões metropolitanas com os piores resultados, em 2001, e as únicas que ficam abaixo da média das regiões metropolitanas brasileiras. Por outro lado, a região metropolitana de Curitiba é a que apresenta o melhor desempenho nesse indicador, seguida de Porto Alegre e Brasília. Embora a região metropolitana de Belém apresente o pior desempenho no índice geral, para o ano de 2001, no indicador de mobilidade urbana é a região metropolitana que apresenta o melhor resultado, o que indica que seu bem-estar urbano fica comprometido por decorrências do atendimento de serviços coletivo e pelas condições habitacionais. Por outro lado, as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo foram as que apresentaram o pior desempenho quando se avaliou a mobilidade urbana, o que demonstra que nos grandes centros urbanos a mobilidade espacial tem se colocado como um dos grandes desafios ao bem-estar urbano. De modo geral, as regiões metropolitanas apresentam melhoria de bem-estar urbano no ano de 2005 ao se comparar com 2001. No entanto, observamos que houve mudanças na posição ocupada entre as regiões metropolitanas. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, teve desempenho inferior ao comparado com 2001 e ficou atrás do índice de Salvador, o mesmo aconteceu com a região metropolitana do Rio de Janeiro. Por outro lado, a região metropolitana de Curitiba passou a ter o melhor desempenho de bemestar urbano entre as regiões metropolitanas, deixando a região metropolitana de Porto Alegre em segundo lugar, apesar de esta também ter apresentado melhoria entre os anos comparados. O indicador de atendimento de serviços coletivos apresenta que, de modo geral, houve melhoria para as regiões metropolitanas entre os anos de 2001 a 2005. Porém, observamos que, apesar dessa melhoria geral, a posição ocupada entre as regiões metropolitanas sofreu mudanças. Brasília, por exemplo, que encontrava-se acima da média das regiões metropolitanas, além de ficar abaixo dessa média, em 2005, ficou atrás da região metropolitana de Salvador. Por outro lado, São Paulo continuou mantendo o melhor desempenho nesse indicador. Gráfico 6 Comparativo do IBEU entre as regiões metropolitanas do Brasil – 2005 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles a partir de dados da PNAD, 2005. O indicador de condições habitacionais apresenta que, em 2005, todas as regiões metropolitanas apresentaram melhoria (ao se comparar com 2001). A única alteração significativa foi que a região metropolitana de Salvador obteve desempenho superior à média das regiões metropolitanas, pois em 2001 essa região metropolitana estava abaixo da média. Em 2005, as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro continuaram apresentando os piores desempenhos em termos de mobilidade urbana. Por outro lado, a região metropolitana de Belém, que apresentava o melhor desempenho nesse indicador em 2001, passou a ocupar a quinta posição, sendo ultrapassada por Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Salvador. Isso ocorreu porque houve piora nas condições de mobilidade na maior parte das regiões metropolitanas, incluindo Belém, e houve melhoria destacada apenas em Brasília. O IBEU melhorou para todas as regiões metropolitanas, em 2009, ao se comparar com o ano de 2005. Houve mudança na posição das regiões metropolitanas, entre os anos de 2005 e 2009. Porto Alegre voltou a ocupar a primeira posição, como era em 2001, e Curitiba passou a se configurar como a segunda região metropolitana com o melhor índice de bem-estar urbano. Além disso, Recife ganhou posição em relação à Fortaleza, porque aquela metrópole melhorou mais que esta última, entre 2005 e 2009, mesmo assim continuaram como as piores metrópoles em termos de bem-estar urbano, ganhando apenas de Belém. Gráfico 7 Comparativo do IBEU entre as regiões metropolitanas do Brasil – 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles a partir de dados da PNAD, 2009. O indicador de atendimento de serviços coletivos apresentou melhoria para a maioria das regiões metropolitanas, entre os anos de 2005 a 2009. Somente Recife, Curitiba e Porto Alegre tiveram redução nesse indicador. Recife reduz o indicador de serviços coletivos porque piorou o abastecimento de água e o esgotamento sanitário. Curitiba e Porto Alegre também apresentaram redução nas condições de esgotamento sanitário, o que colabou para a redução do indicador de atendimento de serviços coletivos. Todas as regiões metropolitanas apresentaram desempenho positivo no indicador de condições habitacionais, entre os anos de 2005 a 2009. O que mais contribuiu para a melhoria desse indicador foi a densidade domiciliar, já que na maioria das regiões metropolitanas a proporção de pessoas vivendo em aglomerado subnormal quase não se alterou. O indicador de mobilidade urbana apresentou desempenho positivo, apesar de pequeno, entre os anos de 2005 a 2009, para as regiões metropolitanas de Belém, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Para as demais regiões metropolitanas a mobilidade urbana piorou, são os casos de: Fortaleza, Salvador, São Paulo, Curitiba e Brasília. Como vai o Bem-Estar Urbano no Núcleo e na Periferia Metropolitanas? Como as regiões metropolitanas brasileiras são muito complexas e essa complexidade se manifesta territorialmente, resolvemos comparar o Índice de Bem-Estar Urbano do núcleo metropolitano de cada região metropolitana e dos demais municípios que as compõem, aos quais designamos como periferia metropolitana. Essa separação espacial, para análise do IBEU, só considerou esses dois contextos territorias (núcleo e periferia) porque na PNAD não é possível realizar maiores desagregações, por decorrência do tamanho de seu desenho amostral. No geral, podemos perceber que o IBEU do núcleo metropolitano é melhor que da periferia metropolitana, para todas as regiões metropolitanas. As exceções ocorrem na região metropolitana de Salvador, que em alguns anos, a partir de 2003, o índice se mostrou melhor na periferia e, em 2009, na região metropolitana de São Paulo, quando a periferia metropolitana apresentou resultados melhores que o núcleo metropolitano. Gráfico 8 IBEU: Pólo e Periferia Metropolitanas - 2001 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles a partir de dados da PNAD, 2001. O atendimento de serviços coletivos – abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo – é sempre melhor no núcleo metropolitano que na periferia das regiões metropolitanas que estão sendo analisadas. Somente a região metropolitana de Salvador apresenta resultados melhores para periferia em relação ao núcleo, em alguns dos anos investigados. Gráfico 9 IBEU: Pólo e Periferia Metropolitanas - 2009 Fonte: Elaborado pelo Observatório das Metrópoles a partir de dados da PNAD, 2009. Quando se trata das condições habitacionais – pessoas que moram em aglomerado subnormal e densidade domiciliar –, observamos que somente nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo as condições do núcleo metropolitano são melhores que na periferia. Mesmo assim, em São Paulo, há uma inversão no último ano da série estudada. Nas demais regiões metropolitanas, quando as condições não são as mesmas – caso de Salvador –, a periferia apresenta resultados melhores. Isso se deve, em grande medida, ao fato de haver maior número de pessoas que moram em aglomerado subnormal no núcleo metropolitano que nos municípios da periferia metropolitana. Há três metrópoles em que as condições de mobilidade urbana são piores no núcleo metropolitano que na periferia metropolitana. São as regiões metropolitanas de Fortaleza, Salvador e São Paulo. Nas demais regiões metropolitanas, a mobilidade urbana é pior na periferia metropolitana que no núcleo metropolitano, apesar de em algumas tender a ter à aproximação das condições de mobilidade. Algumas Considerações Sobre o Bem-Estar Urbano Na análise do Índice de Bem-Estar Urbano, em que se procurou considerar múltiplas dimensões da vida urbana, observamos que, de modo geral, houve melhoria nas condições de bem-estar para o conjunto das regiões metropolitanas brasileiras. Essa melhoria foi resultado, principalmente, da evolução do atendimento de serviços coletivos e das condições habitacionais das regiões metropolitanas, uma vez que a mobilidade urbana apresentou piora ao longo da década analisada. Em que pese esse comportamento geral, observamos, também, diferenças entre as regiões metropolitanas. No geral, há uma nítida diferença entre as regiões metropolitanas situadas no norte/nordeste do país e aquelas situadas no sul/sudeste/centro-oeste. Porém, as regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro tiveram resultados próximos às regiões metropolitanas do norte e nordeste. Isso deveu, principalmente, as condições de mobilidade urbana, ao passo que os resultados baixos para aquelas regiões se deveram às condições habitacionais e de atendimento de serviços coletivos. Além disso, observamos, ainda, que há diferenças importantes entre o núcleo metropolitano e os demais municípios que compõem a periferia das regiões metropolitanas. E essas diferenças ocorrem por motivos diversos, seja pelo atendimento de serviços coletivos, seja pelas condições habitacionais, ou mesmo por condições de mobilidade urbana, apesar dessa última dimensão ter se tornado uma das grandes preocupações para a maioria das regiões metropolitanas brasileiras.