A Viagem Uma Busca pela Verdade Giseti Marques A Viagem Uma Busca pela Verdade 2a edição Matão - SP 2013 A Viagem - uma busca pela verdade Capa: Rogerio Motta Projeto gráfico: Equipe O Clarim Revisão: Teresa Cunha e Cássio Leonardo Carrara Todos os direitos reservados © Casa Editora O Clarim (Propriedade do Centro Espírita O Clarim) Rua Rui Barbosa, 1070 — Centro — Caixa Postal 09 CEP 15.990-903 — Matão-SP, Brasil Fone: (16) 3382-1066 — Fax: (16) 3382-1647 CNPJ: 52.313.780/0001-23 Inscrição Estadual: 441.002.767.116 www.oclarim.com.br [email protected] FICHA CATALOGRÁFICA Giseti Marques A viagem - uma busca pela verdade 1ª edição: fevereiro/2013 – 10.000 exemplares 2ª edição: junho/2013 – 6.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora O Clarim 304 páginas – 16 x 23 cm ISBN – 978-85-7357-115-8 CDD – 133.9 Índice para catálogo sistemático: 133.9 Espiritismo 133.901 Filosofia e Teoria 133.91 Mediunidade 133.92 Fenômenos Físicos 133.93 Fenômenos Psíquicos Impresso no Brasil Presita en Brazilo Sumário Um novo começo...........................................................................................9 O resgate de William ...................................................................................16 A volta do Marquês......................................................................................22 A despedida..................................................................................................28 A viagem......................................................................................................34 O encontro....................................................................................................41 Nikolay e Maisha.........................................................................................48 A guerra é declarada.....................................................................................56 O comunicado..............................................................................................62 Maisha..........................................................................................................68 A noite no baile............................................................................................74 A primeira pista é revelada..........................................................................81 A propriedade...............................................................................................87 Uma verdade é descoberta...........................................................................94 O homem da capa preta.............................................................................101 A primeira ameaça é feita..........................................................................108 Sintonia psíquica........................................................................................114 O convite....................................................................................................120 Valentina Kuznetsov..................................................................................126 O plano de Nikolay....................................................................................132 O tiro saiu pela culatra...............................................................................138 O desfecho da trama...................................................................................145 Os planos de Igor.......................................................................................151 7 O sonho......................................................................................................157 A decisão de Anne......................................................................................163 A chegada da família..................................................................................169 O estranho aviso.........................................................................................176 O casamento...............................................................................................182 A despedida................................................................................................190 O sequestro.................................................................................................197 Dmitry........................................................................................................203 O aviso.......................................................................................................209 A sacerdotisa .............................................................................................215 O bilhete.....................................................................................................222 A emboscada..............................................................................................228 Nikolay e Anne..........................................................................................234 No covil do lobo.........................................................................................240 O reencontro...............................................................................................246 Encontro de almas......................................................................................252 O retorno de um réprobo............................................................................259 A verdade...................................................................................................265 De volta para casa......................................................................................272 O adeus.......................................................................................................278 A garganta do diabo...................................................................................284 Um novo começo.......................................................................................290 8 Um novo começo Rússia, século 19. No belo palácio do Czar, um homem de ar imponente andava, de um lado para outro em uma das salas, parecendo nervoso, enquanto outros três sentados entreolhavam-se, demonstrando preocupação sem, no entanto, pronunciarem uma só palavra. Pouco tempo depois, bateram à porta. Um homem trajando a farda da guarda pessoal do Imperador adentrou sem dificuldades, parou em frente ao homem que permanecia de pé e disse: – Vossa Majestade, acabou de chegar. – Estendeu a mão, entregando um envelope ao Imperador daquele país, e retirou-se em seguida. De posse do mesmo, o Czar abriu-o rapidamente e, ao ler o conteúdo, disse contrariado, amassando o papel: – Isso não poderia ter acontecido, perdemos o nosso melhor informante! Meu oficial agora está sozinho naquele país, nós estamos às cegas! Não posso perder o meu melhor homem. Ele terá que retornar com urgência! – desabafou o monarca e, sem esperar qualquer comentário dos demais, dirigiu-se à saída, acompanhado pelos três homens que cochichavam algo entre si. Inglaterra, século 19. Meses depois. Eram quase 16 horas. Anne desceu de uma majestosa carruagem, ajudada pelo cocheiro, e caminhou apressada pelas ruas daquela bela e fria cidade. Sua cabeça tentava concatenar as ideias que pareciam confusas. Ela pensava consigo mesma: 9 Giseti Marques “Como vou convencer o Richard de que tenho que ir? E o meu pai?... Será difícil que eles permitam! Todavia, não abro mão, tenho de viajar!” Anne parou em frente a um edifício comercial de aspecto sóbrio, porém, luxuoso. Olhou para os lados, segurou no seu longo e belo vestido, levantando-o levemente, e entrou com rapidez. Parou no saguão, retirou um pedaço de papel de uma pequena bolsa, e leu em voz baixa: – Sala 38, 3o andar. Olhou para um grande relógio de parede que decorava o local e falou para si: – Está quase na hora, tenho que correr! Anne novamente suspendeu o vestido, e subiu três lances de escada com rapidez, chegando ao seu destino com a respiração ofegante. Ajeitou a capa que encobria seu rosto, caminhou por um corredor com várias portas e parou em frente a uma onde se podia ler: Sala 38. Bateu três vezes e esperou. Dentro da sala encontravam-se três rapazes, trajando a farda do exército de seu país, que discutiam algo. Eles entreolharam-se, e um deles perguntou assustado: – Vocês estão esperando alguém? Eles balançaram a cabeça negativamente. Um dos rapazes levantou-se e dirigiu-se até a porta, bem devagar, procurando não fazer barulho. Ficaram alguns segundos em silêncio até que bateram novamente à porta. O jovem, então, pegou um sobretudo posto em um cabide, vestiu-o, cobrindo totalmente a sua farda, e abriu a porta com cuidado. – Oi, Richard! – cumprimentou Anne ao ver o jovem. – Anne! O que faz aqui? – perguntou o rapaz surpreso. – Eu disse a você que viria. Esqueceu-se é? – respondeu a moça rapidamente. – Não vai me deixar entrar? O rapaz suspirou e perguntou preocupado: – Alguém a viu entrar aqui, Anne? – Eu tomei muito cuidado Richard; acredite em mim. Ele suspirou e lhe deu passagem, saindo da frente da porta para que a moça pudesse entrar. Anne retirou a capa, as luvas, e seguiu em direção aos outros rapazes. Os dois jovens, ao verem Anne, levantaram-se rapidamente, curvaram-se levemente e cumprimentaram-na. 10 A Viagem – Uma Busca pela Verdade – Senhorita! – Senhores! – Anne retribuiu o cumprimento. Um dos jovens olhou para Richard e perguntou intrigado: – Richard, o que ela faz aqui? Richard, um jovem oficial do exército, de aproximadamente vinte e cinco anos, alto, louro, olhos azuis, pele clara, olhou para seus amigos e explicou calmamente: – Depois do que aconteceu naquela noite, a senhorita Anne Carolyn, minha prima, quer juntar-se a nós. A reação foi imediata e um dos rapazes protestou: – Acaso está louco, Richard? Reconhecemos que a senhorita Anne é diferente. Vencer-nos naquele duelo fazendo-se passar por homem nos impressionou, principalmente, pela sua inteligência. Todavia, o que fazemos é muito mais sério do que um jogo! O rapaz voltou-se para Anne e continuou a falar seriamente: – Temos um enorme apreço pela senhorita, principalmente por ser irmã de William. Sabemos também que foi ele quem a treinou e falou tudo a nosso respeito e, se ele confiou na senhorita, também podemos confiar, mas, deixá-la se infiltrar em nossa missão é um pouco demais, senhorita! O outro, que se mantinha calado, pronunciou-se: – William era mais do que um amigo para nós! Éramos irmãos! Lamentamos e sentimos muito a sua morte. Por isso, jamais iremos permitir que uma pessoa a quem ele amou tanto arrisque-se dessa maneira. Fez uma pausa, pensou e arrematou: – Sem falar que a senhorita é uma mulher! Não se esqueça de que o seu irmão morreu pela causa. Anne escutou tudo em silêncio. Sorriu, e dotada de um grande magnetismo pessoal, falou gentilmente, tentando reverter tal situação. – Senhores, eu entendo a preocupação de vocês. Sinto-me muito lisonjeada pela dedicação ao meu querido irmão. Concordo com os senhores quando dizem que essa missão não é apenas um jogo, mas vou revelar-lhes algo que o William informaria a vocês em breve. Infelizmente, não deu tempo. Anne olhou para todos, sentou-se, sendo acompanhada pelos demais, e continuou o seu relato: – Ele me contou que estava de viagem marcada para a Rússia dentre em breve, pois estava também investigando algo pessoal naquele país. Confi11 Giseti Marques denciou-me o plano para completar a missão, e que, possivelmente, estivessem lá as respostas que vocês buscam. Um dos planos dele seria me levar junto – disse ela, calando-se e esperando a reação dos rapazes. Richard olhou assustado para Anne e perguntou irônico: – Você não pode estar falando sério? O William jamais arriscaria sua vida. Ele a amava demais. Anne olhou para ele e retirou da pequena bolsa que carregava umas folhas escritas, entregou-as aos rapazes e aguardou. Os jovens olharam com atenção. Richard, depois de conferir o conteúdo das folhas, disse: – Prima, isso não prova que o William queria que você fosse com ele. Ela sorriu e falou confiante: – Sim primo, isso prova! Esses roteiros o William fez para mim. Iria embarcar primeiro e depois ele, pois, sendo uma mulher, seria muito mais fácil me infiltrar e conseguir mais informações; afinal, quem suspeitaria de uma mulher? Eu falo fluentemente o russo. Meu professor é russo. Conheço seus costumes e sou uma admiradora de suas artes, da arquitetura. Por ser uma exímia pianista já morei alguns meses na Rússia. Minha função seria meramente estratégica, ou seja, eu serviria de ponte para o que meu irmão pretendia encontrar. Portanto, senhores, vocês precisam de mim, e eu quero fazer isso em memória do meu amado irmão, e não aceito não como resposta, até porque irei de qualquer jeito... O outro rapaz passou levemente a mão pelos cabelos e disse: – Tenho que admitir que o William não para de me surpreender! Para uma mulher inteligente como você, seria talvez mais fácil. Entretanto, a missão não é feita apenas por nós; somos um número considerável de irmãos e não podemos decidir por todos. Posso lhe assegurar senhorita que, apesar de tudo, eles não irão permitir. Anne levantou-se e falou calma, porém enérgica: – Ninguém precisa saber além de nós. O William também suspeitava que havia traidores dentro da missão e sua morte, infelizmente, comprova os seus pensamento; então, se os senhores falarem algo para os demais, podem estar correndo perigo de vida. – Mas, como vamos manter isso em segredo? – perguntou o outro. – Simples, é só não contar, e se acontecer algo comigo também não serão responsabilizados. Só terão que confiar em mim! 12 A Viagem – Uma Busca pela Verdade – Meu Deus, Anne, isso é uma loucura! Você é pior do que o William! – disse Richard, afobado. – Se acontecer algo com você eu nunca vou me perdoar, sua maluca! – Richard, meu querido primo, eu irei do mesmo jeito, apenas queria ajudá-los, como faria ao William. Sei do que ele suspeitava, e tenho certeza de que a sua morte foi apenas queima de arquivo. Os rapazes entreolharam-se em silêncio. Anne Carolyn era a segunda filha do emitente Marquês Edmund Alfred Stuart III, contava 19 anos, tinha cabelos negros, longos e lisos, olhos verdes, um metro e setenta centímetros de altura, pele branca e rosada. Era, sem dúvida, uma bela jovem. Tivera uma educação diferente das moças da época, pois desde cedo, incentivada pelo irmão, gostava de política, aprendera outros idiomas, e tinha uma tendência natural às causas sociais. Seu pai era um respeitado nobre de sangue azul. Havia herdado uma fortuna em terras e ouro, todavia, optou desde muito jovem pela carreira militar. Anne tinha dois irmãos: William, o primogênito, e Emily. William havia morrido há alguns meses, deixando uma dor irreparável em toda família. William era Capitão do exército de seu país e tinha várias medalhas de honra por sua bravura e inteligência. Tinha um espírito livre e uma generosidade admirada por todos. Apesar das suas muitas qualidades, fora morto em uma emboscada. Ele, com outros membros do exército, formaram uma irmandade secreta intitulada Os Águias. Era composta apenas de homens e reconhecida como um braço dentro do exército, pois tratava de descobrir possíveis problemas de ordem política e de segurança mundial. Nessa época, o mundo estava cercado por acordos políticos e apesar da hegemonia em que vivia o seu país, havia sempre o perigo de traição, sabotagem e roubo de informações. – Anne, o que suspeitamos é de interesse nacional, e envolve dois países ricos, prósperos e de um poder bélico muito grande, você entende? – Richard não me tome por uma tola! Sei muito bem os interesses que estão envolvidos nessa missão. Além do mais, o William me disse que nada estava provado, e que tudo era apenas suspeitas; todavia, se fosse verdade, poderia ser deflagrada uma guerra de proporções inimagináveis. A Rússia detém hoje um dos maiores exércitos do mundo e com interesses em tecnologia de armamentos, com leis bastante rígidas. Apesar da relativa paz, hoje, isso não impede de haver traições. Era isso que William temia. 13 Giseti Marques – Você poderia me informar como irá convencer meu tio para poder viajar? Sim, porque duvido muito que ele permitirá! – disse Richard, tentando mudar o assunto. Anne sorriu e disse confiante: – Tenho meus argumentos, meu querido primo! Meu pai é muito esperto e sei que ele me conhece muito bem... Entretanto, somos muito parecidos. Ele saberá que não descansarei enquanto não me der o seu aval para a viagem. Além do mais, ele está louco para me tirar de certo projeto, que, há mais de cinco meses, está em andamento. – Você está falando naquela loucura de ajudar aqueles maltrapilhos doentes, sujos e desagradáveis? Você é mesmo muito corajosa, minha prima! – olhou para os dois jovens que escutavam a conversa em silêncio e disse: – Vocês não acreditam, mas, essa bela jovem, juntamente com outras mulheres incentivadas por ela, montou uma casa de amparo para toda sorte de vagabundos, com a intenção de ajudá-los, dando-lhes comida, roupas, medicamentos... O pior não é isso: é que essa casa fica localizada na periferia, um local perigoso que abriga as mais terríveis criaturas. – Qual o mal disso, Richard? Vejo nisso um ato até heroico! – disse um dos jovens, admirando Anne. – Você só pode estar brincando, Peter! Isso é um incentivo para que eles não trabalhem, ou então, não busquem por si só suas melhorias. Nada deve cair do céu! Sou contra esse tipo de caridade que mais me parece um assistencialismo barato e sem propósito – respondeu Richard, mostrando-se zangado. – Richard, você fala isso porque desconhece a verdade daquelas pessoas. Não sabe o que está por trás daquelas misérias. Você teve meios para chegar onde está. Sei muito bem que se esforçou, todavia, se não tivesse nascido em berço de ouro, será que tinha conseguido chegar onde está? Talvez não... Nós, muitas vezes, somos desumanos com o nosso próximo. A palavra de Jesus não lhe remete a rever suas ideologias? Pois ajudo, e conhecendo um pouco mais da vida daqueles irmãos, pude aprender muita coisa, e até entender muito da nossa missão aqui na Terra. É por isso que não quero apenas estar aqui fazendo número. Quero fazer a diferença, e lutar por causas verdadeiras e justas, e não acho lícito alguns terem tanto e outros nada, a começar pela própria Igreja! Concordo com Lutero em muitos pontos, pois ele conseguiu naquela época um grande feito. 14 A Viagem – Uma Busca pela Verdade – Querida prima, não vou discutir isso com você, pois não chegaremos a lugar nenhum. Não concordo com você nesse aspecto em nada, mas lhe rendo homenagem pela sua coragem de lutar e fazer a diferença, principalmente sendo você uma mulher. E quanto à viagem para a Rússia, pode contar comigo! Os dois amigos também concordaram e Anne provou o gosto de mais uma vitória. 15