DOMINGO XXVIII do TEMPO COMUM – 11 de outubro de 2015
VAI, VENDE TUDO O QUE TENS E SEGUE-ME! – Comentário de Pe. Alberto Maggi OSM ao
Evangelho
Mc 10, 17-30
(Naquele tempo), 17quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se
diante dele, e perguntou: “Bom mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
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Jesus disse: “Por que me chamas de bom?” Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Tu
conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás;
não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua
mãe!”
Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”.
Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o
que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Mas
quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito
rico.
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Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos
entrar no reino de Deus!” 24Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele
disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! 25É mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus!”
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Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros:
“Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso
é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”.
23
Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”.
Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs,
mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do evangelho, 30receberá cem vezes
mais agora, durante esta vida - casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições - e, no mundo futuro, a vida eterna”.
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Para uma melhor compreensão dos textos evangélicos, devemos deixar-nos guiar pelas chaves
de leitura, quer dizer, pelos termos que o evangelista usa no seu relato para indicar o que ele
quer nos comunicar. Como nesta passagem, Evangelho de Marcos, capítulo 10, versículos 1730.
1
O evangelista escreve: ”Quando Jesus saiu a caminhar...”. Essa é a primeira indicação:
“Caminhar”. A estrada é o lugar da semeadura infrutífera, onde a semente é jogada! Mas logo
vieram as aves... (cfr. Mc 4,3-9). Portanto, o evangelista avisa que esse trecho vai alertar-nos
sobre uma semeadura infrutífera: a Palavra não será acolhida.
“... Veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele...”. Aqui temos outros dois elementos
importantes. Até o capítulo 10 de Marcos, só temos o episódio de uma pessoa que corre ao
encontro de Jesus, o endemoninhado - isto é, uma pessoa possuída por algo mais forte do que
ele que o mantém prisioneiro - e o leproso que se ajoelha diante de Jesus, isto é, uma pessoa
impura que, como se acreditava, era excluída por Deus.
Portanto, o evangelista está nos dizendo que esse “alguém” é mais possuído do que um
endemoninhado e mais impuro de que um leproso.
A preocupação desse “alguém” - que é anônimo e, portanto, significa que ele é um personagem
representativo - é: “o que devo fazer para ganhar a vida eterna?”.
Pois bem, Jesus lhe responde de um jeito meio chateado, porque Ele veio para inaugurar o
Reino de Deus, quer dizer, uma sociedade alternativa. Ele não veio para dar instruções de como
“ganhar a vida eterna”!
No entanto, Jesus, em resposta, o remete para Deus e seus mandamentos. Porém, aqui Jesus
elimina os três mandamentos que eram exclusivos de Israel, os mandamentos mais
importantes, as obrigações para com Deus e enumera apenas cinco mandamentos,
acrescentando um preceito relativo ao comportamento em relação aos outros seres humanos.
Para ganhar a vida eterna, não importa como e o que se acreditou, mas importa como foram
amados os irmãos! E Jesus vai enumerando ao homem: “não matarás; não cometerás
adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho...”. E Jesus aqui coloca “não
prejudicarás ninguém” que era um preceito e não um mandamento. Porque Jesus o coloca
entre os mandamentos, dando-lhe o valor de mandamento?
É uma passagem do livro de Deuteronômio (24,14-15) onde se pede para não prejudicar enganar - os trabalhadores e empregados. Então, Jesus insinua que à base de toda a riqueza porque nós veremos que esse “alguém” é muito rico - há sempre fraude e trapaça.
E, em seguida, conclui com “... honra teu pai e tua mãe!”.
2
O homem afirma ter feito todas estas coisas desde a juventude. O texto grego mostra que o
indivíduo enche a boca, empolgado, orgulhoso de tudo isso... Na língua grega, para expressar
este jeito de falar se diz “táuta pánta”. É uma expressão que enche a boca!
Então, Jesus “olhou para ele com amor, e disse: Só uma coisa te falta”. A tradução literal é:
Jesus “o fixou e o amou e disse: ‘um te falta’”. Não “uma só coisa te falta”, quer dizer, "você
fez tudo ótimo, acrescenta ainda uma coisa”. Não. "Um te falta" era uma expressão para
indicar: “tudo te falta”. Em outras palavras: tamanha observância dos mandamentos, muitas
observâncias religiosas fizeram de você não uma pessoa feliz, mas - como vimos – angustiada e
preocupada!
Então, Jesus que o ama, lhe propõe de ser feliz fazendo os outros felizes. Ele veio correndo e
“ajoelhou-se diante” de Jesus para ter mais - para obter um conselho para “ganhar a vida
eterna” - e Jesus o convida a dar mais. Na verdade, Jesus diz: “...vai, vende tudo o que tens e
dá aos pobres...” - isto é, “faça os outros felizes para você ser feliz” - “...e terás um tesouro no
céu”, isto é, em Deus.
“Vem e segue-me!”. Esse “alguém” não se deu bem encontrando Jesus. De fato, “quando ele
ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza...” – e eis a conclusão do evangelista –
“... porque era muito rico”. É por isso que o evangelista Marcos, no início, apresentou esse
indivíduo que corre como um homem possuído e se ajoelha como um leproso impuro. Ele
acreditava possuir os próprios bens, na realidade ele estava possuído por eles! A posse desses
bens e o egoísmo que nascem desse ter fechava-o à comunicação com Deus.
Sua condição é mais grave daquela do leproso que Jesus havia purificado e ainda mais grave
daquela do possuído pelo demônio que Jesus havia libertado.
Agora, Jesus se volta para os seus discípulos e exclui absolutamente que, em sua comunidade,
possa entrar um rico, porque na comunidade do Reino, há lugar para os senhores, mas não
para os ricos.
Qual é a diferença?
O senhor é quem dá, compartilha com os outros; o rico é aquele que tem e retém tudo para si
mesmo.
Portanto, Jesus explica “como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!”. Essa afirmação
de Jesus cria confusão entre os discípulos! Felizes em pensar que finalmente no grupo deles
entrasse um abastado, um rico que pudesse prover ao sustento do próprio grupo de discípulos
que haviam deixado tudo para seguir Jesus... Mas... Jesus o deixa ir embora!
3
“Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: ‘Então,
quem pode ser salvo? ’”. Não se trata aqui da salvação eterna! O verbo usado indica sustentar,
sobreviver, escapar de um perigo. Em outras palavras, os discípulos se perguntavam: “Como
podemos sobreviver se Jesus não quer que alguém que tem dinheiro entre no nosso grupo?”
E Jesus responde: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus”. Os homens pensam
que a segurança esteja na acumulação! Para Jesus a segurança e a felicidade estão na partilha
com os outros.
Então, quem reage agora é o discípulo Pedro, que, desafiadoramente, diz: “Eis que nós
deixamos tudo e te seguimos”. Aqui, Jesus responde listando uma série de sete impedimentos
que, se dificultarem a segui-Lo ou impedirem a plenitude da felicidade, devem ser eliminados!
Por isso afirma: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai,
filhos, campos, por causa de mim e do evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante
esta vida...” - à mínima renúncia corresponde a plena abundância - “cem vezes mais”.
O número cem indica as bênçãos! “Casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições e, no mundo futuro, a vida eterna”. É a vida eterna que é herdada, não
se obtém por seus próprios esforços, mas é um dom por parte de Deus.
Depois há um último versículo, que é importante, mas não está no texto litúrgico de
hoje! O versículo 31: “Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos
que agora são os últimos serão os primeiros!”. Jesus havia encontrado “alguém” que
na sociedade era considerado um “primeiro” e o convida a fazer-se “último” de modo
que os últimos possam sentir-se primeiros!
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