HISTÓRIAS PARA AS FESTAS DO ANO
INTRODUÇÃO
Nos contos de fadas estão representados aspectos humanos fundamentais, através de suas imagens e
personagens.
Quando narramos um conto, estamos transmitindo o desenvolvimento de uma individualidade. Por
isso, é necessário fazê-lo com devoção e alegria.
As histórias nos falam de lutas e vitórias, sofrimentos e alegrias humanas, mas estas têm como
cenário o íntimo do ser humano.
As crianças que têm a possibilidade de receber estes conteúdos, se fortalecer para trilhar o seu
próprio caminho na vida e receber qualidades anímicas que nortearão sua conduta.
Para a criança até 7 anos de idade, quanto mais ouvir integralmente e repetidas vezes o mesmo
conto (aproximadamente 28 dias consecutivos), melhor, para que este possa fazer parte de suas
vivências.
O que é recebido na infância se torna um verdadeiro tesouro e aqui estão selecionados algumas
histórias para enriquecê-las e fazerem verdadeiramente de suas vidas um conto de fadas
inteiramente animado.
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Índice
Histórias para as Festas do Ano .......................................................................................................... 1
Introdução ....................................................................................................................................... 1
Índice........................................................................................................................................... 2
ÉPOCA DA PÁSCOA .................................................................................................................... 3
História para a Páscoa (3 anos) ................................................................................................... 3
O Coelho da Páscoa (Jardim e Pré) ............................................................................................. 3
Os Sete Corvos............................................................................................................................ 5
Jorinda e Jorindo ......................................................................................................................... 8
Os Três Irmãos (Pré) ................................................................................................................... 9
ÉPOCA DE SÃO JOÃO ............................................................................................................... 11
Os Três Anões Do Bosque ........................................................................................................ 11
Como João veio do Céu para a Terra ........................................................................................ 15
São Pedro, o Rico e o Pobre...................................................................................................... 16
Pérola de Orvalho e Estrela de Neve......................................................................................... 17
A Menina da Lanterna............................................................................................................... 19
ÉPOCA DE MICAEL ................................................................................................................... 22
Rosinha de Espinho................................................................................................................... 22
A Princesa do Castelo de Chamas............................................................................................. 24
Os Cavalos Encantados ............................................................................................................. 26
São Micael................................................................................................................................. 29
Natal .............................................................................................................................................. 31
São Nicolau ............................................................................................................................... 31
A Noite Santa ............................................................................................................................ 31
O Vaga-Lume na Noite Santa ................................................................................................... 33
Quando um Anjinho jogou estrelinhas à Terra e tinha que procurá-las .................................... 33
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ÉPOCA DA PÁSCOA
História para a Páscoa (3 anos)
Era uma vez uma lagarta feia, peluda que se arrastava no jardim. Quando encontrava um galhinho
cheio de folhinhas verdes, lá subia e se punha a devorar toas as folhinhas.
Um dia avistou uma linda borboleta amarela, a voar feliz pelo jardim. A borboleta beijava todas as
flores: rosas, jasmins, alecrins e dançava feliz com o vento para lá e para cá.
A lagarta, muito triste pensou: "Gostaria tanto de voar e as flores cumprimentar." Muito triste, um
casulo fabricou, nele entrou e dormiu profundamente.
Enquanto dormia sonhava com as cores do arco-íris, com as fadas e com os elfos.
Veio a chuva, veio o vento, veio o frio, mas a lagarta não acordava.
Um dia o sol mandou seu raio e disse:
- "Dona lagarta está na hora de acordar."
A lagarta acordou, mas se sentiu diferente.
Olhou para si e viu que tinha duas lindas asas azuis da cor do céu.
Alegre, pôs-se a bater as asas e, com esforço, conseguiu sair do chão e começou a voar.
Voando, correu para as flores cumprimentar.
Agora muito feliz está e quem sabe um dia nós a vamos encontrar!
O Coelho da Páscoa (Jardim e Pré)
Conto russo
Era uma vez um Papai Coelho e uma Mamãe Coelho, que tinham sete filhos. Então, quando chegou
a Páscoa, queria saber qual dos seus filhos seria o verdadeiro Coelho da Páscoa.
A mãe foi buscar uma cesta com sete ovos e cada filho pôde escolher um.
O mais velho dos coelhinhos logo pegou um ovo de ouro, correu pêlos campos e subia e descia
morros, chegou até o Jardim de Infância e, com um grande salto, tentou chegar no outro lado do
portão. Mas, como estava com muita pressa, não mediu bem o salto e caiu, quebrando o ovo.
Este, com certeza, não era o verdadeiro coelho de Páscoa.
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O segundo dos filhos escolheu o ovo de prata e pôs-se a caminho. Quando chegou ao campo
encontrou uma raposa. A raposa desejava muito ter o ovo de prata e perguntou se o coelho não o
daria de presente. Mas isto o coelho não queria. Então a raposa prometeu uma moeda de ouro em
troca do ovo e o levou até sua toca. Ali escondeu o ovo de prata, escancarou o seu focinho como se
fosse devorar o coelho e, este, assustado, fugiu deixando o ovo com a raposa.
Este, com certeza, não era o verdadeiro coelho de Páscoa.
O terceiro coelhinho escolheu o ovo vermelho pôs-se a caminho. Quando passava pêlos campos
encontrou outro coelho e pensou: - "Ainda tenho tanto tempo que vou brincar de luta com este
coelho." Os dois coelhinhos lutaram bastante e quando nosso coelhinho lembrou-se do ovo
vermelho, este estava quebrado e amassado.
Este, com certeza, não era o verdadeiro coelho de Páscoa.
O quarto coelhinho escolheu o ovo verde e pôs-se a caminho. Quando passava pela floresta, a
Gralha Ladrona o avistou do alto de uma árvore e gritou: - "Olha a raposa, olha a raposa." O
coelhinho, assustado, olhou ao seu redor e procurou um lugar para esconder o ovo verde. Então a
Gralha disse; - "Eu escondo o ovo para você." O coelhinho deu o ovo à Gralha que o guardou em
seu ninho. Agora, percebendo que não vinha nenhuma raposa pediu o ovo verde de volta à Gralha,
mas esta respondeu: - "O ovo está bem no meu ninho”.
Este, com certeza. não era o verdadeiro coelho de Páscoa.
O quinto coelhinho escolheu o ovo cinza e pôs-se a caminho. Atravessando a floresta chegou a um
riacho e, quando estava atravessando a ponte, viu a sua imagem refletida na água e ficou tão
encantando com ela que não conseguiu continuar o caminho. De tanto se mirar no espelho da água
esqueceu seu ovo cinza e este caiu partindo-se em uma pedra.
Este, com certeza. não era o verdadeiro coelho de Páscoa.
O sexto coelho escolheu o ovo de chocolate e pôs-se a caminho. Encontrou-se com o esquilo que
lhe pediu para dar uma lambida no ovo. “Mas este ovo é para as crianças”, disse o coelho.
O esquilo insistiu tanto que o coelho deixou que ele desse uma lambida no ovo. O esquilo achou-o
tão gostoso que o coelhinho resolver dar também uma lambidinha. Lambida vai, lambida vem, os
dois acabaram comendo o ovo. Esse também não era o coelho de Páscoa.
Chegou então a vez do mais jovem. Ele escolheu o ovo azul. Quando passou pelo campo, veio-lhe
ao encontro a raposa, mas o coelho não entrou na conversa dela e continuou o seu caminho. Mais
adiante encontrou o outro coelhinho que queria lutar com ele, mas ele não parou. Continuou
caminhando até chegar à floresta. Ouviu os gritos da pega – “Cuidado! A raposa vem vindo!”. O
coelho não se deixou enganar e continuou seu caminho. Chegou então ao riacho e cuidadosamente
atravessou a ponte sem olhar para sua imagem refletida na água. Encontrou-se mais adiante com o
esquilo, mas não lhe permitiu lamber o ovo, pois este era para as crianças. Chegou assim até o
portão da escola. Deu um salto, nem curto nem longo demais, chegando ao outro lado sem danificar
o ovo. Procurou um esconderijo adequado no jardim da escola onde guardou cuidadosamente o ovo.
Esse era o verdadeiro “Coelho da Páscoa”.
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Os Sete Corvos
Houve, em outros tempos, uma viúva que tinha oito filhos, sendo sete rapazes e uma menina. Esta,
apesar de ser muito pequena, já era muito linda e muito dócil; os sete irmãos, ao contrário, eram tão
maus e desobedientes, que ao velho avô se tornava impossível governá-los.
Um dia aconteceu que os sete rapazes brincaram fora de casa mais tempo do que lhes havia sido
concedido e não atenderam à ordem de sua mãe, que os chamara. Afinal, resolveram voltar para
casa, mas entraram fazendo muito barulho e más-criações. A mãe, indignando-se com o mau
procedimento dos filhos, exclamou:
- Acomodem-se, meninos perversos! Urubus malditos!...
Mal acabara de pronunciar essas palavras, eis que os rapazes se transformaram em sete urubus, que
principiaram a grasnar e a voar, e saíram, por fim, pela janela que estava aberta, desaparecendo no
horizonte.
A mãe e o avô ficaram aterrorizados diante de tão triste espetáculo e a irmãzinha, compreendendo a
terrível situação, começou a chorar, consolando-se somente quando a mãe e o avô lhe disseram que
certamente os irmãos voltariam para casa, novamente transformados em meninos, como eram antes.
Passaram-se muitos anos e os irmãos não voltaram; a mãe e o avô já tinham perdido a esperança de
tornar a vê-los. Somente a irmãzinha, por essa época uma moça muito linda, continuava a alimentar
a esperança de vê-los um dia voltar para casa.
Não podem ter voado para fora do mundo, pensava ela. Irei procurá-los por toda a parte porque, se
não o fizesse, não teria paz durante toda a minha vida. Assim resolvida, pediu licença a sua mãe e
ao avô e, despedindo-se, partiu, levando um cesto com mantimentos e um banquinho para
descansar.
Em todas as aldeias onde chegava, perguntava se não tinham visto os sete urubus, ao que todos
respondiam negativamente.
Por esta forma andou durante muito tempo, sem encontrar vestígio de seus infelizes irmãos.
Uma tarde, achando-se muito fatigada, deitou-se perto de um bosque e adormeceu. Ao despertar,
viu brilhar no firmamento a estrela d’alva, que fazia refletir sobre ela o seu brilho resplandecente.
Diante de tão sublime espetáculo não pôde deixar de exclamar:
Oh! Tu, estrela tão linda,
A ti, peço, estendo a mão.
Procuro, choro por eles,
Dize-me tu, onde estão?
A linda estrela logo se transformou em um galante menino, de cabelos loiros e anelados, vestido de
branco, que, descendo do céu, lhe disse, entregando uma chave de ouro:
Habitam os teus irmãos
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No cimo do Montebelo;
Toma esta chave, menina.
Abre a porta do Castelo.
Depois tornou a subir para o céu, desaparecendo através das nuvens.
A menina, muito contente, começou logo a caminhar na direção indicada e dentro em breve achouse no Castelo do Falcão.
Neste castelo tinha morado antigamente um conde, em companhia de um único filho; não se sabe
porque, um dia, uma fada má dissera ao pobre pai: “- Seu filho será transformado em um falcão
feroz, até que a estrela d’alva lhe mande uma noiva. Todas as suas riquezas serão escondidas em
uma caixinha e você será transformado em um anão para guardá-las. Quando chegar a noiva do
falcão, poderá entregar-lhe a caixa, acabando nessa ocasião o seu encanto e o de seu filho”. A fada
desapareceu e a sua predição imediatamente se realizou: o belo jovem se transformou em um falcão
feroz e o conde em anão de barbas brancas. Tudo o que existia no castelo desapareceu, ficando nele
somente as salas vazias, uma caminha, uma mesa e a caixinha fechada.
Fôra neste triste e sombrio palácio que os sete urubus acharam guardiã, depois de terem vagado
durante muito tempo pelo espaço. Ao se apresentarem, eles juraram fé ao falcão e prometeram não
o abandonar, até que para todos chegasse o dia da libertação de tão horrível encanto. Ao chegar ao
castelo, a jovem, encontrando a porta fechada, tocou com a chave de ouro na fechadura, aparecendo
logo o anão, que lhe perguntou o que queria.
- Aqui vim, respondeu ela, por ordem da estrela d’alva, à procura dos sete urubus.
Ouvindo isto, o anão inclinou-se reverentemente diante dela e respondeu:
- Os urubus não estão em casa; foram à caça juntamente com o falcão, meu filho. Convido-a a
esperar até à meia noite, pois estou certo que ficarão alegres e satisfeitos em vê-la aqui quando
voltarem. E assim falando, o anão a fez subir para o quarto, acrescentando:
- Como vê, a mesa está posta e a cama feita; espero que coma e beba à vontade e que depois durma
até o despontar da madrugada. A jovem, aceitando com prazer o convite, serviu-se das finas
iguarias e vinhos que estavam sobre a mesa, deitando-se em seguida e adormecendo com um sono
tão profundo, do qual não despertou nem com o ruído que os urubus e o falcão fizeram ao se
recolherem.
Estes haviam chegado à meia-noite e o anão, muito alegre, logo lhes disse:
- Silêncio! No aposento da torre está dormindo uma jovem que a estrela d’alva nos enviou.
- É a minha noiva, gritou alegremente o falcão, subindo apressadamente a escada que conduzia ao
aposento onde a jovem dormia.
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Ao entrar no quarto, devido, talvez, à emoção, não lhe foi possível ver o seu rosto. Por esse motivo,
muito triste, tornou a descer a escada à procura dos companheiros. Preocupados, os sete urubus
juntaram-se ao seu amigo falcão e ao anão e subiram todos juntos para ver o que havia de verdade.
Ao entrar, viram sobre a cama, deitada e adormecida, uma jovem muito formosa. Sentaram-se ao
redor do leito e seus olhos fitaram, com alegria e espanto ao mesmo tempo, o gentil rosto da jovem.
Passada a primeira emoção, o urubu mais velho disse para os seus irmãos:
- Não me resta a menor dúvida de que esta jovem é a nossa querida irmã. Como está crescida e
formosa!
- É verdade, acrescentou o segundo, é mesmo a nossa boa irmãzinha; reconheço-a pelos seus
cabelos loiros e ondulados.
- E eu, pelas suas lindas faces.
- E eu, pela interessante covinha.
- E eu, reconheço-a muito bem pelas suas lindas mãozinhas.
- E eu, pelo anel que usa.
- E eu, decerto a reconheceria também, disse o último, se ela abrisse seus belos olhos; oh! Se ela
isto fizesse, logo poria termo ao mau encanto que nos persegue!
Os sete irmãos resolveram logo acordar a menina, mas o anão a isso se opôs, dizendo:
- Pelo amor de Deus, não façam isso; o que devem fazer é transportá-la imediatamente para a casa
de sua mãe, visto que, para que seja quebrado o nosso encanto, necessário é que ela saia deste
castelo durante o sono; e o anão colocou no colo da menina a caixinha que encerrava as suas
riquezas. Quando ela despertar em casa de sua mãe, imediatamente todos nós ficaremos livres do
encantamento.
Momentos depois os sete urubus transportavam sua irmãzinha para a casa de sua mãe e depois que
ali a deixaram, voltaram apressados para o castelo encantado.
Algum tempo depois a jovem despertava e sua mãe e o avô, encarando-a assustados, perguntaramlhe:
- Então, onde estão seus irmãos?
- Eles também hão de vir, respondeu a menina. Dizendo isto, entrou no quarto e abriu a caixinha
com a chave de ouro.
E querem saber o que dentro dela havia?
Nada mais nada menos que um pequeno espelho.
A jovem tirou-o da caixinha e ao colocá-lo diante dos olhos, as suas faces tingiram-se de vivo
carmim, pois a sua imagem vista no espelho apresentava-se adornada de ouro e pedras preciosas,
como se fora a noiva de um rei.
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Ainda se achava sob a impressão de tão agradável surpresa e eis que, como por encanto, surge à sua
frente o jovem filho do conde do Castelo do Falcão, acompanhado pelos seus sete irmãos, então já
sob a forma de esbeltos moços. Eles abraçaram e beijaram sua mãe e seu avô; e o conde, com
grande satisfação, pediu que lhe concedessem a jovem para esposa, no que foi atendido com grande
contentamento de todos.
Uma alegria contagiante invadiu então o sombrio Castelo do Falcão, onde reapareceu o luxo e o
brilhantismo dos tempos passados e ali se celebrou o mais feliz e festejado casamento de que há
memória. Os sete irmãos tornaram-se homens estimados e dignos pelo resto da vida.
Jorinda e Jorindo
Era uma vez um velho castelo situado bem ao centro de uma vasta e cerrada floresta. Ali morava.
sozinha, uma velha que era mestra em feitiços. Durante o dia tomava a forma de um gato ou de uma
coruja e, ao chegar a noite, recuperava o seu aspecto humano. Sabia atrair toda espécie de caça e
aves, que depois ela matava, cozia ou assava. Cada pessoa que se aproximasse a cem passos do
castelo ficava imobilizada, sem poder mover-se do lugar até que a bruxa aparecesse para libertá-la
e, sempre que uma bela moça caía no círculo mágico, a velha a transformava num pássaro que
metia numa gaiola e guardava em uma sala do castelo. Tinha perto de sete mil gaiolas com essas
aves raras.
Vivia naquela época, uma jovem chamada Jorinda, muito linda, mais linda do que qualquer outra.
Era noiva de um belo rapaz que tinha o nome de Jorindo. E, naturalmente, o que mais lhes agradava
era estarem sempre juntos. Certa vez, para poderem conversar a sós, foram dar um passeio pela
floresta.
— Cuidado! — disse Jorindo. — Não te aproximes muito do castelo.
Era um belo entardecer. O sol brilhava por entre os ramos das árvores, banhando com sua luz o
verde escuro da floresta e uma pombinha-rôla cantava seus lamentos no alto de uma velha faia.
De repente, Jorinda começou a chorar e Jorindo a lamentar-se. Os dois se sentiram tomados de uma
estranha angústia, como se estivessem pressentindo a morte.
Olharam em redor, desconcertados. Não sabiam mais como voltar para casa. O sol se ocultava e só
a metade do seu disco aparecia por trás de uma montanha, quando Jorindo, olhando o matagal,
avistou o velho muro do castelo a bem pouca distância. Aterrado, sentiu aumentar sua angústia,
enquanto Jorinda se punha a cantar:
Meu pássaro do anel vermelho
Canta o teu lamento... teu lamento...
Jorindo olhou para Jorinda. A moça se havia transformado num rouxinol e cantava agora como um
pássaro.
Uma coruja, de olhos de fogo, passou três vezes em vôo sobre sua cabeça, gritando cada vez: Chuh!
Hu! Hut. Jorindo não mais conseguiu mover-se; estava petrificado, sem poder falar, nem mexer
com as mãos ou os pés.
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Naquele momento o sol desapareceu por completo. A coruja voou até um arbusto e, logo depois,
saiu dali de perto uma velha encurvada, magra e macilenta. Tinha os olhos grandes, vermelhos, e o
nariz, curvo, tocava o queixo pontiagudo. Engrolou qualquer coisa, apanhou o rouxinol e levou-o
pousado na sua mão. Jorindo não pôde pronunciar uma palavra nem mover-se do lugar. O rouxinol
desaparecera. Finalmente, a bruxa voltou e, com voz rouca, disse estas misteriosas palavras:
—Salve, Zaquiel! Quando a lua brilhar, desamarra-o, Zaquiel!
E Jorindo ficou livre do encantamento. Prostrando-se aos pés da velha, suplicou que lhe devolvesse
a sua Jorinda. Mas a bruxa respondeu-lhe que ele jamais tornaria a vê-la, e afastou-se. O jovem
começou a chorar e a lamentar-se, mas tudo em vão. "Que será de mim?" soluçava ele. Finalmente,
acabou indo embora daquele lugar. Um dia, chegou a uma aldeia desconhecida, onde ficou por
muito tempo trabalhando como pastor de ovelhas. Seguidamente caminhava pêlos arredores do
castelo, mas sem aventurar-se a chegar perto dele.
Certa noite sonhou que havia encontrado uma flor vermelha como o sangue e que tinha no centro
uma linda pérola de grande tamanho. Arrancou a flor e com ela se dirigiu ao castelo. Tudo o que
tocava era, no mesmo instante, libertado do feitiço. Sonhou, também, que dessa maneira havia
recuperado sua Jorinda.
Quando se levantou pela manhã, saiu a procurar, por montes e vales, uma flor como a do seu sonho.
Já estava procurando há nove dias quando, finalmente, de madrugada, deu com a flor vermelha
como sangue, que tinha, bem ao centro, uma gota de orvalho do tamanho da mais linda pérola.
Jorindo cortou-a e com ela se dirigiu para o castelo. Quando chegou a cem passos dele, não ficou
imobilizado e pôde continuar andando até o portão. Contentíssimo, tocou-o com a flor e ele se abriu
repentinamente. Atravessou o pátio, prestando ouvido para localizar onde estavam as aves. Por fim,
depois de algum tempo, ouviu o seu canto. Entrou na sala e viu a bruxa alimentando os pássaros
encerrados nas sete mil gaiolas. Quando a velha avistou Jorindo, ficou furiosa e pôs-se a insultá-lo.
Cuspia veneno, mas não conseguiu aproximar-se dele mais que dois passos. O jovem, sem fazer
caso da bruxa, foi às gaiolas que continham os pássaros. Entretanto, diante de centenas de
rouxinóis, como reconhecer sua Jorinda? Enquanto continuava a procurar, notou que a velha
retirava, furtivamente, uma das gaiolas e se encaminhava para a porta. Precipitou-se sobre a bruxa e
tocou com a flor a velha e a gaiola. Nesse instante, findou todo o seu poder de bruxaria e Jorinda
reapareceu diante dele, tão formosa como antes e atirou-se em seus braços. A seguir, o jovem
libertou todas as outras moças transformadas em aves. Isto feito, regressou para casa com sua
Jorinda e, durante muitos e muitos anos, viveram na mais completa felicidade.
Os Três Irmãos (Pré)
Era uma vez três irmãos já crescidos. Moravam num reino onde havia uma princesa muito bonita.
Os três queriam se casar com a princesa. Mas, para casar com ela, o rei exigia que trouxessem um
ramo de folhas de ouro que existia no centro da floresta.
Os três partiram, cada um por um caminho.
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O mais velho chegou a uma pedra onde estava um anãozinho. O anãozinho o cumprimentou e pediu
alguma coisa para comer. O irmão mais velho respondeu que tinha um longo caminho e não podia
dividir o seu alimento. Seguiu em frente e encontrou uma borboleta muito grande e logo quis
apanhá-la, mas a borboleta foi voando, voando e o levou a uma clareira onde tinham tantas
borboletas voando que o deixaram tonto. Com raiva, então, começou a persegui-las até chegar a um
local cheio de lindas folhagens. Porém, nesse lugar moravam negras taturanas que queimavam
quem ali chegasse. E ele perdeu-se na floresta.
O segundo irmão seguiu por outro caminho e também encontrou o anãozinho sentado sobre uma
pedra. Quando o anãozinho lhe pediu comida não quis dar e respondeu que o seu caminho era muito
longo. Logo adiante encontrou a grande borboleta e quis pegá-la, mas ela foi voando, voando e o
levou para a clareira onde haviam muitas borboletas que o deixaram tonto. Ficou com muita raiva e
começou a persegui-las até chegar naquele lugar, onde moravam as negras taturanas que
queimavam quem se aproximasse- E ele também se perdeu na floresta.
O terceiro irmão seguiu por outro caminho e chegou naquela pedra onde o anão estava sentado. O
anão cumprimentou-o e pediu-lhe um pouco de pão. O rapaz dividiu, repartiu seu pão com o anão e
lhe deu também um pouco de vinho. O anão, então, lhe disse que iria encontrar uma grande
borboleta, mas que não deveria segui-la. Mais adiante encontraria outra borboleta, muito especial
que lhe mostraria, indicaria um caminho. Seguindo tal caminho chegaria a um lugar onde moravam
muitas borboletas coloridas. Nesse tal lugar morava também um coelho encantado que poderia
ajudá-lo.
O rapaz fez tudo como o anão havia mandado. Quando o coelho o viu, levou-o para um jardim
fechado, onde cresciam folhagens muito raras, e no meio desse jardim estava o ramo das folhas de
ouro. O rapaz ficou muito contente, agradeceu ao coelho e foi levar o ramo para o rei.
O rei mandou fazer uma festa muito grande e o rapaz casou-se com a linda princesa.
Viveram felizes durante muito tempo e se não morreram vivem até hoje.
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ÉPOCA DE SÃO JOÃO
Os Três Anões Do Bosque
Era uma vez um homem que perdera a mulher, e uma mulher que perdera o marido, ficando viúvos
os dois. O homem tinha uma filha e a mulher outra. As moças se conheciam, passeavam juntas e às
vezes a filha do viúvo ficava na casa de sua amiguinha. Um dia, a mãe desta última falou à outra
moça:
—Dize a teu pai que eu gostaria de casar com ele. Tu passarias, todas as manhãs, a lavar-te com
leite e beberias vinho; minha filha, porém, se lavaria com água e só água beberia.
Chegando em casa, a jovem repetiu ao pai o que lhe dissera a mulher. Ele, então, observou:
—Que hei de fazer? Casar é bom, mas não deixa de ser um problema.
Por fim, não sabendo o que fazer, tirou uma de suas botas e disse:
— Leva esta bota, que tem um buraco na sola, até o sótão e pendura-a no prego grande. Enche-a
depois com água. Se a bota conservar a água, casarei de novo; se a água passar pelo buraco, não me
casarei.
A jovem fez o que lhe foi mandado. A água contraiu o couro e a bota ficou cheia até a borda.
Correndo, a moça dirigiu-se ao pai para lhe contar o que acontecera. Ele subiu ao sótão e, vendo
que a filha encaminhou-se à casa da viúva para pedi-la em casamento. E celebraram-se as núpcias.
Na manhã seguinte, quando as duas moças se levantaram, a filha do marido encontrou leite para se
lavar e vinho para beber, enquanto a outra não tinha senão água para se lavar e para beber. No outro
dia, encontraram água para se lavar e água para beber, tanto a filha da mulher como a do esposo. E
na terceira manhã, a enteada da mulher encontrou água para se lavar e para beber, e a sua filha, leite
para se lavar e vinho para beber.
Daí por diante, continuou sendo assim. A mulher odiava a enteada e não sabia mais o que inventar
para tratá-la pior. Tinha-lhe, também inveja, por ser tão linda e graciosa quanto sua filha era feia e
desajeitada.
Certa vez, no inverno, estando as montanhas e os vales cobertos de neve, a mulher fez um vestido
de papel e, chamando a enteada, disse-lhe:
— Toma, põe este vestido; vai à floresta e enche este cesto de morangos, que estou com vontade de
comer alguns.
— Meu Deus! — exclamou a moça. — Não há morangos no inverno, a terra está gelada e a neve
cobriu tudo. E por que devo pôr este vestido? Lá fora faz um frio horrível! O vento passará pelo
papel e os espinhos o arrancarão do meu corpo.
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— Queres desobedecer-me! — gritou a madrasta. — Anda, sai em seguida e não voltes sem me
trazer o cesto cheio de morangos!
Deu-lhe um pedaço de pão, bem duro, e acrescentou :
— É para passares o dia.
Estava convencida de que a moça iria morrer de frio e fome e que jamais tornaria a vê-la.
Obediente, a jovem pôs o vestido de papel e saiu com o cestinho. Fora, tudo estava coberto de neve
e não se via ao menos um raminho verde. Chegando ao mato, ela avistou uma casinha, de onde três
anõezinhos olhavam pela janela. Deu-lhes "bom dia" e bateu, discretamente, à porta. Eles
convidaram-na a entrar e a moça sentou-se num banquinho, junto ao fogo, para aquecer-se e comer
sua merenda. Os homenzinhos lhe pediram:
—Dá-nos um pedacinho!
— Com muito prazer, — respondeu ela, e, partindo seu pedaço de pão, ofereceu-lhes a metade.
Perguntaram, então, os anões:
—Que fazes aqui no bosque, no inverno, e com esse vestido tão fininho?
—Ah!—suspirou ela. —Devo encher este cesto de morangos e não posso voltar para casa antes de
colhê-los.
Depois de comer seu pedaço de pão, os anões lhe deram uma vassoura, dizendo:
— Varre para nós a neve da porta dos fundos.
Enquanto a jovem estava do lado de fora, eles se reuniram em conferência:
— Que lhe daremos por tão obediente e boa que até repartiu seu pão conosco?
—Disse o primeiro:
—Farei com que ela se torne, cada dia, mais bela!
E o segundo:
— Farei com que lhe caia uma moeda de ouro da boca a cada palavra que disser!
E o terceiro:
—Farei vir um rei que casará com ela.
Enquanto isto, a menina fez o que os homenzinhos lhe haviam pedido e varreu toda a neve detrás da
porta.
E o que pensam vocês que ela encontrou'? Uma porção de moranguinhos, bem maduros, assomando
vermelhos, no meio da neve. Contente, encheu o cestinho e, depois de agradecer aos pequenos
hospedeiros e ter dado a mão a cada um, dirigiu-se para casa a fim de entregar à madrasta a sua
encomenda.
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Quando entrou em cada e disse "boa noite”, caiu-lhe da boca uma moeda de ouro. Pôs-se, então, a
contar o que lhe sucedera e, a cada palavra, caíam moedas de sua boca, de modo que, em pouco
tempo, o chão ficou rebrilhando de ouro.
—Vejam só—exclamou a irmã.—Esparramar dinheiro desse modo!
Por dentro, no entanto, sentia inveja. Por isso, quis ir ao bosque colher morangos. Sua mãe se opôs,
dizendo-lhe:
— Não, filhinha; faz muito frio e poderás morrer gelada.
Mas a filha insistia sem lhe dar sossego e ela acabou cedendo. Preparou-lhe um magnífico casaco
de peles e depois lhe deu uma provisão de pão com manteiga e bolos.
A jovem foi ao bosque e dirigiu-se, diretamente, à casinha. Os três anõezinhos estavam, novamente,
à janela, mas a moça não os cumprimentou e, sem dar-lhes atenção, entrou, sentou-se junto ao fogo
e começou a comer pão e bolo.
— Dá-nos um pouco, — pediram os homenzinhos.
Ela, entretanto, respondeu-lhes:
— Nem tenho que chegue para mim. Como posso repartir com outros?
Quando terminou de comer, eles disseram:
— Aí tens uma vassoura, varre para nós a neve da porta dos fundos.
— Ora! Varram vocês! — respondeu ela. — Não sou criada de ninguém!
Vendo que eles não lhe iam dar presente algum, saiu da casa. Os homenzinhos, então, se reuniram,
de novo em conferência:
—Que lhe daremos? Ela é grosseira, tem o coração maldoso e cheio de cobiça e é incapaz de
repartir com outros.
Disse o primeiro:
— Farei com que cada dia se torne mais feia!
E o segundo:
— Farei, a cada palavra que ela diga, saltar-lhe um sapo da boca.
E o terceiro:
— Farei com que tenha uma morte horrível!
A jovem, lá fora, pôs-se a procurar morangos, mas, não encontrando nenhum, voltou, aborrecida,
para casa.
Quando abriu a boca para contar à mãe o que lhe acontecera, eis que, a cada palavra sua, um sapo
lhe saltava da boca. E todas as pessoas se afastaram dela, enojadas.
13
Aquilo fez com que a mulher se enchesse ainda mais de ódio e, daí por diante, só pensava num
meio de maltratar o mais possível a filha de seu marido, que ia ficando mais bonita dia a dia. Por
fim, pegou uma caldeira e a pôs no fogo para ferver a linha crua, a fim de amaciá-la. Uma vez
cozida, colocou-a toda nos ombros de sua enteada, deu-lhe uma machadinha e mandou que ela fosse
ao rio congelado, para que lá abrisse um buraco e lavasse a linha. Obediente, a jovem dirigiu-se ao
rio e começou a abrir um buraco no gelo. Enquanto fazia isso, passou por ali uma esplêndida
carruagem em que viajava o rei. Este mandou parar o carro e indagou:
— Quem és e o que estás fazendo aí, minha filha;
— Sou uma pobre moça e estou lavando linha.
O rei, compadecido, vendo-a tão bela, disse-lhe:
— Queres vir comigo?
—Oh, sim!—apressou-se ela em responder, contente por se livrar da madrasta e da irmã.
Saiu na carruagem e partiu com o rei. E, quando chegaram ao palácio, celebraram o casamento com
grande pompa, tal como os anões já haviam destinado para a sua amiguinha. Depois de um ano, ela
deu à luz um filho. E a madrasta, a quem havia chegado a notícia de sua grande felicidade,
encaminhou-se ao palácio, acompanhada de sua filha, sob o pretexto de fazer uma visita.
Como o rei se ausentara e ninguém estivesse presente, a malvada mulher agarrou a rainha pela
cabeça, enquanto sua filha a pegava pelos pés e, tirando-a da cama, a arrojaram pela janela a um rio
que passava em baixo.
Logo depois, aquela horrenda criatura se meteu na cama e a velha cobriu-a até a cabeça. Ao
regressar, o rei quis falar com a esposa, mas a velha o deteve, dizendo:
— Silêncio, silêncio! Agora não! Ela está suando muito e deve deixá-la em paz.
O rei, sem pensar em nada de mal, retirou-se. Na manhã seguinte voltou e começou a falar com sua
falsa esposa. Mas, à medida que ela lhe respondia, sapos iam saltando de sua boca, quando antes o
que caía eram moedas de ouro. O rei perguntou o que significava aquilo, mas a madrasta disse-lhe
que era devido ao suor excessivo e que passaria sem demora.
Aquela noite, porém, o ajudante da cozinha viu quando uma pata entrava nadando pelo cano da
sarjeta e falava:
Rei, em que estás ocupado?
Estás dormindo ou estás acordado?
E, como não recebesse resposta, prosseguiu:
— E o que faz a minha gente?
O ajudante da cozinha então, retrucou:
—Dorme profundamente.
14
A pata continuou perguntando:
—E onde está meu filhinho?
Respondeu o rapaz:
— Dormindo no seu bercinho.
A pata, tomando, então, a forma da rainha, subiu ao quarto da criança, deu-lhe de mamar e arranjoulhe sua caminha; depois, retomando a aparência de pato, saiu nadando pela sarjeta. Nas duas noites
seguintes voltou a apresentar-se e na terceira disse ao ajudante:
—Vai ao rei e dize-lhe que traga sua espada e que, no portal, dê três voltas com ela em cima da
minha cabeça.
Assim fez o criado; e o rei, saindo com sua espada, a brandiu três vezes sobre a pata e, depois de
fazê-lo pela terceira vez, sua esposa apareceu diante dele, viva e cheia de saúde como antes.
O rei sentiu uma alegria imensa, mas escondeu a rainha num quarto, onde ela ficou até o domingo
seguinte. Nesse dia iam celebrar o batizado de seu filho. Depois da cerimônia, ele perguntou:
— Que merece uma pessoa que tira outra da cama e a joga na água?
— Nada menos — respondeu a velha — que a metam num tonel crivado de pregos e o façam rolar
do alto da montanha até cair no rio.
Ao que disse o rei:
—Pronunciaste a tua própria sentença!
E ordenou que trouxessem um tonel daqueles, e metessem a velha e sua filha dentro. Depois de o
fecharem, fizeram-no rolar montanha abaixo, até cair no rio.
Como João veio do Céu para a Terra
Em Jerusalém viviam um sacerdote chamado Zacarias e sua mulher Isabel.
De há muito o casal desejava ter um filho, e por isso levava muitas oferendas ao templo, pedindo a
Deus que lhes realizasse este desejo. Mas esperaram em vão, pois o tempo passou e ficaram velhos
sem que Deus lhes tivesse mandado filho nenhum. Viviam tristes. Mas dizia Isabel a Zacarias:
"Deus não nos mandou um filho, mas mesmo assim continuaremos as nossas orações. Vamos pedirlhe que nos mande Seu próprio filho, que o envie não só para nós, mas para todas as pessoas. Nós
ajudaremos s procurar pessoas que estejam à espera do Filho de Deus e se alegrem com Sua vinda."
Assim ficaram Zacarias e Isabel pedindo a vinda do Filho de Deus, orando todos os dias.
15
No mundo celeste havia uma alma que nutria o mesmo ardente desejo como Zacarias e Isabel. Esta
alma de há muito já era servidora e mensageira de Deus. Agora desejava servir ao Filho de Deus,
preparando-lhe o caminho para o mundo terreno. Era tão grande esta alma, que trazia o mundo
celeste dentro de si. Ouvia as preces de Zacarias e Isabel sempre que estas subiam aos céus. Quanto
mais oravam, mais a alma sentia-se atraída pelo casal. Flutuava ao seu redor, levava suas preces
para Deus e consolava os com a esperança de que tudo ficaria bem um dia. Então Zacarias e Isabel
sentiram que já não estavam mais tristes, porém não sabiam por que.
Certa vez a alma ouviu um chamado que ecoava através dos céus: "I - O — A". Logo a alma sabia
que isto era para ela. Ficou escutando, e o chamado ecoou pela segunda vez; "l—O—A". Então a
alma reconheceu o chamado. Era a voz de Deus que soava através das estrelas. E pela terceira vez
as estrelas soaram. A primeira estrela soou "l— — —". Neste momento a alma começou a contrairse até adquirir forma humana. Agora já não trazia o mundo celeste dentro de si, mas ao seu redor.
Soou a segunda estrela: "O — — —", e a alma sentiu um grande amor e uma vontade imensa de
abraçar toda a terra, principalmente o casal Zacarias e Isabel. Soou a terceira estrela: "A — — —",
e a alma abriu-se por inteiro, assumindo dentro de si todas as mensagens e todos os atos que haveria
de trazer e praticar quando estivesse na terra. Assim, pois, Deus a chamara através das estrelas,
enviando-a para a terra. Dos três sons das estrelas formou-se o seu nome I – O – A (JOÃO).
São Pedro, o Rico e o Pobre
Certa vez, no dia em que São Pedro viera até a terra ver como andavam os homens, encontrou-se
com um pobre e um rico que se queixavam da vida amargamente. O pobre se queixava daquilo
que não tinha, e o rico daquilo que ainda queria ter.
Disse-lhe São Pedro:
- Não se lamentem assim meus filhos". Queixas amargas tingem de escuro toda a doçura dos
corações que estão à sua volta. Entreguem a Deus suas dores e procurem tingir os corações que os
rodeiam com as cores da aceitação, do contentamento, da esperança, da alegria simples, da
generosidade, que são cores claras e belas. Quando seu tempo terminar aqui na terra, vocês
verão que obra linda terão edificado com esses pensamentos de amor.
O pobre ouviu o que disse São Pedro e seguiu fielmente seus conselhos. O rico, porém, inquieto
demais por tudo o que pensava possuir, não tinha tempo nem vontade de pensar no que
girava à sua volta, e assim foi vivendo de queixa em queixa.
No fim do seu tempo aqui encontraram-se os dois no céu, perguntou ao pobre onde é que
ele estava morando. O pobre apontou-lhe bela mansão no alto de uma colina.
- Mas, como? - reclamou o rico. Então você mora aí tão confortavelmente e eu, rico e importante
que fui, vivo apertado num cubículo naquele grotão?
E, assim dizendo, foi se queixar a São Pedro. O santo ouviu-o pacientemente e respondeu:
-Ah, meu filho, o pobre todos os dias de sua vida me mandava um tijolinho aqui para o céu, só com
sua atitude generosa, ao passo que, de você, só recebi o que deu para construir esse cubículo no
grotão.
16
(Conto de tradição oral)
Versão de Ruth Salles
Pérola de Orvalho e Estrela de Neve
Michael Bauer
No coração de uma rosa – de uma rosa do suave outono italiano – nasceu uma pérola de orvalho.
Bela como a própria manhã, ela repousava no delicado berço de veludo e olhava com curiosidade o
mundo. Olhava para um mundo formoso: Uma parreira vermelha pendia de um velho muro, frutos
de ouro reluziam em verdes arbustos, paredes de mármore branco e lustroso brilhavam ao longe, um
maravilhoso céu azul estendia-se sobre tudo: todo esse jogo de cores queria espelhar-se no claro
olhinho da pequena pérola recém nascida. "Magnífico! Magnífico'", exclamava ela repetidas vezes.
"Magnífico!"
"Tontinha", resmungou uma aranha que estava perto — "Também, tem um olho só. Se tivesse oito
como eu, certamente não estaria tão encantada com este lugar".
Nesse momento, o Sol emergiu radioso atrás da montanha. O Sol, ao encontrar em seu caminho a
pérola, quase a fez desvanecer ante tanto brilho e luz. O bercinho onde ela repousava parecia tornarse pequeno demais, impulsionando-a a erguer vôo, a ganhar altura para poder ver ainda mais da
beleza do mundo. Uma única vez soprou uma aragem no jardim, e uma sombra furtiva passou sobre
ela, assustando-a. E uma voz falou-lhe:
"Porque estás tremendo? Será que finalmente percebeste alguma coisa?"
Era a aranha, num canto da folha próxima, que lhe falava:
"O que queres dizer com perceber alguma coisa? Tu te referes à sombra que me assustou"
"Oh! Não, sua ingênua, não me referi à sombra. Referi-me ao fato de estares definhando,
desaparecendo, que estás morrendo."
"Que estou morrendo? O que é isso: Morrer?" Perguntou admirada a pequena pérola de orvalho.
"Só rindo mesmo", prosseguiu a aranha agourenta. "Não sabes o que é morrer? Pois vou te explicar,
porque sei muito bem. Eu já vi alguns mosquitinhos dançantes morrerem. Morrer significa perder
tudo. Não apenas uma coisa ou outra, mas tudo: o faiscar, o olhar, a alegria, tudo o que tens e a ti
mesma também."
A pobre gotinha porém, em verdade, entendia apenas metade daquilo que a aranha dizia. Mesmo
assim, sentiu um medo horrível ante a idéia de morrer e com todas as suas forças, agarrou-se à
pétala da rosa. Mas perdeu logo a consciência e desapareceu.
"Minha mãe é que tem razão'" exclamou rindo a aranha. "Quanto mais bonita, mais boba! Essa
tonta, de fato, não sabia o que significa morrer. Na nossa profissão aprende-se isso logo, mas
naturalmente, não fazendo nada e apenas contemplando o mundo, não se aprende nada. Quanto
mais bonita, mais preguiçosa! Parece-me também certo. "Então ela desceu rápido para a grama, pois
um fio de sua rede estremecia.
17
Nesse meio tempo, a nossa gotinha, agora invisível, havia subido para o céu e, em companhia de
outras iguais a ela, voou para o norte. Abaixo delas, muito longe, a paisagem era verde, com lagos
prateados; depois, apareceram ofuscantes picos nevados, entremeados por sombrios vales
profundos: depois surgiu uma ampla planície com espelhos d'água transparentes; e depois,
montanhas com florestas. A gotinha, entretanto, nada sabia de tudo isso e nem sequer sabia de si
mesma. Uma vaga sensação de sua própria existência chegou somente quando uma rajada de vento
gelado vinda de lado, penetrou no denso bando de passarinhos d'água fazendo-os tiritar de frio. E, à
medida que o vento ficava mais gelado e cortante, aquela sensação se tornava mais forte e definida.
E, finalmente, abriu-se um olhinho, um olhinho muito pequenino e piscou. Mas tudo girava, girava
e nada aparecia com nitidez. Por sorte, formou-se mais um olhinho, e mais um... e por fim,
formaram-se oito ao todo.
Seis olhinhos em círculo dirigidos para os lados e dois no meio — um para cima e outro para baixo.
Agora, tudo podia girar como quisesse, pois havia olhos em todas as direções que podiam olhar para
todas as direções. Ah! como isso era lindo! Um faiscar e um brilhar por toda parte. Asas brancas
como a neve com peninhas tremulantes cintilavam por cima e por baixo, à esquerda e à direita. E
milhares de vozinhas sibilantes chilreavam misturando-se. Era como um bando de estorninhos, só
que mais denso, mais bonito e mais alegre. E descendo, voavam em direção à terra.
Nossa gotinha de orvalho já se havia esquecido de todo o horror pela morte, tinha esquecido
totalmente que já havia sido uma gotinha de orvalho: pois agora era uma estrelinha de neve, com
seis pontas. E como é que ela podia saber da Itália, da rosa e da aranha feia! Também não tinha
sequer tempo para pensar no passado. Ela devia olhar para o mundo e o mundo era belo, apesar dos
oito olhinhos que ela agora tinha, tal como a aranha. E ainda tinha ela que dançar com suas milhares
de companheiras felizes.
Lá embaixo, na aldeia, frente à porta de uma casa, estava uma pequena criança, que olhava a neve
caindo. Nesse momento o pai juntou-se à criança e disse:
"Apanhe para você uma dessas coisas brancas."
A criança esticou a mãozinha para os flocos dançantes e a nossa estrelinha, contente demais para
desconfiar de algo, sentou-se naquela mãozinha. Mas, como se assustou quando viu dois olhos azuis
olhando para ela! O susto paralisou suas asinhas e ela ficou desamparada.
"Ah! Que linda'." - exclamou a criança e a olhou ainda mais de perto.
"Mas de pequena duração!" disse o pai. "Olha, já está chorando."
"Porque está chorando, papai?"
"Porque está definhando, está derretendo, porque está morrendo.
E realmente, os oito olhinhos começaram a chorar ao mesmo tempo; e choraram até que a estrelinha
se transformou em uma única gotinha de lágrima. Essa gotinha jazia, tremendo, na mão da criança.
"Olha, agora acabou-se o seu esplendor, disse o pai.
18
Mas, naquele momento a gotinha se iluminou. A mãozinha rosada e suave da criança a fez lembrarse da pétala de rosa da Itália; e, repentinamente, estavam vivos em sua alma, o muro velho com a
parreira, as maças douradas na folhagem verde, as brancas paredes de mármore, o céu de profundo
azul. E a aranha feia também, assim como tudo o que ela havia dito. Uma grande felicidade e uma
reconfortante certeza ocuparam a alma da gotinha. E ela exclamou cheia de júbilo: "A aranha
mentiu e você também está mentindo, homem grande. Eu não morri e eu não morro de modo algum.
No máximo, eu durmo durante algum tempo. E depois, quando acordo, tudo é sempre mais bonito,
muito mais bonito”.
Mas o homem não entendeu nada e isso é uma pena.
A Menina da Lanterna
Era uma vez uma menina, que alegremente carregava a sua lanterna pelas ruas. De repente, chegou
o vento, que com grande ímpeto apagou a lanterna da menina .
- Ah! Exclamou a menina - Quem poderá reacender a minha lanterna? Olhou para todos os lados,
mas não achou ninguém.
Apareceu, então, um animal muito estranho, com espinhos nas costas, de olhos vivos, que corria e
se escondia muito ligeiro pelas pedras- Era um ouriço.
- Querido ouriço! Exclamou a menina - O vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem
poderia acender a minha lanterna?
O ouriço disse a ela que não sabia, que perguntasse a outro, pois precisava ir para casa cuidar dos
filhos.
A menina continuou caminhando e encontrou-se com um urso, em lenta caminhada, com uma
cabeça enorme e um corpo pesado, desajeitado, grunhindo e resmungando.
- Querido urso! - falou a menina - O vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem
poderá acender minha lanterna?
E o urso da floresta disse a ela que não sabia, que perguntasse a outro, pois estava com sono e ia
dormir e repousar.
Surgiu então, uma raposa, caçando na floresta esgueirando-se entre o capim. Espantada, a raposa
levantou seu focinho e, farejando, descobriu a menina. Indignada, a raposa dirigiu-se a ela e
mandou que voltasse para casa porque a menina espantava os ratinhos.
Com tristeza, a menina percebeu que ninguém queria ajudá-la. Sentou-se numa pedra e chorou.
Neste momento, surgiram estrelas que lhe disseram:
- Pergunte ao Sol, porque ele poderia ajudá-la.
Depois de ouvir o conselho das estrelas, a menina criou coragem para continuar o seu caminho.
19
Finalmente, chegou a uma casinha, dentro da qual avistou uma mulher muito velha, sentada, fiando
em sua roca. A menina, abriu a porta, e cumprimentou a velha.
- Bom dia, querida vovó - disse ela.
- Bom dia. - respondeu a velha.
A menina perguntou se ela conhecia o caminho até o Sol e se ela queria ir com ela, mas a velha
disse que não podia acompanhá-la, porque ela fiava sem cessar e sua roca não podia parar. Mas
pediu à menina que descansasse um pouco, pois o caminho era muito longo. A menina entrou na
casinha e sentou-se para descansar. Pouco depois, pegou sua lanterna e continuou a sua caminhada.
Mais para a frente encontrou outra casinha no seu caminho, a casa do sapateiro. Ele estava sentado
consertando muitos sapatos. A menina abriu a porta e cumprimentou-o. Perguntou, então, se ele
conhecia o caminho do Sol e se queria ir com ela procurá-lo. Ele disse que não podia acompanhá-la,
pois tinha muitos sapatos para consertar. Deixou que ela descansasse um pouco, pois sabia que seu
caminho era longo. A menina entrou e sentou-se para descansar. Depois que descansou, pegou a sua
lanterna e continuou a caminhada.
Lá longe, avistou uma montanha muito alta.
Com certeza, o Sol mora lá em cima, - pensou a menina e pôs-se a correr, rápida como uma corsa.
No meio do caminho, encontrou uma criança que brincava com uma bola. Chamou-a para que fosse
com ela até o Sol, mas a criança nem respondeu. Preferiu brincar com sua bola e afastou-se
saltitando pêlos campos.
Então, a menina da lanterna continuou sozinha o seu caminho. Foi subindo pela encosta da
montanha. Quando chegou ao topo, não encontrou o Sol.
- Vou esperar aqui, até o Sol chegar - pensou a menina, e sentou-se na terra.
Como estivesse muito cansada de sua longa caminhada, seus olhos se fecharam e ela adormeceu.
O Sol já tinha avistado a menina há muito tempo. Quando chegou a noite, ele desceu até a menina e
acendeu a sua lanterna.
Depois que o Sol voltou para o céu, a menina acordou.
•
Oh! A minha lanterna está acesa ! - exclamou e, com um salto, pôs-se alegremente a caminhar.
Na volta, reencontrou a criança da bola, que lhe disse ter perdido a bola, não conseguindo encontrála por causa do escuro. As duas crianças procuraram, então, a bola. Após encontrá-la, a criança
afastou-se alegremente.
A menina da lanterna continuou o seu caminho até o vale e chegou à casa do sapateiro, que estava
muito triste, na sua oficina. Quando viu a menina, disse-lhe que seu fogo tinha se apagado e suas
mãos estavam frias, não podendo portanto, trabalhar mais. A menina acendeu a lanterna do
sapateiro, que agradeceu, aqueceu as mãos e pôde martelar e costurar os seus sapatos.
20
A menina continuou lentamente a sua caminhada pela floresta e chegou ao casebre da velha. Seu
quartinho estava escuro. Sua luz tinha se consumido e ela não pôde mais fiar. A menina acendeu
nova luz e a velha agradeceu, e logo sua roca girou sem parar, fiando, fiando, sem cansar.
Depois de algum tempo, a menina chegou ao campo e todos os animais acordaram com o brilho de
sua lanterna.
A raposinha, ofuscada, farejou para descobrir de onde vinha tanta luz. O urso bocejou, grunhiu e
tropeçando desajeitado, foi atrás da menina. O ouriço, muito curioso, aproximou-se dela e
perguntou de onde vinha aquele vaga-lume gigante.
Assim, a menina voltou feliz para casa.
21
ÉPOCA DE MICAEL
Rosinha de Espinho
Havia, tempos atrás, um rei e uma rainha que todo dia diziam:
- " Ah, se tivéssemos um filho! – e não estavam sendo atendidos.
No entanto, certa vez, quando a rainha se banhava, aconteceu que uma rã saiu pulando da água para
a terra e lhe disse:
- " Teu desejo será realizado antes que se passe um ano, darás à luz a filha."
Tal como a rã havia dito, assim aconteceu e a rainha deu a luz a uma menina tão linda, que o rei não
cabia em si de contente e mandou realizar uma grande festa. Ele não só convidou parentes e
conhecidos como também as mulheres sábias, para que se afeiçoassem àquela criança e lhe fossem
propícias.
Havia treze delas em seu reino, mas como ele só tinha doze pratos de ouro onde elas pudessem
comer, uma deveria ficar em casa.
A festa foi celebrada com toda pompa e, quando estava no fim, as mulheres sábias presentearam a
criança com seus dons maravilhosos: uma, com a virtude; outra, com a beleza, a terceira, com a
riqueza; e assim com tudo que se pode desejar deste mundo.
Quando onze já haviam proferido as suas sentenças, entrou repentinamente a décima terceira Ela
queria vingar-se por não ter sido convidada e, sem nem mesmo olhar ou cumprimentar alguém,
clamou em voz alta:
- A filha do rei, em seu décimo quinto aniversario, ferir-se-á com um fuso, caindo morta."
E, sem dizer mais nada, virou as costas e abandonou a sala.
Todos se assustaram, e nisso adiantou-se a décima segunda, cujo desejo ainda não havia sido
formulado e, como não podia anular a sentença maligna, mas apenas atenuá-la, falou assim:
- "Na verdade não haverá morte, mas sim um profundo sono de cem anos, no qual a filha do rei
cairá”.
O rei, que queria muito preservar a sua filha daquela desgraça, deu ordens para que todos os fusos
do reino fossem queimados. Na menina cumpriu-se todos os dons das mulheres sábias, pois ela
estava tão linda, modesta, afável e ajuizada que todos que para ela olhavam, eram levados a lhe
querer bem.
Aconteceu que, justamente no dia em que ela completou quinze anos. o rei e rainha não estavam em
casa e a menina ficou completamente sozinha no castelo. Então, ela andou por toda a parte,
examinando salas e quartos à vontade e chegou, finalmente, a uma velha torre.
22
Subiu a estreita escada caracol e chegou a uma pequena porta. Na fechadura havia uma chave
enferrujada; quando ela deu a volta, a porta abriu-se e ali estava sentada numa pequena salinha, uma
velha com um fuso, fiando ativamente seu linho.
- "Bom dia, velha mãezinha, - disse a princesa – que fazes aí?”
- "Eu fio!” – disse a velha - balançando a cabeça.
- "Que é isto que salta e gira de modo tão divertido?” - disse a menina e, querendo também fiar,
pegou o fuso. Mal porém o tocou, cumpriu-se a maldição e ela espetou o dedo nele. E, no mesmo
instante em que sentiu a picada, caiu sobre a cama que ali havia e adormeceu profundamente. E este
sono se propagou por todo o castelo O rei e a rainha, que acabavam de chegar e de entrar na sala,
começaram a dormir e, com eles, toda a corte. Assim, também os cachorros no pátio, os pombos no
telhado, as moscas nas paredes, e o assado parou de tostar, e o cozinheiro, que ia puxar os cabelos
do ajudante por que este havia cometido um erro, soltou-o e dormiu. O vento cessou e, nas árvores
defronte do castelo, nenhuma folhinha se mexeu mais.
Ao redor do castelo, começou a crescer uma sebe de espinhos que de ano para ano se tornava mais
alta. Finalmente, ela envolveu todo o castelo e cresceu ainda mais além, de maneira que dele nada
se via, nem sequer a bandeira do alto do telhado.
Pelo pais inteiro correu a lenda da bela Rosinha de Espinho adormecida, pois assim era a filha do
rei chamada. Por isso, de tempos em tempos, vinham ter ali filhos de reis que queriam atravessar a
sebe e penetrar no castelo. Contudo, isso não lhes era possível, pois os espinhos, como se tivessem
mãos, mantinham-se cerrados e os mancebos ficavam presos ali, não podendo mais se libertar,
morriam miseravelmente.
Após longos anos, mais uma vez, veio ao país o filho do rei e ele ouviu um velho contar a respeito
da sebe de espinhos e de como atrás dela existia um castelo, onde uma linda princesa real, chamada
Rosinha de Espinho, dormia ia há cem anos e como ela, o rei e a rainha e toda a corte. Ele soube
também por seu avô que muitos príncipes já haviam tentado penetrar através da sebe, tendo porém
ficado presos nela, morrendo tragicamente. Disse então o mancebo:
- "Eu não tenho medo. Quero ir lá para ver Rosinha de Espinho.”
O bom velho podia tentar dissuadi-lo como quisesse. Ele não ouvia suas palavras.
Porém já se haviam passado os cem anos e chegara o dia em que a Rosinha de Espinho devia
acordar. Quando o filho do rei se aproximou da sebe de espinhos, ali havia apenas lindas e enormes
flores, que se afastaram uma das outras e o deixaram ileso, e que atrás dele se fecharam de novo
como a sebe.
No pátio do castelo, ele viu os cavalos, os cães de caça malhados deitados dormindo, no telhado
estavam pousados os pombos com as cabecinhas debaixo das asas. E quando ele entrou em casa, as
moscas dormiam nas paredes e o cozinheiro, na cozinha, tinha ainda as mãos levantadas, como se
quisesse agarrar o ajudante...
Então, ele continuou andando e viu toda a corte adormecida, e no alto, deitados ao lado do trono, o
rei e a rainha. Seguiu mais adiante e estava tudo tão quieto que ele podia ouvir a sua própria
respiração.
23
Por fim, chegou à torre e abriu a porta que dava para a saleta onde a Rosinha de Espinho dormia. Lá
estava ela deitada, tão linda que ele não conseguia tirar os olhos dela. Inclinou-se e beijou-a. Assim
que ele a tocou com o beijo, a Rosinha de Espinho abriu os olhos, acordou e olhou amavelmente
para ele. Então desceram juntos e o rei acordou e também a rainha e toda a corte. E olharam uns
para os outros com os olhos arregalados. E os cavalos na estrebaria se levantaram e se sacudiram e
os cães de caça pularam e abanaram o rabo. Os pombos no telhado tiraram cabecinha debaixo da
asa, olharam em volta e voaram para o campo; as moscas na parede se puseram a andar de novo. O
fogo na cozinha avivou-se e, bruxuleando, cozinhou a comida; o assado recomeçou a tostar, o
cozinheiro deu uma bofetada no ajudante, que fez com que ele gritasse, e a criada acabou de
depenar a galinha.
E então foram festejadas, com toda a pompa, as bodas do filho do rei com a Rosinha de Espinho e
eles viveram felizes para o resto da vida.
A Princesa do Castelo de Chamas
Era uma vez um homem pobre, que tinha tantos filhos quantos furos tem uma peneira. E todos os
homens da aldeia já eram compadres. Ao nascer-lhe mais um filho, sentou-se na estrada para pedir
ao primeiro que passasse para ser padrinho da criança. Vinha então, descendo a estrada, um homem
velho com um manto cinza, ao qual ele fez o pedido, que foi aceito com prazer. Seguiram juntos o
caminho e o velho ajudou a batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre, uma vaca e um
bezerro que tinha nascido no mesmo dia que a criança. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada
e deveria pertencer ao menino.
Quando o menino cresceu, o bezerro tinha se tornado um enorme touro, e juntos iam todos os dias
ao pasto. O touro sabia falar e, quando chegava ao topo da montanha, ele dizia ao menino:
- Fica aqui e dorme; enquanto isso, eu vou procurar meu pasto.
Assim que o pastor dormia, o touro corria como um raio até o grande pasto celeste e comia flores
douradas de estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o menino e iam, então, para
casa. Isto repetiu-se todos os dias até o menino alcançar a idade de 20 anos. Um dia. disse-lhe o
touro:
- Senta-te agora entre meus chifres e eu te levantarei até o rei. Pede-lhe uma espada de ferro do
tamanho de sete varas e diz-lhe que queres salvar a sua filha.
Logo estavam no castelo do rei. O pastor desceu e foi ter com o rei; este perguntou-lhe o motivo de
sua vinda. Então, deu-lhe com prazer a espada desejada, mas sem muita esperança de poder rever
sua filha. Muitos jovens audaciosos em vão tinham ousado libertá-la. Ela tinha sido raptada por um
dragão de doze cabeças, que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até lá, pois no
caminho para seu castelo encontrava-se uma serra imensamente alta, intransponível; e, muito mais
além, um grande mar bravio. Atrás dele, morava o dragão em seu castelo de chamas.
Mesmo se alguém conseguisse transpor a serra e o mar, ninguém conseguiria passar pelas chamas
poderosas, e se tivessem conseguido vencê-las, teria sido morto pelo dragão.
24
Quando o pastor obteve a espada, montou novamente entre os chifres do touro e, num instante se
encontraram diante da serra imensa.
- Podemos voltar - disse ele ao touro, pois achava impossível transpô-la.
O touro respondeu-lhe:
- Espera apenas um instante! - e desceu o menino no chão.
Mal tinha feito isso, deu um impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra inteira para o
lado, e eles puderam seguir em frente.
O touro sentou o menino de novo entre os chifres e logo alcançaram o mar.
- Agora podemos voltar, disse o menino - pois ali ninguém consegue passar.
- Espera apenas um instante - disse-lhe o touro - segure-se bem nos meus chifres.
Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar inteiro, e assim prosseguiram em chão seco, como
um gramado.
Logo chegaram ao castelo de chamas. Mas, já de longe, sentiram um calor tão imenso que o menino
não podia mais agüentar.
- Pára - gritou para o touro - Não vás em frente, senão nós vamos morrer queimados.
O touro, porém, correu bem perto e cuspiu de uma vez o mar que ele tinha bebido, nas chamas, que
rápido se apagaram.
E logo uma fumaça enorme se elevou, cobrindo todo o céu.
Então, do vapor medonho, saltou o dragão de doze cabeças cheio de raiva.
- Agora é a tua vez - disse o touro ao seu amo - vê se consegues cortar todas as cabeças do monstro
de uma só vez.
Ele juntou toda a sua força, tomou a espada poderosa com as duas mãos e golpeou tão rapidamente
o monstro, que todas as cabeças rolaram ao chão. Então, o animal se contorceu e se debateu contra a
terra, com tanta força, que ela tremeu. O touro pegou o corpo do dragão com seus chifres,
arremessou para as nuvens e nada mais se viu dele.
Então disse o touro ao menino:
- Minha tarefa chegou ao fim. Vai até o castelo e lá encontrarás a princesa. Leva-a de volta para seu
pai.
Tendo dito isto, o touro correu para o gramado celeste e o menino não mais o viu.
O menino encontrou a princesa no castelo e ela se alegrou, muito de estar livre do terrível dragão.
Regressaram, então, para o pai da princesa, casaram-se e uma enorme alegria se apossou de todo o
reino.
25
Os Cavalos Encantados
Daniel trabalhara vida inteira; apesar de haver sido sempre honrado, bom e virtuoso, nunca pôde
fazer fortuna.
Aos cinqüenta anos de idade, era tão pobre como quando nascera, acrescendo a circunstância de que
era chefe de numerosa família, a quem tinha forçosamente que vestir e alimentar.
Além de quatro filhas, tinha ainda três rapazes: João, Pedro e Manuel.
Quando João, o mais velho, completou vinte e um anos, chegou-se para o pai, e falou:
— Meu pai, já sou homem feito e quero ganhar minha vida, correndo mundo.
O pai, muito triste, separou-se dele, dizendo:
— Meu filho, que é que você quer? O pouco dinheiro que lhe reservei, sem a minha bênção, ou a
minha benção, sem dinheiro algum?
— Dinheiro, respondeu ele. E acrescentou: Quando a roseira que plantei começar a murchar, é
porque estou em perigo. Mande Pedro em meu auxílio.
Depois de andar por muitas terras, ter visto muitas coisas, por este mundo afora, João chegou à
residência de uma princesa, que tinha duas irmãs, tão parecidas com ela como duas gotas d'água.
João pediu pousada em casa dessa princesa, que se chamava Rosalina.
À hora da ceia, Rosalina chegou-se a ele e disse:
— Meu hóspede, em minha casa todo o mundo é bem recebido; mas, quando nos sentamos à mesa,
fazemos sempre uma aposta. Vamos começar a cear: aquele de nós dois que comer mais que o
outro, é senhor desse outro. Está feita a aposta?
O rapaz aceitou, sentindo-se com uma fome devoradora, em resultado da longa viagem.
Rosalina comeu muito; e quando não podia mais, pediu licença para ir até à cozinha, ver um petisco
que mandara preparar pelo cozinheiro.
Aí mandou a irmã substituí-la. João, que não sabia da semelhança que havia entre as irmãs, de nada
desconfiou. Via porém que já não podia mais comer, ao passo que a moça cada vez parecia ter mais
fome.
Afinal não pôde mais e cruzou os talheres, ficando dessa maneira cativo da princesa.
***
Já por esse tempo, a roseira que plantara começou a murchar.
Pedro, o segundo filho, vendo aquilo, disse ao pai:
— Meu pai, João corre perigo, e eu quero ir em socorro dele.
26
— Pois bem, disse o velho. Que deseja? A minha bênção sem dinheiro, ou dinheiro sem minha
bênção?
— Desejo dinheiro, respondeu Pedro.
Antes de partir, disse ao pai:
— Se meu craveiro murchar, é porque corro perigo. Mande Manuel em meu socorro.
Horas depois, saiu de casa.
Tanto andou, que um dia foi ter justamente à casa da princesa Rosalina e de suas irmãs.
Assim que Pedro chegou ao palácio da princesa, pediu pousada. À hora do jantar aconteceu-lhe o
mesmo que a João.
Em casa o craveiro começou a murchar.
Manuel, o mais moço, vendo as duas plantas murchas, pediu licença ao pai para ir socorrer os
irmãos.
O pai fez a mesma pergunta que tinha feito aos outros dois filhos, e este respondeu que queria a
bênção.
Quando Manuel saiu de casa, encontrou uma velhinha, que era a fada, sua madrinha, assim
disfarçada. Sem se dar a conhecer, a velha entabulou conversa com ele e terminou por lhe dizer
onde se achavam João e Pedro. Narrou--lhe tudo quanto havia sucedido aos dois moços, e o que
Rosalina costumava fazer para ter presos tantos homens.
Por último, aconselhou-o a que aceitasse a aposta, mas que não permitisse à princesa levantar-se,
porque ela faria a troca por sua irmã, sem que ele desconfiasse, embora prevenido como estava.
Manuel chegou à casa da princesa. À hora do jantar, aceitou a aposta, em tudo semelhante às outras,
que fizera Rosalina.
Procedeu como sua madrinha lhe ensinara e, quando a moça quis levantar-se, não consentiu,
ganhando por isto a aposta.
Manuel não quis a princesa como escrava. Contentou-se em soltar todos os presos que lá se
achavam.
Os três irmãos, quando se viram juntos, ficaram muito alegres e foram correr mundo.
No meio do caminho, porém, João e Pedro revoltaram-se contra Manuel, tomaram tudo quanto este
possuía, e levaram-no cativo.
Seguiam os dois a cavalo, bem montados, e o pobre Manuel, a pé, pela estrada afora. Chegaram a
um país onde existiam misteriosos animais, que todas as noites iam estragar as hortas e os jardins do
rei, não havendo quem pudesse dar cabo deles.
Assim que Pedro e João souberam do caso, foram-se oferecer ao rei para matá-los.
Entraram na horta e ficaram a conversar esperando as feras.
27
Mas, já para o meio da noite, uma noite muito quente, começaram a se sentir fatigados e pegaram
no sono, de modo que, no dia seguinte, pela manhã, foram dizer ao rei, envergonhados, que nada
tinham conseguido.
O rei expulsou-os do palácio, como intrujões.
Chegou a vez de Manuel, que foi se oferecer para matar os animais, que tanto estragavam os
jardins.
Chegando a noite, muniu-se de sua violinha e começou a cantar e a tocar, para se distrair do sono,
que já lhe pesava nas pálpebras.
Pelas onze horas, ouviu enorme barulho.
Prestou atenção e viu três cavalos encantados, que se encaminhavam para as hortas. Não puderam,
porém, entrar, porque logo Manuel se apresentou em frente deles.
Cada um dos cavalos pediu-lhe uma folha de couve, que o moço deu.
Disse, então, o primeiro cavalo:
— Quando se vir em algum perigo, diga: “Valha-me, meu cavalo preto!”
O segundo falou:
— Quando se vir em algum perigo, diga: “Valha-me, meu cavalo baio!”
O terceiro disse:
— Quando se vir em algum perigo, diga: “Valha-me, meu cavalo ruço!”
Em seguida partiram.
No dia seguinte, os jardins e as hortas do rei apareceram em perfeito estado e Manuel ganhou muito
dinheiro.
Vivia Manuel satisfeito, gozando dos rendimentos que o rei lhe dera, quando soube que a princesa
Catarina, filha única do rei, dissera que só se casaria com um homem que, a cavalo, subisse as sete
escadarias do palácio real, e que lhe tirasse a flor que trazia na cabeça.
Marcou-se o dia para a festa, e ninguém conseguiu passar da primeira escadaria.
Manuel lembrou-se do cavalo, e disse:
— Valha-me, meu cavalo preto!
Surgiu um cavalo preto como azeviche, com arreios de prata.
Manuel montou e chegou até a terceira escadaria no meio de entusiásticos vivas e aclamações,
porque nenhum cavaleiro se apresentara em animal tão bonito e tão bem arreado.
No segundo dia, os cavaleiros se apresentaram e nada fizeram.
28
Já supunham a festa terminada, quando apareceu Manuel montado num cavalo baio, muito mais
bonito que o preto do dia antecedente, com arreios de ouro.
O povo, ao ver o cavaleiro, ficou deslumbrado. O cavalo foi até a quinta escadaria.
No terceiro dia já o povo estava impaciente para ver chegar o cavaleiro, que em dois dias seguidos
tanto se distinguira dos seus rivais e aparecera tão ricamente montado.
Assim que apareceu em frente ao palácio, em seu cavalo ruço, com arreios de brilhantes, o povo não
se conteve e aplaudiu-o com entusiasmo.
O próprio rei ficou impaciente pelo resultado, pedindo a Deus que fosse ele o vencedor.
Quando Manuel assomou à primeira escadaria, a princesa chegou a acenar-lhe com a mão.
O cavalo ruço chegou até o último degrau da sétima escadaria e parou. O moço fez uma cortesia e
tirou a flor do penteado da princesa.
Toda a gente queria ver de perto tão intrépido cavaleiro.
Efetuou-se o casamento da princesa, no meio de aplausos da população, que foi em massa saudar os
recém- casados.
Manuel mandou buscar o seu velho pai e os três cavalos encantados mudaram-se em três príncipes,
que assim estavam transformados para castigo de gravíssimos crimes cometidos, devendo
permanecer em tal estado, enquanto não fizessem uma ação meritória.
São Micael
Era uma vez uma família muito feliz!
O pai trabalhava no campo: cuidava da terra com muito carinho, tirava as ervas daninhas e arejava o
solo com sua enxada.
O sol e a chuva faziam com que as plantações crescessem fortes e abundantes.
A mamãe cuidava dos afazeres da casa: comida gostosa, roupa limpinha, flores nos jardins e
principalmente de seu querido filho Miguel.
Mas aconteceu uma horrível guerra e o pai, valente guerreiro, precisou partir.
A mãe agora precisava cuidar da casa e também do campo. A colheita já não era tão farta e fogo ela
precisou lavar roupa para as outras pessoas e assim ganhar algum dinheiro.
O filho agora vivia muito sozinho em casa e um dia, quando ia para a escola, encontrou um menino
que era muito mal. Começaram a conversar e o menino mal levou Miguel para longe da escola.
No dia seguinte aconteceu o mesmo... e assim Miguel foi se tornando uma criança malcriada, que
vivia pelas ruas, sujo, gritando palavrões, praticando furtos e maldades com animaizinhos e plantas.
29
A mãe de Miguel estava muito triste e todas as noites pedia ao filho que tentasse agir como seu pai.
Que fosse trabalhador, que cuidasse do campo e do jardim e não faltasse à escola.
Mas Miguel estava muito rude, malcriado e xingava a mãe.
Ela então lembrou-se de São Micael, o arcanjo que havia expulsado o diabo do céu. Só ele poderia
ajudá-la a recuperar seu filho, tirá-lo das mãos do demônio e trazei-lo de volta, salvo.
Pediu então: -"Ajuda-me, São Micael, a encontrar o meu filho Miguel, salva-o do mal."
Sua fé era tanta, que São Micael ouviu lá do céu,
À noite, quando todos dormiam, este veio buscar Miguel e levou-o para cima, para bem longe da
terra, onde brilham as estrelas.
Miguel estava surpreso. Não compreendia o que estava acontecendo. Viu estrelas brilhantes, outras
que se apagavam e outras que pareciam enferrujadas.
Pergunto ao Anjo porque era assim e o que ele estava fazendo ali no céu.
-"Trouxe-o, para ver sua estrela. É aquela ali, a mais opaca. É preciso limpá-la bem, para que torne
a brilhar como aquela ali, bem grande, veja..."
-"Ora, eu não vou fazer isso não. Faça você, se quiser".
Imediatamente o arcanjo Micael desapareceu, deixando Miguel sozinho.
Agora ele sentia medo...
-"Que irá acontecer comigo? Estou sozinho... nem mamãe, nem meu anjo..."
Pensou que seria melhor cuidar de sua estrela. Tirou sua camisa e começou a polir a sua estrelinha.
Pouco a pouco, ela foi recuperando seu brilho.
O arcanjo Micael apareceu e disse-lhe:
-"Agora precisamos voltar. Amanhã você continuará o trabalho".
Num instante estava de novo na casa de Miguel, e este na cama, dormindo...
Cedinho a mãe veio acordá-lo e... surpresa: ele abraçou-a e disse-lhe:
-"Bom dia, mãezinha; já, já estarei pronto para ajudá-la a fazer pão e a cuidar da casa. Depois irei
cuidar do campo até a hora de ir para a escola".
A mãe ficou muito feliz e agradeceu a São Micael por ter salvado o seu filho querido.
30
NATAL
São Nicolau
Muito longe, no Oriente, vivia um bispo piedoso chamado Nicolau. Certo dia, ele ouviu contar, que
no Ocidente, havia uma cidade em que as pessoas passavam fome, inclusive as crianças.
Nicolau chamou então os seus servos que o amavam muito e falou-lhes:
- Tragam-me frutas de seus pomares e colheitas de seus campos, para que possamos saciar os
famintos.
Os servos então, trouxeram cestas com maçãs e nozes. Em cima, colocaram mel feito pelas
mulheres do lugar. Trouxeram também sacos cheios de grãos dourados de trigo.
O bispo Nicolau ordenou que todas as dádivas fossem colocadas num navio, grande e bonito, todo
branco e com vela azul como o azul do céu e do manto dele.
O vento soprou a vela do navio para que ele andasse, e quando o vento cansou, os servos pegaram
os remos e levaram para o Ocidente. Viajaram muito tempo, sete dias e sete noites. Quando
chegaram à grande cidade, já era noite e não se via ninguém nas ruas, mas as luzes brilhavam pelas
janelas das casas.
O bispo Nicolau bateu numa janela. A mulher que morava na casa, pensando tratar-se de um
viajante pedindo abrigo, mandou o filho abrir a porta. Como não havia ninguém à frente da porta, a
criança correu até a janela. Lá também não viu ninguém, mas encontrou a cesta repleta de nozes,
maçãs vermelhas e pães de mel. Ao lado do cesto havia um saco com grãos dourados de trigo.
Todas as pessoas comeram as dádivas e ficaram fortes e alegres.
A Noite Santa
Era uma vez um homem que saiu pela noite escura para pedir fogo emprestado. Ia de casa em casa,
batendo de porta em porta chamando: “Pessoas queridas, ajudem-me! Minha mulher acabou de dar
luz e preciso acender um fogo para aquecer a ela e a criancinha.”
Mas como era noite profunda, todos os seres humanos dormiam e ninguém lhe respondeu. O
homem caminhou, caminhou...
Finalmente, avistou ao longe o clarão de um fogo. Andou nessa direção e viu que um fogo ardia no
campo. Uma porção de ovelhas brancas estavam deitadas em volta da fogueira e dormiam enquanto
que um velho pastor tomava conta do rebanho.
Quando o homem, que desejava emprestar o fogo, se aproximou das ovelhas viu que três enormes
cachorros repousavam e dormiam aos pés do pastor.
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Todos os três acordaram com a sua chegada e escancararam suas enormes goelas como se fossem
latir, mas não se ouvia o menor ruído. O homem viu como os seus pêlos se eriçavam nas costas, viu
como as suas presas agudas brilhavam alvas no reflexo do fogo e como os cachorros se atiravam
contra ele. Sentiu como um dos animais se agarrou na sua perna, o outro na sua mão e o outro no
seu pescoço. Mas os queixos e os dentes com os quais os cachorros queriam morder não lhes
obedeciam e o homem não sofreu o menor mal.
O homem quis continuar o seu caminho de buscar o que precisava, mas os carneiros estavam
deitados bem pertinho um do outro. Aí o homem passou pelas costas das ovelhas, se aproximando
do fogo. E nenhum dos animais acordou ou se mexeu. O homem quase chegou até o fogo quando o
pastor o notou. O pastor era um homem velho, rabugento e rude e quando ele percebeu o estranho,
pegou um bastão comprido e pontudo que costumava segurar na mão e atirou nele. Mas o bastão,
antes de atingi-lo, mudou a direção e voou mais longe.
Chegando ao pastor o homem disse: "Bom amigo, ajude-me e empreste-me um pouco do fogo. A
minha esposa acabou de dar à luz e eu tenho que acender o fogo para aquecer a ela e a criancinha".
O pastor quis dizer não, mas pensando que os cachorros não podiam fazer mal a ele, que os
carneiros não acordaram e sumiram e que o seu bastão não o atingiu, ele ficou um pouco
preocupado em não dar o que ele pedia.
"Pega tanto quanto quiser" ele lhe disse. Mas o fogo quase estava apagando, tinha apenas muita
brasa e o homem não tinha pá nem balde para carregar a brasa. Vendo tudo isso o pastor falou
novamente: "Pega tanto quanto quiser" e ficou contente que o homem não podia levar o fogo.
Mas o homem se abaixou e pegou a brasa com as próprias mãos e guardou na sua manta. Ele levou
como se fossem nozes ou maçãs. O pastor que era homem tão mau, vendo tudo isso, ficou
pensando: "Que noite é esta, onde os cachorros não mordem, os carneiros não assustam, a lança não
mata e o fogo não queima!”. Ele chamou o estranho de volta e perguntou-lhe: "Que noite é essa? E
porque tudo tem caridade com você?"
O homem respondeu: "Eu não posso dizer nada a você, o que você mesmo não está percebendo". E
o homem continuou seu caminho mas o pastor quis saber o que tudo isso significava e seguiu o
homem, até que ele chegou onde o estranho morava. E ele viu que o homem não tinha nenhuma
casa para morar. A esposa e o filho dele deitaram numa gruta fria e gelada. O pastor pensou:
“Coitada dessa criança inocente, podia morrer de frio”. E mesmo que ele era um homem rude, ele
quis ajudar a criança e da mochila nas costas dele tirou uma pele de carneiro bem branca e bem
macia e deu ao homem e disse que podia proteger a criança do frio com aquela pele. Neste
momento em que ele mostrou também que podia ser caridoso, os olhos dele se abriram e ele podia
enxergar e ouviu o que antes não percebia.
Ele viu, que em volta dele tinha um círculo de anjinhos com asinhas prateadas. Cada um deles
tocava um kantele e contava em voz alta: "Que nesta noite nasceu o Salvador, que ia salvar o
mundo dos pecados".
Ai ele entendeu porque nessa noite tudo foi tão feliz e tão contente que ninguém queria fazer mal
contra ninguém.
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E ele viu anjos por todos os lados - uma alegria e felicidade na escuridão de noite que ele nunca
antes sentiu e ele ficou tão contente que podia ver tudo isso, que ele ajoelhou e agradeceu a Deus.
(baseada em Die Heilige Nacht von Selma Lagerloff)
O Vaga-Lume na Noite Santa
Assim que o anjo anunciou aos pastores que a criança estava deitada na manjedoura, um besourinho
entrou no feno da manjedoura.
O anjo inclinou-se sobre a criança e viu o besouro entre o feno e disse: “- O que você está fazendo
aqui? Vá aos animais e anuncie que uma criança divina veio à Terra.”
Respondeu o besouro: “- Quem me acreditará, pois eu sou feio e pequeno e sem voz.”
O anjo tocou-lhe com os dedos nas costas e eis um pontinho luminoso.
“- Assim, agora você tem uma luzinha que iluminará a verdade e uma voz que contará a verdade.”
O vaga-lume saiu voando do estábulo alegre a cantar. Foi à floresta, até o serelepe e o veado; subiu
entre as pedras à lesma e a lebre; voou para a copa das árvores para falar às aves adormecidas,
repetindo sempre:
- “Uma criança divina nasceu para a Terra.”
- “Uma criança divina nasceu para a Terra.”
Quem contou aos peixes? Na Hora Santa caíram estrelas cadentes nas águas de todo o mundo.
Assim os peixes ficaram sabendo da Noite Santa.
Desde então o vestido dos peixes brilha mais, e diz-se que na Noite Santa todos os animais sabem
comunicar-se entre si.
Quando um Anjinho jogou estrelinhas à Terra e tinha que procurá-las
Às vezes ao anoitecer, ainda estão as camisinhas lavadas dos anjinhos no gramado, em frente ao
portão do Céu. Então a Mãe do Céu manda um dos seus anjinhos buscá-las antes que o grande
"Urso" (constelação) apareça e talvez até pise em cima delas. Assim, certa noite, foi mandado um
anjinho para retirá-las. Mas quando ele lá chegou, pensou:
- “Gostaria muito de ver como é lá fora, quando o Grande portão do Céu se fecha e o Grande Anjo
da Noite vem para acender as estrelas, com todos os seus ajudantes e quando a boa Lua fica toda
iluminada.
Assim ele se pôs a caminhar. Finalmente chegou até a Lua. Ela ficou olhando para ele e guardando
o seu rebanho. Depois mostrou-lhe todo o seu reino e sua casa nas nuvens também. Mas ela
percebeu que este anjinho não era um anjinho da Noite, mas sim, um anjinho do Dia. Os anjinhos
do Dia tinham pó dourado do Sol nas asas e os da Noite são de veludo azul como a noite. Então a
lua mandou o anjinho voltar bem depressa.
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Ao caminhar de volta, o anjinho olhou para baixo e viu que a Terra estava toda escura. Ele só
conhecia a Terra durante o dia quando o Sol a iluminava. Assim, o anjinho pensou: - “A Terra
também deve estar iluminada durante a noite”. Pegou uma estrela e jogou-a com toda força, para
baixo, na escuridão. Por um instante ainda se podia ver o seu rastro luminoso, mas logo estava tudo
escuro como antes. Assim, ele jogou três estrelas, uma atrás da outra.
Já estava clareando o dia quando o Anjinho chegou ao Portão do Céu. Com um som maravilhoso de
trombones ele se abriu. Chegou também o anjo que recolhia todas as luzinhas das estrelas, mas
faltavam três estrelas. Levantou a sua cabeça e disse:
- "A Terra tem que ter a sua própria luz e as estrelas têm que voltar ao seu lugar. Você as jogou,
assim terá que ir buscá-las."
Assustado o anjinho se pôs a caminho. Lá embaixo, na beira das nuvens, ele guardou as suas
asinhas e foi para a Terra.
Em todos os lugares ele perguntava: - “Por acaso vocês não viram uma estrela cair do céu?” Mas
ninguém tinha visto.
Caminhando ele chegou a uma montanha. Ele bateu e chamou até que o Espírito da Montanha
apareceu.
- “Sim”, disse ele, "uma estrela caiu em cima da minha montanha, vamos ver o que aconteceu".
Eles juntos subiram e viram uma linda flor que luzia tão branca e pura com uma estrelinha dourada
bem no centro, e tinha um perfume diferente, um perfume de noite. Assim, o Espírito da Montanha
disse:
- “Olha, eu não posso devolver a sua estrela, ela agora está enfeitando a minha montanha”.
O anjinho tinha que continuar a caminhada e chegou a uma lagoa muito bonita. Lá no fundo
brincavam as Ondinas que olharam para cima vendo quem estava espiando. O anjinho falou,
chamou a Rainha das Ondinas e perguntou pela estrela.
- 'Sim, - disse ela – mas os meus peixinhos a engoliram e ficaram todos dourados”.
Realmente o anjinho viu que muitos peixinhos estavam dourados. Todo o ouro da estrela estava em
suas escamas.
Assim, ele caminhou mais um pouco, chegando ate uma cidade. Lá, durante a noite, havia nascido
uma criancinha e todos correram para vê-la, pois aquele que olhava nos olhos dela ficava muito
alegre e quem estava doente ficava curado. Mas a Mãe dele sabia disso. Era porque uma linda
estrela caíra lá do céu, no meio do coração desta criança.
O anjinho voltou ao Deus Pai, sem as estrelas e contou porque não as tinha trazido de volta. Quando
terminou de contar disse-lhe o Deus Pai:
- “Então, que as estrelas fiquem lá onde caíram, elas causam alegria para todos. Mas você tem que
prometer que nunca mais fará isto”.
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histórias para as festas do ano - Jardim Waldorf Rumo do Girassol