7º UNICULT UM AMOR ESPECIAL Autor(es) KARINE OLIVEIRA DA CUNHA Desenvolvimento Pseudônimo: Violinista UM AMOR ESPECIAL Durante a viagem sentiu o mesmo medo que sentia quando partiu há mais de vinte anos, agora pelo vidro do carro via as imagens até então esquecidas, iam aproximando-se lentamente, enquanto ainda exalava uma suave neblina. Após alguns dias, chegou a sua antiga casa, que ficava a alguns metros do prédio onde havia sido a Universidade onde estudou e lecionou por muitos anos, a antiga biblioteca onde passava horas com seus alunos, lembrava-se daqueles momentos com saudade, o filho o ajudou a descer do carro, com passos lentos andou pela varanda, muitas eram as lembranças, ainda havia aquele banco de madeira feito por um amigo. Acompanhado pelo filho entrou na grande sala, agora vazia estava, lembrou-se do piano que a esposa tocava para as crianças, foi até onde era sua antiga biblioteca, as estantes agora se faziam vazias, olhou para sua antiga escrivaninha, em um canto algumas caixas amontoadas, abriu uma delas, havia alguns cadernos de estudo, e entre eles seu antigo diário, com as mãos trêmulas o segurou como um achado de lembranças foi até um banco que ainda havia no jardim debaixo de uma árvore que deixava o vento envolver seu florescer e começou a ler seu querido diário. . . “O despertador tocava apressadamente, levantou-se pegou alguns livros, pastas, Professor na Universidade há alguns anos, dedicado na sua profissão, acostumado à correria do seu dia-a-dia, pouco se dedicava ao descanso, nos finais de semana entre suas estantes de livros, pesquisava, preparava uma tese sobre “Ciência, Tecnologia e Inovação”, se perdia entre linhas, artigos. Quem conhecia o Professor Felipe de Alcântara, não poderia descrever todo seu momento de procura que fazia parte do seu viver. Quando numa certa manhã ao receber um telefonema, ao ouvir o que lhe diziam, o silêncio da sua resposta invadiu aquele quarto, quando conseguiu finalmente responder que iria até aquele encontro. Veio da Capital, era uma pequena cidade do interior,andou alguns metros, iria para a fazenda, passou por alguns riachos, olhava atentamente a paisagem a volta, chegando até a fazenda indicada, a chuva fina começava a cair. Desceu lentamente, deu algum dinheiro para o taxista, ficou parado por algum instante, olhava para o lugar, olhava para longa estrada de terra, resolveu ir embora, andou por alguns metros, parou, no fundo queria vê-la, saber o motivo pelo qual o deixou na porta daquela casa com cinco anos e foi embora chorando, desaparecendo naquela longa rua de paralelepípedo. Mas faltava coragem para Felipe, de vê-la novamente, sofreu por toda vida sua falta; voltou, entrou pelo portão da “Fazenda Lar dos velhinhos”, percorreu um caminho feito por pedrinhas, à sua volta um jardim com bancos, um gramado verde, alguns pés de mexirica, olhava para tudo atentamente, viu uma mureta, a fazenda ficava bem próxima de uma serra. Olhou aquela imensidão tão verde, ao longe uma cachoeira que marcava sua presença em meio às árvores, olhou para o horizonte. Uma senhora veio até ele. - Você é o Professor Felipe, filho de D. Lívea? - Sim, sou eu. - Que bom que conseguimos te encontrar, já faz muito tempo que ela está aqui, só fica deitadinha, mas sempre escreveu muito bem, entre suas coisas, achamos poemas, lindos versos, mas a cada final deles escrevia sobre seu filho, em pedaço seu, que ficou para trás. Felipe entrou na grande casa, passou por vários quartos, na sala enorme estavam várias velhinhas algumas sentadas fazendo crochê, uma das senhoras que cuidava deles veio até ele e lhe disse que a sua mãe estava dormindo. Ficou ali na sala por um longo instante, conversaram, lhe contou que ela o deixou em frente a uma casa de uma médica conhecida na cidade, o criaram com muito amor, eles não tinham filhos, se dedicaram a cada instante, a Felipe, ele os amava, via neles todo carinho que podia receber, o aconchego do afeto, mas sempre pensava naquela moça, que o abraçou quando criança, que aprendeu a chamar de mãezinha, queria entender, apesar de todo carinho que tinha, o motivo pelo qual ela o deixou, virando-se e indo embora, tinha guardado as lágrimas que rolaram pelo seu rosto. Subiu até o quarto daquela senhora, com a mão trêmula, tentava abrir a porta, faltava-lhe coragem, devagarzinho a abriu, o quarto estava escuro, havia um abajur pequenininho na antiga cômoda, olhou para aquela velha senhora deitada, aqueles cabelos já estavam brancos,as rugas dos braços lhe representava o passar do tempo. Olhou para a cômoda, havia uma caneta tinteiro, um pequeno baú com laço de cetim, alguns cadernos. Abriu um deles, a tinta da caneta já estava quase apagada, lia algumas linhas, eram versos, poemas sobre o amor, a vida. . . Pegou a caneta na mão, quando um quase gemido o chamou, a caneta caiu da sua mão e virou-se para ela. Olhou dentro dos seus olhos por algum instante, aquela face levada pelo tempo, lágrimas rolaram daquele rosto, fraquinha já estava, com muita dificuldade estendeu seus braços. O coração de Felipe se encheu de alegria. Foi até ela, a abraçou, as lágrimas se encontraram, pela felicidade que, mesmo apesar dos anos, ficou guardada em seus corações, Felipe não queria soltar do aconchego daquele amor que por muitos anos ficara distante, sempre a amara também. A noite chegou, a levou até a sala, todos lá estavam, a lareira acesa, todos cobertos por cobertor, D. Lívea muito feliz, sabia que por um instante da vida deixou um pedaço de si, pois não o podia criar, já teve que dormir na rua, órfã também, mas queria que o seu filho tivesse um lar, que fosse feliz. Deixou-o com o coração apertado, era muito nova, às vezes juntava dinheiro e comprava algum brinquedinho, pois um dia queria vê-lo de novo. Felipe sabia que voltaria para sua família que agora tinha, mas com o coração cheio de felicidade, pois tinha encontrado aquela que foi tão especial em sua vida, pois sabia agora porque ela o deixou, não por falta de amor, mas por muitas razões que às vezes fazem parte de nossas vidas. A tarde chegou, e leu nas últimas linhas do seu querido diário. Jamais poderemos esquecer um amor tão especial !” Fechou o antigo diário, o filho veio até ele, levantou-se trêmulo do banco do jardim, a tarde chegara, as folhas voavam sobre o gramado, outro outono chegou e Felipe caminhou com um sorriso no velho semblante! FIM