O PLANEJAMENTO COMO ELEMENTO NORTEADOR DA
QUALIDADE DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
JUNGES, Kelen dos Santos - PUCPR
[email protected]
POVALUK, Maristela - PUCPR
[email protected]
SANTOS, Vanderlei Siqueira dos - PUCPR
[email protected]
Área Temática: Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
É notória a expansão e consolidação da educação a distância no sistema educacional
brasileiro, especialmente ao final da década de 90, bem como de suas múltiplas possibilidades
e caminhos. Nessa perspectiva, esse artigo apresenta um processo de estudo realizado por um
grupo de alunos mediados por uma professora pesquisadora do programa de pós-graduação
stricto sensu de uma Universidade particular de grande porte do Estado do Paraná. O estudo
se inseriu na Linha de Pesquisa Teoria e Prática Pedagógica na Formação de Professores, em
torno da temática Educação a Distância, durante quinze encontros semanais envolvendo onze
alunos/pesquisadores, provenientes da educação básica e ensino superior, com práticas de
EaD. A partir de leituras, discussões e troca de experiências como encaminhamento
metodológico com o grupo de estudos, percebemos que muitos dos problemas nos
cursos/programas de EaD, advém da falta de consistência, ou mesmo da ausência do
planejamento. O que, geralmente, resulta em descontinuidade, falta de recursos humanos e
materiais, desconsideração das reais necessidades dos alunos, falta de significância dos
materiais didáticos, inadequação das tecnologias e dos modelos de acompanhamento e
avaliação. Esse trabalho, a partir deste contexto, objetiva refletir sobre o planejamento,
enquanto elemento norteador do processo ensino e aprendizagem na modalidade de EaD a
partir de quatro dimensões: a dimensão conceitual, a dimensão didático-pedagógica, a
dimensão administrativa e a dimensão de autorregulação. A atenção a essas dimensões, além
de possibilitar coerência teórica e metodológica ao curso e fidelidade aos princípios
filosóficos institucionais, ainda esclarece aos alunos e aos profissionais envolvidos o percurso
a ser percorrido e suas exigências. Consideramos que o planejamento em EaD constitui
instrumento essencial para a efetivação de um processo de ensino e aprendizagem amplo,
contextualizado e significativo.
Palavras-chave: Educação a Distância. Planejamento. Ensino/Aprendizagem.
3295
Introdução
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 9394/96, art. 1º, “a
educação abrange processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. O grupo de estudos percebe
que essa visão ampla de educação, concebida como processos formativos e proporcionada por
uma diversidade de lugares e instituições, pode ser elucidativa para a educação a distância
(EaD).
São essas possibilidades que caracterizam o surgimento da EaD no Brasil na década de
1970, seja como alternativa encontrada pelo Governo Federal para tentar diminuir o
analfabetismo no país, seja pelo fato de os meios de comunicação, já naquela época,
mostrarem-se favoráveis a essa modalidade de ensino.
Alarcão (2001) nos lembra que o objetivo da educação é a educação para a vida e,
Garcia (1999), complementa afirmando que essa educação constitui um processo que perdura
a vida toda. Sendo assim, pelas diferentes possibilidades pedagógicas que oferece, mediação
das tecnologias da informação e comunicação, pelas características de abertura, flexibilidade,
democratização, interatividade, individualização e colaboração, a EaD apresenta potencial
significativo no contexto educacional contemporâneo.
Na diversidade de conceitualizações para a EaD, a identificamos como uma
modalidade educativa capaz de atender alunos dispersos geograficamente por meio de
tecnologias e metodologias que pretendem o ensino-aprendizagem de forma autônoma.
Entendemos essa autonomia em três dimensões conforme a perspectiva de Peters (2001 apud
ROESLER, 2008, p.107):
A dimensão filosófica busca sua explicação no pensamento Kantiano, no qual a
liberdade do ser humano é conquistada a partir da plena consciência de suas ações.
Na dimensão pedagógica, a autonomia acontece quando os seres humanos não são
objetos de condução no processo ensino-aprendizagem, mas sujeitos da sua própria
educação. A dimensão didática acontece no reconhecimento pelos estudantes de
suas necessidades de estudo, quando eles planejam e avaliam estratégias para o
cumprimento dos objetivos da sua aprendizagem.
Outro fator importante que aparece nesse conceito de EaD é a referência à mediação
tecnológica e às metodologias com vistas à autonomia. Com a LDB 9394/96, regulamentada
3296
pelo decreto 5.622, de 20 de dezembro de 2005, é estabelecida uma política de garantia de
qualidade no tocante aos variados aspectos ligados à EaD. A partir desse decreto, o Ministério
da Educação (MEC) elabora o referencial de qualidade para a EaD (BRASIL, 2007), no qual
estabelece que os programas podem apresentar diferentes desenhos e múltiplas combinações
de linguagens e recursos educacionais e tecnológicos e, que é a natureza do curso, as reais
condições do cotidiano e necessidades dos estudantes que irão definir a melhor tecnologia e
metodologia a ser utilizada.
É nessa perspectiva que se delimitou o tema deste estudo para refletir sobre o
planejamento enquanto instrumento norteador para a realização e qualidade de um
curso/programa de EaD. De acordo com Ferreira (1999, p.1582), “o planejamento é o trabalho
de preparação para a tomada de decisão, segundo roteiros e métodos determinados”. Nesse
sentido, em EaD o planejamento se constitui instrumento fundamental para a garantia da
qualidade e do alcance dos objetivos propostos.
As atividades realizadas pelo grupo de estudos como leituras, reflexões e troca de
experiências, possibilitaram a eleição de quatro dimensões a serem abordadas num
planejamento de EaD: a dimensão conceitual; a dimensão didático-pedagógica; a dimensão
administrativa e a dimensão de autorregulação. O bom êxito dos cursos/programas de EaD
depende da elaboração prévia dessas dimensões e da necessária integração.
A atenção a essas dimensões, além de possibilitar coerência teórica e metodológica ao
curso e fidelidade aos princípios filosóficos institucionais, ainda esclarece aos alunos e
profissionais sobre o percurso a ser percorrido e suas exigências. Nesse sentido, contribui para
diminuir a separação física entre professores e alunos e clarifica a forma de apropriação das
tecnologias e de integração entre os agentes do processo.
Planejamento em educação a distância
Assim como para qualquer projeto, seja ele pessoal ou profissional, como construir
uma casa, fazer uma viagem ou desenvolver uma pesquisa, o planejamento deve ser parte
integrante e presente em todos os passos em direção ao objetivo a ser alcançado. É preciso
definir claramente o porquê, para quê, para quem, com quem, onde, quando, como e com o
quê fazer.
Na EaD não é diferente, é imprescindível um minucioso planejamento de todas as
ações envolvidas na concepção, produção e implementação dos cursos ou programas.
3297
Entendemos que o planejamento, como elemento norteador, está diretamente vinculado à
elaboração do projeto político-pedagógico do curso pretendido, ou poderíamos afirmar que o
projeto político-pedagógico é o próprio planejamento, na medida em que requer uma reflexão
acerca das concepções e dos objetivos do curso, para quem se destina, as condições de
produção e implementação, os recursos disponíveis, etc.
Neste sentido, baseando-se em autores como Corrêa (2009), Brasil (2007), Arnold
(2003) e Niskier (2000), destacamos quatro dimensões a serem consideradas no
desenvolvimento de um programa de EaD com qualidade e viabilidade: dimensão conceitual,
dimensão didático-pedagógica, dimensão administrativa e a dimensão de autorregulação.
Dimensão conceitual
A dimensão conceitual do planejamento, na qual se estabelece a definição da natureza,
do nível e do alcance do curso, ocorre dentro do contexto de seus objetivos, valores e
filosofias de aprendizagem e de educação. Aqui, são discutidas e descritas as concepções da
instituição com relação ao mundo, à sociedade, à educação, à aprendizagem, ao currículo, da
pessoa (estudante) que pretende formar. Esta identificação conceitual forma as bases
filosóficas e pedagógicas do planejamento.
Entendemos que a dimensão conceitual, enquanto parte fundante de um curso de EaD,
revela-se na compreensão da relação entre a construção da pergunta (demandas,
oportunidades) e a resposta a ser dada por meio da operacionalização do curso. Pode ser
esclarecida em dois níveis: nível técnico: quanto à tecnologia mediadora, material didático,
tutoria; comunicação, avaliação; e nível teórico-metodológico: quanto à articulação do todo
com as partes, pretensões críticas, teoria priorizada, autores selecionados, opção
epistemológica e concepção de homem, educação e de realidade.
Na concepção e operacionalização dos cursos de EaD, conforme salienta Arnold
(2003), observamos que instituições públicas, normalmente, tendem a criar projetos que se
inserem em uma política nacional de educação de médio ou longo prazo, enquanto
organizações particulares se voltam (embora haja diversificação de missões institucionais),
prioritariamente, para as necessidades de segmentos de mercados específicos, que exigem
uma resposta mais rápida às suas demandas. “Isso equivale a dizer que um curso de educação
a distância pode assumir uma variedade de configurações, de acordo com o perfil de atuação
3298
da instituição proponente, bem como seu papel e compromisso, no contexto geral da educação
do País” (p.181).
De acordo com Luckesi (1995), o ato de planejar baseia-se em opções filosóficas e
políticas e são elas que estabelecem as finalidades de uma determinada ação. E essas
finalidades ocupam lugar na sociedade. São um ato axiologicamente comprometido.
Dimensão didático-pedagógica
De acordo com Arnold (2003), a EaD exige estratégias de ensino/aprendizagem,
desenho, linguagem, acompanhamento, recursos técnicos e tecnológicos que lhe conferem
uma identidade própria e o distinguem de um curso presencial. Nessa perspectiva, a dimensão
didático-pedagógica se refere e estabelece, em sincronia com a dimensão conceitual, a
proposta curricular do curso/programa, a qual envolve: a especificação dos objetivos, da
seleção dos conteúdos, da preparação do material didático, das mídias a serem utilizadas, do
estudo do perfil dos estudantes e do processo de avaliação do estudante.
A elaboração dos objetivos, feita a partir da concepção do curso, tem a função de
orientar os professores e alunos quanto às metas a atingir. O que, no entanto, não constitui
uma camisa de força. Entendemos que em uma visão dialética de educação, as aprendizagens
construídas no processo são tão importantes quanto o alcance das metas propostas. Isso
significa que na EaD, a flexibilidade e a abertura são elementos importantes para a
valorização do elemento humano presente e da diversidade de linguagens e potencialidades
envolvidas.
O planejamento em EaD é um processo multidisciplinar e integrado de todos os atores
envolvidos no processo. Por objetivar e efetuar mudanças no contexto educacional e social
constitui-se, também, um ato político. Essa idéia é expressa por Arnold (2003, p.178) quando
argumenta que o planejamento em EAD se constitui oportunidade para refletir sobre a prática
educativa e avaliar os fundamentos sociais, políticas e econômicos presentes:
É fundamental, entretanto, que o planejamento em EaD transcenda o mero desenho
de um plano seqüenciado, coerente, que inclui uma série de fases ordenadas e
interdependentes. Ele pode e deve constituir uma oportunidade para reflexão sobre a
nossa prática educativa de forma geral e sobre a nossa co-responsabilidade no
estabelecimento de prioridades político-educacionais que incluam todos os cidadãos,
independente do seu estrato econômico e social, garantam sua inserção, de forma
crítica e permanente, na sociedade.
3299
Outro componente importante previsto na dimensão didático pedagógica é a seleção
de conteúdos. Ligado a uma rede de vasta oferta de informações e conhecimento é preciso
atenção aos objetivos do curso para haver coerência na seleção dos conteúdos. De acordo com
Sartori e Roesler (2005), na seleção dos conteúdos, além de levar em consideração as
orientações legais da educação com relação à organização do currículo, dependendo do nível
ao qual se dirige, deve priorizar no planejamento os conteúdos mais importantes. Dessa
seleção decorre a escolha das estratégias e a preparação do material didático.
Os materiais didáticos têm um papel fundamental na EaD, operando como fio
condutor do processo de aprendizagem, mediando e permeando toda a interação do aluno com
os conteúdos curriculares. Têm a função de facilitar e organizar os procedimentos estratégicos
no processo ensino aprendizagem. Nesse sentido, na preparação de materiais didáticos para
EaD, é fundamental considerar para quem são escritos, atentando para a clareza e coerência
didática. Para Arnold (2003, p.194):
Materiais didáticos tornam-se mais motivadores e relevantes quando levam em
consideração o perfil e o universo do público destinatário, seus interesses,
preocupações e aspirações. Assim, a confecção dos textos que oferece os conteúdos
precisa respaldar-se em estratégias de linguagem e de organização que venham a
facilitar e possibilitar a compreensão desses conteúdos por esse público.
Nessa perspectiva, o material didático, assume função para além da reprodução do
conhecimento. Ele cumpre a função de estimular a construção do conhecimento, de gerar
indagações e interações valiosas promovendo a comunicação entre os sujeitos da
aprendizagem.
Para que isso se concretize, a autora ainda chama a atenção para o estabelecimento de
um cronograma de execução, avaliação e aprovação do material didático. Conforme a autora,
os diversos estágios de produção devem estar especificados no cronograma de execução,
estipulando os prazos referentes à elaboração de conteúdos, mídias selecionadas, manuais,
materiais complementares, direitos autorais, revisão, editoração, diagramação, produção de
vídeos, impressão gráfica, CD-ROMS, tele e/ ou videoconferências.
Essa visão complexa na construção de material didático é complementada pela seleção
de mídias mediadoras, a qual pressupõe dois processos: Em primeiro lugar um processo de
seleção de mídia conforme a concepção filosófica e pedagógica do curso e em segundo lugar,
um processo de integração, convergência e uso qualificado dos recursos de mídia como
3300
materiais impressos, televisivos, radiofônicos e de informática a partir do perfil do público
atendido. Esse processo amplo e integrado coloca o aluno, bem como sua aprendizagem no
centro da concepção, planejamento, produção e implementação dos cursos de EAD. Arnold
(2003, p. 188), argumenta que “a melhor proposta educativa não é, necessariamente, a que
utiliza os recursos tecnológicos mais avançados ou uma rica combinação das mídias, mas a
que leva em consideração as características do público-alvo e garante a sua participação
efetiva no projeto”.
A avaliação se constitui outro elemento fundamental da dimensão didáticopedagógica. A esse respeito, Arnold (2003) argumenta que a natureza, freqüência e critérios
de distribuição de pontos e de aprovação devem refletir a concepção do curso e os objetivos
formulados. Com uma visão complexa de avaliação identificamos o pensamento de Brasil
(2007), segundo o qual o objetivo principal da avaliação dos alunos deve ser o
desenvolvimento de habilidades, atitudes e competências cognitivas. A avaliação, dessa
forma, constitui-se instrumento de acompanhamento e promoção da aprendizagem ocorrida
num processo contínuo que perdura todo o período do curso.
Dimensão administrativa
Esta dimensão do planejamento envolve a previsão de recursos físicos e humanos,
bem como o sistema de comunicação e a gestão destes recursos. Em EaD, cada instituição
planeja de acordo com as especificidades de seu curso a designação dos profissionais
responsáveis para exercer cada uma das atividades necessárias, bem como dos recursos
financeiros e condições físicas disponíveis para a sua execução.
Um curso de EaD, normalmente conta com uma equipe multidisciplinar trabalhando
de forma integrada. De acordo com Roesler (2006), Brasil (2003) e Arnold (2003) os recursos
humanos principais para a implementação da EaD são:
a) Equipe administrativa: inclui profissionais que atuam como responsáveis pela
gestão e coordenação do processo; pelo setor financeiro (compras, contabilidade,
folha de pagamento, etc.); pelo atendimento a alunos (matrícula, registro
acadêmico, certificação, comunicação); pelo envio do material;
b) Equipe pedagógica e de desenvolvimento: inclui coordenadores de curso (gestão
docente e discente do curso); professores (que ministram as aulas, que
selecionam, elaboram os conteúdos, que escrevem o material didático, que
3301
desenvolvem os projetos); responsáveis pela avaliação da aprendizagem e
institucional; responsáveis pela formação dos profissionais envolvidos; tutores
(que atuam como apoio ao aluno, na motivação, no favorecimento à compreensão
dos conteúdos, etc.);
c) Equipe técnica: inclui profissionais responsáveis pela operacionalização
tecnológica do processo (da instalação dos equipamentos, do desenvolvimento e
funcionamento do ambiente virtual, da edição das gravações, da publicação do
material, etc.); pela preparação do material didático (criação de ilustrações e
animações); administração da rede.
Para Arnold (2003) estes profissionais devem ser altamente qualificados para as
funções que irão exercer, estando cientes de seu compromisso e, acima de tudo, acreditar no
projeto que estão desenvolvendo. Para tanto necessitam de uma formação continuada em
sintonia com o planejamento institucional.
Roesler (2006) salienta que a composição da equipe e a divisão do trabalho1 depende
muito da realidade, dos objetivos, quantidade de alunos e cursos/programas oferecidos e das
condições de cada instituição. Nesse sentido, chamamos a atenção para uma prática recorrente
em EaD com vistas a baixar custos: a tutoria por agente que não seja o autor do material
didático. Essa prática, se não contar com necessária interação entre autor e tutor, prejudica a
qualidade dos cursos, principalmente em relação ao diálogo crítico em relação aos conteúdos
propostos.
Tratando-se de custos, um ponto que deve ser levado em consideração ao planejar a
modalidade a distância é a infraestrutura necessária para tal concretização e, por
consequência, dos recursos financeiros disponíveis. A prática em EaD tem mostrado que
dependendo da abrangência do curso, do público alvo e das mídias escolhidas, o custo inicial
pode ser relativamente alto, mas com a demanda, pode haver redução de custos a longo prazo.
O não planejamento ou a má administração de recursos financeiros pode prejudicar o
processo de aprendizagem, desestruturar, finalizar de forma prematura um curso/programa de
EaD ou provocar sua descontinuidade.
Neste sentido, outro ponto relevante desta dimensão, e que, geralmente os autores não
o consideram como parte do planejamento, é a gestão. Pois não adianta ter todo o curso nas
mãos, mas não saber como administrá-lo, ou, ao menos, fazer cumprir o que foi planejado.
1
Por exemplo, um mesmo professor pode selecionar os conteúdos, preparar o material didático e ministrar a
aula.
3302
De acordo com Rumble (2003) a gestão em EaD consiste em tomar decisões e
escolher a melhor forma de operacionalizar as ações planejadas. Uma gestão eficiente e eficaz
consegue atingir com sucesso os objetivos propostos e, ao mesmo tempo otimizar recursos,
reduzindo custos, sem perder de vista as orientações legais e a qualidade pedagógica do curso.
Além de administrar os recursos financeiros o bom gestor também gerencia os
conflitos, problemas e imprevistos de forma perspicaz e com discernimento. Nesta
perspectiva, Roesler (2006) afirma que o gestor deve valorizar todos os profissionais
envolvidos, ao mesmo tempo apontando as melhores habilidades de cada um e a sua
corresponsabilidade pelo desenvolvimento do processo, exigindo de cada um o mesmo padrão
de qualidade.
Ainda Rumble (2003) destaca que um grande desafio para o gestor é trabalhar com a
“distância” entre a instituição e os alunos. Tal desafio pode ser vencido pelo bom uso das
tecnologias e da relação empática e interativa entre professor/aluno, tutor/aluno,
secretaria/aluno para a aproximação e diminuição desta distância.
No tocante ao uso da tecnologia, Brasil (2007), apregoa que o princípio da
interatividade, da cooperação e da colaboração são fundamentais para o processo de
comunicação e deve ser garantido no uso de qualquer meio tecnológico a ser disponibilizado.
Dimensão de autorregulação
Por último, mas não menos importante, está a dimensão de autorregulação do
planejamento, que implica na avaliação do curso/programa (avaliação externa) e na
autoavaliação da instituição (avaliação interna).
Para Giusta (2003), ao planejarmos um curso/programa a distância, conhecemos
menos os alunos do que se fosse presencial. Disso decorre um nível maior de vulnerabilidade,
o qual vai sendo amenizado no decorrer das aulas/atividades com o uso dos materiais e a
interação com os alunos.
Por isso, o planejamento da avaliação, tanto interna quanto externa, merece atenção
especial. É necessário para que a instituição possa rever e modificar ações que estão obtendo
resultados negativos, assim como manter e ampliar as ações que tiveram resultados positivos,
tendo por finalidade um exame crítico do processo e uma retroalimentação adequada.
Conforme a autora deve-se entender que a avaliação não é uma “atividade puramente
técnica e, por isso mesmo, não tem independência quanto às finalidades da educação, à função
3303
das instituições educativas, a uma concepção do processo ensino/aprendizagem e do sujeito
aprendiz [...]”. (p. 35)
Portanto, exige-se que a avaliação abranja todas as dimensões já citadas neste artigo,
que estão incluídas no curso/programa, que vai desde uma avaliação dos impactos da EaD na
realidade social em que está inserida, avaliação do desempenho do aluno, professores, do
material didático até à administração e ao aluno egresso, de forma sistemática e contínua.
Esta dimensão também constitui um referencial para a tomada de decisão quanto ao
futuro e conseqüente preparação da EaD. Sabemos que a globalização, as inovações
tecnológicas e a produção do conhecimento crescem a cada dia, numa velocidade cada vez
maior. Há dez anos não poderíamos imaginar que teríamos o número de alunos que temos
hoje nesta modalidade. Portanto, é importante pensar no papel que a EaD poderá
desempenhar e de sua projeção para daqui mais alguns anos.
Conclusão
Percebe-se, diante do exposto e dos estudos realizados, que o planejamento permeia
todos os momentos de um curso/programa na modalidade a distância, desde sua concepção a
sua avaliação, incluindo sua gestão e operacionalização.
As dimensões destacadas pelo grupo de estudos neste processo de investigação, se
bem atendidas, garantem coerência teórica e metodológica, antes, durante e após a realização
do curso, mantendo fidelidade aos princípios e objetivos propostos pela instituição.
Sendo assim, consideramos que o planejamento em EaD constitui instrumento
fundamental para a efetivação de uma educação ampla, contextualizada e significativa,
possibilitando à instituição (professores, alunos e os profissionais envolvidos no projeto),
clareza sobre o caminho percorrido, os recursos disponíveis e o horizonte a ser perseguido,
assegurando a corresponsabilidade de cada um na realização da EaD. Ou seja, é um elemento
norteador para a qualidade da EaD.
Por isso, a improvisação, a falta de um planejamento consistente por parte de diversas
instituições que oferecem a EaD, como pudemos notar por meio da análise da literatura, das
discussões e reflexões do grupo de estudos, é que, muitas vezes, faz com que ainda existam
muitas pessoas/profissionais que não acreditem nesta modalidade. É urgente reconhecer sua
importância e buscar a sua qualidade, não somente por uma exigência legal, mas por uma
questão moral e de responsabilidade, como professores e educadores que somos.
3304
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Escola Reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001.
ARNOLD, Stela Beatris Tôrres. Planejamento em educação a distância. In: GIUSTA, A. da
S.; FRANCO, I. M. (Org.) Educação a distância: uma articulação entre teoria e prática. Belo
Horizonte: PUC Minas Virtual, 2003. P.177-200.
BRASIL, Referenciais de Qualidade para o Ensino Superior a Distância, Brasília: SEED:
MEC, 2007.
CORRÊA, Juliane. Planejar e avaliar em programas de educação a distância. Disponível
em: < http://arquivos.unama.br/nead/fit/modulo_1/html/materiais/Unidade04_p33-41.pdf>
Acesso em: 29 abr. 2009.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de professores: para uma mudança educativa. Lisboa:
Porto Editora, 1999.
GIUSTA, Angela da Silva. Educação a distância: contexto histórico e situação atual. In:
________; FRANCO, Iara Melo. (Org.) Educação a distância: uma articulação entre teoria e
prática. Belo Horizonte: PUC Minas Virtual, 2003. P. 17-42.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições.
São Paulo: Cortez, 1995.
NISKIER, Arnaldo. Educação à distância: a tecnologia da esperança. 2.ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2000.
SARTORI, Ademilde; ROESLER, Jucimara. Redação de textos para EAD: do impresso ao
on-line. In: ______. Educação Superior a distância: gestão da aprendizagem e da produção de
materiais didáticos impressos e on-line. Tubarão: Unisul, 2005.
ROESLER, Jucimara. (Org.) A gestão de programas de EaD. In: ______. Administração e
planejamento em EaD: curso de extensão na modalidade a distância. Palhoça: Unisul, 2006.
P. 90-123.
______. Características, mídias e gestão da educação a distância. Revista Cenário Rural,
Brasília: SENAR, 2008.
RUMBLE, Greville. Introdução. In: ______. A gestão dos sistemas de ensino a distância.
Brasília: Editora da Universidade de Brasília: Unesco, 2003. P. 13-18.
Download

o planejamento como elemento norteador da qualidade