i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA ADRIANA AMARO ALVES DE CARVALHO MÚSICA COMO ELEMENTO DO CUIDAR/CUIDADO DE ENFERMAGEM: UM ESTUDO SOBRE O PACIENTE HOSPITALIZADO E SUA INTERAÇÃO COM A MÚSICA EEAN UFRJ 2010 ii ADRIANA AMARO ALVES DE CARVALHO MÚSICA COMO ELEMENTO DO CUIDAR/CUIDADO DE ENFERMAGEM: UM ESTUDO SOBRE O PACIENTE HOSPITALIZADO E SUA INTERAÇÃO COM A MÚSICA Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Orientador: Profª. Drª. Maria José Coelho Rio de Janeiro Março, 2010 iii MÚSICA COMO ELEMENTO DO CUIDAR/CUIDADO: UM ESTUDO SOBRE O PACIENTE HOSPITALIZADO E SUA INTERAÇÃO COM A MÚSICA Adriana Amaro Alves de Carvalho Orientadora: Profª. Drª. Maria José Coelho Defesa de Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 26/03/2010, como requisito à obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Aprovada por: ............................................................................................................ Profª. Drª. Maria José Coelho (EEAN/UFRJ) Presidente ............................................................................................................ Prof. Dra. Vanda Lima Bellard Freire (EM/UFRJ) 1º Examinador ............................................................................................................. Prof. Dra. Nébia Maria Almeida de Figueiredo (EEAP/ UNIRIO) 2º Examinador ............................................................................................................. Prof. Drª Jaqueline Da Silva (EEAN/UFRJ) 1º Suplente ........................................................................................................... Prof. Drª Ana Karine Ramos Brum (EEAP/ UNIRIO) 2º Suplente Rio de Janeiro Março, 2010 iv Carvalho, Adriana Amaro Alves. Música como Elemento do Cuidar/Cuidado de Enfermagem: Um Estudo sobre o Paciente Hospitalizado e sua Interação com a Música / Adriana Amaro Alves – Rio de Janeiro: UFRJ / EEAN, 2010. 139f. Orientadora: Maria José Coelho. Dissertação (mestrado) – UFRJ / EEAN / Programa de Pós Graduação e Pesquisa, 2010. Referências Bibliográficas: f. 126-133 1. Enfermagem. 2. Música Terapêutica. 3. Humanização Hospitalar. I. Coelho, Maria José. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de PósGraduação e Pesquisa. III. Título CDD: 610.073 v Veja Não diga que a canção está perdida Tenha fé em Deus, tenha fé na vida Tente outra vez Beba Pois a água viva ainda está na fonte Você tem dois pés para cruzar a ponte Nada acabou, não não não não Tente Levante sua mão sedenta e recomece a andar Não pense que a cabeça agüenta se você parar, não não não não Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira Bailando no ar Queira Basta ser sincero e desejar profundo Você será capaz de sacudir o mundo, vai Tente outra vez Tente E não diga que a vitória está perdida Se é de batalhas que se vive a vida Tente outra vez Raul Seixas/ Paulo Coelho/ Marcelo Motta vi DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu companheiro Cleones Silva, que me apoiou e ajudou durante toda essa jornada pelo encorajamento, solidariedade e acolhimento. vii AGRADECIMENTOS Sempre em primeiro lugar DEUS, por me tornar a pessoa que sou. A minha família, Maria Amaro, Francisco Carvalho, Daniel Carvalho. Aos Amigos e irmãos de luta Flávia Mello, Rose Santos, Sandra Rosana, Vladimir Oliveira, Heloisa Griese, Ana Angélica, Daniel Mendes, Maria Amália, aos companheiros de trabalho da Coordenação Geral de Armazenamento. Aos professores da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ, em especial à professora Drª Maria José Coelho, orientadora deste trabalho, e às professoras Drª. Nébia Figueiredo e Drª. Vanda Freire e Drª Karine Brum pelas críticas enriquecedoras. À professora Drª. Márcia de Assunção Ferreira e a Drª Marlea Chagas Moreira pelo incentivo tranqüilo, pela consultoria e ajuda na aquisição da Bolsa FAPERJ aluno nota 10. Ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho em especial ao Técnico de Enfermagem José Clementino Neto e ao Hospital Geral de Bonsucesso, pelo o aceite ao meu trabalho, a Coordenação de Atenção Comunitária e Voluntariado (CAC) do Hospital Geral de Bonsucesso em especial Simone Corrêa V. de Oliveira e a Simonsen dos Santos pelo apoio e o referencial para esse trabalho. Aos pacientes que fizeram dessa pesquisa e o que de real ela se tornou. A FAPERJ por ter acreditado nessa pesquisa e ter dado a oportunidade da Bolsa de aluno nota 10. viii RESUMO CARVALHO, A. A. A. Música como elemento do cuidar/cuidado: um estudo sobre o paciente hospitalizado e sua interação com a música. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Escola de Enfermagem Anna Nery. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2010 A proposta que aqui se apresentou como “Música como Elemento do Cuidar/Cuidado de Enfermagem: Um Estudo sobre o Paciente Hospitalizado e Interação com a Música” destinou-se a promover um cuidar/cuidados significativos que sejam funcionais e provocadoras, referentes à aplicação da música para o paciente hospitalizado. As questões norteadoras utilizadas como principio foram se existem abordagens terapêuticas através da música nos ambientes hospitalares no município de Rio de Janeiro? Pode a música ter relação com o cuidado de Enfermagem? O que desperta a música no paciente hospitalizado? Partindo desses, surgiram os objetivos, buscar o que traz a música no ambiente hospitalar para paciente hospitalizado e a correlação com o cuidado de Enfermagem; Fazer um levantamento das instituições hospitalares que utilizam música; Caracterizar as respostas do paciente hospitalizado e a relação com a música no ambiente hospitalar; Analisar a relação música, paciente e Cuidado de Enfermagem durante a hospitalização. O estudo trouxe como referencial teórico Coelho, com o conceito do cuidar/cuidado de enfermagem, Watson, que conceitua o cuidado como maior valor que a enfermagem tem para oferecer à humanidade e Freire, que nos fez entender em tese citada na revisão literária desse estudo, o que de fato é música e, há quanto tempo a mesma nos acompanha e faz parte das nossas vidas. Pesquisa do tipo qualitativo com análise temática. Os sujeitos da pesquisa foram pacientes internados em Clínica de Ortopedia de dois hospitais públicos da cidade do Rio de Janeiro. Os resultados concluíram a influência positiva da musica no hospital para o paciente durante a internação, mostra a expressão de emoções e significação perante os pacientes internados. Os resultados emergiram na pesquisa em 03 categorias dadas como principais, a primeira foi o perfil da clientela que nos mostrou idade, profissão, estados civil entre outros aspectos, a segunda categoria tratou o gosto musical do Paciente, trazendo a cultura a tona e mostrando a diversidade do gosto musical e terceira categoria e ultima tratou da relação do paciente internado com a música dentro do ambiente hospitalar, onde foi possível observar a importância da terapia dentre os 50 pacientes entrevistados. Após essa pesquisa chegamos ao número de 02 pacientes que nos disseram que a música não estaria causando nenhuma ajuda naquele momento, totalizando 4% em contraponto com os outros 48 pacientes que afirmaram positividade na terapêutica da música no ambiente hospitalar que totalizou 96%. É de suma importância a questão da preferência musical de cada paciente internado, sendo essencial para todos os momentos da existência e especialmente para o estabelecimento de um relacionamento interpessoal enfermeiro/paciente adequado. Portanto, uma proposta de música nos hospitais pode ser algo interessante, extremamente relevante e de baixo custo. Recomendamos a continuação da pesquisa, no Estado do Rio de Janeiro, tendo que ter as considerações que em outros Estados poderemos ter novos gostos musicais e diferentes interpretações da música no ambiente hospitalar, é importante respeitar os 4% dos pacientes que não acreditam que a música poderá ajudá-los no momento da internação, sugerindo desta forma um fone de ouvido, e sugerimos para hospitais a terapêutica musical com profissionais qualificados com a preocupação da preferência musical respeitando a individualidade de cada um. Palavras Chaves: Enfermagem/Pacientes hospitalizados, Cuidar/cuidados de Enfermagem, Música/Processo saúde/doença/cuidados, Musicoterapia, Musica\Cuidado, Terapias alternativas. ix ABSTRACT CARVALHO, A. A. A. Music as element of the take care/care: a study about the interned patient and its interaction with the music. Dissertation (Master Degree in Nursing). Escola de Enfermagem Anna Nery. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2010 The purpose that here is presented as “Music as Element of the Take Care/Care of Nursing: A Study about the Interned Patient and Interaction with the Music” aimed to promote a significant take care/care that are functional and provoker, referent to the music application for the interned patient. The guiding questions utilized as principle were “Are there therapeutic approaches through the music in the hospital environments in the Rio de Janeiro county?” Can the music have relation with the Nursing care? What does the music arouse in the interned patient? Starting from these, there came up the objectives, to search for what brings the music in the hospital environment for the interned patient and the correlation with the Nursing care; To do a raising of the hospital institutions that utilize music; Characterize the interned patient´ s answers and the relation with the music in the hospital environment; Analyze the relation music, patient and Nursing Care during the hospitalization. The study brought as theoretical reference Coelho, with the concept of the take care/care of nursing, Watson, who conceptualize the care as more value that the nursing have to offer to the humanity and Freire, that led us to understand in thesis cited in the literary revision of this study, what in fact is music and, how long does the same accompany us and is part of our lives. Research of qualitative type with thematic analysis. The research´ s subjects were patients interned in Orthopedics Clinic of two public hospitals of the Rio de Janeiro city. The results concluded the positive influence of the music in the hospital for the patient during the internment, shows the expression of emotions and signification before the interned patients. The results emerged in the research in 03 categories given as the principal, the first was the clientele profile that showed us age, profession, marital status among others aspects, the second category treated the musical liking of the Patient, bringing up the culture and showing the musical liking diversity and third category and last treated of the relation of the patient interned with the music into the hospital environment, where it was possible observing the therapy importance among the 50 interned patients. After this research we reached to the number of 02 patients that told us that the music would not causing any help in that moment, totalizing 4% in comparison with the others 48 patients that affirmed positivity in the music therapeutics in the hospital environment that totalized 96%. And of maximal importance the question of the musical preference of each interned patient, being essential for all the existence moments and specially for the establishing of an adequate interpersonal relationship nurse/patient. Therefore, a proposal of music in the hospitals can be somewhat interesting, extremely relevant and of the low cost. We recommend the continuation of the research, in the Rio de Janeiro State, needing to have the considerations that in other States we can have new musical likings and different music interpretations in the hospital environment, is important to respect the 4% of the patients that do not believe that the music can help them in the internment moment, suggesting thus an ear phone, and we suggest for hospitals the musical therapeutics with qualified professionals with the preoccupation of the musical preference respecting the individuality of each one. Key Words: Nursing/Interned patients,Take care/care of Nursing, Music/ Health/disease/care process, Music therapy, Music/Care, Alternative therapies. x SUMÁRIO CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 12 1.1 Situação a ser estudada.......................................................................................................12 1.2 Questões Norteadoras.........................................................................................................20 1.3 Objeto de Estudo................................................................................................................21 1.4 Objetivos.............................................................................................................................21 1.5 Relevância do Estudo..........................................................................................................21 1.6 Contribuição do Estudo.......................................................................................................23 CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA 24 2.1 O cuidado de enfermagem..................................................................................................24 2.2 O cuidado de enfermagem e a Hospitalização....................................................................27 2.3 O cuidado de enfermagem/Hospitalização e a Música.......................................................30 2.4 Conhecendo a História da Música......................................................................................36 2.5 Dados Coletados Relacionados Música Cuidado...............................................................45 CAPÍTULO III - REFERÊNCIAL TEÓRICO 59 3.1 Cuidar/Cuidado de Enfermagem/Música para Paciente Hospitalizado.............................59 CAPÍTULO IV - REFERENCIAL METODOLÓGICO 66 4.1 A natureza da Pesquisa e o Modelo de Estudo...................................................................68 4.2 Instrumento de Coleta dos Dados.......................................................................................69 4.3 Critérios de Inclusão dos Sujeitos da Pesquisa...................................................................69 4.4 Análise dos Dados...............................................................................................................69 4.5 Implicações Éticas Legais...................................................................................................69 4.6 Cenário da Pesquisa............................................................................................................70 4.7 Comitê de Ética...................................................................................................................74 4.8 Coleta de Dados..................................................................................................................75 4.9 População da Pesquisa........................................................................................................76 CAPÍTULO V – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 77 1º Foco 5.1 Perfil Da Clientela......................................................................................77 2º Foco 5.2 Preferência Musical do Paciente.................................................................85 3º Foco 5.3 Relação do Paciente a Música nos Hospitais............................................ 99 CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS 121 6.1 Limitação do Estudo e Recomendações...........................................................................123 6.2 O processo de Materialização da Idéia da Dissertação de Mestrado...............................124 REFERÊNCIAS 126 xi APÊNDICE Apêndice A – Termo de Consentimento Livre Esclarecido....................................................133 Apêndice B – Diário de Campo..............................................................................................135 Apêndice C – Roteiro de Entrevista........................................................................................136 ANEXOS Anexo A Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do HGB/RJ......................................138 Anexo B Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa HU/RJ..............................................138 Anexo C Proposta de Repertório...........................................................................................139 LISTA DE QUADROS 1- Artigo sobre a música como no cuidado............................................................................ 45 2- Artigos com a música como Intervenção nas clinicas........................................................47 3- Artigos que trazem a música como uma terapêutica..........................................................48 4- Artigos sobre a música como calmante........................................................... 50 5- Artigos sobre a música nas doenças crônicas ..........................................................52 6- Artigos que trazem a música para adolescentes ...........53 7- Artigos sobre música em intervenções de enfermagem ..........................................54 8- Artigos que trazem a música como aliada para o cuidar ......................................54 9- Artigos que trazem a música como recurso na percepção do paciente..............................56 10- Hospitais visitados para o desenvolvimento da Pesquisa...................................................71 11- Distribuição dos Pacientes com preferência pelo Samba/Pagode.......................... 85 12- Distribuição dos Pacientes com preferência pela música Gospel.......................... 88 13- Distribuição dos Pacientes com preferência pela música Hip-Hop...................................90 14- Distribuição dos Pacientes com preferência pela música Sertaneja....................................91 15- Distribuição dos Pacientes com preferência pela MPB.......................................... 93 16- Relação dos Pacientes e efeito da música nos Hospitais................................................. 99 17- Relação dos Pacientes e Música nos Hospitais.................................................................103 18- Relação dos Pacientes e Música durante sua hospitalização........................................... 109 19- Relação dos Pacientes e Música como companhia.......................................................... 114 20- Relação dos Pacientes e Música como recurso para alegrar ......................................... 118 LISTA DE TABELA E GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição por ano das Publicações............................................................... 58 Tabela 1. Distribuição dos Pacientes Internados, sexo.............................................................78 Tabela 2. Distribuição dos Pacientes Internados, faixa etária...................................................79 Tabela 3. Distribuição dos Pacientes Internados, grau de escolaridade....................................80 Tabela 4. Distribuição dos Pacientes Internados, estado civil................................................ .81 Tabela 5. Distribuição dos Pacientes Internados, profissão....................................................82 LISTA DE FIGURA 1 – Roda de Samba....................................................................................................................88 2 – Coral Gospel.......................................................................................................................90 3 – Hip-Hop..............................................................................................................................92 4 – Violonista............................................................................................................................93 5 – MPB....................................................................................................................................98 12 CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES INICIAIS Canta, canta minha gente Deixa tristeza pra lá Canta forte canta alto Que a vida vai melhorar. MARTINHO DA VILA, (1974) www.google.com.br De acordo com a Norma Operacional Básica (NOB/96), a integralidade, um dos princípios do Sistema Único de Saúde, exige novos padrões de relacionamento entre serviços, profissionais e usuários que se efetivam através da relação entre os diversos atores com suas diferentes perspectivas e interesses, no interior das instituições, nos vários níveis de atenção do sistema de saúde (BRASIL, 1997). A partir desta concepção como ponto de partida, o exercício da integralidade pressupõe um olhar atencioso às diversas perspectivas que compõem o processo de produção de saúde: dos usuários, dos grupos de profissionais, das instituições e serviços e do sistema de saúde (RIBAS, 2002, p.2) No processo de inter-relação destas perspectivas estão presentes demandas e ofertas que revelam uma pluralidade de diferenças que, muitas vezes, se apresentam de forma desarticulada e contraditória. O autor (RIBAS, 2002, p.2) acrescenta às relações entre profissionais de saúde-instituição hospitalar, uma multiplicidade de saberes que se evidenciam 13 por expressar particularidades das diversas lógicas que orientam as profissões e as dinâmicas dos serviços. Nesta perspectiva, a integralidade supõe uma capacidade de agir através de equipes multidisciplinares, nas quais haja uma efetiva conjugação dos diversos saberes e práticas. Em especial, a gestão da instituição tem papel fundamental na maneira pela qual os profissionais terão uma participação mais ou menos articulada e integrada. Considerando o momento atual como de grandes transformações em todos os segmentos da sociedade, todos os profissionais, em especial os enfermeiros e suas equipes, que por tratarem da essência da profissão de Enfermagem que é o cuidado, precisam adotar mecanismos que permitam a discussão sobre o cuidado prestado aos pacientes nos estabelecimentos de saúde, bem como a necessidade de legitimar este como foco principal do trabalho da equipe de enfermagem, o qual visa à valorização do ser humano em todas as etapas de seu ciclo de vida, desde o nascer até o morrer. Segundo Alencar, Lacerda e Centa (2005, p.27), em seu artigo “Finitude Humana e Enfermagem: Reflexões sobre o (Des) Cuidado Integral e Humanizado ao Paciente e seus Familiares durante o Processo de Morrer”, “ter cuidado com alguém ou alguma coisa é um sentimento inerente ao ser humano, ou seja, é natural da espécie humana, faz parte da luta pela sobrevivência e percorre toda humanidade”. A enfermeira realmente encara o cuidado como ação humana, aliado ao saber biológico técnico e à aplicação impessoal do seu saber. Ela considera o paciente e seus familiares em seu ciclo de vida, suas experiências, sua integralidade e múltiplos aspectos e dimensões como seres humanos. O cuidar é a essência da Enfermagem, o olhar para cuidar com eficiência e resolutividade deve envolver a ação do cuidado prestado não apenas aos seus clientes/pacientes, mas também à família e outros membros. Minha vida profissional teve início na música, como vocalista de uma banda de Música Popular Brasileira. Estive, desde 1995, cantando músicas Populares Brasileiras à noite no Rio de Janeiro, em casas de show como, Scala, Asa Branca, Passeio Publico, entre outras. No período de 2001 a 2002, resolvi estudar música na Escola de Música Villa Lobos no centro do Rio de Janeiro onde estive por um ano fazendo teoria musical e ingressando em aulas de Piano Clássico. No período de 1995 a 2007 a música era minha única fonte de sustento e recurso. Em 2003, após decidir que iria cursar uma faculdade, tive que optar entre a Faculdade de Música, e a de “Enfermagem”, profissão que eu muito admirava. Essa admiração surgiu após conhecer uma enfermeira, minha vizinha e que falava do seu dia-a-dia e das gratificações pessoais que essa profissão proporcionava ao poder fazer algo ao próximo. 14 Desta forma comecei a pesquisar assuntos relacionados à mesma, e a obter mais conhecimentos sobre o ser humano como um todo, concluindo, por fim que o caminho deveria ser a graduação em enfermagem. No ano de 2003 comecei a cursar a Faculdade de Enfermagem, identificando-me com o cuidado e a aproximação ao meu semelhante. Muitos aprendizados ocorreram durante o período da minha graduação, estes somados à convivência no ambiente hospitalar e às muitas observações feitas em estágios fizeram com que aprendesse coisas que viriam, mais tarde, a mudar o curso de minha vida. No período em que cumpria os estágios em Hospitais, recordei-me de uma aula que havia tido no curso de música. Fomos orientados a tentar perceber naquele momento o imperceptível, avaliar sons e situações os quais não fazíamos costumeiramente. O conteúdo dessa disciplina se chamava Percepção, e através da apreensão desses conhecimentos pude olhar para os pacientes e perceber o que de fato se passava; a escuta dos bips e som oriundo dos aparelhos eletrônicos conectados aos pacientes me fazia perceber que mesmo estando ali para estagiar, por alguns momentos sentia tensão e medo, já que o mundo lá fora me parecia distante da realidade de um ambiente hospitalar. De tais observações, emergiu o projeto de Monografia na Universidade Augusto Motta, concluído em 2007. O projeto foi intitulado “Musica Terapêutica Hospitalar: Terapia Complementar na Assistência de Enfermagem ao Cliente Hospitalizado”. Desse estudo bibliográfico foram feitas muitas pesquisas, além de ter propiciado a descoberta da interseção entre as áreas de música e enfermagem. Pode-se dizer que foi muito valioso perceber que apesar da música e enfermagem parecerem mundos distantes, as mesmas andam paralelamente e convergem para um único ponto: o bem estar e recuperação do paciente. Esse estudo permitiu vislumbrar que sua continuidade levaria à descoberta de novos conhecimentos para o mestrado através de um levantamento bibliográfico e sistemático, em que 100% dos dados apontavam respostas positivas na relação música/paciente. Ao término dessa pesquisa monográfica, comecei a aprimorar tais dados e planejar a sua continuidade sob a perspectiva de um curso de mestrado. Trabalhando atualmente como enfermeira na área de pronto - atendimento numa região do município do Rio de Janeiro, inquietou-me, certo dia, a questão sobre o uso da música nos hospitais. Com os conhecimentos adquiridos em relação à música e Enfermagem, através de levantamentos bibliográficos realizados para minha Monografia, observei que a música, além de trazer alegria, pode causar tristeza; além de recordações boas, pode trazer lembranças ruins; e, da mesma forma que ela pode ser agradável poderá causar incômodo, 15 questões estas que foram discutidas no decorrer da minha pesquisa de graduação, com a finalidade de chegar a um denominador comum e proporcionar ao paciente um ambiente de conforto e longe de fatores de estresse e ruídos desagradáveis. 1.1 Situação a ser Estudada www.google.com.br Concepções advindas da área da Musicologia e Estética sobre a experiência musical remetem ao fato de que a música tem um significado e este é comunicado para quem a faz e para quem a ouve. Meyer (1956), ao estudar o tema das emoções e significados e sua relação com a música, retoma as conhecidas idéias estéticas que prevaleceram e ainda prevalecem sobre a posição absolutista e referencialista do significado musical. Reimer (1970), compartilhando das idéias de Meyer (1956), ressalta que os termos “absolutismo” e “referencialismo” indicam “aonde ir” para encontrar o significado e o valor da obra de arte. Para o autor (REIMER, op.cit, p.17), a posição absolutista indica que a significação musical encontra-se exclusivamente no próprio trabalho de arte, nas relações estabelecidas intrinsecamente e na composição musical. Esta posição prima por um significado abstrato, intelectual, intramusical. No absolutismo, complementa o autor, o significado da obra está nela mesma, ou seja, é para ser encontrado dentro desta (REIMER, op.cit, 17). Segundo Wazlawick (2007) a posição referencialista explica que a música comunica significados que se referem ao mundo extramusical dos conceitos, idéias, emoções, eventos, ou seja, significados que seriam encontrados fora da composição, fora das qualidades puramente artísticas da obra. A posição absolutista admite outras duas posições, a saber: a formalista e a expressionista. O formalismo absoluto diz que o significado da música é puramente intelectual, existindo a partir da percepção e da compreensão das relações musicais na 16 composição. Os sons na música significam “somente eles próprios” (REIMER, 1970, p. 20). Por reconhecer e apreciar a “forma pela forma”, prima pelo aspecto do significado advindo de uma compreensão intelectual-racional. “Os sentimentos e emoções definidos não são suscetíveis de serem personificados na música. Ao contrário, as idéias expressas pelo compositor são inicialmente e principalmente, de natureza puramente musical” (REIMER, 1970, p. 21). O expressionismo vinculado ao absolutismo defende a idéia de que o significado da música reside na percepção e compreensão das relações musicais do trabalho artístico, sendo estas relações capazes de estimular sentimentos e emoções no ouvinte. Meyer (1956) concorda com o formalismo quando diz que o significado e o valor da obra de arte devem ser encontrados nas qualidades estéticas da obra. Apesar de rejeitar os significados extramusicais do referencialismo, aponta que a relação da arte com a vida deveria ser reconhecida (REIMER, 1970). A transformação, no século XX, da música em bem de consumo (ADORNO, 1975) criou diferenciações intensas entre o público, elitizou a chamada "musica culta" e intensificou a passividade e a massificação dos ouvintes. Contudo, convivem com essa "música culta" (também diversificada) diversas outras modalidades de música, da folclórica à música de consumo, numa pluralidade de situações divergentes. A multiplicidade de situações da própria "musica culta" pode ser ilustrada pelo trecho que se segue: O espaço da modernidade é caracterizado, simultaneamente, pela riqueza e pela diversidade da atividade musical. Os grandes centros culturais de então propiciaram o surgimento de um número enorme de estéticas diferentes e, com freqüência, divergentes, criando uma agitação de idéias sem paralelo na História da Música. Pois, contrariamente a outros momentos da História, a modernidade definiu-se não como um período de um estilo geral, característico de uma época, mas como de vários estilos, e, em algumas de suas instâncias, o de várias linguagens (MORAES, 1983, p.12) A diversidade de estilos, assinalada por Moraes, é, sem dúvida, uma característica da época. Embora seja possível questionar em que medida teria havido homogeneidade, em termos de "estilo geral, em épocas passadas da História, cabe destacar no presente momento, a heterogeneidade musical do século XX. Diante de um quadro tão heterogêneo, Adorno (1975 apud Candé1981, p.33), distingue em nossa sociedade oito tipos de comportamento musical, que podem, resumidamente, ser assim descritos: 17 1) o ouvinte ideal, a quem nada escapa, e a quem o compositor considera como o único que pode compreendê-lo perfeitamente, graças a uma "audição totalmente adequada" e a uma “escuta estrutural”; 2) o bom ouvinte, aquele que também escuta algo mais que fenômenos sonoros sucessivos, compreendendo, perfeitamente, o sentido da música, embora de forma pouco consciente, por não ser um técnico; 3) o consumidor de cultura, tipo especificamente burguês, que tende, hoje, a substituir o bom ouvinte; 4) o ouvinte emocional, ao qual a música serve, essencialmente, para liberar os instintos habitualmente rejeitados ou reprimidos pelas normas sociais; 5) o ouvinte rancoroso, que faz do tabu imposto ao sentimento a norma de seu comportamento musical, sendo superficialmente não-conformista, refugia-se no passado, que ele imagina mais puro; 6) o "expert" em jazz, que não é, necessariamente, um técnico, mas é, sempre, um especialista; 7) o ouvinte de musica de fundo, totalmente submisso à pressão dos meios de comunicação de massa; 8) o a-musical, indiferente ou hostil, que é aquele a quem a música é totalmente inútil ou incômoda. No contexto da relação da música e enfermagem passamos por teorias de diversos autores, Coelho (1997), em sua tese “Cuidar/Cuidado em enfermagem de emergência: Especificidade e Aspectos Distintivos no Cotidiano Assistencial”, afirma a relevância de considerar a aplicação dos cuidados que visam à manutenção dos sinais vitais, à preservação dos órgãos nobres - como o coração, o cérebro, rins e pulmão, à observação dos sinais e sintomas e à sua evolução imediata. Objetiva, ainda, proporcionar um ambiente adequado e o atendimento de necessidades como alimentação, eliminações, posição anatômica e funcional, postura corporal correta, repouso, vestuário, restrição mecânica cuidadosa e eficiente e assistência religiosa e familiar. Tais cuidados são operacionalizados de forma técnica à execução de uma série de atividades psicomotoras, subdivididas, compondo uma rede interligada de cuidados (COELHO, 1997). A autora (COELHO, op.cit., p.33), afirma que a música, num ambiente de emergência, tem como proposição interligar o ambiente interno ao externo. Afirma que as ocorrências da emergência, freqüentemente, retiram as pessoas rapidamente do seu ambiente e de forma 18 brusca do convívio social, rompendo os laços afetivos, familiares, sociais e políticos cotidianos. Após o contexto acima, é importante salientar que essa dissertação foi desenvolvida na prática da Música como apoio às terapias relacionadas à saúde para paciente hospitalizado, com a seguinte questão: Por que haveríamos de desejar ter música nos hospitais? Em resposta simples a questão, poderia dizer que, a princípio, o faríamos para distração dos pacientes, acompanhantes e funcionários, ou para tornar o ambiente hospitalar mais agradável. Essa seria uma das possibilidades, porque a hospitalização (admissão e permanência em um estabelecimento hospitalar) constitui um momento de ruptura na vida das pessoas, no qual os aspectos sociais e culturais, além dos biológicos e psíquicos, se encontram comprometidos. Portanto, uma proposta de música nos hospitais pode ser algo interessante. Durante a Primeira Guerra Mundial, que aconteceu entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918, os hospitais dos Estados Unidos da América contratavam músicos profissionais como algo com a finalidade de ajuda, observando-se o efeito relaxante e sedativo nos doentes de guerra produzido pela audição musical. Porém, somente perto da segunda metade do século XX, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), devido à grande quantidade de soldados feridos e inúmeros traumas jamais vistos, é que houve um início efetivo da utilização científica da música, originando a musicoterapia (VON BARANOW, 1999). Segundo Barcellos (1992) a música ainda é utilizada como recurso para a cura em inúmeras tribos e outras sociedades não tecnológicas na Ásia, África, América, Oceania e Europa. Para entender melhor é importante uma definição de música, segundo BRUSCIA (2000): A música é uma instituição humana na qual os indivíduos criam significação e beleza através do som, utilizando as artes da composição, da improvisação, da apresentação e da audição. A significação e a beleza derivam-se das relações intrínsecas criadas entre os próprios sons e das relações extrínsecas criadas entre os sons e outras formas de experiência humana. Como tal, a significação e a beleza podem ser encontradas na música propriamente dita (isto é, no objeto ou produto), no ato de criar ou experimentar a música (isto é, no processo), no músico (isto é, na pessoa) e no universo (BRUSCIA, 2000, p.111). 19 De acordo com Barcellos (1992) o som é um dos elementos constitutivos primordiais da música, juntamente com o ritmo, melodia e harmonia. Ele nos acompanha desde a vida intra-uterina até a nossa morte, e embora, muitas vezes, não percebemos, fazemos parte de uma paisagem sonora que ao mesmo tempo nos envolve e contamina, sendo portanto, o som, um fenômeno físico ou uma forma de energia mecânica, resultante da vibração rápida de um corpo, que se propaga num meio elástico e que se caracteriza, principalmente, por uma sensação espacial, a sensação sonora, sendo este fenômeno capaz de impressionar o ser humano, podendo ser percebido de duas formas: através do sistema tátil (vibração) e auditivo (ondas sonoras). O autor (BRUSCIA, 2000) fala a respeito da importância de se pensar sobre a experiência sonora em geral sem esquecer a dimensão coletiva, as sensibilidades culturais ou a percepção sonora, ressaltando que os sons musicais facilitam as relações interpessoais, aproximando ou reaproximando os homens, levando-os a se agruparem. Os sons, agradáveis ou não, quando produzidos pelos clientes são a sua expressão, o que ele deseja estar emitindo ou é capaz de estar expressando no momento, sendo, portanto, material de trabalho. VON BARANOW (1999) diz que a música atinge diferenciadamente áreas de nossa psique que dificilmente são atingidas por outras fontes de estímulos, manifestando sensibilidade, emoção, timbres diversos, ritmos, melodias e harmonias, numa espécie de linguagem emocional, levando-nos a reagir numa grande e variável escala, em áreas e percepções somente experienciadas através dela. Nesse sentido, consideram-se diferentes autores com diferentes pontos de vista como Oliver (2007) que, em seu livro “Alucinações Musicais” cita Mac Donald Critchley (1937), um excepcional observador de síndromes neurológicas raras o qual menciona em seu artigo pioneiro “Epilepsia Musicogênica” onze pacientes que sofriam de ataques epilépticos induzidos por música. O autor cita o caso de um eminente crítico musical do século XIX, Nikonov, como o mais impressionante de todos. Este que sofreu o primeiro ataque durante a apresentação da ópera o Profeta de Meyerbeer, foi se tornando, a partir daí, cada vez mais sensível à música, até que por fim quase toda música, por suave que fosse, causava-lhe convulsões. “A mais nociva de todas”, salientou Critchley, “era o chamado fundo ‘musical’ de Wagner, que apresentava uma incessante e inescapável procissão sonora,”. Nikonov, profundo conhecedor e apaixonado por música, acabou sendo forçado a deixar sua profissão e a evitar qualquer contato com música (OLIVER, 2007, p.263). Quando ouvia uma banda de metais passando pela rua, tapava os ouvidos e corria para a porta ou dobrava a esquina mais próxima. Adquiriu 20 verdadeira fobia, um horror por música, e o descreveu em um ensaio intitulado “Medo de Música’ (OLIVER, 2007, p.263). Flosdorf e Chambers (1973) em sua pesquisa “The day music died” citado na obra de TAME (1997), descobriram que sons agudos projetados num meio líquido coagulam proteínas. Uma recente mania de adolescentes consistia em levar ovos frescos a concertos de rock e colocá-los à beira do palco. No meio do concerto, os ovos podiam ser comidos cozidos como um resultado da música. Surpreendentemente, poucos afeiçoados ao rock perguntavam a si próprios o que a mesma música poderia lhes causar em seus corpos. Após as citações acima, é compreensível o fato de que, apesar de serem pesquisas diferentes, pontos de vista diferenciados, todos indicam que, de alguma forma, a música pode influenciar o quadro clinico de um paciente. O autor (OLIVER, 2007) explica que existem vários estilos de músicas, algumas com ênfase no ritmo rápido ou sincopado, outras lentas com ritmo regular. O ritmo da música exerce, segundo ele, forte influência sobre as batidas do coração. Síncopes musicais também refletem em síncopes das pulsações do coração. Numa experiência dirigida por Salk (1982) em seu livro “O Que toda Criança Gostaria que seus Pais Soubessem”, realizado em um berçário de hospital, tocou-se para recémnascidos um disco em que haviam sido gravados os batimentos cardíacos normais. A maioria dos bebês acalmou-se e dormiu. Em seguida, fez-se ouvir a pulsação cardíaca acelerada de uma pessoa excitada. Quando se tocou esta segunda, todos os bebês despertaram, quase todos tensos e alguns chorando. 1.2 Questões Norteadoras Partindo desse contexto e de uma visão direcionada ao cuidar/cuidado ao paciente hospitalizado diante de cada informação colhida e de cada fato observado acrescido das bibliografias revisadas, surgiram inquietações como questões norteadoras do presente estudo. - Existem abordagens terapêuticas desenvolvidas através da música nos ambientes hospitalares no município de Rio de Janeiro? - Pode a música ter relação com o cuidado de Enfermagem? - O que desperta a música no paciente hospitalizado? 21 1.3 Objeto do Estudo Neste sentido, este estudo tem como objeto Música nas instituições hospitalares e o processo do cuidado de Enfermagem ao paciente hospitalizado. Sob o ponto de vista de Watson (1996), o paciente é o sujeito do cuidado de enfermagem. Como tal deve-se considerar sua capacidade de questionar, de refletir, de reivindicar seus direitos e suas necessidades. Assim, no espaço do cuidado, existe uma transação de cuidado pessoa a pessoa, o que implica numa interação entre quem cuida e quem participa do cuidado, partindo da premissa de que o enfermeiro não atua no paciente, mas com o paciente. Por isso, a autora defende que o cuidado é relacional e recíproco. Penso então que o cuidado deve valorizar os aspectos que se relacionam com a subjetividade do homem, conforme preconiza o cuidado humano, na concepção de Watson (1996), cujos atributos incluem a valorização do aspecto psicossocial do cuidado. A autora defende a preservação da sensibilidade, da afetividade, da criatividade e da expressividade no cuidado, além do desempenho de tarefas ou técnicas. 1.4 - Objetivos do Estudo Partindo do contexto acima, para um cuidar/cuidado de enfermagem diferenciado, a partir das referidas inquietações, surgem os seguintes objetivos: Geral: - Buscar o que traz a música no ambiente hospitalar para o paciente hospitalizado e a sua correlação com o cuidado de Enfermagem Específicos: - Realizar um levantamento das instituições hospitalares que utilizam música. - Caracterizar as respostas do paciente hospitalizado e sua relação com a música no ambiente hospitalar. - Analisar a relação música, paciente e Cuidado de Enfermagem durante a hospitalização. 1.5 - Relevância do Estudo Domingo, 10 de janeiro de 2010, no segundo caderno do Jornal o Globo, na coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos, foi publicado o seguinte: 22 Viva Carioca/1 - “Alegria é o nosso melhor produto”. Diz o embaixador Jerônimo Moscardo (nascido em Fortaleza em 06 de novembro de 1940, diplomata brasileiro, ele foi secretário particular do presidente Castelo Branco de 1965 a 1967 e ministro da Cultura de 1 de setembro a 9 de dezembro de 1993, foi embaixador do Brasil na Costa Rica, na Bélgica e representante permanente junto à ALADI e à UNESCO, Atualmente presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) do Ministério das Relações Exteriores). Depois de enfrentar uma cirurgia de emergência, pernoitava à espera de quarto na enfermaria do Copa d’Or quando ouviu, as duas da madrugada, voz feminina cantando uma balada de Roberto Carlos. Viva Carioca/2 - Ainda anestesiado, o embaixador pensou que já fossem anjos. Era a enfermeira feliz. “Isso não acontece em lugar nenhum do mundo” diz Jerônimo, que teve alta no mesmo dia dessa reportagem. Quanto à música, muitos enfermeiros ou membros da equipe de enfermagem cantam para seus pacientes durante o plantão, destaque que se faz para um técnico de Enfermagem, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que nos relata através de entrevista realizada no dia 21/01/10 ás 11:30mim. José Candido: A Enfermaria de Cuidados Intensivos (ECI) funcionava à época no décimo primeiro andar, até um dia deixou de existir, infelizmente. Era geralmente na hora do banho que eu permanecia por mais tempo e mais próximo ao paciente, ele tinha síndrome anticorpo porta glicídio, que vai coagulando os vasos, então eles achavam que ele já tinha feito um colapso cerebral e iria ficar vegetando, a equipe já havia desistido de investir grandes coisas nele. Eu sou evangélico e à época cantava quando fazia os procedimentos, eu tenho sempre esse hábito de ficar cantando, não que tenha uma boa voz, mas é que eu gosto de ficar cantando quando estou cuidando dos pacientes, por hábito mesmo, foi quando comecei a perceber que a música tinha efeito nele, quando eu cantava começava a chorar. Quando a mãe dele cantava também chorava, sinal que ele sentia mesmo, mas só eu acreditava, pois apenas lacrimejava, por isso esse fenômeno não tinha muito crédito, e, com o passar do tempo ele começou a esboçar alguns movimentos faciais, foi acordando daquela sedação, e nesse momento foi quando pedi a mãe do paciente para trazer um radinho para colocar, a mãe dele trouxe e nós (o eu e a mãe) colocamos, e foi ai que descobri ele também era evangélico e perguntei para ela qual música que ela cantava para ele, que fazia ele chorar muito e ela cantou assim: “ ... ai Jesus ... senhor Jesus eu não quero ...” música evangélica, ai ele chorava e as lágrimas escorriam, colocamos o rádio na estação que ele gostava de ouvir e ficava ali 23 direto, nesse momento a enfermeira que estava trabalhando comigo na época, ficou realmente impressionada de como ele estava respondendo àquelas músicas, e sensibilizou todo mundo e dessa forma permitiram que ficasse o radinho por todo o tempo a seu lado, ele ficou escutando direto até acordar do coma, usava fone de ouvido, só para ele, pois não se sabia se o paciente do lado iria gostar, esse paciente saiu da clinica bem, e até onde sei ele permanece bem. Sempre canto para meus pacientes até hoje. O que trago como relevância do estudo é a integridade nos aspectos físico e mental do paciente, porque, por mais que profissionais que atuam no ambiente hospitalar se preocupem com o aspecto mental sob a égide da humanização, o ambiente hospitalar com sua sonoridade peculiar dos bips de monitores, alarmes de equipamentos entre outros, é sempre caracterizado por certa tensão, doses variadas de sofrimento, dor, desafios na luta pela vida, dificuldades no enfrentamento de perdas e da morte que levam a pairar no ar estados de ansiedade, depressão e temor. Via de regra é assim, fazendo com que as pessoas tenham a sensação de um pulsar de vida “lá fora” e dificuldades de percepção da vida que continua a pulsar ali dentro. 1.6 - Contribuição do Estudo A música por muitos autores tais como Dobro (2000) Bruscia (2000) Ruud (1990), entre outros, citados no decorrer desse estudo, é passível de uso no cuidado que é a essência de enfermagem. Buscamos identificar a real ligação entre música e cuidado de enfermagem ao paciente hospitalizado. Como contribuição principal no cuidado para o paciente hospitalizado, tem-se, como ponto de referência, um ambiente mais livre de fatores de estresse, destacando sempre a questão do cuidado físico, mental e social. Além dessa, após a conclusão do estudo, tencionase divulgar em hospitais os resultados do que a música proporciona ao paciente hospitalizado, além de elaborar projetos para um ambiente saudável nas enfermarias, de acordo com a conclusão a que chegou este estudo. Por fim, contribuir para o núcleo de pesquisa NUPENH/EEAN/UFRJ e para futuros trabalhos relacionados à música, hospital e cuidado, trazendo resultados fidedignos para apresentações em palestras à pacientes hospitalizados. 24 CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA 2.1 O Cuidado de Enfermagem www.google.com.br A enfermagem, enquanto prática é tão antiga quanto a existência humana. No entanto, apenas na segunda metade do século XIX se estabeleceu como profissão, a partir da atuação de Florence Nightingale, na Inglaterra. Nessa época, ela proporcionou melhores condições de higiene às instituições hospitalares, contribuindo para o melhor funcionamento dos hospitais e a cura das pessoas. Seus ensinamentos foram aplicados com resultados fantásticos, diminuindo drasticamente o índice de mortalidade da época, e esses ensinamentos foram aprimorados e aperfeiçoados pelos seus seguidores (MOLINA, 2004) COSTERANO (2001, p. 29), nos diz que: “ (...) ter cuidado com alguém ou alguma coisa é um sentimento inerente ao ser humano, ou seja, é natural da espécie humana, pois faz parte da luta pela sobrevivência e percorre toda a humanidade.” O cuidado é o verdadeiro instrumento dos profissionais cuidadores, os enfermeiros, atitude que vai além de executar técnicas ou administrar medicações. Significa colocar-se no lugar do outro e perceber suas necessidades, tanto fisiológicas como emocionais, dar ao outro 25 conforto e segurança, para que este possa passar pelos “momentos difíceis” de forma mais amena e tranqüila. HORTA (1979, p. 3) faz as seguintes reflexões sobre a enfermagem: (...) o Ser Enfermeiro é um ser humano, com todas as suas dimensões, potencialidades e restrições, alegrias e frustrações; é aberto para o futuro, para a vida, e nela se engaja pelo compromisso assumido com a enfermagem. Este compromisso levou o a receber conhecimentos, habilidades e formação de enfermeiro, sancionados pela sociedade que lhe outorgou o direito de cuidar de gente, de outros seres humanos. Em outras palavras: o Ser Enfermeiro é gente que cuida de gente. A autora (HORTA,1979, p.3) considera que o Ser cliente ou paciente pode ser um indivíduo, uma família ou uma comunidade; em última análise, são seres humanos que necessitam dos cuidados de outros seres humanos em qualquer fase de seu ciclo vital e do ciclo saúde - enfermidade. A enfermagem é sinônima de cuidado, sendo este relacionado com o outro diante do enfrentamento do processo saúde doença, e envolvendo aspectos políticos, econômicos, sociológicos, antropológicos, psicológicos, históricos e clínicos biológicos (PERNA, 1997). O referido autor afirma que quando nos referimos ao processo saúde doença devemos ter claro que este envolve o físico e o psíquico, pois, o indivíduo é formado de corpo e mente. O cuidado está relacionado com a maneira de lidar, de interagir, de assistir, de realizar e de perceber o indivíduo como um todo, desde suas necessidades humanas básicas, até os cuidados especializados, como também as suas angústias, medos e expressividades. Sabemos que o profissional também está preparado para atuar na prevenção, através da orientação e educação continuada para a comunidade, orientando para a saúde com o intuito de prolongar a vida. Porém, a necessidade maior de atuação se dá diante da doença, pois o indivíduo na grande maioria não “espera” e sim adoece, passando a necessitar de uma equipe de enfermagem atuante no cuidado. Na evolução histórica do cuidado de pessoas doentes, há registros de que tais pessoas eram mantidas em locais úmidos, sem luz natural e sem higiene. Pode-se lembrar dos sanatórios para os hansenianos da Idade Média, os quais eram ambientes insalubres, sem ventilação, com iluminação insuficiente, leitos coletivos e higiene inadequada, representando um grande risco à saúde. Noções de assepsia, embora rudimentares e empíricas, já 26 constituíam preocupações dos agentes da saúde desde a idade média, época em que se usava o enxofre para evitar a propagação da peste bubônica (SANTOS 1997). As transformações, no século XVIII possibilitaram que os hospitais exercessem ações terapêuticas mais efetivas. Assim, iniciaram-se as práticas no cuidado com o controle de transmissão das doenças contagiosas, controle este marcado pela mudança de um hospital preparado para receber as pessoas destinadas à morte para um local de tratamento e cura (RODRIGUES, 1997). Mesmo com o objetivo de controlar a transmissão de doenças, era impossível controlar a situação de insalubridade dentro dos hospitais, que persistiu até a metade do século XIX, quando esse cenário começa a se modificar com a descoberta das bactérias por Pasteur, e os conceitos de anti-sepsia, de Lister (HENSON, 1997). No fim do século XX, o hospital contemporâneo se apresenta como uma instituição preocupada com a promoção, recuperação e a reabilitação da saúde (BILGRIEN, 1999). Mas, para isso, se faz necessário envolver diversos profissionais com saberes e práticas específicas, com finalidade de proporcionar cuidado individualizado, buscando compreender o diagnóstico, a terapêutica adequada, sem deixar de se preocupar com os fatores psicológicos, sociais e humanizados. Cuidar em enfermagem consiste em envidar esforços transpessoais de um ser humano para outro, visando proteger, promover e preservar a humanidade, ajudando pessoas a encontrar significados na doença, sofrimento e dor, bem como, na existência. É ainda, ajudar outra pessoa a obter autoconhecimento, controle e auto-cura, quando então, um sentido de harmonia interna é restaurada, independentemente de circunstâncias externas (WALDOW, 1998) A autora (Waldow, 1998) afirma que o cuidado em enfermagem, nesta concepção de colocar-se no lugar do outro, aproxima-se das idéias do humanismo latino, ao identificar os seres humanos pela sua capacidade de colaboração e de solidariedade para com o próximo. Deste modo, prestar cuidado quer na dimensão pessoal quer na social é uma virtude que integra os valores identificadores da profissão da enfermagem. Assim, compartilhar com as demais pessoas experiências e oportunidades, particularmente as que configuram o bem maior, a vida, constitui um dos fundamentos dos humanistas, que se apresenta na essência do cuidado de enfermagem. Nesta linha de raciocínio, o cuidado de enfermagem se baseia em ações que se estendem ao longo da construção da cidadania, porque potencializa a expressão do cidadão em sua existência social. O cuidado ao longo da vida social fomenta a autonomia e dignifica o 27 ser, e quando se trata de readquirir a autonomia do ponto de vista do estar saudável, a enfermagem promove e se insere na humanização da vida. Assim, o cuidado agrega uma série de ações profissionais de natureza própria da enfermagem, que se concretiza em prática multidisciplinar e com sustentação teórica apoiada, inclusive, em outras ciências. Isto se dá no processo de interação terapêutica entre seres humanos, fundamentadas em conhecimento empírico, pessoal, ético, estético e político com a intenção de promover a saúde e a dignidade no processo de vida humana (PADILHA, 2003). O cuidado de enfermagem consiste na essência da profissão e pertence a duas esferas distintas: uma objetiva, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e uma subjetiva, que se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição para cuidar de outro ser. A forma, o jeito de cuidar, a sensibilidade, a intuição, o 'fazer com', a cooperação, a disponibilidade, a participação, o amor, a interação, a cientificidade, a autenticidade, o envolvimento, o vínculo compartilhado, a espontaneidade, o respeito, a presença, a empatia, o comprometimento, a compreensão, a confiança mútua, o estabelecimento de limites, a valorização das potencialidades, a visão do outro como único, a percepção da existência do outro, o toque delicado, o respeito ao silêncio, a receptividade, a observação, a comunicação, o calor humano e o sorriso, são elementos essenciais que fazem a diferença no cuidado (FIGUEIREDO, 1995). Ao inserir o cuidado de enfermagem no âmbito político e ético, entende-se como parte significativa na formação do enfermeiro o estudo das humanidades, em geral. Compreende-se que uma formação humanística se contrapõe à mera operacionalidade e dá sentido existencial ao cuidar. O cultivo das humanidades contribui para o hábito do pensamento crítico, sem o qual o cuidado em enfermagem não pode sustentar-se como premissa de apoio a vida humana associada. (WALTER, 1998). Ao pensar no contexto desse cuidado tão importante para o cliente, engloba-se o mesmo no ambiente hospitalar, durante uma hospitalização que, para o cliente, trata-se de um ambiente estranho, o qual até aquele momento não fazia parte de seu mundo. 2.2 O Cuidado de Enfermagem e a Hospitalização O ser humano tem necessidades fisiológicas, psicológicas, sociais e espirituais que devem ser satisfeitas para que sobreviva. Sua capacidade de adaptação ao meio ambiente, que está em constante mudança, depende de sua habilidade em identificar, examinar e enfrentar 28 problemas. Essa capacidade varia de indivíduo para indivíduo e em um mesmo indivíduo, de época para época (SILVA; GRAZIANO, 1996) Os autores afirmam que ao adoecer, sobretudo quando hospitalizado, o indivíduo é destituído das posições que até então ocupava na sociedade e passa a participar de um grupo social específico, de doentes internados, onde são impostos papéis caracterizados por acentuada dependência: seu espaço físico é limitado, suas roupas e objetos pessoais retirados, o horário de suas atividades lhes é imposto, entre outros aspectos. Kamiyama (1979) lembra que em algumas situações hospitalares, a problemática psico-social se agrava ainda mais, como por exemplo, no isolamento de indivíduos com moléstias infecto-contagiosas. Nessa dinâmica psico-social do doente hospitalizado, Kamiyama (1979) aponta para o fato de que seu estado motivacional é especial, pois se caracteriza por insegurança ("o que vai acontecer comigo"?), perda da independência (às vezes até para tomar banho!), perda do poder (ter hora inclusive para comer!), perda da identidade ("o Sr. é o leito 21?"), do reconhecimento social (é tratado por "senhor" independente de ser "doutor") e da auto-estima (é difícil "se ver" com feridas, edemas, disfunções, incapacidades). Além disso, o paciente hospitalizado sente falta de atividades, recreação e de relações sociais afetivas. Todos esses aspectos são uma ameaça à sua identidade social. Beland e Passos (1975) referem que cada pessoa traz para sua situação de hospitalização: • Um conjunto de valores; • Um conjunto de expectativas; • Um código de comportamentos (entendido aqui como um conjunto interiorizado de regras ou padrões que orientam sua conduta); • Costumes e rituais que observa e • Maneiras pelas quais se comunica com os outros. Para satisfazer as necessidades aparentes ou não do indivíduo nessa área, Beland e Passos (1975) relembram que 3 (três) perguntas são básicas à enfermeira: por que a pessoa se comporta de uma determinada forma? Qual o objetivo desse seu comportamento? Como essa informação pode ser usada na prática de enfermagem? As autoras afirmam que a falha na identificação e interpretação do comportamento do paciente, pode ser uma fonte de tensão psicológica para ele e para a própria enfermeira. 29 Segundo Silva e Graziano (1996), é bom lembrar que abordar e cuidar sob o ponto-devista dos aspectos psico-sociais dos pacientes hospitalizados hoje em dia, é um grande desafio para a enfermagem e, especificamente, para a enfermeira, por vários motivos. Dentre eles, pode-se citar: • A atual estrutura de atendimento à saúde não valoriza o homem de uma maneira holística; • A abordagem dos aspectos psico-sociais do paciente exige um preparo específico, por se referir a fenômenos mais "sutis" que os fisiológicos, gerando ansiedade na enfermeira e, muitas vezes, frustração por não poder alterar as condições que o paciente continua tendo que enfrentar durante todo seu processo de convalescença (FERREIRA, 1992; SILVA, 1989). • A referida abordagem acima e o cuidado exigem a presença física da enfermeira ao lado do paciente, mais tempo do que lhe tem sido possível, independente do fato dela ter algum cuidado físico para ser desempenhado; • A enfermeira precisa ouvir mais criticamente o paciente e fazer uso de questões abertas, que lhe permitam ajudá-lo a se expressar e entender as "entrelinhas" do seu discurso, quando aparecem, por exemplo, os mecanismos de defesa utilizados por ele; • É necessário que se faça a avaliação conceitual do que o paciente diz e do que não diz, ou seja, dos sinais não verbais emitidos (seus gestos, expressões faciais, posturas corporais, por exemplo). De acordo com Blondis e Jackson (1982), o paciente hospitalizado perde o controle sobre os parâmetros espaciais, o que pode levar ao estresse psicológico. Allekian (1979) cita que a invasão do território e espaço pessoal do paciente pode levar a reações adversas como ansiedade, inquietação, luta ou fuga. A reação geralmente depende da percepção do indivíduo de tal situação que geralmente depende de uma multiplicidade de fatores como necessidade individual, experiências anteriores de vida e pressões culturais. Segundo Dugas (1984), é necessário observar a distância entre o profissional e o cliente; o enfermeiro deve conhecer e respeitar as variações da distância que deve ser mantida nas diferentes situações de interação com o paciente, de forma que ambos se sintam confortáveis. 30 Dentro do processo de comunicação, um dos aspectos básicos é a distância mantida entre os interlocutores, pois a forma como um interlocutor se coloca, interfere no processo de comunicação (SAWADA et al. 1998). Os autores (SAWADA et al., 1998) lembram outro aspecto importante na comunicação: o sentimento, já que conhecer o sentimento da outra pessoa em relação a determinado evento faz com que a comunicação possa ser alterada, a fim de melhorar o relacionamento. A importância do conhecimento do sentimento do paciente hospitalizado frente à invasão do seu espaço pessoal e territorial, nas situações ocorridas no hospital, está no planejamento de uma distribuição de espaços nas unidades de internação, de modo que as necessidades dos pacientes sejam atendidas no que tange à garantia de seu espaço, além de contribuir para o alcance de maior contato humano em situações de alta tecnologia, que interferem no bem-estar do paciente hospitalizado (SAWADA et al. 1998). 2.3 – O Cuidado de Enfermagem/ Hospitalização e a Música O ser humano possui em sua vida no mínimo sete "dimensões": física, espiritual, intelectual, social, profissional, afetiva e familiar. De todas as realizações do homem, a arte é a que mais intrinsecamente permeia todas essas dimensões da existência humana (MILLECO e BRANDÃO, 2001). Assim como o percurso da história do homem há milênios, o autor citado diz que à medida que ocorrem as lutas e realizações, se desenvolve do mesmo modo a arte, expressão espontânea, necessidade da humanidade, floresce em tempos igualmente amplos. É uma exigência a tal ponto irresistível de que não há momento do viver humano, por mais árduo que possa ser que não se empenhe na criação artística. Os autores (MILLECO e BRANDÃO, 2001) relatam que o mais próximo que se pode chegar para alcançar uma definição da música é através do estudo da musicologia, que estuda o ponto de vista histórico e antropológico da música, podendo até ser entendido como historiador da música. A musicologia estuda a notação, instrumentos e teoria musical, métodos didáticos, acústica, história da música e a fisiologia aplicada à técnica dos instrumentos e suas evoluções. Segundo os autores citados, a música continuou e continua ligada à arquitetura, ao espaço (construído ou não), pois música não é só acústica e a acústica depende do meio onde 31 o som é produzido. Uma mesma música tocada em ambientes diferentes produz diferentes significados. Cada instrumento ou estilo musical funciona de maneira ideal em determinados tipos de ambientes arquitetônicos, pois, devem-se levar em consideração o volume sonoro e o volume do ambiente, o eco (que pode ser prejudicial ou fundamental), a relação músico/ouvinte e outros aspectos. Tame (1997) destaca que os vários povos do passado tinham, de forma impressionante, pontos de vista semelhantes em relação à música. Todos a concebiam como arte de elevada importância prática, diferentemente da concepção atual. O que explica o autor é comprovado historicamente em quase todas as civilizações avançadas da antigüidade: quer se trate da Mesopotâmia, quer de outras culturas distantes uma das outras como a da índia e a da Grécia, onde se afirmava ser a música uma força tangível capaz de ser aplicada com o fim de criar a mudança, para melhor ou para pior no caráter do indivíduo e o que é mais importante, na sociedade como um todo. Segundo a filosofia dos antigos chineses, Tame (1997) explica que a música era à base de tudo. Diziam que todas as civilizações se aperfeiçoam e se moldam de acordo com o tipo de música que nelas se executavam. Outro autor citado afirma que a história da China fala do imperador Shi Shum, que passava revista em seu reino sem verificar livros de contabilidade dos dirigentes regionais, sem observar o modo de vida da população, sem receber relatórios dos súditos, e sem entrevistar funcionários, mas, sim, escutando as músicas que eram tocadas nas diversas regiões do seu imenso reino. O autor (CANDE, 2000) explica que não houve uma data precisa para o surgimento da música, e, assim, os olhares em relação ao seu surgimento e permanência durante o percorrer dos anos não se explica, pois há muito, a música já habita em nossas vidas, e, no tocante a pesquisa, busca-se perceber sua ligação com o cuidado à vida. Dessa forma, entendemos que a música pode ser usada como uma abordagem inovadora do cuidar de forma organizada, de forma sistêmica, mas, ao mesmo tempo, criativa (TAVARES et. al. 2002), pois facilita a conscientização de emoções, a comunicação interpessoal e a possibilidade de se focalizar aspectos saudáveis do cliente numa unidade hospitalar. Constitui, assim, um importante instrumento na redução da angústia causada pelo isolamento da internação e na promoção da saúde do cliente. Segundo Backes (2003, 41), “a música é uma preciosa alternativa terapêutica, capaz de modificar atitudes e comportamentos, estado de ânimo e, sobretudo as relações interpessoais”. Compreende-se, assim, que a influência da música é positiva no ambiente e contribui 32 de forma eficaz para que as relações interpessoais estabelecidas entre profissionais e pacientes se desenvolva de forma mais saudável. A música terapêutica pode ser importante instrumento na promoção de intervenções mais humanizadas em saúde, inclusive no que diz respeito à assistência de enfermagem. A música, como terapia complementar, constitui uma forma peculiar de intervenção da enfermagem e favorece a emersão da dimensão espiritual humana negligenciada ou pouco compreendida (...) a música enquanto intervenção de enfermagem merece ser alvo de investigações futuras (DOBBRO, 1998) A música, como cuidado, é denominada de música terapêutica, sendo utilizada para dar conforto, ajudar no manejo da dor, da ansiedade ou do estresse (BRUSCIA, 2000). Segundo o autor referido, a música, aplicada como terapia em saúde, possibilita uma assistência diferenciada ao paciente, que passa a ser entendido como sujeito ativo dentro do processo saúde-doença. Além disso, a música pode favorecer a recomposição do ser humano como um ser integral, não apenas um mecanismo biológico composto por diferentes partes. Neste sentido, Benenzon (1988) considerava a música terapêutica como a técnica em saúde mais voltada à totalidade do individuo. Backes (2003) destaca ainda que a música pode ser “um excelente subsídio para os tempos modernos, que são marcados pela busca de alternativas que contemplem a pessoa na sua integralidade”. Ao contrário do que acontece nas terapêuticas oferecidas pelo modelo biomédico de saúde, os benefícios provenientes da ação da música terapêutica no organismo vão além das dimensões físicas. Dessa forma, essa terapia torna-se bastante positiva, especialmente para o paciente que se encontra hospitalizado e em estado de fragilidade emocional. “A música é capaz de chamar a atenção para longe dos pensamentos que produzem a depressão e, uma vez a impressão deixada na consciência, o humor deprimido pode ser substituído” (GIANNOTTI; PIZZOLIG, 2004). REMEN (1998) complementa tais considerações quando lembra que a confiança no processo que provém do conhecimento e experiência pessoal é o verdadeiro alicerce da ajuda e conforto que damos uns aos outros. Sem ela, todas as nossas ações são guiadas pelo medo. O medo é o atrito em todos os processos de transição. O autor citado afirma que como forma de cuidado a música é útil, eficaz e agradável, pois traz prazer tanto a quem toca ou canta como para quem escuta. A música estimula empatia, promovendo sintonia entre os participantes no momento de sua execução e tornando permeável o compartilhamento de emoções, pensamentos e lembranças, desenvolvendo a interação e facilitando o relacionamento entre os atores sociais envolvidos no processo, 33 enfermeiro/paciente. Segundo Bruscia (2000 57p) (...) quando os pacientes ouvem música, ocorre uma forma diferente de validação. Algumas vezes, a forma como o paciente se sente é válida pelo o que a música está expressando, quase como se a música dissesse: “É; essa é a forma como você está se sentindo”. Algumas vezes a música valida por tranqüilizar e oferecer apoio. Ela cria e mantém um ambiente envolvente, que nos faz sentir em segurança. O autor (BRUSCIA, 2000, 57) explica que a música é um poderoso estimulante para a imaginação. Podemos “viajar” por situações e lugares agradáveis embalados por ela, assim como podemos reviver emoções e evocar lembranças quando escutamos músicas que estão ligadas à nossa história pessoal e familiar. Ambos os processos podem sugerir situações ligadas a aspectos saudáveis e a possibilidades diferentes, mudando o foco da doença para a saúde. Pode-se levar o paciente refletir que a doença é somente uma circunstância, um aspecto ou um momento, e não deve impedi-lo de sentir prazer. Segundo Bruscia (2000), durante os primeiros anos do século XX, adquiriram-se, com a música, maior força nos hospitais, como no retorno dos veteranos das I e II Guerras Mundiais. Nesse período, o papel da enfermagem foi preponderante para a música terapêutica e sua projeção. O autor (BRUSCIA, 2000, p.60) diz que a música na prática de enfermagem tem sido apontada também como recurso terapêutico complementar no manejo e controle da dor aguda e crônica e abrangendo as dimensões físicas, mental/psicológica, social e espiritual: • Física: promove relaxamento muscular; quebra o círculo vicioso da dor por aliviar a ansiedade e depressão e, portanto, altera a percepção dolorosa; facilita a participação em atividades físicas de acordo com as possibilidades individuais. • Mental e psicológica: reforça a identidade e o cuidado; altera o estado de ânimo do paciente; auxilia o paciente a lembrar de eventos significativos do seu passado; promove a expressão não - verbal de sentimentos, inclusive inconscientes; favorece a fantasia. • Social: funciona como ponte entre as diferenças culturais e o isolamento; promove a oportunidade de participação em grupo, o entretenimento e a diversão; • Espiritual: facilita a expressão de sentimentos espirituais e promove conforto espiritual; auxilia na expressão de dúvidas, raiva, medo, questões relacionadas ao significado da vida e sua finitude. 34 O autor (BRUSCIA, 2000) lembra que o uso de uma atividade musical no período da internação leva ao relaxamento físico e mental por reduzir o estresse, a tensão e a ansiedade. Estimula também o paciente a despertar a atenção, a estabelecer contato com a realidade ou com o ambiente, a aumentar o nível de energia, a evocar atividade sensória e motora, a aumentar as percepções sensoriais e a elevar o humor. Tanto o relaxamento como a estimulação produz uma melhoria do estado de saúde de duas formas: preventiva – ao reduzir riscos ou aumentar a resistência contra problemas de saúde; e paliativa – ao melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta uma condição de doença. O conforto é um cuidado afetivo que permite ao cliente entrar em harmonia consigo, com os outros e com o ambiente. Por isso, a importância de se manter um ambiente confortável, com redução de ruídos. Assim, podemos incluir a música de fundo e a utilização consciente e planejada da música. Ruído pode ser entendido como qualquer som que interfere no ambiente. É o destruidor do que queremos ouvir. A música de fundo foi inventada para homens com ouvidos (SCHAFER, 1991) O autor acima citado afirma que os enfermeiros têm como prioridade sempre o paciente e não as músicas, por isso, devem-se ter determinados cuidados ao colocar música ambiente em unidade hospitalar, pois essa pode não fazer parte do universo sonoro do paciente e acaba funcionando como mais um fator de estresse, mais um “ruído” entre tantos outros. Segundo Schafer (1991), o homem teme a ausência de som como teme a ausência da vida... Pois, o último silêncio é a morte e que por isso, o som, com sua vibração preenche o silêncio, afastando a percepção da morte. Mas, o que é som para uns pode ser ruídos para outros. Testes científicos revelam que até breves períodos de conversas em voz alta são o suficiente para afetar o sistema nervoso e assim provocar constrições em grande parte do sistema circulatório. O autor explica que escolher o som que nos cerca é escolher a maneira de cuidar: ruídos ou sons agradáveis, qualquer música de fundo ou música escolhida com respeito ao gosto musical do paciente. Decidir com quais sons nós, enfermeiros, vamos preencher nosso ambiente de trabalho é escolher entre ser cuidadoso ou realizar um “(des) cuidado” (SCHAFER, 1991, p.23). Há algumas palavras que podemos relacionar ao cuidado: atenção, consideração, reflexão, observação, escuta/audição, ser “todo ouvido”. E há palavras que podemos ligar ao descuidado: indiferença, desatenção, displicência, “ surdez”. É interessante como o escutar está ligado ao sentido de cuidado e o não escutar está ligado a um “descuidado” (SALLES, 35 2000, p.71). Para Boff (1999), o grande desafio para o ser humano é combinar trabalho com cuidado. Eles não se opõem, mas se compõem. Limitam-se mutuamente e, ao mesmo tempo, se completam. Juntos, constituem a integralidade da experiência humana, por um lado ligada à materialidade e, por outro, à espiritualidade. O equívoco consiste em opor uma dimensão à outra e não vê-las como modo de ser do único e mesmo ser humano. O autor (BOFF, 1999) traz outro aspecto importante da utilização da música e como cuidado, a possibilidade que o paciente tem de participar deste cuidado, não só pela aceitação ou não deste, mas através da escolha da música, do cantar ou cantarolar e batucar junto, e se sentir à vontade, até de se movimentar ao som desta música. Essa possibilidade do agir simultâneo, característica na utilização da música, leva ao que cuida e ao que é cuidado um momento de intimidade e interação importante. Nesse sentido, a música oferece os elementos de conforto encontrados em diversos estudos: liberdade, integração, melhora do cuidado afetuoso, segurança/proteção e comodidade. (ARRUDA; NUNES, 1998). O ato de confortar tem valor para quem cuida e é cuidado e oferece a ambos a oportunidade de crescimento e realização, mas, para isso, é necessário que ambos participem de forma consciente deste ato (WALDOW, 2001). A conscientização de ambos acerca deste processo pode promover novas percepções do ser/estar cuidador ou cuidado, permitindo o desenvolvimento mútuo em direção a uma condição mais saudável e integrada (BERGOLD, 2000). O consentimento do paciente em relação à atividade musical é tão importante como o constante questionamento do profissional de enfermagem quanto ao seu papel como cuidador e sua forma de ver o paciente. Segundo Giannotti e Pizzoli (2004), a música ajuda a estimular a imaginação, a fantasia e a intuição e, assim, auxilia na integração das funções dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro. O sistema nervoso central capta o som. O som é emitido dentro da faixa que o ouvido vai poder captar, pois quando o som é muito alto ou muito baixo, o ouvido tem dificuldades de captação devido à intensidade ou não da sonoridade. O sinal acústico captado produz ondas eletroquímicas que são traduzidas pelo órgão de Corti situado na membrana basilar. Diversas áreas ao longo da membrana basilar servem como analisadores de freqüência, distribuindo estímulos ao longo dessa membrana de tal modo que diferentes células do órgão de Corti responderão a diferentes freqüências de sons. Os sons de alta freqüência atuam mais perto da base da cóclea (janela oval), e os de baixa 36 freqüência próximos ao ápice (helicotinea) (RUUD, 1991). O autor (RUUD, 1991) afirma que o córtex, região situada no lobo temporal, correspondente a área de Brodmann, é o local onde se acredita que a música possa mudar humores no consciente, estimulando a imaginação e o intelecto, e no inconsciente, agindo na região talâmica onde são transmitidos as emoções e sentimentos. Os efeitos da música se inter-relacionam com o tálamo, visto que transmitem sinais através das sinapses das regiões mais inferiores, ou seja: partindo do encéfalo através da medula espinhal, antes de se dirigirem ao córtex. Todos os sons sensoriais somestésicos oriundos do corpo são transmitidos por meio do tálamo ao córtex somestésico. O som é transmitido para o giro temporal superior também pelo tálamo (metatálamo). O giro do cíngulo localizado em cada hemisfério, embora seja sabido que a área da música está localizada no hemisfério direito, permite a associação entre as funções corticais cerebrais conscientes e as funções comportamentais subconscientes do sistema límbico (RUUD, 1991). Os sinais gerados no sistema límbico que vão para o hipotálamo podem modificar uma ou todas as funções internas do corpo que são controladas pelo hipotálamo. O nível de catecolaminas (compostos químicos, derivados do aminoácido tirosina), principalmente a adrenalina, presente no sistema nervoso autônomo, reduz-se frente à música. A música também influencia reduzindo o nível das catecolaminas presentes no sistema nervoso central, baixando a pressão sobre as paredes dos vasos (FREGTMAN, 1989). A música eleva a imaginação, que parece influenciar a rede do cérebro que determina experiências emocionais (sistema límbico), onde os neuroquímicos liberam as endorfinas, encefalinas, opióides endógenos naturais do corpo, aliviando a dor. A presença de neuroquímicos naturais do corpo, como as endorfinas, encefalinas e a seretonina, têm um papel fundamental na analgesia (BONNETT, 2003). 2.4 – Revisando brevemente a Historia da Música A fim de ordenar e falar um pouco da historia da música em sua tese, consideraram-se duas classificações -- uma, relativa às grandes fases em que, genericamente, se pode organizar a história da música ocidental, e outra relativa à categorização das diversas funções sociais passíveis de serem exercidas pela música. A primeira classificação, acima referida, é a que Walter Wiora apresenta em seu livro Les quatre âges de la musique (WIORA,1961, p.175). Nessa obra, Wiora distingue quatro grandes fases na evolução da música ocidental, a saber: 37 a 1) 1 . Idade - a pré-história e seus prolongamentos entre os povos primitivos, e na música popular arcaica de civilizações posteriores. 2) 2a. Idade - desenvolvimento da música entre as altas culturas antigas (Mesopotâmia, Egito, Oriente, antigüidade greco-romana). a 3) 3 . Idade - surgimento da música ocidental, ou seja, a arte musical ocidental a partir da Alta Idade Média. 4) 4a. Idade - a idade da técnica e da indústria, localizada pelo autor no século XX. A "primeira idade" da música, segundo a classificação de Wiora (1961), não foi documentada em escritos - literário ou musical o que limita nosso conhecimento desse período. Freire (1992) afirma que os documentos básicos dessa fase pré-histórica são instrumentos musicais, esculturas e pinturas, através dos quais podem ser levantadas hipóteses que buscam reconstruir os acontecimentos musicais do período. Também têm sido úteis as observações desenvolvidas em comunidades contemporâneas ágrafas, que permitem a partir de comparações chegarem a algumas conclusões importantes sobre a pré-história musical da humanidade. Sobre a música da 1a. Idade, Menuhin (1981) afirma que a música é a nossa mais antiga forma de expressão, mais antiga do que a linguagem ou qualquer outra forma de arte; começando com a voz e com a nossa necessidade preponderante de nos darmos aos outros. Referindo-se, ainda, à pré-história da humanidade, Menuhin (1981, p.5) relaciona caça e música: “Do ritual da caça surgia a música; o arco podia produzir uma vibração melíflua. Um ponto de vista amplamente defendido é de que o arco e flecha são ancestrais do violino”. Freire (1992) nos traz um exemplo de associação entre caça, música e ritual aparece na referência que Abraham (1986, p.17) faz a um desenho gravado em uma gruta magdaleniense, datado de 13.500 A.C., que apresenta uma figura metade bisão, metade homem, que pode ser interpretada como um caçador disfarçado, parecendo tomar parte em um ritual. Sobre ele há um arco desenhado, e os musicólogos divergem sobre se tal imagem seria uma flauta ou um arco musical, associando esse instrumento a rituais de magia. A mesma autora nos mostra outra importante referência feita pelo autor é a associação entre canto e fala, durante longo tempo, na pré-história da humanidade. Menuhin (1981) observa que em certas partes do mundo, onde subsistem linguagens antigas (China, Vietnã, algumas partes da África), a inflexão da fala e a da música permanece inseparável, embora não idênticas. Apesar, porém, da intrínseca relação das duas, em tempos remotos, o autor 38 (op.cit., Menuhin,1981) assinala que há provas antropológicas de que o canto surgiu antes da fala. Ao examinar a segunda idade da música, a que se situa no contexto das antigas civilizações (Mesopotâmia, Egito, Grécia, Oriente, Antigüidade Greco-Romana), observa-se que a aproximação no tempo traz maiores facilidades ao exame deste período, tendo em vista que é nele que a escrita começa a desabrochar, o que permite acesso a textos (inclusive tratados teóricos musicais, em alguns casos, como China e Grécia), que nos possibilitam uma compreensão um pouco mais clara. Menuhin (1981), referindo-se a essa fase, afirma: De acordo com descobertas recentes no Oriente Próximo, os primeiros símbolos da palavra escrita começaram a aparecer há mais ou menos dez mil anos, principalmente para facilitar o comércio. A escrita ajudou a separar a música da fala. As palavras escritas na argila ou no papiro podiam transmitir rapidamente mensagens simples, ao passo que a música estava vinculada à expressão de sentimentos complexos (MENUHIM, 1981, p.6). Wiora (1961) estabelece, para a segunda idade, uma divisão em três períodos: o primeiro, envolvendo as altas culturas arcaicas; o segundo, começando com o nascimento da teoria musical e com uma concepção filosófica da música, na Grécia e na China; o terceiro, compreendendo a sobrevivência da Antigüidade no Oriente e o desenvolvimento posterior da música nas culturas superiores dessa parte do mundo. Candé (1981), referindo-se à civilização greco-latina, afirma: Foi na Grécia onde, pela primeira vez a nível de consciência musical, apareceram a ambição de criar e o gosto de escutar. Durante milênios a música viveu a eficácia : religiosa, mágica, terapêutica, militar, se dirigia aos deuses e aos reis, aos poderes visíveis e invisíveis. Entre os gregos se converte em arte, em uma maneira de ser e de pensar: revela sua beleza ao primeiro público socialmente consciente. (CANDÉ, 1981, p.68) O autor (1981) ainda aponta para o fato de que, sendo a música derivada do “ensino das Musas", "requer uma instrução que não pode ser puramente estética: se converte em disciplina escolar, em objeto de maestria, da medida de valores éticos, é uma ‘sabedoria” (CANDÉ, 1981, p. 72) Wiora (1961) aponta, também, para os diversos efeitos do canto entre os gregos: “O canto culivava aos gregos nos festins, nos sacrifícios, nos jogos públicos, nos campos de 39 batalha e nos alegres banquetes. O canto os acompanhava ao reino dos mortos e adoçava os terrores dos Infernos” (WIORA, 1961, p. 72). Aspectos musicais, matemáticos e místicos se interligavam, e a fraternidade religiosa fundada por Pitágoras buscava atingir, segundo Wiora (1961), a purificação da alma pela via monástica e pela música, esperando escapar ao ciclo de migração da alma pela iniciação aos mistérios dos números eternos e da harmonia cósmica. Candé (1981) apresenta referências à concepção pitagórica de "boa música", com base em relações matemáticas. O autor destaca que Aristóteles acrescenta às especificações éticas da música (que por sua vez se relacionam a concepções matemáticas), a doutrina da Katharsis: “Trata-se de um método psicoterápico por analogia, em que a música excita na alma enferma sentimentos violentos que provocam uma espécie de crise que favorecem o retorno ao estado normal” (Aristóteles, Política, VIII. 7). Depois de absorvida pelo império romano, a música grega dá origem, segundo Wiora (1961), a uma nova cultura musical, aparecendo em teatros, circos, distrações e danças - "a esta passagem da música às massas, correspondia um gênero de música que se distanciava das massas" (WIORA, 1961, p.86). Menuhin (1981) assinala que quando Roma derrotou a Grécia, copiou-lhe a música, juntamente com a arquitetura e a escultura, mas que "a importância da música diminuiu muito, porque Roma orientava-se para a palavra, a lei e a espada” (MENUHIN, 1981, p.40). Depois da queda da civilização romana, uma nova força cultural começou a emergir no Ocidente - a Igreja Cristã. Freire (1992) afirma que através dos romanos, que dominaram os gregos, a música grega veio a constituir a base da música cristã primitiva, associada às práticas musicais e religiosas dos judeus, que, por sua vez, herdaram características dos diversos lugares que atravessaram e ocuparam em sua conturbada história. Candé (1981), referindo-se à civilização Greco-Romana, afirma: “A partir da conquista Romana, e, sobretudo, desde o advento do Cristianismo, a música já não se destina ao povo, a não ser para sua edificação ou saúde. Durante séculos, a música ‘sábia ‘será patrimônio da Igreja e dos poderes” . O autor afirma que, na obra da maior parte dos autores, a música aparece como elemento de luxo ou recreação, entre os romanos, não estando realmente integrada à cultura, sendo que a profissão de músico não tem nenhum prestígio. Este assinala uma gradativa separação entre músicos ativos e assistentes, executantes - criadores e ouvintes, no período que abrange a maior parte das grandes civilizações da antigüidade e os primeiros séculos da 40 Era Cristã, embora a música permaneça, nesse período, sempre como uma manifestação coletiva. No período de decadência da civilização grega, essa tendência de separação é intensa, e a música se converte em arte de especialistas. Outro destaque considerado pelo autor é que a especialização favoreceu a decadência da música nesse período, e, citando Wiora (1961), refere-se à existência, entre os romanos, de uma música fácil, para uso do povo. Havia, nessa fase, uma nítida separação entre música popular e música culta. Passando ao exame da terceira idade da música, segundo Wiora (1961), cabe inicialmente situá-la, segundo o autor, a partir da Alta Idade Média, distinguindo-se pela polifonia, pela harmonia, pelas grandes formas tais como a sinfonia, e outras características desconhecidas anteriormente. A terceira idade, tal como Wiora a delimita, corresponde à fase que muitos autores caracterizam como de definição de uma música ocidental culta. Leuchter (1946), no capítulo denominado "O nascimento da música culta no ocidente" afirma: As características, tanto espirituais como técnicas, da música oriental também o são da primitiva música cristã. Não se havia constituído, contudo, uma música artística de essência ocidental por haver achado o Ocidente sua expressão musical nas melodias populares. Coexistiram, pois, nos primeiros séculos dos Cristãos, duas correntes independentes: a da música artística, como a eclesiástica, e a de caráter popular. Ao se confundirem ambas, nascerá uma música artística genuinamente ocidental e não antes de haver transcorrido dez séculos de história cristã (LEUCHTER, 1946, p.16). O surgimento, pois, de uma música ocidental típica e seu desabrochar em diversas formas, gêneros, técnicas e estilos é o que caracteriza, a partir da análise de Leuchter, a fase descrita por Wiora (1961) como a terceira idade da música: O que se entende por música ocidental não é toda a música da Europa desde a préhistória até nossos dias, é um encadeamento que aflora sob os Carolíngeos e se prolonga até a época contemporânea. Desenvolvida pelos povos latinos e germânicos, ela se estendeu sobre a Europa e sobre a Terra inteira. Ela não representa (...) um tipo de cultura musical, (...) mas ela é um Gênero em si, bem particular (WIORA, 1961, p.29) Wiora (1961) também assinala a importância da terceira idade da música na preparação da quarta idade, a atual. 41 O autor (Wiora, 1961, p.130) enfatiza, ainda, a peculiaridade da música ocidental, demonstrável, segundo ele, pelo desenvolvimento da composição escrita e pelo fato de sua teoria musical ser a base de todo ensino musical nos cinco continentes. Freire (1992) mostra que a importante relação entre a Igreja, a música ‘ocidental’ (e sua notação) e o ensino é ilustrada por Raynor (1981) no capítulo denominado "A Igreja Medieval". Além de citar diversas escolas de canto ligadas a mosteiros e igrejas (tais como a Schola Cantorum, em Roma, ou a Thomasschule, em Leipzig), o autor enfatiza a importância do aprendizado da música anotada para que se tentasse uniformizar os cantos na Igreja. As escolas de canto existiam, segundo Raynor, para preparar meninos em música antes de examinar até que ponto e de que modo dar-lhes educação geral: “Desse modo, em fins do século X o preparo musical de meninos convertera-se numa necessidade litúrgica, e as escolas de canto tornaram-se uma forma de educação que era em geral o primeiro passo para o eventual preparo ao sacerdócio” (RAYNOR, 1981, p.31) A quarta idade da música é definida por Wiora (1961) como a idade de técnica e da civilização industrial mundial. Wiora (1961) assinala, inicialmente, a permanência de tendências anteriores na música do século XX, quer na continuação do concerto público e na ênfase na perfeição técnica e na integração, quer na prática musical de grupos neo-românticos, ou mesmo de Schöenberg, cuja elaboração musical partiu da “desintegração” de elementos propostos por Wagner. Leuchter (1947), analisando a passagem da música do século XIX para o século XX afirma: O problema que se colocou à música do incipiente século XX consistiu (...) em encontrar a solução do antagonismo que , na arte “neo-romântica”, aparece entre sua essência realista e sua aparência romântica. Quando em 1866 morre Liszt, último dos grandes expoentes da música imperialista começa a manifestar-se uma reação contra o espírito dessa arte, reação que se concretizou em várias correntes de distinta índole. Mas, por mais opostas que pareçam as duas tendências fundamentais de fins do século XIX: Naturalismo e Impressionismo surgiram, sem dúvida, de um mesmo impulso: a oposição ao antagonismo neo-romântico (LEUCHTER, 1947, p.169) Wiora (1961) afirma, também, que o século XX representa uma ruptura de primeira grandeza na história do mundo, o início de uma nova era na história da humanidade. Harnoncourt (1988) aborda a modificação radical de significação da música nos últimos dois séculos, deixando de ser o centro de nossas vidas (parte essencial delas), deixando de ser a "linguagem viva do indizível", que só os seus contemporâneos podem entender, tomando-se, no século XX, um ornamento (HARNONCCOURT, 1988, p.13). 42 Leuchter (1947) afirma que a tendência da música do século XX a uma "nova objetividade" leva à busca de eliminação de todo tipo de impulsos extramusicais, e se opõe tanto à música clássica, quanto à romântica e à neo-romântica. Conduz, também, à conquista de novos meios de realização (LEUCHTER, 1947, p.170). Freire (1992) Diz que outra tendência que Leuchter assinala na música da quarta idade é a de um livre desenvolvimento das forças "motoras" da música, quer extraída de “programas” independentes, até certo ponto, da mente e da alma humanas, quer emanadas da música popular (em especial de seus ritmos), quer completamente independentes, recebendo seus impulsos exclusivamente de si mesmas (LEUCHTER, 1947, p.173-75). A concepção motora, segundo Leuchter, leva a música à desintegração completa das leis construtivas do século XIX e conduz a um processo de objetivação, restituindo-lhe sua "autonomia" e abrindo novos horizontes à produção musical. Outro aspecto dual da música da quarta idade também abordado por Wiora é o da retomada da música anterior, paralelamente à exclusão do passado na composição. Ou seja, com o abandono da música de tradição oral, do folclore, das canções populares, desaparecem as variações improvisadas, mas reproduzem-se ‘peças’, fixadas para sempre sobre partituras ou sobre discos (WIORA, 1961, p.175). À desaparição da tradição corresponde, contudo, à multiplicação de olhares conscientes em direção ao passado, “a historização do passado do qual nós podemos somente guardar uma imagem, mas que não é mais um elemento da nossa vida” (Wittram, apud Wiora, 1961, p. 175). O desenvolvimento da musicologia e da mentalidade historicista na música é, segundo Wiora, uma das características da música da quarta idade - “recolhem-se e editam-se manuscritos de todos os séculos, cantos populares de todos os países, ressuscitam-se instrumentos do mundo todo (...)” (Wiora, 1961, p. 176). Outros exemplos desse processo são: a busca e a divulgação de cartas de músicos, visando a ressuscitar a vida e o conhecimento dos grandes mestres; a busca de reconstituição de textos musicais segundo o original exato, segundo a concepção e a interpretação exatas, segundo a autenticidade da obra... (WIORA, 1961, p. 176). A pesquisa folclórica também se expande, e compositores como Janacek ou Bartok são, além de compositores, exploradores a serviço da ciência histórica (WIORA, 1961, p.177). 43 A difusão mundial da música antiga se expande, também, na quarta idade, e KUTZ APUD WIORA (1961) se refere a crianças negras da África do Sul cantando velhos madrigais ingleses, e à difusão do cravo (ressuscitado na Europa há cerca de trinta anos) no Cairo, na Batavia, em Singapura, Shangai, Tokio... O rádio e o disco contribuem para isso, e desenvolve-se a construção moderna de instrumentos antigos "o traço dominante consiste em dar à música antiga novas concepções de existência" (WIORA, 1961, p. 177). O desenvolvimento da consciência histórica musical leva a que os compositores do século XX conheçam mais obras do passado do que os compositores dos séculos anteriores. E aproveitam muitos deles, características dessas obras para, por renovação e acumulação, chegarem a novos resultados. Wiora identifica três formas principais de aproveitamento: 1) de estilos passados da música ocidental (Idade Média, Renascença, Barroco e Classicismo); 2) de estilos de povos ocidentais e orientais das tradições escrita e oral; 3) de estilos arcaicos renovados (como certas fórmulas de recitativos). Fischer (S/D) aborda o reaproveitamento, no século XX, da música do passado como um risco de levar à "imitação crassa", pois considera que a música ‘moderna ‘se alimenta de um conteúdo perdido, de formas cuja significação e vigor não existem mais (FISCHER, S/D, p. 223). Paralelamente a esse processo de renovação da herança musical do passado, Wiora (1961) assinala a ocorrência de um movimento contrário, uma forte exigência de romper totalmente com o passado: Embora todos os antigos mestre, os Josquin, os Bach, os Beethoven, combinassem tendências conservadoras e progressistas, e mesmo atemporais ou transhistóricas, hoje se estabelece como norma um progressismo, elemento parcial até então, e se pretende compor excluindo o passado (WIORA, 1961, p. 181) . Wiora (1961) ainda aborda a questão da organização, da industrialização e da ideologização da vida musical, que, segundo ele, leva à formação de uma trama de aparelhos, de máquinas, de empregados, de funcionários, de ideologias, de direitos de autores, etc, interferindo na ‘Musa da Música’ e, freqüentemente oprimindo-a (WIORA, 1961, p. 199). A quantidade crescente de organizações, instituições, congressos e festivais é, segundo Wiora (1961), fator de diferenciação na música da nova idade para as precedentes. O papel da indústria moderna, funcionando também como estrutura secundária na vida musical contemporânea, é enfatizada pelo autor (WIORA, 1961, 1961) que assinala a 44 importância dos processos de massificação através da propaganda, assim como da literatura de programa, da crítica, e outros. Outras características contraditórias da música contemporânea abordadas por Wiora (1961) são a desumanização e a regeneração do aspecto humano na música. A desumanização é considerada evidente, pelo autor (WIORA, 1961), a partir de vários aspectos: 1) substituição de intérpretes por aparelhos, o que se reflete, inclusive, no declínio do uso da voz humana, no cultivo de uma atitude passiva (como a que se tem ao apertar o botão de um rádio para ouvir música "pronta", ao invés de, por exemplo, cantar em casa); 2) desaparecimento de relações humanas, como entre o músico e o ouvinte, em razão do intermediário mecânico, entre o compositor e o mundo ambiente, etc. Pela tecnicização, a maior parte das possibilidades que oferecia a música na vida desapareceu. Na usina não pode se elevar nenhum canto de trabalho, nas grandes vilas industriais não se pode formar nenhum canto de trabalho, nas grandes vilas industriais não se pode formar nenhum ambiente musical, como foi o caso de Nuremberg e Veneza. O sino da igreja foi o símbolo de nossa antiga cultura; o da civilização industrial é a sirene da usina (WIORA, 1961, p. 204). Concluindo seu exame acerca da quarta idade, Wiora considera que a tendência em buscar ilimitadamente o novo na música, é utópica, pois não há terras novas a conquistar indefinidamente. Para ele, a expansão musical tem limites definidos, e a ultrapassagem desses limites pode conduzir a domínios vizinhos ao ruído... Apesar dos modos de ouvir, típicos das massas atuais, não serem considerados absolutamente novos por Adorno apud Wiora (1961), eles têm em comum o fato de que nada do que atinge o ouvido foge do esquema de apropriação de valores. Adorno relaciona a audição regressiva à produção, através do mecanismo de difusão, o que, segundo ele, acontece precisamente através da propaganda, levando os ouvintes e consumidores a um processo de identificação com o produto que lhes é imposto, fazendo-os necessitar e exigir exatamente tal produto. O sentimento de impotência, diante de tal mecanismo opressor, furtivamente, toma conta do publico, que não consegue se subtrair à produção monopolista, e sucumbe dominado. Novos modos de comportamento perceptivo são, então, desenvolvidos, e a desconcentração é o meio através do qual, segundo Adorno, "se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas” (WIORA, 1961, p. 190). 45 2.5 Revisão de dados coletados através de pesquisa que relacionam música e cuidado Na busca da literatura relacionada à música ligada ao cuidado, foi possível encontrar um acervo de estudos direcionados a diferentes padrões de pacientes e olhares diferenciados para essa temática. Os descritores usados foram: Musicoterapia, Música e Enfermagem e Música e Cuidado. Neste levantamento, feito para atender à disciplina Cuidar/cuidado quando dela fiz parte como aluna especial de mestrado, foi usado o recorte temporal de janeiro de 2003 à novembro de 2008, que teve como critério a relevância com o trabalho referido. Começamos o levantamento pelo descritor Musicoterapia na Base LILACS, no qual encontramos os dados relacionados abaixo no quadro 1 Quadro 01 Artigos encontrados sobre a música como recurso no cuidado Títulos Autores Ano Vivências em contextos Wazlawick, Patrícia 2006 coletivos e singulares onde a música entre em ressonância com as emoções A música como recurso no Ferreira, Caroline Cristina 2006 cuidado à criança hospitalizada: Moreira; Remedi Patrícia Pereira; uma intervenção possível? Lima, Regina Aparecida Garcia de Música para idosos Leão, Eliseth Ribeiro; 2008 institucionalizados: percepção dos Flusser, Victor músicos atuantes Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde e LILACS Os autores acima se referem à música como auxiliar nas diversas condições na vida dos seres humanos, o primeiro buscando a emoção, o segundo enxergando a música como diferencial para o cuidado e o terceiro atraído como ponto de partida para a percepção. No primeiro dado, em “Vivências em contexto coletivos e singulares onde a música entra em ressonância com as emoções”, foi possível observar que se trata do sentido expresso nas narrativas que alguns jovens constroem sobre sua história em relação à música. O artigo 46 enfatiza que em suas vivências em situações concretas permeadas pela dimensão afetiva, os jovens encontraram e vivenciaram a utilização viva da música, situações estas que deram margem para a construção dos significados da mesma, em toda esta trama. Tais significados são, principalmente, constituídos e construídos pelos sentidos envoltos em emoções, sentimentos, desejos, vontades, interesses, motivações de sujeitos em constantes relações com o contexto sócio-cultural. Significados/sentidos que demonstram a utilização viva da música e a constante movimentação de sujeitos envolvidos na atividade musical, constitue e também é constituinte deles. Traz, durante todo o tempo considerável importância no contexto música/adolescente/saúde. O segundo artigo que traz “A música como recurso no cuidado a criança hospitalizada: uma intervenção possível”, relata e trata a música como um recurso do cuidado, faz um estudo bibliografico no qual os autores (enfermeiros), tiveram como objetivo analisar a produção bibliográfica da enfermagem pediátrica quanto à utilização da música como recurso terapêutico no espaço hospitalar, a fim de identificar o estado do conhecimento desta área nesse campo. Todos os resultados evidenciaram benefícios da música para a criança hospitalizada, seus familiares e equipe de saúde e constatou-se que este recurso pode ser utilizado no espaço hospitalar como uma intervenção de baixo custo, não-farmacológica e não-invasiva, promovendo um processo de desenvolvimento que visa à saúde da criança, da família e dos trabalhadores. Na terceira análise “ Música para idosos institucionalizados: percepção dos músicos atuantes”, trata-se da avaliação que os autores(enfermeiros) fizeram em um estudo qualitativo que analisou a percepção dos músicos sobre a atividade musical junto a idosos institucionalizados em Portugal e na França. Segundo eles a percepção dos idosos, assim como de familiares, acompanhantes e profissionais de saúde envolvidos merece ser investigada de forma a compor uma forma mais abrangente a especificidade da atuação dos músicos nos hospitais. É importante destacar que trabalhos com música são realizados não só em nosso país, mas em todo o mundo. Após essa análise foram coletados mais dados com o descritor musicoterapia conforme a demonstração no quadro 02. 47 Quadro 02 Artigos com a Música como intervenção nas clinicas Humanização hospitalar Picado, Sandra Barros da 2007 infantil: intervenções Rocha; El-Khouri, Roger Naji; musicoterapêuticas no Centro Streapco, Priscila Tassara. Clínico Electra Bonini Musicoterapia clínica e sua Souza, Márcia Godinho 2006 atuação na Casa Gerontológica de Cerqueira de; Assumpção, Martha Aeronáutica Brigadeiro Eduardo Tannus Vianna; Landrino, Norma. Gomes O sonoro e o subjetivo: um Bárbara, Bianca Bruno. 2005 estudo sobre o som desde seus vestígios iniciais até suas traduções clínicas Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Nos dois primeiros estudos, os pontos de relevância são as instituições/clinicas nas intervenções as crianças hospitalizadas, no primeiro; o segundo traz uma abordagem da música como atuação em casa de gerontologia; o terceiro aborda a relação entre o subjetivo e o sonoro, fazendo um estudo sobre seus vestígios nas traduções clinicas. Um tratado sobre a “Humanização hospitalar infantil: nas intervenções musicoterapêuticas no centro clínico” (PICADO et al., 2007) mostra que os pesquisadores fizeram uma intervenção através da música, utilizando uma equipe multidisciplinar para promover a musicoterapia como recurso aplicável às crianças internadas em uma unidade de pediatria hospitalar, dentro de um programa de humanização hospitalar infantil. Eles mostram em todo decorrer do texto a música como um recurso capaz de interagir no processo saúde doença, trazendo benefícios para a criança hospitalizada. O segundo texto encontrado trouxe, num primeiro momento, uma apresentação do trabalho da musicoterapia e tudo o que a ela se refere no atendimento ao idoso. O segundo momento decorreu sobre conceitos teóricos da interdisciplinaridade e a interação da musicoterapia na prática interdisciplinar. E, por último, trouxe alguns aspectos teóricos da terapia de grupo. Portanto, possui três vertentes que convergem para um propósito único: o de qualificar cada vez mais o atendimento ao indivíduo na terceira idade. 48 O terceiro artigo coletado vem trazendo a subjetividade, relacionada ao aspecto sonoro, trazendo vestígios e traduzindo suas peculiaridades clinicas. Buscamos mais dados científicos após analise, com o descritor musicoterapia como demonstração no quadro 03. Quadro 03 Artigos que trazem a música como uma terapêutica Credibilidade e efeitos da música como Fonseca, Karyne Cristine 2006 modalidade da; Barbosa, Maria Alves; Silva, terapêutica em saúde Daniela Keylla Gonçalves; Virgínia da; Fonseca, Siqueira, Karina Machado; Souza, Marcus Antônio de A visita musical como Bergold, Leila Brito 2005 estratégia terapêutica no contexto hospitalar e seus nexos com a enfermagem fundamental O lugar da música no Bergold, Leila Brito; 2006 espaço do cuidado terapêutico: Alvim, Neide Aparecida Titonelli; sensibilizando enfermeiros com a Cabral, Ivone Evangelista dinâmica musical Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Esses dados retratam a música como um ator importante na modalidade terapêutica; o primeiro quando cita seus efeitos da música na terapêutica, o segundo quando traz a música como estratégia na terapêutica hospitalar e o terceiro para uma sensibilização no cuidado através de dinâmica musical. O primeiro texto encontrado se refere a “Credibilidades e efeitos da música como modalidade terapêutica em saúde” (FONSECA et al., 2006) no qual é feita uma análise sobre os efeitos terapêuticos e a forma como seus autores (musicoterapeutas) descrevem a credibilidade e aceitação da musicoterapia por seus clientes. Verificou-se que a maioria dos profissionais percebe a credibilidade de seus clientes quanto à capacidade da música em transmitir sensações agradáveis e de atuar de forma eficaz no processo de cura de algumas enfermidades. 49 O segundo vem trazendo a “Visita musical como estratégia terapêutica no contexto hospitalar e seus nexos com a enfermagem fundamental” (BERGOLD, 2005), que mostra as terapêuticas com nexos de enfermagem fundamental. Segundo a autora (BERGOLD, op.cit., 2005), enfermeira, o estudo discutiu as visitas musicais na ótica do cliente hospitalizado e suas implicações como estratégia terapêutica para a enfermagem fundamental. Os sujeitos discutiram a influência positiva das visitas musicais na promoção do conforto, bem-estar e da expressão de emoções que promoveram sua integridade e também o resgate de sua autonomia pelo respeito ao seu estilo musical e estímulo à criação de recursos próprios. Os sujeitos apontaram ainda a qualidade integradora das visitas musicais ao estimular a comunicação e a interação entre os seus participantes e entre estes e a equipe de enfermagem, promovendo a discussão sobre as implicações para o que é próprio e de interesse da enfermagem fundamental. No terceiro dado analisado “O lugar da música no espaço do cuidado terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a dinâmica musical” (BERGOLD et al., 2006), discutiu-se a importância do espaço, da sensibilização dos profissionais, e das influências da música no corpo. Além de descrever essas influências, o estudo objetivou analisar a aplicabilidade da dinâmica de criatividade e sensibilidade (DCS) Corpo-Musical como forma de sensibilização do enfermeiro quanto ao uso da música na sua prática de cuidar-ensinar. O grupo concluiu que a música age sobre todo o corpo, mas cada estilo estimula mais uma determinada região do cérebro. Sua influência está na dependência do contexto, estilo musical e gosto do ouvinte. A pesquisa revelou o potencial da dinâmica como rico espaço de educação dialógica, constituindo-se como estratégia importante na sensibilização dos enfermeiros sobre as possibilidades da música como recurso terapêutico. Deu-se continuidade à revisão em torno da música como fator presente em diversos aspectos nessa área da saúde/cuidado, encontrando-se mais três dados científicos como mostrado no quadro 04. 50 Quadro 04 Artigos que abordam a música com efeitos tranquilizantes Efeito terapêutico da Hatem, Thamine P; Lira, 2006 música em crianças em pós- Pedro I. C; Mattos, Sandra S operatório de cirurgia cardíaca Música é remédio para o Todres, I. David 2006 coração Musicoterapia e o cuidado Pinho, Mariana Carvalho 2005 ao cuidador: uma experiência Caribé de junto aos agentes comunitários de saúde na favela Monte Azul Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde (LILACS); Scielo No primeiro artigo a relação musica e terapêutica é usada como fonte de cuidado à criança durante o pós-operatório, buscando um conforto nas cirurgias cardíacas. O segundo traz a temática da música com um remédio ao coração, mostrando os benefícios da mesma aos pacientes. E o terceiro artigo aborda novamente o cuidado dessa música junto ao cuidador. O primeiro aborda o “Efeito da música em crianças no pós-operatório de cirurgia cardíaca” (HATEM; LIRA; MATTOS, 2006), que trata única e exclusivamente do efeito terapêutico. A equipe multidisciplinar teve como objetivo verificar de forma objetiva e subjetiva o efeito da música em crianças no pós-operatório de cirurgia cardíaca em uma unidade de terapia intensiva cardiopediátrica, em conjunto com ações da prática convencional. Os mesmos fizeram um ensaio clínico aleatorizado por placebo, no qual foram avaliadas 84 crianças, dentro da faixa etária de um dia a 16 anos, nas primeiras 24 horas de pós-operatório, submetidas a sessão de 30 minutos de musicoterapia, utilizando música clássica e observadas no início e fim das sessões quanto às seguintes variáveis: freqüência cardíaca, pressão arterial, pressão arterial média, freqüência respiratória, temperatura, saturação de oxigênio, além de uma escala facial de dor. No referido estudo, considerou-se o nível de significância estatística de 5%. A segunda análise nos mostra a música como medicamento: “Música é remédio para o coração” (TODRES,2006), este estudo traz música não só como uma forma terapêutica, mas como uma medicação. O autor, médico, afirma neste estudo que a música tem efeitos benéficos para pacientes com dor, alivia a ansiedade pré-operatória nas crianças, age sobre o sistema nervoso autônomo, reduzindo os batimentos cardíacos, a pressão arterial e a dor pós- 51 cirúrgica e também tem um efeito positivo nos pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio. A música reduz a ansiedade e a dor após cirurgias de coração em adultos. Os efeitos da música na redução da dor se explicam pela teoria do portal do controle da dor. A música age como um estímulo em competição com a dor, distrai o paciente e desvia sua atenção da dor, modulando, desta forma, o estímulo doloroso. A música diminui a confusão e o delírio em idosos submetidos a cirurgias eletivas de joelho e quadril. Também auxilia na redução de distúrbios de humor em pacientes submetidos a tratamento com altas doses de quimioterapia seguido de transplante autólogo de células-tronco. O estudo “Musicoterapia e o cuidado ao cuidador” (PINHO, 2005), teve como objetivo conhecer a realidade de trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde do Programa de Saúde da Família, da Favela Monte Azul e compreender as razões que as levaram a manifestar o que chamam de estresse. Os objetivos específicos foram: pensar como a musicoterapia poderia contribuir como instrumento terapêutico e de intervenção nessa realidade, bem como produzir subsídios que auxiliem na elaboração de novas estratégias de atuação no campo da saúde mental, com essa população. O grupo de Agentes Comunitário de Saúde que se tornou objeto de investigação foi constituído de sete mulheres entre 22 e 45 anos. Tratou-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que se situou metodologicamente no campo da pesquisa - ação, caracterizando-se como um estudo que tanto investiga quanto busca intervir na realidade investigada. Em relação à musicoterapia, as integrantes do grupo de Agentes Comunitários de Saúde foram unânimes em reconhecer o quanto importante essa experiência lhes havia sido, o quanto foram ajudadas, e o desejo de que o trabalho tivesse continuidade. Isto aponta para uma questão muito importante: o cuidador precisa ser cuidado. Continuou-se o levantamento de pesquisas através do descritor musicoterapia, como mostra o quadro 05. 52 Quadro 05 Artigo que aborda a música como auxiliar no tratamento da dor em doentes crônicos Os efeitos da música no escolar cardiopata durante Brito Denyzia da Silva; 2005 a Farias Fernanda Anajás Caldas punção venosa: estudo preliminar Expectativas y evaluación de la actividad musical González de Ricardo; pacientes del Hospital Psiquiátrico Humberto; de la Habana Menéndez, 2005 García Goicolea Penedo, Maiza, Sonia; Sánchez Pérez, María de Jesús The relationship between music and Leão, Eliseth Ribeiro; 2005 muscoloskeletal Silva, Maria Julia Paes da chronic pain Musicoterapia y el niño Sigren, Valeska 2003 sordo Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Os dados dessas pesquisas trazem como referência, o efeito da música para os seres, os pacientes cardiopatas, a expectativa das atividades em hospitais psiquiátricos com a música e relação da música com a dor, trazendo, como último artigo nesse levantamento, a música para crianças surdas. Como referência na base de dados LILACS, encontramos 16 artigos que abordam o tema em questão, podendo os mesmo ser diferenciados pelo ponto de vista e referencial dos autores. Ao refletir sobre a primeira pesquisa revisada, pode-se perceber que referência à questão da vivencia, ressonância e emoção, diferentemente do segundo que já busca a música como um recurso para o cuidado direcionado as crianças hospitalizadas, ao partir para analisar o referencial do terceiro artigo na base LILACS, é clara a referência de percepção. Dessa forma, podemos referir o quarto trabalho revisado com o objetivo da intervenção, sempre utilizando a música atuante no conjunto de idéias. O quinto artigo traz música e a terapia clinica como um fator relevante, o sexto artigo vem buscando um olhar sobre a relevância da questão sonora do paciente. Os demais artigos trazem os efeitos 53 terapêuticos, terapêutica e os nexos com a enfermagem fundamental/música no espaço do cuidado, sensibilização entre outros. Essa terapêutica e o envolvimento música/cuidado são estudados por diversos profissionais, que os trazem como foco de interesse, assim como sua visão perante a música e o ser humano. Após essa reflexão, continuaremos nas outras bases, usando o descritor Musicoterapia na BDENF. Quadro 06 Artigo que traz a música como recurso terapêutico em adolescentes Títulos A Autores no com Prática de terapias alternativas adolescentes grávidas enfermagem Saraiva Kaelly Virginia de 2 em Oliveira; Costa, Lígia; Ximenes, 003 Lorena Barbosa Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde (BDENF) Esse artigo trata das diversas práticas de enfermagem em adolescentes grávidas e relaciona a música com uma das alternativas bem sucedidas. Este estudo objetivou refletir sobre terapias alternativo-complementares de saúde utilizadas com adolescentes grávidas como auxílio no enfrentamento da gravidez. Esse estudo é uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso com uma adolescente grávida acompanhada no Centro de Desenvolvimento Familiar (CEDEFAM), em Fortaleza. Utilizaram-se a observação participante e diário de campo sobre a prática de enfermagem realizada com sessões de terapias alternativas (musicoterapia e imaginação induzida), aplicadas durante os últimos trimestres de gravidez. Os diagnósticos de Enfermagem, segundo a North American Nursing Association (NANDA) subsidiaram o plano de cuidados para as sessões. Os dados foram analisados de acordo com registros de depoimentos, comportamentos e expressões não-verbais da adolescente. Os autores observaram que essas terapias elevaram a auto-estima da adolescente, minimizaram os fatores desencadeantes de estresse e contribuíram para a aceitação da gravidez. Esta dissertação buscou trazer um conhecimento diferenciado para a arte do cuidado com o intuito de que os enfermeiros busquem aprender técnicas da terapêutica 54 alternativa/complementar, para utilizá-los em sua prática cotidiana de cuidar/cuidado. Passaremos, a partir de agora para o próximo descritor revisado (música e enfermagem). Quadro 07 Artigo que aborda a música em intervenções de enfermagem Títulos Música Autores removendo barreiras e resistências de Marques Ano Filho, Altino 2007 minimizando Bessa; Coelho, Cassiano Lara de usuários de Souza; Ávila, Lazslo Antonio substâncias A inserção da música no Ravelli, Ana Paula Xavier 2005 Dyniewicz, Ana Maria 2004 ensino superior de enfermagem: um relato de experiência Reflexões sobre enfermagem por aproximações com composições de Vivaldi Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Os artigos encontrados abordam a música como um forte aliado na iteração e minoração da resistência para os usuários de drogas, e, como referência, o segundo vem analisando a música na inserção do ensino superior na enfermagem, e no terceiro traz reflexões sobre a música de Vivaldi por aproximações. No primeiro artigo, os autores sugerem que a música popular pode ser empregada com a finalidade de remover barreiras, melhorando a comunicação com o usuário. Através de uma canção composta com finalidade didática, foram analisadas motivações psicológicas e as conseqüências já presentes ou futuras do uso de drogas. O texto musical e uma abordagem psicanalítica foram apresentados aos alunos da graduação de medicina e enfermagem da FAMERP, que responderam a um questionário específico, e participaram de um grupo de reflexão. Ficou demonstrado que a apresentação de música com finalidade didática é um recurso útil para a minimização das resistências, facilitando a transmissão de conhecimentos para alunos. Acredita-se que a aplicação desse mesmo método para grupos de risco possa ter efeitos benéficos em relação à redução de danos. Música pode remover barreiras. Da mesma forma que textos musicais podem aliciar os jovens para se iniciar no uso, podemos usar a mesma estratégia no sentido contrário. Estudos 55 sobre o uso da música como forma de remover barreiras deveriam ser estimulados. No segundo encontra-se um estudo que afirma ser a música um Instrumento facilitador do ensino-aprendizagem, sendo implementado em diversas áreas da educação. Este artigo aborda um desses instrumentos, a música, que com seus elementos formais, serve como apoio na prática pedagógica. Apresenta também um relato de experiência frente ao ensino superior no curso de Enfermagem pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, inserindo a música como veículo facilitador do ensino e da aprendizagem dos acadêmicos do primeiro ano do curso. Os textos referenciados acima mostram reflexões teóricas sobre a construção de conhecimento da Enfermagem por aproximações com composições de Vivaldi. Pela literatura em Enfermagem e outras ciências, os autores buscaram aproximações do saber e do fazer em Enfermagem ao longo da história da profissão. A trajetória passa pelo paradigma dominante, encaminhando-se para o emergente, mostrando aí, à luz da literatura, as perspectivas ao futuro. Quadro 08 Artigo que traz a música como uma aliada no cuidar O lugar da música no Bergold, Leila Brito; 2006 espaço do cuidado terapêutico: Alvim, Neide Aparecida Titonelli; sensibilizando enfermeiros com a Cabral, Ivone Evangelista dinâmica musical O lúdico desenvolvimento e infantil: o Ravelli, Ana Paula Xavier; 2005 um Motta, Maria da Graça Corso da enfoque na música e no cuidado de enfermagem Dinâmica musical: nova proposta metodológica Ravelli, Ana Paula Xavier; 2004 no Motta, Maria da Graça Corso da trabalho com gestantes em prénatal Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Os três estudos acima tratam da música como forma de sensibilização no espaço terapêutico “o cuidado”. O primeiro tratando cuidado terapêutico na sensibilização dos enfermeiros, o segundo buscando o enfoque da música no cuidado ao desenvolvimento 56 infantil. O terceiro traz uma proposta metodológica no trabalho com gestantes. Esse primeiro texto abordou “As influências da música no corpo” sendo este estudo conduzido junto a um grupo de enfermeiros participantes de uma disciplina de PósGraduação. Além de descrever essas influências, o estudo objetivou analisar a aplicabilidade da dinâmica de criatividade e sensibilidade (DCS) Corpo-Musical como forma de sensibilização do enfermeiro quanto ao uso da música na sua prática de cuidar-ensinar. Utilizou-se o Método Criativo-Sensível e o desenvolvimento da DCS na produção de dados da pesquisa. As influências holísticas, lúdicas e mecânicas da música sobre o corpo foram os temas gerados na discussão. O grupo concluiu que a música age sobre todo o corpo, mas cada estilo estimula mais uma determinada região. Sua influência está na dependência do contexto, estilo musical e gosto do ouvinte. A pesquisa revelou o potencial da dinâmica como rico espaço de educação dialógica, constituindo-se como estratégia importante na sensibilização dos enfermeiros sobre as possibilidades da música como recurso terapêutico. Os autores buscam nesse estudo o mundo imaginário e o tratam como um fator de grande importância para a compreensão e inserção da criança no mundo que a cerca. Sendo assim, o cuidado de enfermagem lúdico surge, assegurando um cuidado integral e cuidadoso, onde jogos, brincadeiras, cantos e danças estão presentes, para subsidiar o cuidado. Destacase a música e toda sua sonoridade envolvente e instrutiva, estando sua musicalidade inserida em nosso meio. A criança se constrói como ser ao interagir com o outro e o mundo, sendo o brincar necessário ao seu crescimento e desenvolvimento. Esse terceiro dado traz uma abordagem da dinâmica musical como proposta às gestantes em pré-natal. Quadro 09 Artigo que traz a música como recurso no processo de percepção do cliente Títulos Autores Percepções de gestantes Ravelli, Ano Ana Paula 2004 sobre a contribuição da música no Xavier processo de compreensão da vivência gestacional Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde Nesse artigo o foco é sobre o olhar da gestante na contribuição da música durante a gestação e seus fatores. 57 Os autores tiveram como objetivo buscar a experiência de utilizar a música no processo de ensino/aprendizado em pré-natal. Foram sete gestantes primíparas, vivenciando o terceiro trimestre gestacional no pré-natal. O estudo foi desenvolvido na Unidade Básica de Saúde e, no salão paroquial, ambos em Ponta Grossa, Estado do Paraná. Para a coleta, utilizou-se a dinâmica de criatividade e sensibilidade denominada dinâmica musical; entrevista semi-estruturada e observação. Revelaram-se seis categorias e subcategorias, a saber: Desvelando Saberes; Ritos e Mitos da Família; Corporeidade e seus Significados; Prazer; Percepções e Sentimentos acerca do Convívio no Grupo de Gestantes e Solfejar das Participantes. Os resultados revelaram que a música foi um recurso facilitador no processo ensino/aprendizado, favorecendo educador/enfermeiro nas atividades educativas, promovendo ambiente interativo e sonoro, propício à formação de vínculos, bem como educando/gestantes na compreensão do processo gestacional vivido, sendo sujeitos e não objetos na prática educativa. Esse levantamento de diferentes estudos trouxe elementos para avaliação dos profissionais envolvidos no assunto em pauta, música no cuidado ao paciente hospitalizado, mostrando os diversos pontos abordados por cada autor. Foi possível observar que nos descritores Musicoterapia, Música/Enfermagem, Música/ Cuidado, obteve-se artigos que mencionavam o cuidar/cuidado envolvendo música/paciente, sendo essas crianças, jovens, adultos e idosos. O material encontrado veio ao encontro da relevância deste estudo, aprofundando o conhecimento a partir de maneiras e olhares de outros autores, para encontrar elementos para a pesquisa sobre a resolução Cuidado/Música. Os textos revistos estão apresentados, a seguir, de acordo com o ano de sua publicação como demonstra o gráfico 1. 58 Gráfico 1 Distribuição por ano das publicações 7 6 5 4 3 Ano 2 1 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Foram encontrados em 2003, dois estudos com relevância para a pesquisa, tratando a música\como fonte de terapêutica ao paciente. Em 2004 foram localizadas três publicações que metodologicamente trazem a contribuição da música e percepções como uma nova proposta ao paciente. Em 2005 atingiu-se o teto máximo de coleta, com sete artigos publicados, focalizando o estudo do sonoro, terapêutico hospitalar com a música, o cuidador através da modalidade musical, os efeitos da música nos pacientes cardiopatas, as expectativas com pacientes psiquiátricos, propriamente, e a relação música/paciente. No ano de 2006 obtiveram-se cinco estudos, os quais trazem a música como um recurso ao cuidado na hospitalização, mostrando os efeitos que a música pode obter na terapêutica aos diversos tipos de patologia, e abordando as emoções dos pacientes no contexto coletivo. Em relação ao ano de 2007 encontrou-se um artigo com relevância para a pesquisa, tratando da música como um recurso na humanização em clinica. O ano de 2008 proporcionou uma publicação que abordava a percepção da música para músicos atuantes e idosos. Os estudos encontrados consideram que a intervenção da música, de uma forma geral, traz benefícios tanto fisiológicos quanto psicológicos para indivíduos em faixa etárias diversas, com demonstrações de um novo recurso para o cuidado diferenciado na área da enfermagem. 59 CAPÍTULO III REFERENCIAL TEÓRICO Um homem também chora Menina morena Também deseja colo, palavras amenas Precisa de carinho, precisa de ternura Precisa de um abraço da própria candura Guerreiros são pessoas São fortes, são frágeis Guerreiros são meninos do fundo do peito (...) (GONZAGUINHA, 1983) www.google.com.br 3.1 Cuidar/Cuidado de Enfermagem/Música para Paciente hospitalizado. Esta dissertação trouxe como referencial teórico Coelho (1997) com o conceito do cuidar/cuidado de enfermagem, Watson (1993), que conceitua o cuidado como maior valor que a enfermagem tem para oferecer à humanidade e Freire (1992), que nos faz entender em sua tese o que de fato é música, suas diferentes funções sociais e há quanto tempo esta nos acompanha e faz parte das nossas vidas. Estudos abordam como a música pode alcançar a mente do ser humano, e essa concepção ligada ao cuidado pode trazer grandes contribuições para o paciente hospitalizado; uma dessas teorias é a do tálamo, ou teoria Cannon-Bard de emoção. De acordo com ela, o tálamo, “centro retransmissor de todas as emoções, sensações e sentimentos” (RUUD, 1990, 60 p.29), é a primeira região do cérebro a ser atingida pela música, estimulando o córtex cerebral onde se integram os aspectos intelectuais de pensamento e raciocínio. Sekeff (2002, p.109) acrescenta que: (...) o tálamo é o lugar aonde chegam às sensações e emoções que se situam num plano não consciente. Se nesse nível podemos acompanhar uma linha melódica assobiando ou tamborilando dedos inconscientemente, só podemos apreciá-la conscientemente, em nível cortical. Na arte do cuidar/cuidado, segundo Coelho (1997, p. 8), existem diversas maneiras diferenciadas de cuidados, das quais temos que nos apropriar. Definiremos como exemplificação, algumas dessas muitas técnicas de cuidado, para isso segue como principio, suas definições: Cuidar é o processo de expressão, de reflexão, de elaboração do pensamento, de imaginação, de meditação e de aplicação intelectual, desenvolvido pela enfermeira, em relação às ações mais simples até as mais complexas, e que requer um mínimo de condições estruturais, ambientais e de recursos humanos que seja razoável para assegurar a confiabilidade, a credibilidade dos atos/ações direcionados ao atendimento dos clientes nos níveis imediato, mediato e tardio. Cuidado é a ação imediata prestada pela enfermeira ou algum elemento de sua equipe, técnico e/ou auxiliar de enfermagem, em curto espaço de tempo, desenvolvido em vários momentos, envolvendo segurança e competência, aliadas à tecnologia específica que a situação exige. Cliente/Paciente é aquele que sofreu uma violência ou acidente físico e/ou orgânico, e que traz consigo as suas características pessoais, familiares e sociais, necessitando, urgentemente, do cuidar/cuidados de enfermagem para o atendimento das suas necessidades humanas, a partir da prioridade de manter a vida e trazer o cliente de volta para sua realidadeou dar condições para que morra com dignidade. Os três conceitos relatados acima descrevem as ações de enfermagem e, quem é o cliente/paciente. Em relação ao cuidar, Coelho (1997) enfatiza a importância do processo de mentalização e organização. Em relação ao processo saúde e doença, em termos da determinação causal, pode-se dizer, em síntese, que este representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, o que modifica diversos momentos históricos, no desenvolvimento científico da humanidade (WATSON, 1993, 259-61p.) 61 A teoria mística sobre a doença explicava que os antepassados a julgavam como um fenômeno sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas (gazes), que vai predominar por muito tempo (WATSON, 1993, p.259-61) Até que, com os estudos de Louis Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença. Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente. Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e ocorrência das doenças em termos individuais e coletivo (WATSON, 1993, 259-61) O fato é que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. Acrescente-se o recente e acelerado avanço que se observa no campo da engenharia genética e da biologia molecular, com suas implicações tanto na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes – agente, hospedeiro e meio – considerado como fatores causais, que evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia humana e sistema de serviços de saúde, numa permanente inter-relação e interdependência (WATSON, 1993, p.259-61) De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade causal: saúde e doença não são estados estanques, isolados, de causa aleatória, não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Coelho (1997, p. 78-155) descreve os cuidados de enfermagem e os conceitua em tipologias de cuidados. No ambiente hospitalar o qual é o cenário de nossa pesquisa, Coelho define quatorze tipologias de cuidados utilizadas, sendo descritas a seguir: 62 Cuidar Contingencial – Este tipo de cuidar/cuidados é construído durante momentos em que se instala uma situação súbita ou episódica. Caracterizam-se pela atenção especial ao aspecto biológico dos corpos dos clientes, exigindo procedimentos que integram os instrumentos de Enfermagem, tais como a punção venosa periférica, a cateterização vesical e o curativo de partes lesadas, dentre outros cuidados. A principal característica desse tipo de cuidar são os modos e a tecnologia do cuidar como ato concreto. Cabe ainda uma atenção especial ao que paralelamente a este é necessário: estar atento, como os aspectos subjetivos que se encontram no ambiente e nos clientes, já que estes necessitam de observação detalhada, a atitude de vigilância (“quase de um radar”) que cabe à enfermeira (COELHO, 1997, p.87). Cuidar Contínuo – Estes cuidados têm a função de prevenção, manutenção da vida e impedimento do surgimento de seqüelas que possam agravar o quadro do cliente. A característica marcante desses cuidados é a de reconhecer os sinais e os sintomas pela observação constante. Outro aspecto é o conhecimento da psiconeuroimunologia, rotas biológicas que tornam a mente as emoções e o corpo intimamente interligados (COELHO, 1997, p.104) Cuidar Dinâmica - É o cuidar/cuidados executado num contato relativamente curto e rápido, ao tempo de permanência com o cliente, mas, ainda assim, intenso e direto em sua execução. A distinção de cuidar/cuidados deve ser observada enquanto simultaneamente chegam outros clientes, somando-se aos que já estão sendo cuidados. A vigilância dos cuidados de enfermagem dinâmicos objetivos, a prevenção de danos e a identificação precoce das anormalidades. (COELHO, 1997, p.98) A utilização da música para o bem estar físico, emocional e mental é praticada desde tempos antigos. Há milênios, os xamãs (médicos primitivos da sociedade) já usavam os sons para tratamento do corpo e da alma. As sociedades davam maior importância aos cantos mágicos do que às ervas medicinais (GRACIANOS, 2003). A primeira utilização da música como forma de humanização e cuidado à saúde foi relatada em 1859 por Florence Nightingale. Foi utilizada junto aos veteranos da I e da II Guerras Mundiais. Através de duas enfermeiras musicistas dos EUA – Isa Maud Ilsen e Harriet Ayer Seymor, que se valiam da música como recurso terapêutico para alívio da dor física e emocional dos soldados feridos (DOBBRO, 2000) A partir dos anos 40 do século XX, estudos científicos abordando a música como recursos terapêuticos na Europa e Estados Unidos mostraram as primeiras bases de suas 63 práticas atuais, sendo que a observação do efeito da música entre os convalescentes de guerra, principalmente os da Segunda Guerra Mundial (GRACIANOS, 2003). Cuidar Expressivo – É a utilização dos seus sentidos, corpo sensitivo, através de uma relação interpessoal, que contém a linguagem verbal e não verbal (COELHO, 1997, p.112) É difícil encontrar uma única fração do corpo humano que não acuse a influência dos sons musicais. A música afeta o corpo direta e indiretamente. Atua de forma direta sobre as células e os órgãos que o constituem, e indiretamente, mobilizando as emoções e influenciando em numerosos processos corporais que, por sua vez, propiciam relaxamento e bem-estar (BACKS, 2003) Nas últimas décadas vem se demonstrando os efeitos fisiológicos que a música produz no organismo do ser humano, tais como alterações na freqüência cardíaca e respiratória, alteração na pressão arterial, relaxamento muscular, aceleração do metabolismo, redução de estímulos sensoriais como a dor e outros. Seu uso pode ser considerado como uma abordagem não-farmacológica efetiva no controle da dor. Muitas pessoas relatam alívio da dor crônica através da utilização da música, algumas com histórico de dez até vinte anos de sofrimento (DOBBRO, 2000) Cuidar Multifaces – Neste, o cuidar principal é escutar o outro, ter interesse em conhecer a história de cada uma das pessoas que estão sendo cuidadas e fazer as devidas conexões técnico-científicas. "Ouvir por detrás do que está sendo dito” (COELHO, 1997, p.123). Na Enfermagem, a música é utilizada como intervenção complementar para alívio da dor e outros diagnósticos, como por exemplo, da angústia espiritual, de distúrbio do sono, de desesperança, de risco para solidão, de isolamento social e de estresse (LEÃO, 2005). Cuidar Mural - Sua criação é fundamentada na prevenção, na vigilância e na situação- limite, proporcionando um esquema de ação ágil e seguro, num encadeamento lógico e coerente de raciocínio, como exemplo, a Escala de Glasgow (COELHO, 1997, p.139) Watson (1993, p. 259-61) considera o cuidado como maior valor que a enfermagem tem para oferecer à humanidade, buscando mais conexões do que separações entre as partes que compõem a totalidade da pessoa. Acredita-se que, através do modo como fazemos o cuidado e como o recebe os pacientes, auxiliamos pessoas a obter um alto grau de harmonia em seu self, para que possam promover o autoconhecimento, a autocura ou obter sinais que são partes da vida. O enfermeiro deve planejar intervenções não-farmacológicas como atividades de terapia ocupacional, jogos, brincadeiras, ensinando o paciente a viver dentro dos seus limites, 64 convivendo com a doença, assumindo seus cuidados e controle do esquema terapêutico, trazendo nesse contexto a música (CESARINO, 1998) A música constitui parte da natureza e dos seres humanos, pois seus componentes básicos como ritmo, melodia e harmonia são comuns à composição do nosso organismo. Essa semelhança é evidenciada ao se observar o ritmo cardíaco, o sincronismo ao caminhar, a melodia e o volume de nossas vozes ao falar (BACKS, 2003) Segundo Coelho (1997), a causa da saúde/doença como expressão social/individual pode ter a sua origem em fatores endógenos, relacionados ao aspecto clínico, através dos processos biológicos, e em causas exógenas sociais construídas. Partindo dessa definição, Coelho (1997) considera como tema central a ação da enfermagem baseada no cuidado total da pessoa e, em princípio, significando manter equilíbrio, com enfoque no campo da energia relacionada ao repouso, nutrição, exercício adequado e integridade. Os aspectos envolvidos são: a) Estrutural: o corpo e o seu funcionamento, manutenção e recuperação da estrutura do corpo, prevenção do colapso físico e promoção da cura. b) Pessoal: manutenção e recuperação da identidade e auto-estima do cliente. c) Social: reconhecê-lo como um ser social. Outro nível de compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável. Watson (1993, p. 259-61), sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem entre outras, como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da “representação dos indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das instituições de saúde, em um sentido mais pragmático, destaca que em toda população há indivíduos sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior ou menor freqüência e com maior ou menor gravidade. Além do que, há diferenças de possibilidades entre eles de “produzir condições para sua saúde” e ter acesso aos cuidados no estado da doença. Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e complexidade variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser entendido como as condições de saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo de saúde-doença, visando produzir progressivamente melhores estados e níveis de saúde dos indivíduos e das coletividades, atuando articulada e integralmente nas prevenções primária, secundária e terciária, com redução dos riscos de doença, seqüelas e óbito (WATSON, 1993, p.259-61) 65 Desse modo, há que se compreender a outra dimensão, que é aquela que coloca o processo de intervenção a serviço de um sistema de cuidados para a saúde para atender as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas, como um processo técnico, científico e político. Político, no sentido de que se refere a valores, interesses, aspirações e relações sociais e envolve a capacidade de identificar e privilegiar as necessidades de saúde individuais e coletivas resultantes daquele complexo processo de determinação, e acumular força e poder para nele intervir, incluindo a alocação e garantia de utilização dos recursos necessários para essa intervenção. Portanto, o saber e o fazer em relação à saúde da população mediante um sistema de saúde é uma tarefa que implica a concorrência de várias disciplinas do conhecimento humano e a ação das diversas profissões da área de saúde, bem como ação articulada entre os diversos setores, que é requerimento para a produção de saúde (WATSON, 1993, p. 259-61). Nesse contexto incluímos a música como um desses múltiplos saberes e diversidade do conhecimento humano e relacionamos a mesma a um cuidar/cuidado diferenciado e tratado pelas autoras acima. Segundo Freire (1992), a música vive, no século XX e XXI, nas sociedades ocidentais, uma situação inédita em sua história. Contraditoriamente, numa época em que os recursos tecnológicos se multiplicam, e em que o acesso a ela se tornou bastante fácil, a música parece esvaziada de seus significados e papéis mais expressivos. 66 CAPÍTULO IV REFERENCIAL METODOLOGICO www.google.com.br A metodologia foi desenvolvida, baseada nos princípios de Enfermagem e os seus respectivos cuidar/cuidados e a música no ambiente hospitalar, trazendo o compromisso éticolegal formulado na Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. 4.1 A Natureza da Pesquisa e o Modelo de Estudo Tratou-se de estudo exploratório e descritivo sobre “música como elemento do cuidar/cuidado de enfermagem: Um estudo sobre o paciente hospitalizado e sua interação com a música”. A natureza da pesquisa é qualitativa, pois a mesma favorece uma análise dos fenômenos únicos, ajudando na compreensão de todos os fenômenos similares, nos permitindo avaliar aspectos objetivos e subjetivos. Optou-se pelo estudo exploratório e descritivo, pois o objeto música nos hospitais no processo do cuidado ao paciente hospitalizado ainda busca conhecimento, sendo importante a descrição detalhada das situações da pesquisa e as implicações no processo saúde/doença ao paciente hospitalizado, sendo ele o foco principal dessa pesquisa, e tendo como prioridade mostrar a realidade do que é estudado, inclusive o que não é visível. Segundo Minayo (2003, p. 22), a pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, relacionado a um “espaço mais profundo das 67 relações, processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Sobre esse tipo de pesquisa abordada nesse estudo, Bogdan e Biklen (1982, p.79) discutem que este modelo apresenta cinco características básicas: 1. A pesquisa qualitativa tem um ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como o seu principal instrumento. 2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. 3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. 4. O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. 5. A análise de dados tende a seguir um processo intuitivo. Segundo Minayo (2002), a pesquisa qualitativa é aquela que tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento-chave, o significado como importância vital, a preocupação com o processo da investigação maior do que com o produto e sua análise indutiva. Com isso, diz-se que a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo das origens das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas. Nos estudos qualitativos, o pesquisador é o principal instrumento da investigação. Pesquisas qualitativas geram, tipicamente, um enorme volume de dados que precisam ser organizados, compreendidos, isso se faz através de um processo contínuo em que se procura identificar dimensões e relações, desvendando-lhe o significado. Este é um processo complexo, não linear, que implica em um trabalho por completo. Figueiredo (2004) compreende que uma pesquisa quando qualitativa não necessita de uma estrutura fixa prévia, ou seja, de materiais previamente estruturados, porém deve ter um máximo de envolvimento por parte do pesquisador, visto que dessa forma ela produz uma grande quantidade de dados narrativos, dispensando amostras, pois o pesquisador qualitativo deve evitar controlá-la para que o estudo continue no contexto naturalista. Por atender essa objetividade e subjetividade é que o referido estudo adota a pesquisa qualitativa, para que possamos analisar a relação da música para paciente, o paciente hospitalizado. 68 4.2 - Instrumento de Coleta dos Dados A análise, discussão e interpretação dos dados foram realizadas com base na entrevista semi-estruturada que é definida como um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado. As informações foram obtidas através de um roteiro de entrevista, cujo conteúdo possui uma lista de pontos ou tópicos previamente estabelecidos de acordo com a problemática central da pesquisa, bem como de acordo com os objetivos específicos previamente propostos. É importante que o entrevistador grave a entrevista, porém, o entrevistado deve autorizar a gravação. A técnica de coleta de dados (entrevista) contém quatro componentes que devem ser explicitados nos procedimentos metodológicos, enfatizando-se suas vantagens, desvantagens e limitações. São eles: a) o entrevistador; b) o entrevistado; c) a situação da entrevista; d) o instrumento (roteiro) de captação de dados (HAGUETTE, 1995). Tem a função de coletar informações de forma conversacional, formal ou informalmente, de um indivíduo ou grupo, sobre uma determinada situação, fato ou fenômeno. A entrevista deve ser realizada subsidiada por um roteiro previamente elaborado. O roteiro de entrevista deve ser formulado a partir dos objetivos específicos e a sua estrutura textual deve ser clara e objetiva, não permitindo dúvidas com relação ao que o pesquisador deseja, em termos informacionais. O roteiro de entrevista não deve ser elaborado com perguntas, mas sim por meio de tópicos informacionais, de forma que o pesquisador os siga durante a conversa com o entrevistado, uma seqüência lógica de raciocínio (VALENTIM, 2005). Após essa definição, optou-se pelo uso da entrevista semi-estruturada que conduz às questões propriamente ditas, abrangendo quatro tópicos: (1) dados pessoais do sujeito, incluindo o codinome que este escolheria para ser referido no estudo; (2) roteiro específico, sobre o gosto musical do paciente; (3) e a percepção da música como um fator agregado no momento da internação. Assim, a coleta de dados, obedeceu algumas etapas: A) Construção do roteiro para entrevista, autorização da chefia imediata, esclarecimento sobre a pesquisa, garantia do anonimato do sujeito e implementação da entrevista semi-estruturada gravada em um aparelho de MP3, a partir da concordância de cada paciente participante, como mostra os anexos II e III. 69 B) Diário de campo para registro de observações C) No momento da entrevista o sujeito foi investigado se era apreciador de música; em caso afirmativo, solicitávamos a sua preferência musical, e, em seguida e o que a música poderia estar lhe trazendo naquele momento da internação. 4.3 Critérios de Inclusão dos Sujeitos da Pesquisa O critério de inclusão foi estar dentro da variação de idade de 21 a 60 anos. O critério usado foi que o paciente tivesse diagnóstico para internação de no mínimo uma semana ou mais, independente de sua patologia, sendo importante que o mesmo estivesse orientado no tempo e espaço, sendo capaz de verbalizar. 4.4 Análise dos Dados A Conjuntura em Foco foi a de trazer, através da análise temática, a questão do uso da música nos hospitais e sua referência no cuidado ao cliente. A análise temática "consiste em descobrir os 'núcleos de sentido' que compõem a comunicação e cuja presença, ou freqüência de aparição, pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido" Bardin, (1979 105p). As entrevistas foram registradas através de gravação em áudio em um aparelho de MP3 e transcritas na íntegra pela pesquisadora principal e autorizadas pelos participantes, além de que os textos passassem por pequenas correções lingüísticas, porém, não eliminando o caráter espontâneo das falas. Para o tratamento dos dados, a técnica da análise temática ou categorial foi utilizada e, de acordo com Bardin (2002), baseia-se em operações de desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias. Além disso, a análise documental também esteve presente, para facilitar o manuseio das informações, já que se constitui uma técnica que visa representar o conteúdo de um documento diferente de seu formato original, facilitando na realização de consultas. 4.5 Implicações Éticas Legais e o Compromisso da Pesquisa A Resolução 196/96 em seus parágrafos III.1 e III.2 diz: “As pesquisas envolvendo 70 seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas fundamentais” (BRASIL, 1998). III.1 - A observação dos princípios éticos na pesquisa implica em: Consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvos e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deve sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade; Ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; Garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); Relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade). II.2 - Todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica, será considerado como pesquisa e, portanto, deverá obedecer às diretrizes da presente Resolução. Os procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza instrumental, ambiental, nutricional, educacional, sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam eles farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica. Dessa forma, foram usados codinomes (nomes de Países) para os pacientes, garantindo total privacidade com suas respostas. Os mesmos receberam um termo livre esclarecido onde constava um resumo da pesquisa, como os objetivos detalhados, a justificativa e relevância da pesquisa, explicando que o mesmo poderia, a qualquer momento, desistir da pesquisa sem problema algum. Nesse termo consta o telefone e email da pesquisadora principal e do comitê de ética do hospital no qual o paciente se encontra internado. 4.6 O Cenário da Pesquisa Iniciou-se uma busca pelos hospitais no Município do Rio de Janeiro, para saber quais usavam música como terapêutica para o paciente. Foram selecionamos 25 unidades hospitalares de esfera pública para verificação. Foram visitados os Centros de Estudos, nos dias 02 a 06 de setembro de 2008, para obtenção de dados e referências de estudos para as pesquisas. As visitas ocorreram entre 09h00min as 16h00min, totalizando 35 horas semanais. Foram visitados os hospitais referidos no quadro (1), e coletado os resultados das informações descritas. 71 Quadro 10 Hospitais visitados para o Desenvolvimento da Pesquisa HOSPITAIS Albert Schweitzer Álvaro Ramos Cardoso Fontes Carlos Chagas Clementino Fraga Filho TRABALHAM MÚSICA Não Não Não Não Sim Hospital Do Câncer (INCA) Servidores do Estado Gafrée Guinle Getúlio Vargas Hospital da Lagoa Pedro Ernesto IASERJ Fernandes Figueira Nacional de Cardiologia Hospital Ipanema Lourenço Jorge Miguel Couto N. S. do Loreto Paulino Werneck Hospital Pedro II Rocha Faria Santa Casa de Misericórdia Salgado Filho Souza Aguiar Hospital de Bonsucesso Sim Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Sim COM FINALIDADE Não Não Não Não Finalidades Terapêuticas (Grupos fora das clínicas) Finalidade Terapêutica Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Música levada às clinicas através de voluntários Fonte: Entrevista Essas informações foram dadas pelos funcionários responsáveis pelos Centros de Estudo de cada hospital, na data da coleta de dados, de acordo com as visitas aos Centros de Estudos. Após esse levantamento, foi possível observar que nos hospitais públicos do Rio de Janeiro, dos 25 hospitais visitados, três usavam músicas para seus pacientes como recurso terapêutico, totalizando 14% no Município do Rio de Janeiro no período da coleta dos dados. Com os respectivos resultados, verificamos a importância desses hospitais de grande porte e a relação do cuidado aos seus pacientes, e optamos como cenário de pesquisa pelo Hospital Geral de Bonsucesso (localizado na região AP3; este hospital está localizado geograficamente no centro dos seguintes bairros: Ramos, Olaria, Manguinhos, Maré, Parque 72 União, Vila do João, Vila dos Pinheiros, Baixa do Sapateiro, Nova Holanda e próximo ao intenso fluxo diário da Av. Brasil, linha amarela, linha vermelha e automóvel club), por ter um sistema de som dentro do hospital nos corredores, que fica sintonizado em uma rádio que transmite informação e música, e, além desse sistema é feito um programa, Música no ar, através do qual é levada música através de voluntários a todas as clinicas do hospital. A segunda opção foi o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho que tem como característica o ensino e na área da saúde a pesquisa, e traz um trabalho com música que acontece fora das clinicas, podendo haver uma comparação entre duas unidades de grande porte e com trabalho com música diferenciado aos seus pacientes. Fizemos um levantamento para a obtenção de dados dessas unidades de escolha como cenário da pesquisa. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ) A obra para construção do HU iniciou em setembro de 1950, com a equipe chefiada pelo arquiteto Jorge Moreira, e, devido à falta de recursos esta se prolongou até 1955, ano em que foi interrompida. Com a intenção de conter 1800 leitos, construiu-se uma estrutura de 220.000 m2. Em 1967 foi organizada uma Comissão pelo então reitor da UFRJ, Raimundo Moniz Aragão, com a intenção de reexaminar o projeto do hospital. Na Escola de Enfermagem Anna Nery berço do Cuidado de Enfermagem a diretora no ano de 1950 era Waleska Paixão. No ano de 1967, foi a gestão da Profª Maria Dolores Lins de Andrade. E em 1978, no ano da inauguração do HU, a diretora era Cecília Pecego Coelho. Em 1970, a UFRJ tinha como reitor Djacir Menezes e a Comissão de Implantação decidiu que o Hospital ocuparia apenas 110.00 metros quadrados, isto é, metade da área total da estrutura. As obras reiniciaram em Janeiro de 1971, sendo que, ao final de 1972, elas foram interrompidas novamente, por falta de recursos. A retomada da obra se deu no reitorado do professor Hélio Fraga, que em Setembro de 1973 reorganizou uma Comissão, tendo como meta apenas a Implantação do Hospital Universitário. A Implantação do HU foi feita em um momento político muito difícil. Em 01 de Março de 1978 sob o governo do Presidente Ernesto Geisel, e tendo como Ministro do Estado da Educação e Cultura o Senador Ney Braga e no reitorado de Luis Renato Caldas, o Presidente da Comissão de Implantação, o professor Clementino Fraga Filho, foi finalmente inaugurado o Hospital Universitário. 73 A Divisão de Enfermagem hoje têm 901 funcionários e 260 enfermeiros tendo como sua primeira Diretora a enfermeira-professora da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ Hilnar Márcia de Menezes e Shirley Correia da Costa. Nível de Atenção: AMBULATORIAL AMBULATORIAL AMBULATORIAL HOSPITALAR Atividade: ATENCAO BASICA MEDIA COMPLEXIDADE ALTA COMPLEXIDADE MEDIA COMPLEXIDADE Instalação: SALA DE ATENDIMENTO INDIFERENCIADO SALA REPOUSO/OBSERVACAO – INDIFERENCIADO CLINICAS BASICAS CLINICAS ESPECIALIZADA CLINICAS INDIFERENCIADO OUTROS CONSULTORIOS NAO MEDICOS SALA DE CIRURGIA AMBULATORIAL SALA DE CURATIVO SALA DE ENFERMAGEM (SERVICOS) SALA DE GESSO SALA DE IMUNIZACAO SALA DE PEQUENA CIRURGIA SALA DE REPOUSO/OBSERVACAO – INDIFERENCIADO CLINICAS BASICAS CLINICAS ESPECIALIZADAS Quantidade/Consultório: 1 2 22 27 23 3 1 1 2 1 1 2 1 22 27 Fonte: Site do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) O HGB é o maior hospital da rede pública do estado do Rio de Janeiro em volume geral de atendimentos, sendo categorizado como hospital geral com porta hospitalar de emergência e reconhecido como Centro Regional Terciário. Além disso, é considerado referência em oftalmologia, cirurgia de cabeça e pescoço, atendimento à gestante de alto risco e atendimento de alta complexidade em transplante de rins, fígado e córnea. O hospital conta com mais de 42 mil m2 de área construída, distribuídos em seis prédios de quatro a sete pavimentos, além de outras cinco construções menores (depósito, garagem, igreja, posto bancário, Projeto Acolhida), conforme planta-baixa a seguir. 74 Fonte: Site do Hospital Geral de Bonsucesso 4.7 Comitê de Ética No dia 20/03/2009, às 14h00, a pesquisadora deste estudo esteve no Setor de Ortopedia do Hospital Geral de Bonsucesso para conversar com o Chefe do Setor sobre o processo de obtenção de aprovação da pesquisa, pois é critério do comitê de Ética que se obtenha a assinatura do chefe do Setor para dar entrada no comitê. Nesse dia não foi possível encontrá-lo, e pediram que esta voltasse no dia 24/03/2009 pela manhã. No dia 24/03/2009 esteve novamente no Setor e a secretaria disse que o responsável pelo setor estava em cirurgia, sem hora para ser liberado, pedindo que esta voltasse no dia 13/04/2009. No 13/04/2009, esta conseguiu falar com o chefe do Setor, que se mostrou muito solicito, leu o resumo da pesquisa e assinou o termo de liberação para o comitê de ética. No mesmo dia, a pesquisadora esteve no Comitê de ética com a documentação para ser entregue, seguindo os requisitos retirados no site do Hospital Geral de Bonsucesso, levando consigo a assinatura do chefe do Setor de Ortopedia, como requisito para aceitação do projeto pelo Comitê. Ao chegar ao Comitê de Ética, foi informada de algumas mudanças, dentre elas, a de que o próprio não poderia aceitar a assinatura do Chefe do Setor em uma carta de aceite, pois estes haviam elaborado um formulário que deveria ter a assinatura do chefe do Setor, assinatura da Orientadora e assinatura da coordenadora da UFRJ. Após essas assinaturas, a pesquisadora teria que responder a um questionário que deveria ser entregue primeiramente no Setor Centro de Estudos para avaliação e só após, 75 seguiria para o Comitê de ética. Iniciou-se, a partir daí, a busca pelas assinaturas, as quais foram obtidas em sua totalidade no dia 12/05/2009. A pesquisa foi enviada ao Centro de Estudo do Hospital Geral de Bonsucesso no dia 12/05/2009, como critério de requisito do hospital para conferência da documentação e assinaturas, e foi encaminhada para o Comitê de Ética pelo Centro de Estudos no dia 03/06/2009, sendo aprovado na data de 10/07/2009. A pesquisadora esteve no dia 07/05/2009 no Setor de Ortopedia para obter a assinatura do Chefe de Ortopedia, e foi informada que ele se encontrava em reunião e sem uma hora definida para acabar; retornou no dia 12/05/2009 e conseguiu encontrar-se com o chefe do setor, que assinou inclusive a carta de aceite da pesquisa. No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, a pesquisa foi enviada ao Comitê de Ética no dia 12/05/2009, ficando com pendências a serem discutidas na reunião do dia 02/06/2009, para revisão de normas, as quais foram respondidas no dia 03/06/2009 e entregues para nova avaliação, ficando, porém, novamente em pendências por requisição dos dados alterados nas pesquisas para serem impressos para confirmação das alterações, os quais foram respondidos no dia 04/06/2009. Foi aprovado na reunião de 23/07/2009. O período decorrido a partir da data de entrega do projeto ao comitê de Ética até a sua aceitação foi de 60 dias, e dessa forma, tornou-se necessário fazer alterações no cronograma do projeto que foi aprovado no dia 12/07/2009. A entrega do projeto foi feita somente em Março, devido ao mês de Janeiro ter sido de férias para os comitês e para alguns profissionais dos hospitais, além de feriados no mês de fevereiro, como o período de Carnaval. Durante esse período, aproveitou-se para fazer as revisões sugeridas pela banca na aprovação do projeto. 4.8 Coleta de dados No primeiro momento da entrevista os sujeitos foram indagados sobre a apreciação de música, em caso afirmativo, solicitávamos a sua preferência musical, e, em seguida o que ele achava que a música estava lhe trazendo naquele momento da internação. Contamos com os dados do prontuário do paciente entrevistado e o Diário de Campo, para complementação das informações colhidas no dia -a -dia. No dia 12/07/09, começamos a coleta dos dados comparecendo ao Setor de Coordenação de Atenção Comunitária e Voluntariado, que desenvolve projetos de cunho pedagógico e social nas diversas clínicas e serviços do Hospital Geral de Bonsucesso. 76 A referida Coordenação promove o Projeto “Música no Ar” que tem o objetivo, segundo a coordenação do Setor, de proporcionar música para alegrar e descontrair o ambiente hospitalar, levando alegria para usuários, acompanhantes, familiares e profissionais, com intuito de amenizar um pouco a sua dor. A primeira visita ao Hospital Clementino Fraga Filho ocorreu no dia 25/07/2009, para informações e avaliações do pacientes de ortopedia. Constatou-se que a clinica de ortopedia do Hospital Clementino Fraga Filho, não dispõe de trabalhos desenvolvidos com música nas demais clinicas. É importante ressaltar que, ao contrário do Hospital Geral de Bonsucesso, na clinica de ortopedia do Hospital Clementino Fraga filho é comum encontrar-se pacientes de urologia, ortopedia, entre outras clinicas. A coleta foi realizada do dia 11/08/2009 a 20/12/2009, sendo feita no Hospital Geral de Bonsucesso. A entrevista semiestruturada foi composta de 13 perguntas das quais 10 delas foram retiradas do prontuário do paciente. As três perguntas restantes foram de âmbito pessoal de cada paciente, relacionando-se à música. Os dados coletados levaram em média 20 minutos por paciente, totalizando 1100 minutos. Essas coletas foram gravadas no aparelho de MP3 e transcritas na integra pela pesquisadora principal. Cada categoria de Cuidados e Caracterização foi demonstrada utilizando programa de Computador Word em versão 2000 e Microsoft Word versão 2000. Os itens abordados nos instrumentos de coletas de dados foram apresentados através de quadros, sendo argumentados e contra-argumentados. 4.9 População da Pesquisa Essa pesquisa foi realizada com 50 pacientes de ambos os sexos, internados há mais de uma semana com patologias diferenciadas. Dos 65 pacientes convidados para participar da pesquisa, 50 aceitaram, os 15 restantes pediram para que participassem num outro dia, por estarem indispostos para falar naquele momento, e quando procurados num outro momento, os mesmos já haviam tido alta, o que impossibilitou uma nova tentativa de coleta. Para um maior conhecimento do sujeito entrevistado dessa pesquisa, os dados desses pacientes foram distribuídos em tabelas para obter-se, ao final, uma análise desse grupo. Tais resultados da distribuição da população entrevistada com o perfil do paciente internado são mostrados a seguir no próximo capítulo. 77 CAPITULO V ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS www.google.com.br 1º FOCO - PERFIL DA CLIENTELA Várias teorias tentam explicar como a música pode alcançar a mente do ser humano; uma delas é a teoria do tálamo, ou teoria Cannon-Bard de emoção (RUUD, 1990). De acordo com ela, o tálamo, “centro retransmissor de todas as emoções, sensações e sentimentos”, é a primeira região do cérebro a ser atingida pela música, estimulando o córtex cerebral onde se integram os aspectos intelectuais de pensamento e raciocínio (RUUD, 1990, p.29). Sekeff (2002, p.109) acrescenta que: “(...) o tálamo é o lugar aonde chegam às sensações e emoções que se situam num plano não consciente.” Se nesse nível é possível acompanhar uma linha melódica assobiando ou tamborilando os dedos inconscientemente, só podemos apreciá-la conscientemente, em nível cortical. A música se relaciona com a mente humana, pois responde às necessidades do indivíduo por meio de gratificação e auxilia na defesa contra forças diversas, como a ansiedade e o medo. Ela age na percepção, integrando e associando experiências e induzindo uma ação. Atua no equilíbrio afetivo e emocional, estimula a criatividade, a inteligência e a memória, aumentando a capacidade de atenção. Para Aristóteles, a música tem diversas funções, já que pode servir para a educação, para o repouso da alma e, principalmente, para proporcionar a 15ª catarse; trata-se de uma 78 forma de purificação espiritual e expurgação moral dos espectadores tocado pelas paixões que movem os personagens de uma tragédia (CATARSE, 1998, p.1249). Abaixo trazemos a distribuição da população entrevistada com o perfil do paciente internado. Tabela 1 - Distribuição dos Pacientes Internados, segundo sexo. Sexo Fi F% Feminino 17 34% Masculino 33 66% Total 50 100% Fonte: Entrevista Na tabela 1, pode-se observar a prevalência do sexo masculino, correspondendo a 66% (Fi=33) das coletas, já o sexo feminino, aparece com 34% (Fi=17). Segundo Backes, (2003) a música constitui parte da natureza dos seres humanos, pois os componentes básicos como ritmo, melodia e harmonia são comuns à composição do organismo humano. Essa semelhança é evidenciada ao se observar o ritmo cardíaco, o sincronismo ao caminhar, a melodia e o volume de vozes ao falar. As ondas são captadas pelo pavilhão auricular e chegam ao conduto auditivo e ao tímpano, cujas vibrações atingem o ouvido médio, onde são convertidas em impulsos nervosos. Esses impulsos caminham até o cérebro pelo nervo vestíbulo-coclear que entendem tais estímulos como som. O deslocamento das vibrações sonoras no líquido cérebro-espinhal e nas cavidades de ressonância do cérebro determina um tipo de massagem sônica que, segundo a qualidade harmônica do som, produz efeitos positivos ou negativos, benéficos ou não ao sistema psico-bioenergético. As fibras nervosas convertem o som captado em estímulo nervoso propriamente dito (BONTEMPO, 1994) Zillman e Bhatia (1989) investigaram os efeitos de associar a atração heterossexual aos estilos musicais, e concluíram que o gosto musical influencia a atração interpessoal, bem como a percepção e a avaliação da personalidade alheia. Alguns estereótipos associados a certos gêneros musicais foram encontrados, o que levou os autores a concluir que o gostar e a atração interpessoal estão relacionados às respostas individuais aos estereótipos. Segundo os autores, os estereótipos associados à música, como estratificação social e status nada mais são do que esquemas cognitivos que passam pelo viés de categorias impostas social e culturalmente, aparentam ser determinantes nas atitudes interpessoais. 79 Tabela 2. Distribuição dos Pacientes Internados, segundo faixa etária Faixa etária (anos) Fi F% 21-35 13 26% 36-49 19 38% 50-64 18 36% Total 50 100% A tabela 2 demonstra que (Fi=13) dos pacientes internados tem entre 21 e 35 anos, correspondendo a 26%; (Fi = 19) estão na faixa entre 36 e 49 anos, correspondendo a 38%; (Fi=18) deles têm de 50 a 64 anos, correspondendo a 36%. A música age sobre a cultura a qual lhe dá a forma e da qual deriva, ao mesmo tempo em que se insere na estrutura dinâmica onde ela própria se formou (TOMATIS; VILAIN, 1991). Está inserida nas várias atividades sociais, das quais decorrem múltiplos significados. A cultura dá os referenciais, bem como os instrumentos materiais e simbólicos de que cada sujeito se apropria para criar, tecer e orientar suas construções - neste caso, as atividades criadoras e musicais. Quando se vivencia a música, se estabelece uma relação com a matéria musical em si (resultado da relação de seus elementos) e com toda uma rede de significados construídos no mundo social. Com relação à linguagem musical interna é necessário considerar variantes básicas relacionadas com a linha melódica e o ritmo, como timbres, texturas, etc. A(s) melodia(s) principal (is), os motivos musicais, o andamento, os ritmos e a harmonização, são elementos da linguagem musical que podem ser analisados isoladamente e nas relações entre si, pois têm discurso e características próprias que normalmente apontam indícios importantes e determinantes para sua compreensão (MORAES, 2000) Mas eles também devem ser compreendidos na lógica do desenvolvimento da visão de mundo do autor que está, obviamente, vinculada também aos aspectos sociais e culturais de um determinado gênero e estilo. Além disso, a forma instrumental, os tipos de instrumentos e seus timbres, a interpretação e também os arranjos de um dado documento sonoro contêm indicações fundamentais para compreender a música em si mesma e nas suas relações com as experiências sociais e culturais de seu tempo. Todos esses elementos geralmente não são difíceis de perceber na canção popular - pois de certo modo eles devem se colocar de maneira 80 simples e clara para o ouvinte - e formam uma estrutura organizativa inteligível para o investigador (MORAES, 2000) Tabela 3. Distribuição dos Pacientes Internados, segundo grau de escolaridade Grau de escolaridade Fi F% Ensino fundamental 31 62% Ensino médio 11 22% Ensino superior 08 16% 50 100% Total Fonte: Entrevista A tabela 3 demonstra que (Fi=31) dos pacientes internados tem o ensino fundamental, correspondendo a 62%; (Fi=11) pacientes tem o ensino médio, correspondendo também a 22%; (Fi=08) tem o ensino superior correspondendo a 16%. A atividade musical, enquanto integrante de uma cultura, criada e recriada pelo fazer reflexivo-afetivo do homem, é vivida no contexto social, histórico, localizado no tempo e no espaço, na dimensão coletiva, onde pode receber significações que são partilhadas socialmente, e sentidos singulares que são tecidos a partir da dimensão afetivo-volitiva e dos significados compartilhados. Desta forma, falamos de vivências coletivas e singulares da música, sempre em meio ao contexto histórico-social (MORAES, 2000) Entendendo a música como um fazer construído pela ação do sujeito em sua relação com o contexto histórico-cultural, entendemos o sujeito como constituído e constituinte do contexto no qual está inserido. De acordo com Zanella (1999, p.153), "todo indivíduo enquanto ser social insere-se, desde o momento em que nasce, em um contexto cultural, apropriando-se dele e modificandoo ativamente, ao mesmo tempo em que é por ele modificado...". As manifestações culturais derivam da atividade humana conjunta, assim como as características singulares do sujeito, sendo social e historicamente constituídas. As atividades culturais contribuem, em relação às significações engendradas e apropriadas pelos sujeitos que as executam, para a constituição dos sujeitos (ZANELLA, 1999). O expressionismo, segundo Meyer (1956) vinculado ao absolutismo defende a idéia de que o significado da música reside na percepção e compreensão das relações musicais do trabalho artístico, sendo estas relações capazes de estimular sentimentos e emoções no 81 ouvinte. O autor é favorável ao formalismo quando lembra que o significado e o valor da obra de arte devem ser encontrados nas qualidades estéticas da obra. Os expressionistas absolutos acreditam que "os significados emocionais expressivos emergem em respostas à música e que estes existem sem referência ao mundo extramusical de conceitos, ações e estados emocionais humanos" (MEYER, 1956, p. 04). Tabela 4. Distribuição dos Pacientes internados, segundo estado civil Estado Civil Fi F% Casado (e união estável) 39 78% Solteiro 11 22% Total 50 100% Fonte: Entrevista Na tabela 4, constata-se que 78% (Fi=39) dos pacientes internados são casados, 22% (Fi=11) são solteiros. Segundo Maheirie (2003, p.150), (...) as músicas, na medida em que provocam no fisiológico determinadas reações, podem, a partir daí, nos remeter a estados emocionais intensos, em que só as ações poderão lhes dar uma significação. Esta, não sendo estabelecida a priori na música, também não o é nas emoções, posto que o que nos emociona não emocionará necessariamente os outros. Em termos de construção social do significado musical, Martin (1995, p.57) aponta que "os significados da música não são nem inerentes nem reconhecidos intuitivamente, mas emergem e se tornam estabelecidos (ou transformados, ou esquecidos) como uma conseqüência das atividades de grupos de pessoas e contextos culturais particulares". As pessoas, em grupos, em relações, de acordo com contextos históricos, culturais e pessoais, atribuem e constroem significados à música a partir de suas vivências e experiências. Salienta Martin (1995), que os sujeitos, como seres humanos criadores e sociais dotam as coisas, e neste caso, também os sons e a música de significados, em um processo no qual a construção da realidade acontece nos níveis coletivo e individual. 82 Tabela 5. Distribuição dos pacientes internados segundo profissão. Profissão Fi F% Estudante 03 06% Domestica 09 18% Auxiliar de serviços gerais 05 10% Motorista 02 04% Autônomo 17 34% Marceneiro 02 04% Consultor de seguro 01 02% Soldador 01 02% Professor 02 04% Pintor 03 06% Musico 01 02% Mecânico 02 04% Vendedor 02 04% Total 50 100,0% Fonte: Entrevista A tabela 5 mostra que 10% (Fi=05) dos pacientes internados são Auxiliares de Serviços Gerais; 18% (Fi=09) exercem a atividade de domesticas; o maior número dos entrevistados totalizando 34% (Fi=17) é autônomo, as demais profissões (estudantes, motorista, marceneiro, soldador, consultor de seguros, professor, pintor, musico, vendedor) totalizam 100% (Fi=50). Segundo Tekman e Hortaçsu (2002), a preferência por determinados estilos musicais é preponderante na configuração da identidade pessoal e social. De acordo com esses autores, os indivíduos utilizam a música com propósitos avaliativos no processo de identificação grupal, sugerindo a importância desse veículo de comunicação de massa em diversas situações em que o adolescente se encontra no dia–a–dia, permeando seu relacionamento 83 interpessoal e, inclusive, influenciando a escolha do vestuário e a atração e rejeição por determinados grupos. Quanto ao protagonismo da música nas culturas juvenis, Pais (1998, p.104) assinala que "as preferências musicais são acompanhadas de atitudes específicas que reforçam – mas também ultrapassam – os gostos musicais". O autor acima citado explica que a música, o vestuário, a aparência ou a linguagem são "elementos simbólicos" que dão coerência interna aos grupos, servindo para formar e consolidar uma identidade grupal e, conseqüentemente, diferenciações com outros grupos. Na sua análise, a música é considerada um "signo juvenil geracional", pois seria universal aos grupos de jovens, em oposição aos "signos juvenis grupais" que seriam elementos peculiares a certos grupos, agindo como diferenciadores. Sendo assim, um determinado estilo musical, como o heavy metal ou o punk rock, pode agir como "signo de diferenciação grupal" por se opor a grupos que atribuem à preferência musical um papel crucial nos processos de formação de identidade social. Embora a música, como aqui vem sendo ressaltada, tenha um efeito sobre o comportamento das pessoas, parece evidente que os estilos têm efeitos variados. Nesse sentido, faz–se necessário conhecê–los. O estudo de Ferreira et. al. (2002) ao sinalizar os cuidados fundamentais na ótica do cliente refere que estes se organizam em um tripé que engloba a dimensão físico-biológica, a dimensão social e a dimensão subjetiva. Com efeito, as visitas musicais, segundo os participantes da pesquisa, abrangem essas três dimensões, com destaque para a dimensão social que são os cuidados que mantém sua identidade social, e para a subjetiva, que valoriza o sujeito na sua dimensão humana. Segundo Ferreira (2005, p.14-15) há ainda teorias que afirmam que tudo pode produzir som, por ser formado de átomos que também produzem sons ao se movimentarem, numa espécie de dança. Dessa forma, a cada momento os átomos produziriam um tipo de música, ora sutil, ora mais densa, com poderes construtivos ou destruidores. É o fenômeno da taça de cristal que se estilhaça ao som intenso e agudo de uma nota. A própria Bíblia conta o episódio em que a muralha que cercava a cidade de Jericó caiu ao som de gritos e trombetas dos guerreiros israelitas. Se o poder da música atinge a matéria, é também evidente sua influência sobre os seres vivos. Até mesmo animais e plantas sofrem alterações em seu desenvolvimento quando submetidos a algum tipo de música. Em uma composição, diversos elementos são combinados formando o estilo de uma obra musical. A maioria deles está presente em todos os períodos da história da música, apesar de se verificar o destaque vez ou outra de um desses componentes. O que se percebe é 84 que esses elementos constituintes da música, principalmente o ritmo, a melodia, o timbre e a harmonia, intensidade, andamento são capazes de afetar todo o organismo humano, de forma física e psicológica. Ferreira (2005, p.18) afirma que através de tais elementos o receptor da música responde tanto afetiva quanto corporalmente. Para melhor entender a repercussão desses elementos sobre o homem, é essencial que se faça um apanhado sobre suas principais características para identificar o quê nelas pode estimular os mais diversos comportamentos. O ritmo é considerado segundo o autor (FERREIRA, 2005), como um elemento prémusical, já que pode existir sem que haja música propriamente dita. Ele corresponde aos diferentes modos de agrupação dos sons em relação à sua duração e acentuação, organizando vibrações. Sua ação se estende por toda a natureza física, atingindo circulação, respiração, oxigenação, digestão, operações mentais, pulsações e movimentos. Afeta o humor e produz a excitação corporal nas mais diversas situações (FERREIRA, 2005) No primeiro momento apresentamos os tipos de músicas eleitas pelos pacientes durante a coleta dos dados, e, em segundo momento a sua principal resposta sobre o efeito/sentimento da música para si (FERREIRA, 2005) 85 2º FOCO - PREFERÊNCIAS MUSICAIS CITADAS PELOS PACIENTES São apresentados no quadro 11, os pontos comuns e diferenciais de cada participante e suas preferências musicais. Dos cinqüenta pacientes entrevistados, todos citaram suas preferências musicais, até mesmo os que afirmaram não terem preferência e gostarem de tudo um pouco, acabaram revelando no decorrer da entrevista os nomes de seus cantores e estilos preferidos. Quadro 11 Distribuição dos pacientes com preferência pelo Samba/Pagode PARTICIPANTES (codinomes) CHINA FRANÇA URUGUAI CAMARÕES TEMPO DE PREFERÊNCIAS MUSICAIS INTERNAÇÃO UM MÊS Pagode! Zeca Pagodinho, gosto de músicas antigas, internacionais, gosto de todas. UMA SEMANA Pagode, eu gosto, como Alexandre Pires. DUAS SEMANAS Pagode, musicas nacionais, Fábio Junior, gosto do grupo Roupa Nova, dentre outros... DUAS SEMANAS Gosto de Pagode como Sorriso Maroto, Charme, Forró Moderno como Calcinha Preta! Mais o que eu gosto mesmo é do Kennedy. Aquele saxofonista. ...Quando eu podia dançava, agora estou sem possibilidades, sinto falta. COLOMBIA TRÊS SEMANAS IRLANDA UM MÊS LÍBIA TRÊS SEMANAS OMÃ UMA SEMANA Gosto de Pagode, Romântico, Funk, evangélica... Música boa. Mais de Pagode, como Zeca Pagodinho. Gosto de Pagode. Do grupo Sorriso Maroto e Funk de qualquer um. Não uso música para relaxar. É para curtir mesmo. Hip-Hop também é bom, e Charme. Gosto de Pagode Sorriso Maroto, mas ouço todos os ritmos. Gosto mais de Pagode porque é romântico e eu gosto de música romântica como Roupa Nova e vários outros. Gosto de todos os ritmos. O que me atrai mais é o Pagode Romântico e 86 MOÇAMBIQUE UM MÊS GANA TRÊS SEMANAS MANDAGASCAR DUAS SEMANAS SRI LANKA UMA SEMANA ARUBA DUAS SEMANAS BULGARIA DOIS MESES COSTA RICA TRÊS SEMANAS o Hip-Hop. As letras da música passam uma reflexão, fico muito ligado nas letras. Fico pensando nas coisas. Coisas boas! Olha, eu gosto de todo tipo de música, mas de preferência, um bom samba. Já fui baiana de escola de samba, minha vida toda brinquei muito carnaval. Minha paixão era o carnaval. Gosto de ouvir música da Alcione, e do Zeca Pagodinho, e também Cristiane Delgado, Manuel de Costa... Pagode, gosto de vários grupos, um pouco de tudo... Eu sou da antiga, então minha música é o samba... Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e outra rapaziada que tem por aí... Nossa música, gosto de muitas... mas em especial adoro um pagodinho...Funk, essas coisas que rolam na rádio Musica... Nossa para mim é tudo... Adoro dançar... Por isso adoro músicas alegres... Adoro um pagodinho... Tipo Alcione, Zeca Pagodinho e esses grupos mais românticos. Eu só gosto de Samba, mais esses Sambas originais.. Não gosto desses pagodes novos que estão rolando... Gosto de chorinho Fonte: Entrevista Bergold (2005) afirma que, muitas vezes, a enfermeira se defronta com sentimentos ambivalentes, divididas entre realizar sua atividade profissional dentro das normas estabelecidas pela instituição hospitalar, e, ao mesmo tempo atender o desejo do cliente que devido à sua singularidade não se enquadra em um determinado ‘padrão’ pré-estabelecido. Um ponto instigante é a reflexão feita sobre o fato de que, sendo a enfermaria um espaço coletivo, o respeito à singularidade de cada cliente torna-se uma questão complexa, contudo, existem possibilidades para a saída deste impasse, e que foram desveladas na críticareflexiva dos participantes deste estudo (BERGOLD, 2005). 87 O autor (BERGOLD, 2005) afirma que a música, devido à sua influência no desenvolvimento psicossocial e possibilidade de promover a integração, deve ser valorizada como recurso expressivo que pode ser utilizado pela enfermagem para humanizar o ambiente hospitalar. Nesse sentido, esse relatório teve como princípio uma revisão sistemática sustentada por um tripé: Enfermagem, Música e Hospitalização. A partir desse tripé foi possível encontrar um acervo de estudos direcionados a diferentes padrões e olhares para essas três temáticas. Os estudos encontrados consideram a intervenção de uma forma geral da música como benefícios tanto fisiológicos quanto psicológicos, para indivíduos em faixa etárias diversas, trazendo demonstrações de um novo recurso para o cuidado diferenciado na área da enfermagem. Os grupos de preferências musicais foram citados no decorrer das entrevistas como mostramos abaixo divididos em 05 categorias. Pagode: Ex: Alexandre Pires, Zeca Pagodinho – Referidos por três pacientes, com idades diferenciadas. O Pagode não é exatamente um gênero musical, na verdade, era o nome dado às festas que aconteciam nas senzalas e acabou se tornando sinônimo de qualquer festa regada a alegria, bebida e cantoria, originado no Rio de Janeiro a partir da cena musical do samba conforme a Enciclopedia Livre/pagode, (2009). Fonte: images.google.com.br/images Von Baranow (1999) diz que a música atinge diferenciadamente áreas de nossa psique que dificilmente são atingidas por outras fontes de estímulos, manifestando sensibilidade, emoção, timbres diversos, ritmos, melodias e harmonias, numa espécie de linguagem 88 emocional, levando-nos a reagir numa grande e variável escala, em áreas e percepções somente experienciadas através dela. Segundo López (1998) o efeito da música sobre o corpo é de sensibilização, pois ele responde concretamente de uma maneira viva e participante, não se fechando em si mesmo, mas se comunicando e se entregando. Von Baranow (1999) comenta que o corpo humano foi o primeiro produtor de sons, a primeira fonte sonora, o primeiro instrumento musical na expressão de ritmos e sons variáveis, na percussão corporal ou na execução de diferentes instrumentos, sendo que todo esse fazer sonoro-corporal gera movimentos que se unem ao tempo e ao espaço, buscando a livre expressão e a espontaneidade, gerando prazer na comunicação, ajudando o ser humano a tornar-se mais natural, seguro e flexível. Quadro 12 Distribuição dos pacientes com preferência pela música Gospel PARTICIPANTES TEMPO (codinomes) INTERNAÇÃO IRÃ UM MÊS DE PREFERÊNCIAS MUSICAIS Gosto mais de evangélica e de outras músicas também, como músicas Românticas. JORDÂNIA DUAS SEMANAS Ouço louvores. Os louvores a gente está entoando para Deus, não é? Um crente entoa louvores para Deus; eu me sinto bem entoando louvores. JAPÃO UM MÊS Música Gospel! Cassiane, Elane Martins, Cléber Lucas, Matos Nascimento. PORTUGAL DUAS SEMANAS Evangélica, cantora Ludmila SURINAME UMA SEMANA Eu gosto de musica de igreja, pagode, assim... eu... gosto de 89 qualquer “um” se for de igreja! ARGELIA DUAS SEMANAS Sou evangélica, gosto de musica que tenha sentidos para mim, só isso... tem que ter sentido, apenas... BRUNEI TRÊS SEMANSA Gosto de música evangélica, que me façam ter esperança de que vou melhorar logo...é muito difícil está aqui. Fonte: Entrevista Gospel/Evangélica: Ex: Cassiane, Elane Martins, Cléber Lucas, Matos, Ludmila, todos os estilos românticos. Referidos por dois pacientes, com idades diferenciadas. Música gospel (do inglês, gospel; em português, "evangelho") é uma composição escrita para expressar a crença individual ou de uma comunidade com respeito à vida cristã, assim como, de acordo com seus gêneros musicais variados, que também oferece uma alternativa, ao povo cristão, a música secular convencional. Conforme enciclopedia Livre/gospel, (2009). Fonte: images.google.com.br/images Segundo Ferreira (2005, p. 23-24) a música feita para se atingir à fé não era tão popular como algumas produzidas hoje em dia, com direito até a gravação de DVD, numa espécie de “show cristão”. A Igreja chegou até mesmo a proibir, algumas vezes, a utilização 90 da polifonia e do canto coral, pois acreditava que isso poderia retirar a atenção da fé, pois dava mais destaque à voz. Platão, que também defendia a idéia da música como método de cura para o corpo e para a mente, chegou a ser radical em determinados aspectos ao recomendar o uso da música também na educação dos jovens (SEKEFF, 2002, p.94). Para ele, apenas dois tipos de canções poderiam ser usados no desenvolvimento do caráter de uma pessoa: as tranqüilas ou as vivas. Quadro 13 Distribuição dos pacientes com preferência pelo Hip Hop PARTICIPANTES (codinomes) BRASIL TEMPO DE PREFERÊNCIAS MUSICAIS INTERNAÇÃO UMA SEMANA Só Hip Hop! É um gosto meu! Cris Brown... Só Hip Hop ARGENTINA DUAS SEMANAS Eclético! Hip Hop, Hard Hot, gosto de Skank, MPB eu gosto da Marisa Monte, rock até MPB, Pop nacional e internacional. ZAMBIA DUAS SEMANAS Gosto de ouvir Hip-hop. Já gostei muito de Funk, mas quando era mais novo, mais agora só Hip-hop, os clipes são bonitos e maneiros. Fonte: Entrevista As músicas voluptuosas, lânguidas e todas as outras deveriam, segundo Platão, ser banidas pelo Estado, pois trariam a corrupção e até a efeminação dos jovens. Portanto, só deveria permanecer a música que promovesse um ambiente tranqüilo para a fé, meditações e preces, ou a excitante que suscitasse a guerra, o espírito de justiça, essencial para o desenvolvimento do gênio e índole dos jovens. Além, é claro, de melhorar sua saúde. Hip Hop: Cris Brown - Referido por dois pacientes, com idades diferenciadas. O hip hop é um movimento cultural iniciado no final da década de 1970 nos Estados Unidos como forma de reação aos conflitos sociais e à violência sofrida pelas classes menos favorecidas da sociedade urbana. É uma espécie de cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e voz das periferias, traduzido nas letras questionadoras e agressivas, no ritmo forte e intenso e nas imagens grafitadas pelos muros das cidades Conforme a Enciclopedia Livre/hip hop (2009). 91 Fonte: images.google.com.br/images Relatos nos trazem música de diversas maneiras, e alguns autores (BRUSCIA, 2000; SEKEFF, 2002) tentam explicar esse poder que nos acompanha, sem deixar vestígios de seu surgimento. De acordo com Bruscia (2000) a comunicação musical é diferente da comunicação verbal, tanto em conteúdo quanto em processo, ou seja, não somente no que pode ser comunicado com segurança, mas também na forma como se comunica. O autor (BRUSCIA, 2000) acrescenta que o que se comunica através da música, nem sempre se está apto a comunicar com palavras, e vice-versa; e nem sempre se pode utilizar as formas pelas quais se comunica musicalmente para a comunicação verbal, e vice-versa, sendo assim a comunicação musical não pode ser substituída por nenhuma outra modalidade de interação e comunicação. Na realidade, o som eletrônico é capaz de fazer o que nunca qualquer outro instrumento ou qualquer som tradicional fez ou seria capaz. Pode simular reproduzir, criar atmosferas, gerar múltiplas subdivisões... é capaz, enfim, de reproduzir todos os sons da natureza, desde aqueles do universo fetal até o som das esferas (SEKEFF, 2002, p.87). Quadro 14 Distribuição dos pacientes com preferência pela música Sertaneja PARTICIPANTES TEMPO DE PREFERÊNCIAS MUSICAIS INTERNAÇÃO ÁFRICA DUAS SEMANAS Daniel, sertanejo. INGLATERRA DUAS SEMANAS Gosto de qualquer gênero, sendo bem melodiosa, estilo Roberto 92 Carlos e Sertanejo. BELIZE (3) TRÊS SEMANAS Seresta; música do passado. E incluindo alguns sambas bons aí do passado. BENIM (4) UM MÊS Sertanejo, Clássico, um bom Forró, um bom Samba. KIRIBATI (5) UMA SEMANA Gosto de Sertanejo! Leandro e Leonardo, essas músicas assim... ANTARCTIDA (6) UMA SEMANA Eu vou dizer o que realmente eu gosto Ta!Adoro brega...tipo assim Roberta Miranda, Sertanejo. Fonte: Entrevista Sertanejo: Zezé de Camargo, Luciano, Daniel - Referido por dois pacientes, com idades diferenciadas. No Brasil, denomina-se música sertaneja o estilo musical autoproclamado herdeiro da "música caipira" e da moda de viola, que se caracteriza pela melodia simples e melancólica; muitas vezes é chamada de música do interior. Hoje em dia, o termo música sertaneja vem, aos poucos, sendo substituído pelo termo música country devido à influência da música country norte-americana que a indústria brasileira está usando como novo segmento comercial na televisão e na indústria de gravação conforme Enciclopedia Livre/música sertaneja, (2009). Fonte: images.google.com.br/images 93 Penso, algumas vezes, que a música, ao suscitar valores individuais, também foi utilizada diversificadamente com o intuito de atingir um número maior de adeptos, seja na religião, na política, no trabalho, na guerra, na revolução... No caso dos escravos, por exemplo, essa foi uma das maneiras encontradas para apaziguar os ânimos, evitando atritos. Nessas situações, a intenção é convergir sentimentos colocando todo o grupo social em busca de um mesmo ideal. A música tem mesmo esse poder de mobilização quando vivenciada coletivamente. Nesse caso, é comum que ela apresente (...) uma linha melódica simples, caráter afetivo (possibilitando transformar-se prontamente em canção de luta); é dinamogênica, dotada de élan e “força” emocional; frases curtas, no geral estribilho e estrofes; fácil memorização, ritmo vivo, “contagiante”, refletindo a era das máquinas e induzindo fisiologicamente; harmonia simples, sem rebuscamentos (SEKEFF, 2002, p. 80). Quadro 15 Distribuição dos pacientes com preferência pela MPB PARTICIPANTES (codinomes) URUGUAI TEMPO DE INTERNAÇÃO DUAS SEMANAS PREFERÊNCIAS MUSICAIS MPB músicas nacionais, Fábio Junior, gosto do grupo Roupa Nova, dentre outros VENEZUELA UMA SEMANA CHILE UMA SEMANA Música lenta, estilo lenta! Roberto Carlos, Roupa Nova Meu negocio é mais sentimental, mais amorosa. O que é bom! Ouço dia e noite lá em casa. A música só me dá prazer, gosto e música romântica, estilo Roberto Carlos, tudo que fala de sentimento. ROMENIA DUAS SEMANAS Gosto de música ambiente, de preferência MPB. Uma batida mais suave, Djavan, Cássia Eller, Legião Urbana, Cazuza.... Não gosto de Funk. Até ouso Pagode ou 94 Forró, o Funk de antigamente até dava pra se escutar! Claudinho e Bochecha... Eu fico meio injuriado com esses Funks de hoje em dia, com os caras que ganham dinheiro com o Funk. Existem alguns tipos de música que eu não posso nem falar. Não rola! Não rola! Eu tenho vergonha de escutar uma música dessa na frente de gente decente de família. Dizem que o Funk é cultura! Eu não vejo muito por esse lado. Sinceramente eu não ouço música Evangélica. Não que eu não goste. Eu ouviria a evangélica, o Funk não! música Sem comentários. TAILÂNDIA UMA SEMANA Eu se tiver que gostar eu gosto de qualquer uma. Desde que seja música que não fere meu ouvidos então... de certa forma gosto de Música Popular Brasileira, João Bosco, Chico Buarque. SUIÇA UMA SEMANA Música romântica, todas as músicas eu gosto, minha preferência é romântica. Eu gosto de Roberto Carlos e outros aí que no momento eu não me lembro. Erasmo Carlos tem umas músicas muito bonitas. Gosto de Forró, Pagode, Funk, meu negócio é 95 música. TANZANIA DUAS SEMANAS Rock, Soul e música romântica. Forró eu não gosto muito não. Pagode eu não gosto muito não. No lado do Rock eu gosto muito do grupo NX0. Os caras são legais eu gosto do som deles. ZIMBABUE UM MÊS Eu gosto de música romântica, a maioria. Não gosto de Funk, Forró, Pagode. Sou mais as músicas do meu tempo, procuro sempre as emissoras que passam as músicas antigas. Gosto do Roberto Carlos e outros cantores que no momento eu não me lembro, são tantos né! MALASIA UMA SEMANA MPB: Axé, Pagode, Forró, música romântica de tudo um pouco. BOTSUANA TRÊS SEMANAS Bem sou de uma cultura bem eclética, então os ritmos que me atraem são: Jazz, Bolero, Tango, Valsa, Forró, Vaneirão, ritmos mais suaves. Bob e Dance muito pouco. Não sou muito chegado a Funk e Pagode, porque o Pagode de hoje ele dá um pouquinho assim muito meloso e o Funk assim sai um pouco da cultura pra pornografia vandalismo; então 96 hoje em dia já não está assim tão bom Funk e Pagode como era antigamente. Música romântica é boa até certo ponto, mais se for Pagode eu não sou muito chegado não. Música internacional também melhor ainda porque apesar de agente não entender um pouco quando a gente não sabe inglês, espanhol o ritmo é bem dançante e todos curtem. BURKINA TRÊS SEMANAS Gosto de MPB, gosto da “Ana” da Isabela Taviani e outros cantores da MPB. LESOTO UM MÊS Eu gosto de MPB, a musica popular brasileira eu gosto muito! Mas, eu gosto de outros estilos também... gosto do Djavan, Roberto Carlos, esses cantores mais antigos eu gosto de ouvir. SAARA DUAS SEMANAS Gosto de música MPB! Gosto de forró! Banda “Calypso”, Bonde forró, Beto Barbosa, Calcinha Preta, gosto de sertanejo e pagode, as vezes escuto Funk TAIWAN TRÊS SEMANAS TUVALU Eu gosto de MPB! Chico Buarque, Roberto Carlos... DUAS SEMANAS Quando ouço música, fico mais tranqüila, principalmente música romântica como o grupo Roupa Nova. 97 ANDORRA UMA SEMANA Musica tem muito haver comigo, gosto muito do romantismo, Elimar Santos é o meu preferido ANGOLA UMA SEMANA Musica, sim gosto bastante e o meu cantor preferido é Fábio Junior, adoro as músicas dele. ARABIA SAUDITA DUAS SEMANAS Gosto de tantas músicas. Musicas românticas, que tenham letras bonitas, estilo Maria Rita e Tânia Maria, Elis Regina..não sei te explicar nem dizer porque, mais adoro mesmo musicas sem internacionais, saber falar inglês...adoro esse tipo de música CROÁCIA UM MÊS Gosto de MPB...Como Ana Carolina, Marisa Monte...só isso! Fonte: Entrevista Música Popular Nacional/ Ecléticos: Skank, Marisa Monte, Roberto Carlos, Fábio Junio, Roupa Nova. Referido por três pacientes, com idades diferenciadas. Música popular é qualquer gênero musical acessível ao público em geral para entretenimento e disseminado pelos meios de comunicação. Distingue-se da música folclórica por ser escrita e comercializada como uma comodidade, sendo a evolução natural, na era da globalização, da música folclórica, que seria a música de um povo transmitida ao longo das gerações. (Enciclopedia Livre/Música popular). Fonte: images.google.com.br/images 98 Além de pensar em quem produz a música, que parece ter sempre alguma intenção ou mensagem, deve-se considerar o receptor. Mesmo sem ter consciência de como ou porque os componentes básicos da música podem afetar o organismo humano, é natural que o ouvinte escolha, de forma certeira, o que ouvir; ele geralmente sabe reconhecer o que determinado som pode lhe proporcionar. Nesse sentido, podem-se encontrar músicas para relaxar, namorar, estudar, elevar o ânimo (FERREIRA, 2005, p.25) Até sons do dia-a-dia também têm sua funcionalidade, e o ouvinte identifica naturalmente um significado comum pré-estabelecido. Assim, campainhas alertam a chegada de alguém. A escolha de um toque no celular, além de identificar a personalidade e o ânimo do proprietário, dá a ele a possibilidade de associar diferentes sons para cada pessoa que ligue para seu telefone, revelando muitas vezes suas impressões a respeito das pessoas que o cercam. Se passearmos por alguns instantes nas ruas, poderemos observar pessoas conectadas à música através de aparelho de MP3 ou até mesmo celulares. Segundo Ferreira (2005, p.26), não há dúvida de que, ao apetite do consumidor, importa menos o sentimento, em virtude do qual nasce a obra de arte, do que o sentimento que a obra produz, a ganância em termos do prazer que ele persegue. Este valor prático do motivo da arte sempre foi solicitado, mesmo na época do iluminismo vulgar. Se todos esses fatores forem considerados, poder-se-á perceber que essa é a forma pela qual a abstração musical começa a se concretizar mesmo que em sentimentos, sejam eles pessoais ou coletivos. Trazer percepções, buscar o lado do mais intimo das sensações dos entrevistados é um fator possível quando se fala em música, o que pode ser observado pelas respostas obtidas, já que todas foram positivas. Considerando todos esses fatores, pode-se perceber que essa é a forma pela qual a abstração musical começa a se concretizar mesmo que em sentimentos. 99 3º FOCO. RELAÇÃO DOS PACIENTES E MÚSICA NOS HOSPITAIS O quadro abaixo traz a relação do paciente com a música durante a sua internação, os quadros foram divididos de 10 em 10 pacientes totalizando o número de 50 para melhor analise da pesquisa. Quadro 16 Relação dos pacientes e os efeitos da música nos hospitais CHINA Deixaria o “cara” mais calmo, mais tranqüilo, eu acho que sim! PORTUGAL A música mexe com o espírito, e por isso ela traz esperança, traz mansidão, traz auto-controle, traz o auto-domínio, te leva para momentos de refrigério, porque a música é prioridade, mesmo sendo música secular a prioridade é mexer com o espírito de todos! FRANÇA Iria distrair meu tempo, eu ia ficar menos tempo sem fazer nada... aí me ajudaria a tranqüilizar, acalmar...é isso! JAPÃO “Ela” seria para mim, aqui na minha internação... já que estamos no leito não é? Por eu ser cristão, ela me traz uma auto-estima para poder colocar minha vida em dia, já que eu estou encima de um leito... ela também traz animação para o meu coração, porque estar em cima de um leito não é fácil! Então pra nós que somos cristãos ou aquele que também não o é, é muito bom a música! Tanto a música evangélica quanto a música que bate no coração de cada um! BRASIL Seria melhor minha recuperação! 100 Seria bom! Eu ia ficar mais calmo... Eu iria me distrair... ARGENTINA Acho que a música ajuda passar o tempo, (...) você se distrai... você pode ficar escutando aquilo que você gosta...é mais agradável! Faria bem com certeza URUGUAI Com certeza a música nos ajudaria a melhorar... A música ajuda a pessoa a relaxar “ estar ouvindo uma musiquinha” distrai um pouco mais e passa o tempo... Com certeza a musica é muito importante! VENEZUELA Eu acredito que a música... vamos dizer assim: quando a gente está nervoso ela relaxa um pouco... eu, principalmente no caso, se vou fazer uma cirurgia e fico com aquilo na cabeça e a música ajuda a relaxar e a gente fica um pouco mais calmo, vamos dizer assim! AFRICA Alegria, descontração para a gente dentro do hospital, você fica aqui dentro sozinha muito triste principalmente quando não tem um acompanhante, então você tendo aqui... uma pessoa vindo cantar, descontrai tua cabeça! Não fica tão “assim” sabe? Entendeu? Por isso que eu gosto da música! ÍNDIA Acho que tira até a dor do paciente que está aqui, é muita solidão durante a internação, é muito ruim! a música vai 101 melhorar muito! A música é muito importante! Fonte: Entrevista Após refletir sobre os resultados das entrevistas, pode-se observar que os discursos acima se referem com freqüência a esperanças, solidão, e trazem a música como algo ao qual pudessem se agarrar para melhorar o quadro de sentimentos que estão vivendo no momento. Segundo Bergold (2005, p.23) a possibilidade terapêutica da música já é cogitada desde o início da organização da enfermagem como profissão, em 1859, quando Nightingale (1989) se referia aos seus efeitos benéficos. Apesar de não identificar esses efeitos, ela citava a voz e os instrumentos de sopro e cordas como benéficos pelo seu som contínuo, enquanto o piano teria o efeito contrário por não ter continuidade sonora. Citava também o órgão como um instrumento que acalma sensivelmente, independente da associação que se possa fazer com o sentido da melodia. O tipo de música produzido por cada civilização costuma refletir e sugerir a realidade do local. Em sociedades pastoris, por exemplo, a inspiração pode vir da própria “paisagem sonora”, usando um termo de Schafer (1991, p.73), formada pelos sons dos pássaros ou do sopro do vento. Através de seus cantos, flautas e assobios, os pastores construíram um som referencial de campos e pastos. Os pastores tocavam flauta e cantavam uns para os outros a fim de fazer passar as horas solitárias, (...) e a música delicada de suas canções constituem talvez os primeiros e decerto os mais persistentes arquétipos sonoros produzidos pelo homem. Séculos de flauta produziram um som referencial que ainda sugere claramente a serenidade da paisagem pastoril (...). O solo de instrumento de madeira sempre retrata a pastoral, e esse arquétipo é tão sugestivo que mesmo uma orquestra grandiloqüente como Berlioz, reduz a sua orquestra a um dueto entre o corne inglês e um oboé solista para docemente conduzir ao campo (SCHAFER, 1991, p.73). O relato do quarto paciente do quadro acima deixa bem clara a questão da baixa autoestima, pela ruptura das coisas que deixou fora do ambiente hospitalar, quando diz: A música traz para mim uma auto-estima, para poder colocar minha vida em dia, já que eu estou em cima de um leito... ela também traz animação para o meu coração porque estar em cima de um leito não é fácil! (Japão) 102 Segundo Bergold (2005), o interesse da enfermagem pela música como um recurso no cuidado tem aumentado e pode ser constatado nos estudos que apontam suas diversas contribuições junto ao cliente, como trazer conforto, diminuir a dor, facilitar a comunicação e a relação cliente-enfermeiro, tornando o cuidado mais humanizado. A autora acima (BERGOLD, 2005, p.263) afirma que o êxito dessas experiências nos leva a acreditar na importância de sensibilizar os enfermeiros quanto à possibilidade do uso da música na sua prática do cuidar, considerando que A música, assim como o cuidado, não devem ser vistos como prerrogativas de uma determinada profissão, mas sim de qualquer profissional da saúde que, no atendimento ao cliente, esteja preocupado em fazê-lo de forma respeitosa, com conhecimento científico e valorizando a construção de subjetividades inerentes ao afeto e à criatividade. Após refletir sobre as entrevistas citadas, observa-se que o grande desconforto manifestado pelo cliente que se encontra internado é o tempo, o tempo que não passa. Pode-se constatar tal fato pelo seguinte relato: Iria distrair meu tempo, eu ia ficar menos tempo sem fazer nada... Dessa forma me ajudaria a tranqüilizar, acalmar... é isso! (França) Segundo Lustosa (2007), o adoecer constitui-se em um fenômeno subjetivo, vivido de maneiras variadas, com significante influência cultural e ambiental, atribuindo formatações distintas, para cada pessoa. Cada cultura influencia na maneira de perceber, reagir e comunicar a doença, que se constitui em um fenômeno complexo, multideterminado, multifatorial e raramente previsto. Além destes importantes aspectos, a doença representa um ataque à estrutura da personalidade e à estrutura familiar, além de determinar uma crise acidental na existência do ser humano. A autora (LUSTOSA, 2007) afirma a doença, além de uma crise, determina à interrupção do previsto, a desordem do costumeiro, a urgência do enfrentamento do duvidoso, do temível, do desconhecido. Instala-se, quase sempre, uma crise (Krisis= decisão), determinando um momento complicado na vida de qualquer um. Esta crise trazida pelo advento de uma doença sustenta uma ruptura com o estilo de vida anterior, uma perda do conhecido andamento da vida como ela era, uma situação de risco, uma mudança não buscada, significando, muitas vezes, uma transição importante e significativa, até mesmo para a morte, o que, em nossa cultura, assusta sobremaneira. Esta conclui que: 103 Apesar de o adoecer ser parte integrante da vida do humano, não é sempre que se inclui na vida de cada ser . A surpresa com o defrontar-se com um parente próximo com necessidade de atendimento médico, deixa claro esta cisão entre saúde e doença, binômio inseparável quando se fala de vida. Grande parte da população não está preparada para o não funcionamento orgânico adequado, e a estrutura psicológica, em muitos casos, se abala frente a esta experiência existencial: o adoecer (LUSTOSA, 2007, p.6) Segundo o site Psicologia (2009), para o paciente, o perceber-se internado, na maioria das vezes, significa ter piorado, pois alguém determinou sua hospitalização. Na atuação da Psicologia Hospitalar deve ser compreendido que com essa indicação de internação, muitas vezes o paciente se vê perdido, não entendendo ao certo o porquê tem que ficar internado, percebe que sua opinião sobre seu próprio destino está ameaçada, e sente que está perdendo o controle sobre si e sobre o seu corpo. Para o paciente, a hospitalização ganha novas dimensões no contexto existencial e pode provocar diversos sentimentos como: frustração, hostilidade, culpa, negação, impotência, regressão, dependência, ansiedade, desconfiança, fobias, insegurança, desamparo, depressão. Apresentamos, neste momento mais um quadro das entrevistas realizadas nos Hospitais ao paciente hospitalizado e sua referência a música. Quadro 17 Relação dos Pacientes e a Música nos Hospitais CAMARÕES Não acho que poderia me ajudar! Porque a gente sente tanta dor que não gostaria de estar ouvindo música. Não me ajudaria a distrair e nem relaxar. Só uma televisãozinha mesmo é que seria bom. CHILE Ajudaria. Só não estou com meu toca-fitas aqui para não incomodar o pessoal da clínica. Então... para não incomodar não trouxe! Mas, que está fazendo falta, isso está! Mesmo colocando baixinho, acho que poderia atrapalhar... 104 Então vamos respeitar o terreno dos outros! Se é uma fase passageira! Sugerir um ritmo é difícil, porque cada cliente tem um gosto. O meu... casa, por exemplo... Roberto Carlos, principalmente com Elimar São Santos. músicas amorosas. Qualquer ritmo serve para alegrar! Agora minha preferência é outra. O que eu gosto mesmo é de Elimar Santos. Minha filha... nosso jogo é dez a dez, escancarando de vez. Desejo que você seja muito feliz na sua pesquisa. Recomendo que ouça música: O pequeno Burguês de Martinho da Vila, que fala sobre a faculdade. “Livros tão caros, não tem dinheiro para pagar!” Me esqueci do resto. “Mas o diretor careca, aquele velho muito duro... Me deu canudo. Um canudo de papel...” COLOMBIA No momento ajudar , ajudaria. Mas para distrair, passar o tempo. A assistência aqui é boa, mas tendo uma musiquinha. Pelo menos me distrairia mais, e às vezes passa mais o dia. Fico mais a vontade e o tempo seria mais curto. IRÃ Sim, no momento que estou internado no Hospital gosto de ouvir música. A música nos traz uma boa sensação, nos faz refletir no momento que estamos internados. Faz-nos sentir bem, entendeu? A música traz uma sensação boa 105 de estarmos no leito. Faz-nos refletir mais, faz a gente ficar mais calmo e mais tranqüilo. Uma boa música para o Hospital seria a Evangélica e internacional. INGLATERRA Tira-nos da solidão no momento que não tem ninguém ao nosso lado. É.. resumindo, é o que sinto no momento. IRLANDA Ajuda porque fico ouvindo rádio aqui. O tempo passa mais rápido. Porque não tem nada para fazer aqui. JORDÂNIA Olha... depende do tipo de música não é? Tem música que relaxa, tem música que irrita. Risos... Se eu sou evangélico eu gosto de música evangélica. Mas a maioria não gosta muito. Agora a música que eu acho que iria agradar muito a todos, seria a música clássica, bem baixinha e suave. É uma coisa que relaxa. Não sei se ajudaria durante o tratamento. Mas ajudaria a passar o tempo pelo menos. É um tédio ficar aqui a doa. LÍBIA Acho que sim! Eu ouço música todos os dias, ela ajuda a passar o tempo e me distrai, desse modo me ajudaria enquanto estou internada. OMÃ Passa o tempo, e me traz boas lembranças, isso ajuda! ROMENIA A música não me traria benefícios na minha recuperação, pois estou muito 106 concentrado na cirurgia. A música aqui está sendo mais um passatempo. Eu quero mesmo é ser operado para ir embora para minha casa, me recuperar lá. Quando estiver na minha casa vou assistir televisão, ler jornal e entrar na internet. A música ou relaxa ou ajuda a deixar a gente mais injuriada, isso vai de cada um Fonte: Entrevista Pesquisas na psicologia, assim como na antropologia da música, têm demonstrado que a música é percebida e respondida de maneira bem individual ou relacionada às normas de uma determinada cultura. O significado que as pessoas extraem da música, os valores que lhe atribuem e as ações que se seguem a partir de sua influência não são previsíveis no sentido etnocêntrico (...). Embora pessoas pertencentes à mesma cultura possam demonstrar reações semelhantes ou atribuírem o mesmo significado a determinadas peças musicais, há uma evidência crescente de que a prática da aberrante decodificação de símbolos está se tornando comum dentro da cultura musical (RUUD, 1990, p.31). O autor conclui que o resultado disso é a padronização de gostos e idéias. A música, que antes afetava individualmente, agora tenta convencer coletivamente como produto. Seu objetivo principal é atingir a massa, manipulando pensamentos e gestos. A música é então popularizada. Ela começa a perder um pouco o seu sentido e objetivo iniciais. Passa a obedecer a moldes que determinam como e para quê ela deve ser produzida. Após a entrevista penso que o gosto musical seja algo de grande relevância, pois os clientes, em todas as entrevistas, de alguma forma, demonstraram suas preferências musicais, e alguns deles até afirmaram gostar apenas de um gênero musical. No decorrer das entrevistas, detectei, com freqüência, certa carência nos clientes, o que pode ser mostrado pelo seguinte relato em destaque: Nos tira da solidão no momento que não tem ninguém ao nosso lado (Inglaterra). A solidão é uma palavra que, muitas vezes, escutei durante as entrevistas, e como a definição de solidão se torna complexa, já que a mesma é um sentimento subjetivo, pedi, 107 algumas vezes, para que os clientes me definissem tal sentimento, o que não foi possível, pois eles só me diziam que era ruim ficar ali, sozinho. Segundo Valiate (2000) o ambiente hospitalar é conhecido pela sociedade como um lugar frio, onde as pessoas não desejam permanecer por muito tempo. A estadia em hospitais, principalmente os que têm uma situação financeira precária, é muito difícil e dolorosa. Segundo Nightingale (1989), a utilização da música como um recurso para o cuidado de enfermagem em nosso país tem ocorrido de forma mais estruturada recentemente. No entanto, como possibilidade terapêutica, a música já é cogitada desde o início da organização da enfermagem como profissão, quando Nightingale se referiu aos seus benefícios. Apesar de não explicitar esses efeitos, ela citava a voz, os instrumentos de sopro e de cordas como benéficos pelo seu som contínuo. Essas afirmações apontaram, à época, para uma percepção das possibilidades de utilização terapêutica da música no hospital. Contudo, ela concluiu que o seu uso generalizado estaria fora de questão devido ao alto custo financeiro que isso acarretaria. Bergold (2009) explica que atualmente, o desenvolvimento tecnológico facilita o acesso à música, possibilitando a sua presença no ambiente hospitalar. Entretanto, o que mais parece contribuir para a sua utilização hoje é a evolução da concepção do cuidar em enfermagem. Os questionamentos, ora feitos pelos profissionais de enfermagem acerca de sua práxis prioritariamente sustentada em tecnologias duras e leve-duras, resultaram na ampliação de suas possibilidades de atuação, aproximando-os mais do cuidado humanizado. Segundo Chagas (2008) a Enfermagem, ao mudar seus parâmetros acerca do cuidado, procura atender o homem em sua integralidade, e para isso, busca em outras disciplinas recursos que possam ampliar sua prática. Uma dessas disciplinas com as quais a Enfermagem encontra afinidade é a musicoterapia, pois esta também busca uma visão holística do homem para atendê-lo de forma abrangente. Cabe ressaltar que a própria musicoterapia é híbrida, pois se baseia tanto na arte, por meio da música, quanto na ciência, com os fundamentos terapêuticos da utilização desta. Na atualidade, com a mudança da concepção do que é o cuidado de enfermagem, alguns enfermeiros brasileiros desenvolveram atividades musicais na prática ou investigaram a utilização da música como um recurso para a assistência dentro de uma visão holística do ser humano. É o que pode ser percebido na seguinte afirmação: A música ou relaxa ou ajuda a nos deixar mais injuriados, isso vai de cada um (Romênia) 108 A mesma disse após o termino da entrevista, que adorava música, mas, a internação estava deixando-a incapacitada em relação a muitos aspectos, e que a música, não era necessariamente, uma coisa que lhe fizesse falta naquele momento. Bergold (2009) relata que a expressão de sentimentos, positivos ou negativos, é considerada como um fator de cuidado, pois melhora o nível pessoal de percepção além de facilitar a compreensão do comportamento que é gerado a partir desses sentimentos. A expressão destes e a consequente compreensão podem facilitar a comunicação e interação entre o cliente e a enfermagem. Dando seqüência às entrevistas realizadas ao paciente hospitalizado e sua referência a música, é mostrado, a seguir, o quadro 18. Quadro 18 Relação dos Pacientes e a Música durante o período de sua hospitalização ZAMBIA Gosto de música! Muita coisa. A música evita que a gente pense na vida direto, nas coisas difíceis... Só nas coisas boas e relaxa muito. Com certeza, a música me faria muito bem, durante a internação! Muitas coisas são bem melhores com a música por que... não sei, a música deixa você bem, o pensamento fica melhor, fica mais alegre. A música para o hospital tem que ser bem suave, e não muito pesada. TAILÂNDIA Eu não digo que não gosto, mas atualmente eu não tenho tempo para escutar. Sou deficiente visual e atualmente a gente escuta o repórter. Uma vez ou outra se escuta umas músicas antigas que não se lembra muito. Olha... eu sou muito fechado, não é? Pode até ser que traga algum benefício, distrai um bocado. SUIÇA Adoro música... dá animo para 109 vida. Música desperta para tudo, se você acorda triste e ouve uma música que você gosta evidentemente terá mais animo para o dia, entendeu? Com certeza! Dá ânimo para você se recuperar, quando uma pessoa não ouve nada fica triste, de mal com a vida, já a música anima a vida, anima a pessoa. Acho que a música romântica agradaria a todos no Hospital. MOÇAMBIQUE Gosto muito! Porque é uma das coisas boas de serem ouvidas para esquecer e passar os momentos do dia-adia e passa mais rápido ouvindo música né! Vai sim! Porque quando se ouve música, se desliga dos problemas do dia-adia, ainda mais num lugar como esse, não é?. Então, às vezes eu prefiro ficar escutando uma música do que ficar vendo uma televisão. Na televisão você ainda acaba pensando, não? E a música envolve de uma tal maneira que você... você vai longe, não é?Você esquece a vida. Acho que uma música clássica seria mais adequada para um Hospital, e não essas músicas que os jovens gostam. Eu, quando quero ouvir minhas músicas tenho que ficar sozinha em casa. ... As músicas da minha época são verdadeiras poesias... você lendo parece que está lendo um poema. E agora nada rima com nada. Até para fazer um enredo de escola de samba é difícil, porque para cantar é difícil a sintonia da frase. 110 TANZANIA Amo música! È a minha vida, minha profissão. E eu gosto muito de expressar meus sentimentos através da música. O que eu passo para as pessoas através do meu contra-baixo. E através dessas pessoas, elas sentem tocar a música e entra para igreja. Fará muito bem durante a minha internação! Por isso eu trago o meu laptop pra escutar música, eu acho que é a hora que dá pra distrair. Você sente mais é isso. ZIMBABUE Gosto Muito de música. Música boa, não é? Desde pequena eu gosto de música, eu gosto de cantar. Em casa eu vivo cantando, não consigo ficar com a boca parada, não! A música transmite um bem-estar. Faz parte da vida! Não creio que fará bem não. Até as músicas que eu ouvi no momento em que estive aqui eu quero esquecer, por que eram muito chatas. Se eu trouxesse meu radinho ia ser diferente. Iria trazer um poço de conforto. É uma distração. Quanto mais aqui, que a gente não vê nada... A música ajuda a trazer um momentinho de alegria para a gente. MALASIA Gosto de música! Descontrai, não é? E a gente se sente bem escutando... é uma sensação boa não tem como explicar. Traz, com certeza, uma melhora 111 durante a internação. Relaxa não é? Dá uma relaxada e é bom ouvir. Para dormir é bom, dá um sossego... BELIZE A música consegue distrair a gente, é um consolo e alegria também. Ah pode fazer bem! Não só para mim que estou nas vésperas de ir embora, mas para os que vão vir é bom! Uma musicazinha ambiente é ideal. Traria alento por que nessa hora assim, a gente fica... fica meio nervoso, não é? BENIM Gosto de música! Simplesmente gosto. Música no hospital traria alegria. Sei lá... alegria, é muito bom música. O tempo ficaria melhor, passaria mais rápido BOTSUANA O ritmo, a dança, a cultura, tudo que se envolve com o termo musical me faz gostar de música. Principalmente música clima, que seja MPB, que traria mais tranqüilidade ao paciente. Poderia fazer com que ele medite mais, pense mais em algumas coisas, traria mais calmaria para o espaço. E geralmente eles trazem televisão aí começa um jogo de futebol e fica neguinho lá: eh! eh! eh! Vai! Não sei o que. Isso aí não traz nada de tranqüilidade. Jornal o tempo todo falando de droga, prostituição, briga, discussão, alagamento. Só coisas ruins, só notícias ruins que traz o jornal. Então é uma coisa assim que... A música eu acho que facilitaria muito melhor a recuperação do paciente. Ajudaria muito mais... coloca uma MPB, 112 um Djavan, uma Marisa Monte, tem que ser uma coisa mais calma, mais suave. MPB básico, clima de Supermercado, põe na JB. Já música clássica é muito forte, então as pessoas que não entendem de música ficam assim: o que é que é isso. Instrumental só se for harmônico, ou seja, se for maresia de mar. Quer lembre oceano, que lembre cachoeira, quer lembre canto de pássaros. Agora nada de Orquestra muito forte, porque irá deixar o paciente agitado e confuso. Fonte Entrevista De acordo com Moran (1998) a comunicação envolve trocas de interação que permitem aos indivíduos se perceberem, se expressarem, relacionarem uns com os outros, ensinar e aprender. Comunicar, diz o autor, é entrar em sintonia, aproximar, trocar, dialogar, expressar, influenciar, persuadir, convencer, solidarizar, tornar transparente. As pessoas se comunicam para se inserirem, serem aceitas e interagirem em vários espaços significativos e em vários tipos de comunidade, pois a comunicação caminha na direção da inclusão de pessoas diferentes, na aproximação de mais pessoas, mais grupos, ou seja, no estabelecimento de vínculos, ela representa para o indivíduo o maior dos desafios, porque é só na relação com os outros que os problemas não resolvidos na psique individual. Rector e Trinta (2003) explicam que a comunicação é a própria prática cotidiana das relações sociais: conservar aparências e guardar distâncias; vestir a roupa da moda; adotar tal ou qual atitude em relação a esta ou aquela pessoa; falar num certo tom de voz e assim por diante, sendo muitas e diversificadas as situações de comunicação, portanto, comunicar é manifestar de uma presença na esfera da vida social. Chiavenato (1980) se refere à comunicação afirmando ser a mesma um processo de passar informação e compreensão de uma pessoa para outra. Senso assim, fala o autor, toda comunicação envolve pelo menos duas pessoas, a que envia e a que recebe, tratando-se de uma área na qual o indivíduo pode fazer grandes progressos na melhoria de sua própria eficácia, existindo uma profunda relação entre motivação, percepção e comunicação. 113 Nesse contexto da comunicação pode-se refletir sobre os momentos da internação, solidão em que a pessoa fica num espaço que não é o seu e dependente de pessoas que até o momento não faziam parte da sua vida. Trago destaque para a fala de Moçambique quando afirma: Gosto muito! Porque é uma das coisas boas de ouvir para esquecer e passar os momentos do dia-a-dia que passa mais rápido ouvindo música não é! Vai sim! Porque ouvindo música, nos desligamos dos problemas do dia-a-dia ainda mais num lugar como esse não é? Então às vezes eu prefiro ficar escutando uma música do que ficar vendo uma televisão. Na televisão você ainda acaba pensando não é?. E a música te envolve de tal maneira que você, você vai longe não é? Você se esquece da vida. Acho que uma música clássica seria mais adequada para um hospital, e não essas músicas que os jovens gostam. Eu quando quero ouvir minhas músicas tenho que ficar sozinha em casa. ... As músicas da minha época são verdadeiras poesias você lendo parece que está lendo um poema. E agora nada rima com nada. Até para fazer um enredo de escola de samba é difícil, porque pra cantar é difícil, a sintonia da frase (MOÇAMBIQUE) Bergold (2009) destaca que a enfermagem não faz apenas parte do ambiente hospitalar. Ela pode ser considerada o próprio ambiente, já que é responsável por grande parte de sua organização. Assim, se a enfermagem é parte do ambiente, é necessário que se focalize nele, assumindo que sua atitude pode fazer diferença e buscando alternativas para construir um ambiente mais saudável, promovendo dessa forma a recuperação do paciente Lucena e Goes (1999) complementam tais considerações ao lembrarem que a comunicação na área da saúde é uma estratégia de uso constante no cotidiano do enfermeiro. Quando a comunicação faz parte do dia-a-dia do trabalho do enfermeiro, o paciente passa a vê-lo como uma pessoa capaz de ajudá-lo em todos os momentos, além do que, isto irá possibilitar uma recuperação mais rápida para o paciente. Espera-se que toda atuação da enfermagem deva ocorrer de maneira compreensiva, privilegiando o paciente como centro da assistência já que este profissional surgiu da necessidade de se ter pessoas cuidadoras dos doentes. Neste modelo, o terapeuta desenvolve um relacionamento estreito com o paciente; utiliza a empatia para perceber os sentimentos do paciente e utiliza o relacionamento como uma experiência interpessoal corretiva (RIBEIRO, 2005, p.36). Segundo Furegato (1999), todo o contato que a enfermagem tem com o paciente deveria ser terapêutico, o que implica ajudar o paciente no momento em que ele necessita de cuidados profissionais do enfermeiro e sua equipe. 114 A enfermeira deve ter consciência de tudo o que está acontecendo, para que o paciente a veja como uma pessoa na qual ele pode confiar, pode se abrir e contar tudo o que está acontecendo consigo naquelas circunstâncias, já que ela é uma pessoa como ele (STEFANELLI, 1993). Retornando para as entrevista nos hospitais, foi possível observar que as afirmativas se repetiam quando a questão tratada era a música no ambiente hospitalar, como demonstra o quadro abaixo. Quadro 19 Relação dos Pacientes e a Música como Companhia BURKINA Gosto de música! É bom para mim, eu me sinto bem, é por isso! Adoraria com certeza! Trazer coisas boas pra mim! Porque eu ia ficar me lembrando das coisas passadas, e isso ia me fazer vencer e sair daqui entendeu? Ia melhorar, é isso que pode acontecer! GANA Música me ajuda! A música me ajuda muito porque me faz esquecer algumas coisas, ajuda bastante! Esquecer os problemas! Porque eu estou internado aqui! Porque eu me sinto muito sozinho aqui! Ficar aqui sozinho sem ter ninguém é muito difícil! E a música ajudaria. KIRIBATI Gosto de música! Porque faz bem para o espírito... Seria bom sim! Seria legal ter músicas no hospital! Acho que o ambiente seria melhor! Com certeza, ia melhorar ia lembrar de coisas boas da minha vida... 115 LESOTO Quando estou escutando musica, ela faz bem para o meu ser, minha alma, ela me dá paz interior... Sinceramente a música acalma, e você sabe que esse ambiente aqui é um tanto pesado, mas eu sei que preciso ficar aqui pra melhorar, é um ambiente de médico, enfermeiro cuidando da gente para nossa melhora, mas o ambiente em si fica muito monótono e a música faz lembrar minha residência minha casa, o ambiente ficaria mais agradável, por isso que eu acho importante, se eu estive escutando uma musica seria bom nesse ambiente triste. MADAGASCAR Com certeza a música é uma ótima aliada! Porque anima a pessoa não é? Ajuda a pessoa quando ela está estressada, mal-humorada, ela fica mais distraída... Eu acho que a música iria ajudar os pacientes a melhorar porque no hospital a gente fica meio jogada num canto, aí ao escutar uma música já vai se animar, vai conversar com o colega do lado, acho que vai ficar animado e vai ser melhor para o paciente... SAARA Acho que com a música seria bom não é? A pessoa ia ficar mais alegre, eu ficaria mas alegre e só isso. SRI LANKA A música em um hospital vai dar uma força! A pessoa, só de ouvir as 116 melodias já se distrai mais, esquece um pouquinho da dor, eu acho muito bacana! SURINAME Com a música eu melhoraria, e minha recuperação seria mais rápida! Acredito nisso. TAIWAN Iria trazer mais “Entretenimento”, divertimento, ficaríamos mais à vontade, nos divertiríamos melhor, por exemplo, pelo menos isso, não é? Para todos os pacientes seria ótimo! Será bom, sim pra minha recuperação. TUVALU Música, ela tranqüiliza... Eu gosto bastante... mas...não seria no ambiente hospitalar...pois eu gosto de um tipo e outra pessoa pode gostar de outro...bom de repente radinhos...seria bom Fonte Entrevista Tais relatos mostram claramente a questão do ambiente hospitalar e o tempo que esse cliente fica afastado desse pulsar de vida lá fora durante a internação, após a ocorrência inesperada de uma doença, interrompendo-lhe o curso de algo que estava sendo feito. As palavras de Taiwan afirmam: “Iria trazer mais “Entretenimento”, divertimento, a gente iria se sentir mais a vontade, se divertir melhor, por exemplo, pelo menos isso não é? Para todos os pacientes seria ótimo! Será bom para minha recuperação”. A ruptura entre o espaço e o tempo na produção e consumo da música é um marco do século XX, ocasionada pela gravação sonora. Suas conseqüências podem ser sentidas nos planos artístico, cultural, social e econômico. Torna-se importante então recapitular a evolução do sistema de gravação e reprodução da música, considerando três etapas principais: a mecânica, com o fonógrafo, a magnética, com a fita cassete, e a digital, com os CD’s. (FERREIRA, 2005, p.51). O surgimento dos veículos de comunicação de massa é de extrema importância para a utilização da música como instrumento de persuasão. Primeiramente com o rádio, a música passa a ser reconhecida como um produto de consumo. E, como tal, ela começa a ser 117 produzida e veiculada para ser vendida, consumida por um público cada vez mais influenciado pela mídia (ALMEIDA, 2002, p.23). O enfermeiro deve tratar o paciente, colocando-se no lugar deste, tentando entendê-lo e ajudá-lo a controlar seu medo advindo da dor causada pela doença. Stefanelli (1993) relata que, se o enfermeiro se empenhar a cada dia no que faz, logo estará compreendendo melhor o paciente, ajudando-o a se aceitar na sua enfermidade, buscando ficar bem consigo mesmo para obter uma recuperação mais eficaz. Furegato (1999) observou que dependendo do tipo do relacionamento enfermeiropaciente estabelecido, poderá ocorrer atos de iatrogenia, isto é, quando o profissional mantém um relacionamento inadequado, podendo até aumentar o estresse da condição já vivida da doença pelo paciente. A rotina mecanizada, a falta de planejamento das atividades que redunda na escassez de tempo e a falta de reflexão acerca de sua prática desencadeiam essa dificuldade (ZINN; SILVA; TALLES; 2003). O ser enfermeiro requer muita atenção, habilidade e cuidado “a enfermagem precisa assistir os pacientes com ética e dignidade, utilizando conhecimentos científicos e éticos sendo criativa, procurando utilizar este atendimento, com menores riscos” (RIBEIRO, 2005, p.38). Buscou-se documentar mais registros de pacientes que confirmaram a teoria do bemestar trazido pela música no ambiente hospitalar, observando sempre a questão da preferência de cada um como se segue no quadro abaixo. Quadro 20 Relação dos Pacientes e a Música como Recurso para Alegrar BURKINA Música... Eu gosto, derrepente como ficamos muito sozinhos e só algumas vezes alguém fala comigo, uma musiquinha me faria bem... Eu gostaria de ouvir música no hospital sim! GANA Nosso seria ótimo! Mais depende da música eu só gosto de pagode e sambinha, se fosse outro tipo....seria chato. KIRIBATI Sempre trago meu Mp3, já estive interada outras vezes e vou te falar isso que 118 me salvou da solidão...aqui é um ambiente muito triste...sei lá ....derrepente se tivéssemos música ou televisão seria muito bom LESOTO Eu gosto muito de música em todos os mementos, seria bom sim ter música aqui e me faria bem...não sei para os outros mais para mim seria bom! É isso! MANDAGASCAR Adoro música, na realidade, adoro dançar..musica alegra...contagia a gente...eu acredito que faria muito bem. SAARA Musica aqui no hospital...acho que ia depender da música....se eu pudesse escolher seria bom...pois gosto de alguns tipos e outros não...derrepente faria bem sim. SRI LANKA Para mim música no hospital seria ótimo, ajudaria e muito na minha recuperação, pois me deixaria distraída e o tempo passaria mais rápido SURINAME Música para mim é tudo....derrepente o que ta faltando no hospital é musica....muito,bom...musica boa ,romântica ou lentinha, para não atrapalhar quem ta dormindo. Me faria muito bem...faria eu relaxar. TAIWAN Trazer música para o hospital deixaria a gente mais alegre...eu adoro música, me faria distrair, por que a gente fica muito tempo à toa, seria muito bom. TUVALU (10) Musica, nossa seria ótimo...eu adoro dançar, apesar de não poder...só em pensar que vou logo ficar boa....musica me 119 ajudaria a passar o tempo e pensar em coisas alegres...me faria muito bem....seria ótimo. Fonte entrevista Ao observar a respostas dos entrevistados podemos notar a grande aceitação por um ambiente mais saudável e próximo do cotidiano retirado de suas vidas pela hospitalização. Sekeff (2002, p.77) se refere à emergência de material inconsciente, a partir de um estímulo musical, como uma saída emocional mediante à “experiência estética, musical, experiência que integra a totalidade do sujeito, envolvendo seu corpo, mente e emoções”. Bergold (2005) afirma que a audição musical produz relaxamento físico e mental, pois reduz o estresse, a tensão e a ansiedade. Produz, também, efeito estimulante: desperta a atenção, promove contato com a realidade ou com o ambiente, aumenta o nível de energia, estimula atividade motora, aumenta as percepções sensoriais e eleva o humor. Bruscia (2000) afirma que tanto o relaxamento como a estimulação pode melhorar o estado de saúde de duas formas: preventiva (ao reduzir riscos ou aumentar a resistência contra problemas de saúde) e paliativa (ao melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta uma condição de doença). Assim, a música é um recurso terapêutico através do qual se pode promover a melhora na condição de saúde do cliente tendo em vista sua natureza holística. No contexto das considerações dessa música tão inerente ao ser humano em seu mais intimo, Jourdain (1998, p.410), quando se refere à esta, não o faz só como uma ‘linguagem’ das emoções, mas também como uma ‘linguagem’ do movimento físico. Ele afirma que nossas musculaturas são usadas para representar a música, modelando as características mais importantes dos padrões musicais através de movimentos físicos. Contemplando a afirmação acima, Arruda e Nunes (1998) complementam: 1) ‘liberdade’ para fazer coisas que deseja; 2) ‘integração’ como estado de harmonia entre corpo, mente e espírito; 3) ‘melhora’ percebida como a sensação de sentirse bem; 4) ‘segurança/proteção’ que envolve sentir-se protegido com as pessoas ao seu redor, sentir que tem condições de sobreviver; 5) ‘cuidado’ inclui poder contar com alguém, gostar dos profissionais de saúde, ser bem tratado; 6) ‘comodidade’ relaciona-se com obtenção de condições ambientais favoráveis. Para Watson (1996), a enfermeira deve se esforçar para estar dentro da estrutura de referência do outro, numa busca mútua pelo sentido e totalidade do ser. Para a autora, essa busca inclui medidas de conforto, controle da dor, um senso de bem-estar e/ou transcendência 120 espiritual do sofrimento. A autora postula a importância de visões ampliadas da pessoa, o que implica nas unidades mente corpo e espírito. O cuidado promovido através do encontro cliente-enfermeira ocorrido em sintonia pode expandir a consciência e potencializar a cura através de um sentimento de bem-estar, de reintegração. Não há como não notar a importância e a influência que o ambiente traz para o paciente internado, que, muitas vezes, cita em seus relatos através da entrevista o quanto se sente sozinho, nesse contexto, a música lhe traria um ambiente mais agradável e com menos estresse, conduzindo-o assim a um mundo do qual está afastado, por sua hospitalização. Chaves e Ide (1995, p.173) também se referem à vivência da hospitalização, mostrando que além do aspecto do sofrimento do doente decorrente da crise orgânica, dos medos e da sensação de vulnerabilidade perante a impossibilidade de controle sobre o seu corpo, sua vontade e seu destino, há conseqüências da hospitalização sobre o psiquismo do doente “intensificando o sofrimento inerente ao desequilíbrio orgânico inicial”. Como diz Beuter (2004, p.153), o lúdico “rompe com a ordem instituída no hospital que valoriza a rigidez e a seriedade como elementos indispensáveis à conduta profissional”. Essa transgressão à ordem instituída, se, por um lado, pode mostrar-se útil para os clientes internados, no sentido de humanizar o ambiente, tornando-o mais agradável e facilitando a integração, por outro pode incomodar alguns profissionais acostumados a essa ordem. 121 CAPÍTULO VI - COSIDERAÇOES FINAIS www.google.com.br Como forma de cuidado a música é útil, eficaz e agradável, pois traz prazer tanto para quem a toca ou canta, como para quem a escuta. A música estimula empatia, promovendo sintonia entre os participantes no momento de sua execução, tornando permeável o compartilhamento de emoções, pensamentos e lembranças, devolvendo e facilitando o relacionamento entre os autores envolvidos no processo, nesse estudo paciente/enfermeiro, desse modo entende-se que a influência da música é positiva no ambiente hospitalar, contribuindo de forma positiva para as relações interpessoais estabelecidas entre profissionais e pacientes, desenvolvendo um relacionamento saudável entre ambas as partes. Por ser uma onda sonora, a música tem grande penetração, não podendo ser ignorada tão facilmente como outros estímulos, e assim facilitando a auto-expressão pelo ato de cantar, batucar ou se movimentar através de um ritmo, facilitando também a percepção e a validação de sentimentos ao se criar identificação com o que se houve, sendo através da letra ou melodia. Os sujeitos das pesquisas descrevem que ao escutarem música o corpo vibra, as emoções surgem e os pensamentos trazem o passado para o presente numa conexão extra muro hospitalar, trazendo uma experiências de prazer, saúde, vida, e experimentação de sensação de tranqüilidade e segurança. Nesse contexto, entendemos que a música e o seu uso como estratégia junto ao cuidado de Enfermagem, são importantes na humanização durante a internação hospitalar. 122 Nesta situação, o paciente sente-se isolado e inseguro por estar em um ambiente estranho, causador de ruptura na sua rotina diária que ameaça os seus sentidos de forma plural, como pessoas e espaços desconhecidos, ruídos desagradáveis, cheiros estranhos, iluminação por muitas vezes constantes, conversas incompreensíveis, entre outros. Nesse contexto a se colocar em prática música respeitando a individualidade de cada paciente, diminui-se os focos de ruídos e ainda proporcionamos uma sensação de familiaridade. Os relatos expressam claramente que o uso de uma atividade musical no período da internação leva ao relaxamento físico e mental por reduzir o stress, a tensão e a ansiedade em que o paciente se encontra. Estimula também a despertar a atenção, a estabelecer um contato com a realidade ou com o ambiente ao qual estava habituado. Devido a isso, a vibração e som da música acabam por preencher o silêncio afastando de alguma forma a sensação de medo daquele ambiente. Não se pode esquecer que todas as características da música que aumentam o conforto do paciente, também podem produzir efeitos benéficos na equipe de saúde composta por Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, Médicos, Administrativos entre tantos outros presentes no momento da execução musical, seja tocando ou ouvindo. Nesse sentido, a música funciona como uma forma de autocuidado que pode auxiliar na prevenção do stress do profissional. Esse estudo apresentou uma modalidade terapêutica não convencional que podemos utilizar no cuidado de enfermagem ao paciente hospitalizado, pois como mostra o resultado dessa pesquisa, através da música somos capazes de abrir novas dimensões em nós mesmos que podem até passar despercebidas em nosso cotidiano. Nos resultados emergiram da pesquisa três categorias dadas com principais: a primeira foi o Perfil da clientela, a segunda categoria tratou o Gosto musical do Paciente e a terceira categoria e última tratou da Relação do paciente internado e sua relação com a música dentro do ambiente hospitalar. Como pontos de partida foi feito um levantamento do perfil da clientela para conhecimento da população participante da pesquisa, na qual se chegou à verificação da diversidade cultural existente nos hospitais. Quanto ao gênero musical houve predominância nos ritmos seguintes: Músicas Nacionais Românticas totalizaram 38% das preferências dos pacientes, pagode/samba foi a segunda preferência musical citada com 30%, tivemos a música evangélica totalizando 14%, a música sertaneja totalizando 12% das preferências musicais e, finalizando essas preferências, o hip-hop com 6%. 123 A terceira categoria trouxe a aceitação de a música no ambiente hospitalar, na qual se obteve 96% das respostas positivas do número de entrevistados, ficando 4% com aceitação duvidosa, trazendo a música como algo não tão importante naquele momento, onde foi possível observar que 96% dos pacientes acreditam em benefícios ligados a música no ambiente hospitalar durante a internação, sendo apenas 4% contra essa prática no ambiente hospitalar. Através dos 50 pacientes entrevistados, dois nos disseram que a música não estaria causando qualquer ajuda naquele momento, totalizando 4% do número da pesquisa em contraponto com 48 que positivaram esse estudo, totalizando 96%. Observou-se, de acordo com os resultados apresentados, ser de suma importância a questão de ser levado em conta a preferência musical de cada paciente internado, sendo essencial para todos os momentos da nossa existência e especialmente para o estabelecimento de um relacionamento interpessoal enfermeiro/paciente adequado. Portanto, deve-se inserir na avaliação/admissão do ciente, elementos sobre preferências musicais e o recurso da música para alívio dos processos “negativos” da hospitalização, ou seja, como recurso de bem-estar. Tal proposta de inserir música nos hospitais pode ser algo interessante, extremamente relevante e de baixo custo. Quanto â Enfermagem e o desenvolvimento dos seus cuidados junto ao paciente hospitalizados o repertório pode ser utilizado durante os cuidados de Contingencial (Situações súbitas ou episódicas), Continuo (Prevenção, Manutenção da vida e impedimento de seqüelas que possam agravar o quadro clinico dinâmico), Dinâmico (Cuidado Curto e Rápido), Expressivo (Sentidos, Corpo Sensitivo, através de uma relação interpessoal e contém a linguagem verbal e não verbal), Multiface (Escutar o Outro, ter interesse em conhecer a historia de cada paciente) e Mural (Exposição do repertório em local visível para pacientes e profissionais de Saúde). 6.1 Limitação do Estudo e Recomendações A limitação do estudo se deu pelo prazo em que o mesmo teve que atender aos critérios para defesa da pesquisa, e a quantidade de entrevistados que totalizou um número de 50 pessoas. Recomenda-se a continuação da pesquisa, devido à mesma ter sido realizada em apenas dois hospitais e somente no Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, torna-se necessário conhecer e considerar preferências e diferentes interpretações da música no ambiente hospitalar dos outros Estados para que se possa compreender e respeitar os 4% dos pacientes que não acreditam que a música poderá ajudá-lo no momento da internação. 124 Como uma onda, o uso da música vai contagiando até onde o seu som alcança, humanizando e democratizando os espaços do hospital. Ao ouvi-la, os sujeitos ficam envolvidos pela emoção, rompendo assim com as hierarquias sociais e profissionais, quebrando resistências e sentimentos do presente e do passado, pois a música mexe com nosso corpo, nossa cabeça, de forma intensa a nos proporcionar conforto e sensação de bem estar. 6.2 O processo de Materialização da Idéia da Dissertação de Mestrado A partir do estudo sobre o Paciente Hospitalizado e sua Interação com a Música, foi possível observar a necessidade da música no cotidiano do ambiente hospitalar, para trazer conforto, motivação, bem estar. Diante destas observações a idéia da Dissertação se Materializou na forma de uma proposta de CD com repertório em anexo de acordo com o gosto musical de cada paciente, respeitando seus espaços e momentos. O CD é composto de 25 músicas divididos em 05 estilos musicais de acordo com gosto musical de cada paciente, sendo o mesmo dividido em: Samba/Pagode, Gospel/Evangélico, Hip-Hop, Sertanejo, MPB. 125 REFERÊNCIAS ADORNO, T.Refléxions en vue d´une sociologie de la musique. Musique en Jeu, v. 1, p. 516, 1972. ALENCAR,S.C.S. , LACERDA, M.R., CENTA,M. L. Finitude Humana e Enfermagem: Reflexões sobre o (Des) Cuidado Integral e Humanizado ao Paciente e seus Familiares durante o Processo de Morrer.Fam.Saúde Desenv., Curitiba, v.7, n.2, p.171-180, maio/ago.2005 ALMEIDA, M.R. Quando a música fala: a produção de sentido em Fantasia. Juiz de Fora, Faculdade de comunicação, 1.sem. 2002. ALLEKIAN, C.I. Anxiety due to territory and space intrusion questionaire. 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Para facilitar o entendimento, cabe informar que: o primeiro objetivo, já foi efetuado, no qual foram pesquisados os hospitais públicos do município do Rio de Janeiro de pequeno, médio e grande porte, e chegamos ao número de 20 hospitais pesquisados dos quais quatro usam música no ambiente hospitalar. Após levantamento escolhemos o Hospital Geral de Bonsucesso, devido ao sistema de som nos prédios do hospital e ao trabalho que é desenvolvido em todas as clinicas com música; o segundo objetivo, relatar qual música é colocada no ambiente hospitalar; e o terceiro objetivo, definir qual é o propósito da música colocada nos hospitais; quarto objetivo, apontar qual profissional é o responsável pela escolha da música colocada; quinto objetivo, descrever o que traz essa música para o paciente hospitalizado; sexto objetivo, analisar como a música atua no processo saúde e doença no cuidado ao paciente hospitalizado. Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Assim, cada pessoa envolvida receberá outro nome fictício (fantasia) para a identificação do que foi dito. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. A sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar o seu consentimento. A sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição, bem como não prejudicará seu tratamento e/ou atendimento Sendo assim, sua participação nesta pesquisa consistirá em responder a entrevista, que será gravada em MP4. Os dados resultantes 134 da entrevista serão destruídos após cinco anos do término da pesquisa. Além disso, sua participação, também, consistirá em permitir a observação do seu dia-a-dia, especificamente das suas ações e dos seus relacionamentos. Você não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Os riscos relacionados com a sua participação são, significativamente, restritos, podendo ocorrer no âmbito das emoções, já que não temos como prever na totalidade o efeito que cada pergunta pode causar, apesar destas não terem um cunho inquisidor ou, ainda, um formato compatível com alguma forma de constrangimento. Caso ocorra alguma situação de muita emoção, ela será respeitada pela pesquisadora e você será acolhido com carinho e atenção. Os benefícios relacionados com a sua participação são: permitir uma melhor compreensão sobre os efeitos da música, no que se refere ao vivido na relação saúde/ doença. Isso pode ajudar na compreensão da música terapêutica ao paciente. Além disso, por tratar esse estudo da questão do conhecimento e, por conseguinte, envolver a aprendizagem humana, pode motivar os participantes no sentido de uma busca pelo entendimento das coisas que estão ao seu redor. Você receberá uma cópia deste termo, onde consta o telefone, e-mail e o endereço da pesquisadora e telefone e email do comitê de ética do hospital do qual o paciente está internado, podendo o mesmo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Esse termo consta a assinatura do pesquisador principal com telefone e email para dúvidas futuras como demonstração abaixo: ______________________________ Assinatura do Participante -_________________________ Assinatura do Pesquisador Email: [email protected] (21) 8332-1850 135 Apêndice B Entrevista semi-estruturada ao Paciente 01) Sexo: ( ) masculino ( ) feminino 02) Nome: ____________________________________ 03) Idade: ______ 04) Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) concubinato ( ) divorciado ( ) viúvo 05) Moradia (localização): ____________________________________ 06) Escolaridade: ___________________________________________ 07) Profissão: ______________________________________________ 09) Tempo de internação: ___________________________________ 10) Patologia: ___________________________________ 11) Você gosta de música?___________________________________ 12) Que música você gosta de ouvir? 13) Você acredita que a música durante sua internação pode trazer o que a você? 136 Apêndice C Entrevista semi-estruturada ao Responsável pela Música no ambiente Hospitalar 01) Profissão: _________________________________ 02) Quais os critérios da escolha da música, para colocá-la no ambiente hospitalar? 03) Quais tipos de música são colocadas no ambiente hospitalar? 04) Quem escolhe a música a ser colocada no ambiente hospitalar? 05) Qual a relação da música com o cuidado? 06) Qual o propósito de colocar música no ambiente hospitalar? 07) Existem critérios de horários e dias da semana, para a colocação dessa música? A