Pq não eu? Moa Sipriano A cena clássica já aconteceu comigo, com você, com todo mundo. Num reduto de vastas possibilidades caçadoidas, caminhando contra o vento, sem lenço, mas com documentos e preservativos, de repente damos de fuça com aquele “cara” que um dia permeou nossos sonhos impossíveis. Cruzamos olhares de velcro, automaticamente levando nossa mão esperta lá pra baixo e acariciamos mastros afoitos por cima de nossas roupas insinuantes – sinal universal da fodaria ou, para os menos... digamos... entendidos: “Oi, eu quero dar pra você agora... tem local?” Sacou? Mas, claro, já que nos comportamos como moças de família e adoramos “fazer tipinho”, passamos do lado do bofescândalo, gastamos quarenta e três minutos na troca de virginais olhares gulosos e sedutores; nossos pintos ameaçam furar a velha Zorba e depois de muita, muita, muita enrolação, lá vamos nós... trocar figurinhas com o macho encantado. Daí segue aquela patacoada de sempre: “oi... você vem sempre aqui... calor né... o dia tá lindo... gostei de você... faz tanto tempo que estou sozinho, e você?... ahh, não, puxa, faz séculos que eu não saio com ninguém, e você?... não, não, não, eu não sou efeminado... odeio bicha pintosa... ahhh, na cama, curto tudo (mentira, a senhora quer dar a bunda mesmo!)... não, não, não, eu não frequento ambiente gls” (mentira – parte II, a senhora não sai dos uóchats e adora fazer um Banheirão!)... e por aí vai a coisa. Trocamos números de celular, ainda insistimos com a linha “moça virgem e ingênua” e marcamos para dali dois dias um encontro “normal”. Bom, claro que não estou me referindo ao batalhão de Bambees que jamais perde tempo e que em apenas três minutos, sem delongas, já caem de boca no peepo do bofe. Enfim... continuemos nossa história de não amor. Passamos as próximas 48 horas num sufoco só, loucos para o derradeiro encontro, que juramos de pantufas unidas que será o último, definitivo, sorte de amor eterno. Afinal, queremos acreditar que aquele bofe é a Alma Gêmea, o Príncipe Encantado, o Salvador da nossa vidinha sem encantos, porém repleta de prazeres mundanos. Estamos tão felizes e radiantes que – finalmente! – compreendemos a sublime poesia hermética, a melodia jupiteriana e nos entregamos ao inefável êxtase de dançar e cantar “ai se eu te pego” durante o banho. Eis que chega o grande momento! Perfumados, retocados, lindos, trajando nossa melhor roupa justa e conferindo uns trocados no bolso, lá vamos nós, saltitantes... pela estrada escura, eu vou bem sozinhaaaa… “Rola” tudo como planejado. Uma cerveja, muita risada, muita mentira (afinal, temos que nos mostrar perfeitos, não é mesmo?), um verdadeiro desfile de hipocrilusão e finalmente – ufa! – a cama. E que “CAMA”! Uma trepada de responsa! Que delícia! Damos como se não houvesse amanhã! Chuvas de camisinhas usadas espalhadas pelo quarto. “Usamos um litro de KY, tá meu bem!”, contamos para as amigas no Facebuquet, via Samsungão, durante o retorno ao nosso lar. Se por acaso pintar uma chuvinha básica no trajeto, não tenha dúvidas, “baixa” a Vagina Kelly e cantarolamos “Singin’ in the rain”, molhadinhas, arrombadas e felizes. A vida é bela! *** Dia seguinte, revigorados, conferimos aquele brilho no olhar e confirmamos uma pele sedosa igual à textura de um pêssego maduro, enquanto fazemos caretasvogue diante do espelho. O dia passa e o Amado não retorna nossos contatos. Passamos horas a rodar o coreasung numa das mãos (ligo ou não ligo pra ele... ai, liguei e deu caixa postal... aiii, liguei e deu fora de área...) e finalmente nosso estado de humor sofre um colapso generalizado. Fato consumado: Estamos sozinhos... novamente. Naquela noite, tinhosos como somos, voltamos à cena inicial, ops!, local de caça, ops!, ponto de encontros casuais e damos novamente de cara, sem querer querendo, com nosso homem. Ele – sumariamente – nos ignora. Insistimos um encontro verbal. As palavras do lado de lá soam frias, distantes, opacas. Ele não nos quer mais. Foi apenas um momento de sexo desvinculado de compromissos. Não haverá amor. Não haverá namoro. Não haverá aquela aventura de oito horas de engarrafamento punhetando um ao outro durante a descida para Santos no próximo feriadão prolongado. Acabou. Retornamos para os nosso lares e adentramos nossos quartos em prantos interiores, histéricos, ácidos. Afinal, precisamos esconder da Mamee certas fraquezas. Atitude idiota: Toda mamãe sempre capta tudo sobre nós! Nossa pobre alma está dilacerada. A gente se sente feio, sujo, ignorante, repulsivo. Ninguém mais vai querer trepar comigo! Ai meu Deus, será que eu senti um excesso aqui? Tô gorda! Quero morrer! Adeus McDonald’s! O tempo passa, o tempo voa, e nossa poupança murcha já não continua numa boa. Infernizamos durante séculos o coitado do nosso espírito cansado: Por que ninguém me quer? Por que não tenho sorte no amor? Por que isso, por que aquilo? *** Realmente não é fácil passar alguns momentos mágicos com um cara gostoso e fogoso e horas depois descobrir que, mais uma vez, não será dessa vez que encontraremos nosso par ideal. Desperdiçamos uma energia tremenda na eterna procura do príncipe que não é príncipe porra nenhuma. A nossa tendência vitibambeemesca de nos desvalorizarmos após uma frustração íntima é calamitosa. Nunca paramos para avaliar friamente os frios detalhes dos fatos ocorridos. Afirmo que “jogo limpo”, diálogo franco e bom senso são as melhores armas para se conquistar alguém, seja para amizade e, logo em seguida, até mesmo para o amor. O problema é que somos tão tapados que não queremos diferenciar uma aventura prazerosa sem compromisso de um envolvimento mais duradouro. Se você é livre, é evidente que você tem o direito de curtir sua intimidade com quem quiser. É gostoso cruzar com alguém nas quebradas da vida e descobrir que esse alguém “bateu” com nosso santo e que a química desperta entre ambos pode nos levar ao enlace dos corpos e ao prazer dos sentidos. Mas, na sufocante maioria das vezes, não temos cabeça para diferenciar uma aventura sexual sadia da possibilidade de um namoro sério. Após um simples encontro ou uma rápida metida já sufocamos nossos parceiros em cobranças absurdas de “obrigado por você existir”, de fidelidade, de isso, de aquilo. Não damos tempo para que as coisas floresçam naturalmente. A merda da nossa carência medonha sempre embola o meio de campo. Projetamos nossas frustrações em primeiro lugar, tentando das maneiras mais absurdas transformar nosso macho no nosso fresquinho Ken, manipulando-o até o total esgotamento diante das nossas paranoias neuroticamente repulsivas. E aí – metidos num eterno círculo vicioso – perdemos mais uma rara oportunidade de fazer a coisa certa. Enfim, é o seguinte: Quer trepar? Pintou a chance de um sexo gostoso, responsável, sem compromisso? Vá em frente... aproveite! Mas se por acaso o lance for de apenas uma noite, uma hora ou alguns minutos, curta o momento, deixe rolar, não faça projeções idiotas! É sempre assim e isso jamais vai mudar. Aprenda que quem deve compartilhar parte da sua existência em aprendizado e harmonia que beneficiem os dois... vai pintar... no momento preciso. Não se jogue no abismo da ignorância caso as coisas não tenham saído como o planejado. Não se desvalorize, muito menos agrida a si mesmo se ainda não foi dessa vez que você encontrou um concreto companheiro de jornada. Caras ideais não existem. O que é real são homens compatíveis com seu jeito de ser, de pensar e de agir, compartilhando apenas uma passagem, breve ou longa, da sua existência. O segredo é: Afinidade – já ouviu essa palavra antes? Conhece o significado real dela? Se ele não liga mais pra você... paciência! Continue seu caminho, siga em frente, não pare, não olhe para trás! Dedique seu tempo livre a você. Faça uma porção de coisas que sempre teve vontade de fazer. Aproveite algumas horas para aprender lições diferenciadas da Vida. Doe o que não tem mais sentido no seu lado material e também distribua o melhor do seu lado espiritual a quem não teve as mesmas chances que você. Quando sentir tédio, baixe e leia os contos de um tal de Moa Sipriano (o cara é ótimo!), frequente lugares que você sempre encarou erroneamente como “inusitados”, cuide do seu corpo e da primeira cabeça; viaje, faça amigos verdadeiros, dê mais atenção para sua família. Pare de recitar o medonhomantra “Pq não eu?”, seguido de falsas lágrimas de vaselina industrial. Pois quando você aprender a não dar mais importância a frustrações sem sentido, no dia em que você realmente estiver equilibrado e sereno consigo mesmo, “ele” vai aparecer, assim, aparentemente do Nada. E sabe por quê? Porque sempre quando estamos devidamente preparados e harmônicos com nós mesmos, a verdadeira magia de uma vida... acontece! FIM