Um Modelo para a Epidemia de Tuberculose Patrícia Dias Gomes* , Regina Célia P. Leal-Toledo, Marianna B. Oliveira†, Thiago V. N. Coelho† Departamento de Ciência da Computação/IC, UFF Rua Passo da Pátria 156, Bloco E, Sala 301 24040-005, São Domingos, Niterói, RJ E-mail: [email protected] A tuberculose ainda representa um sério problema de saúde pública. Presume-se que 1,7 bilhão da população mundial esteja infectada pelo Mycobacterium Tuberculosis,(TB). No Brasil, até o final dos anos 80, a TB vinha apresentando um declínio de 2 a 4% ao ano. A partir daí, com o surgimento da AIDS, o aumento da população marginalizada e da migração, aliadas a falta de uma política eficiente de controle e combate da epidemia, essa taxa passou a decrescer somente de 0,4% ao ano. Estima-se que hoje 45 milhões de brasileiros estejam infectados pelo bacilo da TB e que surjam 100.000 novos casos por ano. Em nível mundial, na década passada, a organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose uma “emergência sanitária Mundial” [6]. Nesse quadro há a necessidade urgente de se repensar e/ou reformular as políticas públicas de intervenção e a modelagem matemática pode ser uma poderosa ferramenta tanto para auxiliar no entendimento dessa dinâmica como para simular diferentes estratégias de ação. Nesse trabalho apresentamos um modelo para a TB, com 4 grupos de indivíduos: i) os suscetíveis, que não tiveram contato com o bacilo da TB; ii) os latentes, que possuem o bacilo mas não desenvolveram a doença; iii) os tuberculosos infectantes onde estão incluídos os indivíduos que desenvolveram a doença e podem transmiti-la; iv) os tuberculosos não-infectantes, que incluem os outros casos de TB. Nesse modelo considera-se que o indivíduo "curado" permanece infectado com o bacilo, ou seja, retorna ao grupo dos latentes. Considera-se ainda que o indivíduo pode ficar doente por progressão direta, logo após a infecção (nos 2 primeiros anos) ou por reativação endógena, vários anos após adquirir o bacilo. Esse modelo, como proposto, apesar de conter somente os quatro grupos de indivíduos, como descrito anteriormente, nos possibilita avaliar a influência de casos de cura natural, reinfecção, conversão de TB não-infectante para TB infectante, diferentes possibilidades de tratamentos, o sucesso ou o fracasso dos mesmos. Nesse último caso, o indivíduo é tratado mas não ___________________ *Bolsista de Mestrado Capes †Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq retorna ao grupo dos latentes. Apresenta-se, para esse modelo simplificado, a análise da estabilidade, fornecendo relações que permitem avaliar as condições para estabelecimento ou erradicação de uma epidemia. A taxa de reprodutividade basal (Ro), também é apresentada subdivida em 3 “subepidemias” – a que se desenvolve nos 2 primeiros anos de contágio (RR), a que se desenvolve lentamente (RL) e a devida a reinfecção (RRF). Para validar o modelo várias simulações foram realizadas e os resultados obtidos, comparados aos de modelos mais complexos[1][3] encontrados na literatura. Os exemplos analisados nos fazem concluir que mesmo simples, o modelo é capaz de representar bem qualitativamente o comportamento da epidemia de TB, nos motivando a, futuramente avaliar outros eventos tais como, a imunização e a inclusão de possíveis heterogeneidades no modelo, tentando simular por exemplo, regiões com alta concentração da doença. Referências [1] S.M. Blower, T.C. Porco, Quantifying the intrinsic transmission dynamics of tuberculosis, Theorical Population Biology, 54 (1998) 117-132. [2] C.E.C. Cunha, “Simulação Numérica de Epidemias de Tuberculose”, Projeto de Fim de Curso, IC-UFF, 2001. [3] C. Dye, G.P. Garnett, K. Sleeman, B.G. Williams, Prospects for worldwide tuberculosis control under the WHO DOTS strategy, Lancet, 352 (1998) 18861891. [4] H.M. Yang, Dinâmica de propagação de vírus: transmissibilidade, virulência e mecanismos de controle, TEMA, 3 (2002) 223-232. [5] H.M. Yang, "Epidemiologia Matemática - Estudo dos Efeitos da Vacinação em Doenças de Transmissão Direta", IMECC, UNICAMP, Campinas, SP, 2001. [6] “Situação da Tuberculose no Brasil - Série G, Estatística e Informação em Saúde” , Secretaria de Políticas de Saúde, Ministério da Saúde, Brasília, DF, 2002. 488