Paraná estuda vender fatias de Copel e Sanepar http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/4055470/politica/4055470/p... Imprimir () 19/05/2015 - 05:00 Paraná estuda vender fatias de Copel e Sanepar Por Fábio Pupo Secretário de Fazenda, Mauro Ricardo: “quando cheguei, havia uns R$ 10 milhões de recursos livres disponíveis” Depois de aprovar uma polêmica alteração na previdência de servidores no Estado, o governo do Paraná agora busca mais medidas para obter recursos. Entre as ideias estudadas, está a de vender fatias de estatais como a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). "Estamos estudando para levar ao governador. A venda pode ocorrer neste ano, dependendo das condições do mercado", afirma em entrevista ao Valor Mauro Ricardo Machado da Costa, secretário da Fazenda do Estado. As ações das estatais vendidas seriam as do "excedente do controle" do Estado, portanto as empresas permaneceriam sob controle estatal. O Paraná tem 58% das ações ordinárias (com direito a voto) da Copel e 74% das ações ordinárias da Sanepar. O Estado arrecadaria R$ 950 milhões com a venda de todo o controle excedente, de acordo com os economistas do Valor Data. Além da possível venda, o secretário diz que a ordem é que as estatais cortem despesas e gerem o maior dividendo possível para os acionistas - o que geraria caixa para o Estado. A ideia em estudo integra as tentativas de melhorar o quadro das finanças públicas no Paraná na segunda gestão do governador Beto Richa (PSDB). Outras medidas atualmente em estudo para obter receitas são a venda de imóveis estatais, o lançamento de concessões de pátios para veículos, novas concessões de rodovias e até a renovação antecipada de contratos com administradoras de estradas (CCR e EcoRodovias estão entre as potencialmente afetadas). Carlos Magno Andrioli Bittencourt, diretor do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), diz que o principal problema do governo atualmente é administrar a dívida. Segundo ele, o governo deve R$ 1,2 bilhão a fornecedores e anunciou nos últimos dias o pagamento de apenas R$ 234 milhões. "O grande problema é essa dívida, que já está vencida", afirma. Ao mesmo tempo em que tenta honrar os compromissos, o recém-empossado secretário da Fazenda diz enfrentar restrições de caixa. "A situação estava muito difícil. Quando cheguei, havia uns R$ 10 milhões de recursos livres disponíveis. Não havia dinheiro para cumprir os compromissos assumidos pela administração. Esse é o problema: dívidas e um orçamento desequilibrado", afirma Mauro Ricardo. Segundo ele, o atual orçamento - produzido em 2014 -superestimou receitas. "A peça orçamentária foi elaborada em junho de 2014, quando se previa um quadro completamente diferente da realidade, com receitas superestimadas. E despesas subestimadas, em especial no aumento de gastos de pessoal, por causa dos reajustes concedidos", afirma. Mauro Ricardo começou a sugerir as mudanças a Richa em novembro, dois meses antes de tomar posse. Até agora, conseguiu apenas parcialmente o que havia proposto - principalmente o aumento de tributos. O imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA) subiu 40% e a alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) subiu de 12% para 18% ou 25% para 95 mil produtos do varejo. Com esses aumentos, estão 1 de 3 19/05/2015 11:35 Paraná estuda vender fatias de Copel e Sanepar http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/4055470/politica/4055470/p... previstos mais R$ 1,6 bilhão para os cofres públicos neste ano. Além disso, foi criado ainda o programa Nota Fiscal Paranaense (importado de outros governos), que "devolve" impostos ao consumidor que exige nota fiscal - o que reduz a sonegação e aumenta a arrecadação. As medidas, diz Mauro Ricardo, já começam a dar resultado. Mas o maior problema é de solução mais difícil: as despesas. "Nos últimos dois anos, o Estado apresentou significativa deterioração nas finanças, refletindo principalmente o forte aumento nos gastos operacionais. O Estado subestimou suas necessidades de gastos, resultando em um aumento em suas dívidas com fornecedores e em significativos déficits após empréstimos", afirma relatório recente assinado pela equipe da analista Dominica Zavala, economista da Standard & Poor's (S&P). O Estado terminou 2014 com um déficit de R$ 934,2 milhões. Segundo a S&P, agravam o quadro das finanças no Paraná o nível de liquidez considerado "muito fraco", o restrito acesso a fontes de captação de recursos e a limitação ainda mais forte nos próximos anos de disponibilidade de financiamento externo. O maior problema das despesas, diz Mauro Ricardo, está no gasto com pessoal. Desde 2010, o custo com ativos, inativos e pensionistas subiu 80%, para R$ 18 bilhões em 2014. Segundo o Estado, 90% das receitas vão para folha de pagamento (ativos e inativos). "Despesa com pessoal é difícil de reduzir", resume. O Paraná enfrentou, em ano eleitoral, pressões para melhorar a segurança pública e equiparar salários e decidiu elevar o gasto. De acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 2000, despesas com folha de pagamento consolidada, incluindo pagamentos de aposentadorias, não devem ultrapassar 60% das receitas correntes líquidas. Segundo a agência de classificação de risco Fitch, no Paraná o índice atingiu 69% em 2014 e deve continuar acima de 60% até 2016. Segundo o cálculo do Estado, esta relação foi de 54% em 2014. A Fitch acredita que novas medidas não conseguirão fazer os patamares ficarem "aceitáveis" antes de 2020. Há dois meses, a Fitch rebaixou os ratings nacionais do Estado em decorrência da deterioração de seu desempenho fiscal, devido, principalmente, à geração de receitas abaixo do esperado. A manutenção da perspectiva negativa "reflete os desafios que o Estado enfrenta para adotar medidas de corte de despesas e melhorar as receitas até que estas alcancem patamares sustentáveis". A S&P também baixou as notas do Paraná. Para Mauro Ricardo, o Paraná chegou a esse ponto ao assumir compromissos que não podia assumir. "Não houve uma sintonia entre a área de Orçamento e a de Finanças. Isso levou a um orçamento acima da possibilidade de gastos", diz. "O governador acreditou que as contas estavam em ordem, quando na verdade não estavam", completa. O secretário já chegou a anunciar uma meta ousada: contingenciar R$ 11 bilhões no orçamento de 2015. Várias medidas de corte de gastos haviam sido propostas, principalmente no campo "Educação". "É o maior gasto. As distorções estavam aí", afirma. "O mínimo constitucional para se gastar em Educação é 30% [das receitas]. Estamos gastando 34%", afirma. O secretário queria reduzir de R$ 700 para R$ 260 o auxílio transporte de professores, acabar com o esse auxílio em épocas de férias e licença, reduzir o número permitido de licenças médicas (é uma por semana, diz) de professores e lançar outras medidas. Mas todas essas medidas não são mais cogitadas depois da "batalha do Centro Cívico", como foi batizada pela imprensa local a agressão contra manifestantes em 29 de abril. "Não há mais clima", afirma. Nem tão comentado como os secretários da Educação e da Segurança - que, inclusive, já perderam os cargos em meio à crise no Estado -, Mauro Ricardo é o verdadeiro nome por trás do pacote de ajuste fiscal no Paraná. "A situação estava muito difícil. Não havia recursos suficientes para pagar todos os compromissos e havia necessidade de um ajuste", resume. Nascido em Niterói, Mauro Ricardo tem passagens por diferentes gestões tucanas com problema de recursos. Além do Paraná, acumula no currículo experiências do tipo no Estado de São Paulo, na Prefeitura paulista e na Prefeitura de Salvador. Mauro Ricardo diz que outros Estados do país estão com problemas similares. Os ajustes no Paraná só ficaram em maior evidência, diz, porque boa parte dos recursos estava sendo gasto com pessoal - o que gerou uma forte reação popular. "Estou fazendo um trabalho que acho ser o adequado. Até porque, se não for feito o ajuste fiscal, podem esquecer reajustes salariais no futuro. Porque o Estado não ter condições de pagar sequer sua folha de ativos, quanto mais de inativos e 2 de 3 19/05/2015 11:35 Paraná estuda vender fatias de Copel e Sanepar 3 de 3 http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/4055470/politica/4055470/p... pensionistas. Mantida a situação de 2014, estamos nos encaminhando para não ter mais dinheiro para nada. Aí a população precisa decidir: vamos contribuir com impostos para pagar o funcionalismo e não ter mais nenhum benefício do Estado? A situação é muito grave", defende. Economistas ouvidos pelo Valor corroboram a visão de que a dificuldade nas contas existe em outras unidades federativas. "Vários Estados, se não a maioria ou a totalidade, enfrentam sérias adversidades no início de 2015", resume o economista José Roberto Rodrigues Afonso, especialista em finanças públicas. Para o economista Raul Velloso, pelo menos oito Estados estão nessa situação, que é causada por dois motivos, segundo ele. "Em parte eles perderam receita com as desonerações, mas, mais do que isso, eles aproveitaram uma mudança na orientação da União em 2012, que sugeriu não se alcançar mais um resultado primário alto e gastar mais em pessoal. Agora, para ajustar, não tem como demitir e não pode reduzir salário. Há muita gente com salário maior que deveria", defende. 19/05/2015 11:35