Almirante
Sylvio de Camargo
AltEsq (FN‐Ref) Carlos de Albuquerque Em dezembro de 2005, o Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo completará 50 anos. Esta importante data é, também, uma oportunidade para se rememorar os principais aspectos da vida do brilhante oficial que dá nome à instituição e cuja carreira confunde‐se com sua concepção e criação. ALMIRANTE SYLVIO DE CAMARGO
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Mineiro de Santa Rita do Sapucaí, o Almirante Sylvio de Camargo nasceu em 16 de fevereiro de 1902, filho dos professores João Batista de Oliveira Camargo e Amélia de Almeida Camargo, tendo iniciado seus estudos no Grupo Escolar Modelo de Alfenas ua carreira militar teve início em 1919, quando da matrícula na Escola Naval, então sediada em Angra do Reis. Em 1922 foi nomeado Guar‐ da‐Marinha, realizando a Viagem de Instrução no Navio‐Escola Benjamim Constant. Como segundo‐te‐ nente da Armada, apresentou‐se para servir no Encouraçado Minas Gerais, o capitânia da Esquadra, onde permaneceu até o ano de 1924. Durante este período, o navio tomou parte nas ações destinadas a prestar apoio às forças legalistas de São Paulo contra as guarnições federais revoltosas, e, para tanto, o encouraçado per‐ maneceu no Porto de Santos, enquanto o então tenente Sylvio de Camargo atuava em terra realizando opera‐ ções de inteligência. Este evento influenciou toda sua carreira, pois lhe permitiu travar contato, pela primeira vez, com uma tropa de Fuzileiros Navais. Observou, então, que ape‐ sar da disciplina e da dedicação desses militares, falta‐ va‐lhes conhecimento profissional adequado. Além dis‐ to, percebeu que a própria Marinha não dispunha de uma doutrina firmada para o emprego de forças em ambiente terrestre. Essas constatações fizeram com que ele abraçasse, desde cedo e permanentemente, a causa da busca do aprimoramento profissional dos Fuzilei‐ ros Navais. Em 4 de novembro de 1924, oficiais e praças de seu navio se sublevaram em solidariedade ao Encouraçado São Paulo, em decorrência disso e por ser ele o Oficial de Serviço no dia, foi preso e posto à dispo‐ sição do Ministro da Marinha por conspiração contra o regime. Apesar de preso, foi promovido a primeiro‐te‐ nente, em 12 do mesmo mês. Cumpriu, ao todo, dois anos e cinco meses de detenção no Quartel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, na Ilha do Bom Jesus e na Fortaleza de Santa Cruz, tendo sido libertado pelo Alvará de Soltura de 8 de abril de 1927, da 1ª Auditoria de Marinha. Em 1929, foi promovido, por antigüidade, ao posto de capitão‐tenente, quando servia embarcado no Cruzador Rio Grande do Sul. Com a investidura do novo governo, em 1930, e a assunção do novo ministro da Marinha, Almirante Protógenes Guimarães, ocorreu a anistia do pessoal envolvido na sublevação política, acarretando na retroação de sua promoção e passando a ter a antigüidade contada a partir de 23 de agosto de 1928. Quando servia na Diretoria de Navegação, dado o conturbado momento político que vivenciava o novo governo, recebeu a tarefa de guardar o Banco do Brasil. Por sua atuação eficiente na preservação dos bens, dinheiro e papéis ali existentes, fez jus ao reconhecimento das autoridades do novo governo. Após esse evento, aceitou o convite para servir no Regimento Naval, sob as ordens do Capitão‐de‐Fragata Augusto Durval da Costa Guimarães, apesar de, também, ter sido convidado para ser ajudante‐de‐ordens do novo Ministro da Marinha. Esta escolha, sem dúvida, deveu‐se à simpatia que já nutria pelos Fuzileiros Navais, desde a experiência vivida por ocasião de sua missão em São Paulo. Neste período, os Fuzileiros Navais foram enviados para Campos, São Paulo e Santa Catarina, com o propósito de deter as ações revolucionárias que vinham sendo desencadeadas contra o governo. No entanto, estas tropas foram empregadas sem uma missão específica e sem
estrutura organizacional adequada, ficando à mercê das forças amigas locais. A esta experiência vivenciada, Sylvio de Camargo somou suas observa‐ ções pessoais decorrentes do convívio diário com os Fuzileiros Navais, haja vista que residia em quartel, ocupando a casa que lhe competia. Sendo a terceira pessoa da hierarquia do Regimento e incumbido de, praticamente, toda a atividade executiva da unidade, obteve um aprofundado conhecimento das condições e motivações da tropa, o que lhe permitiu mais uma vez obter a clara percepção tanto do valor, do patriotismo e do espírito de corpo dos fuzileiros, quanto das deficiências relativas ao nível de 4
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escolaridade e preparo profissional. Entendeu que
uma das possíveis causas para este despreparo residia na falta de um quadro de oficiais devidamente formados como Fuzileiros Navais. Propôs, então, medidas para contornar tal situação, assim como para melhorar o padrão de instrução dos subalternos. Nomeado em abril de 1931, para comandar a Torpedeira Goiaz, recebeu, ao ser desligado do Regimento Naval, o seguinte elogio do Comandante Durval Guimarães: “No desempenho de suas funções em momento de reorganização por que passa este regimento, esse oficial deu as mais cabais provas de inteligência, tino administrativo
energia e patriotismo e, sobretudo, um grande interesse pela elevação moral deste regimento, e em seu esforço fora do comum pelo bem‐estar da tropa e tudo quanto concerne à parte material deste Regimento. Elogio‐o, portanto, pelo trabalho que produziu e que é um testemunho dos predicados militares e morais e que o recomendam à estima e à gratidão deste Regimento.” Em julho de 1931, teve o seu comando interrompido ao ser designado pelo Ministro da Marinha para servir em seu Gabinete e como oficial de ligação com o Gabinete do Ministro da Guerra. Foi transferido, no final do ano de 1932, para o Quadro de Oficiais do CFN, em decorrência da aprovação do Regulamento para o Corpo de Fuzileiros Navais, continuando, porém, a exercer a função de oficial de ligação. No desempenho dessa função, participou, como observador, das ações dos Fuzileiros Navais durante a Revolução de 1932. Conseqüente à criação do quadro de Oficiais Fu‐ zileiros Navais, outros dispositivos foram estabeleci‐ dos para a devida qualificação dos optantes, sendo que um deles tornara obrigatório o curso na então Escola de Armas do Exército (hoje Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército) como cláusula de acesso para promoção a Oficial Superior. Assim, participante de um grupo de cinco oficiais, o CT (FN) Camargo foi ma‐ triculado na referida escola, embora, diferentemente de seus colegas, sem prejuízo das suas funções de Ofi‐ cial de Ligação com o Ministério da Guerra. O seu ex‐ celente desempenho no curso garantiu‐lhe um eleva‐ O CT(FN) Sylvio de Camargo, no
do conceito, o qual foi expresso por um elogio nominal centro, durante a visital de um oficial
de parte do comando da Escola: “Jovem oficial muito norte-americano ao Rio de Janeiro
inteligente, aplicado, enérgico e de espírito vivo. Em‐ bora tivesse contra si a mudança de ambiente, apre‐ sentou, graças ao seu trabalho pessoal, metódico e invulgar, uma série de trabalhos refletidos, simples e práticos que merecidamente o colocaram entre os me‐ lhores alunos da turma. O Corpo de Fuzileiros Navais pode confiar na orientação da instrução que para lá vai levar o Comandante Camargo. Digno de ser impul‐ sionado em sua carreira. Nota de aptidão: Muito Bom. Quartel da Vila Militar em 12 de fevereiro de 1940. Henrique Baptista Duffles Lotti Tenente‐Coronel, Co‐ mandante interino.” Em 18 de janeiro de 1934 foi promovido ao posto de Capitão‐de‐Corveta e, ainda neste ano, realizou um estágio de quatro meses junto ao Royal Marine Corps, na Inglater‐ Aceitou o convite para servir no Regimento Naval, ra. Ao retornar, apresentou‐se no Quartel de Fuzileiros Navais da sob as ordens do Capitão‐de‐Fragata Augusto Ilha das Cobras, quando foi desig‐ Durval da Costa Guimarães, apesar de, também, nado encarregado do Pessoal do ter sido convidado para ser ajudante‐de‐ordens do CFN, o que lhe permitiu retomar o convívio com a tropa. Concen‐ novo Ministro da Marinha trou seus esforços nas atividades de instrução e adestramento, sempre com o objetivo de superar a falta de preparo da tropa. Neste período, rea‐ lizou uma série de exercícios de campanha, na região da Baía da Ilha Grande, com aproveitamento da movimen‐ ALMIRANTE SYLVIO DE CAMARGO
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EXEMPLO PRECOCE DE DETERMINAÇÃO
Os atributos pessoais do Almirante (FN) Sylvio de Camargo, relativos à sua inteligência, ini‐ ciativa e pertinácia, foram característicos desde sua infância, indicando o futuro de um homem muito produtivo e dotado de elevado grau de liderança. Como exemplo precoce e que demonstra sua perso‐ nalidade, registra‐se o fato de, ainda adolescente, ter‐ se dirigido, por moto próprio, isto é, sem o apoio de seus pais, ao Gabinete do Ministro da Marinha, pois não encontrara o seu nome na lista dos candidatos aprovados à Escola Naval. Na certeza de que lograra melhores graus do que alguns outros candidatos in‐ cluídos na lista, não hesitou em agir em seu favor, mesmo desacompanhado de seus pais, que não resi‐ diam no Rio de Janeiro. A sua determinação assumiu maior realce quando, recebido por um oficial de Ga‐ binete, teve impedida sua apresentação ao ministro, por estar este de saída, não podendo recebê‐lo. Mes‐ mo assim, escapando da vigilância do oficial, pene‐ trou no aposento do ministro, o qual, tomando co‐ nhecimento do fato, determinou ao seu auxiliar que anotasse o caso. De fato, o ministro solucionou a ques‐ tão, determinando o acréscimo de vagas suficientes para incorporar todos os aprovados nos exames. Em 1943, o então Capitão-de-Mar-eGuerra (FN) Sylvio de Camargo passa
em revista a tropa sob seu comando,
no Dia do Marinheiro
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tação dos navios da Esquadra em manobras naquela área, bem como atividades similares junto às Compa‐ nhias Regionais de FN, em particular as de Ladário e Belém. Durante o curso da Escola de Guerra Naval, pôde o Comandante Camargo comprovar o seu conceito de ofi‐ cial de elevado nível intelectual e proficiente na realiza‐ ção de seus trabalhos, ao obter a primeira classificação na turma. Obteve particular destaque a sua monografia, que versava sobre a ameaça dos meios aéreos em desen‐ volvimento sobre as esquadras das principais Marinhas do mundo, segundo uma nova perspectiva assumida por determinada corrente de pensamento estratégico naval. Baseando‐se no fato de que engenhos aéreos seriam capa‐ zes de afundar navios de guerra, desenvolveu, pois, o seu raciocínio, na tentativa de identificar as possíveis conse‐ qüências para a formulação da Estratégia Naval, sobre‐ tudo no que dizia respeito à Marinha brasileira. Este es‐ tudo, provavelmente devido à pertinência de suas con‐ clusões, foi classificado pelo Estado‐Maior da Armada como secreto e o Comandante Camargo mantido naque‐ la escola, como auxiliar de ensino. Seu retorno ao CFN ocorre em 1939, quando reassume as funções de encarregado do Pessoal. É digno de nota que durante este ano e no seguinte assumiu, ainda que de forma interina, a função de Comandante‐ Geral do CFN. Foi promovido, por merecimento, em ju‐ nho de 1940, ao posto de Capitão‐de‐Fragata (FN). Nes‐ ta ocasião, recebeu a importante tarefa de elaborar o novo Regulamento para o Corpo de Fuzileiros Navais. Em outubro, foi nomeado subchefe do Estado‐Maior do Corpo de Fuzileiros Navais. A esta época, dois principais objetivos norteavam seus esforços para a melhoria do nível de preparo dos Fuzileiros Navais: um deles voltado para a formação do pessoal e o outro para a obtenção de novas áreas para treinamento e aquartelamento da tropa. A sugestão de se criar um curso específico na Es‐ cola Naval para a formação de oficiais fuzileiros navais não foi aceita pelo Gabinete do Ministro da Marinha, que preferiu graduar como oficiais os subalternos que tinham se distinguido nas operações contra as forças revolucionárias e tornaram‐se merecedores de tal pro‐ moção. Apenas em 1943 essa antiga aspiração viria a se concretizar. Com relação às áreas para treinamento, era níti‐ do que o aquartelamento na Ilha das Cobras, com todas as suas restrições, não se prestava ao adestramento, que demandava uma área bem mais ampla onde se pudesse realizar exercícios com tropa no terreno. A área inicialmente pleiteada pertencia ao Cen‐ tro de Aviação Naval, no Galeão, e tinha as vantagens de já ser patrimônio da Marinha e de ser bastante am‐ pla. Porém, com a criação do Ministério da Aeronáuti‐ ca, tal terreno foi incluído em seu acervo patrimonial. Uma outra área passou a ser estudada, também pertencente à Marinha. Localizava‐se no fundo da Baía de Guanabara, sendo conhecida como Sítio da Batalha. A REVOLUÇÃO DE 1932
No entanto, suas características físicas limitavam seu completo aproveitamento. Optou‐se, então, pela aqui‐ A eclosão da Revolução de São Paulo, em sição de sítios existentes no extremo nordeste da Ilha do 1932, à qual grande parte das guarnições militares Governador. lá sediadas se engajou, provocou a pronta reação Em 21 de junho de 1943 foi nomeado Chefe‐do‐ do Governo, do qual a Marinha desejava partici‐ Estado‐Maior do CFN e promovido ao posto de Capi‐ par. Foram, de início, empregadas as tropas legais tão‐de‐Mar‐e‐Guerra, mantendo os mesmos rumos das aquarteladas na área e providenciado o subseqüen‐ atividades empreendidas e a mesma determinação de te reforço de outras unidades, especialmente do Rio buscar solução para o problema da deficiência na for‐ de Janeiro, o que demandou o estabelecimento de mação profissional da tropa. A solução vislumbrada, medidas coordenadoras. então, era a construção de um centro de instrução. Con‐ Em decorrência da ofensiva das tropas tudo, esta empreitada esbarrava na falta de recursos revoltosas, ocorreu um confronto com as forças do para a construção das instalações exigidas. Exército em Cunha (RJ), pelo que coube a um con‐ Em 8 de novembro de 1945 foi promovido ao pos‐ tingente da Marinha a execução de uma ação to de Contra‐Almirante e nomeado Comandante‐Geral diversionária sobre o flanco inimigo. E para isso do CFN, assumindo o cargo em 17 de novembro. foram mobilizados substanciais meios para apoio Nenhuma coincidência é em vão. E certamente, dos combatentes navais. Apesar desse empenho, para a felicidade e sucesso do Corpo de Fuzileiros Na‐ ocorreram vários transtornos no desenvolvimen‐ vais, não foi em vão que o destino fez coincidir a sua to das ações, por sua vez realizadas de forma de‐ assunção no cargo de Comandante‐Geral com o ano do sarticulada. fim da Segunda Guerra Mundial. Como observador, o Capitão‐Tenente Talvez, este tenha sido o ponto de inflexão na his‐ Camargo, contando com a sua vivência com a tro‐ tória do CFN. pa, além de conhecimentos adquiridos em ma‐ Isto se explica pelo fato de a vitória aliada na guer‐ nuais militares, pôde melhor observar as falhas co‐ ra e, particularmente, a vitória dos EUA no teatro do metidas e, com isso, identificar suas causas. Não Pacífico servirem para consolidar a doutrina militar oci‐ tendo havido um exame inicial de situação, com a dental de então. No que tange ao emprego de Fuzileiros devida avaliação dos fatores táticos, o comando da‐ Navais, ficou comprovada a importância da condução quela força não tivera como planejar adequada‐ de Operações Anfíbias em proveito de campanhas na‐ mente as ações a serem desencadeadas e, com isso, vais. Criou‐se, a partir de então, o paradigma de atua‐ não pudera estruturar e nem conduzir a sua tropa ção para as tropas do CFN, não mais voltadas para as como o desejado, redundando numa execução operações terrestres, similares às de Exército, e nem me‐ descoordenada. Consta nos assentamentos a sua ramente aos serviços de guarda. Os Fuzileiros Navais presença na área conflagrada, de 9 de julho a 3 de passaram a ter uma tarefa especificamente voltada para outubro de 1932, bem como o elogio do Ministro da as ações da Esquadra, operando em terra mas sempre a Marinha pela sua atuação. partir do mar. Teve ele, então, a oportunidade de visualizar Graças ao descortino, característica inerente aos claramente a principal causa de tais insucessos, dada grandes líderes, o Almirante Camargo pôde perceber o a prova observada da necessidade de as ações terres‐ caminho que se abria para aumentar a integração das tres, necessariamente, requererem a sua condução tropas anfíbias com a Esquadra. Criando‐se uma deman‐ por profissionais da guerra no ambiente terrestre. da operacional para a condução de ações de Fuzileiros Navais junto às Forças Navais, abriria‐se espaço para o crescimento do Corpo, tanto em termos de efetivo, como de seu inventário, arsenal e corpo doutrinário. Isto tudo, no entanto, servia para ressaltar a neces‐ sidade de se aperfeiçoar a formação profissional da tropa. Com relação especificamen‐ te à divulgação da nova doutrina, Graças ao descortino, característica inerente aos contou o Comandante‐Geral com a contribuição de seu assessor Fu‐ grandes líderes, o Almirante Camargo pôde zileiro Naval dos Estados Unidos, perceber o caminho que se abria para aumentar membro da Missão Naval Ameri‐ cana, bem como com a dis‐ a integração das tropas anfíbias com a Esquadra ponibilidade de cursos para oficiais brasileiros nas escolas de fuzileiros nos EUA. O Almirante Camargo passa, então, a conduzir pessoalmente as atividades mais importantes atri‐ buídas ao Corpo de Fuzileiros Navais, sendo nomeado, ALMIRANTE SYLVIO DE CAMARGO
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INTENTONA COMUNISTA
A ocorrência da Intentona Comunista, em 1935, e diante da ordem do Comandante‐Geral do CFN de formar toda a tropa do quartel e deslocá‐la para o Arsenal de Marinha, o Comandante Camargo tomou a iniciativa de contatar, devidamente auto‐ rizado, o Ministro da Marinha, no sentido de alertá‐ lo quanto ao perigo de tal empenho de uma tropa sem organização adequada e despreparada, pelo que propunha a formação de um Batalhão de Fuzileiros Navais devidamente constituído e orientado por uma Ordem de Movimento, em que seriam defini‐ das metas de conduta. Formado o Batalhão, que constituiria um contingente de vanguarda, seguiu‐ se a sua marcha em direção à Praia Vermelha, ten‐ do, no entanto, permanecido na altura da Esplanada do Castelo. Chamado novamente pelo Ministro da Ma‐ rinha, o Comandante Camargo, mais uma vez, re‐ cebeu a incumbência de fazer a devida ligação com o General Dutra, que comandava as ações contra os insurretos, tornando‐se novamente o oficial de li‐ gação, a quem aquele chefe transmitiu os seus agra‐ decimentos, bem como estabeleceu que a tropa de fuzileiros apenas permanecesse em condições de emprego, o que não se tornou necessário. Centro de Instrução e Adestramento
do Corpo de Fuzileiros Navais,
inaugurado em 1945, na Ilha do
Governador, uma das realizações do
Almirante (FN) Sylvio de Camargo
reno na Ilha do Governador. Pensou‐se, à época, na cons‐ trução de uma base de contratorpedeiros ou um cais de minério. em junho de 1948, para presidir o grupo de trabalho Com o intuito de se evitar solução de continuida‐ destinado a planejar as futuras instalações do Campo de no andamento dos importantes projetos envolvendo da Ilha do Governador. o Corpo de Fuzileiros Navais e devido à necessidade fla‐ A esse tempo, preocupado com a necessidade de obtenção de verbas para a construção do centro grante de se ter à frente deles um oficial general que con‐ visualizado, buscou apoio a congressistas, bem como ciliasse o necessário conhecimento profissional com a de outras personalidades políticas influentes, para a abnegação na perseguição das metas estabelecidas, a Ad‐ concessão de um reforço de verba destinado ao Ministé‐ ministração Naval decidiu pela criação do posto de Vice‐ rio da Marinha, especificamente destinado à “constru‐ Almirante, no quadro de oficiais Fuzileiros Navais, vin‐ ção do Centro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Na‐ do o Almirante Camargo a ser promovido em 17 de no‐ vembro de 1949. vais”, no que veio a lograr o tão esperado êxito. Nesse posto, atendeu ao curso da Escola Superior As sucessivas trocas dos titulares do Ministério de Guerra em 1950 e realizou uma visita de quase um da Marinha dificultaram sobremaneira a condução dos trabalhos pelo grupo, dando oportunidade para o mês de duração, acompanhado de oficiais de seu gabine‐ te e de seu estado‐maior, ao Corpo de Fuzileiros Navais surgimento de outras propostas para a ocupação do ter‐ dos Estados Unidos, no ano de 1952. Em 1954, participou da comitiva do Ministro da Ma‐ Em dezembro de 1955, o Centro de Instrução do Corpo rinha que inspecionou os pos‐ tos de fronteira existentes ao de Fuzileiros Navais foi inaugurado em cerimônia que longo do rio Uruguai e os es‐ tabelecimentos navais do Sul contou com a presença de todos os chefes navais da do País. Como Vice‐Almirante ativa sediados no Rio de Janeiro, bem como dos vários pôde intensificar seus esfor‐ ex‐Ministros da Marinha que tiveram envolvimento no ços para a construção do Cen‐ empreendimento, e teve como principal homenageado tro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais. Passou a o VAlte(FN) Sylvio de Camargo acompanhar pessoalmente as obras na Ilha do Governa‐ 8
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dor e não raramente apresentava sugestões para supe‐ ração de problemas junto aos engenheiros responsá‐ veis. Seu empenho pessoal na condução desse projeto sofreu um grande golpe quando da perda de seu filho mais velho, o Segundo‐Tenente da Força Aérea Brasilei‐ ra Sylvio de Camargo Filho, em acidente aéreo. No en‐ tanto, sua reação, contrariando as expectativas, foi de uma maior dedicação ao trabalho, talvez como forma de compensar a grande perda sofrida. Todo esse esforço, porém, não foi em vão. Em de‐ zembro de 1955, o Centro de Instrução do Corpo de Fuzi‐ leiros Navais foi inaugurado em cerimônia que contou com a presença de todos os chefes navais da ativa sediados no Rio de Janeiro, bem como dos vários ex‐Mi‐ nistros da Marinha que tiveram envolvimento no em‐ preendimento, e teve como principal homenageado o VAlte(FN) Sylvio de Camargo. Justa homenagem àquele que dedicou sua vida ao aprimoramento do preparo pro‐ fissional dos Fuzileiros Navais e que concebeu e trans‐ ELOGIO DO MINISTRO DA MARINHA
O Ministro da Mari‐ nha, Almirante‐de‐Esqua‐ dra Antônio Alves Câma‐ ra Júnior, ao elogiá‐lo no Aviso n.º 320, disse: “1.Terminaram, re‐ centemente, os trabalhos de construção do Centro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais (...). A iniciativa da criação do centro em apreço, o plane‐ jamento das obras e a efetivação dos trabalhos de construção bem refletem o devotamento do (...) Co‐ mandante‐Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, aos AlteEsq Antônio
Alves Câmara
Júnior, Ministro da
Marinha de 11/11/
1955 a 19/08/1958
formou em realidade o sonho de prover o Corpo de Fuzi‐ leiros Navais com um centro de instrução, no qual a dou‐ trina anfíbia pudesse se desenvolver e se consolidar. Embora contra o pensamento de seus pares na Marinha, bem como os desejos da grande maioria da problemas pertinentes à instituição que tem sido, por longos anos, a sua grande inspiração na vida militar. 2.Os trabalhos realizados constituem justo motivo de orgulho para toda a Armada e o novo Centro representará, para o Corpo de Fuzileiros Navais, o símbolo de uma nova fase de preparo de seus elementos humanos, para eficaz cumprimento da Missão que lhe cabe no quadro da Segurança Nacional. 3.Por este motivo, ora resolvo elogiar o Almirante‐de‐Esquadra (FN) RRm Sylvio de Camargo, traduzindo desta forma, o reconhecimento da Marinha Brasileira à sua notável realização.” O Almirante Sylvio de Camargo
durante o seu discurso de posse ao
receber o cargo de ComandanteGeral do Corpo de Fuzileiros Navais
em 17 de novembro de 1945
oficialidade do Corpo de Fuzileiros Navais, o Almiran‐ te Camargo deu entrada em seu pedido de passagem para a reserva a 22 de dezembro de 1955, reiterando‐o mediante carta pessoal dirigida ao Ministro da Marinha, datada de 12 de janeiro de 1956, foi transferido para inatividade e promovido ao posto de Almirante‐de‐Esquadra (FN) na reserva remunerada por decreto de 24 de janeiro de 1956, posteriormente retificando para a promoção ao posto de Almirante. Com as platinas de Almirante cinco estrelas passou, em 1º de fevereiro, ao Vice‐
Almirante (FN) Rubens Constant de Magalhães Serejo, o cargo de Comandante‐Geral do Corpo de Fuzileiros Navais. O Almirante (FN) Sylvio de Camargo faleceu no dia 1º de dezembro de 1989. Como forma de homenagem e reconhecimento à sua dedicação e esforço para a criação do Centro de Instrução, este passou a denominar‐se Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, em cerimônia presidida pelo então Ministro da Marinha, Almirante‐de‐Esquadra Henrique Sabóia, no dia 16 de fevereiro de 1990. ALMIRANTE SYLVIO DE CAMARGO
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