AS IMAGENS VISUAIS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM Gabriela Barbosa Souza ¹; Lilian Miranda Bastos Pacheco ²; Nayana Sepúlveda Suzart ³ ¹ - Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia . Bolsista FAPESB. E-mail: [email protected] ²- Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia. E-mail: [email protected] ³ - Universidade Estadual de Feira de Santana- Bahia. E-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho pretende discutir como o tema Imagens Visuais e Aprendizagem tem sido abordado nos artigos publicados na base de dados Scielo.br (ScientificElectronic Library Online). Seis artigos foram encontrados utilizando os descritores “Imagens”, “Visuais” e “Aprendizagem”. Os estudos foram analisados, segundo os critérios: data de publicação, autoria, filiação institucional, objeto de estudo, aporte teórico/metodológico e conclusões. As publicações foram realizadas entre 2004 e 2013. Os autores são pesquisadores, vinculados a programas de pós-graduações de universidades públicas das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. Nota-se que a relação das imagens visuais como recurso que possibilitam aprendizagens, foi discutida a partir de distintos objetos de estudo: a importância da ferramenta computacional xLupa para alunos com baixa visão; exploração da relação entre as artes verbais dos falantes de pano da Amazônia ocidental e um repertório de desenhos elaborados por xamãs; estágio inicial da aprendizagem de deficientes visuais através do Sistema de Substituição Tátil-visual; contribuições do uso de imagens visuais no processo de aprendizagem de uma jovem surda; uso de narrativas e desenhos no ensino de temas geocientíficos e o desenvolvimento de habilidades para a compreensão e geração de textos visuais. Em relação ao aporte teórico/metodológico, percebe-se diversidade de abordagens. Constatou-se que os estudos enfatizaram a importância das imagens visuais como estratégia interdisciplinar facilitadora da aprendizagem em seus aspectos cognitivos, sociais e culturais. Os estudos destacaram também, o uso das inovações tecnológicas a favor da aquisição de conhecimento, principalmente no contexto da Educação Inclusiva. Palavras-chave: Imagens, visuais, aprendizagem. INTRODUÇÃO A imagem visual é uma linguagem que possibilita a representação da realidade concreta e, principalmente abstrata. De acordo com Martins, Gouvea e Piccini (2005, p.38), a linguagem visual “se constitui em um sistema de representação simbólica, profundamente influenciado por princípios que organizam possibilidades de representação e de significação em uma dada cultura (...)”. Nessa perspectiva, considera-se que a imagem se caracteriza como um ato universal e simbólico, onde a mesma imagem pode comunicar algo aqui e em outro lugar qualquer do mundo, mesmo assumindo significados diversos. Corroborando com essa ideia, Nery e Batista (2004) consideram que as imagens visuais por sua natureza polissêmica, significados diversos e até incongruentes, presentes literalmente ou em sentido figurado, possibilita a percepção dos signos. Estudiosos (NERY e BATISTA, 2004; ZAMBONI, 1998) tem considerado um desafio tornar as imagens visuais, como recurso pedagógico facilitador da aprendizagem, acessível e disponível para os estudantes no contexto educacional. Nessa perspectiva, considera-se que o trabalho com as representações figurais pode possibilitar o aspecto lúdico às experiências de aprendizagem no ambiente educacional. O presente trabalho pretende discutir como o tema Imagens Visuais e Aprendizagem tem sido abordado nos artigos publicados na base de dados Scielo.br (ScientificElectronic Library Online). METODOLOGIA Realizou-se um estado da arte na base de dados digital Scielo.br. Esta pesquisa tem um caráter bibliográfico, o que segundo Ferreira (2002) permite realizar um levantamento sobre um tema em um período delimitado, em um suporte textual específico, em diferentes campos do conhecimento, na busca de encontrar respostas a partir da análise de aspectos, dimensões, épocas e lugares de dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários ou outros. A escolha da metodologia estado da arte se justifica pela possibilidade de atualização constante das pesquisas publicadas em diferentes áreas de conhecimentos sobre o tema específico, ao mesmo tempo em que socializa o conhecimento sistematizado e apresenta as possíveis lacunas existentes entre as produções. Na busca de mapear os artigos disponibilizados na base de dados Scielo.br, que discutem a relação entre imagens visuais e aprendizagem, iniciamos a presente pesquisa a partir do descritor “imagens”, na qual foram localizados 2.923 artigos. Ao cruzar o referido descritor com a palavra “visuais”, foram encontrados 70 publicações. Por fim, na tentativa de alcançar o objetivo do presente estudo, utilizamos os descritores “imagens”, “visuais” e “aprendizagem”, na qual foram encontrados 6 artigos.Os estudos foram analisados, segundo os critérios: data de publicação, autoria, filiação institucional, objeto de estudo, aporte teórico/metodológico e conclusões. A RELAÇÃO ENTRE IMAGENS VISUAIS E APRENDIZAGEM Autores (NERY e BATISTA, 2004; OLIVEIRA, 2007; KASTRUP et al., 2009; BIDARRA, BOSCARIOLLI e PERES, 2011; CESARINO, 2013; COMPIANI, 2013) tem discutido a relação entre as imagens visuais e aprendizagem em diversos contextos. Nery e Batista (2004), em seu artigo intitulado Imagens visuais como recursos pedagógicos na educação de uma adolescente surda: um estudo de caso, publicado na Revista Paidéia, objetivaram discutir as possíveis contribuições do uso de imagens visuais no processo de aprendizagem de uma jovem surda, durante os atendimentos em pedagogia, em clínica-escola especializada. Os autores abordam o uso de imagens visuais, a partir da experiência de ensino e pesquisa em arte-educação de Reily (2003), como recurso pedagógico no trabalho com crianças surdas. A abordagem sóciointeracionista, destacando os pressupostos da Psicologia Sócio–histórica de Vygostky, fundamenta o aporte teórico da pesquisa. Nery e Batista (2004) realizaram sua pesquisa através de estudo de caso. O sujeito de pesquisa é uma jovem de 19 anos, com um quadro de surdez profunda bilateral desde bebê. Distribuíram os procedimentos e técnicas metodológicas em três sessões pedagógicas, as quais contemplavam a utilização sistemática de representações visuais (gravuras, desenho, fotos e pinturas) relacionando-as com realização de atividades de leitura, escrita e raciocínio lógico. A análise qualitativa dos dados obtidos enfatizava as seguintes questões: quais os elementos trabalhados pela adolescente, como vivenciou as situações oferecidas e mediadas pela educadora, que tipo de contato e exploração fez do material apresentado, quais relações estabelecidas com a representação visual utilizada e os seus significados. Nery e Batista (2004) concluem confirmando o efeito facilitador da imagem visual na aprendizagem educacional do surdo. Expandiu as discussões reforçando a necessidade de pesquisas e até mesmo criação de outros recursos pedagógicos que objetivem possibilitar uma metodologia e um currículo escolar que seja adequado às diferenças do aluno surdo, possibilitando sua real inclusão na escola. As autoras são pesquisadores e docentes da Universidade Estadual de Campinas. Oliveira (2007) em seu artigo intitulado Explorando o texto visual em sala de aula, publicado na Revista Trabalhos em Linguística Aplicada, objetiva explorar a existência dos novos letramentos, os quais incluem, o desenvolvimento de habilidades para a compreensão e geração de textos visuais. Como aporte teórico/metodológico, a autora discute o conceito de letramento visual e que recursos semióticos são utilizados no texto visual para a criação, estruturação e legitimação de relações sócias, fundamentando na abordagem da semiótica social de Kress e Van Leeuwen (2001). As referidas discussões teóricas orientam a autora na análise de uma foto jornalística, apresentada no referido trabalho. Oliveira (2007, p.182) ressalta a importância do letramento visual e da necessidade de sua inclusão no currículo escolar, o que “pode ser vista como uma forma de redimensionar a ênfase posta na linguagem escrita, a qual estamos acostumados na escola tradicional, em relação a outras formas de comunicação semiótica”. Nesta perspectiva, a autora destaca a importância de um letramento crítico, capaz de possibilitar a negociação de significados entre grupos culturalmente diferentes. Oliveira é professora da Universidade de Brasília. Kastrup, Sampaio, Almeida e Carijo (2009), em seu estudo, cujo título é O aprendizado da utilização da substituição sensorial visuo-tátil por pessoas com deficiência visual: primeiras experiências e estratégias metodológicas, publicado na Revista Psicologia & Sociedade, investiga o estágio inicial do processo de aprendizagem do sistema de substituição tátil-visual (TVSS), em termos tanto do desempenho dos participantes, quanto da qualidade de sua experiência. O TVSS é uma tecnologia assistiva desenvolvida para ajudar deficientes visuais a perceberem aspectos visuais de seu ambiente através do tato e contribuir para sua inclusão social. Os autores se respaldam teoricamente na Psicologia sócio-histórico de Vygotsky. Katrusp et. All (2009) utilizou como delineamento metodológico, a combinação do método experimental tradicional, com ordem predefinida de apresentação dos estímulos, ao método clínico-pedagógico, no qual os investigadores modificam esse protocolo em função do feedback fornecido pelos voluntários e da entrevista de explicitação, realizada no início e no final do treino. Desta forma, os autores selecionaram quatro participantes totalmente cegos, mas com experiências de cegueiras diferentes, com variação de idade entre 20 e 66 anos, de ambos os sexos e categoria sócio-profissional variada. Esses foram treinados com o Brainport® (a última versão do TVSS), no qual imagens visuais transformadas são exploradas pela língua. Os dados foram obtidos através dos registros de desempenho sobre a execução das tarefas e de entrevistas de explicitação sobre a vivência dos voluntários. Os autores consideram que o desempenho inicial parece ser um bom indicador das capacidades de aprendizagem. Katrusp et. all (2009), ainda indicam a necessidade de aprofundar o estudo sobre outras estratégias interdisciplinares que possibilite melhor qualidade na utilização dessa tecnologia assistiva. Os autores Kastrup, Carijo e Almeida são pesquisadores na área da Psicologia e docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a autora Eliana Sampaio é membro do Conservatoire National dês Arts et Métiers em Paris, na França. Bidarra, Boscarioli e Peres (2011), em seu artigo intitulado Software Xlupa – um ampliador de tela para auxílio na educação de alunos com baixa visão, publicado na Revista Brasileira de Educação Especial, apresentam a ferramenta computacional denominada xlupa. Essa ferramenta refere-se a um ampliador de imagens e textos em telas de computador para alunos com baixa visão. Os autores se fundamentaram teoricamente em Santarosa (2000) e Koon (2000), dentre outros autores, para destacar o desafio presente nas sociedades modernas, quanto a busca de mediadores para as situações enfrentadas pelas pessoas com limitações físicas/mentais, destacando nesse contexto, o uso de tecnologias assistivas. Os autores desenvolveram uma metodologia mista, a partir de diversos procedimentos metodológicos, tais como: aplicação de questionários, atividades escolares utilizando a ferramenta xLupa e a realização de baterias de testes avaliativos do amplificador xLupa. Com base nas avaliações feitas em laboratório e em campo, Bidarra, Boscarioli e Peres (2011) percebem que a ferramenta do xLupa embora não seja exatamente um software educacional, vem sendo utilizado por professores e especialistas em educação inclusiva como um recurso de apoio à educação especial e de promoção de inclusão. Além disso, os autores consideram que o xlupa vem atendendo satisfatoriamente as principais necessidades especiais de usuários com baixa visão. Bidarra e Boscarioli são vinculados ao Departamento de Ciência da Computação e Núcleo de Inovações Tecnológicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Peres é vinculada à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Cesarino (2013), em seu artigo intitulado Cartografias do cosmos: conhecimento, iconografia e artes verbais entre os Marubo, publicado na Revista Mana, objetivou explorar a relação entre as artes verbais e um repertório de desenhos elaborados por xamãs Marubos, os quais são falantes da língua pano da Amazônia ocidental. A partir da solicitação do pesquisador, os xamãs construíram um repertório de imagens. Tendo a etnografia como aporte teórico e prático, a análise das composições visuais foi conduzida em paralelo com o estudo das fórmulas poéticas verbais xamanísticas. O autor levou em consideração as especificidades da memória, da transmissão, da aprendizagem e da aquisição de conhecimento especializado. A partir da análise das imagens, o autor considera que os esquemas cosmográficos visuais possuem afinidades com outras tecnologias ameríndias da memória, também marcadas pelo diálogo entre expressões verbais e gráficas, os quais se articulam a elementos da cosmologia e do pensamento xamanístico. Cesarino é professor do Departamento de Antropologia da USP. Compiani (2013), em seu artigo Narrativas e desenhos (imagens) no Ensino Fundamental com temas geocientíficos, publicado na Revista Ciência e Educação, objetiva discutir sobre o uso de narrativas e desenhos no ensino de temas geocientíficos na escola básica. O autor foca as atividades resultantes de dois projetos de formação continuada no Ensino Fundamental, desenvolvidas por professoras de Português, Geografia e Artes que trabalham articulações entre observação-leitura, com elaboração de textos/narrativas, descrições/narrativas, representações visuais e visoverbais (desenhos) de objetos ou eventos geocientíficos. As atividades foram desenvolvidas em salas de aula, com alunos da 5ª a 8ª séries, com faixa etária de 11 a 14 anos. Como aporte teórico/metodológico, o autor utilizou a perspectiva teórica de Bruner (1997) na compreensão de narrativa como forma de pensar e estruturar o conhecimento do sujeito sobre o mundo. Já para as imagens e os desenhos como formas importantes de se pensar e estruturar nossas conceituações sobre o mundo, o autor se fundamenta no trabalho de Célia Almeida (1990). Além disso, o autor se fundamenta na abordagem semiótica em Geologia de C. Paschoale (1989) e nas ideias de M. Santaella (1996). Quanto às relações entre imagem, percepção e pensamento, o autor se fundamenta nas ideias da Gestalt trabalhadas por R. Arnheim (1980, 1987). Compiani (2013) ressalta a importância das atividades desenvolvidas pelo projeto, visto que possibilitou o diálogo entre distintas disciplinas. Além disso, o autor destaca a relevância das atividades de campo, visto que possibilita aos alunos voltar-se para a espacialidade e temporalidade do contexto real, o que pressupõe relações histórico-argumentativas com esse contexto e com os interlocutores, alunos, professores e membros de comunidades. Compiani é vinculado ao Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Com base na análise dos estudos, nota-se que foram publicados no período de 2004 a 2013. Destaca-se que na base de dados pesquisada, os estudos que abordam o uso das imagens visuais e sua relação com aprendizagem, só foram publicados a partir do ano de 2004, o que leva a reflexão que essa temática vem ganhando importância, o que pode-se justificar pelos avanços das tecnologias de comunicação. Nota-se também, uma tendência de temática vinculada aos anos de publicação. No período de 2004 a 2011, os estudos (NERY e BATISTA, 2004; KATRUSP, 2009; BIDARRA, BOSCARIOLLI e PERES, 2011) abordam o uso de imagens em tecnologias assistivas a favor da aprendizagem, com exceção do estudo de Oliveira (2007). O artigo de Oliveira (2007) e Compiani (2013) se referem a atividades em contexto educacional, já Cesarino (2013) aborda um contexto educacional e cultural indígena. Os autores são pesquisadores, vinculados a programas de pós-graduações de universidades públicas das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. Os estudos foram publicados em revistas de diversas áreas, tais como Línguística, Ciências, Educação, Educação Especial e Psicologia. A relação das imagens visuais como recurso que possibilitam aprendizagens, foi discutida a partir de distintos objetos de estudo: a importância da ferramenta computacional xLupa para alunos com baixa visão (BIDARRA, BOACARIOLI e PERES, 2011); exploração da relação entre as artes verbais dos falantes de pano da Amazônia ocidental e um repertório de desenhos elaborados por xamãs (CESARINO, 2013); estágio inicial da aprendizagem de deficientes visuais através do Sistema de Substituição Tátil-visual (KASTRUP et al., 2009); contribuições do uso de imagens visuais no processo de aprendizagem de uma jovem surda (NERY e BATISTA, 2004); uso de narrativas e desenhos no ensino de temas geocientíficos e o desenvolvimento de habilidades para a compreensão e geração de textos visuais (OLIVEIRA, 2007). No que se referem aos aportes teóricos, os autores se fundamentaram em diversas abordagens a depender do tema em estudo. No entanto, a abordagem da Psicologia Sócio-histórica de Vygotsky foi recorrente em dois estudos (KASTRUP et al., 2009; NERY e BATISTA, 2004). A abordagem semiótica também foi discutida em dois estudos, entretanto com focos diferenciados: Oliveira (2007) se fundamenta na Semiótica social de Kress e Van Leuwen, já Compiani (2013) na abordagem semiótica em Geologia de C. Paschoale e nas ideias de M. Santaella. Quanto à metodologia, houve uma diversidade de procedimentos, a saber: metodologia mista (BIDARRA, BOSCARIOLI e PERES, 2011); Etnografia (CESARINO, 2013); análise de atividades realizadas em sala de aula (COMPIANI, 2013); combinação do método experimental ao método clínico pedagógico (KASTRUP et al., 2009); estudo de caso (NERY e BATISTA, 2004) e pesquisa bibliográfica e análise de imagem (OLIVEIRA, 2007). Constatou-se que os estudos enfatizaram a importância das imagens visuais como estratégia facilitadora e interdisciplinar da aprendizagem em seus aspectos cognitivos, sociais e culturais. Os estudos destacaram também, o uso das inovações tecnológicas a favor da aquisição de conhecimento, principalmente no contexto da Educação Inclusiva. Nessa perspectiva, a seguir são discutidas algumas contribuições das imagens visuais para a aprendizagem, destacadas nos estudos. CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO COM IMAGENS VISUAIS O trabalho com imagens visuais tem mediado o processo de aprendizagem em diversos âmbitos, seja no ambiente formal da sala de aula, seja em ambientes não-formais. Cesarino (2013) ao analisar as imagens criadas por Xamãs Marubos, consideram que estas provém da mitologia transmitida, e que representam as cosmologias do referido povo. Nesse contexto, nota-se que as imagens podem mediar o processo de conhecimento cultural e sociocósmico do povo Marubo, bem como serem utilizadas como meios educacionais a ser trabalhadas pelas comunidades na transmissão de seus conhecimentos de geração a geração. Já Compiani (2013) enfoca a importância das imagens no contexto da sala de aula e nas atividades de campo realizadas com os alunos, visto que o autor considera que a linguagem visual é decisiva para uma maior e complexa significação dos diferentes pontos vistos em campo. Nesse contexto, Compiani (2013, p.734) ressalta que: (...) para um modo de pensar mais histórico-argumentativo, a linguagem visual conjugada com a verbal é fundamental. Não é tarefa simples trabalhar de modo interdisciplinar e introduzir atividades com desenhos, buscando o discernimento de formas, objetos, contextos que são tão relevantes para a elaboração de padrões visoespaciais de um fenômeno, uma vez que nossa escola é marcadamente verbal. As abstrações visuais que esses estudantes fizeram são diferentes das abstrações verbais. Colaborando com essa perspectiva, Oliveira (2007, p. 195) destaca a importância da inclusão do letramento visual no currículo escolar e o redimensionamento da ênfase posta na linguagem escrita. Nesse contexto, a autora ressalta a relevância de que os alunos sejam: Conscientizados para identificar o papel que a imagem desempenha em contextos variados, questionar a intenção do fotógrafo e como tal intenção se realiza por meio do uso de cores, enquadramento, posições, ângulos, e o que ele pretendeu comunicar com isso tudo, bem como a intenção que circunstancia a veiculação de tal imagem. Nota-se a importância do letramento visual, bem como a importância desse trabalho ser considerado nos currículos escolares, visto que pode possibilitar a interdisciplinaridade. Além disso, destaca-se a relevância do trabalho com imagens de forma crítica e analítica, o qual poderá viabilizar o desenvolvimento de um pensamento mais histórico-argumentativo. Autores (BIDARRA, BOACRIOLI e PERES, 2011; KASTRUP et al., 2009; NERY e BATISTA, 2004) tem enfocado também a importância do trabalho com as imagens para o contexto da Educação inclusiva. Em seus estudos Katrusp et. all (2009) apresentam dados que confirmam os esforços de engenheiros, educadores e terapeutas para o desenvolvimento e utilização de tecnologia assistiva para pessoas com deficiências, e que infelizmente muitas vezes, são fadados ao fracasso. Por outro lado, ideias brilhantes, associadas a implementação tecnológicas, resultam frequentemente em dispositivos de alta qualidade. Sob essa perspectiva, os autores enfatizam seus estudos para aprendizagem inicial de pessoas com deficiência visual do TVSS, o qual relaciona imagens visuais com aprendizagem sensorial dos estímulos apresentados. Corroborando com essas ideias, Nery e Batista (2004) apresentam as concepções da Pedagogia da inclusão, na qual propõe um processo de aprendizagem cooperativo, que respeite os diferentes estilos de aprender e a singularidade dos aprendizes. Portanto, a busca de estratégias promotoras de aprendizagem deve pretender o desenvolvimento do seu potencial, contemplando as necessidades de todos os sujeitos. É neste sentindo, que Nery e Batista (2004, p.289) consideram que as imagens visuais, podem favorecer a comunicação, aquisição e compartilhamento de informações. A partir dos resultados de suas pesquisas, as autoras evidenciam que: Com o uso das representações visuais, suas interações com a educadora foram se tornando cada vez maiores e mais ricas. Utilizando as gravuras de objetos de arte (de natureza polissêmica, com mais de um atributo, função e sentido) e seus desenhos, Janete estabeleceu relações de seus conhecimentos com a vida cotidiana (pensamento relacional), e seus diálogos se tornaram mais elaborados. As representações visuais favoreceram uma conversação, maior concentração e manutenção do diálogo. Ainda sob a ótica da educação inclusiva e demandas especiais na aprendizagem escolar, Bidarra, Boscariolli e Peres (2011) defendem a utilização das imagens visuais na aprendizagem de estudantes com baixa visão, através do amplificador xLupa. Através da ampliação das imagens, o estudante passa a “enxergar” novas informações, de maneira que ainda não lhe havia sido possível. Nesse contexto, nota-se que os autores (BIDARRA, BOACRIOLI e PERES, 2011; KASTRUP et al., 2009; NERY e BATISTA, 2004) destacam não apenas a mediação das imagens visuais para aprendizagem inclusiva, mas realizam discussão sobre a intervenção com estratégias pautadas nas inovações tecnológicas e ferramentas assistivas, contribuindo para a melhor qualidade no manejo das atividades. Diante da análise dos estudos citados, nota-se que as imagens visuais se constituem um importante mediador para aprendizagem. CONCLUSÕES Com base nas leituras e discussões, nota-se que as imagens visuais e sua relação com a aprendizagem, tem sido enfatizadas, a partir de diferentes enfoques, públicos, aportes teóricos e metodológicos. No entanto, nota-se que em todos os estudos, as imagens visuais podem favorecer o processo de aprendizagem. A maior parte dos estudos (NERY e BATISTA, 2004; OLIVEIRA, 2007; BIDARRA, BOSCARIOLI e PERES, 2011; COMPIANI, 2013) evidencia essa aprendizagem no meio educacional, mas fazem referencia a aprendizagem em contextos não-formais (KASTRUP et al. 2009; CESARINO, 2013). A partir das discussões dos estudos, é importante destacar que é uma tendência, nas pesquisas citadas, considerar o contexto social, cultural e o ambiente físico como fatores extremamente importantes para o processo de aprendizagem. Nota-se também, que metade dos estudos (NERY e BATISTA, 2004; KASTRUP et al., 2009; BIDARRA, BOSARIOLE e PERES, 2011) contemplou as imagens visuais como recurso facilitador da aprendizagem para o contexto da Educação Inclusiva, atendendo suas demandas e necessidades especiais. Destaca-se que apesar da presente pesquisa ter sido realizada em uma única base de dados, considera-se que há um número restrito de estudos relacionados ao tema. Percebeu-se também que as imagens visuais não são abordadas como recurso pedagógico no contexto educacional para faixas etárias maiores, tais como no ensino superior, ou na educação de jovens e adultos. Essas são lacunas, que foram notadas durante o desenvolvimento da pesquisa e que merecem ser investigadas com maior profundidade. Desse modo, é recomendável para futuros trabalhos acerca do tema. No entanto, consideramos que as discussões suscitadas nesse estudo, trouxeram a tona, a temática “imagens visuais” e sua relevância para o processo de aprendizagem, mostrando sua complexidade e abrangência de estudos em diversas áreas de conhecimento. Destaca-se a importância de que estas sejam inseridas no currículo escolar. Por fim, acredita-se que o esforço empreendido nesta pesquisa, não esgotou as possibilidades de novos estudos neste campo, tendo em vista a importância de discutir novas propostas de trabalho com as imagens visuais e sua relação com a aprendizagem. 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