Jornal da FEBRASGO Ano 16 – edição 102 – Março 2009 Jornal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Pesquisa Exclusiva Ginecologistas e obstetras apontam os principais problemas dos sistemas público e suplementar de saúde Atualização Tudo sobre o 530 Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia Caso Alagoinhas FEBRASGO se solidariza com a equipe médica SINDICAL: Os desafios da classe médica para 2009 FEBRASGO 50 ANOS Meio século de existência em prol da saúde da mulher editorial Febrasgo – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia www.febrasgo.org.br [email protected] (11) 5573-4919 Presidente: Nilson Roberto de Melo Secretário executivo Francisco Eduardo Prota Secretária executiva adjunta Vera Lúcia Mota da Fonseca Tesoureiro Ricardo José de Oliveira e Silva Tesoureira adjunta Mariângela Badalotti Vice-presidente da Região Norte Pedro Celeste Noleto e Silva Vice-presidente da Região Nordeste Francisco Edson de Lucena Feitosa Vice-presidente da Região Centro-Oeste Hitomi Miura Nakagava Vice-presidente da Região Sudeste Cláudia Navarro Duarte Lemos Vice-presidente da Região Sul Almir Antonio Urbanetz Assessor da Presidência Etelvino de Souza Trindade Jornal da Febrasgo Editor: Nicolau D’Amico Filho Jornalista responsável: Chico Damaso – MTB: 17.358/SP - Redação: acontece@ acontecenoticias.com.br - Impressão: Zeppelini Editorial - zeppelini@zeppelini. com.br - Tel.: (11) 2978-6686 ÍndIce Raio-X da Saúde no Brasil . ................3 Coluna da AMB...................................... 5 53º CBGO..................................................6 Mudanças na Prova do TEGO............6 Curtas.........................................................7 Especial FEBRASGO 50 anos..............8 Caso Alagoinhas................................. 10 Entrevista FENAM............................... 12 Parto: um ato médico....................... 13 RS: Serviço de GO do HCPA ........... 14 Jurídico: prevenção de processos.... 15 fórum do associado R Atenção à gestante, saúde para o bebê ecentemente divulgada pelo Ministério da Saúde, uma pesquisa dá conta de que 71% das mortes de crianças de até 1 ano de idade poderiam ter sido evitadas. Segundo o estudo, boa parte dos casos é consequência de falta de ação adequada no diagnóstico, tratamento, imunização e também no combate à desnutrição infantil. Ou seja, com melhor atendimento à gestante e ao recém-nascido, 7 de cada 10 mortes de bebês no Brasil, não aconteceriam. Esses números revelam a deficiência no atendimento à gestante e na assistência durante o parto. Os problemas relacionados à falta de atenção ao bebê nos primeiros dias de vida, que englobam o acesso a medicamentos adequados e atendimento especializado nos casos mais graves, poderiam ser minimizados com um acompanhamento adequado na gestação. A pesquisa do Ministério da Saúde evidencia que grande parte dos problemas de saúde diagnosticados nos primeiros dias de vida poderia ser detectada e quem sabe tratada ainda antes do nascimento. Essa é uma das principais razões das consultas prénatais e dos exames solicitados pelo obstetra; eles são fundamentais tanto para a mãe quanto para o bebê. Um diagnóstico precoce e tratamento correto representam mais tranquilidade e mais chances de um parto seguro e uma criança saudável. No Brasil, aliás, temos tecnologia e especialistas plenamente capacitados para diagnosticar e tratar os mais diferentes males que podem acometer a gestante e prevenir que prejudiquem o feto. Falta distribuí-los corretamente de modo que todas as gestantes tenham acesso, e também instruí-las corretamente para que saibam a importância de uma visita ao médico para as primeiras orientações antes mesmo de engravidar. Até o número de mortes inevitáveis, que são aquelas provocadas por doença sem cura ou por malformação incompatível com a vida, pode ser reduzido. É o caso das mortes decorrentes da anencefalia. Em recente estudo promovido pela FEBRASGO, 83% dos médicos entrevistados afirmaram já ter atendido grávidas com feto portador da anomalia, cerca de 6,5 casos por profissional. Dessas gestantes, 84,8% manifestaram o desejo de interromper a gestação, mas apenas 37% conseguiram a autorização judicial a tempo. Ou seja, pouco mais de 6.100 mulheres tiveram seus pedidos negados ou não receberam o parecer a tempo, tendo levado as gestações até o final ou passado por abortamento espontâneo. Estes e milhares de outros anencéfalos que sobreviveram até o parto hoje engrossam as estatísticas de mortalidade infantil, já que a anomalia é incompatível com a vida e leva 100% dos casos ao óbito geralmente poucas horas após o nascimento. Se o desejo da gestante de antecipar o parto fosse atendido, não apenas reduziria os índices de mortalidade infantil, como resguardaria essas mulheres de uma gravidez de risco, amenizando seu sofrimento e dor durante meses a fio. A terceira edição da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS2006) igualmente apresenta dados relevantes sobre a assistência à gestação e ao parto. Um deles é o aumento do número de mulheres que realizaram um mínimo de seis consultas pré-natal: 77%. Destas, 61% compareceram a sete ou mais consultas de pré-natal, contra 47% em 2006. É um avanço. O resultado foi o aumento de exames realizados e do diagnóstico de doenças como a sífilis. Apesar disso, a mortalidade materna no Brasil ainda é alta. Será que todas as mulheres que passam por essas consultas têm acesso aos exames solicitados? A realização de exames e especialmente de ultrassom no sistema público é muito difícil. Poucas conseguem realizar duas ou mais ultrassonografias. O momento, agora, é de voltar a atenção não apenas para o número de consultas ou para a cobertura do pré-natal, mas para a qualidade desse acompanhamento. Nilson Roberto de Melo - Presidente O Jornal da Febrasgo mantém um espaço para interlocução permanente com os leitores: o Fórum do Associado. Ficaremos muito honrados em tê-lo como colaborador. Ajudar a enriquecer nossa publicação é importante e simples: basta enviar suas impressões e sugestões para o e-mail [email protected] ou por carta para a rua Cotoxó, 303, conjunto 82, Perdizes, São Paulo, SP, CEP 05021-000, aos cuidados da Comunicação. Desde já, agradecemos o seu apoio. Jornal da FEBRASGO – Março 2009 P esquisa com as representações estaduais dos ginecologistas e obstetras de todo o país mostra os principais problemas da especialidade nos sistemas público e suplementar Um levantamento junto aos presidentes (fotos nas próximas páginas) das 27 federadas da FEBRASGO acaba de traçar um importante panorama de como anda o exercício da ginecologia e obstetrícia no Brasil. Na pesquisa exclusiva, da qual participaram os presidentes das regionais, representando um total de 18 mil especialistas, foram identificados os principais problemas dos sistemas público e suplementar de saúde, os anseios e as perspectivas desses profissionais. Os resultados mostram um médico com uma rotina extremamente desgastante, sem o devido respeito do governo, de seus empregadores e das empresas de saúde suplementar. Falta de condições adequadas de trabalho e de equipamentos em boas condições, de acesso a medicamentos e dificuldade para a realização de exames subsidiários são algumas das principais queixas. A realidade é ainda pior fora das capitais. Esse, aliás, é um dos motivos pelos quais muitos profissionais relutam em trabalhar em áreas remotas ou nas periferias. A baixa remuneração (70%) não compensa, assim como a falta de um plano de carreira com estabilidade. Muitos outros problemas são apontados, entre eles, a escassez de infra-estrutura para o médico e para a sua família (78%), a ausência de oportunidades de educação continuada (55%) e a falta de treinamento adequado e segurança para atuar nestas regiões (41%). Setor público Quanto ao setor público, 85% dos entrevistados avaliam as condições de trabalho como regulares, ruins ou péssimas. Somente 15% afirmaram que as consideram boas. Ninguém as considerou ótimas. Os principais problemas que interferem na qualidade do atendimento são, para 81%, falhas na gestão, seguidos por honorários vis (74%) e falta de financiamento (45%). A maioria (63%) também se queixa da falta de autonomia profissional na rede especial Federadas da FEBRASGO fazem um raio-X da saúde no Brasil pública. Superlotação dos serviços, carência de medicamentos, dificuldade de acesso a exames e tratamentos, assim como limitação das quantidades daqueles ditos de alto custo, sobrecarga de trabalho e baixa remuneração foram alguns dos problemas destacados como limitantes da atuação. A interferência de outras categorias profissionais, como enfermeiras e fisioterapeutas, que diagnosticam doenças, determinam condutas e prescrevem medicamentos, além dos partos domiciliares e as problemáticas casas de parto administradas por enfermeiras, também mereceram lembrança. Ainda assim, para 67%, o SUS é uma alternativa viável para a resolução dos problemas de saúde do brasileiro. Somente 7% não acreditam no sistema, enquanto que os demais 26% concordam que pode ser resolutivo, mas fazem ressalvas. Saúde suplementar A relação dos médicos com os planos e seguros-saúde não é das melhores. Cerca de 72% sentem-se pressionados. Jornal da FEBRASGO – Março 2009 especial Albertino Moreira Bastos - APGO Geraldez Tomaz ASGOPA Gilda Maria Leite de Araújo - SOCEGO Ana Virgínia Gama Manduca - SOGITO Victor Hugo de Melo - SOGIMIG Manoel Pereira Pinto Filho - SOGISC Krikor Boyaciyan - SOGESP Juarez Antonio de Sousa - SGGO James José de Carvalho de Cadidé - SOGIBA Hélvio Bertolozzi Soares - SOGIPA A maioria, inclusive, tem conhecimento de denúncias de restrições ao número de exames, internações ou procedimento. Para 88%, a ANS não tem sido eficaz na regulação entre operadoras e prestadoras, até mesmo quanto ao índice de correção de honorários. O resultado é que não houve uma só indicação de que a relação planos/ médicos seja ótima. Apenas 33% a consideram boa, sendo que os demais 67% a caracterizam como regular, ruim ou péssima. E quem está satisfeito ainda ressalva: 77% queixam-se de interfe- rência na autonomia da prática médica, tais como glosas em procedimentos ou medidas terapêuticas (63%), restrição a exames (59%) e interferência de auditores (59%), entre muitas outras. A baixa remuneração é apontada por 74%. Aliás, também para 74% dos entrevistados há falhas na legislação para garantir a autonomia do médico, bem como ausência de políticas de reajustes periódicos dos valores da prestação de serviços (93%). A insatisfação, de acordo com 78%, também atinge os usuários que regularmente se queixam de seus planos nos consultórios. Frederico José Silva Corrêa - SGOB Vera Lúcia Mota da Fonseca - SGORJ Neide Aparecida Tosato Boldrini - SOGOES Maristela Vargas Peixoto - SOGOMAT-SUL Maria Grasiela Correia Leite - ASSAGO Telmo Henrique Barbosa de Lima - SOALGO Jornal da FEBRASGO – Março 2009 Ginecologia e obstetrícia Falando particularmente da especialidade, os problemas também são inúmeros e levam o país às altas taxas de mortalidade materna e índice de cesáreas muito acima do preconizado pela Organização Mundial da Saúde. Isso sem falar no grave problema do aborto inseguro, banalização da violência contra a mulher e da falta de informação e acesso a prénatal e anticoncepcionais. Para reduzir a mortalidade materna no país, segundo 96% dos entrevistados, é primordial melhorar o atendimento pré-natal. Qualificar o Ensino Médico (59%), intensificar campanhas de prevenção da gravidez indesejada (59%), ampliar a distribuição de camisinhas e pílulas anticoncepcionais (33%) e a legalização do aborto (15%) foram as demais alternativas apontadas. Ou seja, segundo a pesquisa, escolas médicas despreparadas, que não possuem hospitais adequados, atenção Ana Cristina Pinheiro Fernandes de Araújo - SOGORN Beatriz Valiati SOGIRGS Aljerry Dias do Rego - SOGOAP José Antônio do Nascimento Filho - SOGORR básica que não fornece condição de avaliação de risco e sistema de referência, um sistema público que atua em caráter precário, operadoras que não cuidam dos pacientes devidamente, falta de planejamento familiar e condição econômica, social e cultural dos pacientes são fatores que dificultam a redução dos índices de mortalidade materna no país. As sugestões são investir não apenas em educação continuada, mas também na formação de equipes e protocolos realistas para melhorar o atendimento à gestante. Parto normal x cesárea A insegurança no médico também foi bastante discutida, especialmente frente à falta de infraestrutura, equipamentos e recursos humanos. Esse é um dos principais motivos que levam esses profissionais a realizar cada vez mais cesáreas, mesmo em condições de um parto normal. Roosevelt Furtado de Vasconcelos - SOPIGO Hoje, no Brasil, usuárias de planos de saúde dão corpo a índices inaceitáveis de parto por cesárea. As parturições naturais ocorrem abaixo da normalidade mesmo em hospitais públicos. Falta de preparo do obstetra, má remuneração e ausência de anestesistas são alguns dos determinantes. Isso sem falar da influência cultural, desinformação e até mesmo falta de tempo do médico para dar a assistência e qualidade necessárias ao atendimento. Mais um grave problema identificado: a cesárea (especialmente a desnecessária) traz vantagens no quesito remuneração, visto que o médico recebe apenas pelo parto, e não pelas horas de assistência durante o trabalho de parto. Entre os questionários recebidos, 63% afirmavam realizar mais de 51% de partos cesáreas. Somente 15% deles realizam no máximo 30% de cesáreas, o que equivale a duas vezes mais do que à recomenda a OMS. Eline Gurgel Prado de Oliveira - SOGISE Vilma Guimarães de Mendonça - SOGOPE Maria Helena de Assunção Pestana - SOGIMA Paulo Roberto Dutra Leão - SOMAGO Siglia S. de França - ASOGIAC Maria da Conceição Ribeiro Simões ASSOGIRO especial Cidades sem médicos Fala-se há muito tempo em interiorização de médicos no Brasil. É certo que o país tem um número excessivo de médicos em relação à capacidade do sistema de saúde pública de absorvê-los. São várias as razões determinantes dessa distribuição iníqua. A primeira é a falta de resolutividade nas estruturas de saúde encontradas nas regiões hoje desassistidas. Isso faz com que o médico ali instalado não tenha condições de ver tornadas efetivas suas ações. O sistema de saúde precisa ter efetividade técnica tanto em termos de recursos de diagnóstico como em opções de referenciamento. Em segundo lugar, para que um médico se fixe é necessário que haja ambiente de trabalho adequado. Pressões, sejam elas associadas ao excesso de demanda, à insuficiência de recursos ou mesmo ao uso político do médico por autoridades e gestores locais, tornam insustentável a sua permanência em certos municípios. O terceiro ponto é a impossibilidade de desenvolvimento profissional. No Sistema Único de Saúde não existe carreira que permita ao médico desenvolver-se e eventualmente qualificar-se para postos compatíveis com sua vida profissional, pessoal e familiar. O que nos surpreende é que todas essas causas de fixação ou migração são bastante conhecidas e estudadas. Os que gerenciam a saúde, porém, insistem em ignorá-las. Perdem-se em alternativas periféricas que apenas acrescentam distorções, degradando a profissão médica e ampliando o fosso que nos aparta do mundo desenvolvido. José Luiz Gomes do Amaral, presidente Jornal da FEBRASGO – Março 2009 o que vem por aí 530 CONGRESSO BRASILEIRO DE GINECOLOGIA Minas Gerais se prepara para receber congressistas de todo o país Igrejinha da Pampulha, Belo Horizonte O Estado de Minas Gerais, mais precisamente a capital, Belo Horizonte, aguarda ansiosamente o 53º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia. Motivos não faltam: além de a FEBRASGO ter nascido na capital mineira, este é o cinquentenário de sua fundação. Mais do que isso, é a primeira vez, nesses 50 anos, que o maior evento da GO do país acontece por lá. “Nossa expectativa é muito grande, e estamos trabalhando bastante para fazer um congresso à altura. Da programação cientifica às opções de lazer, todos os detalhes estão sendo cuidados para a concretização de um evento que se torne inesquecível”, afirma Victor Hugo Melo, presidente da Comissão Científica. Segundo ele, os temas e a lista de convidados especiais ainda passam por ajustes com o intuito de oferecer o que há de mais relevante e atual na especialidade: “Além de renomados palestrantes in loco, programamos videoconferências com outros pesquisadores de renome na especialidade para que, mesmo sem sair de seus países de origem, possam nos atualizar sobre tudo o que ocorre lá fora”. A programação também trará algumas novidades em relação às edições anteriores, adianta Victor Hugo: “Inédita em nosso Congresso Brasileiro, a discussão interativa já vem sendo experimentada em alguns eventos regionais com sucesso absoluto. Trata-se da apresentação de casos, seguida de perguntas dos membros da mesa. A plateia, então, responde por meio de equipamento especial e os votos são computados. Com base nos resultados, erros e acertos, segue o debate sobre o caso clínico. O modelo atrai a atenção de todos participantes, tornando os trabalhos ainda mais interessantes e produtivos”. Prova de Título de Especialista Mudanças propostas pela AMB visam a padronizar avaliação entre as especialidades E m decorrência do convênio entre o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Comissão Nacional de Residência Médica foi ratificada nova sistemática para a concessão e registros de títulos de especialista e/ou certificados de área de atuação por meio da Resolução CFM 1.785/2006. O objetivo é desburocratizar e facilitar o recebimento do Título de Especialista ou Certificado de Área de Atuação, padronizando os modelos de avaliação entre as diferentes especialidades. O intuito é melhorar cada vez mais a avaliação, e consequentemente a formação médica no Brasil. Jornal da FEBRASGO – Março 2009 Segundo Aldemir Humberto Soares, secretário-geral da AMB, “a padronização de aplicação dos exames para título de especialista e áreas de atuação é mais um mecanismo adotado pela AMB como reforço na valorização do trabalho médico especializado. Ao mesmo tempo, promoverá uma maior equidade nos exames das diferentes associações”. Os exames de suficiência permanecem sendo organizados e realizados pelas respectivas Associações de Especialidade, sempre de acordo com os critérios estabelecidos pelo convênio celebrado entre a AMB, o CFM e a CNRM. Um dos pontos que merece destaque no Exame de Suficiência é a exigência de, no mí- A expectativa da FEBRASGO é de manter o ritmo de crescimento, superando a marca dos quase 7.800 participantes de 2007, em Fortaleza, Ceará. “É com grande orgulho que vemos os congressos de nossa entidade entre os maiores do mundo dentro da especialidade”, afirma Nilson Roberto de Melo, presidente. “Destaco ainda a importância do evento para a recertificação do Título de Especialista, exigência vigente desde janeiro de 2006, para os graduados a partir dali. Ele somará 20 créditos pela Comissão Nacional de Acreditação da AMB, um bom caminho andado para a renovação, que só se dará com o acúmulo obrigatóà rio de 100 pontos a cada cinco anos.” nimo, duas das seguintes avaliações: teórica, teórico-prática, prática ou análise curricular. A prova teórica é obrigatória e deve conter questões de múltipla escolha na sua maioria. As questões dissertativas podem entrar somente como complemento da avaliação. A prova teórico-prática deve seguir critérios próprios de cada especialidade, previamente aprovados pela AMB. A avaliação curricular, quando adotada, deve ter seu modelo de currículo aprovado pela AMB. O peso atribuído a essa etapa não pode ultrapassar a 30% da avaliação final. TEGO Focadas na melhoria do ensino médico da especialidade, a FEBRASGO está aperfeiçoando ainda mais sua avaliação, com o fim de formar cada vez melhores especialistas. Já para este ano, grandes mudanças estão confirmadas. As provas acontecerão exclusivamente em Belo Horizonte, na véspera do 53º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obste- Expominas sedia os trabalhos O evento será realizado de 14 a 17 de novembro de 2009, no moderno Expominas Belo Horizonte. Com localização privilegiada, o centro de convenções é o único da América Latina interligado a uma estação de metrô, a Gameleira, localizada a apenas uma parada do centro da cidade. Os 15 mil metros quadrados do local abrigarão auditórios médios e grandes, com capacidade para até 1.300 pessoas; salas menores para aulas práticas e uma ampla área para a feira de exposição. Toda a estrutura é interligada por sistema de ar-condicionado central, proporcionando conforto aos participantes. Aos residentes da capital mineira e região que chegarem em seus veículos, o estacionamento do Expominas tem capacidade para 2500 automóveis, sendo 700 vagas cobertas. Novo método promove esterilização feminina em 10 minutos Técnica pode ser realizada durante uma consulta de rotina, liberando as salas de cirurgia para procedimentos mais complexos Um novo modelo de esterilização, revolucionário e indolor, acaba de ser regulamentado pela Anvisa e aguarda a liberação pelo Ministério da Saúde para utilização no Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento, largamente utilizado na Europa, Estados Unidos e em alguns países da América Latina, é feito em menos de 10 minutos e a paciente pode retomar suas atividades logo após a realização do procedimento. Em São Paulo, a eficácia do método já foi atestada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, que acompanhou a realização de cinco casos desde março de 2008, e todos os resultados foram considerados satisfatórios. note e anote A E OBSTETRÍCIA A esterilização, que substitui a tradicional laqueadura, é indolor, dispensa o uso de anestesia e consiste no implante de um dispositivo à base de titânio, semelhante a uma mola, em cada uma das trompas, com o auxílio de uma microcâmera. O titânio provoca uma reação no tecido e, em três meses, obstrui definitivamente as trompas. “A utilização deste método na rede pública, por seu caráter ambulatorial, aliviará a demanda de internações, favorecendo o uso de salas de cirurgia para outros procedimentos cirúrgicos”, afirma o ex-presidente da FEBRASGO, dr. Edmund Baracat, que é ginecologista do HC e professor titular da disciplina de Ginecologia à da Faculdade de Medicina da USP. FEBRASGO recebe homenagem do Ministério da Saúde trícia, que vai de 14 a 17 de novembro. “Como em toda grande mudança, um novo formato de uma prova importante como essa requer todo o cuidado e atenção. Por isso, optamos por realizar a prova em um único local, junto ao CBGO. Assim, além de facilitar o acesso ao congresso para todos aqueles que prestarem a prova, ainda poderemos contar com a presença dos grandes especialistas convidados do Congresso para constituir as bancas examinadoras das provas orais”, afirma o dr. Nilson Roberto de Melo, presidente da FEBRASGO. O exame deste ano será constituído de duas provas. Todos os aprovados na primeira, escrita, de múltipla escolha, seguem para a avaliação oral, na presença de uma banca examinadora que avaliará o raciocínio do candidato em casos clínicos completos. Em breve será divulgado o edital e as inscrições estarão abertas no portal da FEBRASGO (www.febrasgo.org.br). à Destaque fez parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher Em 9 de março, durante o Seminário Nacional de 25 anos de Saúde da Mulher, promovido pelo Ministério da Saúde, a FEBRASGO recebeu importante homenagem por sua trajetória de luta em defesa da saúde e dos direitos reprodutivos da mulher. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, entregou uma placa come- morativa ao representante da Federação, Cristião Fernando Rosas, presidente da Comissão de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista por Lei. Estavam presentes à cerimônia a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire. Em seguida, o presidente Lula apareceu para prestigiar o seminário e aproveitou a oportunidade para referendar as homenagens, entre elas a da FEBRASGO, enfatizando a importância das ações na à luta pelos direitos da mulher. Cristião Fernando Rosas, representando a FEBRASGO, recebe homenagem das mãos do ministro da Saúde, José Gomes Temporão Jornal da FEBRASGO – Março 2009 história FEBRASGO: meio século de existên Personalidades marcantes da história da Federação narram passagens especiais dos últimos 50 anos N o próximo dia 30 de outubro, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) completa 50 anos de existência. Foi criada na sede da Associação Médica de Minas Gerais, em Belo Horizonte, durante a XI Jornada Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Aliás, a data transformou-se no Dia Nacional do Ginecologista e Obstetra, em homenagem aos especialistas, instituído em 1999. O primeiro presidente da FEBRASGO foi Alberto Frância Martins, de São Paulo. Até os dias de hoje a entidade já teve 15 presidentes e 8 secretários executivos. Respeitada entre especialistas, por todo o mundo médico e pela comunidade, graças aos seus esforços voltados ao associativismo, à defesa profissional, à educação médica e à saúde da mulher, a FEBRASGO carrega um histórico de sucesso, credibilidade e fortalecimento desde 1959, ano de sua fundação. sores do sonho de canalizar esses movimentos espontâneos numa entidade organizada nacionalmente e representativa da G.O. “Meu pai era admirado e prestigiado pelos colegas em todas as regiões brasileiras. Sempre teve orgulho de fazer parte desse momento ímpar da especialidade”, comenta Lucas Viana Machado, filho de Lucas Monteiro Machado. Enfim, a empreitada deu certo e nomes importantes da Ginecologia e Obstetrícia se uniram às hostes da FEBRASGO: Francisco Como tudo começou O embrião da FEBRASGO surgiu por iniciativas individuais. Conscientes da importância de reciclar continuamente os conhecimentos científicos, médicos como Alberto Henrique Rocha, Adelmo Botto e Domício Pereira da Costa se reuniam para fomentar a troca de informações e experiências. Os primeiros encontros científicos interestaduais entre especialistas foram denominados Semanas Paulistas-Cariocas de Ginecologia e Obstetrícia. Posteriormente houve a criação da Jornada Mineira-Paulista de G.O. Mais tarde, esses eventos foram unificados dando origem às jornadas envolvendo os três estados. Aliás, foi daí que nasceu a ideia das jornadas brasileiras, que resultaram na criação da Federação. Os doutores Francisco Victor Rodrigues, por muitos chamado de pai da FEBRASGO, e Lucas Monteiro Machado, o primeiro o secretário-geral, foram os precur Jornal da FEBRASGO – Março 2009 Victor Rodrigues, Clarice do Amaral Ferreira, Alípio Augusto, Carlos Grelle, Octávio Rodrigues Lima, George Rezende, Jean Claude Nahoun, José Medina, Carlos Alberto Salvatore, Bussamara Neme, Geraldo Rodrigues Lima, Hugo Maia, Domício Pereira, José Adeodato de Souza Filho, Martiniano Fernandes, da Bahia, João Gomes da Silveira, do Rio Grande do Sul, Vitor do Amaral, do Paraná, Alicio Peltier de Queiroz, da Bahia, entre muitos outros, são personalidades que contribuíram para esse capítulo importante da especialidade. A criação do Tego Passou mais de uma década da fundação, quando a Revista Femina foi gestada, assim como o TEGO, o Titulo de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Seu idealizador foi Jean Claude Nahum, que substituíra o prof. Victor Rodrigues na recém-criada Secretaria Executiva. Naqueles tempos, em meados dos anos 70, os especialistas apenas solicitavam a titulação; não precisavam se submeter a quaisquer exames. Cerca de 300 obtiveram a especialização desta forma, até o estabelecimento oficial da prova. “À época, também o processo eleitoral era diferente. Tornei-me presidente por aclamação, na solenidade de encerramento do X Congresso Brasileiro, realizado em Curitiba, Paraná. Aliás, foi a antepenúltima eleição nesses moldes, antes da instituição do voto direto”, relembra Paulo Belfort, presidente de 1972-1975. Figura relevante desse período foi Galba de Araujo, professor de Obstetrícia da Universidade Federal do Ceará,em Fortaleza. Ele era aficionado da obstetrícia social. À ocasião da Jornada Brasileira, no Rio de Janeiro, em 1972, apresentou um projeto para implantação de programas de assistência à mulher gestante nas áreas rurais e em locais ermos do Ceará. “Esse tipo de ação merece destaque, pois até hoje é umas das grandes necessidades de regiões carentes de atendimento de qualidade”, comenta Paulo Belfort. 10 Tratado de Ginecologia Na década de 1980, mais precisamente na gestão 1986-1989, o presidente Hans Wolfgang Halbe optou por dividir tarefas com seu vice, Araken Irerê Pinto. Hans cuidava da Região Centro-Sul, enquanto Irerê administrava a Região Nordeste. “O sistema funcionou bem porque a FEBRASGO sempre estava presente nos conclaves, o que serviu para fortalecer a união entre as federadas”, comenta o ex-presidente. Também houve a criação das subespecialidades, por exemplo, a de climatério, que mais tarde viria a tornar-se uma sociedade à parte. E, depois disso, grupos especializados passaram a estudá-las mais profundamente. Outro fato relevante: a FEBRASGO teve papel fundamental junto à Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (SOGIPA) na notificação de honorários médicos da GO, o que serviu de base para reestruturar a tabela nacional da AMB. Finalmente, foi lançado o Tratado de Ginecologia, o primeiro do Brasil, reunindo docentes de toda a Federação. sistência integral, à saúde da mulher e ao planejamento familiar. Fez sucesso. Investimento no ensino médico “Nossa administração incluiu a FEBRASGO na Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher, que assessora o Conselho Nacional de Saúde em todos os programas relativos à saúde da mulher. Junto à AMB e ao CFM, implantamos as áreas de atuação, de importância fundamental para os médicos”, diz Hildoberto Carneiro de Oliveira. “Aliás, a própria FEBRASGO concede o reconhecimento subespecializado em determinadas áreas de atuação, como mamografia, medicina fetal, videolaparoscopia, entre outras.” No mesmo período, ocorreu a fundação da Confederação de Ginecologia e Obstetrícia do Mercosul. Outro fato de relevância foi a assinatura de convênio com o Colégio Brasileiro de Radiologia e a Sociedade Brasileira de Radiologia para garantir que os tocoginecologistas pudessem realizar ultrassonografia e mamografia. Uma das muitas parcerias importantes da história da FEBRASGO ocorreu nos idos de 1990. Foi o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para o desenvolvimento de programas de ação e pesquisa relacionados à mortalidade materna no Nordeste. Os trabalhos desenvolvidos a partir do convênio mobilizaram um grande contingente de especialistas, trazendo à discussão números que deram visibilidade ao problema e possibilitaram uma melhoria social expressiva. José de Souza Costa, presidente de 19901993, lembra outro momento especial de sua gestão. Foi a realização do Encontro Nacional do Ensino da Tocoginecologia e do Planejamento Familiar. “Mobilizamos 55 representantes de 44 faculdades e escolas de medicina de todo o Brasil, além de representantes de importantes entidades, para discutir e propor alterações nos currículos dessas instituições.” A ação objetivou incluir programas, disciplinas ou cursos voltados para a as- Consolidação da RBGO Nos anos de 1990, a FEBRASGO concentrou parte de seus esforços para indexar a RBGO e expandi-la no cenário nacional e sul-americano. A Revista FEMINA foi patenteada pela Federação, assim como a RBGO e o TEGO. O Tratado de Ginecologia, editado em 1997, na gestão Hildoberto Carneiro de Oliveira, até hoje é o mais vendido. Criou-se ainda o Tratado de Obstetrícia e manuais de orientação foram produzidos, como o de Anticoncepção e o de Climatério, que além de dar um respaldo técnico, também proporciona atualizações. história ncia em prol da saúde da mulher Até então, a diretoria da FEBRASGO era composta apenas pelo presidente, pelo vice-presidente, pelo secretário e pelo vicesecretário. Esta foi a primeira gestão com vice-presidentes regionais. Atualização científica No ano de 1996, a FEBRASGO criou a Comissão Nacional Especializada de Violência Sexual e Interrupção da Gestação Prevista em Lei, sensibilizada pelo aumento da incidência destes atos violentos no Brasil. Proporciona atenção especializada a adolescentes e mulheres que sofreram estas ações. A RBGO foi indexada na Scientific Eletronic Library Online (Scielo), reconhecida como Qualis A pela Capes. A Resolução 13/2004 da Comissão Nacional de Residência Médica também foi aprovada nessa época, tornando obrigatória a residência em ginecologia e obstetrícia por um período de três anos. Membros da FEBRASGO definiram o conteúdo programático oficial do documento. Outra participação importante da Federação foi na criação da COSOGO-Mercosul, Confederação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia do Mercosul, ajudando na regulamentação da atividade dos tocoginecologistas de países como Argentina, Paraguai, Uruguai e no próprio Brasil. “O que sempre norteou os trabalhos da FEBRASGO foi o fortalecimento, tanto da parte associativa quanto de defesa profissional, especialmente na defesa da remuneração médica. Outro investimento importante foi na parte científica, com encontros de aperfeiçoamento e atualização. Os associados participavam ativamente de eventos locais, regionais e nacional”, reforça Edmund Chada Baracat, presidente em duas gestões, de 1997-2001 e 2001-2005. Disseminação do conhecimento de excelência Jacob Arkader, secretário executivo nas diretorias do dr. Edmund Baracat, no período de 1997 a 2005, tem boas recordações desta época. “Inauguramos as federadas Jornal da FEBRASGO – Março 2009 história Caso Alago vergonha Olímpio Barbosa de Moraes Filho* do Amapá, Acre, Roraima e Tocantins, com isso cobrindo todos os 27 Estados da Federação com regionais. Nova sede da secretaria da FEBRASGO foi adquirida em 2000, na cidade do Rio de Janeiro, com instalações excelentes em termos de localização e de estrutura.” Foram vários os investimentos técnicocientíficos promovidos nessa gestão, como a edição de vários manuais de orientação, cursos de educação médica continuada nas federadas – especialmente as menores, com menos acesso às atualizações científicas – enfim, um grande avanço para a disseminação do conhecimento de excelência. Estabeleceram-se novas parceiras sólidas e profícuas e outras foram consolidadas com diversas instituições que tornaram a FEBRASGO órgão consultor e assessor para o Ministério da Saúde, Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina, entre outras. Todas essas atividades consolidaram a FEBRASGO como defensora da Saúde da Mulher Brasileira. Mais serviços e benefícios aos associados A FEBRASGO hoje é presidida por Nilson Roberto de Melo, eleito em 2006 e reeleito para o período 2009-2011, numa demonstração de confiança e aprovação do trabalho da atual diretoria. “Nosso objetivo primordial é facilitar ao associado o acesso a informações e atualizações sobre tudo o que acontece na medicina e na ginecologia do Brasil e do mundo. Para tanto, estamos disponibilizando, a cada dia, novos conteúdos e ferramentas para a atualização profissional”, afirma. “Assim, apoiamos os especia10 Jornal da FEBRASGO – Março 2009 listas e colaboramos com a qualificação da assistência aos cidadãos.” Depois de viabilizar para as federadas sites próprios, conectados ao da FEBRASGO, interligando todas as entidades e facilitando o fluxo da comunicação, os conteúdos de importantes revistas internacionais, como New England Journal of Medicine, JAMA, BMJ ou Annals of Internal Medicine também foram disponibilizados on-line. Novas parcerias estão sendo avaliadas no intuito de ampliar a gama de serviços para o associado, trazendo cada vez menos preocupações e mais tempo livre para as atividades profissionais e pessoais. Educação continuada via internet, primeira assistência jurídica gratuita, facilidades para a reciclagem permanente em cursos, simpósios etc, além de benefícios até para facilitar o recebimento de consultas, são investimentos que tornam a FEBRASGO mais forte, útil e afinada com os anseios dos especialistas em ginecologia e obstetrícia. à O caso da criança de 9 anos de idade oriunda de uma pequena cidade do interior de Pernambuco, filha de pais pobres, separados e analfabetos, e grávida de gêmeos por causa de estupro praticado pelo padrasto, seria apenas mais um entre os muitos que a equipe médica do serviço de atendimento às mulheres vítimas de violência sexual do CISAM atendeu neste últimos 13 anos. No entanto, o acontecido ganhou repercussão nacional e internacional quando o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, depois da tentativa frustrada de impedir o atendimento médico adequado, aplicou a penalidade de excomunhão à mãe da menina e a toda a equipe médica que a assistiu. Depois de quase duas semanas do ocorrido, observo que a atitude extrema do arcebispo ao menos contribuiu para envolver toda a sociedade brasileira na discussão de assuntos sérios e de saúde pública, tais como: violência contra a mulher, legislação do aborto, pedofilia, intromissão da religião na saúde pública e o papel da Igreja num estado laico. FEBRASGO se soli Confira nota oficial divulgada à imprensa e aos cidadãos sobre a questão A mplamente noticiadas pela mídia, as recentes declarações de membros da Igreja Católica demonstram insensibilidade e falta de respeito com o drama vivido pela criança de 9 anos e por seus familiares, bem como para com toda a sociedade e com o Estado brasileiro. ‘‘ com agravamento do prognóstico materno-fetal também teriam maiores riscos de ocorrer em relação a gestantes adultas, a saber: ruptura prematura das membranas, descolamento da placenta, placenta prévia, morte fetal de um ou dos dois fetos, coagulação intravascular disseminada, diabetes gestacional, polidrâmnio e parto distócico. É importante lembrar que, além de apresentar um elevado risco de morbidade e mortalidade, esta gravidez foi resultado de estupro, o que garante à vítima a opção legal de interrompê-la. Não assegurar-lhe este direito seria obrigá-la a ter um OPINIÃO agoinha: a nacional Apesar de a gravidez encontrar-se na 15ª semana, por ser gemelar em uma menina de baixa estatura (1,33 metro), o útero já estava próximo ao rebordo costal, ocupando quase todo o abdome, aumentando, assim, o risco de parto prematuro extremo, com nascimento de recém-nascidos inviáveis. Quanto mais jovem a gestante, maior o risco de pré-eclâmpsia e suas complicações, como eclâmpsia e síndrome HELLP, que juntas se constituem na primeira causa de morte materna no nosso país e no mundo. O risco que a criança correria de ser acometida por doença hi- Não assegurar-lhe este direito, seria obrigá-la a ter um filho sob tais circunstâncias, violência ’’ tão grave quanto à do próprio estupro Olímpio Barbosa de Moraes Filho Ratifico que em nenhum momento a equipe médica do CISAM teve dúvidas sobre o procedimento adotado. A assistência à saúde da mulher ou criança que sofre violência sexual é prioritária e a recusa infundada e injustificada de atendimento pode ser caracterizada, ética e legalmente, como omissão. Segundo o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, este caso se enquadrava nas duas únicas situações em que atualmente o abortamento é permitido, ou seja, estupro e risco de morte. pertensiva, com o avançar da gravidez, seria então bem maior que o percentual encontrado em gestantes adultas. A possibilidade de hemorragias, que representam segunda causa de morte materna, também seria grande. Um útero infantil, ainda em processo de amadurecimento, possivelmente não suportaria uma gravidez gemelar, podendo apresentar ruptura durante a gravidez ou atonia uterina logo após o parto. Ambas podendo evoluir para choque hipovolêmico, realização de uma histerectomia, o que encerraria a vida reprodutiva da menina ou talvez a morte desta criança. Outras complicações importantes, filho sob tais circunstâncias, violência tão grave quanto à do próprio estupro e inadmissível num país laico e democrático. Nós, médicos, não temos poderes divinos, como os de proteger e evitar que situações como essas ocorram, ou adivinhar o futuro e saber exatamente o que ele nos reserva. No entanto, é nosso dever, respeitando os princípios da bioética e da ciência, prover da melhor forma possível, os direitos assegurados às nossas pacientes pelas leis brasileiras, sempre à evitando as piores consequências. * Conselheiro do CREMEPE e diretor Executivo da SOGOPE idariza com equipe médica A antecipação do parto é prevista em lei quando a gravidez é resultado de estupro, assim como em casos que oferecem risco de morte materna. Diante destas situações, não é necessária nem mesmo autorização judicial. Portanto, o caso ocorrido em Alagoinha, Pernambuco, contempla não apenas uma, mas ambas as situações. Não podia seguir outro curso que não o de antecipar o fim do sofrimento destes cidadãos e evitar, o quanto antes, uma tragédia ainda maior. A vítima, uma menina de 9 anos de idade, de compleição física frágil, pesando pouco mais de 30 quilos, muito provavelmente não suportaria uma gravidez até o fim. O que dizer de uma gestação gemelar? As chances de uma ruptura uterina, hemorragia, eclâmpsia e de um parto prematuro eram enormes. Sem contar esses e outros riscos à sua integridade física, havia as inimagináveis sequelas emocionais. Por todas essas razões, a FEBRASGO acredita que a equipe médica e multiprofissional do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) agiu dentro dos preceitos ético-legais e tecnicamente adequados. É nosso dever respeitar os princípios bioéticos e a legislação vigente, garantindo à população direitos humanos e dignidade, independentemente de raça, à credo ou religião. Jornal da FEBRASGO – Março 2009 11 sindical A Fenam e os desafios da clas Presidente Paulo de Argollo Mendes analisa o movimento médico e suas demandas mais importantes Quais os principais desafios do movimento médico para 2009? Estamos focados em três questões básicas: o piso salarial para a categoria médica, que hoje não existe praticamente; a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos no Sistema Único de Saúde – aplicar tabela dos convênios, pois a falência de hospitais está manifestada e os valores fora da realidade; e a carreira de estado para médico, uma maneira de colocar o profissional no interior. Como nos casos de promotores e juízes, com ingresso por concurso público, a pessoa é deslocada para a fronteira, por exemplo, contudo, sabe que progredirá na carreira com o tempo e se aproximará de um centro maior. Em que base se deu a definição de um piso salarial de R$ 7 mil reais para os médicos brasileiros, luta atual do movimento? Em 1961, foi aprovada a chamada Lei do Médico, que estabelecia um piso de três salários mínimos, hoje um valor irrisório. Fizemos, então, a correção monetária e atualização do valor correspondente a esses três salários para os dias atuais. Chegamos a cerca de R$ 8 mil. Resolvemos, então, estabelecer R$ 7 mil como meta para o piso. Há uma justificativa social para essa reivindicação? O que nós temos observado é um progressivo empobrecimento da categoria, com repercussão negativa para a qualidade da assistência prestada. O custo de participar de congressos, de se atualizar, de com12 Jornal da FEBRASGO – Março 2009 prar livros de medicina, é muito alto, além da própria situação da família do médico. O profissional que não fica tranquilo, que não sabe se pagará suas contas, não dará atenção qualificada para seus pacientes. rarquizada de Procedimentos Médicos em convênios, no SUS. Queremos que a tabela do Sistema Único se aproxime disso. Outra pauta é a implantação da carreira de estado para a categoria ‘‘ Como está o encaminhamento dessa luta? O que nós temos Existe um entendimento observado é um progressivo muito coeso a respeito dessas questões. As três entidades naempobrecimento da cionais dos médicos – Associação Médica Brasileira, Conselho categoria, com repercussão Federal de Medicina e a Fenam, que representam os 330 mil negativa para a qualidade da médicos brasileiros, estão trabalhando em conjunto, atuando assistência prestada em várias frentes, principalmente na mobilização da categoria, no esclarecimento da comunidade, através no setor público, a fim de permitir que da imprensa, e na pressão sobre os repre- o médico possa trabalhar no interior sentantes eleitos, deputados, vereadores, do país. São também fundamentais o projeto do ato médico, que está em traetc, para que aprovem a legislação. mitação na Câmara dos Deputados, e Quais são hoje os projetos de lei de a regulamentação da Emenda 29, que estabelece a obrigação dos municípios, maior interesse da classe médica? O piso salarial, para que se tenha um do Estado e da União de investir na valor minimamente digno de remune- área da saúde pelo menos os valores ração, e a Classificação Brasileira Hie- determinados pela lei. ’’ O PL que regulamenta a profissão do médico tem chance de ser aprovado? Esse projeto de lei surpreendentemente tem sofrido vários revezes pela mobilização de outras categorias da área da saúde. Cada categoria fez a sua lei. A dos enfermeiros permite até mesmo realização de parto, mas apenas o normal, o que é absolutamente contraditório. Conquistamos vitórias na Justiça em função disso, pois só é possível saber se o parto será normal na execução do procedimento. É uma lei que deve ser modificada, e estamos trabalhando nisso. O projeto enfrenta suas dificuldades, como inclusão de algumas emendas desfavoráveis aos médicos. Continuamos fazendo pressão. Mesmo sem ver a aprovação num horizonte muito próximo, com mobilização, certamente, acabaremos conseguindo. Como anda a relação de médicos e planos de saúde? Não há mais atritos? É uma relação tensa e difícil, que não tem melhorado. Pelo contrário, vivemos períodos de maior distensão e até de enfrentamento. Os planos de saúde não repassam aos médicos os aumentos que têm na cobrança dos seus beneficiários. É uma luta que depende da arregimentação e do comprometimento do movimento médico. Quais os principais problemas do médico do setor público atualmente, e como vencê-los? O maior problema do médico na saúde pública continua sendo a remuneração. Enquanto não conseguirmos convencer o governante e a sociedade de que saúde não é despesa, é investimento, teremos dificuldades em direcionar recursos para a área. Além da questão da remuneração, temos hoje a do contrato laranja, que é como está sendo feita a contratação de boa parte dos médicos de saúde da família, por meio de uma empresa. O município, em vez de contratar por concurso público, terceiriza a tarefa a uma companhia que pagará o profissional. Com isso, esse intermediador fica com uma parte dos recursos e defende interesses que nem à sempre são os da saúde pública. Parto: um ato médico Em virtude de um anúncio veiculado na grande imprensa sobre a realização do procedimento por enfermeiros, a Febrasgo se posicionou oficialmente em março. Veja a íntegra do comunicado O Brasil é um dos campeões mundiais em números de cesáreas. Os índices registrados atualmente são muito mais altos do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por esse motivo, entidades médicas, profissionais de saúde e ONGs espalhadas por todo o país têm trabalhado na difícil tarefa de reverter este quadro e incentivar o parto natural, sempre que houver condições. A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia alerta, no entanto, que parto natural não significa abrir mão de todo o conhecimento e tecnologia disponíveis. Mesmo que todos os exames, histórico e avaliação clínica do médico apontem para o parto normal, o ambiente hospitalar, a presença do médico sindical sse médica obstetra e diversos outros cuidados são imprescindíveis. A medicina não é uma ciência exata e não existem certezas absolutas. Dependendo da evolução do parto, diversas variáveis podem levar à necessidade de uma cirurgia ou de outros procedimentos de emergência. Procedimentos, aliás, que são atos privativos dos médicos. Por esse motivo, ainda que a gestante esteja propensa ao parto natural, ela deve ter seu direito à qualidade na assistência ao parto assegurado, o que inclui a presença do médico obstetra e do neonatologista em ambiente hospitalar equipado e pronto para qualquer eventual emergência. O enfermeiro obstetra é um profissional capacitado e treinado para dar suporte à atividade do médico, auxiliando-o tanto no parto normal como na cesárea, mas jamais substituindo-o. Este profissional não tem formação nem mesmo autorização para agir em caso de qualquer intercorrência antes, durante ou imediatamente após o parto. A chegada do bebê é um momento único na vida da mulher. Cabe a todos nós contribuir para que este momento transcorra com o máximo de segurança, afastando todo e qualquer risco evitável. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO Jornal da FEBRASGO – Março 2009 13 Giro pelos estados Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre é referência para a gestante de alto risco do Rio Grande do Sul O ambulatório de Ginecologia e assistência pré-natal iniciou seus trabalhos em 1972. Em 5 de maio de 1980, aconteceu a inauguração da maternidade e da residência médica de Ginecologia e Obstetrícia, ambas no 12º andar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HC). Em 1983, instituiu-se o sistema de equipes de residentes, doutorandos e alunos do oitavo semestre para atender a todas as pacientes gineco-obstétricas em plantões no Centro Obstétrico, de Atendimento Ambulatorial e no Bloco Cirúrgico. Foi assim, aliás, que o Centro Obstétrico do HC de Porto Alegre caminhou para o status de excelência atual. Hoje é um centro de referência para gestação de alto risco no Rio Grande do Sul, priorizando pacientes do SUS. O número de atendimentos prestados cresce a cada dia, demonstrando a grande capacidade assistencial da maternidade: de 1.402 partos em 1980 saltou para 3.971 em 2005. Passados dois anos, em 2007, foram cerca de 28 mil atendimentos no ambulatório, 11 mil na emergência obstétrica, mais de mil cirurgias e cerca de 3.500 partos. Os partos, diga-se de passagem, são motivo de orgulho para a equipe. A despeito dos alarmantes índices de cesáreas registrados no país, o HC registra 70% de partos normais contra 30% de cesáreas. Trabalho em equipe O Serviço de Ginecologia e Obstetrícia (SGO), dirigido atualmente por Sérgio Hofmeister de Almeida Martins-Costa, é formado por professores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, médicos contratados, 21 residentes, além de internos e estagiários da Faculdade de Medicina e de outros serviços. Especializado em Ginecologia Infanto-Puberal, Medicina Fetal, Infertilidade e Reprodução Assistida, Assistência à Gestante Adolescente, 14 Jornal da FEBRASGO – Março 2009 Alguns dos integrantes do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, comandado pelo dr. Sergio Hofmeister de Almeida Martins-Costa, no destaque Uroginecologia, Oncologia Genital, Sexualidade, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Ginecologia Endócrina, Diabetes e Gestação, Gestação de Alto Risco, Serviço de Mastologia, é sobretudo, um local de aprendizado e treinamento dos alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Medicina da UFRGS e do Programa de Residência Médica credenciado junto à Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) do Ministério da Educação. Para concorrer a uma vaga no serviço, os candidatos são submetidos a uma prova escrita valendo 90%, análise de currículo 5% e entrevista 5%, perfazendo os 100%, conforme resolução aprovada pela CNRM. Para 2009, sete novos residentes foram aprovados para R1 em Obstetrícia e Ginecologia, totalizando 21 residentes (somados aos sete R2 e sete R3) que cumprem carga horária de 60 horas semanais, incluindo plantão de 24 horas. As avaliações periódicas atingem não apenas os programas de Residência Médica, mas os preceptores. Residência médica São seis equipes médicas, cada qual composta de professores, médico contratado, médicos residentes e internos da FAMED. Durante três anos, os residentes fazem estágios em rodízio nas equipes do SGO, e nos setores determinados pela CNRM. E, fora o ensino prático, à beira do leito, no Ambulatório, nos Centros Cirúrgicos e Obstétricos, os residentes e internos cumprem um programa de atividades teóricas obrigatório, que inclui discussão de casos obstétricos e ginecológicos, reuniões administrativo-científicas e seminários. Todo esse profissionalismo retorna em satisfação para o SGO. Segundo a coordenadora da Residência Médica, Maria Celeste Osório Wender, os residentes se saem muito bem nas provas anuais da Sociedade de Ginecologia do Rio Grande do Sul, ficando semà pre com as primeiras colocações. evitar processos judiciais Juliane Pitella * O ano que passou foi marcado por inúmeros processos judiciais movidos contra médicos, clínicas, hospitais, laboratórios, operadoras de saúde, entre outras entidades. Muitos despropositados, com alegações infundadas, mas que, sem alguns cuidados, geraram ônus materiais e de imagem para profissionais e instituições. O conceito de prevenção está bem incorporado às rotinas e práticas médicas. Infelizmente, porém, ainda não é trabalhado no âmbito jurídico das organizações da área da saúde. Soluções e ferramentas preventivas de gestão de riscos estão à disposição no mercado. É importante que médicos e instituições façam uma revisão de suas rotinas e dos papéis de cada profissional. Sobretudo, adotando uma postura proativa aos problemas já instalados, com o intuito de evitar ações judiciais. Para isso, é necessário conhecer potenciais riscos e problemas. Você os conhece? A seguir, elenco dez passos importantes para se precaver de eventuais processos. Mas é sempre bom lembrar que um especialista da área jurídica pode ser mais efetivo nesta análise. A primeira e uma das principais regras que deve constar na rotina de qualquer médico é, muitas vezes e tragicamente, desrespeitada, ou seja, o ritual da tradicional sequência; escutar a história, concluir a anamnese, realizar o exame físico, construir as hipóteses diagnósticas, para finalmente, chegar ao diagnóstico fechado e à adoção de conduta e tratamento. A segunda é a seleção de exames e conhecimento farmacológico dos medicamentos, já que a facilidade dos múltiplos exames complementares e dos fármacos de amplo espectro, unidos à perigosa e inoportuna necessidade de se atender rapidamente, tem feito com que esta etapa fundamental seja substituída por exames e remédios de questionável indicação, gerando conflitos. Daí a origem de ações judiciais envolvendo responsabilidade civil, buscando a reparação de danos materiais, morais e estéticos, notadamente no campo da ginecologia e obstetrícia. A terceira é a revisão do diagnóstico (que implique ou não em tratamento invasivo) por parte do médico responsável pelo paciente na internação hospitalar. É uma forma de evitar situações de erros e, sobretudo, alegações de omissões. Um grande número de diagnósticos pode ser desvendado ou descartado através de uma anamnese bem feita. E, ao menos nos casos complicados, deve-se ter como rotina o pedido de todos os outros prontuários e fichas de atendimentos anteriores àquela consulta, a fim de conhecer todos os sintomas anteriormente revelados e, por vezes, omitidos ou esquecidos pelo paciente. A quarta é a importância do conhecimento técnico atualizado do profissional de ginecologia e obstetrícia. Além de acompanhar o pré e pós-operatório nas cirurgias, o médico deve discutir com os demais colegas que irão compartilhar o procedimento cirúrgico os eventuais riscos inerentes àquele procedimento, bem como fazer a adequada abordagem relativa aos riscos com os pacientes e familiares. O mesmo vale quanto ao tratamento indicado. Em síntese, sempre que se cogitar possibilidade de cirurgia, o profissional tem a responsabilidade de uma interpretação cruzada entre riscos e benefícios do procedimento para aquele determinado paciente, naquele momento e, sobretudo, naquele estabelecimento hospitalar. A quinta é a importância da boa comunicação com o hospital no qual internará o paciente. O médico deve estar atento para o desempenho de toda a equipe hospitalar, a fim de evitar que alguma questão operacional da estrutura possa comprometer o êxito do procedimento. A sexta é a implantação do Termo de Consentimento Informado e Esclarecido. Todos os médicos hoje em dia, independentemente da especialidade, devem utilizar esse documento como meio de prova de que forneceu adequadamente as orientações e informações necessárias referentes ao tratamento ou cirurgia. O termo, além de ajudar na constituição de prova favorável ao profissional, demonstra organização e seriedade, resultando em redução de casos despropositados. Também é recomendável incluir uma cláusula de arbitragem no Termo de Consentimento Informado. Isso porque a lei permite que eventuais conflitos nessa ordem sejam tratados por uma Câmara Arbitral, não necessitando levar a questão ao Poder Judiciário, que, por causa da grande demanda, às vezes não oferece agilidade no trâmite processual, afastando qualquer possibilidade de uma solução rápida e pontual para ambas as partes. A sétima é o foco de qualidade no preenchimento, uso e guarda do prontuário médico, por ser um documento importante como meio de defesa do médico. A oitava é que o ginecologista obstetra deve ficar atento aos novos tratamentos, técnicas e medicamentos, no sentido de perceber de imediato eventu- jurídico Prevenção é receita para ais reações negativas que podem abalar a sua imagem e credibilidade. A nona é, além de obter o título de especialista, registrá-lo junto ao CRM, pois alguns médicos desprezam essa providência e, embora possuam o título de especialista, ficam com o cadastro desatualizado. Numa eventual denúncia ou processo ético-disciplinar é sempre melhor estar registrado/cadastrado como especialista do que somente como médico clínico geral. Essa cautela preventiva e simples poderá contribuir na comprovação da capacitação e atualização técnicas necessárias, ajudando, inclusive, no afastamento de eventual ideia de imperícia. Por exemplo, conforme um trecho do julgado abaixo, no qual o Presidente da 4ª Câmara de Direito Privado do TJSP, conclui o seguinte: “O imperito é aquele que não conhece a especialidade e se aventura a operar fora de sua área de atuação cometendo, por esse deslize, atrocidades que agravam a saúde do paciente”. No entendimento do desembargador responsável, o médico acusado não teria agido com negligência, porque não teria sido omisso no desempenho profissional. Caso tenham interesse, segue o link do artigo: http://www.advsaude.com.br/noticias. php?local=1&nid=2300&aid=3 A décima é que o ginecologista obstetra deve utilizar diretrizes e protocolos clínicos atualizados e aprovados pelas entidades brasileiras competentes, pois toda a conduta médica comprovada e com indicação científica, quando questionada, estará ancorada, no mínimo, numa base natural de defesa, Isso, além de proporcionar maior segurança para o paciente, o que, por outro lado, acaba consequentemente significando mais respaldo ao profissional sob o ponto de vista jurídico, já que tais diretrizes e protocolos podem ser usados para embasar uma defesa quanto a determinado ato médico. A maioria das ações judiciais com pedido de dano material, moral ou estético, sob alegação de responsabilidade civil médica, está ligada à ingenuidade de como podem acontecer os problemas, e, ainda, à falta de cautela e visão ampla, no descuido com os detalhes, na falta de experiência, na dificuldade de reconhecimento das carências em determinadas áreas. É, portanto, mais do que recomendável se valer de orientações eficazes para prevenir problemas futuros. * Juliane Pitella é advogada e sócia da ELP Eugenio de Lima e Pitella Advogados Consultoria Jurídica e de Negócios Especializada na Área da Saúde. www.advsaude.com.br Jornal da FEBRASGO – Março 2009 15