Copyright © UTFPR – Campus Ponta Grossa Editora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Av. Sete de setembro, 3165 – CEP: 80230-901 – Curitiba – PR Tel: (41) 3310 4511 Fax: (41) 3310 4432 e-mail: [email protected] TRABALHO E GESTÃO: TÓPICOS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 1ª Edição – novembro/2009 Impresso no Brasil Revisão Ortográfica e Gramatical Sozângela Schemin da Matta Supervisão Editorial Anna Terezinha Ribeiro Caruso Todos os direitos reservados. A fotocópia de qualquer parte deste livro é ilegal e configura apropriação dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor. Lei Federal no. 9610, de 19 de fevereiro de 1998. Ficha catalográfica elaborada por Elson Heraldo Ribeiro Junior – CRB-9/1413 T758 Trabalho e gestão: tópicos em Engenharia de Produção. / Luiz Alberto Pilatti, Antonio Augusto de Paula Xavier, João Luiz Kovaleski, Bruno Pedroso (Orgs.). -Ponta Grossa: Editora UTFPR, 2009. 128 p. : il.; 21 cm. ISBN: 978-85-7014-054-8 1. Trabalho - Qualidade de Vida. 2. Organizações - Gestão. 3. Engenharia de Produção. I. Pilatti, Luiz Alberto. II. Xavier, Antonio Augusto de Paula. III. Kovaleski, João Luiz. IV. Pedroso, Bruno. V. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. VI. Título. CDD 658.5 ORGANIZADORES LUIZ ALBERTO PILATTI É formado em Educação Física, com mestrado em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ANTONIO AUGUSTO DE PAULA XAVIER É formado em Engenharia Civil, com mestrado em Engenharia Civil e doutorado em Engenharia de Produção, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). JOÃO LUIZ KOVALESKI É formado em Engenharia Industrial Eletrônica, com mestrado em Ciências com ênfase em Automação Industrial pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), formado em Tecnologia em Automação Industrial, com doutorado em Instrumentação Industrial pela Université Joseph Fourier, Grenoble – França. Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). BRUNO PEDROSO É formado em Educação Física, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professor das Faculdades Integradas de Itararé (FAFIT-FACIC). SUMÁRIO PREFÁCIO .......................................................................................................7 1. PRÁTICAS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO EM EMPRESAS DE SOFTWARE: GRAU DE CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE ESPECIFICAÇÃO DE REQUISITOS Maria Ângela Coser, Hélio Gomes de Carvalho ...............................................9 2. APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE NO ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DE PERDAS DE EMBALAGENS DA PRODUÇÃO DE RESFRIADOS TEMPERADOS Claudilaine Caldas de Oliveira, Aline Iamagamin, Rony Peterson da Rocha, Luciano Scandelari .........................................................................................23 3. QUALIS 2007-2009: DESAFIOS E TENDÊNCIAS PROJETADAS PARA A PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Bruno Pedroso, Luiz Alberto Pilatti .................................................................34 4. PSICODINÂMICA DO TRABALHO: A COMPREENSÃO DA INTERRELAÇÃO TRABALHO E SAÚDE Anderson Roik, Luiz Alberto Pilatti .................................................................48 5. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DE GRUPOS DE ATENDIMENTO A EMERGÊNCIAS PELOS CRITÉRIOS DE WESTLEY: CASO DO CORPO DE BOMBEIROS Gerson Luiz Carneiro, Antonio Augusto de Paula Xavier, Luiz Alberto Pilatti, Antonio Carlos Frasson ..................................................................................58 6. A INFLUÊNCIA DO ESTILO DE TRABALHAR EM GRUPO NOS PROCESSOS DE CONTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL Robson Luiz Montanari, Luiz Alberto Pilatti ....................................................69 7. AVALIAÇÃO DOS INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO PARA MELHORIA DA PRODUTIVIDADE: ESTUDO DE CASO NO AMBIENTE DE CORTES DE FRANGOS Fabiano Takeda, Antonio Augusto de Paula Xavier .......................................83 8. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO IMPLEMENTADA NO SETOR DA MANUTENÇÃO Aurélio Zoelner Dallarosa, Aldo Braghini Júnior, Luciano Scandelari, Marco Antonio Subtil Macedo ....................................................................................97 9. ANÁLISE DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS MADEIREIROS NO ESTADO DO PARANÁ Priscilla Falco Klingelfus Pölzl, Luis Mauricio Resende, João Luiz Kovaleski, Willian Borelli Pölzl, Romano Timofeiczyk Junior .........................................105 10. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA APLICADA AO GERENCIAMENTO DE RISCO LOGÍSTICO Claudia Tania Picinin, João Luiz Kovaleski, Dálcio Roberto dos Reis .........116 PREFÁCIO Século XXI: Início de uma nova era. A sociedade sofreu profundas transformações, chegando a este século com um novo paradigma: A era do conhecimento. Com o crescente desenvolvimento, humano e profissional verificado nestas últimas décadas, alavancado pelas condições de globalização da humanidade e dos mercados de trabalho, novos profissionais e tendências vêm obtendo importância e papéis de destaque nunca antes imaginado. Neste contexto insere-se a Engenharia de Produção, mola mestre hoje no estudo, análises e elaboração de novos processos de trabalho, visão holística do mercado e reconhecimento do homem como o propulsor do processo do desenvolvimento. Buscando cada vez mais uma melhor qualificação humana, preparando profissionais cada vez mais aptos a enfrentar todos os desafios impostos pela alta competitividade, o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus de Ponta Grossa firma-se como irradiador de conhecimento na região e implementa ações de difusão de resultados de estudos e pesquisas realizados por seus docentes. Esta situação pode ser bem visualizada e verificada pelo lançamento do livro “Trabalho e Gestão: Tópicos em Engenharia de Produção”. Esta obra, em sintonia com os preceitos atuais da Engenharia de Produção, contempla nessa sua primeira edição, tópicos relacionados à Gestão do Conhecimento, Qualidade de Vida, Qualidade de Vida no Trabalho, Ferramentas de Qualidade, Tecnologia da Informação e Gestão da Produção. Os artigos inerentes aos temas citados, são frutos de pesquisas realizadas conjuntamente por acadêmicos e professores, estando desta maneira em perfeita concordância com os objetivos e expectativas da Pós-Graduação. Todos os anos é realizado no Brasil o Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), sendo que os dez artigos constantes desta edição do livro, são os que foram os melhores classificados neste evento nacional em 2009, dentre os mais de trinta artigos que o PPGEP teve aprovado no ENEGEP 2009. O esforço desenvolvido por alunos e professores, no sentido de formatar, adequar e preparar os respectivos artigos para que pudessem ser publicados neste tipo de veículo de divulgação técnica e científica, acabaram por desembocar na presente edição do livro, que temos certeza de que será de grande valia para pesquisas a serem realizadas por profissionais e acadêmicos da área, bem como instrumento norteador e indicativo de tendências relativas ao mercado de trabalho e sua respectiva interface com o ser humano. Dentro desse espírito atual da Engenharia de Produção, que busca o aumento da qualidade e produtividade empresarial, sem a perda de seu caráter antropocêntrico, convidamos a todos a percorrerem os artigos constantes nesta obra, esperando que a leitura dos mesmos venha auxiliar na maior qualificação e profissionalização do leitor. Antonio Augusto de Paula Xavier 1. PRÁTICAS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO EM EMPRESAS DE SOFTWARE: GRAU DE CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE ESPECIFICAÇÃO DE REQUISITOS Maria Ângela Coser Hélio Gomes de Carvalho 1.1 Introdução Para acompanhar as mudanças decorrentes da dinâmica mundial, as empresas precisam ser cada vez mais especializadas e globais, mesmo que sua atuação seja dirigida para bairros, pequenos núcleos, cidades e regiões. As empresas que buscam habilidade para navegar neste mercado terão um foco centrado na tecnologia da informação (TI), no conhecimento e na inovação. Esse cenário apresenta particular relevância para empresas que competem no mercado em crescente transformação, complexo e de alto nível de conhecimento especializado, como o de produção de software. A influência estratégica de software em todas as atividades econômicas e sociais marca um crescimento que nenhum outro setor produtivo jamais viveu. A presença do software em áreas tão diversas, como financeira, gestão, comunicações, energia, transporte, comércio eletrônico, automação industrial, governamental, educação, medicina, entretenimento, entre outras, reafirma a dependência das organizações em geral sobre a adequada disponibilidade e qualidade dos sistemas. Nos últimos 20 anos, o conhecimento começou a ser considerado o principal recurso estratégico, a base para a diferenciação das empresas, e se tornou o recurso fundamental para gerar vantagem competitiva e criar riqueza (DRUCKER, 1988). A produção de software é um domínio altamente orientado ao conhecimento, no qual os fatores de sucesso estão relacionados com a experiência das pessoas envolvidas nas fases: projeto, construção, teste e implantação (DESOUZA, 2003). A etapa de especificação de requisitos é tida como um grande desafio para projetos de desenvolvimento de software. Uma grande quantidade de conhecimento dos usuários, gerentes e técnicos é explicitada nesta fase, e esse conhecimento precisa ser depositado em repositórios que facilitem a recuperação e agreguem valor ao processo. Percebe-se uma enorme dificuldade em elicitar, criar, analisar, validar e gerenciar corretamente os requisitos, principalmente em reter o conhecimento gerado nesta fase. Portanto, torna-se relevante compreender a criação de conhecimentos em processos de especificação de requisitos. O presente estudo tem por objetivo identificar as práticas de gestão do conhecimento que contribuem para reter o conhecimento técnico gerado em processos de especificação de requisitos de software desenvolvidos sob encomenda para ambientes industriais. Para tanto, desenvolve-se uma pesquisa de campo, exploratória, com uso de questionário, entrevista e análise de documentos, aplicados em seis empresas de software, de micro e pequeno porte, localizadas na cidade de Vitória-ES. 9 Como contribuição, esta pesquisa reúne abordagens dos principais autores ligados ao processo de criação de conhecimento, mais especificamente as relacionadas às práticas de gestão do conhecimento identificadas em processos de especificação de requisitos de software. Apesar da grande quantidade de pesquisas que procuram entender os processos organizacionais na ótica do conhecimento, existe carência de estudos empíricos sobre a criação do conhecimento em processos de especificação de requisitos de software. 1.2 Referencial teórico 1.2.1 Gestão do conhecimento O trabalho nas indústrias de software relaciona-se ao conhecimento (DESOUZA; AWAZU, 2005; FERNANDES, 2003; PRESSMAN, 2002). Uma empresa baseada no conhecimento é uma organização de aprendizagem que proclama o conhecimento como o recurso estratégico para o negócio, ressalta Garvin (1993). Apesar de grandes descobertas, contribuições e avanços em tecnologia, buscou-se, neste estudo, entender como esses novos conhecimentos são efetivamente criados em meio aos processos de desenvolvimento de software. Na visão de Nonaka e Takeuchi (1997), não basta reconhecer a importância do conhecimento, mas é necessário compreender como ocorre sua criação dentro do ambiente organizacional. O conhecimento é a transformação dos dados em informação que, quando trabalhada e utilizada num contexto, compõe a base do conhecimento, além de agregar toda a vivência obtida ao longo do tempo. O conhecimento é usado para guiar práticas de trabalho, inventar produtos e serviços e inovar (DESOUZA; AWAZU, 2005). Entretanto, o processo de criação do conhecimento nem sempre é explícito, mas complexo, de dinâmica pouco linear e pode extrapolar a estrutura organizacional. Tal fato torna o desafio de compreendêlo ainda maior. Criar, adquirir, reter e transferir conhecimentos tornou-se insumo para organizações do conhecimento e sinônimo de vantagem competitiva. A teoria de criação do conhecimento parte da crença de que o paradigma da escola ocidental, baseado na visão da organização como uma máquina de “processamento de informações”, está esgotado diante o grau de mudanças ocorridas nas últimas décadas (STEFANOVITZ, 2006, p.42). Para Nonaka e Takeuchi (1997), a visão ocidental, ao considerar apenas o conhecimento explícito – formal, sistêmico, codificado, quantificável, facilmente transferido –, possibilita estruturar processos que busquem melhorar a eficiência e flexibilidade, mas não possibilita estimular a criação de novos conhecimentos. Nonaka e Takeuchi (1997) descrevem a criação do conhecimento como um processo dinâmico de conversão de conhecimento tácito em conhecimento explícito, entendidos como entidades básicas que se complementam, e cuja interação é a principal fonte da criação do conhecimento nas organizações. “Os novos conhecimentos sempre se originam nas pessoas. O conhecimento pessoal de um indivíduo se converte em conhecimento organizacional valioso para a empresa como um todo” (NONAKA, 1991, p.31-32). A criação do conhecimento organizacional é apresentada por Nonaka e Takeuchi (1997) como um processo que ocorre em ciclos por meio da transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito que ocorre em duas dimensões: 10 epistemológica e ontológica. A gestão do conhecimento (GC) depende de um processo de criação do conhecimento estruturado e sistematizado com práticas de gestão organizacional voltadas para criação, retenção, compartilhamento, disseminação e aplicação do conhecimento dentro das empresas. 1.2.2 Práticas de gestão do conhecimento Muitas empresas não conhecem o termo “gestão do conhecimento”, ou, o utilizam, mas executam processos com o uso de técnicas e ferramentas que podem ser classificados como práticas de gestão do conhecimento (BATISTA, 2004, p.7). O desafio dessas organizações consiste em criar condições para armazenar o conhecimento e estimular o desenvolvimento de novo conhecimento. Davenport e Prusak (1998, p.175) identificam em suas pesquisas que os projetos de implantação de GC têm como objetivos comuns a criação de repositórios de conhecimento, o provimento de acesso e a criação de um ambiente favorável. Os autores ressaltam que o conhecimento já está disponível, é utilizado e transferido nas organizações, mesmo em ações isoladas e localizadas. Alguns autores identificam que muitas atividades, práticas e processos já desenvolvidos em algumas empresas podem ser mais bem compreendidos quando relacionados à GC. Nesse contexto, relacionam práticas, como gestão de competências, gestão de documentos, mapeamento de processos e comunidades de práticas que surgiram na era industrial como consequência da busca de qualidade e apresentam resultados muito satisfatórios quando trabalhados com os objetivos da GC (HELMANN, 2007, p.43). Existem diversos modelos para a implantação da GC. Batista (2004), Batista et al. (2005), Helmann (2007), Leuch (2006), Purcidonio (2008) e Terra (2000) apresentam práticas que mostram, de modo proativo, como as empresas gerenciam o conhecimento. Para Batista (2004, p.15), práticas de GC se caracterizam por atividades que são executadas regularmente; têm a finalidade de gerir a empresa; são baseadas em padrões de trabalho; são voltadas para produção, retenção, disseminação, compartilhamento ou aplicação do conhecimento dentro das empresas e na relação delas com a sociedade. Para sistematizar esta pesquisa, selecionaram-se práticas fundamentadas em opinião, uso e experiências de autores que pesquisaram práticas voltadas à implantação de sistemas de GC em organizações e também práticas que são usadas regularmente para criar, armazenar, transferir, compartilhar e disseminar conhecimentos. O Quadro 1 consolida as práticas gerenciais que contribuem com a criação e retenção de conhecimento na produção de software. Or 1 Práticas de GC Aprendizagem Organizacional 2 Comunidade de Prática 3 Fóruns ou Listas de Objetivos Referências Aprender a melhorar o conhecimento organizacional existente, aprender a criar um novo conhecimento organizacional e ainda disseminar ou transferir o conhecimento internamente e para outras áreas da empresa. Reunir-se em torno de interesses, buscando transferência de melhores práticas, acesso a especialistas e ainda a reutilização de modelos, conhecimentos e lições aprendidas. Discutir, transferir, homogeneizar e compartilhar informações, idéias e experiências que Garvin et al. (1998); Helmann (2007); Senge (1998); Terra (2000) 11 Batista et al. (2005); Kato; Damião (2006); Terra (2005); Terra; Gordon (2002) Batista et al. (2005); Helmann (2007); Leuch Or Práticas de GC discussão Objetivos contribuirão para desenvolver competências e aperfeiçoar processos e atividades em espaços presenciais e virtuais. Oferecer processos de educação continuada para atualização de funcionários de maneira uniforme em todas as áreas da empresa. Narrar assuntos complicados, expor situações e/ou problemas, comunicar lições aprendidas, ou ainda dialogar sobre mudanças culturais. 4 Educação Corporativa 5 Narrativas 6 Benchmarking Buscar sistematicamente as melhores referências para comparação aos processos, produtos e serviços da organização, interna e externamente. 7 Melhores Práticas Registrar os pontos positivos e os pontos negativos de determinado procedimento ou processo e reutilizá-los quando necessário. 8 Mapeamento ou Auditoria de Conhecimento Localizar conhecimentos importantes sobre processos, produtos, serviços e relacionamentos com os clientes, dentro das empresas e depois publicar e divulgar onde encontrá-los. 9 Banco de Competências 10 Memória Organizacional 11 Gestão do Capital Intelectual Gestão por Competências Criar um repositório de informações sobre a localização de conhecimentos na organização, incluindo fontes de consulta e as pessoas ou equipes detentoras de determinado conhecimento. Criar e manter um sistema de conhecimentos e habilidades que preserva e armazena percepções e experiências para que possam ser recuperadas e utilizadas posteriormente. Mapear os ativos organizacionais intangíveis, gestão do capital humano, gestão do capital do cliente e política de propriedade intelectual. Mapear os processos-chave, as competências essenciais associadas a estes, as atribuições, as atividades e habilidades existentes e necessárias e os registros para superar deficiências. Criar um sistema especialista de conhecimentos, informações, ideais, experiências, lições aprendidas, melhores práticas que podem ser documentadas em uma base de conhecimento. Analisar os processos organizacionais para promover ou melhorar os processos existentes ou de implantar uma nova estrutura voltada para processos na empresa. Elaborar e estabelecer normas, padrões, procedimentos e regulamentos que caracterizam uma organização. Utilizar ferramentas de automação do fluxo ou trâmite de documentos e processos voltados ao controle da qualidade da informação. Utilizar ferramentas de suporte à colaboração de administradores e gerentes, para gerenciar a produção e informação on-line e distribuir para um público reduzido. Adotar sistemas informatizados de controle de emissão, edição e acompanhamento da 12 13 Base de Conhecimentos 14 Mapeamento de Processos 15 Normalização e Padronização de Documentos Sistemas Workflow 16 17 Gestão de Conteúdo 18 Gestão Eletrônica de 12 Referências (2006) Batista et al. (2005); Helmann (2007); Pereira (2002) Batista et al. (2005); Davenport; Prusak (1998); Purcidonio (2008) Batista et al. (2005); Drucker (1988); Garvin (1993); Purcidonio (2008) Batista et al. (2005); Davenport; Prusak (1998); Helmann (2007); Leuch (2006) Batista (2004); Batista et al. (2005); Davenport; Prusak (1998); Stefanovitz (2006) Batista et al. (2005); Purcidonio (2008) Batista (2004); Batista et al. (2005); Probst et al. (2002) Batista et al. (2005); Stewart (1998) Batista (2004); Batista et al. (2005); Purcidonio (2008) Davenport; Prusak (1998); Helmann (2007) Leuch (2006); Rocha et al. (2004) Helmann (2007); Silva; Rozenfeld (2002) Batista et al. (2005); Baldam et al (2002); Purcidonio (2008) Batista et al. (2005); Desouza (2003) Batista et al. (2005); Baldam et al (2002); Or Práticas de GC Documentos 19 Portais Corporativos 20 Data Warehouse 21 Data Mining Objetivos tramitação, distribuição, arquivamento e descarte de documentos. Reunir ferramentas de colaboração e/ou outros sistemas informatizados que capturam e difundem conhecimento e experiência entre pessoas. Rastrear dados com arquitetura hierarquizada disposta em bases relacionais, permitindo versatilidade na manipulação de grandes massas de dados. Minerar dados com instrumentos de alta capacidade de associação de termos, para “garimpar” assuntos ou temas específicos. Referências Terra; Gordon (2002) Batista et al. (2005); Leuch (2006); Terra (2005a; 2006); Terra; Gordon (2002) Batista et al. (2005); Inmon (1997) Batista et al. (2005); Amaral (2001) Fonte: Autoria própria Quadro 1: Práticas de gestão de conhecimento que contribuem na produção de software A elaboração desse referencial teórico possibilitou reunir as práticas de GC significativas e pertinentes ao processo de produção de software. Observa-se que as práticas e ferramentas investigadas permitem registrar, classificar, codificar e difundir o conhecimento nas indústrias de software. 1.2.3 Processo de especificação de requisitos de software Os conflitos gerados entre usuários e desenvolvedores quanto ao escopo do projeto por ineficiência no levantamento e gerenciamento dos requisitos do software são motivos de fracasso desses projetos. Essa etapa é fundamental no desenvolvimento de software: trata a definição do que produzir. O uso de método e técnicas para sistematizar o processo de definição de requisitos torna-o mais transparente e permite avaliação a qualquer momento. O processo de requisitos de software é composto pelas etapas de desenvolvimento e gerenciamento. A etapa de desenvolvimento de requisitos de software é o processo de identificação e entendimento das necessidades e restrições dos usuários, da formalização e publicação dos requisitos dos usuários, da verificação e aceitação dos requisitos pelos usuários/clientes. Esta fase, segundo o processo padrão estabelecido pelo Rational Unified Process (RUP), envolve os passos: elicitação, especificação, documentação, análise e validação (KRUCHTEN, 2003). Pressman (2002, p.231-232) descreve o processo de engenharia de requisitos em cinco passos: elicitação de requisitos, análise e negociação de requisitos, especificação de requisitos, modelagem do sistema e validação de requisitos, enquanto Sommerville (2003, p.103) apresenta esse processo em apenas quatro passos: estudo de viabilidade, elicitação e análise de requisitos, especificação de requisitos e validação de requisitos. Nesta pesquisa, optou-se por apresentar questões aos engenheiros de software (ESw) de cada empresa da amostra estudada, para que informem o grau de contribuição ou não das práticas de GC com as fases da engenharia de requisitos, segundo os passos descritos por Sommerville (2003). 13 1.3 Metodologia Este estudo visa desenvolver uma pesquisa que se caracteriza por ser aplicada e predominantemente quantitativa e exploratória. É aplicada porque objetiva gerar conhecimento para aplicação prática, e qualitativa, porque visa compreender a relação entre o mundo real e o sujeito. E é exploratória, porque visa proporcionar maior familiaridade com o problema para torná-lo explícito (GIL, 2002). Na busca para identificar o grau de contribuição ou não de cada uma das práticas de GC nas etapas do processo de especificação de requisitos de software, adotou-se uma pesquisa de campo, com aplicação de três instrumentos: entrevista, análise documental e questionário de questões fechadas. Para este último, optou-se pela utilização da escala de cinco pontos, recomendada quando se pretende avaliar a atitude, percepção ou intensidade de sentimentos dos participantes por meio de séries de sentenças às quais se atribuem números correspondentes à escala de valor: 1- Não contribui; 2- Contribui pouco; 3- Contribui; 4- Contribui muito; e 5Contribui fortemente. Para a seleção da amostra pesquisaram-se dados do Cadastro Mobiliário de Vitória-ES, quanto à atividade econômica principal desenvolvimento de software sob encomenda, ao porte, segundo classificação do BNDES e SEBRAE, e com atuação em ambientes industriais. Doze empresas foram selecionadas e, dessas, seis aceitaram participar da pesquisa, sendo identificadas pelas letras do alfabeto A, B, C, D, E e F. Dentre essas empresas participaram como respondentes, dezesseis ESw, desenvolvedores, alocados em processos de especificação de requisitos, que são identificados com a letra da empresa sucedida de número sequencial. Os instrumentos de pesquisa foram pré-testados por dez ESw, desenvolvedores de sistemas de uma organização pública que, por meio de suas opiniões, ajudaram a equilibrar o grau de dificuldade das perguntas, tornando-as mais claras. Com os instrumentos de pesquisa testados e avaliados, partiu-se para sua aplicação nas empresas. As visitas, agendadas por contato telefônico ou e-mail, ocorreram entre os dias 22 de setembro a 31 de outubro de 2008. O contato com as empresas foi feito através da entrevista, na qual o pesquisador apresentou o propósito da pesquisa, esclareceu sobre as práticas de GC descritas no questionário; e os respondentes descreveram sobre cada etapa do processo de especificação de requisitos e sobre atividades que propiciam criar, armazenar, transferir e incorporar conhecimentos nessa fase do desenvolvimento de software. Um ESw de cada empresa visitada participou da entrevista e ficou responsável em aplicar os questionários aos desenvolvedores selecionados para colaborar com a pesquisa e posteriormente devolvê-los preenchidos ao pesquisador. Paralelamente às entrevistas e à aplicação dos questionários, foi utilizada a análise de documentos, apresentados durante as entrevistas, e dos sites corporativos das empresas, objetivando registrar elementos de interesse para interagir com os objetivos do trabalho. Os dados coletados passaram por um processo de seleção, codificação e tabulação realizado em duas fases. A primeira fase, qualitativa, constou de análise de conteúdo das entrevistas e documentação. Essa análise buscou identificar, derivar, analisar e validar a interação entre os conceitos estudados, os documentos analisados, as entrevistas e as práticas analisadas e observadas. 14 A segunda fase, quantitativa, foi realizada após o retorno dos questionários com a análise crítica dos dados, observando a existência de erros nas respostas, bem como questões a que não se respondeu. Os dados foram tabulados com ajuda da planilha de cálculo, e à análise dos resultados aplicaram-se métodos estatísticos simples. Para análise dos dados dos questionários, utilizou-se intervalo de valoração do grau de contribuição que considera: de 4,0 a 5,0 alto; de 3,0 a 3,9 médio; de 2,0 a 2,9 baixo; e de 1,0 a 1,9 nenhum. Os resultados alcançados dos questionários, por serem de natureza quantitativa, serão apresentados em gráficos e tabelas na próxima sessão. 1.4 Resultados Para um melhor entendimento das empresas pesquisadas, elaborou-se a tabela abaixo com um perfil mínimo, indicando tempo de vida, quantidade de empregados segundo a classificação do SEBRAE, porte da empresa segundo a classificação econômica adotada pelo BNDES, atuação de mercado e ainda questões técnicas, como uso de métodos de engenharia de software, adoção de normas e padrões de qualidade e certificação CMMI ou MPS.Br. Os dados mostrados na Tabela 1 foram coletados nas entrevistas e na análise de conteúdo da documentação fornecida, nos sites corporativos e nos dados do Cadastro Mobiliário Municipal de cada empresa da amostra. Observa-se que as empresas pesquisadas têm, na sua maioria, um tempo de vida maior que dez anos, são de pequeno porte, atuação no mercado nacional, utilizam métodos de engenharia de software e adotam padrões de qualidade. Entretanto, só metade possui certificação em metodologias de maturidade em processos de software. ITEM EMPRESA A EMPRESA B Tempo de vida da 9 anos 15 anos empresa Nº empregados Até 19 Até 19 (SEBRAE) Porte da empresa MICRO MICRO (BNDES) Atuação de REGIONAL NACIONAL mercado Usa métodos de SIM SIM engenharia de software? Possui normas e NÃO SIM padrões de qualidade? É certificada CMMI NÃO NÃO / MPS.Br? Fonte: Dados trabalhados pelo autor EMPRESA C EMPRESA D EMPRESA E EMPRESA F 17 anos 15 anos 9 anos 11 anos De 20 a 99 De 20 a 99 De 20 a 99 De 20 a 99 PEQUENA PEQUENA PEQUENA PEQUENA NACIONAL NACIONAL NACIONAL NACIONAL SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM NÃO Tabela 1 – Perfil das empresas pesquisadas – out/2008 As empresas pesquisadas apresentam características semelhantes ao perfil de empresas de software registrado por Roselino (2006): desenvolveram-se à base do atendimento de demandas específicas de clientes locais da atividade produtiva doméstica e consolidaram presença neste mercado; renovaram-se a partir de 15 universidades e centros de pesquisa; buscaram padrões de qualidade e certificação de seus processos; conquistaram avanços que permitiram entrar em grandes projetos de indústrias de grande porte consolidadas no mercado nacional. Com o intuito de caracterizar também os respondentes da pesquisa, organizou-se o seu perfil mínimo, com base na identificação das entrevistas e questionários que indica tempo na empresa, função, formação acadêmica e gênero, mostrado na Tabela 2. RESPONDENTE Tempo na empresa A1 9 anos B1 1 ano B2 2 anos e 5 meses B3 8 meses C1 12 anos C2 15 anos D1 2 anos D2 15 anos D3 4 anos E1 10 meses E2 5 anos E3 9 anos E4 10 meses F1 8 anos F2 1 ano e 10 meses F3 8 anos Fonte: Dados trabalhados pelo autor Função Analista de sistemas Analista de sistemas Analista de sistemas Analista de sistemas Gerente de projeto Analista de sistemas Analista de TI Gerente de projeto Analista de TI Analista de TI Analista de TI Analista de TI Analista de TI Gerente de projeto Analista de TI Analista de TI Formação acadêmica Pós-graduação Pós-graduação Pós-graduação Graduação Mestrado Pós-graduação Graduação Graduação Mestrado Graduação Mestrado Graduação Graduação Graduação Mestrado Graduação Gênero M M F F F F M M M M M M M M M M Tabela 2 – Perfil dos respondentes: Engenheiros de software (ESw) – out/2008 Observa-se que a metade dos respondentes tem mais de cinco anos nas empresas, um tempo significativo se considerado o tempo de vida delas, e possui pós-graduação ou mestrado. Essa tabela mostra que as empresas A e C indicaram respondentes com tempo longo, evidenciando um perfil mais conservador. Em contrapartida, a empresa B apresenta profissionais com tempo menor que 3 anos que, comparado ao tempo de vida da empresa, sugere que é aberta a mudanças e à renovação. Ainda se observa que as empresas D, E e F apresentam quadros recentes, tempo menor que cinco anos; os mais antigos, tempo maior que oito anos. Esse fato indica abertura a mudanças, novas tecnologias, novas metodologias e certa flexibilidade para a convivência de aspectos diferenciados na empresa. Pode-se afirmar em relação à amostra estudada que as empresas valorizam a experiência, o conhecimento acumulado pelos profissionais do quadro interno e também o conhecimento tácito e outras visões que os novos possam agregar à equipe de projeto e à empresa. Os resultados relativos à contribuição ou não das práticas de GC no processo de especificação de requisitos referem-se aos questionários aplicados aos dezesseis ESw, que objetivaram identificar o grau de contribuição ou não de cada uma das práticas de GC apresentadas nas etapas do processo de especificação de requisitos de software, conforme mostra a Tabela 3. Esta tabela mostra a média de contribuição das práticas de GC por empresa, 16 que aponta alto grau de contribuição de: Melhores práticas, Base de Conhecimento e Normalização e Padronização de Documentos. Item Práticas de Gestão do Conhecimento Aprendizagem Organizacional 1 Comunidades de Prática 2 Fóruns / Listas de discussão 3 Educação Corporativa 4 Narrativas 5 Benchmarking (interno e externo) 6 Melhores Práticas 7 Mapeamento / Auditoria de Conhecimentos 8 Banco de Competências 9 Memória Organizacional 10 Gestão do Capital Intelectual 11 Gestão por Competências 12 Base de Conhecimentos 13 Mapeamento de Processos 14 Normalização e Padronização de Documentos 15 Sistemas Workflow 16 Gestão de Conteúdo 17 Gestão Eletrônica de Documentos 18 Portais Corporativos / Intranets 19 Data Warehouse 20 Data Mining 21 Fonte: Dados trabalhados pelo autor A 3,8 4,0 4,3 4,8 3,5 4,5 3,5 3,5 3,5 4,8 5,0 3,5 5,0 3,8 5,0 3,3 3,5 3,8 3,0 5,0 4,8 B 3,5 3,3 3,2 3,5 3,3 3,5 4,0 3,6 3,3 4,2 2,3 3,2 4,0 2,8 2,9 3,0 2,0 2,0 3,3 2,7 2,8 C 4,3 4,3 3,9 4,0 4,3 3,8 4,6 4,0 3,8 3,8 3,5 3,6 4,1 4,6 4,6 4,4 4,5 3,8 4,0 3,3 3,0 D 3,7 3,5 3,5 4,0 4,5 4,3 4,3 3,4 3,7 3,9 3,8 4,1 4,8 4,8 4,9 4,8 4,7 4,4 3,6 4,3 4,0 E 4,1 3,9 3,6 3,6 3,7 3,5 3,9 3,4 3,1 3,6 3,1 3,3 3,6 2,9 3,6 2,6 2,7 2,2 3,2 2,1 2,3 F 3,5 3,4 3,1 3,2 3,3 3,5 4,1 3,3 3,4 3,6 3,0 2,7 3,5 3,5 3,6 2,6 3,1 3,5 2,6 3,1 3,1 Tabela 3 – Contribuição média das práticas de GC por empresa – out/2008 Pode-se considerar ainda que as práticas Memória Organizacional, Aprendizagem Organizacional, Narrativas, Benchmarking e Educação Corporativa apresentam contribuição alta em metade da amostra. As empresas C e D ainda concordam que as práticas Mapeamento de Processos, Sistema Workflow e Gestão de Conteúdo contribuem fortemente. Entretanto, essas práticas apresentam um grau baixo nas empresas B, E e F, com exceção da técnica Narrativas, que mostra um grau médio. Nos resultados apresentados, observa-se que, de modo geral, as empresas registram diferentes índices de contribuição das práticas de GC em relação às fases do processo de especificação de requisitos. A empresa D desponta com o maior percentual de contribuição, grau alto, seguida da empresa C, dando indícios de encontrar-se em um estágio mais avançado de entendimento ou de uso das práticas em relação às outras empresas. As empresas F e A apresentam, respectivamente, um grau alto de contribuição das práticas pesquisadas. Esses resultados sugerem dificuldades no entendimento das ações que fazem uso no processo de especificação de requisitos com as práticas relacionadas ou restrições quanto ao uso dessas práticas. 17 Em outro extremo, nas empresas B e E, observa-se a menor indicação de alta contribuição das práticas de GC às fases da engenharia de requisitos. Esses resultados evidenciam a dificuldade dos respondentes com as questões apresentadas ou ainda um nível incipiente de adoção das práticas de GC. Como forma de melhor visualizar os dados coletados na tabela 3, apresentase o Gráfico 1, que mostra o grau de contribuição das práticas de GC para cada fase do processo de especificação de requisitos, na visão dos dezesseis ESw. Gráfico 1 – Grau de contribuição das práticas no processo de especificação de requisitos Esse gráfico mostra que as fases de elicitação e especificação de requisitos apresentam alto índice de contribuição, maior que 4. A pesquisa registrou esse índice na fase de Elicitação de Requisitos com as práticas: Aprendizagem Organizacional, Comunidades de Prática, Narrativas, Melhores Práticas, Memória Organizacional, Base de Conhecimento e Normalização e Padronização de Documentos. Na fase de Especificação de Requisitos, esse grau foi identificado com as práticas Educação Corporativa, Narrativas, Benchmarking, Melhores Práticas, Base de Conhecimento, Mapeamento de Processos e Normalização e Padronização de Documentos. Constata-se ainda que a fase Estudo de Viabilidade mostrou o menor grau de contribuição, com as práticas Melhores Práticas, Memória Organizacional e Base de Conhecimento, enquanto a fase de Validação de Requisitos registrou esse índice com a prática Normalização e Padronização de Documentos. Observa-se que essas fases, além de receberem o menor número de práticas com índice de contribuição alto, foram as únicas que apresentaram grau baixo nas práticas Sistema Workflow e GED na fase Estudo de Viabilidade; e Portais Corporativos, Data Warehouse e Data 18 Mining na fase de Validação de Requisitos. A análise de conteúdo das entrevistas aos seis ESw de cada empresa da amostra mostrou que a Base de Conhecimento e a Normalização e Padronização de Documentos estão implementadas em todas as empresas pesquisadas, porém apenas três delas utilizam a prática Melhores práticas para apoio ao processo de especificação de requisitos. Os entrevistados registraram grande preocupação com a sistematização e documentação do processo de especificação de requisitos, porém baixa preocupação em gerenciar o conhecimento gerado nesse processo. Constata-se, no relato de três ESw, que nessas empresas o foco está nas pessoas e não no conhecimento que elas produzem. Em resumo, os dados coletados sugerem que as empresas pesquisadas ainda têm baixa maturidade em utilizar as práticas de GC para gerenciar o recurso conhecimento criado em processos de especificação de requisitos. 1.5 Considerações Após a realização da pesquisa empírica, com a tabulação e análise dos resultados, pode-se afirmar que o objetivo deste estudo, que é identificar as práticas de GC que contribuem para reter o conhecimento técnico gerado em processo de especificação de requisitos de software, foi atingido, primeiramente com a revisão bibliográfica na qual foram elucidadas as práticas de GC que se relacionam, iteram e se integram à produção de software, e complementado com a parte empírica da pesquisa. Os respondentes apontaram Melhores Práticas, Base de Conhecimento, Normalização e Padronização de Documentos, Memória Organizacional, Aprendizagem Organizacional, Narrativas, Benchmarking, e Educação Corporativa, como práticas que contribuem com a criação de conhecimento nessa fase da produção de software. Em geral, identifica-se, nas empresas pesquisadas, que a conversão do conhecimento ocorre por meio de ações formais e informais, todavia sem um processo sistematizado de iniciativa corporativa para a gestão desse recurso. Em contrapartida, as empresas possuem procedimentos operacionais padronizados e os utilizam em todos os projetos. Vale ressaltar que havia a expectativa de que se encontrasse um estágio melhor estruturado em relação às condições capacitantes para as práticas de GC em relação à intenção organizacional de criar conhecimento. Após a análise dos resultados, pode-se dizer que as empresas pesquisadas apresentam iniciativas preliminares para a retenção de conhecimento na fase inicial da produção de software, porém têm compreensão da importância e da necessidade de buscar o gerenciamento estratégico deste recurso como forma de manter e disseminar o conhecimento organizacional criado no desenvolvimento dos projetos. Apresenta-se como limitação principal à execução da pesquisa empírica o desencadeamento da crise econômica mundial que coincidiu com o período de contato com as empresas selecionadas. A insegurança do mercado, as dúvidas sobre a continuidade dos projetos e as dificuldades de se encontrarem respostas para o que estava acontecendo fizeram com que muitas empresas se recusassem a conversas e diálogos que não fossem estritamente relacionados ao foco principal do trabalho realizado. 19 Outro fator relevante foi o fato de que os questionários não foram respondidos com a presença do pesquisador. Esse fato pode ter causado dificuldade no entendimento das questões, sem que o pesquisador pudesse esclarecer possíveis dúvidas e sem que os respondentes tivessem atingido uma visão concisa das práticas de GC de fatos existentes, principalmente as práticas informais cuja denominação pode ser diferente do instrumento aplicado. Este fator se agrava com a constatação das limitações de conhecimento e uso dos respondentes das práticas de GC, como, por exemplo, a Narrativa. Essa limitação pode ter gerado dados incorretos e mostrou uma política restritiva de acesso aos profissionais. Os resultados deste estudo induzem a necessidade de novas pesquisas sobre o tema estudado. Como sugestão fazem-se algumas proposições para o desenvolvimento de trabalhos futuros como forma de complementar este trabalho: realizar uma pesquisa similar em indústrias de software de médio e grande porte para identificar as práticas de GC utilizadas e implantadas para a retenção do conhecimento organizacional; ampliar o objeto da pesquisa para conhecer e avaliar a retenção de conhecimento nas demais fases do processo padrão de desenvolvimento de software; investigar a criação de conhecimento organizacional na produção de software como forma de induzir inovação de processos, produtos e serviços. Esta pesquisa buscou contribuir com os estudos realizados sobre gestão do conhecimento em indústrias de software, com foco no processo de especificação de requisitos, etapa inicial da produção de software. A ênfase na criação de conhecimento e práticas de GC permitiu uma abordagem diferenciada da prática atual das empresas pesquisadas quanto ao processo padrão usado para desenvolvimento de software. Entretanto, o conjunto de resultados obtidos facilitou compreender que o processo estudado é um trabalho de conhecimento, entender a importância deste recurso para essas empresas e mostrar, principalmente, que os engenheiros de software são o cerne da criação do conhecimento e inovação nesse tipo de organização. 1.6 Referências AMARAL, F.C.N. Data Mining, Técnicas e aplicações para o marketing direto. São Paulo: Berkeley, 2001. BALDAM, R.; VALLE, R.; CAVALCANTI, M. GED: Gerenciamento Eletrônico de Documentos. São Paulo: Érica, 2002, 204p. BATISTA, F. F. O governo que aprende: gestão do conhecimento em organizações do executivo federal. Brasília: IPEA, 2004 (Texto para Discussão nº 1022). BATISTA, F. F.; QUANDT, C. O.; PACHECO, F. F.; TERRA, J. C. C. 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APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE NO ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DE PERDAS DE EMBALAGENS DA PRODUÇÃO DE RESFRIADOS TEMPERADOS Claudilaine Caldas de Oliveira Aline Iamagamin Rony Peterson da Rocha Luciano Scandelari 2.1 Introdução A crescente concorrência entre os mercados e o intenso desenvolvimento tecnológico têm feito com que as organizações de maior atenção aos seus produtos e processos produtivos, buscando oferecer aos seus consumidores produtos cada vez melhores em termos de qualidade. Com essa visão, o presente estudo teve como finalidade estudar a utilização de ferramentas da qualidade nas perdas de Embalagens na Produção de Resfriados Temperados de um Abatedouro de Aves, buscando o aperfeiçoamento do processo produtivo e dos produtos para a redução de desvios nas metas de produção e, consequentemente, a melhoria da qualidade. As ferramentas da qualidade são utilizadas para reduzir ou eliminar fontes de variação controláveis que afetam produtos e serviços. São métodos que coletam dados e geram informações que auxiliam na tomada de decisão quanto à produção. As ferramentas do controle estatístico da qualidade estudadas e apresentadas no decorrer deste trabalho são: fluxograma; folhas de verificação; gráfico de Pareto; diagrama de Ishikawa; histograma; diagrama de dispersão e gráficos de controle. Com a utilização de ferramentas da qualidade, conseguiu-se visualizar os desvios ocorridos no processo de produção e, com a aplicação, amenizar esses desvios. 2.2 Revisão de literatura A exigência da qualidade é um dos requisitos principais por parte dos clientes, o que, em decorrência, garante que a empresa se mantenha no mercado. Assim, as empresas têm se preocupado mais com seus processos produtivos e a qualidade de seus produtos e/ou serviços e com a forma como os mesmos estão sendo conduzidos. Neste sentido, o controle da qualidade tem se mostrado eficiente para a identificação, análise e solução de problemas para o melhoramento contínuo das empresas. De acordo com Tubino (2000), as ferramentas utilizadas pelo controle da qualidade, além de serem utilizadas pelo pessoal específico do controle de qualidade, devem ser entendidas e empregadas pelo pessoal do Planejamento e 23 Controle da Produção (PCP) nas suas respectivas atividades, principalmente na função de acompanhamento e controle do programa de produção. No controle da qualidade, todas as decisões são tomadas com base em análise de fatos e dados. Para esses dados sejam aproveitados ao máximo, são utilizadas algumas técnicas e ferramentas adequadas, cujo objetivo principal é identificar os maiores problemas dos produtos e dos processos e, por meio de análise adequada, buscar a melhor solução. Estas ferramentas, afirma Miguel (2001), que foram convencionalmente chamadas de Ferramentas Estatísticas da Qualidade, mas como nem todas são estatísticas podem ser chamadas de Ferramentas Tradicionais da Qualidade. Essas ferramentas, na visão do autor, podem ser utilizadas como um auxílio no desenvolvimento de um sistema de qualidade, podendo ser utilizadas isoladamente, ou então em conjunto com outros métodos de implantação de programas de qualidade. Já na percepção de Toledo, Batalha e Amaral (2000), o controle estatístico da qualidade corresponde à área do desenvolvimento das ferramentas estatísticas de amostragem e de controle estatístico de processo, orientados para o controle da qualidade no processo. O controle do processo é um enfoque preventivo centrado no acompanhamento e controle das variáveis do processo que podem influir na qualidade final do produto. Foi responsável por um grande salto nos padrões de qualidade da indústria e pela elevação do controle da qualidade ao status de disciplina científica. Conforme Vieira (1999), as ferramentas estatísticas para o controle da qualidade são: folha de verificação; estratificação; diagrama de Pareto; histograma; diagrama de causa e efeito; gráfico de controle e o diagrama de dispersão. Na visão de Davis (2001, p. 161), as sete ferramentas básicas do controle da qualidade “são fluxogramas ou diagramas de processos, cartas de controle ou de tendências, listas de verificação, diagramas de dispersão, diagramas de causa e efeito ou espinha de peixe, diagramas de Pareto e histogramas”. Segundo Paladini (1994), as sete ferramentas estatísticas da qualidade são: - folha de verificação: é uma ferramenta usada para quantificar a frequência como certos eventos ocorrem e sua função é garantir que o ganho obtido pela aplicação das outras ferramentas estatísticas não seja perdido ou esquecido depois que os problemas forrem solucionados; - histograma: é um gráfico de barras que mostra a distribuição de dados por categorias. Seu objetivo é apresentação dos dados obtidos em uma observação, de forma a simplificar a comparação de suas frequências de ocorrência; - diagrama de Pareto: seu objetivo é classificar em ordem decrescente os problemas que produzem os maiores efeitos e atacar estes problemas inicialmente. Desta forma, a solução é direcionada exatamente para coisas mais importantes em primeiro lugar; - diagrama de causa e efeito: também conhecido como diagrama de espinha de peixe. É uma ferramenta de representação das possíveis causas que levam a um determinado efeito; - diagrama de dispersão: diagrama que permite a identificação do grau de relacionamento entre duas variáveis consideradas numa análise; 24 - cartas de controle: é um gráfico de controle que serve para acompanhar a variabilidade de um processo, identificando suas causas comuns (variação normal do processo) e causas especiais (problemas decorrentes de falha operacional); - fluxograma: é uma representação gráfica que permite fácil visualização dos passos de um processo, pois utiliza símbolos padronizados, permitindo a análise para detecção de falhas e de oportunidade de melhorias. Pode-se observar em diversas literaturas que há uma divergência de idéias entre autores a respeito das ferramentas da qualidade. Alguns autores ressaltam que existem sete ferramentas da qualidade, outros não citam a quantidade de ferramentas existentes para o controle da qualidade, outros ainda, explanam apenas sobre algumas dessas ferramentas. Sendo assim, o estudo proposto utilizará de algumas ferramentas convenientes para o seu desenvolvimento. 2.3 Material e Métodos A pesquisa em questão foi realizada em um frigorífico de aves, com o intuito de acompanhar e controlar variáveis do processo e aplicar ferramentas da qualidade. Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizadas para coletar e analisar os dados, observações diretas intensivas e não participativas, de entrevistas não estruturadas, o método de abordagem qualitativo-quantitativo, conforme explica Richardson (1999). No que diz respeito ao método quantitativo, aplicou-se o diagrama de Pareto, diagrama de dispersão e o histograma e para os cálculos demonstrados, pois são realizados a partir de informações mensuráveis. Fez-se necessário à utilização de dados coletados de forma aleatória para o emprego das ferramentas para o controle da qualidade, empregando as metodologias de Miguel (2001) e Vieira (1999) e Davis (2001). Já no método qualitativo, aplicaram-se, no fluxograma, folhas de verificação e diagrama de Ishikawa, pois utilizam em sua análise informações não mensuráveis com características de qualidade, além das análises das demais tabelas e figuras. 2.4 Resultados e Discussão No estudo considerou-se apenas a linha de Resfriados Temperados da área de Processados, que são uma linha de produtos diferenciados e de alto valor agregado e por apresentar alguns problemas em seu processo, como o de selagem das embalagens. De acordo com o processo de produção dos Resfriados Temperados pode-se elaborar o seguinte Fluxograma, conforme a figura 1. 25 Início Temperar Tamblear Embalar Selar Não Embalagem Ok Sim Encaixotar Pesar Não Pesagem Ok Sim Fim Figura 1: Fluxograma do Processo de Resfriados Temperados Os produtos Resfriados Temperados são acondicionados em embalagens específicas variando entre 900 a 1200 gramas, sendo seladas por uma seladora automática a vácuo. Analisou-se uma amostra de 100 caixas de cada produto e, com isso, descobriu-se que o produto que apresentava maior número de embalagens danificadas era o filezinho de peito resfriado temperado. Desta forma, construiu-se o Diagrama de Pareto desse produto, podendo verificar os problemas que impediam a eficácia do processo de selagem, conforme a figura 2. Para a coleta dos dados foi necessária a elaboração de uma folha de verificação. 26 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 Mal Selado Tempero por fora C/ Ar Freq. Rel. Acumulada % Freqüência (und) Verificação de Embalagens - Filézinho Freqüência Freq. Rel. Acumulada % Pacote muito Cheio Problemas Figura 2: Gráfico de Pareto – Verificação de Embalagens - Filezinho de Peito Pôde-se verificar, por meio da frequência relativa acumulada, que os principais problemas foram os pacotes mal selados e o de tempero por fora da embalagem, que, juntos, somam juntos mais de 89% do total das frequências. Com a elaboração do Diagrama de Pareto foi possível identificar os principais problemas que ocorreram no processo de selagem e, a partir de então, através de observações descobriram-se as causas dos respectivos problemas e construíram-se dois Diagramas de Ishikawa (figura 3 e 4). Os Diagramas têm como base as causas conhecidas como 6M e, a partir delas, foram identificadas as causas secundárias que estão relacionadas com o processo de Resfriados Temperados. Máquina Seladora pressiona produto para fora do Mão-de-Obra Meio Ambiente Falta de treinamento Má regulagem da temperatura da solda Funcionário não habituado à função Mal Selado Forma incorreta de acomodar os pacotes na seladora Produtos diferentes sendo selados ao mesmo tempo Excesso de peso nos Produção muito elevada Dimensionamento embalagem Produto escorreg. Matéria-Prima Método Falta de pesagem dos pacotes individuais Medida Figura 3: Diagrama de Ishikawa – Processo de Resfriados Temperados 27 Figura 4: Diagrama de Ishikawa – Processo de Resfriados Temperados Fator Máquina: para o efeito mal selado, existem duas causas: a seladora pressiona o produto para fora do pacote e má regulagem da temperatura da máquina. Na causa seladora pressiona o produto para fora do pacote, o fato de o filezinho ser um produto particularmente escorregadio e não possuir osso, fica propenso a ser pressionado para fora do pacote, ficando na parte da embalagem a ser selada prejudicando a selagem. Já na causa má regulagem da temperatura da solda, quando a temperatura da solda está muito baixa a embalagem não é selada. Fator Mão-de-obra: existem duas causas distintas - falta de treinamento e funcionários não habituados a executar a função. Fator Método: possuem quatro causas, sendo elas, produção muito elevada, forma incorreta de acomodação dos pacotes na seladora, excesso de peso nos pacotes e produtos com embalagens diferentes sendo selados ao mesmo tempo. A causa é a falta de preparação das embalagens para acomodar o produto. Se a borda da embalagem não for dobrada antes da colocação do produto, este suja a borda com tempero e assim a embalagem não é selada. Fator Matéria Prima: existem duas causas - produto escorregadio e dimensionamento da embalagem. Fator Medida: há uma única causa, a falta de pesagem dos pacotes individuais, ao quais são pesados com as caixas já completas (quantidade de peso final), de modo que não há um padrão formal estabelecido para o peso dos pacotes individuais. Além disso, existe a causa da quantidade de tempero líquido, cujo excesso pode influenciar a selagem. Para comprovar estatisticamente se havia erro de peso em alguns pacotes de filezinho resfriado temperado, coletou-se uma amostra de 100 pesos (n) e construiuse um Histograma com estes valores, conforme a figura 5. Para a coleta dos dados fez-se necessário a construção de uma folha de verificação. Antes da construção do Histograma fizeram-se os cálculos e encontrou-se o número de classes (i) igual a 7 e a amplitude do intervalo de classe (h) igual a 92. 28 Histograma - Verificação de Pesos - Filézinho 30 Frequencia 25 20 15 10 5 0 813 - 905 905 - 997 997 - 1089 1089 - 1181 1181 - 1273 1273 - 1365 1365 - 1457 Classes Figura 5: Histograma: Verificação de Embalagens – Filezinho de Peito Pode-se dizer que a maior frequência é de embalagens com peso médio, já que se considera que o pacote deve conter de 900 gramas a 1200 gramas. Porém, há embalagens que estão fora desta faixa de peso e que podem ser consideradas fora de padrão. Dessas, aproximadamente 8 delas estão acima e 21 abaixo do peso. Para verificar se havia correlação entre o excesso de peso nas embalagens (X) e a quantidade de embalagens danificadas (Y) no processo de embalar e selar elaborou-se um Diagrama de Dispersão, conforme a figura 6. Para a elaboração do diagrama coletou-se uma amostra de 20 dados de cada faixa de peso, sendo que as faixas de peso foram de 800, 900, 1000, 1100, 1200 e 1300 gramas. A coleta foi feita através de uma folha de verificação. Embalagens Danificadas Diagrama de Dispersão - Filézinho 25 20 15 10 5 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Pesos Figura 6: Diagrama de Dispersão – Filezinho de Peito Por fim, calculou-se o coeficiente de correlação (r) igual a 0,96. Como o resultado do coeficiente de correlação ficou próximo de +1, isto significa que, quando uma variável muda, a outra mudará no mesmo sentido, ou seja, quando a quantidade de peso aumenta, a quantidade de embalagens danificadas também aumenta. 29 Sendo assim, decidiu-se envolver outra variável que poderia interferir nos resultados obtidos até então. Acrescentou-se no estudo a variável dobra da borda dos pacotes. A análise foi realizada da mesma forma que a anterior, com a diferença única de se dobrar a borda dos pacotes, com o intuito de que não sujasse de tempero. Os resultados obtidos com a dobra da borda dos pacotes mostraram um valor de r igual a 0,84. Um pouco mais fraca neste caso, porém também indicando uma correlação positiva, ou seja, com o aumento do peso do pacote, aumenta medianamente a quantidade de embalagens danificadas. Para estabelecer limites para o peso dos pacotes foi construído um Gráfico de Controle x – R para o filezinho de peito resfriado temperado. Foram coletadas 5 amostras (m) contendo 20 (n) elementos cada. Como se trata de variáveis, o gráfico elaborado foi o x – R. Para a elaboração do gráfico, primeiramente construiu-se uma tabela com os dados coletados, a média e a amplitude, conforme a tabela 1. Amostras Pesos 1 2 3 4 5 6 7 8 1 775 690 990 1186 918 955 1083 853 2 915 1107 1060 1094 898 827 959 935 3 1085 1118 1031 1132 892 1289 1326 946 4 880 1135 1002 1188 1243 1080 1129 1168 5 980 1078 886 1230 1065 1047 1003 934 6 870 1145 1024 882 1136 956 932 1016 7 835 1115 890 1164 973 1084 908 1019 8 1025 1010 1195 844 962 924 1048 1027 9 1125 1104 851 1169 837 889 837 1193 10 965 1114 1153 760 1127 1085 971 1177 11 1045 1164 924 1157 1094 941 1224 1326 12 1030 878 917 1147 817 1272 930 1177 13 805 703 1152 1094 1019 1072 967 1066 14 1010 1022 1108 1074 724 1067 1006 998 15 1060 1058 1189 1104 1042 1042 1075 868 16 925 874 1183 1013 920 1016 1211 948 17 1045 993 1194 699 748 971 1070 972 18 840 912 1141 945 980 1373 1068 1200 19 1038 1047 1185 755 904 1070 1147 1086 20 1130 833 1167 943 994 867 1080 1015 X 969,15 1005 1062,1 1029 964,65 1041,35 1048,7 1046,2 R 355 474 344 531 519 546 489 473 Tabela 1: Tabela de Pesos, Média e Amplitude Após obter as médias, calculou-se a média da Média (x) que é igual a 1020,76 e Amplitude (R) igual a 466,37, os limites de x: LSC = 1104,71 e LIC = 30 936,82125 e por fim os limites de R: LSC = 741,53 e LIC = 191,21. Após os cálculos elaboraram-se os seguintes gráficos, conforme as figuras 7 e 8. Gráfico de Controle - Verificação de Pesos - Filézinho Médias 800 600 LSC 400 LIC 200 Média das Amplitudes 0 1 2 3 4 5 6 7 Média das Amostras 8 Amostras Figura 7: Gráfico de Controle (x) - Verificação de Pesos – Filezinho de Peito Gráfico de Controle - Verificação de Pesos - Filézinho Médias 1200 LSC 1100 LIC 1000 900 800 1 2 3 4 5 6 7 8 Média das Médias Média das Amostras Amostras Figura 8: Gráfico e Controle (R) – Verificação de Pesos – Filezinho de Peito O gráfico de x mostra os limites dos pesos, e o gráfico de R mostra os limites da amplitude. Pode-se observar que nenhum dos gráficos apresentou pontos fora dos limites. Diante das possíveis causas encontradas por meio de observações no processo, elaborou-se os Diagramas de Ishikawa, que apresentarame soluções para alguns problemas apontados. Fator Máquina: quanto ao efeito mal selado, foi possível orientar o operador da seladora a encontrar a temperatura ideal para a selagem dos pacotes de filezinho de peito resfriado temperado e adotá-la durante todo o processo. Fator Método: foi repassada a informação para os responsáveis do setor de que o excesso de peso poderia ocasionar a má selagem dos pacotes e, então, se reduziu o número de pacotes com excesso de peso, ou seja, reduziu-se o número de pacotes com mais de 1200 gramas. Também se diminuiu a quantidade de pacotes acomodados de forma incorreta na seladora pelo fato de haver maior 31 comprometimento por parte dos funcionários a partir do estudo. Já na selagem do filezinho, este será selado individualmente. Para o efeito tempero por fora, além da diminuição do número de pacotes com excesso de peso, os pacotes estão sendo mais bem preparados para acomodar os produtos, ou seja, a borda das embalagens está sendo dobrada para fora e, desta forma, elas não sujam de tempero, permitindo a selagem. Este fato pode ser visualizado comparando os Histogramas propostos. No primeiro Histograma (figura 5), o número de pacotes com peso médio de 1227 a 1411 gramas foi de 23 pacotes, enquanto que no segundo Histograma (figura 9) o peso médio dos pacotes foi menor e apenas 1 pacote apresentou mais de 1261 gramas. Histograma - Verificação de Pesos - Filézinho 30 Freqüência 25 20 15 10 5 0 700 – 786 786 – 872 872 – 958 958 – 1044 1044 – 1130 1130 – 1216 1216 - 1302 Classes Figura 9: Histograma com Aplicação das Ferramentas No Diagrama de Dispersão, que foi elaborado para identificar a correlação existente entre o peso dos pacotes e a quantidade de embalagens danificadas pelo processo de selagem, verificou-se no primeiro Diagrama de Dispersão (figura 6) que a correlação era forte, mostrando que, quanto mais cheios os pacotes estavam, mais embalagens eram danificadas. Na construção do segundo Diagrama de Dispersão, acrescentou-se no estudo outra variável que foi a dobra da borda das embalagens. E, então, descobriu-se que com a borda da embalagem dobrada, a correlação existente entre o peso e a quantidade de embalagens danificadas apresentava-se fraca. Desta forma, concluise que, entre as três variáveis analisadas, a que mais interfere na redução de embalagens danificadas pelo processo de selagem é a dobra da borda das embalagens. Com relação ao Gráfico de Controle, a partir dos dados coletados no decorrer do processo, podem-se estabelecer os limites de controle para os pesos dos pacotes. Identificou-se que nenhum ponto ficou fora dos limites, portanto este gráfico pode ser tomado como base para o controle de peso dos pacotes de filezinho de peito resfriado temperado. Após a aplicação das ferramentas no processo de embalagens do filezinho de peito, pôde-se comprovar que o número de embalagens danificadas pelo processo de selagem de filezinho de peito resfriado temperado havia sido reduzido, analisouse novamente uma amostra de 100 caixas do produto e construiu-se um novo Diagrama de Pareto, conforme a figura 10. 32 35 30 25 20 15 10 5 0 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 Freq. Rel. Acumulada % Freqüência Verificação de Embalagens - Filézinho Freqüência Freq. Rel. Acumulada % 0,00 Mal Selado Tempero por C/ Ar fora Problemas Pacote muito Cheio Figura 10: Gráfico de Pareto com Aplicação das Ferramentas Verifica-se que houve uma redução de embalagens danificadas, pois no início do estudo o número de embalagens danificadas era de 174, passando para 59, o que significa uma redução de 66%. 2.5 Considerações Finais A partir da utilização das ferramentas da qualidade foi possível reduzir, na empresa estudada, as perdas de embalagens do produto filezinho de peito resfriado temperado em 66%. Isso acarreta benefícios para a empresa tanto em termos de redução de custos com a diminuição da utilização da seladora, redução de tempo, mão-de-obra e embalagens, quanto em relação à minimização do processo de retrabalho que, além de originar custos para a empresa, gera transtornos durante o processo de produção. 2.6 Referências DAVIS, M. M.; AQUILANO, N. J.; CHASE, R. B. Fundamentos da administração da produção. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MIGUEL, P. A. C. Qualidade: enfoques e ferramentas. São Paulo: Artliber, 2001. PALADINI, E. P. Qualidade total na prática: implantação e avaliação de sistemas de qualidade total. São Paulo: Atlas, 1994. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. TOLEDO, J. C.; BATALHA, M. O.; AMARAL, D. C. Qualidade Agroalimentar: situação atual e perspectivas. Revista de Administração de Empresas. v. 40, n. 2, p. 90-101, 2000. TUBINO, D. F. Manual de planejamento e controle da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. VIEIRA, S. Estatística para a qualidade: como avaliar com precisão a qualidade em produtos e serviços. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 33 3. QUALIS 2007-2009: DESAFIOS E TENDÊNCIAS PROJETADAS PARA A PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Bruno Pedroso Luiz Alberto Pilatti 3.1 Introdução Falar de pesquisa e pós-graduação no Brasil não é uma empreitada simples. O ambiente acadêmico sistematicamente vem ganhando em sofisticação e complexidade. Novos elementos e indicadores – alguns advindos do sistema de graduação e pós-graduação – passaram a compor o cenário e vêm redesenhando o ensino, em diferentes níveis, de todas as áreas acadêmicas. Um dos elementos mais significativo é o sistema Qualis, que serve para aferir a qualidade da produção bibliográfica dos programas de pós-graduação brasileiros. O parâmetro empregado é o da conformidade dos veículos ou meios de divulgação utilizados pelos pesquisadores para tornarem públicos os resultados de suas pesquisas. O sistema implantado em 1998, apesar de sua curta existência, teve sua versão inicial ajustada diversas vezes para minimizar distorções que se apresentaram. O último ajuste foi divulgado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), entidade responsável pela avaliação dos programas de pós-graduação brasileiros, em dezembro de 2008, com a apresentação do Qualis relativo aos dados do ano de 2007. Em termos práticos, o sistema Qualis determinou uma acentuada valoração de um número restrito de periódicos consolidados provenientes de áreas de maior tradição acadêmica. O quadro projeta uma direção que não apresenta indicativos de mudanças. O desnível existente entre grandes áreas com inserção internacional, como é o caso das Ciências Agrárias, e outras, ainda frágeis na perspectiva de os seus cientistas verem seus trabalhos serem citados por outros pesquisadores em revistas internacionais (situação perceptível de forma mais nítida nas Ciências Sociais Aplicadas), é abissal. A Engenharia de Produção foi, dentro do cenário tracejado, a área escolhida como objeto no presente estudo. Trata-se de uma sub-área – alocada pela CAPES na área das Engenharias III – com tradição acadêmica restrita e portadora de problemas históricos, como autonomia limitada de temas e métodos em relação às engenharias mais tradicionais que compõem a grande área das Engenharias. Assim, o objetivo do presente estudo é analisar os efeitos do Qualis, referente às publicações do ano-base 2007, na aferição da qualidade da produção bibliográfica dos programas de pós-graduação da sub-área Engenharia de Produção. O pano de fundo das discussões é a política da CAPES relativa à pósgraduação brasileira. 3.2 Avaliação da pós-graduação no Brasil A avaliação dos cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil é realizada pela CAPES. São reconhecidos os cursos cujo conceito obtido na avaliação seja 34 igual ou superior a 3, em uma escala de 1 a 7. Os cursos reconhecidos atendem aos requisitos estabelecidos pela legislação vigente do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional da Educação (CNE) e possuem autorização para expedir diplomas com validade em todo o território nacional (CAPES, 2008). Os cursos de pós-graduação stricto sensu são divididos em nove grandesáreas do conhecimento: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, Linguística/Letras e Artes e Multidisciplinar. Cada grande área é seccionada em um número variado de áreas de avaliação, conforme pode ser verificado no quadro 1: CIÊNCIAS AGRÁRIAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CIÊNCIAS DA SAÚDE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CIÊNCIAS HUMANAS CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS ENGENHARIAS Ciências Agrárias Ciências de Alimentos Medicina Veterinária Zootecnia/Recursos Pesqueiros Ciências Biológicas I Ciências Biológicas II Ciências Biológicas III Ecologia e Meio-Ambiente Educação Física Enfermagem Farmácia Medicina I Medicina II Medicina III Medicina IV Odontologia Saúde Coletiva Astronomia/Física Ciência da Computação Geociências Matemática/Probabilidade e Estatística Química Antropologia/Arqueologia Ciência Política e Relações Internacionais Educação Filosofia/Teologia Geografia História Psicologia Sociologia Administração, Ciências Contábeis e Turismo Arquitetura e Urbanismo Ciências Sociais Aplicadas I Direito Economia Planejamento Urbano e Regional/Demografia Serviço Social Engenharias I 35 LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES MULTIDISCIPLINAR Engenharias II Engenharias III Engenharias IV Artes/Música Letras/Linguística Biotecnologia Ensino de Ciências e Matemática Interdisciplinar Materiais Quadro 1 – Grandes áreas e suas respectivas áreas de avaliação Fonte: CAPES (2008) Uma área de avaliação, por sua vez, agrupa os programas de pós-graduação que possuem relação com tal área. Assim, uma área de avaliação pode possuir ramificações, denominadas sub-áreas. O presente estudo enfoca a área de avaliação Engenharias III, sobretudo na sub-área Engenharia de Produção. A grande área Engenharias possui quatro áreas de avaliação, cujas respectivas subáreas são: ÁREA DE AVALIAÇÃO Engenharias I Engenharias II Engenharias III Engenharias IV SUB-ÁREA Engenharia Civil Engenharia de Transportes Engenharia Sanitária Engenharia de Materiais e Metalúrgica Engenharia de Minas Engenharia Nuclear Engenharia Química Engenharia Aeroespacial Engenharia de Produção Engenharia Mecânica Engenharia Naval e Oceânica Engenharia Biomédica Engenharia Elétrica Quadro 2 – Áreas de avaliação e sub-áreas da grande área Engenharias Fonte: Sampaio e Souza (2008) Ainda que a avaliação dos cursos de pós-graduação stricto sensu sofra variações em cada área, os indicadores utilizados para tal são os mesmos (proposta do programa, corpo docente, corpo discente/teses e dissertações, produção intelectual, inserção social). A produção intelectual é o fator mais valorado na avaliação da pósgraduação. Para a avaliação da qualidade da produção intelectual, a CAPES utiliza o Qualis. O sistema Qualis foi implantado em 1998, e, até 2007 (ano-base 2006), classifica a produção intelectual da pós-graduação stricto sensu quanto ao âmbito de sua circulação (local, nacional, internacional) e com relação ao quesito qualidade (A, B, C), em cada uma das áreas de avaliação (CAPES, 2008). De acordo com a CAPES, o Qualis é [...] o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para diferenciação da qualidade da produção bibliográfica dos programas de pós-graduação. A 36 estratificação da qualidade dessa produção é realizada de forma indireta, pela classificação dos veículos utilizados na sua divulgação. Dessa forma, o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos periódicos científicos, jornais, eventos, livros etc. (CAPES, 2007a, p. 01) Com efeito, a combinação de ambas as classificações possibilita nove variações: A Internacional, B Internacional, C Internacional, A Nacional, B Nacional, C Nacional, A Local, B Local e C Local. As principais características do Qualis, de acordo com a CAPES (2007b, p. 01), são as seguintes: – atende aos objetivos específicos e exclusivos do processo de avaliação da pós-graduação promovido pela Capes e é basicamente alimentado pelas informações anualmente fornecidas anualmente pelos programas por intermédio do Coleta de Dados; – permite a classificação de periódicos e anais utilizados para a divulgação da Produção Intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu, seguindo uma escala de dupla entrada relativa ao âmbito de circulação (internacional, nacional e local) e à sua qualidade (A-alta, B-média e C-baixa); – é alimentado pelas informações anualmente fornecidas pelos programas de pós-graduação stricto sensu, através do aplicativo Coleta de Dados da Capes e por indicações dos Representantes das Áreas; – a classificação é feita por Área de Avaliação através de um aplicativo externo ao Sistema de Coleta de Dados, o WebQualis, podendo assim um mesmo veículo ter, para diferentes áreas, diferentes classificações; – o trabalho realizado pela área é baseado em seus critérios, previamente definidos, respeitando as diretrizes e orientações gerais estabelecidas pelo Conselho Técnico Científico – CTC; – anualmente acontece a atualização com a inclusão de novos veículos e a reclassificação dos veículos anteriormente classificados; – as áreas podem classificar revistas típicas de outras áreas, para fins de avaliação da produção (geração dos Cadernos de Avaliação) não sendo necessário indicá-las para publicação no Qualis da área. A transparência do processo de avaliação não é prejudicada tendo em vista que, no Caderno de Indicadores da Produção Intelectual, o programa ou o pesquisador específico poderá identificar a qualificação de sua produção. Para a avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu no triênio 2007-2009, a CAPES reestruturou o Qualis. Ao contrário da classificação pioneira, os veículos de comunicação são agora classificados a partir de uma única classificação, fusionando as secções quanto ao âmbito e qualidade em uma única classificação. A nova classificação é passível de oito resultados: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Dessa forma, os periódicos com melhor e pior avaliação são classificados como A1 e B5, respectivamente. Os periódicos não indexados no Qualis recebem a classificação C. A CAPES ainda recomenda que “nas grandes áreas em que for possível e, em especial, naquelas em que já é tradição, como as Engenharias e a Saúde, que se mantenha a política de um Qualis único ou de regras únicas para o Qualis” (TOURINHO; BASTOS, 2008, p. 08). Durante a divulgação das mudanças, feitas pelos coordenadores das sub-áreas para os coordenadores de programas de pós37 graduação, durante o ano de 2008, aventou-se que tal recomendação seria seguida pela grande área Engenharias. Em termos práticos, as áreas de avaliação Engenharias I, II, III e IV deixaram de existir, sendo o Qualis das sub-áreas unificado no Qualis da área Engenharia. Com a publicação do Qualis 2007 verificou-se que o perspectivado não havia se materializado. Outra importante divulgação feita durante 2008, apesar de nitidamente fora do tempo apropriado, foi a dos critérios para a classificação dos periódicos da grande área Engenharias no triênio 2007-2009. Tratava-se de um avanço fundamental. A comunidade acadêmica passaria a dispor de critérios objetivos para, de forma congruente com um Qualis mais perene, identificar a qualidade do veículo em que estava submetendo sua produção intelectual. A falta deste tipo de regra produziu um cenário volubilíssimo, considerando que os periódicos mais conceituados normalmente apresentam um tempo de publicação longo após a submissão e, com frequência, uma porção significativa de periódicos sofriam avaliações discrepantes em períodos subseqüentes. Os critérios anunciados para a composição do novo Qualis estão explicitados no quadro 3. A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 ENGENHARIA É ÁREA MADRINHA (15%) - F.I. > 0,9 (7%) - F.I. < 0,9 e F.I. > 0,5 (4%) - F.I.>0,3 e F.I.<0,5 (2%) - F.I.<0,3 e F.I.>0 / Scielo Periódicos de Associações e/ou Q > 6 Sem F.I. e Q > 3 e Q < 6 Sem F.I. e Q < 3, Local ENGENHARIA NÃO É ÁREA MADRINHA (4%) - j* > 1,22 (4%) - j*> 1,06 e j*< 1,22 (7%) - j*> 0,8 e j*< 1,06 (6%) - j* < 0,8 e j*>0 / Scielo Periódicos de Associações e/ou Q > 6 Sem F.I. e Q > 3 e Q < 6 Sem F.I. e Q < 3, Local Quadro 3 – Qualis vigente (triênio 2007-2009) da grande área Engenharias Fonte: Sampaio e Souza (2008) Frente a essa nova classificação, todas as sub-áreas ramificadas da grande área Engenharias, apresentadas no quadro 2, mesmo não possuindo um único Qualis, passaram a ter regras menos mutáveis na dimensão mais valorada da avaliação dos programas. Algo absolutamente desejável. 3.3 Metodologia Para a realização do presente estudo foram levantados dados do triênio 20042006 de avaliação dos cursos de pós-graduação stricto sensu, realizada pela CAPES. O número de periódicos de cada área de avaliação da grande área Engenharias foi contabilizado e seccionado de acordo com os extratos de avaliação do Qualis do triênio vigente na ocasião. Para fins de comparação, foram utilizados, dos dados levantados do Qualis do triênio 2004-2006, somente o número de periódicos A Internacional de cada área de avaliação. Frente ao número de periódicos A Internacional de cada área de avaliação, buscou-se contabilizar o total de artigos publicados em periódicos classificados como tal, em cada uma das sub-áreas da grande área Engenharias. Considerando que o número de programas de pós-graduação é variável, o total de artigos publicados se torna um indicador não passível de comparação. Para reverter esse cenário, utilizou-se de um indicador proposto no presente trabalho: a 38 “média de artigos” publicados em periódicos A Internacional. Tal indicador consiste na razão entre o total de artigos A Internacional publicados de cada sub-área e o número de programas de pós-graduação da mesma sub-área. Para efeitos de comparação, utilizou-se de outros dois indicadores, também propostos neste trabalho: o “percentual de doutorados” e o “conceito médio”. O percentual de doutorados é um indicador que varia de 0 a 1, em que o valor 0 representa que nenhum programa de pós-graduação da sub-área possui doutorado, enquanto o indicador 1 representa que todos os programas de pós-graduação da sub-área possuem doutorado. Já o indicador conceito médio varia de 3 a 7, sendo representado pela somatória dos conceitos de todos os programas de pósgraduação de determinada sub-área dividido pelo número de programas de pósgraduação de tal área. De forma adicional, o Qualis referente às publicações do ano-base 2007 da área Engenharias foi interpretado e transcrito textualmente. Foi realizado, também, um comparativo qualitativo entre as classificações do Qualis 2004-2006 e 20072009. A partir da comparação entre ambas as classificações, foram destacadas as principais alterações da área de avaliação Engenharias III, enfatizando a sub-área Engenharia de Produção. 3.4 Resultados e discussão Os indicadores e critérios utilizados para a classificação proposta para o Qualis 2007-2009 foram transcritos textualmente. Interpretando o quadro 3, obtêmse os seguintes critérios para a classificação dos periódicos da área em exame: – os periódicos de qualquer área que possuem fator de impacto (F.I.) serão enquadrados como A1, A2, B1 e B2 (quanto maior o fator de impacto, melhor a classificação); – nos periódicos de qualquer sub-área da grande área Engenharias, a classificação será realizada a partir do fator de impacto do periódico. Acima de 0,9 corresponde a A1, entre 0,5 e 0,9 a A2, entre 0,3 e 0,5 a B1 e entre 0,01 e 0,3 a B2; – nos periódicos de outras áreas, a classificação será realizada a partir do indicador j*, calculado pela raiz quadrada do fator de impacto do periódico dividido pelo fator de impacto mediano da área do conhecimento em que o periódico se insere. Os periódicos de outras áreas que possuem j* maior do que 1,22 são A1, entre 1,06 e 1,22 são A2, entre 0,8 e 1,06 são B1 e entre 0,01 e 0,8 são B2; – a utilização do indicador j* ocasiona, de início, a falsa impressão de que periódicos de outras áreas precisam ter fator de impacto maior do que 0,9 (fator de impacto mínimo para os periódicos das Engenharias serem classificados como A1) para serem classificados como A1. Essa condição é verdadeira somente se o fator de impacto mediano da área em que o periódico se insere, for superior a 0,6. Por exemplo, para que os periódicos da área História (fator de impacto mediano igual a 0,340) sejam classificados como A1, basta que eles possuam fator de impacto igual ou superior a 0,51. Em contrapartida, periódicos da área Biotecnologia (fator de impacto mediano 39 igual a 1,937) serão classificados como A1 somente se o seu fator de impacto for igual ou superior a 1,24; – periódicos de circulação internacional, sem fator de impacto, mas importantes para as áreas, serão classificados como B1, B2 ou B3, em função do seu grau compatível de citações; – cada área de avaliação pode ter até dois periódicos indexados no Scielo classificados como B1. Como são quatro áreas de avaliação da Engenharias (Engenharias I, Engenharias II, Engenharias III e Engenharias IV), haverá oito periódicos nacionais classificados como B1; – os demais periódicos indexados no Scielo serão B2; – os periódicos sem fator de impacto e não indexados no Scielo de qualquer área, serão classificados como B3, B4 ou B5 em função do fator Q. O fator Q é um índice atribuído em função da qualidade da produção de cada área do conhecimento. Periódicos cujo fator Q é superior a 6,0 são B3, com fator Q entre 3,0 e 6,0 são B4 e com fator Q inferior a 3 são B5. Por exemplo, um periódico classificado como A Nacional na Biologia III possui Q=5,0, o que resultaria em uma classificação B4 na Engenharias; – aos periódicos da área da Engenharia, que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006, terão a seguinte classificação: A Internacional será classificado como B1, B Internacional como B2, C internacional como B3, A nacional como B4 e B Nacional, C Nacional e A Local como B5. Praticamente todos os periódicos classificados no Qualis do triênio 2004-2006 como A Internacional, B Internacional, C Internacional e A Nacional possuem fator de impacto ou estão indexados no Scielo. Dessa forma, esse item é aplicável, em sua maioria, aos periódicos classificados anteriormente como B Nacional, C Nacional e A Local. Apesar de haver um decréscimo significativo na qualidade dos periódicos anteriormente classificados como A Internacional, B Internacional, C Internacional e A Nacional, poucos periódicos com essas classificações se enquadram nesse item; – os periódicos de qualquer área do conhecimento, de circulação local, são classificados como B5. Foi anunciado, também, que o peso dos periódicos para a pontuação dos docentes no quesito produção bibliográfica para avaliação dos programas de pós-graduação no triênio 2007-2009 será o seguinte: PESOS A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 100% 85% 75% 50% 20% 10% 5% Quadro 4 – Pesos dos periódicos no triênio 2007-2009. Fonte: Sampaio e Souza (2008) 40 De forma adicional, fora especificado que haverá saturação para os periódicos B2, B3, B4 e B5. Entretanto, mesmo com o triênio em curso praticamente findado, ainda não foi explicitado qual é a saturação para cada um dos estratos mencionados. Tendo em vista que uma vasta quantidade de novos periódicos foi adicionada e que alguns periódicos foram “reclassificados”, não é possível comparar diretamente o Qualis 2004-2006 e 2007-2009. É possível inferir uma equivalência entre ambos, de forma a equiparar os pesos de cada classificação do Qualis 20042006 com o Qualis 2007-2009. Essa equivalência, de forma alguma, aponta que um periódico anteriormente classificado como A Internacional passará a ser classificado como A1. É pertinente ressaltar, também, que cada área de avaliação apresenta uma equivalência exclusiva. No entanto, a que melhor se aplica à classificação anterior e vigente na área de avaliação Engenharias III pode ser observada no quadro 5: QUALIS 2004-2006 A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 QUALIS 2007-2009 A Internacional B internacional A Nacional C Internacional B Nacional C Nacional A Local Quadro 5 – Equivalência entre os Qualis 2004-2006 e 2007-2009 da área Engenharias III Fonte: Autoria própria (2009) Tal equivalência não pode ser aplicada em todas as áreas do conhecimento, tendo em vista que algumas delas classificam os artigos de nível C Internacional como superiores aos artigos de nível A Nacional, o que não ocorre na Engenharias III. Outro indicativo é que os níveis de exigência foram ampliados. No modelo anterior, a produção qualificada era considerada a alocada nos níveis A e B Internacional e A Nacional; na atual proposta, os níveis que não possuem saturação são A1, A2 e B1. Em termos práticos, os principais periódicos brasileiros da sub-área da Engenharia de Produção, a Revista Gestão & Produção e a Revista Produção, antes alocados no nível A Nacional, foram classificados como B2. Objetivamente, as publicações em língua inglesa foram conformadas como a única possibilidade realmente adequada de publicação, o que determinará restrições aos periódicos nacionais. Certamente o endereço dos resultados de pesquisas qualificadas produzidas na pós-graduação brasileira, mantida em parcela significativa com dinheiro público, não será o dos periódicos brasileiros. O estado da arte produz outros problemas que não serão discutidos por fugir do escopo da presente proposta. A equivalência apresentada anteriormente diz respeito somente à equiparação de pesos entre ambos os Qualis. Com relação aos critérios de classificação, um comparativo entre a classificação do Qualsi 2004-2006 e a classificação previamente divulgada pela CAPES referente ao Qualis 2007-2009 está contida no quadro 6. 41 QUALIS A Internacional (A1) B Internacional (A2) 2004-2006 2007-2009 Periódicos da área Engenharias III de cunho científico e circulação internacional com fatores de impacto maiores ou iguais a 0,3 Periódicos da área Engenharias III de cunho científico e circulação internacional com fator de impacto menores que 0,3 e maiores do que 0,01 Periódicos de qualquer das Engenharias com fator de impacto superior a 0,9 ou periódicos de outras áreas com j* superior a 1,22 A Nacional (B1) Periódicos de cunho científico com ampla circulação nacional e com corpo editorial predominantemente nacional, que não possuem fator de impacto, mas reconhecidos pela comunidade científica como de excelência. Periódicos Brasileiros incluídos no SCIELO são considerados como NA. C Internacional (B2) Periódicos de circulação internacional em processo de reconhecimento pela comunidade científica e que ainda não apresentam índice de impacto B Nacional (B3) Periódicos de abrangência nacional, com corpo editorial predominantemente nacional e considerados pela comunidade científica como de boa qualidade e boa regularidade. C Nacional (B4) Periódicos divulgação nacional. A Local (B5) Demais periódicos relacionados com a área Engenharias III. científicos de com abrangência Periódicos de qualquer das Engenharias com fator de impacto superior a 0,5 e inferior a 0,9 ou periódicos de outras áreas com j* superior a 1,06 a inferior a 1,22 Periódicos de qualquer das Engenharias com fator de impacto superior a 0,3 e inferior a 0,5 ou periódicos de outras áreas com j* superior a 0,8 a inferior a 1,06. Periódicos de circulação internacional, sem fator de impacto, mas importantes para as áreas, com índice de citações elevado. Periódicos que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006 como A Internacional Periódicos de qualquer das Engenharias com fator de impacto superior a 0,01 e inferior a 0,3 ou periódicos de outras áreas com j* superior a 0,01 a inferior a 0,8. Periódicos de circulação internacional, sem fator de impacto, mas importantes para as áreas, com índice de citações mediano. Os demais periódicos indexados no Scielo (de qualquer área). Periódicos da Engenharia que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006 como B Internacional Periódicos de áreas cujo fator Q é superior a 6. Periódicos de circulação internacional, sem fator de impacto, mas importantes para as áreas, com índice de citações baixo. Periódicos da Engenharia que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006 como C Internacional. Periódicos cujo fator Q é superior a 3 e inferior a 6. Periódicos da Engenharia que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006 como A Nacional. Periódicos cujo fator Q é inferior a 3. Periódicos da Engenharia que não possuem fator de impacto e não são indexados no Scielo, mas que constavam na classificação do Qualis 2004-2006 como B Nacional, C Nacional ou A Local. Periódicos de circulação local. Quadro 6 – Comparativo entre os Qualis 2004-2006 e 2007-2009 da área Engenharias III Fonte: Autoria própria (2009) 42 Alterações significativas são notáveis. O grande acréscimo de periódicos, que de início se demonstrava favorável à Engenharia de Produção, após o comparativo entre ambos os Qualis, demonstra que tal mudança não se apresenta tão promissora para a sub-área. Em contrapartida ao aumento do número de periódicos, o aumento nas exigências para o mais alto nível na classificação constitui um fator limitante na sub-área em exame. No Qualis 2004-2006, os periódicos da grande área Engenharias classificados como A Internacional representavam 57,59% do total de periódicos indexados no Qualis da referida área. A tabela 1 exibe o número de periódicos indexados ao Qualis 2004-2006 de cada área de avaliação da grande área Engenharias, seccionados por classificação. A Internacional B Internacional C Internacional A Nacional B Nacional C Nacional A Local B Local C Local Engenharias I 178 81 8 40 56 43 50 7 42 Engenharias II 734 41 147 36 85 51 34 2 6 Engenharias III 397 58 59 51 38 16 114 2 1 Engenharias IV 417 31 85 31 8 37 2 0 9 TOTAL 1726 211 299 158 187 147 200 11 58 Tabela 1 – Número de periódicos indexados no Qualis do triênio 2004-2006 Fonte: Autoria própria (2009) O número de periódicos classificados como A Internacional na área de avaliação Engenharias II apresenta um desequilíbrio entre as demais áreas de avaliação, possuindo 42,53% do total de periódicos da grande área Engenharias cuja classificação no Qualis 2004-2006 é A Internacional. Em seguida, a área de avaliação Engenharias IV possui 24,16% do total de periódicos da grande área em exame. Ainda que esse percentual seja próximo da área de avaliação Engenharias III (23%), é pertinente ressaltar que a Engenharias IV possui somente duas subáreas, enquanto a Engenharias III possui quatro sub-áreas. Dessa forma, o número de periódicos de cada sub-área da Engenharias IV é, em tese, superior ao número de periódicos de cada sub-área da Engenharias III. A área Engenharias I é, por sua vez, a que possui o menor número de periódicos (10,31%). Frente aos indicadores obtidos na avaliação dos cursos de pós-graduação da CAPES no triênio 2004-2006, somados aos indicadores propostos no presente trabalho, a configuração dos programas avaliados é apresentada na tabela 2. 43 Engenharias I Engenharias II Engenharias III Engenharias IV Engenharia Civil Engenharia de Transportes Engenharia Sanitária Engenharia de Materiais e Metalúrgica Engenharia de Minas Engenharia Nuclear Engenharia Química Engenharia Aeroespacial Engenharia de Produção Engenharia Mecânica Engenharia Naval e Oceânica Engenharia Biomédica Engenharia Elétrica Número de programas de pósgraduação 37 Percentual de doutorados Conceito médio Total de artigos A Internacional Média de artigos 0,43 3,97 438 12 8 0,50 4,37 14 2 22 0,41 3,95 154 7 28 0,75 4,50 2690 96 3 7 30 0,33 0,57 0,47 3,00 4,14 3,97 29 790 1716 10 113 57 3 0,67 5,00 321 107 30 0,33 3,53 160 5 35 0,66 4,03 865 25 3 0,67 3,33 33 11 5 0,60 4,80 246 49 44 0,52 4,07 1594 36 Tabela 2 – Dados do triênio 2004-2006 das sub-áreas da grande área Engenharias Fonte: Autoria própria (2009) Como indicado na tabela 2, é perceptível que a média de artigos A Internacional é uma grandeza diretamente proporcional ao conceito médio, percentual de doutorados e número de periódicos da área de avaliação. Uma análise de correlação aponta que a média de artigos A Internacional publicados e o número de periódicos, percentual de doutorados e o conceito médio estão correlacionados em 0,573, 0,593 e 0,610, respectivamente. Tendo em vista que o valor crítico do coeficiente de correção de Pearson para uma população/amostra de 13 elementos é 0,553 (α = 0,05), pode-se afirmar que todos os indicadores apresentam correlação significativa com a média de artigos A Internacional publicados. Analisando os indicadores da sub-área Engenharia de Produção, verifica-se que esta apresenta a pior média de artigos A Internacional publicados (5), o pior percentual de doutorados, juntamente com a sub-área Engenharia de Minas (0,33) e o terceiro pior conceito médio (3,53), à frente somente das sub-áreas Engenharia Naval e Oceânica (3,33) e Engenharia de Minas (3). Ao sugerir a política de regras únicas para o Qualis das grandes áreas como Engenharias, Medicina e Biologia, o que não ocorreu, a CAPES atentou-se em recomendar que pelo menos no interior de cada Grande Área, se procure formular regras de Qualis próximas entre si, mas sem, de forma alguma, gerar depreciação das áreas que têm maior tradição de publicação em periódicos ou sobrevalorização daquelas que ainda têm pouco volume nesse campo; portanto, um periódico pode obter notas diferentes em distintas áreas (TOURINHO; BASTOS, 2008, p. 09). Se fosse seguida a diretriz da unificação, a única alternativa para se ter um Qualis único sem depreciar áreas de maior tradição e nem sobrevalorizar periódicos 44 de áreas de menor volume, seria desvalorizar os periódicos de áreas menos abastadas. Assim, para a Engenharia de Produção, os efeitos no Qualis 2007-2009 seriam: – – – – – – – aumento do número total de periódicos; número total de periódicos nos dois primeiros extratos sem grande variação; aumento do número total de periódicos no terceiro e quarto extrato; número de periódicos específicos da sub-área da Engenharia de Produção sem grande variação; número de periódicos específicos da sub-área da Engenharia de Produção nos dois primeiros extratos bastante reduzido; número de periódicos específicos da sub-área da Engenharia de Produção no terceiro e quarto extrato é aumentado, em função da depreciação dos periódicos classificados anteriormente nos três primeiros extratos; número de periódicos específicos da sub-área da Engenharia de Produção nos demais extratos sem grande variação. Tal proposição anunciada não fora seguida pela CAPES, que, em março de 2009, publicou o Qualis 2007-2009 sem a unificação das áreas de avaliação da grande-área Engenharias. Os critérios utilizados para tal classificação ainda não foram divulgados. A classificação vigente do Qualis apresenta uma profunda variação no número de periódicos em cada extrato. O número de periódicos de cada área de avaliação da grande-área Engenharias, em secção por extrato, é demonstrado na tabela 3. A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 C Engenharias I 110 125 128 43 84 148 247 0 Engenharias II 171 200 279 269 276 89 149 0 Engenharias III 158 166 273 48 178 178 258 30 Engenharias IV 128 131 233 169 39 63 236 21 TOTAL 567 622 913 529 577 478 890 51 Tabela 3 – Número de periódicos indexados no Qualis do triênio 2007-2009 Fonte: Autoria própria (2009) Frente à classificação publicada pela CAPES, os efeitos do Qualis 2007-2009 na área de avaliação Engenharias III são: – – – – – aumento do número total de periódicos, de 736 para 1289; número total de periódicos nos quatro primeiros extratos sem grande variação, de 565 para 645; aumento do número de periódicos dos extratos subsequentes, de 171 para 644; decréscimo do número de periódicos no primeiro extrato, de 397 para 158; aumento do número de periódicos no segundo, terceiro e quarto extrato, de 168 para 487, em função da depreciação de periódicos anteriormente alocados no primeiro extrato. 45 Ainda que a unificação do Qualis das Engenharias não tenha se materializado, conforme fora proposto pela CAPES, a nova classificação compatibiliza-se com alguns dos critérios anteriormente propostos, explicitados no quadro 3. Com efeito, percebe-se que os periódicos da Engenharias III que possuíssem fator de impacto entre 0,3 e 0,5, anteriormente classificados no primeiro extrato (A Internacional), passariam a ser classificados somente no terceiro extrato (B1). Os periódicos que possuíam fator de impacto até 0,3, anteriormente classificados no segundo extrato (B Internacional), passariam a ser classificados no quarto extrato (B2). A maioria dos periódicos classificados anteriormente no terceiro extrato (A Nacional) seriam alocados no quarto extrato (B2). Assim, o número de periódicos nacionais da Engenharia de Produção classificados no terceiro extrato do Qualis, que já era limitado, passaria a ser nulo. Na perspectiva apresentada, fica evidenciado que, em grande parte, tais predições se concretizaram. As vantagens da mudança do Qualis se mostram bastante restritas para a Engenharia de Produção. Mesmo sem a unificação do Qualis, a sugestão da CAPES de criar as mesmas regras para todas as áreas de avaliação da grande-área Engenharias também apresenta grande fragilidade. Tal equidade seria justa somente se houvesse grande proximidade entre o número e nível dos periódicos de todas as áreas de avaliação. A CAPES ainda alerta sobre o cuidado ao elaborar uma regra única para evitar a depreciação de periódicos impactantes ou a supervalorização de periódicos que não mereçam uma classificação superior. Como não há maneira de equiparar ambos os extremos, a alternativa restante foi não depreciar os periódicos impactantes no meio acadêmico, mas, sim, depreciar os periódicos das sub-áreas cujo número de periódicos é reduzido. Assim, todas as exigências da CAPES foram devidamente seguidas. 3.5 Considerações finais É visível que houve uma tentativa de tornar os estratos A1 e A2 como exclusividade de periódicos de excelência e com grande destaque sobre os demais extratos. Entretanto, o percentual de periódicos dos dois primeiros extratos do Qualis 2007-2009 se tornou muito reduzido em comparação ao percentual de periódicos dos dois primeiros extratos no Qualis 2004-2006. Estes extratos, que representavam 61,82% do total de periódicos da área de avaliação Engenharias III, passam agora a representar somente 25,13% do total de periódicos indexados no Qualis. O número de periódicos das áreas de avaliação Engenharias I, II, III e IV editados no Brasil, anteriormente classificados como A Nacional, é drasticamente reduzido no extrato B1 do Qualis 2007-2009. Naturalmente, áreas com número restrito de periódicos, como a Engenharia de Produção, deixam de possuir periódicos nacionais classificados como B1. A proposição de criação de um Qualis único para as áreas como Medicina I, II, III e IV, Ciências Biológicas I, II e III e Engenharias I, II, III e IV não fora seguida. Tal decisão é positiva para as sub-áreas da grande-área Engenharias, tendo em vista que há uma grande disparidade existente entre elas. Dificilmente um artigo proveniente da Engenharia Biomédica teria inserção em periódicos da Engenharia Mecânica ou Engenharia Naval e Oceânica. Diversos outros exemplos com esse mesmo caráter podem ser formulados. Com relação à Engenharia de Produção, cabe ressaltar que artigos advindos de diferentes sub-áreas da Engenharias 46 possuem compatibilidade com o escopo da Engenharia de Produção. No entanto, o reverso se faz presente em uma escala bastante reduzida. Mesmo sem a unificação do Qualis das áreas Engenharias, a Engenharia de Produção fora fortemente lesada com o novo Qualis. O aumento do número de periódicos indexados no Qualis não representa uma melhoria significativa à área, ao passo que grande parte dos periódicos adicionais não apresenta escopo compatível ou a compatibilidade é bastante limitada com as linhas de pesquisa da Engenharia de Produção. As elevadas exigências para classificação nos dois primeiros extratos causou, em grande escala, uma depreciação de periódicos da Engenharias III. Essas alterações constituem um fator bastante negativo à área objeto de estudo deste trabalho e trazem consigo um grande desafio aos programas de pósgraduação em Engenharia de Produção para o triênio vigente, que foi iniciado, e está terminando, de forma obscura: o Qualis do ano-base 2007 foi disponibilizado durante poucos dias no final de dezembro de 2008, ficando indisponível até o início de março de 2009. No dia 05 de março de 2009, a CAPES publicou o Qualis ano-base 2007. Entretanto, as quatro áreas de avaliação da grande-área Engenharias apresentaram classificações diferenciadas, contrastando com as regras anunciadas para o novo Qualis das Engenharias. Sobretudo, o Qualis publicado não condiz com o que fora proposto no Quadro 3, que, até última instância, deveria constituir os critérios para a composição do Qualis vigente das áreas de avaliação da Engenharias. Ainda que o projetado não tenha se concretizado por completo, a sub-área Engenharia de Produção prevalece bastante lesada com a classificação em vigor. Os critérios utilizados para a confecção de tal classificação permanecem desconhecidos. Com a mutabilidade quase que anual do Qualis e a demora para que periódicos mais qualificados publiquem os artigos aprovados, o cenário é absolutamente sombrio. Mais grave ainda é que, de maneira idêntica ao ocorrido com o Qualis, os documentos de área relativos ao triênio 2007-2009 não foram divulgados, mesmo com o triênio praticamente concluído. Em termos práticos, está se jogando um jogo sem regras. Mesmo quando as regras são “conhecidas”, o cenário caliginoso não se desfaz. O que foi amplamente divulgado não passou de um devaneio. 3.6 Referências COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR – CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Disponível em: <http://ww.capes.gov.br>. Acesso em 25 jan. 2008. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR CAPES. Perguntas mais freqüentes - Qualis. 2007a. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR CAPES. Principais características do Qualis. 2007b. SAMPAIO, C. H.; SOUZA, S. M. A. G. U. de. Reunião com os coordenadores de pós-graduação da área de Engenharias II. Campina Grande, 11-12 ago. 2008. TOURINHO, E. Z.; BASTOS, A. V. B. Qualis de periódicos 2008. In: SIMPÓSIO DA ANPEPP, 12., 2008, Natal. Anais... Natal: ANPEPP, 2008. 47 4. PSICODINÂMICA DO TRABALHO: A COMPREENSÃO DA INTER-RELAÇÃO TRABALHO E SAÚDE Anderson Roik Luiz Alberto Pilatti 4.1 Introdução No processo histórico, as lutas da classe trabalhadora contra a exploração e as condições desumanas a que era submetida culminaram em transformações no mundo do trabalho. A jornada de trabalho diminuiu, o ambiente laboral melhorou, criou-se um aparato jurídico em defesa dos direitos dos trabalhadores e despendeuse mais atenção à questão da saúde, ou qualidade de vida, dentro das organizações. Conforme apresenta Pilatti (2007), além dos movimentos operários, também contribuíram para tais transformações os avanços da ciência e tecnologia, principalmente após a Segunda Guerra Mundial quando nasce o novo mundo do trabalho - a passagem do paradigma industrial para a era do conhecimento. Um mundo que apresenta sofisticados métodos e instrumentos de trabalho, bem como novas formas de gestão da força trabalhadora, marcado pela complexidade e pelo trabalho em rede. Caracteriza-se por uma sociedade baseada na informação e no conhecimento, no discurso de valorização do trabalhador agora considerado capital humano gerador de receitas e não mais gerador de custos para a organização. É possível, então, numa perspectiva otimista, afirmar que, no curso da história, o trabalho foi humanizado, e o ser humano ganhou centralidade. No entanto, Pilatti (2007, p. 47-48) sugere um olhar mais cauteloso, alertando para o fato de que os avanços no mundo do trabalho ainda não atingiram os patamares desejados, e a valorização do trabalhador também se mostra incongruente com o mundo empresarial: “é preciso produzir mais, em menos tempo, com custos reduzidos, atendendo padrões de qualidade mais elevados”. Ainda que humanizado nos aspectos elementares, o atual mundo do trabalho impõe exigências mais sofisticadas aos trabalhadores que temem não satisfazê-las. As exigências impostas aos trabalhadores do conhecimento ultrapassaram as fronteiras do local de trabalho. A qualificação exigida do trabalhador aumentou. A automação, além de não criar mais tempo disponível para os trabalhadores, diminui postos de trabalho (PILATTI, 2007, p. 47). A partir dos estudos desenvolvidos por Faria (2007) em relação às mudanças impulsionadas no mundo do trabalho com o avanço da tecnologia ( para o autor foi a introdução de tecnologias físicas de base microeletrônica), verifica-se que as transformações consistem na busca pelo comprometimento do trabalhador, mediante envolvimento e participação mais efetiva no processo de produção. E, para tal, o capital investiu (e investe) em mecanismos de controle cada vez mais sofisticados e sutis, mascarados sob o rótulo de “administração participativa” buscando incorporar a ideologia capitalista ao discurso operário. Trata-se do sequestro da subjetividade do trabalhador. Seja na análise feita por Pilatti (2007) quanto na de Faria (2007), tal avanço tecnológico e as mudanças no mundo do trabalho estão associadas à incorporação 48 das técnicas japonesas – toyotismo – ao processo de produção. Exigem-se, a partir de então, indivíduos altamente qualificados e comprometidos com a organização. Aos que não estão aptos resta o desemprego; aos empregados, o medo e a angústia de não satisfazerem as exigências da organização inviabilizando, desta feita, a sua permanência. Para Dejours (2007), o novo cenário esconde o sofrimento dos que temem não se adaptar à cultura ou à ideologia da empresa e, ainda, não atender as imposições dessa nova dinâmica da organização do trabalho. Pode-se afirmar que o trabalho, nesse contexto, assume um sentido menos realizador e mais opressor. A condição emancipadora do trabalho tem sido prejudicada no contexto da sociedade capitalista contemporânea em que imperam as leis da racionalidade econômica e seus princípios de produtividade, flexibilidade e consumo. Em nome da sobrevivência, da segurança e da “manutenção” do emprego, os trabalhadores se sujeitam às condições contraditórias impostas pela organização do trabalho - fazer mais versus fazer bem; trabalhar em equipe versus trabalhar sozinho; atender a normas em que não se acredita versus perder o emprego; cooperar versus sobrecarregar-se; denunciar práticas das quais se discorda versus silenciar – ao invés de resistirem à trama de dominação e exploração do capital. Acompanha-se uma precariedade no atual mundo do trabalho, dito flexibilizado, transformando o sentido de emancipação em escravidão (MENDES, 2008). Tais considerações reafirmam a necessidade de se estudar a dinâmica organizacional, as tecnologias de gestão, bem como os impactos na saúde dos trabalhadores. Neste sentido, dentro de uma perspectiva teórica, apresenta-se a teoria da psicodinâmica do trabalho como possibilidade dessa compreensão. É uma teoria crítica do trabalho que considera o sujeito na sua subjetividade, preocupandose não somente com a aparência, mas também com a essência do contexto organizacional. 4.2 A psicodinâmica do trabalho O estudo da possível consequência do trabalho sobre a saúde mental dos indivíduos não é temática recente. Ao término da Segunda Guerra Mundial, um grupo de pesquisadores - destaque para Louis Le Guillant – fundou a disciplina Psicopatologia do Trabalho, tendo como objeto específico a análise clínica e teórica da patologia mental devida ao trabalho. Porém, com exceção de descrições impressionantes como a neurose das telefonistas e dos mecanógrafos, as investigações não forneceram subsídios suficientes para a construção de um quadro das patologias mentais do trabalho. Dessa forma, numerosos pesquisadores concluíram que o trabalho não acarretava efeitos deletérios à saúde mental dos trabalhadores (DEJOURS, 1999). Entretanto, nem todos os pesquisadores admitiam tal conclusão. E foi na França, em 1980, com a publicação de “Travail: usure mentale. Essai de psychopathologie du travail” (traduzido no Brasil sob o nome de A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho, em 1987), de autoria de Christophe Dejours, que a discussão dos efeitos do trabalho sobre o aparelho psíquico sofre mudanças (MERLO, 2002). Essa abordagem é denominada de Psicodinâmica do Trabalho (ou análise psicodinâmica das situações de trabalho). Com a Psicodinâmica abdica-se de perseguir inapreensíveis doenças mentais 49 do trabalho e centra-se no estudo da normalidade. O fundamento dos estudos está em compreender “como os trabalhadores conseguem não ficar loucos, apesar das exigências do trabalho, que, pelo que sabemos são perigosas para a saúde mental?” (DEJOURS, 1999, p. 17-18). Tem-se uma reviravolta epistemológica, e a normalidade aparece então como um enigma, “um equilíbrio precário (equilíbrio psíquico) entre constrangimentos do trabalho desestabilizantes, ou patogênicos, e defesas psíquicas” (DEJOURS, 1993, p. 152-153). Essa regulação requer estratégias especiais que são mecanismos de defesas construídas pelos próprios trabalhadores para enfrentar mentalmente a situação de trabalho. São essas estratégias, individuais ou coletivas, que evitam o descompensamento mental e que, de maneira simbólica, criam no trabalhador a sensação de ser mais forte que a organização do trabalho. Evidencia-se, a partir de então, que a influência da organização do trabalho sobre a saúde mental dos trabalhadores passa a ser considerada, e que, independente do modelo de organização do trabalho adotado no processo produtivo, há implicações na saúde dos trabalhadores. A organização do trabalho é entendida por Dejours e Abdoucheli (1994) em dois aspectos. De um lado, a divisão do trabalho: divisão de tarefas entre os operadores, repartição, cadência e, enfim, o modo operatório prescrito; e de outro lado a divisão de homens: repartição das responsabilidades, hierarquia, comando e controle. A divisão das tarefas e o modo operatório incitam o sentido e o interesse do trabalho para o sujeito, enquanto a divisão de homens solicita sobretudo as relações entre pessoas e mobiliza os investimentos afetivos, o amor e o ódio, a amizade, a solidariedade, a confiança etc (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p. 126). Destaca-se, ainda, que a abordagem psicodinâmica utiliza-se de conceitos ergonômicos de trabalho prescrito, que é aquele previamente determinado, instruído e que deve ser concebido; e real, aquele efetivamente executado, com todo seu ajuste, reorganização e adaptação. Para Dejours (1999), todo trabalho implica ajustes na gestão do distanciamento entre a organização desses dois conceitos de trabalho. Quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível, quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada, o sofrimento começa: a energia pulsional que não acha descarga no exercício do trabalho se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de desprazer e tensão (DEJOURS, 1994, p. 29). Para Dejours (1992), a partir do momento que o homem não pode modificar a tarefa de acordo com suas necessidades e desejos, o sofrimento de natureza mental começa. Entende-se, dessa maneira, que a partir do momento em que a relação conflitual do aparelho psíquico à tarefa é bloqueada, ou seja, esta negociação é conduzida ao último limite, começa o domínio do sofrimento e da luta contra o sofrimento. Nesse ponto o homem não mais domina o seu trabalho; pelo contrário, é dominado por ele. O trabalho já não oferece condições para sua estruturação psíquica nem oportuniza vivências de prazer. O fundamento da produção supera o desejo do homem. A psicodinâmica, ainda que consolidada como abordagem científica, continua em processo de desenvolvimento. Em seu arcabouço teórico e metodológico, 50 apresenta uma inversão no entendimento da inter-relação trabalho e saúde, tendo como base a análise da dinâmica organizacional, preocupando-se com as forças “visíveis e invisíveis, objetivas e subjetivas, psíquicas e sociais, políticas e econômicas” (MENDES, 2007a, p. 29) que atuam e podem interferir no contexto de trabalho. É objeto da psicodinâmica do trabalho o estudo das relações dinâmicas entre organização do trabalho, que se manifestam nas vivências de prazer e sofrimento, nas estratégias de ação para mediar contradições da organização do trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento (MENDES, 2007a, p. 30). A investigação tem como objeto central o sofrimento originado do conflito entre organização do trabalho e o funcionamento psíquico do sujeito, uma luta contra as forças que o empurram para a doença mental. Mas ao trabalho não se atribui apenas o sofrimento, pois “ao produzir algo, o trabalhador sente-se estruturado como pessoa em decorrência de ser valorizado e reconhecido pelo que faz” (MENDES, 2004, p. 67). O trabalho é assim realização, com o sentido de criação de identidade pelo fazer e produzir e é na satisfação desses aspectos que o trabalhador tem vivências de prazer. Busca-se, dessa forma, a compreensão da dinâmica das vivências de prazer-sofrimento. Essas vivências são decorrentes da interação de três diferentes dimensões coexistentes e interligadas: a da subjetividade do trabalhador, indivíduo singular, com história de vida, desejos e necessidades particulares; a da organização do trabalho, imposições de eficácia, normas e padrões de condutas; e da coletividade, relações entre iguais e relações hierárquicas, normas e valores de convivência social no trabalho (MENDES, 2004, p. 67). Nessa dinâmica, para fazer frente às tentativas de dominação pela organização do trabalho e manter a saúde, ao sujeito cabe o investimento da inteligência prática, da personalidade e da cooperação. No entanto, o investimento desses elementos, mesmo que articulados, não é capaz de dar conta da “loucura” do trabalho se ocorrer individualmente. A mudança da realidade do trabalho exige, então, que o investimento seja realizado pelo coletivo de trabalhadores, bem como implica a mobilização e engajamento do sujeito no trabalho. Considere-se, no entanto, que essa mobilização e engajamento resultam em modos de subjetivação específicos e que, muitas vezes, são explorados em atendimento à lógica do capital (MENDES, 2007a). De acordo com Faria e Meneghetti (2007), as organizações através dos seus modelos de produção e gestão exercem uma violência psicológica sobre os trabalhadores. Manipulam seu comportamento, seqüestram sua subjetividade e submetem esse trabalhador à ideologia do capital. Nessa perspectiva, Mendes (2007a, p. 30) afirma que a subjetivação é “o processo de atribuição de sentido construído com base na relação do trabalhador com sua realidade do trabalho, expresso em modos de pensar, sentir e agir individuais ou coletivos”, e é explorada devido às características contraditórias que apresenta o sofrimento. Simultaneamente, pode operar como mobilizador de saúde e como instrumento de obtenção de produtividade. Dejours (1993) afirma que o sofrimento pode produzir trabalho. O que é explorado pela organização do trabalho não é o sofrimento, em si, mas, principalmente, as estratégias de mediação utilizadas contra esse sofrimento. Um exemplo é a auto-aceleração, que é um modo de evitar contato com a realidade que faz sofrer e uma ferramenta usada pelos 51 gestores da organização do trabalho para aumentar a produção (MENDES, 2007a, p. 31). Da ideologia produtivista, da lógica do capital, do discurso do desempenho e da excelência decorrem o sofrimento, as falhas das mediações e o desenvolvimento de patologias sociais. A abordagem contemporânea das pesquisas em psicodinâmica do trabalho considera o modo com que os sujeitos trabalhadores subjetivam tais vivências, o sentido que elas assumem bem como o uso das estratégias de mediação. São privilegiados os modos de subjetivação a partir do trabalho, o investimento e engajamento no trabalho, muitas vezes precarizado, e como são construídos esses modos de subjetivação, tendo como base o sofrimento e as estratégias de ação ante as novas formas de organização do trabalho. Também são enfatizadas nessa fase as conseqüências sociais do confronto entre organização do trabalho, sofrimento e ação (MENDES, 2007a, p. 35-36). Fazem parte dos estudos patologias como a banalização do sofrimento, a violência moral, a exclusão no trabalho, a servidão voluntária, a hiperaceleração, os distúrbios osteomusculares, a depressão, o alcoolismo e o suicídio. A abordagem psicodinâmica busca o que não está visível, pois parte de um modelo de homem que se esforça para resistir aos elementos da dominação - simbólica, social, política e econômica - inerentes à realidade no universo do trabalho. É preciso entender o gesto, o significado do gesto para o capital, para a produção do produto específico e para o trabalhador. É preciso entender as possibilidades que o trabalhador tem de se identificar ou não com o produto, de reconhecê-lo como seu, de saber que se torna um pouco mais eterno através de cada coisa que faz. Se o trabalhador não pode fazer isto, ele não vive a cada gesto, ao contrário, ele morre a cada gesto. Mesmo que não morra fisicamente vai se instalando um vazio na alma, uma corrosão da alegria, frustração dos projetos, fracasso das esperanças. É precisos que as pesquisas científicas transponham o limite da quantidade à qualidade, significando as expressões numéricas obtidas pelos instrumentos de coleta (SAMPAIO, HITOMI, RUIZ, 1995, p. 70). A psicodinâmica é, do ponto de vista epistemológico, uma teoria crítica do trabalho, que, através de um esquema teórico-metodológico dialético, questiona a realidade, buscando entender o sujeito enquanto subjetividade, como se dão as relações sociais e sua inserção no contexto organizacional 4.3 O sofrimento e as estratégias defensivas A partir do momento que a organização do trabalho não permite a subversão do trabalho prescrito em um trabalho ao desejo do trabalhador, começa o sofrimento. À medida que o trabalhador já não pode usar a inteligência prática, em que a atividade não absorve sua criatividade, este sofrimento torna-se latente. Na psicodinâmica do trabalho “o sofrimento é uma experiência vivenciada, ou seja, é um estado mental que implica um movimento reflexivo da pessoa sobre seu 'estar no mundo'” (DEJOURS, 1999, p. 19). No entanto essa vivência não é totalmente consciente, posto que ela sempre tem uma parte inapreensível e é sempre indissociável da corporalidade. Assim, “o sofrimento é sempre, antes de tudo, um sofrimento do corpo, engajado no mundo e nas relações com os outros” (DEJOURS, 1999, p. 19). 52 Para suportar esse sofrimento e transformar sua realidade, os sujeitos constroem e sustentam coletivamente estratégias defensivas capazes de lidar com a precarização do trabalho. Tais defesas, que podem ser de protação, de adaptação e de exploração, são específicas das diferentes categorias profissionais e atuam como regras do coletivo de trabalho estabelecidas tacitamente pelo grupo. As defesas de proteção constituem modos de pensar, sentir e agir compensatórios a fim de suportar o sofrimento. Nesse caso, o trabalhador se aliena das causas do sofrimento e não busca qualquer mudança na organização do trabalho. Como consequência, as causas do sofrimento se intensificam, assim como a precarização do trabalho. Tão logo esse processo de enfrentamento falha tem-se o adoecimento. Já as defesas de adaptação e exploração exigem um investimento físico e sociopsíquico além da vontade e capacidade do trabalhador. Consistem na negação do sofrimento e na submissão ao desejo da produção. Inconscientemente os trabalhadores assumem um comportamento neurótico e assim atendem ao desejo da excelência em meio ao funcionamento perverso da organização do trabalho (MENDES, 2007b). Desta feita, as defesas desempenham papel importante para assegurar a saúde dos trabalhadores; todavia, podem transformar-se em ideologias defensivas e gerar alienação. A ambiguidade das estratégias defensivas está no fato de que “podem atenuar o sofrimento mas, por outro lado, se funcionarem muito bem e as pessoas deixarem de sentir o sofrimento, pode-se prever a alienação”(DEJOURS, 1999, p. 171). Diante dessa perspectiva contraditória dos mecanismos de defesa, que ora possibilitam ao trabalhador conviver com o sofrimento e ora viver alienado de suas causas, ou, ainda, ignorar a influência da organização do trabalho e subordinar-se à lógica do capital, a aceitação por parte do trabalhador dessas questões só servirá à ideologia dominante […] visto que ela não tem interesse nas mudanças das relações de trabalho e, desse modo, explora e usa o paradoxo próprio das defesas para evitar discussões sobre a organização do trabalho e manter os trabalhadores produtivos, desconhecendo as causas de seu sofrimento e fazendo a manutenção de seu emprego (MENDES, 2007a, p. 42). Em oposição ao despotismo do capital sobre o trabalho, está a proposição da abordagem psicodinâmica: “no resgate do pensar e agir criticamente sobre a organização do trabalho e na construção coletiva de soluções de compromisso para fazer face às contradições inerentes à organização do trabalho” (MENDES, 2007a, p. 39). Trata-se da (re)apropriação do desejo dos sujeitos-trabalhadores e, dessa maneira, reafirma-se a idéia de ser o trabalho fonte de prazer, sendo possível ressignificar o sofrimento e assim construir um caminho para a saúde. 4.4 Um caminho para a saúde no trabalho A busca pela saúde continua sendo objeto de estudo para a psicodinâmica e, nessa direção, Mendes (2007a, p. 42) afirma que “o desafio que se coloca, a despeito do sofrimento, consiste em investigar os impactos da flexibilização do capital no mundo do trabalho, se ainda é possível ter saúde e o que rege essa possibilidade”. O trabalho na abordagem psicodinâmica é caracterizado como fonte de 53 prazer e sofrimento, sendo as vivências de prazer e sofrimento entendidas como o sentido do trabalho, uma construção única e dialética. A contribuição para o processo de saúde está na intervenção sobre a organização do trabalho, significando dessa maneira que a psicodinâmica é mais do que teoria e pesquisa, mas é um modo de ação sobre a realidade. Intervir na organização do trabalho “permite aos sujeitos subverter o sofrimento, transformando-o em sentido, em inteligibilidade e em ação, o que não significa anular o sentimento, mas transformálo no prazer da reapropriação do vivido pela ação” (MENDES, 2007a, p. 43). Uma fonte de prazer é justamente essa transformação das situações causadoras de sofrimento por meio da mobilização subjetiva, na qual o sujeito faz uso de sua subjetividade, sua inteligência prática e do coletivo de trabalho buscando o resgate do sentido do trabalho. O coletivo mencionado é construído pelos trabalhadores com base na solidariedade, confiança, cooperação e “pressupõe a existência de um espaço público da fala e da promessa da eqüidade quanto ao julgamento do outro” (MENDES, 2007a, p. 44). Deve-se entender, ainda, conforme aponta Dejours (1999), que o sofrimento na perspectiva da psicodinâmica do trabalho preexiste ao encontro com a situação do trabalho. É ele quem direciona o sujeito no mundo e no trabalho em busca da auto-realização, da construção da identidade que se dá no campo social. A construção da identidade é mediada, pois necessita do olhar e do julgamento do outro. O sujeito não constrói sua identidade a partir de si; então ele procura ter reconhecido seu fazer e não o seu ser, pois “somente depois de ter reconhecida a qualidade do meu trabalho é que posso, em um momento posterior, repatriar esse reconhecimento para o registro da identidade”(DEJOURS, 1999, p. 21). Ela decorre da “interação dialética do 'eu' - indivíduo – com o 'outro', mediada pelas representações e significações socialmente construídas” (MENDES, 2007a, p. 45). Consideram-se assim contextos históricos, pessoais e sociais nos quais o indivíduo está inserido. Um exemplo desse reconhecimento podem ser os metroviários brasileiros, citados nas pesquisas de Itani (1997), que têm sua identidade construída a partir do olhar do público: uma imagem de eficiência, modernidade e segurança, através da qual essa atividade adquire significação e sentido. O prazer emerge quando o trabalho cria identidade, no entanto, Mendes (2007a, p. 45) alerta que, Ao mesmo tempo que o reconhecimento é um dos modos de fortalecimento da estruturação psíquica e da saúde, pode ser um modo de captura dos trabalhadores nas armadilhas da dominação. O trabalho na sua centralidade exerce papel fundamental para realização do sujeito, e essa condição é usada pela organização do trabalho para fazer o trabalhador se engajar na produção. A organização do trabalho promete utilizar o trabalho como forma de auto-realização, levando o trabalhador muitas vezes a exaustão em nome dessa promessa. Por essa consideração, percebe-se que, nas organizações produtivas sob o comando do capital, encontram-se questões obscuras e mecanismos para intensificar o trabalho e incrementar a produção, revestidos nas novas tecnologias de gestão. O capitalismo apresenta mecanismos de poder mascarados nos discursos participativos e manipulatórios nas diversas formas de organização do trabalho que desarticulam quaisquer tentativas de reversão deste quadro. Frente à hegemonia do capital, torna-se difícil imaginar que o trabalhador possa dominar seu trabalho ao invés de ser dominado por ele e que possa tornar-se sujeito de suas 54 ações ao invés de ser convertido em mercadoria. Na perspectiva da psicodinâmica, é possível vivenciar prazer desde que a organização do trabalho ofereça condições para o desenvolvimento de três importantes ações pelos trabalhadores: mobilização da inteligência prática, do espaço público da fala e da cooperação. Essas ações alimentam o prazer tanto por via direta como indireta. A inteligência prática significa a ruptura com regras e normas, a transgressão do trabalho prescrito via inteligência a partir do desenvolvimento de meios mais eficazes que a própria organização do trabalho. O espaço público da fala é construído pelos trabalhadores sendo o espaço no qual se reconhece a inteligência prática e se permite a livre expressão de opiniões. Cooperação significa que o desempenho coletivo é maior que a soma dos desempenhos individuais; constitui-se na ação de construir coletivamente produtos, idéias e serviços e pressupõe reconhecimento e valorização e assim o fortalecimento da identidade psicológica social (MENDES, 2007b). A análise da fala e a escuta do sofrimento dos trabalhadores, num espaço público de discussão, possibilita o acesso e apreensão dessas relações dinâmicas, pois, para Mendes (2007a, p. 31), Esse espaço é a possibilidade de (re)construção dos processos de subjetivação e do coletivo, uma vez que falar do sofrimento leva o trabalhador a se mobilizar, pensar, agir e criar estratégias para transformar a organização do trabalho. A mobilização que resulta do sofrimento se articula à emancipação e reapropriação de si, do coletivo e da condição de poder do trabalhador. Só assim o sofrimento pode ser compreendido, interpretado, elaborado e perlaborado. Esse espaço público de discussão favorece a reflexão do coletivo de trabalhadores , dessa forma, podem retomar suas condições de poder para lutar contra o desejo do capital. 4.5 A clínica do trabalho: um espaço para a discussão A organização do trabalho é perpassada por contradições, como é o caso da existência da organização real e prescrita do trabalho. Para superar essas contradições é indispensável o envolvimento dos trabalhadores - contribuição, esta, possível dentro de um espaço de discussão. Neste sentido, Dejours (1999, p. 176) afirma que “é ao explicar a outrem o meu sofrimento, a minha relação com o trabalho, que eu, perplexo, me ouço dizer coisas que eu não sabia que sabia, até têlas dito”. A clínica do trabalho é um modo de revelar e traduzir as vivências de prazer e sofrimento e assim compreender o processo de construção da saúde no trabalho. Segundo Mendes (2007b) ela está comprometida com a dimensão sociopsíquica do trabalho e a partir da análise da organização do trabalho busca compreender como ocorre a subjetivação, resultado das inter-relações entre subjetivo-objetivo, visívelinvisível, social-psíquico particulares de cada contexto. Seu princípio metodológico baseia-se, fundamentalmente, na escuta e interpretação da fala do trabalhador para, dessa forma, tornar aparente o invisível, desvendando as relações de poder que permeiam e sustentam as organizações. Consiste em revelar as mediações entre sujeito e o real, na tradução do real pela escuta e pela fala. Na medida em que o trabalhador fala, passa também a pensar e 55 a refletir sobre suas experiências e perceber a realidade. No entanto, é preciso ir além da mera interpretação da própria realidade, mas, segundo Mendes (2007b, p. 59) deve ser realizada “por meio da análise das contradições, incoerências e mecanismos de defesa, para, então, possibilitar a apreensão da dinâmica que envolve a relação entre as vivências de prazer-sofrimento e a saúde no trabalho”. A clínica do trabalho implica a crítica ao que está posto, no questionamento da realidade, da qual se duvida, buscando não só o aparente, mas o invisível no contexto do trabalho. Desvelar o sofrimento pela fala permite resgatar a capacidade de pensar sobre o trabalho, é um modo de desalienação, bem como uma possibilidade de apropriação e dominação do trabalho pelos trabalhadores, sendo esse um aspecto fundamental para dar início à construção do coletivo com base na cooperação e nas mudanças da organização do trabalho (MENDES, 2007a, p. 32). É também o espaço da fala e da escuta do sofrimento, tendo como princípio a emancipação do sujeito, em que, a partir da reapropriação de si e do coletivo, esboça-se o resgate do sentido do trabalho. É uma prática na qual conscientes de sua realidade os sujeitos trabalhadores, conscientes de suas funções política e social, podem, retomando suas condições de poder, articular o enfrentamento ao sistema de capital. 4.6 Considerações finais O trabalho é para o homem condição de existência social e de criação de identidade; no entanto, a condição emancipadora do trabalho tem sido relevada no contexto da sociedade capitalista contemporânea em que imperam as leis da racionalidade econômica e seus princípios de produtividade, flexibilidade e consumo. Dependendo do contexto em que se insere, o trabalho pode ser fonte de adoecimento para os trabalhadores. É esse contexto – a organização do trabalho – que interfere na saúde dos trabalhadores. Nas novas formas de gestão contemporâneas e nas diversas formas de organização do trabalho, o capital apresenta mecanismos de poder mascarados nos discursos participativos e manipulatórios, em que busca o comprometimento operário e sua submissão à ideologia capitalista. Em seu arcabouço teórico e metodológico, a psicodinâmica do trabalho apresenta uma inversão no entendimento da inter-relação trabalho e saúde, tendo como base a análise da dinâmica organizacional. Busca-se (re)significar o sofrimento e construir um caminho para a saúde. Sua metodologia pressupõe a criação de um espaço público de discussão, no qual, na medida em que refletem e questionam a organização do trabalho, os trabalhadores podem retomar suas condições de poder e articular o enfrentamento ao sistema de capital. A psicodinâmica se afirma como alternativa de desvelamento das questões obscuras e dos mecanismos utilizados pelas organizações para intensificar o trabalho e incrementar a produção, consistindo, também, em uma maneira de se compreender o sujeito enquanto subjetividade. 56 4.7 Referências DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E. Itinerário teórico em psicopatologia do trabalho. In: DEJOURS, C. Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. p. 119-145. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez – Oboré, 1992. DEJOURS, C. Banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. DEJOURS, C. Conferências brasileiras: identidade, reconhecimento transgressão no trabalho. São Paulo: Fundap e EAESP/FGV, 1999. e DEJOURS, C. Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. 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Sofrimento psíquico nas organizações: saúde mental e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 65-84. 57 5. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DE GRUPOS DE ATENDIMENTO A EMERGÊNCIAS PELOS CRITÉRIOS DE WESTLEY: CASO DO CORPO DE BOMBEIROS Gerson Luiz Carneiro Antonio Augusto de Paula Xavier Luiz Alberto Pilatti Antonio Carlos Frasson 5.1 Introdução As comunidades urbanas estão envoltas em situações de risco. O aumento da violência e a ocorrência de perigos produzidos pela tecnologia de novos materiais sintéticos com altos níveis de combustão e equipamentos crescentemente mais possantes ou mais rápidos são as principais causas. Quando esses riscos se transformam em fatos reais de adversidade, os agentes públicos de segurança que são acionados para responder a estas demandas sociais são os Bombeiros. A solicitação está baseada na grande confiança depositada pelo público em geral nas ações do Corpo de Bombeiros, que está dentre os órgãos públicos de maior credibilidade no País, conforme resultado da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios de 2005, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém a satisfação pessoal dos próprios bombeiros militares com os aspectos de seu trabalho não é de conhecimento público. Tem-se a impressão de que o contentamento pelo trabalho realizado de auxílio ao público somado ao crédito da população resulta em uma grande autoestima, motivação e comprometimento, o que concorre para a alta qualidade de seu desempenho e de qualidade de vida no trabalho (QVT). Conforme o Corpo de Bombeiros do Estado do Paraná, os números de ocorrências, principalmente de acidentes, têm aumentado significativamente ano a ano: entretanto, o efetivo não aumentou ao contrário, diminuiu devido ao grande número de aposentadorias e reservas remuneradas. Isto produz um aumento na carga de trabalho bem como de stress que pode afetar a qualidade de desempenho e a QVT dos bombeiros militares (2ºGB-B1). Considerando o cenário apresentado, o presente estudo tem como objetivo verificar os níveis de satisfação dos membros de um Grupamento de Bombeiros Militares do Estado do Paraná com a sua atividade. Adicionalmente, será diagnosticada a diferença de níveis de satisfação entre dois grupos - praças e oficiais. 5.2 O trabalho dos bombeiros O bombeiro é um profissional com treinamento e equipamentos adequados para combater incêndios, socorrer pessoas em situação de perigo e salvaguardar 58 bens materiais em risco por conta de qualquer sinistro, resgatar pessoas e dar assistência em desastres naturais e humanos. Estes profissionais podem ser militares, no caso da grande maioria dos estados brasileiros, voluntários, como ocorre em alguns estados do Brasil e na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos, ou então civis no caso de trabalho em empresas. Em geral, são profissionais que têm grande prestígio junto ao público, o qual lhes atribui uma gama variada de atividades, além de sua real competência. Notase, então, que são trabalhadores com muitas atividades a desempenhar e com um nível de exigência alto na sua execução. Segundo o que estabelece a Constituição do Estado do Paraná, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná tem como missão básica a preservação da vida, do meio ambiente e do patrimônio. Por ser um órgão militar, além de exercer atividades que competem à Polícia Militar, como preservação da ordem pública, atua, também, na execução de atividades de defesa civil como: prevenção e extinção de incêndios, proteção e salvamento de vidas humanas, busca e salvamento em afogamentos, inundações, desabamentos, acidentes em geral, catástrofes, atendimento pré-hospitalar no caso de trauma e calamidades públicas. O Grupamento em estudo teve suas atividades iniciadas em 1938, com trabalhos de combate a incêndios, salvamentos, proteção ao exposto, acidentes de trânsito, desabamentos e outros. Em 1995, foi incorporado o atendimento préhospitalar através do Sistema integrado de atendimento ao trauma e emergência (SIATE). Podem-se dividir os trabalhos do Corpo de Bombeiros em quatro seções básicas, nas quais são desenvolvidas diferentes atividades. Essa divisão é constituída pelo setores administrativo, de prevenção, de combate e atendimento e de atendimento hospitalar. No setor administrativo são estabelecidos os meios de atução das outras seções, dando o devido suporte. O setor de prevenção contra incêndios procede vistorias de segurança e análise de projetos de prevenção das edificações da área de atuação. O setor de combate a incêndios e salvamento desenvolve as atividades fins já citadas. O setor de atendimento pré-hospitalar acolhe solicitações de atendimento a traumas provocados por acidentes. Mesmo que cada atividade necessite de capacitação específica, a formação inicial dos bombeiros militares é a de combatente, podendo agregar ao seu currículo cursos fornecidos pela própria instituição, especializando-se em áreas específicas. Como o sistema hierárquico é militar, têm-se dois níveis distintos: os praças, compostos de soldados, cabos, sargentos e subtenentes, e os oficiais, compostos de tenentes, capitães, majores e tenentes-coronéis e coronéis. Conforme dados estatísticos dos trabalhos realizados naa corporação analisada, durante os primeiros seis meses do ano de 2008, têm-se os seguintes atendimentos (Quadro 1): Atendimentos Acidentes automobilísticos Atendimento pré-hospitalares Análise de projetos Atividades de defesa civil (calamidades) Atividades de prevenção e auxílio Atividades de vistoria Seção PRÉ-HOSPITALAR PRÉ-HOSPITALAR PREVENÇÃO COMBATE COMBATE PREVENÇÃO 59 De janeiro a junho de 2008 1012 1328 967 2 220 8386 Busca e salvamento Incêndios ambientais Incêndios em edificações Incêndios em meio de transporte Proteção de eventos COMBATE COMBATE COMBATE COMBATE COMBATE 162 106 96 19 16 Quadro 1 - Atividades do 2º Grupamento de Bombeiros – 1º Semestre de 2008 Fonte: O autor (extraído do boletim de ocorrências do 2ºGB-CB) 5.3 Qualidade de Vida no Trabalho O reconhecimento do assunto QVT, como um importante parâmetro de estudos das relações entre o trabalho e o homem, é verificado na quantidade de abordagens sobre tema. Conforme Carvalho e Hort (2008), o trabalho não é apenas um meio de prover recursos ao homem para adquirir os bens necessários à vida, mas é um socializador do homem, permitindo que o ser humano construa sua identidade, deixando marcas que a sociedade interpreta. No decorrer da história do trabalho, podem-se perceber várias mudanças ocorridas. Essas transformações atingiram diretamente a vida do homem, interferindo na sua cultura, identidade e saúde, trazendo muito sofrimento para os trabalhadores. QVT reúne assuntos sobre teorias de motivação, fatores ambientais, ergonômicos e de satisfação no trabalho, com o objetivo de fornecer informações para melhorar o bem-estar do trabalhador e, por conseguinte, aumentar seu desempenho na organização (MARQUES et al., 2003). Existe uma abundante variedade de estudos sobre QVT em consequência das variações populacionais, culturais, sociais, políticas, nas quais se insere cada autor; mas essas diferenças podem se complementar. A exemplo, citam-se os modelos de Walton, Westley, Werther e Davis, Hackman e Oldham, Nadler e Lawler como os mais utilizados para avaliações organizacionais de QVT. Walton (1973) apresenta oito critérios de análise de QVT: compensação justa e adequada, condições de trabalho, desenvolvimento das capacidades humanas, oportunidade de crescimento e de segurança, integração social na organização, constitucionalidade, o trabalho e o espaço total de vida e relevância social do trabalho. Werther e Davis (1983) consideram que a QVT é afetada principalmente pelo cargo exercido que deve ser interessante, desafiador e compensador. Advertem, porém, que devem ser considerados os níveis organizacional, ambiental e comportamental que compõem o referido cargo. Para Hackman e Oldham (1974), a QVT está diretamente relacionada com as características e atributos das tarefas exercidas pelos empregados no ambiente de trabalho. O modelo apresenta as variáveis: variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da tarefa, autonomia, feedback dos agentes, inter-relacionamento, resultados pessoais e de trabalho, satisfação com possibilidade de crescimento, supervisão, segurança no trabalho, compensação, ambiente social e necessidade individual de crescimento. Nadler e Lawler (1983) apontam seis fatores que merecem consideração para QVT: percepção de necessidades, problema de destaque da organização, identificação e solução do problema, processos de treinamento e participantes, compensações projetadas e envolvimento amplo da organização. 60 No modelo de Westley (1979), a QVT é relacionada à composição da organização e aponta quatro problemas que a afetam: o político, o econômico, o psicológico e o sociológico. Neste modelo, os esforços para humanizar a vida do trabalhador devem ser focados em quatro problemas principais, respectivamente, dentro das quatro áreas citadas: • • • • falta de garantia de permanência no emprego; injustiça salarial; alienação; e anomia (desordem social). O método apresenta uma análise do tipo de problemas gerados pelo sistema fabril e os tipos de modernas soluções propostas para resolver os problemas identificados. Todas as quatro dimensões da QVT são necessárias se o trabalho deve satisfazer a necessidade do homem. À medida que a subsistência não é adequada ou segura, torna-se necessária uma analise das questões evidenciadas. Para a validação da análise é necessário distinguir os diferentes problemas e apontar soluções para a reestruturação das organizações do trabalho. A falta de garantia de permanência no emprego ou a injustiça salarial direcionam para o estabelecimento de programas de saneamento dessas dificuldades; já a anomia e a alienação merecem outro tratamento. Uma possibilidade está nos grupos de concepção sócio-técnicas, que podem desenvolver normas morais e ajustar as organizações. O quadro 2 sintetiza o que foi esboçado, apresentando múltiplas possibilidades e agentes que devem atuar para o saneamento dos problemas identificados. Organizações de trabalho Problemas do trabalho Agências de resolução Indicadores Proposta de solução Econômica Remuneração justa Sindicatos Insatisfação, greve, sabotagem. Cooperativa; Participação nos lucros; Acordos de produtividade. Política Insegurança do emprego Partidos políticos Insatisfação, greve, sabotagem. Autogerência; Autodiretoria ; Conselho de trabalhadores. Psicológica Alienação Agentes de mudança Sentimento de afastamento; Absenteísmo; Morosidade. Vantagens de trabalho Sociológica Anomia Grupos de autodesenvolvimento Sentimento de insignificância; Absenteísmo; Morosidade. Grupos de trabalho concebidos sóciotecnicamente Quadro 2 - Raízes da qualidade de vida no trabalho Fonte: Westley (1979) Para cada um dos problemas levantados, dentro das áreas específicas, podem-se desdobrar problemas análogos de inteiração irrestrita, possibilitando 61 estender a compreensão através de uma abordagem mais ampla (FERNANDES, 1996). Para tanto, apresenta-se a tabela 3, tendo como problemas primários os descritos no modelo original de Westley. Econômico Político Psicológico Sociológico Equidade salarial Segurança no emprego Realização potencial Participação nas decisões Remuneração adequada Atuação sindical Nível de desafio Autonomia Benefícios Retroinformação Desenvolvimento pessoal Relacionamento interpessoal Carga horária Liberdade de expressão Criatividade Grau de responsabilidade Ambiente externo Liberdade de expressão Autoavaliação Valor pessoal Valorização do cargo Variedade de tarefa Relacionamento com a chefia Identidade com a tarefa Quadro 3 – Indicativos do modelo de Westley Fonte: Fernandes (1996) 5.4 Metodologia Esta pesquisa é um estudo de caso, descritivo-analítico, de uma organização de atendimento a emergências. A população estudada, composta de bombeiros militares do 2º Grupamento de Bombeiros do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná, lotados na cidade de Ponta Grossa, é composta de 139 indivíduos. A fração de bombeiro militar, no período estudado, é composta de oito oficiais e 42 praças em serviço diariamente. Foi trabalhado com uma amostra de 42 indivíduos, estratificada conforme a hierarquia, em dois grandes grupos: oficiais e praças. A amostra foi composta de cinco oficiais bombeiro-militar e trinta e sete praças bombeiros-militares, todos do sexo masculino, com idades variando de 48 a 26 anos. A escolaridade dos praças bombeiros-militares é o ensino médio completo, e a dos oficiais, o ensino superior. Os dados foram coletados através de questionários. A elaboração do questionário observou os indicadores preconizados por Westley, apresentados de forma sinóptica no Quadro 3. O questionário foi composto de 24 perguntas. Os valores podem ser verificados pela proporção de cada resposta e, devido à escala utilizada, pode-se avaliar a média resultante, em que o intervalo de confiança mais desfavorável seria de ± 0,30 na média. Para efeitos de avaliação numérica a aproximação de 0,51 pontos já determina o índice logo acima, apenas para verificações individuais. Foi utilizada a Escala de Likert para medição do nível de satisfação em cada questionamento, variando de muito insatisfeito até muito satisfeito. Com os dados coletados, foi estabelecido um nível de confiança de 95%. Para análise dos dados, foram utilizados os modelos estatísticos normais e procedida comparação direta dos resultados. 62 5.5 Análise de dados Social Psicológica Política Econômica Geral Os resultados numéricos de cada pergunta e a proporção de cada resposta são apresentados na Tabela 1 para os praças e Tabela 2 para os oficiais. Cada pergunta foi devidamente relacionada em um domínio onde a questão está alocada. Nº Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Sua qualidade de vida no trabalho Ambiente de trabalho Satisfação com o trabalho Remuneração recebida Equiparação salarial Benefícios além do salário Carga horária de trabalho Segurança de emprego Representação de classe Repasse de informações Liberdade de expressão Valorização do cargo Relacionamento com superiores Realização no desempenho do trabalho Desafio proporcionado pelo trabalho Realização pessoal pelo trabalho desenvolvido Criatividade no desempenho da função Autoavaliação no desempenho do trabalho Variedade de tarefas Identificação com o trabalho Participação em decisões Autonomia de decisão Relacionamento com colegas Sua importância na atividade Valores Média Desvio 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 2,49 3,16 3,71 2,48 2,15 2,55 3,50 3,68 2,55 2,21 2,84 2,79 3,03 3,58 3,21 2,68 2,55 3,58 3,05 3,82 2,63 2,92 3,58 3,13 0,83 0,92 0,96 0,83 0,72 0,92 0,86 0,96 1,22 0,84 0,97 1,14 0,97 0,98 0,99 1,07 0,89 0,86 1,06 0,69 0,86 1,17 0,95 0,93 Política Econômica Geral Tabela 1 – Medidas descritivas para o modelo de Westley – Praças Fonte: Dados da pesquisa (2008) Nº Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Sua qualidade de vida no trabalho Ambiente de trabalho Satisfação com o trabalho Remuneração recebida Equiparação salarial Benefícios além do salário Carga horária de trabalho Segurança de emprego Representação de classe Repasse de informações Liberdade de expressão Valorização do cargo 63 Valores Média Desvio 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 3,25 3,50 4,25 3,25 3,25 3,00 4,00 4,25 3,00 3,75 3,50 4,00 0,96 0,58 0,50 0,96 0,50 1,41 0,00 0,96 1,41 0,50 0,58 0,00 Psicológica Social 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Relacionamento com superiores Realização no desempenho do trabalho Desafio proporcionado pelo trabalho Realização pessoal pelo trabalho desenvolvido Criatividade no desempenho da função Autoavaliação no desempenho do trabalho Variedade de tarefas Identificação com o trabalho Participação em decisões Autonomia de decisão Relacionamento com colegas Sua importância na atividade 4,00 4,25 3,75 3,50 3,75 4,50 4,00 4,50 4,00 3,75 3,75 4,00 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 1a5 0,00 0,50 0,50 0,58 0,50 0,58 0,00 0,58 0,00 0,50 0,50 0,00 Tabela 2 – Medidas descritivas para o modelo de Westley – Oficiais Fonte: Dados da pesquisa (2008) Em relação à satisfação, os dados levantados estão apresentados nas Tabelas 3 e 4, para praças e oficias, respectivamente. Social Psicológica Política Econômica Geral Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Questão Sua qualidade de vida no trabalho Ambiente de trabalho Satisfação com o trabalho Remuneração recebida Equiparação salarial Benefícios além do salário Carga horária de trabalho Segurança de emprego Representação de classe Repasse de informações Liberdade de expressão Valorização do cargo Relacionamento com superiores Realização no desempenho do trabalho Desafio proporcionado pelo trabalho Realização pessoal pelo trabalho desenvolvido Criatividade no desempenho da função Autoavaliação no desempenho do trabalho Variedade de tarefas Identificação com o trabalho Participação em decisões Autonomia de decisão Relacionamento com colegas Sua importância na atividade 1 5,26 5,26 2,63 7,89 15,79 13,16 2,63 2,63 21,05 18,42 5,26 13,16 5,26 0,00 7,89 13,16 2 23,68 18,42 10,53 47,37 55,26 34,21 13,16 13,16 36,84 50,00 36,84 34,21 28,95 21,05 13,16 34,21 Índices % 3 28,95 31,58 15,79 31,58 26,32 36,84 18,42 10,53 13,16 23,68 28,95 15,79 23,68 13,16 31,58 23,68 4 36,84 44,74 55,26 13,16 2,63 15,79 63,16 60,53 23,68 7,89 26,32 34,21 42,11 52,63 44,74 26,32 5 5,26 0,00 15,79 0,00 0,00 0,00 2,63 13,16 5,26 0,00 2,63 2,63 0,00 13,16 2,63 2,63 7,89 2,63 47,37 10,53 26,32 18,42 18,42 63,16 0,00 5,26 7,89 0,00 15,79 15,79 5,26 5,26 26,32 5,26 52,63 21,05 7,89 21,05 21,05 18,42 21,05 21,05 18,42 28,95 42,11 65,79 10,53 39,47 60,53 44,74 2,63 10,53 0,00 2,63 7,89 0,00 Tabela 3 – Proporção da satisfação para Praças Fonte: Dados da pesquisa (2008) 64 Social Psicológica Política Econômica Geral Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Questão Sua qualidade de vida no trabalho Ambiente de trabalho Satisfação com o trabalho Remuneração recebida Equiparação salarial Benefícios além do salário Carga horária de trabalho Segurança de emprego Representação de classe Repasse de informações Liberdade de expressão Valorização do cargo Relacionamento com superiores Realização no desempenho do trabalho Desafio proporcionado pelo trabalho Realização pessoal pelo trabalho desenvolvido Criatividade no desempenho da função Autoavaliação no desempenho do trabalho Variedade de tarefas Identificação com o trabalho Participação em decisões Autonomia de decisão Relacionamento com colegas Sua importância na atividade 1 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2 20,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índices % 3 40,00 60,00 20,00 40,00 80,00 40,00 20,00 40,00 40,00 40,00 60,00 20,00 20,00 20,00 40,00 60,00 4 40,00 40,00 60,00 40,00 20,00 40,00 80,00 20,00 40,00 60,00 40,00 80,00 80,00 60,00 60,00 40,00 5 0,00 0,00 26,32 0,00 0,00 0,00 0,00 40,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 40,00 20,00 60,00 40,00 0,00 40,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 20,00 20,00 20,00 40,00 40,00 0,00 80,00 0,00 80,00 60,00 60,00 80,00 0,00 80,00 0,00 0,00 0,00 20,00 Tabela 4 – Proporção da satisfação para Oficiais Fonte: Dados da pesquisa (2008) Quanto à remuneração recebida, a proporção de 47,37% dos praças afirmam estarem insatisfeitos com o salário recebido, o que corrobora com o intervalo médio dos valores obtidos que é de 2,48 ± 0,30. Já 40,00 % dos oficiais afirmam estar satisfeitos com a remuneração, confirmada pelo o resultado numérico de 3,25 ± 0,30. A equiparação salarial com bombeiros de outros estados resultou a proporção de 55,26 % dos praças insatisfeitos, confirmado pelo intervalo médio dos valores obtidos que é de 2,15 ± 0,30. Já 80,00 % dos oficiais afirmam estar indiferentes em relação à equiparação salarial, confirmada pelo o resultado numérico de 3,25 ± 0,30. Quanto ao recebimento de benefícios além do salário, a proporção de 36,84% dos praças afirmam serem indiferentes a este índice, o que é confirmado com o intervalo médio dos valores obtidos (2,55 ± 0,30). Já 40,00 % dos oficiais afirmam estar satisfeitos com os benefícios, conflitante com o resultado numérico de 3,00 ± 0,30 que determinaria indiferença. Na carga horária de trabalho, a proporção de 63,16% dos praças afirmam estarem satisfeitos, o que corrobora com o intervalo médio dos valores obtidos que é de 3,50 ± 0,30. Já 80,00 % dos oficiais afirmam que estão satisfeitos com a carga horária de trabalho, confirmada pelo o resultado numérico de 4,00 ± 0,30. 65 A certeza de segurança de emprego para os praças tem a proporção de 60,53% e 3,68 ± 0,30 dos valores médios que resulta na satisfação neste item. Também os oficiais se dizem satisfeitos, uma vez que o resultado numérico é de 4,25 ± 0,30 e a proporção de 40% de muito satisfeitos. Quanto à representação de classe, os praças apresentam proporção de 36,84% de insatisfeitos, confirmada pelo valor de 2,55 ± 0,30 da média. Os oficiais estão 40,00% satisfeitos, porém com valor numérico de 3,00 ± 0,30 para indiferente. A retroinformação está insatisfatória para os praças em 50,00% da amostra, com valor médio de 2,21 ± 0,30. Já as informações para oficiais têm 60,00 % de satisfação com valor médio de 3,75 ± 0,30. A liberdade de expressão representa insatisfação em 36,84% dos praças, conflitante com a média numérica de 2,84 ± 0,30 para a indiferença. Os oficiais creem serem indiferentes 60,00%, tal qual o valor numérico de 3,50 ± 0,30. A valorização do cargo que ocupa apresenta 34,21% de insatisfação para os praças, contrário ao estabelecido no valor numérico de 2,79 ± 0,30 que determina indiferença. Os oficiais estariam 80,00% satisfeitos com a valorização do cargo, corroborado pelo valor numérico de 4,00 ± 0,30. O relacionamento com os superiores tem 42,11% de satisfação, porém com média numérica indiferente de 30,3 ± 0,30. Os oficiais estão 80,00% satisfeitos com o relacionamento com os superiores com valores numéricos coincidentes de 4,00± 0,30. A realização pelo trabalho tem a proporção de 53,63% e valor numérico de 3,58 ± 0,30 de satisfação dos praças e 60,00% com 4,25 ± 0,30 também de satisfação dos oficiais. O desafio proporcionado pelo trabalho tem para os praças 44,74% de satisfação concorrente com a média numérica de 3,21 ± 0,30 de indiferença. Oficiais estão satisfeitos com os desafios 60,00% coerente com 3,75 ± 0,30 de valor numérico médio. A realização pessoal para os praças representa 32,21% de insatisfação correlatos a 2,68 ± 0,30 em valores para a indiferença; 60,00% dos oficiais são indiferentes a este item, confirmado por 3,50 ± 0,30 de média. A criatividade no trabalho é insatisfatória para os praças em 47,37%, com média que confirma de 2,55 ± 0,30. Os oficiais atuam com criatividade no trabalho em 60,00% satisfatoriamente, o que é confirmado pela média 3,75 ± 0,30. Na autoavaliação, os praças dizem estar satisfeitos com seu desempenho em 63,16%, confirmado pela média de 3,58 ± 0,30. Dos oficiais 40,00% dizem estar muito satisfeitos com seu desempenho, confirmado pela média 4,50 ± 0,30. A variedade de tarefas é satisfatória para 42,11% dos praças, porém em média é indiferente com valor de 3,05 ± 0,30. Os oficiais têm 80.00% de satisfação na variedade de tarefas, conflitando numericamente com o valor de 3,05 ± 0,30 para indiferença A identificação com o trabalho realizado possui, para os praças, 65,79% de satisfação, confirmado pela média numérica de 3,82 ± 0,30. Os oficiais creem estar muito satisfeitos em 80,00% com a confirmação de 4,50 ± 0,30 de média numérica. 66 A participação das decisões de trabalho para os praças é insatisfatória em 52,63% das amostras, concorrente à média numérica de 3,06 ± 0,30 de indiferença. Os oficiais creem ter participação nas decisões satisfatória em 80,00%, corroborado com a média numérica de 4,00 ± 0,30. Autonomia de decisão é satisfatória para os praças na proporção de 52,63% da amostra, porém, em média numérica, é indiferente em 2,63 ± 0,30. Os oficiais estão satisfeitos em 60,00%, confirmado pelo valor médio de 3,75 ± 0,30. Relacionamento com os colegas é satisfatório para 60,53% dos praças, sendo confirmado pela média de 3,58 ± 0,30. Os oficiais creem satisfatório o relacionamento com os colegas em 60,00%, confirmado pelo valor médio de 3,75 ± 0,30. A sua importância para a atividade segundo os praças é satisfatória em 44,74% das amostras, concorrente à média numérica de 3,13 ± 0,30 de indiferença. Os oficiais creem ter participação nas decisões satisfatória em 80,00%, corroborado com a média numérica de 4,00 ± 0,30. 5.6 Conclusões Verificando cada um dos indicativos de Westley aplicados à corporação logo após focando a raiz de cada um dos indicativos, pode-se apresentar o seguinte: - para a raiz Econômica da avaliação, os praças estão insatisfeitos conforme a média numérica de 2,67 e a proporcional de 37,52%, ao contrário dos oficiais que creem estar indiferentes devido a 3,37 da média numérica e 45,00% na proporção; - para a raiz Política da avaliação, os praças estão 33,33% insatisfeitos concorrente com a média numérica de 2,85 de insatisfação. Os oficiais, por sua vez, apresentam 53,33% de satisfação conformado com valor médio de 3,75; - para a raiz Psicológica da avaliação, os praças estão 44,74% satisfeitos, concorrente com a média numérica de 3,21 de indiferença. Os oficiais, por sua vez, apresentam 48,57% de satisfação conformado com valor médio de 4,10; - para a raiz Social da avaliação, os praças estão 38,82% satisfeitos, concorrente com a média numérica de 3,06 de indiferença. Os oficiais, por sua vez, apresentam 70,00% de satisfação conformado com valor médio de 3,88. É difícil determinar com impassibilidade se a QVT, em certa atividade, é satisfatória ou não, porque as variáveis são muitas e se alteram, conforme o modelo adotado para a avaliação. Observando os dados recolhidos para cada indicativo raiz no modelo de Westley, verificou-se que a qualidade de vida dos trabalhadores do Corpo de Bombeiros é diferenciada, sendo que os praças sugerem ter QVT de insatisfatória a indiferente (média) e os oficiais de indiferente a satisfatória. 5.7 Referências CARVALHO T. C.; HORT, I. C. Qualidade de vida no trabalho. Revista ICPG, Santa Catarina, v.3, n.12, p.97-103, jun. 2008. HACKMAN J. R.; OLDHAM, G. R. The job diagnostic survey: An instrument for the diagnosis of jobs and the evaluation of job e design projects (Tech. Rep. 67 No. 4). New Haven, Conn.: Yale University, Department of Administrative Sciences, 1974. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICILIO - PNAD 2005, disponível em: < www.ibge.gov.br/home/estatistica/calendario_estudos2005>. Acesso em 15 out. 2008. MARQUES, A. L. et al. 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A INFLUÊNCIA DO ESTILO DE TRABALHAR EM GRUPO NOS PROCESSOS DE CONTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL Robson Luiz Montanari Luiz Alberto Pilatti 6.1 Introdução O ritmo das mudanças ultrapassou a capacidade de resposta da maioria das organizações. Forças inelutáveis como a globalização, a tecnologia, o crescimento e declínio em setores de trabalho criaram uma nova era, a Era do Conhecimento. As ações empresariais voltadas para a inovação tecnológica e para competitividade fazem do conhecimento uma questão central, transformando o capital humano em um ativo estratégico responsável pela criação do conhecimento. Essa realidade induz a mudança, especialmente ao impor a necessidade de que as empresas sejam mais inovadoras e empreendedoras. Em decorrência da exigência de respostas rápidas, os recursos humanos tiveram seus papéis redesenhados dentro de um cenário absolutamente novo. O emprego tem deslocado o foco do processo de profissionalização do fazer para o saber fazer, de um trabalho individual em um posto específico para o trabalho coletivo. Na visão de Claver-Cortés et al. (2007), o cenário é de mudanças, e as empresas estão buscando nas estruturas mais flexíveis subsídios para superar as adversidades diárias e gerar novos conhecimentos. Para Sacomano e Escrivão Filho (2000), a abertura dos mercados para a concorrência internacional exigiu das empresas esforços significativos para atingir patamares competitivos. Bejarano (2006) destaca que a busca constante e incessante por melhorias na performance organizacional é uma realidade no atual ambiente de trabalho, pois as organizações são atualmente movidas pela competitividade da economia globalizada e pela crescente necessidade de aumento de produtividade. Em se tratando de produtividade, complementa Bejarano (2006), as empresas estão buscando cada vez mais investir em equipes como parte da sua estrutura organizacional. Peter Drucker (2001) faz essa constatação e destaca que o trabalho em equipe não é bom nem desejável, é um fato. Sempre que as pessoas trabalham ou jogam em conjunto, elas o fazem em equipe. Outros autores como Chang (1999) e Katzenbach e Smith (2001) relatam que as equipes são fundamentais para o desempenho empresarial e podem ser utilizadas como resposta às mudanças organizacionais. A necessidade de um entendimento mais abrangente do estilo de trabalhar em grupo é, diante da crescente utilização da gestão baseada em equipes, fundamental para formação e reestruturação de equipes no ambiente produtivo, que, cada vez mais, necessita superar as adversidades diárias e gerar conhecimentos para resolução de problemas. O presente artigo tem como objetivo identificar a influência do estilo de trabalho coletivo nos processos de construção do conhecimento organizacional (CO) em sete equipes de uma empresa de médio porte, prestadora de serviços, que utiliza a gestão de equipes em seu setor operacional. 69 6.2 As Equipes e os Estilos de Trabalhar Coletivamente Bejarano (2008) comenta que as literaturas comerciais influenciam as empresas a desenvolverem o trabalho em equipe; porém na prática observa-se que pouco se sabe sobre implantar ou utilizar equipes para obter o máximo desempenho conjunto. Para alguns autores como Robbins e Finley (1997) e Chang (1999), as equipes apresentam múltiplas vantagens, entretanto para autores, como Drucker (2001) e Moscovici (2003), a formação de equipes, embora apresentando vantagens, não passa de um clichê entre as empresas, pois equipes reais ainda são raras. Uma idéia equivocada, e que talvez seja justamente a maior razão para o fracasso da formação de equipes, é a crença praticamente universal dos executivos na existência de apenas um tipo de equipe. Essa constatação foi feita por Drucker (2001). Para o autor, existem três tipos de equipes verdadeiras, “cada uma diferente em sua estrutura, no comportamento que exige de seus membros, nas suas forças, vulnerabilidade, limitações e exigências, mas acima de tudo naquilo que pode fazer e que deve ser usada” (DRUCKER, 2001, p. 59). Drucker (2001) distingue os três tipos, considerando que as equipes diferem no comportamento que exigem, naquilo que fazem melhor e no que não podem fazer. Os tipos de equipes são: a) os membros têm posições fixas e atuam na equipe, mas não em equipe, como uma equipe de beisebol ou uma linha de montagem; b) os membros têm posições fixas, mas atuam em equipe como em uma equipe de futebol; e c) os membros têm posições principais ao invés de fixas. Eles devem “cobrir” seus companheiros de equipe, ajustando-se quando necessário, como as duplas de tênis ou um conjunto de jazz. Visões diferentes são compartilhadas por Fisher et al. (1997), Katzenbach (1999), Salomão (1999), Sacomano Neto e Escrivão Filho (2000) e Moscovici (2003) que relacionam o trabalho em equipe a objetivos comuns, ao compartilhamento de competências e de esforços. O fato de trabalharem em conjunto não dá aos grupos, independente das posições que seus membros ocupem (fixas ou não), o status de “equipe”, contrariando o idear de Drucker (2001). O raciocínio de Drucker (2001) proporciona o entendimento de uma situação que nem sempre é suficientemente clara, pois nem todos os grupos têm a mesma finalidade. Em linhas gerais, não existem justificativas para uma equipe de futebol “jogar” como uma dupla de tênis. Na primeira equipe existe a necessidade de trabalho interdependente, os “jogadores” dependem uns dos outros, enquanto na segunda, não. E também não existem justificativas para uma equipe de beisebol “jogar” como uma equipe de futebol, pois na primeira equipe o trabalho é na equipe e não em equipe. Independente da conformação laboral, adotar ou não o formato de equipes, o trabalho coletivo é, na visão de Bejanano et al., (2005b), quase sempre involuntário e o comprometimento necessário pode estar ausente. Robbins e Finley (1997, p. 57) compartilham deste idear e inferem que as pessoas em equipe são “como as pessoas em qualquer outro lugar”, ou seja, “têm seus altos e baixos”. Karakowsky et al. (2004) destacaram percepções e influências entre homens e mulheres trabalhando em equipes. O impacto estende, além do comportamento e dos sentimentos, as percepções a respeito dos esforços da equipe. Homens e mulheres podem alterar suas percepções baseando-se, por exemplo, na qualidade de esforços da sua equipe. Não obstante, um fator interessante e que merece atenção é o estilo de trabalhar que cada pessoa pode apresentar no ambiente produtivo. Uma das 70 técnicas na escolha de pessoas para compor uma equipe é, na visão de Aleixo (2003), fazer um balanceamento entre os membros que já possuem algumas habilidades com os que não as possuem ou precisam desenvolvê-las. Armstrong (1997) e Bejarano et al. (2005b) vão além e citam a necessidade de selecionar melhor os membros para as equipes através de centros de avaliação especializados e de métodos que permitam identificar os perfis. Bejarano et al. (2005b, p. 8) menciona que “identificar os perfis de todos os membros de uma equipe pode ajudar a antecipar conflitos e desenvolver métodos de trabalho antes mesmo da manifestação de dificuldades entre os membros”. Para Parker (1994), quando as pessoas trabalham em grupo, elas podem ser classificadas em quatro estilos: contribuinte, colaborador, comunicador e desafiador. O contribuinte é um participante orientado para a execução de tarefas, aprecia fornecer ao grupo informações de boa qualidade e insiste com o grupo para elevar seu desempenho. A maioria das pessoas enxerga o contribuinte como alguém em quem se pode confiar. Eventualmente se envolve demasiadamente com os detalhes e não consegue enxergar o todo. As pessoas descrevem o contribuinte como alguém responsável, autoritário, confiável, competente e organizado. O colaborador é um participante orientado para o objetivo, pois dá maior importância para as metas e missões. A maioria das pessoas vê o colaborador como alguém que consegue enxergar o todo, mas que, às vezes, deixa de dar atenção às tarefas básicas do grupo. As pessoas descrevem o colaborador como alguém que enxerga a longo prazo, orientado para os objetivos, conciliador, flexível e imaginoso. O comunicador é um participante orientado para o processo, capaz de ouvir bem e de facilitar a participação alheia, a resolução de conflitos, o consenso, o feedback e o desenvolvimento de uma atmosfera descontraída. A maioria das pessoas vê o comunicador como uma pessoa orientada a pessoas. O comunicador é considerado como alguém que não gosta de confronto e é descrito como aquele que apóia e tem consideração pelos outros, é descontraído, entusiasmado e cuidadoso nas relações pessoais. O desafiador é um participante que questiona os objetivos, métodos e mesmo a ética do grupo. Tem predisposição para discordar do líder e incentiva o grupo a assumir riscos bem calculados. A maioria das pessoas aprecia o valor de sua franqueza e de sua mente aberta. Às vezes, o desafiador fica autoconfiante e pressiona demais os companheiros. O desafiador é descrito como alguém honesto, que gosta de falar diretamente, tem princípios, é ético e ousado. Uma pessoa pode ter diferentes estilos de trabalhar, porém um ou dois deles acabam prevalecendo na maioria do tempo. O estilo principal define um conjunto de comportamentos que será usado mais frequentemente como participante de um grupo (PARKER, 1994). Assim como em uma equipe de futebol, formada por atletas desempenhando papéis diferentes, todos os estilos, na visão de Parker (1994), são necessários para uma equipe, pois todos têm características que são úteis ao bom andamento dos trabalhos em um determinado momento. Thomaz e Kovaleski (2006, p. 180) consideram, utilizando a classificação de estilos de Parker (1994), “que os estilos contribuinte e comunicador são os melhores para que ocorra o compartilhamento do conhecimento tácito [...]”. Embora todos os estilos tenham sua importância, alguns contribuem de maneira mais significativa para certas atividades no ambiente produtivo, de acordo com Thomaz e Kovaleski (2006). Bejarano (2005b) e Armstrong (1997) – que defendem a idéia de processos de seleção mais consistentes e relacionam este fator 71 como sendo fundamental ao desempenho das equipes. “É possível que as diferentes personalidades acarretem mau funcionamento, mas, na maioria dos casos, se os integrantes tiverem o conjunto certo de habilidades complementares e se respeitarem mutuamente em função dessas habilidades, a personalidade de cada um não terá muita importância” (KATZENBACH 1999, p. 59). A análise dos estilos de trabalhar coletivamente pode auxiliar as organizações no sentido de formar grupos ou equipes para atividades especificas ou para conseguir o equilíbrio ideal dos estilos e evitar possíveis problemas com confrontos de comportamentos e personalidades entre os membros no ambiente produtivo. 6.3 As Equipes e os Processos para Construção do Conhecimento Organizacional Atualmente o conhecimento assume uma função importantíssima, pois as empresas passam a contar, além dos recursos que já são conhecidos como capital e mão de obra, com os conhecimentos aplicados ao trabalho e com os trabalhadores do conhecimento, denominados, segundo Drucker (2004), de knowledge worker. Para Claver-Cortés et al. (2007), as empresas cada vez mais adotam projetos organizacionais flexíveis, estruturas com menos níveis hierárquicos a fim de permitir o diálogo entre equipes e, assim, incentivar a aprendizagem coletiva gerando novos conhecimentos. Em decorrência dessas mudanças, segundo Senge (1998), as equipes representam a unidade de aprendizado fundamental nas organizações modernas. Isto é, o conhecimento individual e estanque não interessa à organização. Aprendizagem organizacional é aprendizagem compartilhada a serviço dos objetivos da organização. Para Nonaka e Takeuchi (1997), a criação do conhecimento é um processo que ocorre dentro de uma comunidade de interação e que amplia organizacionalmente o conhecimento adquirido pelas pessoas. O conhecimento organizacional (CO) passa a ser fruto das interações que ocorrem no território empresarial que, para Fleury e Oliveira (2001), é desenvolvido por meio de aprendizagem e é o fundamento das competências essenciais da organização formadas por conhecimentos tácitos e coletivos. Davenport (1994) aponta o fato de que os conhecimentos interfuncionais das equipes facilitam a interface funcional e colaboram com a elaboração do planejamento, aumentando a probabilidade de que determinado produto atenda a exigências multifuncionais. Para Bejarano et al. (2005a), as equipes têm algumas limitações, entre elas a dificuldade de compartilhar conhecimentos entre os membros que, segundo Terra (2000), são limitações oriundas do ambiente que estão inseridas e que não propiciam soluções de problemas e erros pessoais. Leonard (1995) infere que os processos de construção do conhecimento na empresa estão relacionados a quatro atividades, as quais são decisivas para construção do CO. São elas: compartilhamento da tarefa de análise e solução de problemas, envolvimento do cliente, experimentação e importação de conhecimentos. Tais atividades são evidenciadas na Figura 1, abaixo: 72 Figura 1 – Atividades para construção do conhecimento organizacional Fonte: Silva (2002, p. 143) Para Silva (2002), que também discutiu as atividades propostas por Leonard (1995), a chave para construção do CO está na inter-relação das atividades. Para que haja o inter-relacionamento de uma atividade para com as demais, as mesmas precisam contemplar: a) o compartilhamento da tarefa de análise e solução de problemas, ou seja, a preocupação está em reunir visões diferentes para análise e participação de pessoas para confrontação construtiva; b) o envolvimento do cliente, de um modo que ele participe das decisões através de consultas periódicas; c) a existência de um clima que tolere a experimentação e a visualização de soluções por intermédio da prática, como uma forma de assegurar o aprendizado da organização; d) a absorção de conhecimentos do mercado (importar conhecimentos), desde a observação informal de alguma fonte, a realização de benchmarking, até a realização de alianças e joint-ventures. As atividades propostas por Leonard (1995) estão intimamente ligadas à reunião de pessoas com características diferentes buscando a confrontação construtiva (creative abrasion). O aprendizado em grupo é o processo de desenvolvimento da capacidade de um grupo criar os resultados que seus membros realmente desejam (SENGE, 1998). Esse aprendizado possui três dimensões essenciais: a) a necessidade de analisar com discriminação as questões complexas tornando a inteligência do grupo maior que a individual; b) a necessidade de ações inovadoras oriundas das contribuições de todos; c) a ligação de um grupo com outros grupos para troca de conhecimentos. O aprendizado coletivo vem ao encontro das atividades expostas por Leonard (1995), já que os grupos ou equipes passam a aprender pelo trabalho e pela prática das atividades. Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 79), “a criação do conhecimento organizacional é uma interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito”, ou seja, entre o conhecimento intangível que está dentro das pessoas e o tangível, formal e documentado. Com efeito, o desafio para as organizações está em mudar a cultura já existente de modo a se criar um clima propício à mudança e ao aprendizado, pela interação dos conhecimentos tácitos e explícitos. Quando essa mudança ocorre, geram-se conhecimentos e se origina uma interação contínua e dinâmica entre eles. É a denominada Espiral do Conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). 73 Figura 2 – Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 80) São os padrões básicos para a criação do CO, descritos por Nonaka e Takeuchi (1997) como: a) socialização: tácito em tácito – criação de conhecimento pela da observação, pela prática, pelo compartilhamento de experiências; b) externalização: tácito em explícito – criação de conhecimento pela articulação do conhecimento tácito e sua transformação em conhecimento explícito; c) combinação: explícito em explícito – criação de conhecimento pela combinação de dados, informações e conhecimentos; d) internalização: explícito em tácito – criação de conhecimento pela comunicação de conhecimentos explícitos que são absorvidos pelas pessoas, entendidos e traduzidos em conhecimento tácito. A sequência completa das atividades de Nonaka e Takeuchi (1997) e Leonard (1995) propiciam, na visão de Silva et al. (2005, p. 4791), a construção do conhecimento e havendo “efetivamente um aproveitamento adequado e satisfatório do conhecimento gerado podendo este vir a promover inovações a partir de sua aplicação”. Neste contexto, Moscovici (2003) relata que a implantação e desenvolvimento de equipes vêm ao encontro da necessidade de as organizações mudarem a cultura existente. Assim também Leuch et al. (2005), ao analisarem as barreiras culturais para a gestão do conhecimento, enfatizam que os recursos humanos têm papel fundamental para se superarem resistências e mudarem a cultura organizacional. Tomando como base Sacomano e Escrivão Filho (2000), Katzenbach e Smith (2001) e Drucker (2001), que enfatizam a presença das equipes na estrutura organizacional, e Szezerbicki (2006), que analisou a gestão do conhecimento em equipes de alta performance, pode-se inferir que as equipes auxiliam a organização criando um ambiente adequado à mudança, pois os membros estão envolvidos em um processo que possibilita a prática de atividades voltadas ao aprendizado e ao desenvolvimento de novas habilidades. 6.4 Metodologia Os procedimentos prescritos por Yin (2001), adaptados ao caso em exame, foram seguidos por se tratar de um método a ser utilizado em uma investigação empírica de um fenômeno dentro de seu contexto da vida real. Em termos práticos, observaram-se as seguintes etapas: a) revisão bibliográfica; b) elaboração de 74 entrevista semi-estruturada composta de questões abertas e com roteiro para condução da mesma; c) definição da população; d) entrevista; e) elaboração de questionário para apurar a existência de processos de construção do conhecimento organizacional (CO); f) observação não-participante; g) aplicação do questionário; h) aplicação do instrumento de Parker (1994) para apurar o estilo de trabalhar em grupo dos membros das equipes; e i) análise dos dados e resultados. A empresa em estudo é uma empresa prestadora de serviços, de médio porte, que atua no transporte de passageiros em linhas rodoviárias e metropolitanas no estado do Paraná, turismo, fretamentos e viagens no Brasil e países do Mercosul e de logística no estado do Paraná. O questionário foi composto de quatro questões tendo como base as atividades essenciais para construção do CO abordadas por Leonard (1995). O instrumento é composto por 18 questões, nas quais os respondentes distribuíram em cada questão até a nota 4 para situação que mais se aplica e até a nota 1 para a que menos se aplica no trabalho presencial na equipe a que pertencem. A população foi composta de um universo de quatro gerentes e de 75 membros de equipes da empresa em estudo. Dois membros de equipe foram descartados, pois estavam participando da primeira reunião em suas equipes e entendeu-se que, por isso, não tinham experiência prática para responder os questionários. A entrevista semi-estruturada foi aplicada a quatro gerentes da empresa. O objetivo da entrevista com um dos entrevistados foi de caráter exploratório; com os demais o objetivo foi verificar a existência de processos que levem a construção do CO a partir das equipes. Os entrevistados receberam a sigla D (declarantes) e foram numerados com algarismos arábicos a fim de preservação de identidade. Buscando melhorar a interpretação das respostas e dos registros na entrevista, utilizou-se, com a autorização dos entrevistados, um gravador e foram transcritas ipsis literis as respostas. Em seguida, o questionário elaborado e o instrumento proposto por Parker (1994) foram aplicados aos membros das equipes. Juntamente com a aplicação dos mesmos, as observações de caráter não-participante foram feitas. Os membros das equipes responderam ao questionário e aos instrumentos identificando somente a equipe a que pertencem. As equipes receberam a sigla E (equipe) e foram numeradas com algarismos arábicos. Os gerentes responderam ao questionário sem se identificar. Em seguida, membros de equipes e gerentes depositaram os questionários respondidos em urnas a fim de assegurar sigilo sobre suas opiniões e, também, estabelecer um clima de confiança e empatia (TRIVIÑOS, 1987). Para análise dos dados obtidos utilizou-se a técnica de triangulação sugerida por Triviños (1987) que, em linhas gerais, consiste no emprego de diferentes evidências para busca de uma resposta mais aprofundada. Segundo Yin (2001, p. 121), “várias fontes de evidências fornecem essencialmente várias avaliações do mesmo fenômeno”. Os procedimentos tiveram a intenção de aumentar a compreensão dos dados para análise e conclusões dos resultados. Para análise das entrevistas foi utilizada a análise de conteúdo que, segundo Minayo (2004), busca encontrar respostas para confirmar as hipóteses. Para tanto foram organizadas as entrevistas por categorias de acordo com o referencial teórico para facilitar os processos de triangulação dos dados. Os questionários receberam análise estatística. Os resultados da aplicação do instrumento foram transferidos para o quadro de resultados e identificado os estilos que mais predominaram seguindo as orientações de Parker (1994). 75 Após análise dos dados individualmente, eles foram confrontados. Essa confrontação buscou, segundo Yin (2001), as generalizações: as generalizações estatísticas por meio da inferência sobre a população definida e as analíticas pela comparação dos dados empíricos com a teoria. 6.5 Resultados e Discussões As experiências pessoais e profissionais criam uma personalidade nas pessoas que, no trabalho em equipe ou em outro qualquer, interagem num continuum com o ambiente que estão inseridas. Formar grupos ou equipes de trabalho com o equilíbrio ideal de personalidades ou estilos torna-se fundamental diante da crescente utilização da gestão baseada em equipes retratada por inúmeros autores, como Claver-Cortés et al. (2007), Bejarano (2006), Drucker (2001) e Sacomano e Escrivão Filho (2000). A Tabela 1 quantifica a predominância de estilos entre os membros das equipes em estudo mostrando o número de vezes em que o estilo predominou, a partir da aplicação do instrumento proposto por Parker (1994). Tabela 1 – Estilo de trabalhar em grupo Contribuinte Colaborador Comunicador Desafiador Número de vezes que o estilo predominou na equipe Equipe 1 7 4 3 0 Equipe 2 9 2 5 1 Equipe 3 5 4 4 2 Equipe 4 4 5 3 5 Equipe 5 5 5 4 1 Equipe 6 4 4 3 5 Equipe 7 7 1 1 2 TOTAIS 41 25 23 16 Fonte: os autores Observa-se que, no geral, o estilo predominante entre os membros das equipes foi o contribuinte, em seguida, colaborador, comunicador e, por último, o estilo desafiador. Segundo Parker (1994), um membro de equipe pode ter diferentes estilos de trabalhar e prevalecer um ou dois que definem um conjunto de comportamentos. Na visão de Parker (1994) é possível dizer que os dois estilos que predominaram – contribuinte e colaborador – são os que dão uma maior atenção ao desempenho do grupo ou equipe. Os resultados das equipes em estudo evidenciam matrizes diferentes de resultados em relação ao estilo de trabalhar em grupo. Os resultados das equipes 3, 4 e 6 aparecem de maneira mais uniforme, não apresentando tanta disparidade quanto nas equipes 1, 2, 5 e 7, que apresentam mais membros com estilo contribuinte e menos com o desafiador. Esses resultados, segundo Robbins (1999), Katzenbach e Smith (2001), Moscovici (2003) e Bejarano (2006), não são os ideais, pois equipes eficazes necessitam de habilidades complementares entre os membros. Na visão de Bejarano (2005b), o “equilíbrio de funções e personalidades” é fundamental “para que a equipe possa atingir seu potencial”. A disparidade da predominância de estilos equipes 1, 2, 5 e 7 reflete, também, a política de recrutamento e seleção utilizada 76 pela empresa que, segundo o entrevistado D1, visa somente conhecer algumas habilidades profissionais dos candidatos. A atual política de formação das equipes na empresa em estudo vem ao encontro do que Aleixo (2003) aborda: fazer um balanceamento entre os membros que já possuem algumas habilidades e os que precisam desenvolvê-las. Armstrong (1997) e Bejarano et al. (2005b) inferem que um processo de seleção mais amplo, contemplando a busca de mais características dos candidatos, pode colaborar no sentido de possibilitar às organizações o desenho da equipe ideal. Os resultados do questionário com a função de apurar a existência de processos que indiquem a construção do conhecimento organizacional (CO) a partir das equipes em estudo são resumidos na Tabela 2 abaixo: Equipe 7 Equipe 6 Equipe 5 Equipe 4 Equipe 3 Equipe 2 ATIVIDADES ESSENCIAIS Equipe 1 Tabela 2 – Processos de construção do conhecimento organizacional nas equipes % RESPOSTAS POSITIVAS 1 – Análise e soluções dos problemas. 2 – Envolvimento do cliente. 3 – Experimentação 4 – Importar conhecimentos. MÉDIA POR EQUIPE Fonte: os autores 72,72 100,00 77,78 81,82 72,72 81,82 83,33 100,00 72,72 100,00 88,63 63,64 63,64 100,00 81,81 88,89 55,56 77,78 75,00 100,00 45,45 72,72 75,00 100,00 72,72 90,90 84,08 81,82 18,18 54,54 59,09 66,66 100,00 83,33 83,33 Observa-se na Tabela 2 que nas quatro atividades proposta por Leonard (1995) – 1. análise de problemas, 2. envolvimento do cliente, 3. experimentação e 4. importar conhecimentos – existem membros de equipes que discordam da sua inserção na prática do trabalho em equipe. Embora os resultados apontem a prática das quatro atividades pelas equipes, precisa-se considerar a presença de membros que acreditam não estar praticando as atividades essenciais para construção do CO. Somente em algumas atividades e em algumas equipes cem por cento dos respondentes concordam que a equipe pratica as atividades que são necessárias para construção do CO. As respostas negativas podem estar associadas a inúmeros fatores, mas um fator relevante, segundo Terra (2000), é que as pessoas em seus processos criativos e de aprendizado dependem de grande motivação intrínseca e de interação com outros. Assim se pode estimular comportamentos favoráveis à resolução de tensões internas e permitir tentativas de erros pessoais. Para Bejarano et al. (2005a), apesar das potencialidades das equipes, estas têm algumas limitações que nem sempre são superáveis. Entre as limitações estão a dificuldades de conciliar a inclinação individualista com a disposição para trabalhar por um objetivo comum e a dificuldade de compartilhar conhecimento entre os membros e com os membros de outras equipes dentro das empresas. Tomando como base a visão de Terra (2000) e Bejarano et al. (2005a), podese inferir que os grupos e as equipes no ambiente produtivo necessitam da interação e do compartilhamento dos conhecimentos tácitos e coletivos para que possam auxiliar as organizações nos processos de construção do CO. Neste contexto, Senge (1998) afirma que a aprendizagem em equipe é vital, pois, se as equipes não tiverem capacidade de aprender, a organização também não terá. 77 As reuniões das equipes mostraram um ambiente favorável para que a aprendizagem coletiva se desenvolva. Durante as observações não-participantes verificou-se a prática das atividades essenciais para construção do CO. Essas atividades se assemelham às atividades propostas por Nonaka e Takeuchi (1997). É nas reuniões que acontece o compartilhamento de experiências (socialização), o registro dos conhecimentos e informações em atas (externalização) e a troca de conhecimentos (combinação). É a partir do trabalho diário que se efetiva a incorporação dos conhecimentos explícitos no conhecimento tácito (internalização). A prática dessas atividades é percebida, também, durante a entrevista com os gerentes operacionais. O declarante D4, ao responder se os membros das equipes estavam aprendendo com o trabalho em equipe, posicionou-se da seguinte forma: “Eu acredito que não só entre eles, mas também entre nós [...]”. O declarante D3 acredita que os membros das equipes estão “[...] mudando a forma de pensar e [...] estão absorvendo novos conhecimentos em cima disso”. No entanto, pode-se observar novamente que existem membros de equipes que não praticam ou não colaboram com as atividades para criação do CO nas equipes. Isso pode ser percebido em fragmentos das respostas à pergunta sobre as decisões tomadas em equipe e a sua efetivação: a) “Estão, mas é ‘que nem eu tava’ te falando agora, um pouco devagar, em alguns casos um se adianta, ‘um sobressai’ sobre o outro [...]” (D2); b) “A maioria deles ‘tão’ fazendo isso, mas tem pessoas ainda que não ‘tão’ fazendo [...]” (D3). Os resultados caracterizam a existência de um problema que pode ser decisivo para criação do CO na empresa. Sem a interação entre o conhecimento tácito e o explícito não há condições para que ocorra o processo em espiral proposto por Nonaka e Takeuchi (1997). Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 83), as “atividades em grupo”, a “criação e o acúmulo de conhecimento em nível individual” estão associados à criação de um clima coletivo e colaborativo que desencadeará no CO. Em relação ao estilo de trabalhar em grupo e as atividades essenciais para construção do CO, pode-se observar que as equipes com distribuição mais uniforme dos estilos (Equipes 3, 4 e 6) apresentam a menor média (Tabela 2), indicando a presença de um número maior de membros que não concordam que a equipe pratique as atividades propostas por Leonard (1995). Nota-se que as equipes em que a predominância de um estilo teve mais disparidade (Equipes: 1, 2, 5 e 7) apresentam a maior média (Tabela 2). Esses resultados indicam a presença de um número maior de membros que concordam, e a equipe pratica as atividades essenciais para construção do CO. Na prática isto significa que as equipes pautadas pela diversidade de estilos – segundo Bejarano (2006), Moscovici (2003) e Katzenbach e Smith (1994), a diversidade de estilos e perfis é uma característica de equipe eficaz – não estão realmente praticando as atividades necessárias para construção do CO. Os resultados das equipes 1, 2, 5 e 7, que são compostas com mais membros com o estilo contribuinte, são convergentes com os resultados encontrados por Thomaz e Kovaleski (2006, p. 180), que consideram: “os estilos contribuinte e comunicador são os melhores para que ocorra o compartilhamento do conhecimento tácito [...]”. Na visão de Parker (1994) não há um melhor estilo, pois todos são necessários ao grupo ou equipe. Contudo, cada estilo define comportamentos que serão utilizados frequentemente e que serão úteis em algum momento. Pode-se inferir que o momento, mencionado por Parker (1994) anteriormente, é mais favorável ao estilo contribuinte que predominou 41 vezes e está presente nas 78 equipes que apresentam as melhores médias em relação à prática das atividades essenciais para construção do CO. Os resultados de Thomaz e Kovaleski (2006) são melhores percebidos nas equipes 1, 2 e 5, que apresentam as melhores médias (Tabela 2) e a maior predominância dos estilos contribuinte e comunicador. Essas equipes, também, exibem a menor predominância, entre as equipes em estudo, do estilo desafiador. Este estilo tem maior predominância nas equipes 3, 4 e 6 as quais apresentam a menor média (Tabela 2) em relação à prática das atividades essenciais para construção do CO. E, por fim, observa-se na Tabela 2 que as melhores médias são das equipes 1 e 5 em que os perfis que mais predominaram foram o contribuinte e o colaborador. Esses resultados indicam que o estilo colaborador, assim como o contribuinte, também pode ser considerado um “bom” perfil para que ocorra o compartilhamento do conhecimento. 6.6 Conclusões Os resultados deste estudo de caso permitiram identificar a influência do estilo de trabalhar em grupo nos processos de construção do conhecimento organizacional (CO) das equipes em exame. O estilo que predominou nas equipes – que melhor contribuiu para construção do CO – foi o estilo contribuinte, pautado pelo compartilhamento de informações. O primeiro implicativo que caracteriza esta influência é mostrado com a distribuição de estilos nas equipes. As equipes com melhor distribuição dos estilos apresentam um número maior de membros que não concordam que a equipe pratique as atividades necessárias para construção do CO. As equipes que não têm uma distribuição tão uniforme, em que o estilo contribuinte predominou, apresentaram uma média que caracteriza a prática das atividades essenciais para construção do CO. O segundo implicativo que caracteriza a influência é percebido nas reuniões das equipes. Embora todas as equipes façam a socialização dos conhecimentos, a externalização a partir dos registros em atas, a combinação com a troca de conhecimentos e a internalização com a incorporação dos conhecimentos, existem equipes em que a presença de membros que não acreditam na prática dessas atividades é maior, indicando, assim, a influência dos estilos na construção do CO. Pode-se considerar que o estilo contribuinte é um dos mais propícios e o desafiador um dos menos favoráveis para o compartilhamento e criação do conhecimento; entretanto, não são elementos a serem observados de forma isolada. A política de recrutamento e seleção da organização precisa considerar não somente algumas habilidades profissionais, mas sim o estilo de trabalhar em grupo que o candidato apresenta. Essa observação pode auxiliar na configuração e a reconfiguração de equipes no ambiente produtivo, que deve ser considerado, posto que precisa proporcionar um clima favorável ao compartilhamento e a prática das atividades para criação do conhecimento organizacional. Os envolvidos precisam participar de um processo que possibilite o exercício de atividades voltadas ao aprendizado e ao desenvolvimento de novas habilidades. 79 6.7 Referências ALEIXO, A. I. S. Procedimentos para Implantar Equipes. 2003. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. ARMSTRONG, A. Using Assessment Centers to Select Team Leaders. Asia Pacific Journal of Human Resources, p. 35-67.1997. BEJARANO, V. C. 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Ou seja, começaram a entender a necessidade da QVT na busca pela satisfação das necessidades individuais dos trabalhadores e na contribuição de seus colaboradores como parte das ações a serem realizadas para se alcançarem os níveis e metas impostos pelas organizações. Muito se comenta nos dias sobre o tema qualidade de vida dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho. De acordo com Walton (1973) o tema QVT é usado para descrever certos valores ambientais e humanos, negligenciados pelas sociedades industriais em favor do avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico. Walton (1973) argumenta que os trabalhadores convivem com uma rotina diária cada vez mais desgastante e massacrante. Neste contexto vê-se a necessidade de implantar técnicas que garantam a QVT, pois segundo Quilici et.al. (2007) é certo que um trabalhador saudável, trabalhando em um ambiente saudável a sua produtividade tende a crescer. E a produtividade é o objetivo maior do empregador. De acordo com Grabarschi (2001), a QVT, ao aproveitar as habilidades mais refinadas dos trabalhadores, observando as suas aspirações – tanto as mais altas como as básicas -, consegue estabelecer um ambiente mais humanizado. A QVT se torna fundamental nas empresas, a fim de remodelar a organização cultural na realização do trabalho, pois, além de promover a satisfação e motivação dos trabalhadores através de condições de trabalho e incentivos à participação dos trabalhadores nos processos decisórios da empresa, traz consigo a produtividade. Tendo em vista que a QVT contribui diretamente ao setor produtivo, ou seja, a produtividade, esta pesquisa buscou avaliar qual a influência da QVT na produtividade do setor em estudo através da verificação do nível de satisfação dos funcionários e a percepção dos supervisores/gerentes em relação ao sentimento dos funcionários. 83 7.2 Qualidade de Vida no Trabalho A globalização tem impulsionado novas relações de trabalho e tendências que influenciam diretamente na segurança, na saúde e nas expectativas do trabalhador. Em consequência, a tecnologia proporciona equipamentos de proteção mais seguros e avanços na medicina preventiva, a fim de manter a segurança, saúde e conforto dos trabalhadores. Com o desenvolvimento industrial, na busca da qualidade e produtividade, os trabalhadores têm recebido maior atenção das empresas, pois são eles que possibilitam a vantagem competitiva das organizações. De acordo com Garcia (2007), na luta pela produtividade e competitividade, as empresas passaram a considerar o capital intelectual como vantagem competitiva, levando as organizações a descobrirem a importância das pessoas, do papel dos trabalhadores para a empresa. Na busca da satisfação dos trabalhadores faz-se necessária a implantação de ações que assegurem a qualidade de vida no trabalho – QVT. De acordo com Limongi-França (2007), o tema QVT tem sido tratado como um leque amplo e, geralmente, confuso, podendo abranger desde cuidados médicos estabelecidos pela legislação de saúde e segurança até atividades voluntárias dos empregados e empregadores nas áreas de lazer, motivação, entre inúmeras outras. Fernandes (1996) comenta que, para a expressão QVT, não se pode atribuir uma definição conceitual. Porém o que parece comum aos autores é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações na melhora da satisfação do trabalhador, seguida da melhora da produtividade da empresa. Segundo Limongi-França (2007), além de historicamente os estudos de QVT apresentarem uma ligação às questões de saúde e segurança no trabalho, o conceito de QVT também sinaliza a emergência de habilidades, atitudes e conhecimentos em outros fatores, abrangendo associações com produtividade, legitimidade, experiências, competências gerenciais e integração social. Para Grabarschi (2001), a QVT tem como objetivo servir tanto as aspirações mais altas dos trabalhadores quanto as suas necessidades mais básicas, produzindo um ambiente de trabalho mais humanizado. Neste sentido, a QVT procura aproveitar as habilidades mais refinadas dos trabalhadores e proporcionar um ambiente que os encorajem a desenvolver suas atividades. O termo qualidade de vida do trabalho tem sido considerado um grande desafio para as organizações com suas variadas definições. Bom Sucesso (2007, p.23) define, de modo geral, que qualidade de vida no trabalho diz respeito a: renda capaz de satisfazer as expectativas pessoais e sociais; orgulho pelo trabalho realizado; vida emocional satisfatória; autoestima; imagem da empresa/instituição junto à opinião publica; equilíbrio entre trabalho e lazer; horários e condições de trabalhos sensatos; oportunidades e perspectivas de carreira; 84 possibilidade de uso do potencial; respeito aos direitos; justiça nas recompensas. Por outro lado, a busca da QVT não está restrita apenas às empresas, mas depende também da postura usual dos trabalhadores, cuja crença é a de que é tarefa exclusiva das empresas em melhorar o QVT. Segundo Limongi-França (2007) a QVT, em grande parte, depende do próprio individuo, do valor que atribui à vida, da autoestima e autoimagem, do engajamento profissional, político e social. Assim, por mais que as empresas cumpram com seu papel na busca de QVT, isso não irá assegurar a mudança de comportamento das pessoas. Karpinski e Stefano (2008) argumentam que as empresas contratam força de trabalho e pedem resultados, lealdade e envolvimento. O homem busca remuneração justa e adequada, espera convivência sadia e oportunidades de crescimento profissional. Ou seja, os empregados, além de buscarem as empresas para se realizarem atendendo às necessidades básicas, buscam salários, estabilidade, desafios, possibilidades de crescimento, aprendizagem, convivência, amizade e status. As empresas buscam manter os empregados que mostrem assiduidade, pontualidade, lealdade, empenho na redução de custos, capacidade produtiva e compromisso com os objetivos da empresa. Nota-se que a compatibilização entre as expectativas individuais e necessidades das organizações revela-se um processo desafiador para os gestores na busca da QVT. As expectativas dos empregados e da empresa afetam diretamente a análise da QVT nas organizações. De acordo com Limongi-França (2007), tem-se constatado certa confusão sobre os significados teórico e técnico do conceito de QVT, o que poderia conduzir, simplesmente, a outro modismo nas empresas. Assim, além da QVT constituir responsabilidade da empresa, é uma conquista pessoal. O autoconhecimento e a descoberta do papel de cada um nas organizações, da postura facilitadora, empreendedora, passiva ou ativa, transformadora ou conformista são responsabilidade de todos: acionistas, diretores, técnicos, profissionais das diversas categorias e níveis hierárquicos. (BOM SUCESSO, 2007) De acordo com Detoni (2001) a investigação da QVT possui pontos de intersecção com os critérios utilizados para a análise da qualidade de vida de uma forma ampla. Isso implica que a análise da QVT não deve se restringir aos fatores condicionantes do ambiente laborativo. A pesquisa de QVT é, portanto, uma estratégia que identifica até que medida as expectativas individuais vêm sendo atendidas pela organização e mostra como as crenças e valores defendidos pela empresa estão se concretizando na perspectiva do empregado. Sinaliza rumos para a melhoria da QVT, uma vez que permite identificar a satisfação com o trabalho, com as lideranças, com os colegas de equipe, com políticas e estratégias. De acordo com Medeiros (2002), existem vários modelos que servem de referencial para implantar um programa de QVT, sendo necessário implantá-los de acordo com as condições e as características de cada local. Cada modelo enfatiza 85 determinadas categorias e trabalhadores. indicadores para avaliação de satisfação dos Partindo desse conceito, para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o modelo de Richard Walton (1973), que busca através de pesquisas e entrevistas identificar fatores e dimensões que afetam de maneira mais significativa o trabalhador na situação de trabalho. O modelo serve de base para nortear uma pesquisa, podendo ser enriquecido de outros critérios, levando em consideração as peculiaridades da empresa. No campo conceitual, o trabalho de Walton (1973) forneceu um modelo de análise de experimentos importantes com oito categorias conceituais como critérios de QVT, como colocadas a seguir: - Compensação justa e adequada: objetiva avaliar a percepção dos trabalhadores em relação ao sistema de remuneração da empresa, ou seja, a adequação com suas expectativas diante o trabalho desenvolvido. As variáveis de avaliação podem ser: remuneração adequada, equidade externa e equidade interna. - Condições de trabalho seguras e saudáveis: objetiva explorar a satisfação dos trabalhadores em relação às condições ambientais do local de desempenho das atividades. As variáveis de avaliação podem ser: a jornada de trabalho razoável, ambiente físico sem riscos de acidentes e riscos de doenças ocupacionais, cargas de trabalho adequadas à capacidade física do trabalhador. - Oportunidade para usar e desenvolver capacidades humanas: objetiva mensurar as possibilidades que os trabalhadores têm em aplicar no dia a dia as suas aptidões e conhecimentos. As variáveis de avaliação podem ser: autonomia no trabalho, uso de múltiplas capacidades e habilidades, informações sobre todo o processo de trabalho, significativo da tarefa e planejamento do trabalho. - Oportunidade futura para o crescimento contínuo e de segurança: objetiva avaliar as oportunidades que as organizações oferecem para o desenvolvimento e crescimento de seus colaboradores e para a estabilidade de emprego. As variáveis de avaliação podem ser: desenvolvimento das potencialidades e aquisição de novos conhecimentos e habilidades, oportunidades de carreira e segurança no emprego. - Integração social na organização de trabalho: objetiva medir o grau de integração social e o clima existente na organização. As variáveis de avaliação podem ser: liberdade de preconceitos, igualdade de oportunidades, relacionamento interpessoal, senso comunitário e abertura interpessoal. - Constitucionalismo na organização de trabalho: objetiva aferir o grau com que as organizações respeitam os direitos dos empregados. As variáveis de avaliação podem ser: privacidade pessoal, liberdade de expressão, equidade e direitos trabalhistas. - Trabalho e espaço total de vida: objetiva mensurar o grau de integração social e clima existente na organização. As variáveis de avaliação podem ser: equilíbrio entre os horários de trabalho, viagens, exigências de carreira, lazer e família. - Relevância social do trabalho na vida: objetiva avaliar a percepção dos trabalhadores quanto à responsabilidade social da organização. As variáveis de avaliação podem ser: imagem da organização, responsabilidade sobre os produtos e serviços, responsabilidade social da organização, prática de emprego. 86 Segundo Walton (1973), não há relações complexas entre as oito categorias, pois alguns pares tendem a ser positivamente correlacionados e outros apresentam aparente incoerência. Assim, as oito categorias convidam a vários tipos de análise, incluindo a forma como cada atributo da qualidade de vida está relacionado com os outros. Na prática, todos levam à produtividade, assim o modelo pode ser adaptado às peculiaridades e aos objetivos da pesquisa. Ainda segundo Walton (1973), outro ponto importante a ser analisado é que indiferentemente à forma como se aborda a questão da qualidade de vida, é preciso reconhecer a diversidade das preferências humanas, tais como cultura, classe social, criação familiar, educação e personalidade. 7.3 Metodologia da Pesquisa Esta seção tem como objetivo expor o método a ser utilizado para coleta e análise dos dados para realização do estudo proposto. Buscando alcançar os objetivos deste trabalho, o método utilizado foi caracterizado como exploratóriodescritivo. Segundo Lakatos e Marconi (2007), a pequisa sempre parte de um tipo de problema, de uma interrogação. Buscou-se, então, comparar os resultados da análise de QVT dos funcionários com a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários. Tal necessidade foi caracterizada pelo índice de produtividade abaixo das metas estipuladas pela empresa. O instrumento de pesquisa foi aplicado no setor de cortes de frangos de uma empresa situada na região noroeste do Estado do Paraná. A análise foi realizada segundo o modelo de Walton de QVT, adaptado conforme as peculiaridades e aos objetivos da pesquisa. O modelo de Walton (1973) é estruturado em oito (8) categorias conceituais de QVT, conforme quadro 01. CATEGORIAS DE QVT 1. Compensação justa e adequada 2. Condições de trabalho 3. Oportunidades para uso e desenvolvimento das capacidades 4. Oportunidade de crescimento e segurança 5. Integração social na organização VARIÁVEIS DE QVT - equilíbrio entre salário e trabalho; - equilíbrio salarial com o mercado; - equidade externa dos benefícios; - equidade salarial interna; - benefícios extras. - jornada de trabalho semanal; - carga de trabalho adequada à capacidade física do trabalhador; - ambiente físico seguro e saudável; - ambiente salubre. - autonomia; - informação sobre o processo total de trabalho; - retroinformação (feedback); - importância das tarefas; - uso de múltiplas capacidades e habilidades. - crescimento profissional; - segurança no emprego; - treinamentos e cursos; - incentivo aos estudos. - discriminação; - igualdade de oportunidades; - relacionamento interpessoal; 87 6. Constitucionalismo na organização 7. Trabalho e espaço total de vida 8. A relevância social do trabalho na vida - valorização das idéias; - clima do ambiente de trabalho (em relação aos colegas). - direitos do trabalhador; - liberdade de expressão; - respeito à individualidade; - regras pré-estabelecidadas e divulgadas. - horário de trabalho e descanso; - possibilidade de lazer; - influência sobre a rotina familiar. - orgulho do trabalho; - imagem da organização; - qualidade dos produtos oferecidos; - responsabilidade social da organização; - política de recursos humanos. Quadro 1 – Categorias e variáveis da QVT segundo Walton O questionário foi dividido em duas partes: na primeira, a análise das características demográficas dos participantes com quatorze (14) questões com cinco (5) alternativas cada questão; a segunda parte refere-se ao questionário segundo o modelo de QVT, com trinta e seis (36) questões e cinco (5) alternativas em cada questão, satisfazendo as oito categorias do modelo de QVT. Os questionários foram entregues a vinte (20) funcionários da linha produtiva e três (3) supervisores/gerentes do setor em estudo. A participação nesta pesquisa foi espontânea, as respostas eram sigilosas, não havendo necessidade de identificação nas folhas do questionário. Para a operacionalização e análise das variáveis, adotou-se uma escala conforme sugere Fernandes (1996) com seis (06) níveis de satisfação, adaptada às necessidades e características da pesquisa, conforme quadro 2. Variáveis de QVT Total insatisfação Muita insatisfação Alguma insatisfação Alguma satisfação Muita satisfação Total satisfação Quadro 2 – Escala de Níveis de Satisfação segundo Fernandes Para a análise dos dados, que segundo Vergara (2007) refere-se à parte da pesquisa que irá explicar ao leitor como se pretende tratar os dados, foi utilizado o método quantitativo para análise da satisfação e insatisfação das variáveis aplicadas segundo o modelo de QVT. 7.4 Apresentação e Discussão dos Resultados 7.4.1 Perfil dos respondentes - produção Os profissionais da linha de produção participantes da pesquisa detêm as seguintes características demográficas: quanto à função, 100% dos respondentes ocupam o cargo de auxiliar de cortes da linha de desossa de coxa e sobrecoxa de frango; quanto ao sexo, 100% são mulheres; em relação à faixa etária, 60% se encontram na idade de até 25 anos, 30% na faixa de 31 a 35 anos de idade, 10% na faixa de 31 a 35 anos; em relação ao tempo de serviço na agroindústria, 70% têm até 2 anos, 30% estão entre 2 a 5 anos; quanto ao tempo de serviço na empresa, 88 20% possuem mais de 6 meses até 12 meses, 20% possuem mais de 1 ano até 2 anos, 60% mais de 2 anos até 5 anos; em relação à procedência do trabalhador, 30% procedem do local, 70% vieram de outras cidades dos arredores; as razões da migração foram: 30% à procura de emprego, 20% para acompanhar a família, 40% para melhorar as condições de vida, 10% por outros motivos; a razão para o ingresso na agroindústria foram: 10% por simpatia pelo processo, 40% pela possibilidade de carreira ou aprendizado de uma profissão, 30% em razão da facilidade de obtenção de trabalho, 20% por instrução insuficiente para outra atividade; quanto ao grau de instrução, 10% possui até a quarta série do primeiro grau, 20% têm primeiro grau completo, 30% com segundo grau incompleto, 40% com segundo grau completo; o estado civil representou: 70% solteiro, 30% casado; quanto ao número de dependentes, 60% possuem dependentes, 40% não possuem dependentes; em relação à moradia, 60% residem em moradia própria, 30% moram em casa alugada, 10% moram com parentes; o meio de transporte utilizado para o deslocamento residência/serviço e retorno foi de 100% por meio de transporte coletivo. Em síntese, o perfil dos profissionais da linha de produção é predominantemente do sexo feminino, com faixa de idade até os 25 anos, e a maioria está na empresa há menos de 2 anos, com procedência de outras cidades à procura de melhorar as condições de vida e na busca da possibilidade de carreira ou aprendizado de uma profissão. A maioria tem grau de instrução abaixo do segundo grau, com predominância de estado civil solteiro, moradia própria e todos usam o transporte coletivo para deslocamento da residência/serviço e retorno. 7.4.2 Perfil dos respondentes – supervisão/gerência Os profissionais da supervisão de produção participantes da pesquisa detêm as seguintes características demográficas: quanto à função, 67% dos respondentes ocupam o cargo de supervisor de produção, 33% ocupam o cargo de coordenador de produção; quanto ao sexo, 100% são do sexo masculino; em relação à faixa etária, 67% se encontram na idade de 26 a 30 anos, 33% na faixa de 41 a 45 anos; em relação ao tempo de serviço na agroindústria, 33% estão entre 2 a 5 anos, 67% estão entre 5 a 10 anos; quanto ao tempo de serviço na empresa, 33,3% possuem mais de 1 ano até 2 anos, 33,3% possuem mais de 5 anos até 10 anos, (33,3%) mais de 10 anos; em relação à procedência do trabalhador, 67% procedem do local, 33% vieram do campo; as razões da migração foram: 67% para melhorar as condições de vida, 33% devido à venda da terra; a razão para o ingresso na agroindústria foram: 33,3% por simpatia pelo processo, 33,3% pela possibilidade de carreira ou aprendizado de uma profissão, 33,3% por instrução insuficiente para outra atividade; quanto ao grau de instrução, 33% possuem o segundo grau completo, 67% têm pós-graduação completa; o estado civil representou um índice de 100% de casados; quanto ao número de dependentes, 100% possuem dependentes; em relação à moradia, 67% residem em moradia própria, 33% moram em casa alugada; o meio de transporte utilizado para o deslocamento residência/serviço e retorno teve o percentual de100% com veículo próprio. Em síntese, o perfil dos profissionais de supervisão/gerência é predominantemente do sexo masculino, com faixa de idade entre 26 a 30 anos, maioria está na empresa há mais de 5 anos, procedem do local; maioria com pós- 89 graduação completa, predominância de estado civil casado, moradia própria e todos usam veículo próprio para deslocamento da residência/serviço e retorno. 7.4.3 Escalas de avaliação de qualidade de vida no trabalho segundo o modelo de Walton A seguir apresentam-se os quadros com os resultados da pesquisa elaborada segundo os critérios do modelo de qualidade de vida no trabalho de Walton. Nos indicadores da primeira linha está a representação dos resultados dos funcionários em relação à empresa, nos indicadores da segunda linha está a representação dos resultados da percepção dos supervisores/gerentes em relação ao que eles percebem que os funcionários sentem da empresa. Os resultados foram avaliados em função do agrupamento de mais de 50% das respostas dos funcionários e gerência. Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 0,0% 0,0% 33,4% Gerência 6,6% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 28,0% 26,6% Alguma satisfação 16,0% 6,6% Muita satisfação 24,0% 13,4% Total satisfação 32,0% 13,4% Tabela 1 – Compensação justa e adequada Na avaliação referente à compensação justa e adequada, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está no nível entre muita e total satisfação (56%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre alguma e muita insatisfação (60%). Diante dos resultados percebe-se que os supervisores/gerentes sentem que o sistema de remuneração desta atividade não é satisfatório. Por outro lado, na percepção da maioria dos funcionários, a compensação está de acordo com as suas atividades exercidas na empresa, com o mercado, que há equilíbrio salarial interno e equidade externa dos benefícios. Visto que um ponto positivo abordado pelos funcionários no questionário foi o sistema de benefício gerado pela produtividade. Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 0,0% 5,0% 58,4% Gerência 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 20,0% 33,3% Alguma satisfação 20,0% 8,3% Muita satisfação 35,0% 0,0% Total satisfação 20,0% 0,0% Tabela 2 – Condições de trabalho Na avaliação referente às condições de trabalho, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma e total satisfação (75%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre alguma e muita insatisfação (91,7%). Diante dos resultados percebe-se que o ambiente atende a maioria dos entrevistados em relação à jornada de trabalho, carga de trabalho, ambiente físico seguro e salubre. Porém, na percepção dos supervisores/gerentes, as condições não são favoráveis para o trabalhador. A queixa relatada pelos funcionários foi o frio que sentem nos pés (média de 11,5ºC no ambiente), visto que neste local o calçado utilizado é a bota de PVC sem revestimento térmico. 90 Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 4,0% 12,0% 26,7% Gerência 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 4,0% 26,7% Alguma satisfação 36,0% 40,0% Muita satisfação 44,0% 6,6% Total satisfação 0,0% 0,0% Tabela 3 – Oportunidades para uso e desenvolvimento das capacidades Na avaliação referente às oportunidades para uso e desenvolvimento das capacidades, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma e muita satisfação (80%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre muita insatisfação e alguma satisfação (93,4%). Nota-se que os resultados tendem ao equilíbrio de opiniões em relação a esta variável da pesquisa, ficando entre alguma insatisfação e muita satisfação. Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação 15,0% 15,0% Funcionários 8,3% 16,6% Gerência Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 25,0% 41,8% Alguma satisfação 30,0% 25,0% Muita satisfação 15,0% 8,3% Total satisfação 0,0% 0,0% Tabela 4 – Oportunidades de crescimento e segurança Na avaliação referente às oportunidades de crescimento e segurança, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários e dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários tende ao equilíbrio de opiniões, a insatisfação, funcionários (55%), supervisores/gerentes em relação aos funcionários (66,7%). Ressaltamos que, nos últimos três anos, o desenvolvimento profissional está como o item de satisfação mais votado pelos funcionários nas 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil, conforme dados publicados na Revista Época (2008, 2007 e 2006). Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 4,0% 20,0% Gerência 0,0% 13,3% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 8,0% 46,7% Alguma satisfação 16,0% 20,0% Muita satisfação 20,0% 20,0% Total satisfação 32,0% 0,0% Tabela 5 – Integração social na organização Na avaliação referente à integração social na organização, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma e total satisfação (68%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre alguma insatisfação e muita satisfação (86,7%). Verifica-se que os funcionários estão satisfeitos quanto às variáveis de integração social na organização. Por outro lado, as variáveis na percepção dos supervisores/gerentes é que os funcionários não estão satisfeitos. 91 Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 5,0% 10,0% Gerência 0,0% 8,3% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 15,0% 58,3% Alguma satisfação 20,0% 25,0% Muita satisfação 25,0% 8,3% Total satisfação 25,0% 0,0% Tabela 6 – Constitucionalismo na organização Na avaliação referente ao constitucionalismo na organização, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma e total satisfação (70%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre alguma insatisfação e alguma satisfação (83,3%). Novamente a percepção dos supervisores/gerentes está contrária às percepções dos funcionários, identificando que necessitam de melhorias. Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 6,6% 13,4% 22,2% Gerência 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 20,0% 55,6% Alguma satisfação 13,4% 22,2% Muita satisfação 20,0% 0,0% Total satisfação 26,6% 0,0% Tabela 7 – Trabalho e espaço total de vida Na avaliação referente ao trabalho e espaço total de vida, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma insatisfação e total satisfação (80%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre muita insatisfação e alguma satisfação (100%). Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 8,0% 0,0% 26,7 Gerência 6,6% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 20,0% 20,0% Alguma satisfação 24,0% 46,7% Muita satisfação 28,0% 0,0% Total satisfação 20,0% 0,0% Tabela 8 – A relevância social do trabalho na vida Na avaliação referente à relevância social do trabalho na vida, nota-se nos resultados que a percepção dos funcionários está entre alguma satisfação e total satisfação (72%), enquanto que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está entre muita insatisfação e alguma satisfação (93,4%). Em suma, verifica-se que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários está oposta à percepção dos funcionários à organização. No geral, os funcionários representam satisfação enquanto os supervisores/gerentes acreditam que há insatisfação dos funcionários. Houve tendência ao consenso nos itens oportunidades para uso e desenvolvimento das capacidades e oportunidades de crescimento e segurança, porém, neste último, ambas as percepções tendem à insatisfação dos funcionários no que representa a falta crescimento profissional, segurança no emprego, falta de treinamentos e cursos e a falta de incentivo aos estudos. 92 7.4.4 Avaliação dos Indicadores de Produção – Funcionários As avaliações abaixo referem-se à análise de produtividade conforme a percepção dos funcionários em relação à empresa. A tabela 9 corresponde à pergunta: quanto à produtividade, como você considera que está para a empresa? Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 0,0% 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 10,0% Alguma satisfação 10,0% Muita satisfação 20,0% Total satisfação 60,0% Tabela 9 – Percepção da produtividade da equipe Verifica-se que na percepção dos funcionários a produtividade em geral da equipe está entre muita e total satisfação (80%). Ou seja, para eles os seus resultados estão satisfatórios para a empresa. A tabela 10 corresponde à pergunta: para você, como sua produtividade está? Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 0,0% 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 10,0% Alguma satisfação 10,0% Muita satisfação 20,0% Total satisfação 60,0% Tabela 10 – Percepção da produtividade individual Quanto à produtividade individual, a percepção dos funcionários é que está entre muita e total satisfação (80,0%). O que confirma a percepção do quadro anterior. 7.4.5 Avaliação dos Indicadores de Produção – Supervisão/Gerência A avaliação abaixo se refere à análise de produtividade conforme os resultados da equipe. A tabela 11 corresponde à pergunta: quanto à produtividade, como está o resultado da equipe? Indicadores Total Muita insatisfação insatisfação Funcionários 0,0% 0,0% Fonte: dados da pesquisa (2009) Alguma insatisfação 66,7% Alguma satisfação 33,3% Muita satisfação 0,0% Total satisfação 0,0% Tabela 11 – Resultados da produtividade da equipe Para supervisão/gerência a produtividade da equipe está entre alguma insatisfação e alguma satisfação, ou seja, a equipe em geral precisa melhorar seus resultados de produção. Diante dos dados representados na avaliação dos indicadores de produção, foram elaboradas algumas questões e encaminhadas ao gerente de produção, pois novamente os resultados mostram a percepção da empresa oposta aos funcionários. 93 Q.1 – Qual a produtividade desejada (meta) para este segmento? Gerência - A meta é de 3,0 coxas por minuto/por funcionário. Q.2 – Qual a produtividade alcançada? Gerência - Média de 2,5 coxas por minuto/por funcionário. Q.3 – Para a empresa, qual o motivo dos resultados estarem abaixo da meta? Gerência - Falta de treinamento e capacitação dos funcionários. Q.4 – O que a empresa está fazendo para alcançar a meta? Ou resolver o motivo apontado? Gerência – Avaliando a implantação de treinamentos e premiando por produtividade. Nota-se que as medidas de controle a serem implantadas pela organização em estudo apresentam grande similaridade com as variáveis do modelo de QVT, sendo elas: Empresa: implantação de treinamentos; Modelo de QVT: oportunidade de crescimento e segurança; Empresa: prêmios por produtividade; Modelo de QVT: compensação justa e adequada. 7.5 Considerações finais Verifica-se, pelos resultados da avaliação de QVT, que a percepção dos supervisores/gerentes em relação aos funcionários indica oposição em seis itens em relação à percepção dos funcionários, ou seja, para os supervisores/gerentes a empresa necessita melhorar os indicadores da pesquisa, pois os resultados tendem à percepção de insatisfação. Por outro lado, para os funcionários os resultados tendem à satisfação dos itens avaliados na pesquisa. Ressaltamos que dois itens tendem ao equilíbrio das opiniões, sendo que no primeiro item, oportunidades para uso e desenvolvimento das capacidades, os funcionários elegem (44%) a muita satisfação e os supervisores/gerentes elegem (40%) a alguma satisfação. Assim ambos tendem à satisfação do funcionário em relação aos itens avaliados: autonomia, informações sobre o processo de trabalho, retroinformação, importância das tarefas e uso de múltiplas capacidades e habilidades. O segundo item, oportunidades de crescimento e segurança, representou insatisfação em ambas as percepções, supervisores/gerentes e funcionários. Neste item foram avaliados: o crescimento profissional, segurança no emprego, treinamento e cursos e incentivo aos estudos. Nota-se que o motivo destacado pela gerência, em relação aos resultados abaixo da meta, está vinculado à falta de treinamento e capacitação dos funcionários, o que ressalta a importância do tratamento dos dados obtidos pela pesquisa de QVT, que indica nos resultados a insatisfação em ambas as percepções dos entrevistados. Vale ressaltar a concordância com os resultados publicados pela revista época nos anos de 2008, 2007 e 2006, quando aponta o desenvolvimento profissional como o item que os funcionários mais valorizam nas 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Assim, verifica-se que a empresa necessita 94 avaliar suas políticas de crescimento profissional dos trabalhadores, verificarem quais as causas da falta de segurança no emprego, melhorar a política de treinamentos e cursos e o incentivo aos estudos. Enfim, verifica-se que os dados obtidos na pesquisa são de suma importância para a empresa pesquisada e para outras empresas, a fim de se conhecer a opinião dos trabalhadores e, também e principalmente, utilizar as informações de suporte para melhoria da produtividade. 7.6 Referências ALVAREZ, B. R. Qualidade de vida relacionada a saúde de trabalhadores: um estudo de caso. 1996. 117f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BOM SUCESSO, E. P. Relações Interpessoais e Qualidade de Vida no Trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 2007. DETONI, D. J. Estratégias de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho: Estudo de Caso em Agroindústrias. 2001. 141f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. ÉPOCA. As 100 Melhores Empresas Para Trabalhar. O Guia Essencial Para sua Carreira. N. 536, 25 agosto 2008. ÉPOCA. As 100 Melhores Empresas Para Trabalhar. O Guia Essencial Para sua Carreira. N. 484, 27 agosto 2007. ÉPOCA. As 100 Melhores Empresas Para Trabalhar. O Guia Essencial Para sua Carreira. N. 431, 21 agosto 2006. FERNANDES, E. C. Qualidade de Vida no Trabalho. Como Medir para Melhorar. Salvador, BA: CASA DA QUALIDADE, 1996. GARCIA, E. O. P. Estudo de Caso Exploratório Sobre Qualidade de Vida no Trabalho de Funcionários Públicos. Revista Organizações em Contato, v. 3, n. 5, jun. 2007. GRABARSCHI, I. V. S. S. Qualidade de Vida no Trabalho e sua Influência na Percepção da Qualidade dos Serviços: Estudo de Caso em Instituição de Nível Superior. 2001. 115f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. KARPINSKI, D.; STEFANO, S. R. Qualidade de Vida no Trabalho e Satisfação: Um Estudo de Caso no Setor Atacadista de Beneficiamento de Cereais. Revista Eletrônica Lato Sensu, v. 3, n. 1, mar. 2008. ISSN 1980-6116. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M.A. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007. LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de Vida no Trabalho – QVT: Conceitos e Práticas nas Empresa da Sociedade Pós-industrial. São Paulo: Atlas, 2007. MEDEIROS, E.G. Análise da Qualidade de Vida no Trabalho: um Estudo de Caso na Área da Construção Civil. 2002. 138f. Dissertação (Mestrado em 95 Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. QUILICI, R. F. M.; XAVIER, A. A. P.; FRASSON, A. C. Mudanças Organizacionais Promovendo um Aumento na Produtividade Através da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) em uma Empresa Estocadora de Soja: Satisfação/Motivação: In ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 27.,2007, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu, ABEPRO, 2007. WALTON, R. E. Quality of Working Life: What Is It? Sloan Management Review, Cambridge: V. 15, n. 1, p. 11-21, 1973. VERGARA, S.C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 8. ed. – São Paulo: Atlas, 2007. 96 8. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO IMPLEMENTADA NO SETOR DA MANUTENÇÃO Aurélio Zoelner Dallarosa Aldo Braghini Júnior Luciano Scandelari Marco Antonio Subtil Macedo 8.1 Introdução Uma empresa química, situada na cidade de Ponta Grossa – PR, observou a necessidade de desenvolver um software de manutenção, pela necessidade manter uma supervisão constante nos seus equipamentos de modo a mantê-los confiáveis e seguros para os usuários e operados, respeitando as pessoas e o meio ambiente como um todo. Conforme Sousa Jr. (2004), com o auxílio de um software, o gestor da manutenção recebe a informação completa sobre o seu setor, evitando atitudes improvisadas, mas verificando de forma criteriosa os problemas, as falhas e possibilidades, atuando com discernimento em casos específicos e de maior relevância para a organização. Desta forma, o gerente de manutenção poderá verificar e conduzir sua equipe para uma situação de domínio e conforto perante os outros setores da empresa, principalmente a da produção, pois ela é o maior usuário direto manutenção, para atingir suas metas e atender os clientes externos, dentro dos prazos e qualidade especificadas. Por essa razão, os indicadores de falhas, quebras ou até mesmo os defeitos que são apontados pelo sistema poderão ser muito úteis para toda a organização ou empresa, de modo a proporcionar uma ação imediata antes de o equipamento ficar comprometido por um defeito, em qualquer nível, que acarrete a sua indisponibilidade de sua função para o sistema. Para Campos (2006, p. 13), “um sistema é um processador formado por elementos que interagem, cuja entrada é informação e/ou energia e/ou matéria e cuja saída é informação e/ou energia, para atingir objetivos”. As ordens de serviços são geralmente solicitadas ao gestor da manutenção por um sistema eletrônico, ou seja, qualquer usuário poderá fazer um registro de solicitação de serviços ou melhorias nos setores em que trabalham através das OS (ordens de serviços). Essas ordens são registradas no sistema, e o gerenciador faz o acesso através de login dos usuários, para obter uma melhor segurança e rastreabilidade das solicitações. As OS seguem uma numeração sequencial, tendo um filtro, por solicitante, área de trabalho, área ou setor em que o equipamento está alocado. Com as ordens de serviços abertas pelo solicitante, o gestor faz a classificação de categorias para indicar as prioridades, e também se consegue verificar a quantidade de mão de obra, ociosidade das equipes, controle e programação de peças de reposição junto ao almoxarifado. 97 Além das utilidades já citadas que o software proporciona ao gestor de manutenção e a melhoria de qualidade na produção como um todo, outro objetivo para essa implementação é construir um histórico dos equipamentos e as falhas por eles apontadas, visto que em uma empresa recém construída não há esse registro, dificultando a solução imediata de problemas, algumas vezes até muito fáceis de serem solucionados. 8.2 O Software para Manutenção Aplicou-se a pesquisa em uma empresa química multinacional, recentemente construída na cidade. Esta empresa iniciou suas atividades em novembro de 2005, processando carbonato de cálcio cuja matéria-prima utilizada vem de outra unidade fabril localizada na Turquia. Em Ponta Grossa o carbonato é preparado e entregue para as empresas do ramo papeleiro, localizadas em vários estados brasileiros, como o Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outros. O carbonato é aplicado no processo de fabricação de papel como carga mineral ou cobertura de acabamento para impressão, fornecendo maior qualidade no acabamento do papel proporcionalmente à quantidade de produto aplicada (como o papel-revista, por exemplo). Para atingir excelência em atendimento aos clientes, todas as empresas buscam inúmeras soluções que forneçam qualidade e confiabilidade dos produtos por elas gerados. Buscam a total satisfação do cliente. “Um sistema de gestão é um conjunto de elementos inter-relacionados utilizados para estabelecer a política e os objetivos e para atingir esses objetivos”. (ABNT, 2004, p. 2) Algumas empresas, atuantes no mercado há algum tempo, passam pelos seguintes problemas: suas instalações são muito antigas, seus equipamentos estão obsoletos e necessitam revisões técnicas frequentes. Em outros casos, quando as empresas são novas, o problema é que não possuem histórico dos equipamentos e a única coisa que resta para o gestor são os manuais. Muitas vezes utilizam como recurso, fazer comparações de desempenho com um equipamento análogo, porém esta prática leva a alguns erros, visto que os equipamentos não atuam do mesmo modo em todas as produções, em todas as fábricas, nem apresentam exatamente as mesmas falhas. Como a empresa pesquisada é nova, enquadra-se no segundo caso, foi desenvolvido internamente um sistema para gerenciar e formar histórico de todos os equipamentos das áreas: mecânica, elétrica e de instrumentação. Para as áreas da elétrica e mecânica, as manutenções estão sendo programadas da seguinte forma: - manutenção preventiva; - manutenção preditiva; - lubrificação. 98 Embora a instrumentação siga a lógica de programação como nas outras áreas – verificação e calibração – existem algumas diferenças devido às calibrações e verificações de seus instrumentos. O software é chamado de Gman (Gerenciador de Manutenção) e gera todas as informações em formato de relatórios semanais e mensais para todas as áreas. No banco de dados é possível verificar todas as intervenções nos equipamentos, os quais são separados por área, equipamento, local, TAG, marca e setor. Na figura 1, apresentada abaixo, pode-se verificar a estrutura do sistema, no qual é possível navegar em todos os setores do departamento, coletar e/ou alterar as informações e os dados dos equipamentos em geral. Também é nesta tela principal que tanto o gestor como os usuários utilizam essa ferramenta para implementar a gestão do departamento de manutenção da unidade fabril. Fonte: Empresa Mineradora Figura 1 – Tela principal do Gman Segundo Kardec (2002), verificando-se os tipos de falhas, defeitos ou indisponibilização de equipamentos para o processo, também é possível obter um histórico de cada equipamento, contendo as principais informações de manutenções realizadas ou, peças sobressalentes de cada equipamento. Essas informações sobre os equipamentos são armazenadas no banco de dados do sistema. Basicamente, a empresa trabalha com as manutenções preventivas e preditivas em todos os equipamentos do processo. Seguem, abaixo, as instruções de trabalho e os tipos manutenções nos setores da mecânica, elétrica e instrumentação. A manutenção civil é terceirizada na empresa. 99 8.3 Gerenciamento de Manutenção em Software Devido ao fato de a empresa ser uma multinacional e utilizar tecnologia importada, há uma certa dificuldade na implantação do sistema fazendo com que a equipe de manutenção apresente um cuidado redobrado, evitando nacionalizar alguns equipamentos de forma errônea. Acrescente-se a isso o fato de os equipamentos serem novos e não disporem de histórico regular. Dessa forma, é de suma importância o acompanhamento, para que os equipamentos tenham vida prolongada e o setor transmita segurança e confiabilidade para o departamento de produção. Este estudo abordará como exemplo apenas o departamento de manutenção mecânica, contudo, o sistema é utilizado em todas as demais áreas da manutenção. Serão estabelecidas as Instruções de Trabalho referentes aos procedimentos operacionais da manutenção mecânica da unidade de Ponta Grossa. 8.3.1 Definições e Siglas - Gman – Gerenciador de manutenção. - Manutenção Corretiva - é executada quando ocorre quebra ou defeito do equipamento. - Manutenção Preventiva - é estipulado um prazo para execução da manutenção em cada equipamento, em função do seu histórico e local de trabalho. - Manutenção Preditiva - é um tipo de manutenção, que avalia as condições do equipamento, auxiliando a preventiva e otimizando o custo final. - OS – Ordem de serviço. - Crusher – área de britagem. - Dry Sistem – moinhos de rolos. - SMD – tanque de produto base. - PX1 e PX2 – moinhos de esferas, moenda úmida. - Other System – compressor de ar, bomba de água e químicos em geral. - Loadout – área de carregamento do produto final. 8.3.2 Responsabilidade e Autoridade Mecânico – manter os equipamentos em condições normais de funcionamento para os usuários, realizar as manutenções nos equipamentos conforme solicitado pelo usuário, via OS, ou conforme programação de manutenção. Técnico mecânico – dar suporte técnico à manutenção mecânica, realizar desenhos técnicos, realizar o planejamento técnico e a programação das manutenções dos equipamentos junto à produção. 100 8.3.3 Descrição das Atividades 8.3.3.1 Manutenção Preventiva No início de cada mês, será impressa uma listagem dos equipamentos cujas revisões vencerão naquele período. No período de vencimento da data de revisão preventiva, serão analisados o histórico das intervenções e o relatório de análise de vibrações, para se avaliar a evolução ou não do estado dos rolamentos. Após este procedimento o equipamento terá a sua intervenção, caso haja necessidade. No caso da revisão não ser necessária, o planejamento reprograma a data da manutenção preventiva e, acompanha o equipamento através da manutenção preditiva, até que os rolamentos não ofereçam mais condições de uso. Caso haja necessidade da revisão, deve-se agendar com a supervisão da área uma data conveniente para tal procedimento. Na revisão do equipamento deve-se: desligar o motor, solicitar a retirada do fusível do motor através da ficha de controle, desacoplar e levar o equipamento para revisão na oficina; no caso de bombas centrífugas, deve-se fazer o encaminhamento para uma empresa terceirizada. Na revisão serão avaliadas as condições de seus rolamentos, condições de balanceamento do rotor, empenamento do eixo, chavetas, acoplamentos, gaxetas. Após a revisão, instalar o equipamento, acoplar, executar o seu alinhamento quando necessário, solicitar a colocação do fusível, liberando a ficha de controle. Fazer testes no equipamento e medições das condições de funcionamento após instalação (ruído, vibração, corrente do motor). Aprovado, o equipamento será liberado para o funcionamento. Os equipamentos reserva permanecem sem prazo para próxima revisão e só serão verificados novamente no ato de sua utilização, mediante ao sistema de manutenção. 8.3.3.2 Manutenção Preditiva Mensalmente, uma empresa terceirizada realiza análise de vibrações nos equipamentos que afetam a produção ou a qualidade do processo. Após essa análise, a empresa encaminha um relatório com as condições de cada equipamento monitorado durante o mês, apresentando os diagnósticos e recomendações necessárias, bem como as alterações encontradas em comparação às medições anteriores. Na análise de vibração realizam-se medições de velocidade, aceleração e envelope de aceleração, coletada através de acelerômetro junto aos mancais dos equipamentos. Os dados coletados serão armazenados em banco de dados na empresa responsável pela medição e estarão à disposição da empresa. Para a avaliação dos resultados das análises, dividem-se os valores coletados em três classes, de acordo com os níveis de vibração encontrados: - Normal: níveis normais de vibração. 101 - Alarme 1: valores alcançando níveis de alerta, sem necessidade de intervenção imediata, porém, requerem atenção, pois já existe um defeito. - Alarme 2: valores elevados de vibração necessitando de atenção especial e intervenção o mais rápido possível para evitar a quebra do equipamento. No relatório de análise de vibração, existem gráficos de tendência para os equipamentos em Alarme 2. Analisando os gráficos, definem-se os equipamentos de maior prioridade de manutenção e programa-se junto à supervisão da área a parada do equipamento para a manutenção. Para facilitar o acompanhamento gerencial, o número de equipamentos é apresentado em gráficos, por tipo de alarme: Normal, Alarme 1, Alarme 2; por ocorrência dos defeitos e, os diagnósticos e recomendações para correção dos equipamentos em situação de alarme estão agrupados em planilhas. 8.3.3.3 Atendimento aos Usuários Sempre que algum setor da fábrica, podendo ser a própria manutenção, necessitar um serviço de qualquer espécie (manutenção corretiva, preventiva ou preditiva), deverá solicitá-lo mediante uma Ordem de Serviço - OS, previamente preenchida no Gman. A área executante fará a programação da data, conforme a prioridade, a mão-de-obra disponível e a disponibilidade de parada da máquina ou equipamento. Após a execução dos serviços, o(s) funcionário(s) executante(s) preenche(m) a data ou as datas (no caso de durar mais de um dia) em que foram realizados os serviços, com horário inicial, horário final e matrícula do(s) mesmo(s). Este, deverá descrever o serviço realizado para manter-se o histórico do equipamento. Após a conclusão do serviço, o funcionário executante, ou apenas um dos executantes faz o lançamento das horas e o fechamento da OS no Gman, com a data da conclusão do serviço. 8.3.3.4 Registros - Histórico do equipamento - Plano de manutenção preventiva - Ordem de serviço concluída - Ordem de serviço – OS (pendentes) - Relatório de análise de vibração Através desta estrutura, o software vai sendo alimentado pelo banco de dados a fim de que o sistema tenha informação suficiente para o gestor e sua equipe desenvolverem todas as atividades dentro da normalidade e programação da organização. Após quatro anos de operação, a unidade fabril apresenta um sistema de controle muito satisfatório, evitando quebras ou falhas dos equipamentos. Contudo, este software está sendo aplicado de forma simples e caseira, visto que o banco de dados “Access 2003” é armazenado num servidor da empresa e o mesmo, gera relatórios e outras informações ao gestor da manutenção. O 102 gestor, por sua vez, detém a informação, repassa e, juntamente com sua equipe atinge as metas, pela otimização de paradas programadas. No gráfico abaixo, manutenção preditiva. pode-se visualizar o acompanhamento da Manutenções da unidade fabril - 2009 Corretiva 1,8% Melhorias; 13% Lubrificação 4% Preventiva; 26% Preditiva; 55% Fonte: Empresa Mineradora Figura 2 – Tipos de manutenções 8.4 Conclusão Este sistema levou em torno de 1,5 ano para ser utilizado integralmente. Hoje há um controle de homem/hora, as manutenções são separadas por Preventiva, Preditiva, Corretiva, Melhorias e Lubrificação, estatística de equipamento parado, eficiência de máquina, tendências e planos de execução. Os investimentos foram apenas as horas de desenvolvimento do engenheiro de automação e do supervisor/engenheiro de manutenção para a implementação do sistema; porém a compra de máquinas e treinamento para os funcionários foi essencial. O retorno foi rápido com o controle de custos da manutenção nos últimos meses, resultando em 35% de economia para a organização da empresa (segundo declarações do próprio presidente), comparando-se o período anterior e posterior à implantação do sistema. Outro ponto importante refere-se ao fato de a empresa apresentar um sistema integrado, devido ao fato de possuir outra unidade em São Paulo e estar em processo de implementação de mais uma em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Dessa forma, as empresas podem trocar experiências, verificar peças sobressalentes em almoxarifados locais, entre outras informações relevantes das áreas. 103 Segundo Eaton (1984) com o uso das tecnologias atuais todos os sistemas podem estar interligados, agilizando contratos, informações, relatórios em vários locais no mundo inteiro, recurso este, que no século passado era muito distante da realidade, fazendo com que as empresas trabalhassem basicamente com recursos manuais e artesanais. Todas as informações eram passadas por sistema de mensageiros convencionais e, quando era para informar uma unidade em outro país, estas informações levavam muito tempo, semanas ou até meses para chegarem ao seu destino. Diferentemente de hoje, em que, com um simples e-mail, as informações são transferidas de um local para o outro em minutos; no caso das multinacionais as filiais se comunicam com sua matriz facilmente, como a citada neste artigo. Essa empresa está localizada em Ponta Grossa e suas informações produtivas são destinadas para a matriz localizada na Suíça, ou para outras em qualquer parte do mundo fazendo o uso eficaz da tecnologia, ou seja, da informática. Dessa forma, percebe-se que através de um recurso simples e barato a organização obteve segurança, retorno financeiro e eficiência para a tomada de decisões no departamento da manutenção. 8.5 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISO 14001: sistemas de gestão ambiental. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. CAMPOS, C. A. O. Uma proposta para a integração de sistemas de gestão. 2006. 139 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Pernambuco, Recife. EATON, J.; SMITHERS, J. Tecnologia da informação: um guia para empresas, gerentes e administradores. Rio de Janeiro: Campus, 1984. KARDEC, A.; ARCURI, R.; CABRAL, N. Gestão estratégica e avaliação de desempenho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. KARDEC, A.; FLORES, J.; SEIXAS. Gestão estratégica e indicadores de desempenho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. KARDEC, A.; LAFRAIA, J. R. Gestão estratégica e confiabilidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. RODRIGUES, P. R. Administrando a informática. São Paulo: Pioneira, 1989. SOUSA Jr., J; SOUZA, F. C. de. Manias e modas gerenciais. In: SOUZA, F. C. de (Org.) Tópicos em Engenharia de Sistemas, vol. 1. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2004. 104 9. ANÁLISE DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS MADEIREIROS NO ESTADO DO PARANÁ Priscilla Falco Klingelfus Pölzl Luis Mauricio Resende João Luiz Kovaleski Willian Borelli Pölzl Romano Timofeiczyk Junior 9.1 Introdução Uma observação rápida do volume produzido e da quantidade exportada de madeira serrada e de madeira compensada pelo estado do Paraná para países como Estados Unidos e Comunidade Européia demonstra uma tendência de aumento na proporção de madeira exportada para os próximos anos. Este fato é observado pela análise das exportações do período de 1997 a 2007 encontrados em SECEX (2008), onde se observou um aumento significativo de mais de 400% na exportação da madeira serrada e 760% na exportação de compensado em todo o estado. Este constante crescimento das exportações traz reflexos importantes na estrutura das empresas, nas suas estratégias competitivas, na arrecadação de impostos estaduais, suprimento de insumos para o mercado interno e, principalmente, possíveis vulnerabilidades das empresas com relação a variáveis exógenas (sem controle do empresariado local), tais como preços internacionais e políticas cambiais, criando um distanciamento entre as empresas e os consumidores finais (ABIMCI, 2004). A característica paranaense de mercado exportador pode ser melhor entendida utilizando-se a econometria. Essa técnica busca pelo uso de equações matemáticas, explicar através de poucas variáveis, problemas práticos ligados a economia. Neste estudo buscou-se estabelecer as relações entre as situações a serem explicadas (produção de madeira serrada e de madeira compensada) com as variáveis que melhor as explicam, como preço no mercado interno e externo, câmbio, crescimento de setores econômicos inter-relacionados, entre outras. Essas relações são descritas através de equações matemáticas. Para que a econometria seja uma ferramenta útil é necessário que as equações tenham um bom poder de previsão, necessitando de séries históricas confiáveis, contínuas e as mais extensas possíveis. Uma vez as equações tendo um bom poder de previsão, tornam-se ferramentas importantes para definição de estratégias empresariais e governamentais, pois permitem prever a participação das exportações no destino da produção paranaense ou até mesmo prever momentos de crescimento ou queda no desempenho deste setor da economia. 9.2 Objetivos O objetivo principal foi identificar as principais variáveis envolvidas na produção de madeira serrada e compensada no estado do Paraná. 105 Os objetivos específicos foram: Modelar equações econométricas que expliquem as variações na produção madeireira do estado; Estabelecer a intensidade que cada uma das variáveis explicativas dos modelos tem sobre a comercialização. 9.3 Materiais e métodos 9.3.1 Material As séries históricas são os principais materiais deste estudo; elas foram obtidas junto a institutos, órgãos, associações, empresas, na forma de informações secundárias, tais como: – Federais: IBGE, MMA, MDIC, MRE, MTE, SECEX, CEPEA DATA, BC; – Estaduais: IPARDES, SEAB, SEFA, SEMA, IAP; – Associações: ABIMCI, ABIPA, BRACELPA, ABIMÓVEL, SINDUSCON; – Internacionais: FAO, ITTO, FMI, Governo de outros países. – Após a obtenção das informações, estudaram-se as seguintes questões: – Análise da evolução do crescimento do setor florestal paranaense e brasileiro; – Influência da economia internacional na produção e consumos de produtos de base florestal paranaense. 9.3.2 Metodologia Depois de obtidas as séries históricas, elas foram homogeneizadas. As variáveis monetárias foram transformadas em moeda nacional, também foram deflacionadas e eventuais sazonalidades foram corrigidas. Posteriormente, elas foram comparadas entre si, através da matriz de correlação, a qual avalia quais variáveis possuem características mais similares “correlacionadas”. Diversas equações foram geradas e avaliadas, todas utilizando regressão linear multivariável e o método dos mínimos quadrados simples, conforme GUJARATI (2000). Conhecendo as variáveis com maiores correlações, utilizou-se o procedimento estatístico denominado “stepwise”, o qual otimiza o encontro das melhores combinações de variáveis independentes para cada variável dependente. Utilizando os critérios de primeira ordem: coeficiente de correlação, testes de significância e o erro padrão da estimativa. As variáveis dependentes foram: produção paranaense de madeira serrada para o mercado brasileiro; produção paranaense de madeira serrada para a exportação e produção paranaense de madeira compensada. Com as equações ajustadas, definiram-se as condicionantes implícitas a cada modelo, como heterocedasticidade, autocorrelação e multicolinearidade (critérios de primeira ordem). Foram também explorados conceitos de pesquisa em economia florestal, microeconomia e macroeconomia aplicada a produtos florestais, política cambial e comércio exterior (critérios de segunda ordem). Por fim, testou-se o poder 106 de previsão do modelo estimado, confrontando os desvios entre o previsto e o ocorrido ao longo da série histórica e com a confirmação de novos valores previstos ao longo do tempo (critério de terceira ordem). 9.3.2.1 Tratamento dos dados As variáveis monetárias em dólares americanos foram deflacionadas, utilizando a série histórica da inflação norte americana (IPEA, 2008), tendo como mês base junho de 2008. Os valores em dólares, já deflacionados, foram convertidos em reais utilizando a série histórica de taxa de câmbio encontrada no site do banco central (BCB, 2008). Os valores monetários em reais foram deflacionados utilizando o Índice Geral de Preços do Mercado – IGPM (IPEA, 2008), tendo como mês base Junho 2008. Dados como preços de produtos tem suas séries históricas quinzenais; câmbio real, comportamento das exportações, variáveis macroeconômicas em geral tem suas séries históricas mensais; produção dos diversos produtos analisados, índices de crescimento tem séries históricas anuais. Desta forma foram calculadas médias anuais para que todas as variáveis permanecessem na mesma base temporal, definindo-se 11 valores (1997 a 2007) em cada série histórica utilizada. 9.3.2.2 Matriz de correlação A matriz de correlação foi composta por variáveis macroeconômicas, indicadores de crescimento setoriais e por variáveis específicas de cada situação (preços, produção, quantidades exportadas). Inicialmente foram descartadas as variáveis macroeconômicas por terem efeito muito geral sobre cada tipo de produto, sendo desta forma muito difícil avaliar suas correlações diretas. Foi dada maior atenção às tentativas de ajuste de modelos que apresentassem variáveis envolvidas na equação da demanda (preço do produto, preço de produtos substitutos e complementares, renda do consumidor, gostos e preferências do consumidor). Variáveis utilizadas Câmbio Real SELIC IGPM – Inflação brasileira Inflação ao consumidor nos EUA Juros curto prazo nos EUA Crescimento população Brasil Desempenho geral Variáveis utilizadas Produto interno bruto per capita no Brasil Variáveis utilizadas Exportação paranaense de madeira serrada Preço real Internacional em reais da madeira compensada de pinus Produção paranaense de madeira serrada de pinus Preço real no Brasil em reais da madeira serrada de pinus Preço real Internacional em reais da madeira serrada de pinus Preço real no Brasil em reais da madeira serrada de espécies tropicais Preço real no Brasil em reais da Importado paranaense de madeira serrada Exportação paranaense de madeira Compensado de pinus Taxa de crescimento do setor de Celulose e papel no Brasil Taxa de crescimento do setor de 107 indústria Brasil Desempenho geral indústria Paraná Produto interno bruto no Brasil Produto interno bruto nos EUA madeira compensada de espécies tropicais Preço real no Brasil em reais da madeira aglomerada Preço real no Brasil em reais da madeira compensada de pinus madeira e mobiliário no Brasil Taxa de crescimento do setor de construção civil no Brasil Taxa de crescimento do setor de construção civil no Paraná Taxa de crescimento real produção Produção Mundial de Compensado de produtos florestais nos EUA Produção Paranaense de Taxa de crescimento real da Compensado construção civil nos EUA Quadro 1 - variáveis testadas na matriz de correlação 9.3.2.3 Séries históricas As variáveis escolhidas para compor os modelos econométricos foram: preço madeira compensada de pinus no mercado internacional (ITTO, 2008); preço madeira serrada de pinus no mercado nacional (ITTO, 2008); preço internacional da madeira serrada de pinus (ITTO, 2008); produção madeira compensada no Paraná (BERGER et al., 2008); produção de madeira serrada no estado do Paraná (BERGER et. al., 2008); volume de madeira serrada de pinus exportado pelo Paraná (SECEX, 2008); crescimento real da produção no setor da construção civil no Brasil (IBGE, 2008); crescimento real da produção, construção civil no EUA; crescimento real da produção de produtos madeireiros nos EUA; câmbio real (IPEADATA, 2008). ANO PREÇO MADEIRA COMPENSADA INTENACIONAL 3 (US$/ m ) 1.997 1.998 1.999 2.000 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 PREÇO NACIONAL MADEIRA SERRADA DE PINUS PREÇO INTENACIONAL DA MADEIRA SERRADA DE PINUS 3 (R$/ m ) PRODUÇÃO MADEIRA COMPENSADA NO PARANÁ 3 (US$/ m ) PRODUÇÃO DE MADEIRA SERRADA NO ESTADO DO PARANÁ 3 (m / ano) 3 (m / ano) 179,81 91,61 112,72 1.315.000 3.208.511 182,03 89,82 114,53 1.900.000 3.957.447 181,92 112,06 116,53 1.891.557 4.053.191 153,38 127,94 118,12 1.898.938 4.917.021 135,09 155,08 87,39 1.883.114 4.368.085 136,30 189,92 105,73 1.780.000 4.148.936 152,78 273,67 103,79 1.810.200 3.948.936 209,67 330,74 110,78 2.142.200 4.344.681 215,05 378,69 121,62 2.010.000 3.914.894 242,49 414,15 107,54 1.903.600 4.085.106 254,54 430,20 131,54 1.890.300 3.868.085 Tabela 1 – séries históricas utilizadas nos ajustes das equações econométricas Continuação das variáveis das séries históricas da tabela 1 ANO CRESCIMENTO VOLUME DE REAL DA MADEIRA PRODUÇÃO, SERRADA CONSTRUÇÃO EXPORTADO PELO PARANÁ CIVIL NO BRASIL 3 1.997 1.998 1.999 2.000 2.001 2.002 (m / ano) 535.106 722.383 1.155.206 1.170.130 1.168.596 1.551.866 CRESCIMENTO REAL DA PRODUÇÃO, CONSTRUÇÃO CIVIL NOS EUA (%) 3,10 3,30 0,10 0,80 4,40 1,30 (%) 4,28 4,28 4,39 4,44 4,64 4,61 108 CRESCIMENTO REAL DA PRODUÇÃO DE PRODUTOS MADEIREIROS NOS EUA (%) 0,34 0,34 0,35 0,32 0,31 0,29 CÂMBIO REAL 70,93 72,26 106,06 100,00 118,67 125,41 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 1.921.719 1,90 4,53 0,29 124,98 1.887.820 0,60 4,62 0,33 123,75 1.990.818 4,90 4,91 0,31 105,37 1.614.030 4,80 4,70 0,31 96,62 1.372.373 5,10 4,35 0,30 92,64 Tabela 1 – séries históricas utilizadas nos ajustes das equações econométricas 9.4 Resultados Os quadros 2 a 7 apresentam as características das equações econométricas 2, 3 e 4, as quais obtiveram os melhores ajustes para previsão da produção paranaense de madeira serrada para o mercado brasileiro e para o mercado internacional, bem como para a previsão da produção paranaense de madeira compensada. a) Madeira Serrada – mercado internacional O modelo com melhor ajuste para previsão da produção paranaense de madeira serrada de Pinus para o mercado internacional corresponde à equação 1. Equação 1: modelo matemático para estimativa da produção paranaense de madeira serrada para o mercado internacional. POLZL et al. (2009) Onde: Y = Produção paranaense de madeira serrada para o mercado internacional; B0; B1; B2; B3; B4 = Coeficientes da equação; V1 = Preço Internacional da madeira serrada de Pinus; V2 = Câmbio real; V3 = Crescimento real da construção civil nos Estados Unidos; V4 = Crescimento real da produção de produtos florestais nos Estados Unidos. A tabela 2 e 3 apresentam os valores dos coeficientes e dos índices comparativos para a equação 1. Ajustes R² 0,88 B0 B1 B2 B3 coeficientes -4.861.606 21.073 14.209 943.823 “p” 0,09 0,02 0,03 0,04 Tolerância 0,741 F 11,02 0,486 P 0,006 0,646 Erro padrão da 214.000 B4 -5.782.474 0,19 0,696 estimativa Durbin-Watson 1,80 Tabela 2 – Estimativa da participação da produção paranaense de madeira serrada de Pinus para o mercado internacional 109 Variável 1 Variável 2 Variável 3 Variável 4 Variável 1 1,000000 -0,448826 -0,440313 0,182100 Variável 2 -0,448826 1,000000 0,554998 -0,546043 Variável 3 -0,440313 0,554998 1,000000 -0,280169 Variável 4 0,182100 -0,546043 -0,280169 1,000000 Tabela 3 - Matriz de correlação para as variáveis utilizadas no modelo de produção paranaense de madeira serrada para o mercado internacional b) Madeira serrada – mercado interno O modelo com melhor ajuste para previsão da produção paranaense de madeira serrada de Pinus para o mercado brasileiro corresponde à equação 2. Equação 2: modelo matemático para estimativa da produção paranaense de madeira serrada para o mercado brasileiro. POLZL et al. (2009) Onde: Y = Produção paranaense de madeira serrada para o mercado brasileiro; B1; B2; B3 = Coeficientes da equação; V1 = Preço Nacional da madeira serrada de Pinus; V2 = Crescimento real da construção civil no Brasil; V3 = Crescimento real da construção civil nos EUA. As tabela 4 e 5 apresentam os valores dos coeficientes e dos índices comparativos para a equação 2. R 2 Ajustes 0,66 B0 B1 B2 B3 Coeficientes 3.836.115 1.189 -227.559 102.386 “p” Tolerância 0,16 0,34 0,07 0,85 0,562 F 1,16 0,594 P 0,41 0,794 Erro padrão da 402.000 estimativa Durbin-Watson 2,77 Tabela 4 – Estimativa da participação da produção paranaense de madeira serrada de pinus para o mercado brasileiro Variável 1 Variável 2 Variável 3 Variável 1 1,000000 -0,150817 0,554766 Variável 2 -0,150817 1,000000 0,272676 Variável 3 0,554766 0,272676 1,000000 Tabela 5 - Matriz de correlação para as variáveis utilizadas no modelo de produção paranaense de madeira serrada para o mercado brasileira c) Madeira compensada 110 O modelo com melhor ajuste para previsão da produção paranaense de madeira compensada de Pinus, corresponde a equação 3. Equação 3: modelo matemático para estimativa da produção paranaense de madeira compensada. POLZL et al. (2009) Onde: Y = Produção paranaense de madeira compensada; B1; B2; B3; B4 = Coeficientes da equação; V1 = Preço internacional da madeira compensada de Pinus; V2 = Câmbio real; V3 = Crescimento real da construção civil no Brasil; V4 = Crescimento real da construção civil nos Estados Unidos. As tabelas 6 e 7 apresentam os valores dos coeficientes e dos índices comparativos para a equação 3. Ajustes R² Coeficientes B0 90.054,30 B1 3.557,70 B2 4.100,90 B3 -57.635,70 B4 180.076,90 0,52 “p” 0,94 0,14 0,39 0,45 0,57 Tolerância 0,47 F 1,58 0,44 P 0,29 0,34 Erro padrão da estimativa 183.600 0,64 Durbin-Watson 2,65 Tabela 6 – Estimativa dos coeficientes da equação para estimar a produção parananese de madeira compensada de Pinus Variável 1 Variável 2 Variável 3 Variável 4 Variável 1 1,000000 -0,345446 0,718705 -0,141472 Variável 2 -0,345446 1,000000 -0,565609 0,554998 Variável 3 0,718705 -0,565609 1,000000 -0,150817 Variável 4 -0,141472 0,554998 -0,150817 1,000000 Tabela 7 - Matriz de correlação para as variáveis utilizadas no modelo de produção paranaense de madeira compensada A figura 1 mostra características das três equações econométricas escolhidas. Por estes gráficos podem ser verificados os valores observados, os valores ajustados, a linha de ajuste obtida pela equação e a diferença entre os pontos ajustados e a linha ajustada (resíduos). 111 (a) (b) (c) Figura 1 – Representação dos valores reais (observados), previstos pelos modelos e os desvios gerados pelos ajustes, para produção paranaense de: (a) madeira serrada (mercado externo); (b) madeira serrada (mercado interno) e (c) madeira compensada 9.5 Discussão Com base nos valores encontrados na literatura (BERGER et al., 2008), (SECEX, 2008), (ABINCI, 2005), é possível observar uma estagnação nas indústrias de madeira serrada e madeira compensada, as quais mantiveram durante os últimos 11 anos suas produções efetivas de forma estável nos patamares médios de 4.070.000 m3/ ano e 1.850.000 m3/ ano, respectivamente. Mais de sessenta por cento da madeira de Pinus serrada e compensada produzida no Paraná é destinada à exportação, conforme observado em Berger et al., (2007) e SECEX, (2008). Desta forma era de se esperar nas três equações aqui desenvolvidas uma grande correlação com as variáveis intrínsecas à economia internacional, tais como o preço internacional dos produtos florestais e crescimento da construção civil nos Estados Unidos, nosso maior importador de produtos florestais (SECEX, 2008). Uma avaliação dos coeficientes ajustados na equação 1 para oferta de madeira serrada internacional (equação 1, tabela 3) mostra um peso maior da variável Crescimento Real da Construção Civil nos Estados Unidos, seguido de Preço Internacional da Madeira Serrada de Pinus, Crescimento Real da Produção de Produtos Florestais nos Estados Unidos e com menor impacto no ajuste aparece a variável Câmbio Real. Na equação de oferta de madeira serrada nacional (equação 2) e (tabela 5) a variável Crescimento Real da Construção Civil nos EUA possui o maior peso no 112 ajuste, seguido pelo Preço Nacional da Madeira Serrada de Pinus e com menor peso aparece o Crescimento Real da Construção Civil no Brasil Conforme tabela 7, a equação de oferta de madeira compensada (equação 3) possui como variável independente de maior peso, o Preço Internacional da Madeira Compensada de Pinus, seguido pelo Crescimento Real da Construção Civil nos Estados Unidos, Câmbio Real e com menor influência o Crescimento Real da Construção Civil no Brasil A maior importância das variáveis relacionadas com o crescimento da demanda, conforme descrito nos parágrafos anteriores coincide com a teoria econômica de que a demanda influencia a quantidade de produtos a serem ofertados (MANKIW, 2006). A menor importância do câmbio real em relação aos preços dos produtos é uma importante constatação, a qual, se confirmada em ajustes econométricos futuros, poderá definir o uso de uma estratégia empresarial baseada mais diretamente em variáveis do mercado florestal que em variáveis macroeconômicas internacionais. 9.6 Conclusões A oferta de produtos florestais paranaense está bastante atrelada à exportação, sendo as variáveis internacionais, como preço nos mercados consumidores e crescimento de setores consumidores as variáveis mais importantes dentre as estudadas. As equações apresentadas possuem limitações muito claras quanto a qualidade de seus ajustes, revelando coeficientes de correlação baixos, significância baixa e em determinados momentos pequenos problemas com multicolinearidade, autocorrelação e homocedasticidade. Apesar destes pontos negativos, as equações são úteis pois são economicamente baseadas em variáveis bastante relevantes aos conhecimentos teóricos e práticos em uso pela economia florestal. Desta forma, os problemas de ordem estatísticas poderão ser suprimidos com o aumento de anos nas séries históricas ou com o uso de equações não lineares, possibilitando vislumbrar um futuro promissor ao uso de equações para prever oferta de produtos florestais. 9.7 Referências ALMEIDA, A. N. O mercado de madeira em tora para processamento mecânico no Paraná. 2006. 156 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA MADEIRA PROCESSADA MECANICAMENTE – ABIMCI. Estudo Setorial de 2004. Indústria de madeira processada mecanicamente. Disponível em: <http://www.abimci.com.br/port/ 03Dados/0308EstSet2005/0306Quadro html.> Acesso em: 01 Jun. 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA MADEIRA PROCESSADA MECANICAMENTE – ABIMCI. Setor de processamento mecânico da madeira no 113 Estado do Paraná. 2005. Disponível em: <http://www.abimci.com.br/port/06Docs/ 06QuadroDocs.html> Acesso em: 15 jun. 2008. BANCO CENTRAL DO BRASIL – BCB. Séries históricas da economia brasileira. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 02 Fev. 2008. BERGER, R. B.; SANTOS, A. J. DOS; TIMOFEICZYK, R.; POLZL, W. B.; BITTENCOURT, A. M.; EISFELD, C.; SOUZA, V. S. DE. Oferta e demanda de madeira no estado do Paraná. SETI/ UFPR/ CEFA. Curitiba: 2008. 192 p. FERGUSON C. E. Microeconomia. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994. GUJARATI, D. N. – Econometria Básica. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2000. 846 p. INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – IEDI. Disponível em: <http://www.iedi.org.br/egi/egilua.exe/sys/start.htm?sid=20>. Acesso em: 01 Jun. 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Industrial Anual – PIA, Rio de Janeiro: IBGE/ MDIC/ SECEX, 2006. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Indicadores do desempenho da economia Brasileira, Rio de Janeiro: IBGE/ MDIC/ SECEX, 2008. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. IPEADATA. São Paulo: 2008. Disponível em: < http://www.ipeadata.gov.> Acesso em: 01 Jul. 2008. INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – IPARDES. Análise Conjuntural, v.29, n.01-02, p.38, jan./fev. 2007. INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION – ITTO. Tropical Timber Market Report. Yokohama: 2008. Disponível em: < http://www.itto.or.jp.> Acesso em: 01 Jul. 2008. KOUTSOYIANNIS, A. Theory of Econometrics. 2. ed. New Jersey: Barnes&Noble Books, 1978. LEVINE, D. M. et al. Estatística: teoria e aplicações. Rio de Janeiro: LTC editora. 2000. MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Thomson Learning Edições, 2006. MENDES, J. T. G. Economia Agrícola. 2. ed. Curitiba: ZNT, 1998. 458 p. 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TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA APLICADA AO GERENCIAMENTO DE RISCO LOGÍSTICO Claudia Tania Picinin João Luiz Kovaleski Dálcio Roberto dos Reis 10.1 Introdução A transferência de tecnologia pode ocorrer de diversas maneiras: diretamente pelas pessoas, pela literatura, pela participação em congressos e trocando informações, pela compra direta de bens e serviços e por meio do licenciamento, coprodução, consórcios tecnológicos ou investimento direto (ROMAN e PUETT JUNIOR, 1983). O desenvolvimento de um planejamento estratégico para uma área isolada da empresa depende de informações no negócio da empresa no âmbito geral. Com esta busca e revisão de informações, criam-se novas formas de manuseio, de utilização e de interpretação dos dados. Neste momento a transferência da tecnologia é fator determinante de sucesso para que estas informações continuem sendo melhoradas e gerando resultados da forma correta. Todas os métodos disponíveis para o gerenciador podem ser fornecidos através da transferência de tecnologia, sendo que esta pode ocorrer de diversas formas. Diante destes argumentos, o problema de estudo delimita-se em explicar as formas de transferência de tecnologia acerca do gerenciamento de risco logístico. No instante da elaboração de um planejamento estratégico para o setor logístico ou para qualquer outro segmento de serviço, a especificação de cada elemento constituinte do projeto é essencial. No caso do planejamento estratégico focado ao gerenciamento de risco logístico, a transferência de tecnologia adquirida, desenvolvida ou cedida na descrição do projeto é parte fundamental para o bom andamento do projeto. Seguindo o contexto de que o gerenciamento de risco é utilizado para administrar riscos reais e potencias para o negócio da empresa, bens materiais e vidas envolvidas, o gerenciador dos riscos deve estar informado de todos os processos decorrentes do planejamento estratégico do gerenciamento. Em resumo, o estudo do processo de transferência da tecnologia do planejamento estratégico para o gerenciamento de risco logístico justifica-se por ser indispensável a completa informação do gerenciador de risco, ou seja, as informações condizentes a planejamento, requisitos operacionais e táticos devem obrigatoriamente ser de conhecimento deste profissional. O principal objetivo deste artigo é explicar as formas de transferência de tecnologia no gerenciamento de risco logístico. 10.2 Gerenciamento de risco O gerenciamento do risco é realizado com a finalidade de prever ou calcular os riscos envolvidos no transporte. A tática a ser utilizada para o gerenciamento 116 deve ser eficaz, oferecendo uma resposta aos riscos de segurança que tenham sido avaliados ou que tenham desencadeado incidentes. Isso significa que uma organização que se preocupe em responder à ocorrência de incidentes de segurança de maneira calma e racional, ao mesmo tempo em que determina as razões do incidente, será capaz de se proteger melhor contra problemas similares no futuro e de responder mais rapidamente a outros incidentes que possam ocorrer (MICROSOFT, 2004). O processo completo de gerenciamento envolve várias etapas: proteção às vidas envolvidas, conter riscos potenciais, avaliar danos causados por riscos, determinar a causa do risco que gerou o dano, reparar o prejuízo causado e analisar o processo como um ciclo contínuo. A descrição de cada etapa pode ser resumida da seguinte forma, ilustrada no diagrama: Figura 1 – Etapas do gerenciamento de risco Fonte: Microsoft, 2004. Com frequência, as diversas pessoas envolvidas com o processo de gerenciamento de riscos definem o termo risco de maneiras diferentes. A fim de assegurar a consistência em todas as etapas do ciclo de gerenciamento de riscos, o processo de gerenciamento de riscos de segurança requer que todos nele envolvidos compreendam e concordem sobre uma única definição do termo risco (MICROSOFT, 2004). O risco pode ser entendido como a probabilidade de acontecimento de um fato que cause impacto nos negócios. Essa definição engloba a inclusão de declaração de impacto e a previsão de quando ele pode ocorrer ou, em outras palavras, a probabilidade do impacto a ser causado. Por meio de ambos os elementos do risco (probabilidade e impacto), poderá haver a declaração de risco bem estruturada, ocorrendo quando ambos os elementos tiverem sido incluídos em uma declaração de risco (MICROSOFT 2004). O processo de gerenciamento de riscos compreende no total quatro fases principais: avaliar os riscos, oferecer suporte às decisões, implementar controles e analisar a eficácia do gerenciamento. O processo de gerenciamento de riscos deve 117 assegurar à empresa formas confiáveis de trajetos ou apontamentos para se calcularem os riscos a serem corrigidos, com o objetivo de reduzi-los. Seus benefícios oferecem um ambiente de controle capaz de conduzir e nivelar o risco até um nível aceitável. A fase de avaliação de riscos representa um processo formal de identificação e priorização de riscos dentro da organização (MICROSOFT, 2004). Segundo Microsoft (2004), o processo de gerenciamento de riscos oferece um direcionamento detalhado sobre a realização de avaliações de risco e divide o processo da fase de avaliação de riscos em três etapas: Etapa Descrição Planejamento Construindo a base para uma avaliação de riscos bem sucedida. Coleta de dados Coletando as informações de risco. Priorização de riscos Classificação de riscos identificados. Quadro 1 – Fases de avaliação dos riscos Fonte: Adaptado de Microsoft, 2004. O resultado da fase de avaliação de riscos é uma lista priorizada de riscos que fornece os dados iniciais para a fase de suporte às decisões. 10.3 Transferência de tecnologia 10.3.1 Gestão da tecnologia Quando se utiliza a tecnologia como instrumento de apoio para o alcance dos objetivos organizacionais, faz-se necessário o uso da gestão da tecnologia que, segundo Vasconcelos (2002), seria o uso de técnicas de administração com a finalidade de maximizar o potencial desta tecnologia. De acordo com Santos (2008), na Gestão Tecnológica, se identificam necessidades e oportunidades de transferência, a partir das quais se inicia o planejamento, desenvolvimento e implantação de soluções no processo tecnológico. Este fator, importante para a competitividade (produtividade), é a capacidade de demarcar os desenvolvimentos tecnológicos, a inovação e o progresso técnico, dentro de uma estratégia do setor empresarial. 10.3.2 Conceituação Segundo Lima (2004), transferência de tecnologia é a aquisição, desenvolvimento e utilização de conhecimento tecnológico por um outro ambiente que não seja onde foi gerado. Seria o processo de introduzir um conhecimento tecnológico já existente, onde ainda não foi concebido, ou seja, executado. Luz (1997), considera transferência de tecnologia também o Conhecimento tácito, experimental, pessoal e o desenvolvimento de habilidades técnicas, criativas e perícia; conhecimento formal decodificado, através de idéias técnicas, documentos, informações e dados; conhecimento prático, que é o conhecimento pelo fazer. O termo "transferência de tecnologia" também pode referir-se ao processo de importação de tecnologia. O proprietário da tecnologia é protegido por um monopólio legal, através do sistema de patentes. 118 Cysne (1995, p. 8), aborda a transferência de tecnologia com uma ótica diferenciada, sendo “a aquisição, entendimento, absorção e aplicação de uma tecnologia ou de um processo tecnológico”. De forma simples e resumida, transferência de tecnologia na definição de Urdaneta (1992, p. 115), “refere-se à exportação, por parte do detentor da tecnologia, e à importação, por parte de seu receptor de um desenvolvimento tecnológico específico”. A transferência de tecnologia pode representar uma alternativa para as organizações que não possuem recursos tecnológicos atualizados ou ainda não reúnem condições para o desenvolvimento próprio de tecnologia. Este recurso é também empregado quando existe a necessidade de se implementarem novos produtos ou processos, sem ter que assumir riscos e dispêndio de tempo, decorrentes de desenvolvimento. (PINTO, 2006). 10.3.3 Formas de acesso à tecnologia Ribeiro (2001, p. 17), afirma que são duas as formas de transferência da tecnologia. A primeira - compra e absorção de tecnologia – maneira mais comum e rápida de se obter uma tecnologia, através da compra direta no país ou no exterior, de seu detentor, seja ela empresa ou outra instituição. Ressalte-se, porém, que não é necessariamente o modo mais simples, pois que envolve todo um processo de avaliação, negociação e contratação, no qual são definidas a viabilidade, adequabilidade, condições de transferência, preços, prazos e bases para a absorção pela organização adquirente. Segundo Lin, Tan e Cheng (2002, p. 1), “mesmo empresas com grande capacidade tecnológica e financeira não são capazes de gerir atividades produtivas de P&D rapidamente. Assim, a capacidade de explorar conhecimentos externos é um componente crítico da inovação de sucesso”. Para Ribeiro (2001), a tecnologia pode ser adquirida de empresas industriais, de engenharia, de desenvolvimento tecnológico e de centros de pesquisa. Os contratos de transferência de tecnologia podem assumir as seguintes formas: Formas de contratos Objetivo do contrato Exploração de patentes Licenciamento de patente já concedida ou em processo de concessão. Uso de marcas Contrata-se o licenciamento para uso de marca registrada ou em processo de registro. Fortalecimento de tecnologia Aquisição de conhecimentos e técnicas, não amparados por direito de propriedade industrial. Franquia Concessão temporária de direitos de uso de marcas, usualmente combinados com serviços de assistência técnica ou de qualquer outra modalidade de transferência de tecnologia. Quadro 2 – Contratos de transferência de tecnologia Fonte: Ribeiro, 2001 119 A outra forma de transferência de tecnologia é a prestação de serviços técnicos e de assistência técnica e científica. Para Pinto (2006), normalmente tais serviços são objeto de contratação específica entre as partes, com detalhada definição de direitos e deveres de cada uma. Usualmente a remuneração pelos serviços ocorre durante a sua prestação, em etapas e valores pecuniários previamente acertados. Via de regra, este instrumento contratual é objeto de correspondente registro ou averbação junto ao órgão federal competente (INPI), como condição para permissão de envio da sua remuneração a entidades localizadas fora do país, ou quando tratarem efetiva e exclusivamente de transferência de tecnologia. A escolha de formas de acesso à tecnologia considera o grau de apropriação, entendida como a capacidade de assimilação ou absorção e o nível de exclusividade que se desejam. O autor considera doze formas de acesso à tecnologia: compra, exportação explícita de tecnologia, vigilância de tecnologia, cópia, empresa subcontratada, pesquisa cooperativa, formação de pessoal próprio, licenciamento, pesquisa encomendada (por contrato), contratação de especialistas, associações e alianças estratégicas e pesquisa e desenvolvimento (REIS, 2004). 10.3.4 Etapas da transferência de tecnologia Para Deitos (2002, p.56, 57), a transferência de tecnologia segue uma seqüência lógica de etapas para a sua execução, sendo elas a seleção da tecnologia; seleção dos fornecedores de tecnologia; negociação da tecnologia; execução da transferência da tecnologia; assimilação da tecnologia e adaptação e melhorias da tecnologia. Dentro de cada etapa existem riscos a serem considerados. É necessária prévia análise da empresa quanto a requisitos como potencial tecnológico da organização para a seleção da tecnologia, negociação cuidadosa etc. Segundo Pinto (2006), a prospecção tecnológica exerce papel importante em mecanismos de planejamento e na inserção de estratégias tecnológicas no planejamento estratégico da organização. O autor ressalta que, caso a escolha da tecnologia a ser utilizada seja induzida por critérios tais como atualidade da tecnologia, otimização de processos produtivos, lucratividade e outros, pode tanto validar a escolha da tecnologia como limitar seus efeitos, dependendo da capacitação técnica da própria empresa ou, em outras palavras, a sua capacidade de absorção ou assimilação e difusão da tecnologia escolhida. Vasconcelos (1992) apresenta algumas fontes de tecnologias, defendendo a necessidade de uma mescla entre elas. São: – equipe de pesquisa da própria empresa; – empresas estrangeiras; – institutos de pesquisa no exterior ou nacionais; – universidades estrangeiras e nacionais; – fornecedores nacionais; – clientes nacionais; – empresas de engenharia nacionais; – joint-ventures; 120 – empresas similares líderes; – empresas concorrentes. Para que as chances de sucesso na transferência de tecnologia sejam positivas, Proença (1996) sugere que a mesma seja tratada como um processo ativo e adaptado, com a participação do governo, administradores e trabalhadores, e que o país importador da tecnologia busque a conscientização de sua identidade geográfica, econômica e cultural procurando inserir o sistema nesta realidade. 10.4 Procedimentos metodológicos Através do método indutivo buscam-se hipóteses para a solução do problema exposto neste estudo. Segundo o raciocínio indutivo, a generalização surge a partir de observações da realidade efetiva. O conhecimento do particular origina a generalização. No caso do estudo proposto é explicar as formas de transferência de tecnologia no gerenciamento de risco logístico. O nível de pesquisa foi o exploratório, com o objetivo de esclarecer e desenvolver conceitos e idéias relacionados à transferência de tecnologia possível de ser utilizada no planejamento estratégico do gerenciamento de risco logístico. De acordo com Gil (1999, p. 43), a pesquisa exploratória “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 1999, p. 43), ou seja, busca uma visão generalizada a respeito de determinado fato. A pesquisa utilizada foi o estudo de caso, realizado em empresa prestadora de serviços logísticos, com a finalidade de estudar de maneira específica o processo logístico da empresa, observando as suas peculiaridades. O estudo de caso analisa os processos detalhadamente, buscando uma contextualização. Conforme Ferri, Leal e Hostins (2004, p. 33-34), estudo de caso “é o estudo aprofundado, em geral exaustivo de uma situação específica, de um grupo, de uma organização, de um evento determinado”. Utilizou-se abordagem qualitativa para análise dos dados coletados através do método de observação. Segundo Roesch (1996), a pesquisa qualitativa é destinada para a avaliação formativa, quando se trata de melhorar a efetividade de um programa ou plano, ou seja, quando se trata de selecionar as metas de um programa e construir uma intervenção. 10.5 Resultados A empresa avaliada exerce sua atividade no ramo transportador há duas décadas e meia, em específico no transporte nacional e internacional, com tecnologia embarcada em todos os veículos. Das formas de tecnologias disponíveis no mercado destinadas a atender o setor de transportes ou prestação de serviços logísticos, a empresa utiliza-se de: – rastreamento satelital: o sistema é utilizado para garantir a segurança de seus colaboradores e produtos transportados, além de possibilitar aos clientes informações exatas e simultâneas ao momento de sua ocorrência aos clientes. Esta 121 é uma importante ferramenta utilizada como auxilio ao gerenciamento de risco logístico, que, agregada aos sistemas da empresa, possibilita acompanhar a carga em tempo real; – micro-computador de bordo: uma das principais funções é o controle de velocidade, pois através da exigência de rotação na velocidade ideal efetiva dá maior segurança ao condutor e aos bens materiais envolvidos, além de gerar menor quantidade de manutenção; – telefonia móvel: meio básico para a comunicação, porém muito necessário. Através dessa ferramenta, o processo de comunicação entre cliente, motorista e transportador fica otimizado, agilizando a entrega da mercadoria; – Buonny: a empresa utiliza-se da seguradora de riscos Buonny, na qual todos os motoristas possuem cadastro. A empresa é especializada no ramo de transporte de cargas completas (full truck load – FTL) com temperatura controlada, especialmente gêneros alimentícios. O transporte é realizado “porta-a-porta”, em rotas de curta, média e longas distâncias. Os principais produtos transportados são frutas, carnes, pescados, legumes, queijos, embutidos, sorvetes e chocolates. Alguns serviços são prestados de forma agregada, como armazenagem e transporte de cargas de importação via zona portuária; desembaraço aduaneiro e transportes de cargas secas, como matéria-prima para indústrias e mercadorias para atacados. O processo de gerenciamento de risco é muito importante para o correto andamento dos processos e da segurança. O planejamento estratégico do gerenciamento de risco logístico deve ser incutido no planejamento da empresa, essencial para prevenir situações indesejadas. O processo de gerenciamento de riscos pode englobar transferência de tecnologia, que, no caso da empresa estudada, pode ocorrer por diversas formas, como mostra a tabela 03: Tipo de Transferência de tecnologia Conceituação De um setor para outro dentro da mesma organização Para Valeriano (1998) apud Lima (2004), no sentido de inovação tecnológica, a transferência de tecnologia pode ser entendida como o processo pelo qual um conjunto de informações, conhecimentos, técnicas, máquinas e ferramentas são transmitidos de um ambiente para outro, com a finalidade de ser usado na produção ou na prestação de serviços. De empresa detentora de tecnologias para terceiros Azevedo (2005), define transferência de tecnologia como a movimentação de conhecimento e tecnologia de um indivíduo ou organização para outros, através de algum canal formal. De universidade para empresa ou de universitário para empresa (abrangendo projetos de conclusão de curso, dissertações e teses). Segundo Flores (2005), a transferência de conhecimento tecnológico é uma via de dois sentidos; consistindo na troca de experiências que beneficiam ambas as partes. Quando um conhecimento tecnológico é transferido para uma empresa, as duas ou mais partes envolvidas têm que participar desse processo de comunicação caracterizado por diversas trocas indispensáveis para o efetivo entendimento mútuo do significado e produção da tecnologia. Quadro 3 – Formas de transferência de tecnologia destinadas ao gerenciamento de risco logístico 122 O aumento crescente da quantidade de roubos e assaltos a caminhões e cargas, da apólice de seguro, do alto valor agregado da carga e ao alto risco de transporte têm demandado um gerenciamento mais apurado na movimentação dos veículos. Não só no sentido de evitar prejuízos, mas também de atingir maior qualidade nos serviços prestados em um mercado muito competitivo (BORDIN, 2008, p. 05). Para um planejamento adequado e com maiores perspectivas, a empresa deve dispor de tecnologias e procedimentos mínimos e bastante desenvolvidos. O item básico para a sustentação do sistema de gerenciamento de risco é a ferramenta de rastreamento que garante a localização de cada veículo e maiores condições para o gerenciador de risco tomar decisões. O mapeamento das rotas frequentadas pelas empresas também auxiliam no desenvolvimento do planejamento estratégico, pois delimitam trajetos a serem percorridos. Por razões de segurança, caso um dos veículos desviar do trajeto estipulado, podem ser determinadas ações a serem realizadas de acordo com a gravidade do desvio, o valor da carga ou a periculosidade do percurso. Nada impede que a rota seja flexível, passível de alterações, reduções ou ampliações no decorrer do percurso, porém com prévias combinações entre gerenciador de risco e condutor do veículo. Na sua maioria, os sistemas para cadastro e controle de rotas possuem um funcionamento simples, segundo o qual o mapa é pressionado com mouse na trajetória escolhida, ou seja, a cidade de partida e destino. Através desses mesmos sistemas é possível obter informações de posicionamento, aumentando assim as medidas de segurança. (BELÓRIO, 2005). Apesar de a segurança não ser o principal foco ou benefício proporcionado, a qualidade e quantidade de informações disponibilizadas oferecem um efetivo gerenciamento e melhores tomadas de decisões. Por isso mesmo o gerenciamento de risco não pode ser analisado como apenas um custo, mas um investimento realizado pela empresa. Através do cadastro das rotas realizadas por empresas da área de transporte rodoviário de carga, em sistemas próprios para a tarefa, torna-se possível que, no início da viagem, seja inserida uma rota fixa para determinado veículo, o que ocorre através dos processos de monitoramento, com ferramentas especializadas com a finalidade de gerenciar o rico da situação de viagem. No início do percurso, a central de monitoramento insere uma rota que o veículo deve percorrer; caso o condutor do veículo não siga o trajeto demarcado, ou seja, desrespeite a rota desviando o local definido, o responsável por realizar o monitoramento dos veículos pode determinar algumas providencias a serem seguidas, de acordo com o risco potencial da região ou situação. Caso haja obrigatoriedade no cumprimento da rota, pode ser detectada uma situação de furto de veículo/carga, assaltos ou sinistros de diversos gêneros (BELÓRIO, 2005). A empresa que dispõe de equipamentos de rastreamento instalado em sua frota está habilitada em oferecer a seus clientes ampla cobertura securitária, amparando acidentes rodoviários, avarias e faltas de mercadorias, até incêndios, furtos, assim como o gerenciamento e administração de informações e de frota. A movimentação é acompanhada via sistema de rastreamento, obtendo informação de cada veículo durante todo o percurso (MOURA, 2004). 123 O mapeamento das rotas em conjunto com sistemas de rastreamento e gerenciamento de risco possibilita maior controle dos ciclos operacionais, como apresentado na figura 2. Figura 2 – Controle dos ciclos operacionais de transporte e distribuição. Fonte: Soares e Miniuchi. A figura retrata todos os trajetos possíveis no transporte rodoviário de carga terceirizado. O ponto de partida (1) é marcado pela saída para o carregamento. O segundo ponto (2) corresponde à chegada ao embarcador, quando posteriormente o veículo é carregado e parte para viagem (3). A próxima parada (4) é onde ocorre a descarga e nova carga. Neste momento, assim como em qualquer outro ponto, o veículo pode retornar à empresa a que pertence, ou seja, a empresa transportadora, porém é mais comum que ocorra na posição de nº. 4. Não ocorrendo o retorno para a empresa, o veículo parte novamente (5), realiza parada para abastecimento (quando necessário – 6) e segue até a chegada de destino, realiza a descarga (7) e segue vazio para a empresa (8), onde realiza manutenção preventiva, ajustes, abastecimento (geralmente em bombas próprias da empresa), encerrando o ciclo e iniciando um novo. De acordo com Soares e Miniuchi, a sequência de tarefas para o gerenciamento do risco ocorre da seguinte forma: – embarcador: cria uma solicitação de viagem, informa a gerenciadora de risco e transportadora, informa origem e destino, informa locais de coleta e entrega, digita documentos vinculados as cargas; – transportador: consulta solicitação, informa motorista, informa veículo e carreta; – gerenciadora de risco: consulta solicitação verificada, verifica dados e motorista, veículo e itinerário, configura viagem e plano de viagens, verifica informações da carga e confronta com dados da apólice de seguro, inicia monitoramento. 124 Além do rastreador e de ferramentas para o mapeamento de rotas, o computador de bordo corresponde a um valioso aliado, pois ele complementa as ações ou funções do rastreador. Com o auxilio destes equipamentos importantes o planejamento pode ser desenvolvido com maior segurança, em que cada detalhe ou ação devem ser cuidadosamente planejados. Posteriormente ao desenvolvimento do planejamento estratégico do gerenciamento de risco, realiza-se uma transferência da tecnologia obtida, para que a empresa venha a ter total controle da situação (universidade-empresa). Em outras circunstâncias, a transferência de tecnologia pode ocorrer em outras fases do processo e de formas distintas, como mostra a figura 3. Figura 3 – Transferência de tecnologia no planejamento estratégico do gerenciamento de risco logístico Como ressaltado anteriormente, a transferência de tecnologia no processo de planejamento estratégico para o gerenciamento de risco logístico pode ocorrer de três formas: a primeira, em que a empresa detentora da tecnologia sede por meio de permissão formal que outra empresa se utilize desta tecnologia – uma espécie de aluguel da tecnologia desenvolvida; a segunda forma ocorre quando a tecnologia é transferida de um setor para outro dentro da mesma organização. Certas circunstâncias exigem uma tecnologia de que a empresa já dispõe, porém não é utilizada para tal finalidade; e a terceira e última forma de transferência de tecnologia corresponde à forma universidade-empresa, de acordo com a qual o acadêmico desenvolve o projeto com uma determinada forma de funcionamento e, posteriormente, transfere o seu conhecimento, junto com a tecnologia para a empresa, garantindo que o processo ocorra como o planejado. 10.6 Considerações finais O gerenciamento de risco não pode ser analisado como um custo, mas sim como um investimento realizado pela empresa. Atenta-se para o fato de que a segurança não é o principal foco ou benefício proporcionado, mas a qualidade e quantidade de informações disponibilizadas para que possa ser gerenciada a frota e tomadas as melhores decisões. Uma empresa bem equipada para o processo de gerenciamento de riscos está munida com ferramentas necessárias para comunicação, identificação, análise, 125 localização entre outras. A probabilidade e o grau de perda estão ligados a cada risco, e as ferramentas auxiliam na prevenção, análise de soluções e danos, permitindo uma visão ampla do processo de gerenciamento de risco. Além do rastreador e de ferramentas para o mapeamento de rotas, o computador de bordo corresponde a um valioso aliado, pois ele complementa as ações ou funções do rastreador. Com o auxílio desses equipamentos importantes, o planejamento do gerenciamento de risco logístico, enfatizando a transferência de tecnologia, pode ser desenvolvido com maior segurança. A empresa avaliada atua há duas décadas e meia no ramo transpostador, tanto nacional como internacional, com tecnologia embarcada em todos os veículos. Quando se utiliza a tecnologia como instrumento de apoio para o alcance dos objetivos organizacionais, faz-se necessário o uso da gestão da tecnologia. A transferência de tecnologia pode ocorrer de várias formas e pode ser interpretada de diversas maneiras, sendo um processo de introduzir um conhecimento tecnológico já existente, onde ainda não foi executado, ou o conhecimento tácito, experimental, pessoal e o desenvolvimento de habilidades técnicas, criativas e perícia; conhecimento formal decodificado, através de idéias técnicas, documentos, informações e dados; conhecimento prático, que é o conhecimento pelo fazer. A empresa estudada apresenta três possibilidades para a transferência de tecnologia, ou seja, ela pode ser introduzida na organização de várias formas. A primeira através da aquisição ou “aluguel” de tecnologias já desenvolvidas, a segunda através da disponibilização tecnológica de um setor para outro dentro da mesma empresa e a terceira forma através da transferência tecnológica entre universidade-empresa, cumprindo assim com o objetivo proposto. 10.7 Referências AZEVEDO, G.C.I., Transferência de Tecnologia através de Spin-Offs: os desafios enfrentados pela UFSCar. 2005, 147f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. BELÓRIO, C. L. Descrição de um sistema de rastreamento veicular utilizando GPS. 2005, 51f. Monografia (Bacharel em Sistemas de Informação) – Graduação em Sistemas de Informação, Uniminas - União Educacional Minas Gerais, Uberlândia, 2005. Disponível em: <http://si.uniminas.br/TFC/monografias/Monografiacristiano.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008. BORDIN, E. Q. 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