DIÁRIO DE TRABALHO: RELATOS DE UM INSPETOR DISTRITAL
DE ENSINO SOROCABANO EM 1925
Profª Dra Maria Lucia de Amorim Soares
Universidade de Sorocaba – Uniso
[email protected]
Leandro Nunes da Silva
Universidade de Sorocaba – Uniso
[email protected]
Agência Financiadora: CAPES.
Este trabalho busca desvelar aspectos historiográficos da educação escolar
sorocabana tomando como base os registros efetuados por um Inspetor Distrital
de Ensino, no período de Julho/1925 – Maio/1926, em seu diário de trabalho.
Como um importante instrumento de exposição dos fatos de uma determinada
época, os registros são capazes de demonstrar a inquietação, o desejo e as
articulações de uma sociedade. Sabemos que são fontes, de acordo com a
concepção de Le Goff (1994), cheias de intencionalidade e que seus autores ao
elaborá-los, tinham, consciente ou inconscientemente, objetivos a serem
alcançados através deles (p.547). Assim, os relatórios de um Inspetor Distrital de
Ensino surgem como documentos que podem trazer a tona informações
preciosas, pois os mesmos não se caracterizam como os documentos oficiais,
aqueles que nos revelam apenas regulamentações institucionais e convenções de
um determinado período.
Enxergar a história de uma época, início do século XX, como a retrata
Nagle (2003), cheia de “entusiasmo pela educação” e com “otimismo pedagógico”
através do registro diário de trabalho de um Inspetor Distrital é poder ver como o
Estado e a sociedade promoviam discussões em torno da organização de um
modelo de escolarização pública. Essas discussões, segundo Nagle (2003) iam do
investimento na multiplicação das instituições escolares e da educação escolar às
formulações doutrinárias sobre a escolarização (p.263). O Inspetor Distrital de
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ensino, como sujeito mediador entre essas discussões e suas realizações era o
indivíduo que enxergava as dificuldades não só da implantação dos grupos
escolares por parte do Estado mas, também, as aspirações da sociedade que se
entusiasmava com a educação ao mesmo tempo em que vivia uma realidade onde
o poder econômico e a necessidade da mão de obra nas industrias, ou na
agricultura familiar, dificultavam o estabelecimento da relação entre o indivíduo e a
escola.
O universo que serviu de base para a pesquisa que originou este trabalho,
foi constituído pelos livros de freqüência e comunicados do “Grupo Escolar
Antonio Padilha”, das “Escolas mistas rurais e isoladas da Vila Barcelona” e “Vila
de Votorantim”, todas em Sorocaba/SP; e, principalmente, o Registro Diário de
Trabalho do Inspetor Distrital de Ensino do 41º distrito, sediado também em
Sorocaba/SP. Todo o material pesquisado pertence ao acervo histórico da “Escola
Estadual Antonio Padilha”.
O Registro Diário de Trabalho narra o dia a dia de trabalho do Inspetor
Distrital de Ensino, por ele mesmo redigido. O livro encontra-se com todas as
páginas rubricadas e seu termo de encerramento assinado por José Paes, com o
restante de seu nome indecifrável, fato que impossibilitou o acesso a maiores
informações sobre esse funcionário público. Muitas foram as buscas realizadas a
fim de encontrar alguma informação que nos remetesse à trajetória desse
inspetor, que assumiu suas funções em 01/07/1925 no 41º Distrito de Ensino já
referido; porém, as escolas que estavam sob sua responsabilidade na época e
que poderiam fornecer mais detalhes, além da “Escola Estadual Antonio Padilha”,
não concederam acesso a seus arquivos.
Responsável pela organização e bom andamento de doze escolas em
Sorocaba e região, localizadas em Sorocaba, Tatuí, Vila de Votorantim, Piedade,
Porto Feliz, Campo Largo, Boituva, Pilar do Sul, Jupirá, Aluísio Moraes, Bacaetava
e Salto de Pirapora, o Inspetor Distrital de Ensino era um personagem que se
articulava com os poderes executivo, legislativo e privado. A fim de alcançar os
objetivos relacionados à educação, muitas vezes intervia no ambiente familiar do
aluno, ou desobedecia às determinações do Inspetor Geral da Instrução, visando
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promover a expansão educacional de acordo com as necessidades locais por ele
percebidas.
A transcrição de alguns trechos retirados dos livros acima mencionados
torna possível narrar, por exemplo, em ordem cronológica de acontecimentos, a
história da implantação da atual Escola Estadual Francisco Eufrásio Monteiro,
antiga Escola mista rural da Vila Barcelona, bairro sorocabano; das maternais de
Votorantim, como também, algumas situações relevantes a qual este profissional
foi exposto, trazendo, desta forma, a subjetividade contida nos relatos do mesmo.
A leitura dos documentos foi realizada na perspectiva de discurso datado e
circunscrito, daí sua transcrição aparecer neste texto como efetuada no Diário de
Trabalho do Inspetor Distrital.
A escola mista da Vila Barcelona e a espera de seu mobiliário
Os registros de freqüência da Escola mixta rural de Vila Barcelona informa
que, em 1925, a escola contava com 21 alunos do sexo masculino e 19 do sexo
feminino, matriculados em abril daquele ano; já em setembro estes números eram
de 15 alunos do sexo masculino e 20 do sexo feminino. Nessa escola os alunos
estudavam sentados em tocos ou caixões de madeira, apoiando seu material nas
mãos. Essa escola contou com mobiliário somente em dezembro de 1925 graças
as manobras efetuadas pelo Inspetor Distrital de ensino, conforme se lê a seguir:
12/07/1925. Visitei a escola mixta de vila Barcelona para conhecer
sua organização e pessoal. Condiccções de ensino más. Os alunnos
estudam sentados em tijolos e caixões. Dona Maria Amália ensina
com muita dificuldade devido a falta de recursos. Excelente
professora causou-me optima impressão.
25/11/1925. Examinei a escola mixta de Villa Barcelona no mesmo
dia, por uma director, foi examinada a escola noturna de Santa
Rosália./ As escolas de Bacaetava e Ipanema, em campo largo,
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foram neste dia examinada por dois auxiliares de director de
Sorocaba.
04/12/1925. De 8 as 15 horas estive na estação de Sorocaba. Na
providenciando para retirada de material escolar, tendo pago 30$200
de armazenagem e 45$000 de carreto. Este material veio consignado
para as escolas de Itavuvú e Caputera, mas como já possuíam
mobiliário, distribui-a carteiras pelas escolas de Piragibú e Villla
Barcelona, que funcionou a mais de 6 meses sem uma só carteira.
As carteiras restantes recolhi-as ao grupo “Porto Seguro”.
31/03/1926. Retirou-se o auxiliar de exerccicios physicos./ Visitei a
escola da villa Barcelona, que já tem algum mobiliário. Este
mobiliário, como o de Piragibú, não foi remetido a esta escola. Veio
para outra que já tinha mobília e eu enviei para o da villa Barcelona.
Não fosse tal providência os allunos continuariam sentados em
caixão. A professora Dona Maria Amália, optima. As 15 horas
telephonei ao Sr Inspector Geral sobre a reforma do prédio de
Tatuhy, sabendo de sua passagem por esta cidade amanhã.
A criação do grupo escolar e das maternais na Vila Votorantim
O Grupo Escolar e Maternal da Vila Votorantim, atual Escola Estadual
“Comendador Pereira Ignácio”, foi inaugurada em 03 de fevereiro de 1925 sendo o
quarto grupo criado na cidade de Sorocaba. Sérias dificuldades existiram para seu
funcionamento, dificuldades que iam desde as instalações precárias aos atrasos
na linha particular de trem, pertencente a fábrica Votorantim, que ligava o centro
da cidade ao bairro da escola. Esse grupo escolar foi a preocupação do Inspetor
Distrital desde o primeiro dia de seu trabalho:
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01/07/1925. Inicio de exercício. Estive no grupo escolar “Senador
Vergueiro”, para conhecer seu pessoal e organização, e de posse ao
novo director professor José Odin de Arruda./ Expediente. Papéis:
Recebidos, 1. Recebi o director do grupo de Votorantim, que me
pediu providências sobre o atraso de trens que conduzem os
professores aquella villa.
09/07/1925. Telephonei ao Sr. Director Geral, pedindo para ir a São
Paulo conferenciar com o Sr. Ex., Sendo Attendido. Visitei o grupo
escolar de Votorantim para conhecer sua organização e pessoal. /
Conversei, no Votorantim, com o Sr. Nascimento Filho, Gerente da
Fábrica, sobre conduccção aos professores./ Paguei 1$400 de
passagem, ida e volta, por que a via férrea Votorantim particular não
aceita requisições de passes. Expediente./ Attendi a directora da
maternal e a Professora Dona Esther Galvão, que deseja ser
removida para um dos grupos da cidade.
11/07/1925. Viajei para São Paulo, devidamente autorizado, para
conferenciar com o Director Geral sobre os seguintes assuntos:
Creação de 2 classes no “Porto Seguro” e de 2 em “Santa Rosalia”,
creação das maternaes de Votorantim, nomeação dos professores
Francisco Felix de Oliveira e Dona Torca Balddini, sobre situação do
professor Quintino soares, sobre vários assuntos da ultima reforma,
etc. Regressei a Sorocaba.
15/07/1925. Procurado por Dona Joanna Grassi, inspectora das
escolas maternaes, com ela visitei as maternaes de Santa rosalia e
vistoriei os prédios destinados as maternaes de Votorantim, onde
determinamos modificações necessárias, tendo se comprometido o
Sr. Nascimento Filho, a entregar o Prédio adaptado dentro de uns 20
dias. Viagem de auto 16Kms. Ida e volta a Santa Rosalia (4) e
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Votorantim (12), por 50$000, de 11,30 as 16,30, a razão de 10$000 a
hora.
26/07/1925. Domingo. Fui procurado pelo Sr. Oswaldo Senger, cuja
Sra a professora Dona Amália Santos, pretende collocar-se em
Sorocaba, pelo telephone attendi o Sr. Nascimento Filho, gerente da
fábrica Votorantim, que solicitou minha ida até lá para ver o outro
prédio que a fábrica pretende offerecer para installações de escolas
maternaes, visto não ser possível fazer as modificações indicadas no
prédio vistoriado em 15 de julho. / Expediente. Papéis recebidos,2,
expedidos 1.
28/07/1925. Terça feira. Por solicitação da respectiva directora, fui as
maternaes de Santa rosalia, onde tratamos de vários assumptos de
ordem interna e administrativa./ Viajei de auto, 4Kms ida e volta, por
10$000, das 11 as 14 horas./Viajei para Votorantim, para verificar as
condições do novo prédio offerecido para as installações das escolas
maternaes, conforme registro do dia 26./Viajem em E.F., 12 Kms, ida
e volta por 1$400, das 14,40 as 17,30. (nota: a discriminação dos
serviços dos dias 27 e 28 está invertida.) Expediente: Papéis
recebidos,7, expedidos,6,.
11/10/1925. Estive em Votorantim, para ver o serviço de installação
de privadas do prédio da maternal.
20/03/1926. Devido a um a reclamação do Sr Pereira Ignácio,
proprietário da fábrica Votorantim, e por determinnação da Directoria
Geral, estive nos grupos “Porto Seguro”e “ Antonio Padilha”,
organnizando uma rellação de allunos do terceiro e quarto annos que
se acham matticulados naquelles estabelecimentos e residem em
Votorantim...
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Em nome da boa ordem: As visitas do Inspetor Geral
Todos os fatos relacionados à educação no início do século XX estavam
sob os cuidados do Inspetor Distrital que, por sua vez, informava-os ao Inspetor
Geral, sediado em São Paulo. Este buscava assegurar que as instruções
fornecidas pelo Estado fossem executadas, para tanto as repassando ao Inspetor
Distrital. Por sua vez, o Inspetor Distrital registrava todas as suas atividades no
Livro Diário de Atividades, livro semestralmente “visado” pelo Inspetor Geral
quando de sua visita à Sorocaba como se vê na imagem abaixo:
16/10/1925. Das 11,30 as 17 horas esteve em Sorocaba o Sr
Inspector Geral de Zonna que se informou minuciosamente de todo o
serviço do districto, de suas necessidades, deu várias instrucções de
serviço e “visou” o presente livro. A tarde escripturei novos
documentos de contas, conforme determinação daquella autoridade,
e remetti-os a São Paulo. Expediente. Papéis: Recebidos, 1.
Fonte: Acervo histórico da EE Antonio Padilha
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A burocracia do Estado e a falta de pessoal
Questões de ordem burocrática atrapalhavam, em muito, os trabalhos do
Inspetor Distrital que tinha como principal objetivo assegurar o bom andamento e
organização das escolas. As atividades relacionadas ao recenseamento, à saúde,
à freqüência e à moral dos seus alunos e professores, faziam do Inspetor Distrital
de Ensino, um elemento extremamente necessário para o funcionamento do 41º
Distrito de Ensino. Muitas vezes, diante do acúmulo de atividades e da falta de
pessoal, este funcionário público encontrava-se só e solitário no meio de suas
responsabilidades conforme declarações a seguir:
03/08/1925. Recebi os Boletins das escolas isoladas, fiz a necessária
correção. Parece impossível que os professores errem tanto esses
boletins!...
04/08/1925. Executei os mappas de falta (03) vias e de movimernto
das escolas isoladas (03) vias...Devia haver um auxiliar de inspeção
na sede de inspectoria. Elle attenderia a todo o expediente do
districto, e reportaria aos interessados as informações que são
constantemente pedidas ao inspector, com
o sacrifício do tempo
destinado a inspecção. O serviço de inspecção é absolvente, pois o
inspector distrital do interior tem que cuidar de causas insignificantes
na apparencia mas que consomem muito tempo: é elle que vae
pessoalmente procurar sua correspondencia, faz todo o registro,
extrato e despacho della, encaminha-a com os devidos despachos e
informações, e vae ao correio fazer a remessa. Um adjuncto sem
classe desempenharia calmamente essas funções...
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Para a preparação a apuração do recenseamento escolar os relatos
revelam um cotidiano configurado em estafantes atividades:
01/12/1925. Recebi várias professoras de escolas isoladas que me
trouxeram os boletins de novembro e solicitaram explicações para a
execução de estatística annual. Estive na Camara Municipal, onde
pedi os dados para a estatística de ensino municipal.
05/04/1926. Organizei mappas de faltas e do movimento do
município de Sorocaba. Expedi attestados de exerccicio aos
auxiliares de inspecção./ Circular aos directores de grupos sobre
gypnnastica.
16/04/1926. Visitei o primeiro período do grupo escolar “Antonio
Padilha”, verificando as obras que estão sendo executadas no
prédio./ Procedi ao recenseamento do quarteirão 69./ Dei instrucções
aos directores e auxiliares dos grupos locaes afim de amanhã
completarmos o recenseamento de 33 quarteirões da cidade, cujo os
inspectores não o fizeram ou deixaram incompletos.
17/04/1926. Com os directores e auxiliares, recenseamos 33
quarteirões da cidade, encontrando um curso particular a Rua bom
Jesus, 18 regido por Dona Maria Correa Lara, que funcionava sem a
devida auttorização, entimei a mesma a regularizar-se. Do banco de
Sorocaba
retirei
457$,
remettidos
pelo
inspector
geral,
correspondente ao saldo de março (57$) e ao adeantamento de abril.
07/05/1926. Sexta-feira, apurando o recenseamento
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As articulações pró a educação com o objetivo de obter um maior
índice de freqüência
Como nos dias atuais, a evasão escolar era uma grande preocupação do
governo. Num período histórico onde ocorria a expansão das fábricas na região, a
educação era, para as famílias, que necessitavam da contribuição financeira de
seus filhos, algo colocado em segundo plano. Ainda: as fábricas utilizavam com
intensidade a mão de obra infantil, assim diminuíam os gastos com a folha de
pagamento e aumentando, conseqüentemente, seus lucros. Já na zona rural, a
produção era mantida com intensa mão de obra familiar, também dificultando o
acesso das crianças à escola. Com referência à essa questão, o Inspetor Distrital
de Ensino relatava:
02/07/1925. Quinta feira. Estive no grupo escolar “Antonio Padilha”
conhecendo seu pessoal e organização./Telephonei ao inspector de
Botucatu sobre o título do professor José Odim de Arruda. O Sr.
Benedicto Rosa communicou-me que o director das reunnidas de
Piedade estava procedendo a inúmeras eliminações de alunos
injustificadamente.
Visita
official
ao
Sr.
Prefeito
Municipal./
Expediente. Papéis: Recebidos,2.
03/07/1925. Sexta feira. Visitei o grupo escolar e as maternais de
Santa Rosalia, para conhecer seu pessoal e organização./Visita
official ao Sr. Inspetor Regional de Polícia, com quem troquei idéias
sobre o trabalho dos menores nas fábricas locaes. Telephonei ao
director das reunnidas de Piedade, determinando que sustasse as
eliminações a que me referi no registro de ontem até a minha visita
ao
estabelecimento.
Paguei
1$600
por
esse
telephonema.
Expediente. Papéis recebidos, 1. Viagem de auto 4kms ida e volta,
por 10$000.
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Da saúde à moral
O Inspetor Distrital de Ensino assumia, também, a verificação e o
acompanhamento de outras práticas executadas nas escolas, bem como
deslocava seu olhar para a vida particular dos agentes educativos. Com referência
a saúde fazia o acompanhamento da vacinação; com referência a educação
acompanhava os hábitos das professoras a fim de observar suas condutas e
assim obter informações sobre atos que pudessem depor quanto a moral:
28/09/1925. Em companhia do Sr. Inspector Sanitário visitei a escola
municipal do Bairro de Cajurú, regida pelo Sr Sylvio Pellico
Mascarenhas, onde foram vaccinnados e revaccinnados allunos e
creanças e adultos do Bairro./ Conducção: auto, 28 Kms, grátis, pago
pela
camara
municipal./
Expediente.
Papéis:
recebidos,
4;
expedidos,1.
06/05/1926. Quinta-Feira, Em companhia do médico chefe do posto
de higienne municipal, visitei os seguintes estabelecimentos: Escola
maternal e grupo escolar de Santa rosalia; grupos “Senador
Vergueiro”, “Antonio Padilha” e “Porto Seguro”, onde foram dados
instrucções para organização das fichas sanitárias escolares.
20/03/1926. Visitei a escola mixta rural do Rio Acima, regida desde 1
de fevereiro pela professora Dona Paulinna auxiliar na maternal de
Santa rosalia, e conta com sua nomeação para a maternal de
Votorantim./ Acerca desta professora vou menccionar um facto que,
por omissão, deixei de registrar em 21 de fevereiro: Nesse dia fui
chamado com insistência a casa do Sr Manuel Mestre. Uma vez lá,
este senhor, que é inspector de quarteirão, communicou-me que na
véspera uma mulher embreagada, andara até tarde rondando pela
rua em que reside, promettendo metter o chicote na professora Dona
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Flávia Manzonni, sub directora da escola maternal de Votorantim,
digo de Santa rosalia, sob o pretexto de que esta, que é solteira, lhe
estava conquistando o amante, que é casado. Esta professora reside
de fronte a casa do mestre, e em sua companhia mora a professora
Dona Maria Cepullo. O facto causara escandalo na vizinhança, a
quem a mulher amasiada havia apregoado suas intenções. Para
resumir: No mesmo dia cheguei a conclusão que aquella mulher
tinha intuitos, não de offender a Dona Flávia Manzonni, mas sim a
outra professora ambas della desconhecida. Por intermédio de
terceiros fiz sentir aquella mulher que, se repetisse as cenas da
véspera chamar-a-ia à polícia. Neste mesmo dia tive informacções
vagas de que essa professora Donna Paulina Cipullo, vinha de facto
entretendo um “flirt” com o amante da referida mulher, a qual é
casado e vive separado da esposa. Leviandade explicavel, para uma
moça que reside a pouco tempo em Sorocaba.
Outras atividades do Inspetor Distrital
Com muitos afazeres e com o intuito de executar da melhor forma possível
suas atividades, o Inspetor Distrital de Ensino em questão, exercia seu trabalho,
segundo seus próprios relatos, mesmo doente, e algumas vezes até se
equivocando com seu território de inspeção, alcançando distritos que não eram de
sua inspeção:
21/07/1925. Terça –feira. Em tathuy, visitei o primeiro período do
grupo escolar, e a escola isolada do sossego. A noite segui para
Itapetininga/ Viagem em E.F. 43 Kms ida, das 21,10 as 23,30.
22/07/1925. Quarta-feira. De Itapetininga, cidade não pertencente ao
41º districto, viajei para Guarehey, onde visitei a reunnidas, e obtive
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informações
para
encaminhar
vários
papéis
despachados
a
inspectoria./ Matrícula e freqüência, más. Ainda estava em uso o
pavilhão escolar./ Viagem de auto 60Kms de ida e volta, por 70$000,
das 10 as 15 horas.
23/07/1926. Quinta-feira. Em Itapetininga, onde não tinha serviço por
não pertencer ao districto conversei com o inspector do 42º discricto
que disse que Guarehey pertence a seu districto.
07/05/1926. Sexta-feira, Na polícia, dando desapparecimento de dois
allunos do grupo “Senador Vergueiro” que foram dispensados da
aula a pedido de uma irmã e não repassaram a casa. Visitei o curso
noturno do professor Jorge Betti, particular.
29/05/1926. Sábado, Adoentado, cuidei do expediente durante o dia.
A noite visitei a escola noturna rural de Santa Rosalia, regida pelo
professor José Prestes Barros. Professor sofrível. Freqüência má: 12
allunos de 40 matriculados.
Considerações finais
Souza (1998) contribui para as reflexões apresentadas, ao dizer que:
“As dificuldades de implantação de grupos Escolares no Estado de
São Paulo residiram, sobretudo, na falta de recursos financeiros
necessários
para
atender
‘a
demanda
crescente
por
educação,
remuneração de professores, construção de prédios escolares e para
equipar as escolas”(idem,p.98).
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Nesse sentido, os relatos do Inspetor Distrital de Ensino, aqui brevemente
apresentados revelam que os problemas enfrentados em 1925, período de
expansão das escolas no Brasil, ainda são atuais, é claro que em outra dimensão.
As articulações políticas, os desvelares das ações públicas e sociais, as boas
condições de ensino em escolas centrais e péssimas em escolas periféricas, são
alguns dos problemas que ainda assolam nossa sociedade.
No surgimento dos grupos escolares “Permaneceram os problemas das
escolas isoladas e surgiram tantos outros...” (idem, p.99). Hoje, um século depois,
os problemas provocados pela falta de recursos permanecem.
As atividades registradas no livro Diário de Atividades do Inspetor Distrital
revelaram como eram adotadas as políticas públicas para a expansão do ensino,
verticalização ainda corrente. Os juízos de valor, realizado pelo Inspetor sobre a
vida profissional ou particular de uma professora, hoje são realizados pelos
alunos. A escola, sob sua jurisdição hoje está subordinada, burocraticamente, a
uma equipe de fiscalização que culmina na figura do Diretor de Ensino. Os índices
de evasão escolar ainda se constituem numa preocupação do Estado. Professores
sofrem com baixos salários e mínimas condições de ensino, fato este que os
relatos transcritos evidenciaram também em 1925.
Voltando ao Diário de Atividades propriamente dito, é preciso esclarecer
ainda que o esforço foi o de tentar perceber os seus dizeres como narrativas e,
assim, observar suas condições de produção, suas intencionalidades, suas
possibilidades e limites de problematização. Se tomados de forma isolada quase
nada explicam. É a possibilidade de articula-los que justificam sua importância
para a história da educação. Foi o que se pretendeu fazer.
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Referências Bibliográficas
LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994.
NAGLE, J. A educação na primeira república. São Paulo: Editora da UNICAMP,
2003.
SOUZA, R. F. de. Templos de civilização: A implantação da escola primária
graduada no Estado de São Paulo. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.
Arquivos Escolares
Acervo: Escola Estadual “Antonio Padilha” – Sorocaba, São Paulo:
Livro de freqüência – Escola Mista Rural da Vila Barcelona, 1925.
Livro de correspondencia – Grupo Escolar Antonio Padilha, 1925.
Livro Diário de Atividades – Inspetor Distrital de Ensino, 1925.
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