1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO E MULTIMEIOS JULIA TERENO OTAVIANI BERNIS BANDA JOHNNYBOX: VIDEOCLIPE DA CANÇÃO “NOT SO FINE” SÃO PAULO 2012 2 JULIA TERENO OTAVIANI BERNIS BANDA JOHNNYBOX: VIDEOCLIPE DA CANÇÃO “NOT SO FINE” Memorial descritivo apresentado para o Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação de Comunicação de Multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientador: Profa. Dra. Elisabete Alfeld Rodrigues. SÃO PAULO 2012 3 JULIA TERENO OTAVIANI BERNIS BANDA JOHNNYBOX: VIDEOCLIPE DA CANÇÃO “NOT SO FINE” Memorial descritivo apresentado para o Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação de Comunicação de Multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientador: Profa. Dra. Elisabete Alfeld Rodrigues. BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Elisabete Alfeld Rodrigues Profa. Dra. Pollyana Ferrari Teixeira Profa. Dra. Verônica Dias 4 Agradecimentos Gostaria de agradecer Rafael Pontes, Caio Al-Behy, Tato Ferrari, Gustavo Goiaba e Fabio Couto, a banda Johnnybox, pela cooperação e empolgação nesse projeto, nada disso seria possível sem eles e a sua disposição durante todo o processo. À equipe, que também são meus amigos próximos, Vic Von Poser, Jessica Tauane, Filipe Salvador, Natalia Contave e Helena Duppre pelo trabalho e boa vontade na produção, não existiria videoclipe sem a ajuda deles. À minha melhor amiga, produtora e diretora de arte, Blanca Rajai e sua mãe Marcia Rajai, pelas ideias geniais e pela participação, que foram essenciais. Além de tudo, elas que acompanharam de perto, com muita paciência, toda a tensão, ansiedade, felicidade e satisfação na realização desse produto. À Nadia Palma, Gika Torres, Deise Martins, Heitor Pascua Marques, Ana Lucia Sousa, Ana Paula Moreno, Bruna Rabboni, André Cobra e Wagner Ovídio por colaborarem cada um de uma forma, com interesse e boa vontade. À Lelia Arruda, Christiane Costacurta, Luiza Madureira Vitali e Fernanda Landgraf pelos conselhos e dicas. À Bete Alfeld e Pollyana Ferrari pela orientação e acompanhamento durante o ano inteiro. À minha família, pelo apoio emocional e financeiro, Maria Lucia Tereno, Maurício Bernis, Manuela Bernis, Camila Tereno, Ana Maria Tereno, Beatriz Tereno e Allen Frketic. E à Victor Rios, por acompanhar, participar e me apoiar da melhor forma possível no processo de realização desse trabalho. 5 Resumo Inicialmente, a idéia de videoclipe era vinculada à visibilidade e propaganda de bandas, sendo apenas performances gravadas. Porém, o videoclipe cresceu como produto audiovisual e agora permite narrativas lineares ou experimentais sem ter o único intuito de divulgar o trabalho do artista, mas sim como uma forma de expressão audiovisual. Ele transmite os sentimentos contidos nas canções através de imagens, em uma abordagem visual e simbólica, permitindo, portanto, que o espectador se relacione mais profundamente à música. “Not So Fine” é um videoclipe que segue as técnicas e recursos utilizados nesse tipo de narrativa, em coerência com a letra da canção e a proposta da banda (Johnnybox), podendo gerar e instigar a percepção do espectador, ao mesmo tempo em que explicita e mostra metaforicamente a canção. Apresentamos o processo de formação e construção desse produto, além de uma pesquisa e levantamento de dados sobre o próprio videoclipe, através de exemplos e teorias que fundamentam o estudo desse gênero audiovisual. Palavras-chave: videoclipe, Johnnybox, not so fine, música 6 Abstract Initially, the idea of music videos was connected to the visibility and advertising of bands and musicians, when it was merely a recorded performance. Although, music video grew as an audio-visual product allowing experimental or linear narrations, not as an advertising mean to the artist, but as an audio-visual experience. It expresses the feeling in the songs throughout images, in a visual and symbolic approach, allowing, therefore, the viewer to relate to the music. “Not So Fine” is a music video following the techniques and resources used in this kind of narration, in sync to the lyrics and the band itself (Johnnybox), reaching the viewer’s perception, at the same time that metaphorically displays the song. Here will be presented the process of structuring this product, besides a research and data collection about the videoclip itself, throughout examples and theories that base the study of this audiovisual genre. Key words: music video, not so fine, johnnybox, music 7 Lista de figuras Figura 1 - Imagem aos 2'46" do videoclipe "Going Under" Figura 2 - Imagem aos 2'47" do videoclipe "Going Under" ................................................................................................... 17 Figura 3 - Imagem aos 0'24" do videoclipe "Going Under" ..................................................... 17 Figura 4 - Imagem aos 0'39" do videoclipe "Tears Dry On Their Own" ................................. 19 Figura 5 - Imagem aos 0'25" do videoclipe "Tears Dry On Their Own" ................................. 20 Figura 6 - Imagem aos 0'11" do videoclipe "Smells Like Teen Spirit".................................... 22 Figura 7 - Imagem aos 4'25" do videoclipe "Smells Like Teen Spirit" .................................... 22 Figura 8 - Imagem aos 0'01" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" .............. 23 Figura 9 - Imagem aos 3'34" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" .............. 24 Figura 10 - Imagem aos 5'40" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" ............ 24 Figura 11 - Imagem aos 2'44" do videoclipe "Emotion Sickness" ........................................... 25 Figura 12 - Banda Johnnybox ................................................................................................... 27 Figura 13 - Imagem aos 2'13" do videoclipe "Tainted Love" .................................................. 36 Figura 14 - Imagem aos 0'08" do videoclipe "Bug Eyes" ........................................................ 36 Figura 15 - Imagem aos 1'06" do videoclipe "O Castelinho na Rua Apa" ............................... 37 Figura 16 - Imagem aos 0'00" do videoclipe "Jesus of Suburbia" ........................................... 38 Figura 17 - Croqui do personagem "Jerry" ............................................................................... 41 Figura 18 - Mauricio Ludewig como "Jerry" ........................................................................... 42 Figura 19 - Mauricio Ludewig como "Jerry", em seu estado emocional ................................. 42 Figura 20 - Banda Johnnybox tocando na gravação ................................................................. 43 Figura 21 - Tato, vocalista da banda Johnnybox ...................................................................... 43 Figura 22 - Gustavo, guitarrista da banda Johnnybox .............................................................. 44 Figura 23 - Fabio, guitarrista da banda Johnnybox .................................................................. 44 Figura 24 - Caio, baterista da banda Johnnybox ...................................................................... 45 Figura 25 - Rafael, baixista da banda Johnnybox ..................................................................... 45 Figura 26 - Tato como palhaço feliz ......................................................................................... 46 Figura 27 - Tato como palhaço mórbido .................................................................................. 46 Figura 28 - Locação um: terreno .............................................................................................. 47 Figura 29 - Locação dois: apartamento da festa, vista da mesa ............................................... 47 Figura 30 - Locação dois: apartamento da festa, vista da sala ................................................. 47 Figura 31 - Locação três: apartamento do Jerry ....................................................................... 48 Figura 32 - Locação quatro: Rua Augusta ................................................................................ 48 Figura 33 - Locação cinco: estado emocional de Jerry (quarto vermelho) .............................. 49 Figura 34 – Cenário do apartamento de Jerry........................................................................... 61 Figura 35 - Cena na Rua Augusta ............................................................................................. 62 Figura 36 - Cenário da festa no apartamento ............................................................................ 63 Figura 37 - Cenário da festa no apartamento, sala ................................................................... 63 Figura 38 - Corredor da festa no apartamento, teste de luz ...................................................... 63 Figura 39 - Cenário do terreno ................................................................................................. 64 Figura 40 - Cena do estado emocional de Jerry........................................................................ 66 Figura 41 - Cena da banda tocando .......................................................................................... 66 Figura 42 - Cena de Jerry em seu apartamento ........................................................................ 67 Figura 43 - Cena de Jerry na Rua Augusta ............................................................................... 67 Figura 44 - Cena da festa no apartamento, entrada e sala ........................................................ 68 Figura 45 - Cena da festa no apartamento, mesa de beer pong ................................................ 68 Figura 46 - Cena da festa no apartamento, corredor................................................................. 68 8 Sumário 1. Introdução.....................................................................................................................09 2. Fundamentação teórica.................................................................................................14 3. Not So Fine: diretriz conceitual....................................................................................27 4. Not So Fine: diretriz visual...........................................................................................34 4.1. Perfil do público espectador...................................................................................35 4.2. Referência audiovisuais..........................................................................................35 5. Etapas da realização......................................................................................................40 5.1. Pré-produção..........................................................................................................40 5.1.1. Personagens.................................................................................................40 5.1.2. Locações.....................................................................................................46 5.1.3. Roteiro........................................................................................................49 5.2. Produção.................................................................................................................61 5.2.1. Casting........................................................................................................61 5.2.2. Montagem dos cenários..............................................................................61 5.2.3. Equipe.........................................................................................................64 5.2.4. Gravação.....................................................................................................65 5.2.5. Edição.........................................................................................................69 5.2.6. Créditos finais.............................................................................................69 5.3. Pós-produção: finalização e divulgação.................................................................69 5.4. Tecnologia utilizada...............................................................................................70 6. Considerações finais......................................................................................................71 7. Referências bibliográficas.............................................................................................73 7.1 Referências bibliográficas audiovisuais..................................................................75 8. Anexos...........................................................................................................................77 9 1. Introdução A proposta deste projeto consiste na criação de um videoclipe para a música “Not So Fine”, da banda independente Johnnybox. A letra da música foi usada como base para a criação da narrativa imagética. Um traço diferenciador da banda é criar um personagem central, Jerry, que está presente em quase todas as suas composições. Jerry é como uma síntese de algumas características próprias a cada integrante, e por isso ele é retratado nas canções. O videoclipe trabalha em cima desse personagem e é uma história sobre ele, um dia na vida de Jerry, com foco em suas sensações e sentimentos, buscando despertar a percepção do espectador, para que este identifique tais sensações e sentimentos, talvez até relacionando-os com suas próprias vivências. De fato, gerar sensações no espectador através do videoclipe não é novidade. Muitas vezes, esse efeito foi atingido não no sentido da experiência pessoal, mas no sentido do simples choque emocional quando o espectador é confrontado por um trabalho muito ousado e diferente, em união a uma música com as mesmas características. Um grande exemplo disso é o clipe da música Closer do Nine Inch Nails, de 1994, dirigido por Mark Romanek. A canção dessa banda norte americana já causa certo estranhamento, pois a letra combinada com a batida forte aflora essa sensação. Porém, após a criação do vídeo, isso foi potencializado; com cenas fortes que abordam sexualidade, religião, crueldade sobre animais e outras características do gênero, o clipe foi proibido de rodar na televisão nos Estados Unidos e entrou para o acervo permanente do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, considerado obra de arte. Hoje em dia, pode ser encontrado na Internet, porém naquela época, início dos anos 1990, o clipe foi um escândalo, e de fato é chocante. Um marco para a história da música foi o álbum Thriller, de Michael Jackson em 1982. Além das características inovadoras nas canções, que misturavam gêneros como rock, pop e soul, o álbum lançou a canção homônima como single e um videoclipe, dirigido por John Landis. O clipe dure 13 minutos e 43 segundos, o que já faz dessa característica um diferencial já que extrapola o tempo de duração da canção; é interessante também notar que o vídeo é quase como um curta metragem; e essa nova proposta é muito importante para a história do videoclipe, pois foi abordado em um formato incomum para a época e introduziu a ideia de que um clipe pode ter um enredo e ser pensado em formato de história. Este vídeo ajudou a consolidar algumas características icônicas de Jackson, como o moonwalk, e até hoje serve de referência audiovisual; como mencionado, ele é como um curta 10 metragem: existem os personagens centrais, Michael Jackson e a namorada, e a história se desenrola ao redor deles. No começo, o cantor propõe à namorada, e diz que está pronto para revelar seu segredo, porém antes de ele conseguir falar, a lua aparece e ele se transforma em um lobisomem. Assustada, a menina foge, e é perseguida por um tempo, até que o cenário se abre e revela-se que é um filme; ainda perseguida, a garota sai da sala de cinema e corre pela rua, e Jackson continua atrás dela, porém neste momento ocorrem performances de danças e coreografias. Até que ela passa em frente a um cemitério, e zumbis começam a correr atrás dela também, e até mesmo Jackson se torna um zumbi. Neste ponto, a menina acorda, e indica-se que tudo o que foi visto até então fazia parte de um pesadelo. O cantor a consola abraçando-a, e por fim há a imagem de seus olhos amarelos, como os de um lobisomem. Fica claro aqui que, mesmo com um enredo completamente fantasioso, há uma continuidade nas cenas. O gênero do “terror” presente no vídeo é completamente condizente com a temática da canção, que mescla sons fantasmagóricos com batidas dançantes, além de ser coerente com o que o próprio artista fez na época: inovar. A dança, a história, os personagens, tudo o que está presente na tela introduziu um novo ponto de vista para o espectador, que com isso teve outra experiência com a própria música. O que é bastante comum em videoclipes é utilizar metáforas e analogias para se expressar a canção. Principalmente porque canções, em geral, carregam em si os sentimentos do artista e/ou compositor, e para fazer uma ligação direta entre o vídeo e a música deve-se tentar traduzir esses sentimentos para a tela. Às vezes essa tradução é tão intensa, que resulta em clipes como Closer - comentado anteriormente - causando polêmica, ao mesmo tempo em que inova o ponto de vista audiovisual do videoclipe. No entanto, tudo depende da abordagem desejada, há trabalhos com fortes características expressivas e poéticas, mas que utilizaram outros métodos de exibir sentimentos, por um ponto de vista mais sutil. Pode-se mencionar Heart in a Cage da banda The Strokes, de 2006, dirigido por Samuel Bayer. Por mais que Bayer atuasse bastante nos anos 1990, seus trabalhos mais recentes, na casa dos 2000, são mais profundos e nesse video em especial, o foco é na intensidade dos músicos tocando, o cantor deitado no asfalto enquanto muitas pessoas passam em sua volta e o guitarrista no topo de um prédio, com o edifício Empire State em campo. Todo em preto e branco, o climax do clipe acompanha o da canção, em que as pessoas começam a interagir com a banda, outros integrantes quebram os instrumentos e o cantor parece cantar com mais ira, para se acalmar quando tudo termina. Mesmo assim, a atmosfera geral não é pesada, mas sim emocional, e nota-se a preocupação em criar algo com mais profundidade. 11 Isso é o que é o que foi buscado neste trabalho, em adição à proposta de Thriller, com enredo, personagem e certo desenvolvimento; um ponto importante é conseguir despertar sensações e sentimentos, aguçar a percepção de quem está assistindo, de um ponto de vista mais sutil e profundo, sem perder as noções básicas da canção e da banda em questão, como o estilo musical, o ritmo e a letra. Não se pode perder de vista que o videoclipe é um audiovisual e sua composição se dá na relação entre imagem e som, desta forma, só se pode falar em narratividade no videoclipe a partir deste entrosamento. (CARVALHO, 2008: 103) Não é um vídeoclipe meramente imagético, com o uso de imagem+som, mas sim uma correlação entre ambos, onde um não existiria sem o outro. O enredo só existe graças à letra da música e a imagem só existe graças à tradução feita de áudio para visual. A idéia também foi tratar da relação o espectador/ouvinte com o vídeo/música. Um produto como uma canção, ou um clipe, sempre desperta algo no receptor, algum sentimento, sensação, lembrança que conecta o receptor ao produto em questão. Seja por experiência própria ou identificação sentimental é essa percepção e entendimento que deve ser buscado. Como já estudado pela sinestesia, as obras de arte em geral têm a capacidade de despertar sensações múltiplas e paralelas no espectador. A sinestesia, de acordo com Sérgio Basbaum, em sua tese de mestrado de 1999, ocorre quando o espectador/ouvinte se compenetra por completo na obra, se esquecendo até mesmo do mundo exterior e entrando no clima do produto. Com isso, é possível o entendimento mais profundo da obra em questão, já que a sinestesia ativa partes do cérebro através de elementos de imagem e som que servem de estímulos sensoriais, como cores, luzes, batidas e frequências. De fato, Basbaum comenta que nos séculos XIX e XX, a música tem elementos sinestésicos estudados através das relações feitas por compositores clássicos entre frequência, nota e tons de cores, em que cada uma tem sua equivalência. Foi com base nisso que começaram as primeiras performances com o uso de som, luz e cores, feitas no início do século XX, por compositores como Alexander Scriabin, já introduzindo a ideia de compenetrar o espectador e aflorar sua percepção sobre a obra em questão. Provocar sensações dando maior profundidade para a narrativa, não trata apenas de uma adaptação literal de um estilo de narrativa para outro, mas mais do que isso é uma correlação, em que os dois formatos se encaixam, e juntos, através dessa união, ambos os produtos, música e vídeo, podem também individualmente crescer em termos de profundidade e sensibilidade. O ponto principal disso é a capacidade de entender as entrelinhas, de criar uma visão mais profunda sobre a própria música através da imagem. É nesse momento que a 12 interpretação e a experiência pessoal do espectador têm extrema importância. O videoclipe propõe essa interpretação mais a fundo da música, que por si só já causava certa resposta perceptiva no espectador, em união ao vídeo, a possibilidade de profundidade poética do produto final cresce. E tal profundidade não precisa necessariamente, ser abordada de forma óbvia, mas muito pelo contrário, as metáforas são elementos extremamente úteis para o videoclipe. Deve não apenas interagir com a música em questão, mas também se comunicar com o espectador, com o intuito de aflorar percepções e sentimentos através do que é mostrado na tela, utilizando elementos como iluminação e cores. A proposta do trabalho desenvolvido é significativa no âmbito acadêmico e também para futura divulgação, pois o clipe servirá como porta de entrada na conquista de público, que poderá visualizar a canção, dando outra perspectiva para a mesma. Tal divulgação pode ser feita através de sites como o YouTube e o Facebook. O objetivo geral que norteou a pesquisa foi desenvolver uma reflexão sobre a criação de um videoclipe narrativo. E os objetivos específicos foram apresentar um estudo sobre o videoclipe destacando suas características principais, perceber como os elementos audiovisuais presentes na narrativa do videoclipe promovem uma relação com o espectador, analisar a composição da canção “Not So Fine” para a construção da narrativa do videoclipe e por fim, descrever conceitualmente todas as etapas de realização do videoclipe. Para desenvolver o memorial, foi utilizado o método do estudo do caso, em que são investigadas as características do tema, através de textos teóricos e exemplos. Como descrito por Robert K. Yin: Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2001: 19) Apresento no primeiro capítulo a introdução, onde situo o contexto e parte da evolução do gênero audivisual do videoclipe em geral, apontando alguns exemplos que valem ser mencionados por terem relação com a proposta, assim como observações relevantes quanto à percepção e o espectador. Já no segundo capítulo, segue a fundamentação teórica, em que a história do videoclipe é mais aprofundada e a pesquisa é embasada nos estudos de intelectuais da área do audiovisual e comunicação. Para reforçar a teoria, são apresentados alguns exemplos de videoclipes. 13 No terceiro capítulo começa a apresentação do produto, o videoclipe da canção “Not So Fine”, e portanto o conceito que norteou a produção é detalhado e comentado. O quarto capítulo engloba toda a estética e elementos visuais relacionados ao produto final, tal como referências audiovisuais e perfil do público espectador. O quinto capítulo apresenta as etapas da realização, onde são comentadas e explicadas todas as decisões e fases do processo de criação até a finalização do produto. No sexto capítulo, seguem as considerações finais, que consiste em comentários e pensamentos relacionados ao projeto como todo. 14 2. Fundamentação teórica O videoclipe pode ser considerado uma forma de expressão audiovisual relativamente nova. Foi depois do cinema e longas metragens que nasce a videoclipe, inicialmente apenas funcionando como recurso da música. Nas palavras de Arlindo Machado: (...) o video clipe é um formato enxuto e concentrado, de curta duração, de custos relativamente modestos se comparados com os de um filme ou de um programa de televisão, e com um amplo potencial de distribuição (MACHADO, 2003: 173) Os primeiros videoclipes eram especificamente comerciais. Eram uma forma de divulgação e autopromoção para bandas, e os grandes difusores disso foram os Beatles. Eram deles as primeiras apresentações gravadas, performances chamadas de promos (CORRÊA, 2007), que além de dar mais destaque para a banda, começaram a chamar a atenção dos fãs e espectadores, que agora tinham a opção de não somente ouvir a música, mas assisti-la. Porém, o primeiro artista a introduzir a música como imagem, não mais como uma performance de banda, foram os ingleses do Queen, para a canção Bohemian Rhapsody, exibida em 1975 pela rede BBC (CORRÊA, 2007). A partir daí, a narrativa do videoclipe começou a se alterar: o videoclipe se tornou uma forma aberta de expressão, permitindo estética experimental e alternativa. Cresceu inclusive na própria abordagem: não se trata mais de apenas uma forma de propaganda para bandas, ou mero complemento para a música, e sim uma tradução imagética da canção. Afinal, o videoclipe só existe graças à música, e sua composição deve ter relação com a mesma, porém essa relação pode ocorrer em diversas vertentes, e se relacionar com apenas um elemento presente na canção, como o ritmo, a melodia, a letra. Assim como, pode se relacionar diretamente com todos e traduzir a canção em seu conjunto. Ou seja, podem ser imagens descontinuas e experimentais ou até mesmo uma história montada como curtametragem. Claro que, também funciona como divulgação de artistas e bandas, porém não é mais o seu foco ou finalidade. Hoje, o videoclipe permite uma possibilidade poética, explorando a imagem. Podendo ousar nos planos e livremente transitar pela narrativa audiovisual; agora, ele tem nova sensibilidade, trabalhando com um senso crítico sobre a música, o que torna a própria mais relevante, dando outras possibilidades de interpretação e ponto de vista. 15 Uma vantagem é que não precisa ser uma superprodução, devido ao caráter experimental e descontraído dessa forma de narrativa, o videoclipe pode ter um orçamento baixo e mesmo assim ser bem sucedido. A duração não costuma ser muito longa, com algumas exceções que chegam até dez ou doze minutos, mas em geral, a duração do vídeo é a duração da música, alguns poucos minutos. Isso se aproxima bastante do curta metragem de baixo orçamento, uma história contada de forma breve e intensa. No caso do videoclipe, porém, geralmente não são inclusos diálogos, deixando a responsabilidade toda sobre a imagem. Novamente, ressaltando que a abordagem desse formato cresceu de vídeos publicitários e de divulgação de bandas para formas de expressão abertas e livres. Quando nos remetemos ao videoclipe, estamos tratando de um conjunto de fenômenos de criação nos meios de comunicação de massa angariados na ideia do hibridismo. Como gênero televisual pós-moderno que é, o videoclipe agrega conceitos que regem a teoria do cinema, abordagens da própria natureza televisiva, ecos da retórica publicitária e dos sistemas de consumo da música popular massiva. (SOARES, 2004: s/n) Esse hibridismo mencionado por Soares, é resultante da união de vários elementos presentes em narrativas dos mais diversos gêneros audiovisuais, como o cinema, a publicidade e a televisão. A maior influência do cinema em videoclipes é no sentido conceitual e teórico, pois por ser um produto audiovisual, essas bases da comunicação são quase sempre as mesmas; quanto à publicidade, a influência se dá pelo fato de o vídeo servir de divulgação para o artista ou banda da música envolvida; e a televisão, é no sentido da difusão, pois antes do YouTube e a possibilidade de assistir vídeos através da Internet, o maior difusor do videoclipe era a televisão. De fato o videoclipe adere todos esses elementos e os mescla em sua narrativa e estilo audiovisual. É essa mescla que gera as formas de expressão abertas e livres, permitindo recortes, velocidade, ritmo de imagens, cenas curtas e outros elementos que podem ser sustentados em formas audiovisuais enxutas sem muitas restrições ou regras, já que a única coisa que dá sentido a tudo isso é a música, então desde que siga alguma coerência com a mesma, o videoclipe pode se expandir para diversos caminhos, numa nova e diferente narrativa do que é feito em todas essas vertentes: cinema, televisão e publicidade. Em outras palavras, as cenas em um videoclipe são rápidas e fragmentadas, podendo ser completamente desconexas ou não; esse formato de sequencia de imagens é esperado nessa forma de narrativa, pois mesmo quando a união de cenas não atingem um significado 16 óbvio no final, elas ainda atendem às necessidades do produto: ilustrar a música e por trás desses planos sem sentido, o significado metafórico está sempre presente. Um fator relevante nesse formato é que a duração de cada cena na tela e a passagem de uma para a outra, muitas vezes, ocorre de acordo com o ritmo e as batidas da canção, gerando, portanto o tal sentido metafórico que cria conexão direta entre a música e as imagens. Ou seja, as vezes, o videoclipe pode ter mais a ver com o ritmo e movimento do que as imagens em si. A partir da influência da cultura pop, o videoclipe se transformou em uma nova forma de expressão audiovisual. No caso do rock, principalmente, onde agora é proposta outra forma de experiência audiovisual, em que são abordados sentimentos e a partilha dos mesmos, com uso de elementos simbólicos. O gênero musical rock tem os signos como característica, em que são utilizadas muitas metáforas para dizer e expressar os sentimentos, misturados com as batidas mais pesadas de guitarras e outras mais rítmicas da bateria. Em outras palavras, o rock traz em si a expressão e os sentimentos com o intuito de dividir todas essas sensações e isso implica em videoclipes mais poéticos, como atesta Jeder S. Janotti Júnior, “o rock contemporâneo exerce um papel catalisador dentro do universo visual da cultura videoclipe, transcendendo denominação ‘gênero musical’ e abrindo possibilidades de vivências e partilhas de sentimentos diante do mundo contemporâneo.” (JANOTTI, 1997) Um bom exemplo disso é o videoclipe Going Under1 da banda norte americana Evanescence. O vídeo de 2003 foi dirigido por Philip Stolzl, e aborda o conteúdo da música da mesma forma metafórica que a canção em si: o fato de estar em uma situação que te sufoca por tempo demais. A letra é bem depressiva, com passagens como “I’m dying again, I’m going under” (eu estou morrendo novamente, estou afundando)2, e com som de guitarras pesadas; no clipe, isso é mostrado de uma forma em que a cantora e atriz do vídeo entra em um mar de pessoas, que na cabeça dela representam e são mostradas, as vezes, como um mar de verdade, em que ela afunda e emerge. 1 2 Videoclipe disponível em: <www.youtube.com/watch?v=CdhqVtpR2ts&ob=av3e/> (acessado em 10/04/2012) Em tradução livre. 17 Figura 1 - Imagem aos 2'46" do videoclipe "Going Under" Figura 2 - Imagem aos 2'47" do videoclipe "Going Under" Outro elemento simbólico é o fato de Stolzl interpretar a canção de forma que a situação vivida pela cantora está se prolongando tanto que ela começa a enlouquecer e, portanto a ver o mundo distorcido e faces monstruosas, sem saber diferenciar o real do imaginário. Figura 3 - Imagem aos 0'24" do videoclipe "Going Under" A leitura e a execução feitas foram completamente signicas, com elementos surrealistas para demonstrar os sentimentos e a intensidade da música. Tudo isso com uma atmosfera mais escura e triste, comunicando com a identidade visual da própria banda, que pode ser considerada de metal gótico. Nota-se que é importante investir na estética. Um dos primeiros passos nesse processo é situar a identidade visual dos músicos em questão. A partir disso, o vídeo se desenrola de acordo com tal identidade, que dá base para a estética e a narrativa. Como exemplo, pode-se ressaltar a banda norte-americana Tool, formada em 1990, e ativa até hoje; todos os videoclipes dessa banda são de animação, em estilo pesado e futurista, com temas representados através de signos, de tal forma que se não soubermos do que a música se trata realmente, a interpretação do clipe pode ser completamente distorcida. 18 A estética visual determina a atmosfera racional ou emocional do vídeo, pois explora a produção das emoções por meio dos fenômenos estéticos causados pela obra. (Moletta, 2009: 70) Como mencionado por Moletta, o emocional passado no vídeo faz parte da estética, e é nesse momento em que a percepção do espectador é ativada. Essa relação espectador/imagem esta presente desde a invenção do teatro, com os elementos de iluminação e som que contribuem para tal relação. De fato, isso começou a ser percebido com o cinema e os estudos de sonhos feitos por Freud no ano de 1900 (MACHADO, 2008). Assistir a um filme dentro de uma sala escura é como assistir aos sonhos que temos a noite, onde ao mesmo tempo em que somos protagonistas também somos platéia. A obra audiovisual ativa o imaginário de cada um, pois de certa forma reproduz e representa o que está guardado na mente. A partir disso, o espectador é levado para o imaginário na tela que se conecta com o próprio imaginário, por isso diferentes pessoas terão diferentes interpretações sobre determinada obra audiovisual, mas de qualquer forma, a conexão espectador/imagem foi estabelecida. Vale mencionar o artista e compositor John Cage, que propôs uma nova forma de música, utilizando elementos do cotidiano e processos aleatórios. Seu maior legado, porém é o happening3, em que na performance ocorrem improvisações e espontaneidade, fazendo com que cada apresentação seja única, pois nunca acontecem da mesma forma. Em adição à isso, incorpora-se a participação da platéia. Uma das mais conhecidas obras de Cage é a composição 4’33’’, em que os músicos apenas ficavam em frente ao instrumento por 4 minutos e 33 segundos, sem tocar nada. O que Cage estava apresentando era o elemento do silêncio na música, e também os barulhos do ambiente, no caso, da platéia que se manifestou indignada sem entender que a proposta era exatamente esta: o público fazendo barulho frente ao silêncio dos músicos. John Cage é uma importante referência musical, pois introduziu o conceito de audiência participativa e utilizou métodos incomuns de compor música, com experimentações e objetos do dia-a-dia, fugindo do padrão dos instrumentos musicais e melodia propriamente dita. Todos os elementos utilizados por Cage instigavam a platéia, como as suas performances diferentes, que já então provaram que a reação do espectador é de extrema importância para a música, a performance em si e as artes em geral e que o mesmo deve conseguir se conectar à isso. 3 Expressão usada nas Artes Visuais, tendo sua descrição resumida no link: <pt.wikipedia.org/wiki/Happening/> (acessado em 14/06/2012) 19 De qualquer forma, os elementos essenciais para começar a compenetrar o espectador em uma obra audiovisual são a luz e o som (MENEZES, 1996). Em segundo lugar, entram os outros elementos fílmicos, como espaço, tempo e montagem. São todos esses fatores juntos que começam a criar a relação com o espectador, e é dentro desse clima que ele inicia a sua percepção sobre o que está assistindo e então se relaciona com o produto. Grande exemplo de uso bem sucedido dos elementos na tela é o videoclipe Tears Dry On Their Own4 da cantora inglesa Amy Winehouse. Lançado em 2007 e dirigido pelo fotógrafo David LaChapelle já era de se esperar que a fotografia e a arte do vídeo ficassem impecáveis. Ele trabalha com apenas dois espaços: o quarto em que Winehouse está sentada na cama apenas cantando, olhando para a câmera ou pensativa, e a rua, por onde está sempre em movimento. Ele utilizou inclusive uma contraposição de cores complementares: o amarelo para as cenas em espaço fechado e os tons de azul para as cenas na rua; como a música se trata de superação de um relacionamento fracassado, as cenas no quarto com a luz do sol entrando pela janela, a cama e o ambiente desajeitados tornaram-se poéticas, devido à esse trabalho de iluminação em harmonia com o espaço. Figura 4 - Imagem aos 0'39" do videoclipe "Tears Dry On Their Own" As partes filmadas na rua não quebraram essa poesia, pois dão ar mais descontraído que também está presente no ritmo da canção, novamente ocorre comunicação direta com a identidade, não apenas visual, mas também musical, da cantora. 4 Videoclipe disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ojdbDYahiCQ&ob=av2e/> (acessado em 10/04/2012) 20 Figura 5 - Imagem aos 0'25" do videoclipe "Tears Dry On Their Own" Pode-se dizer que no videoclipe não é tão difícil de compenetrar o espectador quanto pode ser no cinema, pois o clipe traz em si um elemento que já é conhecido pelo espectador: a música. Isso não significa que as percepções sejam sempre positivas; as sensações geradas podem ser diversas, tanto alegres quanto tristes, e com a música principalmente, já que ao começar a assistir a um videoclipe de uma canção que gostamos, nossa percepção é ativada com um pré-conceito positivo, no caso de uma canção que não gostamos esse pré-conceito será negativo. A percepção pode ser alterada ao terminarmos de ver o vídeo, mas o tipo de sensação gerada não importa nesse momento, o que importa é que ela existe em ambos os casos. Hoje em dia, porém, não se tem mais a forte influência da Music Television, a MTV. Há alguns anos atrás, esse era um dos únicos canais em que se passavam videoclipes sem parar; no entanto agora, existem outros canais como a VH1 (Video Hits One) que tomaram essa posição de “canal de videoclipes”, e na própria MTV já quase não se exibe mais, pois agora está predominada por reality shows. Isso aconteceu naturalmente, a partir do momento em que sites como o YouTube e o Vimeo começaram a se consolidar pela Internet, e agora dominam como disseminadores de videoclipes. Antes, se alguém sentisse vontade de assistir a um clipe em especial, teria que esperar passar na MTV; hoje, é apenas necessário digitar o nome da canção e do artista desejados no YouTube que o vídeo aparece direto. Outro ponto relevante em relação à MTV, é que este canal tem um público alvo definido, e toda a programação, incluindo os videoclipes, se dirige principalmente à esse grupo de pessoas, no caso adolescentes. Como estudado por André Mantovani em sua tese de mestrado em 2005: (...) a audiência da MTV, pois é composta, principalmente, de jovens pertencentes às classes mais abastadas da população brasileira, aqueles filhos 21 das famílias nas quais é possível esperar e se preparar para aquilo que, também socioculturalmente, é definido como vida adulta, o telespectador da MTV que interessa aqui é o adolescente e o adolescente é aquele indivíduo que “pode se preparar” para a vida adulta. (MANTOVANI; 2005: 12) Com a Internet, a difusão já não é mais tão focada, já que pode atingir diversos públicos, de diversos lugares e em diversos contextos. Deve-se perceber que mesmo assim, o público que procura este tipo de informação na Internet continua sendo o adolescente, mas agora, sem as restrições da televisão, a movimentação desses indivíduos pelo conteúdo é muito mais livre, permitindo, portanto que o conteúdo em si seja mais aberto. Esse aspecto contemporâneo do videoclipe online altera toda a relação com o espectador; inclusive, pode-se assistir a vídeos de apenas um artista, que com certeza tem seu próprio canal oficial no YouTube. Não se precisa mais assistir clipes de músicas que não gostamos, como era inevitável na televisão, agora se pode inclusive montar sua própria playlist na ordem de vídeos desejada e, portanto ver só aquilo que agrada a você, individualmente. Os gostos e as exibições ficaram mais pessoais e mais direcionados, já que o espectador agora pode livremente escolher o que quer assistir, de acordo com o gênero musical preferível. Essa noção de que a forma de veiculação de uma obra visual altera a forma como o espectador se relaciona com a mesma, foi prevista por Julio Plaza, que atesta “o encontro da informática com os sistemas de representação visual promove uma troca cultural, no que se refere à construção, veiculação e visualização da imagem” (PLAZA, 1993). De acordo com Plaza, não é apenas o espectador que sofre as mudanças, mas também os próprios meios de produção são alterados, e começam a ser pensados em formatos eletrônicos, o que permite também novas possibilidades de criação com referências diversas para expandir o imaginário expressado com novas técnicas e linguagens. No caso do rock, os videoclipes tendem a seguir mais ou menos pela mesma linha estética: subjetividade, baixa iluminação, e as vezes cenas rápidas com muitos cortes em ligação direta com a batida. Passando as sensações dos sentimentos que são abordados na maioria das músicas, como a depressão, perda, juventude, desilusão, raiva e entre outros. O videoclipe de 1991, Smells Like Teen Spirit5 do Nirvana, dirigido por Samuel Bayer, acontece em apenas um espaço, em que a banda está se apresentando numa quadra de basquete em algum colégio. A plateia é, em sua maioria, composta por alunos, e os movimentos de alguns deles, como as líderes de torcida, acompanha as batidas da canção. 5 Videoclipe disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=hTWKbfoikeg&ob=av3e/> (acessado em 10/04/2012) 22 O ambiente é predominantemente escuro, em tons quentes de amarelo, vermelho e marrom, misturados com pó, fumaça e sujeira que se elevam na medida em que o cantor interage com a plateia. Figura 6 - Imagem aos 0'11" do videoclipe "Smells Like Teen Spirit" É a intensidade e melancolia de Kurt Cobain cantando e expressando a música, unidas à estética aplicada por Bayer que fez do clipe uma forte referência em termos de videoclipes marcantes dos anos 1990, época dominada pelo rock grunge. A bagunça, a sujeira, os corte rápidos, a luz baixa, são todos elementos que se conectam diretamente com a época, a canção e a banda. Num panorama geral, o vídeo não tem uma história montada, é apenas trabalhado com símbolos, luz e movimento. Figura 7 - Imagem aos 4'25" do videoclipe "Smells Like Teen Spirit" Pode-se notar a preocupação em traduzir a canção através de elementos visuais e estéticos. Foram exploradas todas as características presentes na própria música: as batidas, o ritmo, a voz e a letra de forma metafórica e em conjunto. 23 O papel da canção é fundamental na maioria dos videoclipes, tanto naqueles em que se pode observar a efetiva “tradução” da letra da canção em imagens quanto nos que primam pela independência entre a letra e a narrativa visual ativada. (COELHO, 2003: s/n) Como atesta Coelho, a canção é a base da construção narrativa do videoclipe. Mesmo quando um dos elementos presentes nela é utilizado predominantemente, o videoclipe deve sempre tê-la como ponto de partida. Pode-se notar que a narrativa do videoclipe é variável; desde imagens rápidas e desconexas até narrativas lineares com personagens e histórias. Em referência a este segundo estilo, pode-se mencionar o videoclipe da canção Wake Me Up When September Ends6, da banda norte-americana Greenday, também dirigido por Samuel Bayer, em 2005. O videoclipe é considerado um curta metragem. O vídeo tem 7 minutos, sendo que a canção em si tem quase 5. Figura 8 - Imagem aos 0'01" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" Aborda um jovem casal, e mostra sua história até o ponto em que o menino vai para a guerra, e a menina fica, esperando pelo seu retorno. Tal retorno nunca acontece, deixando o final em aberto para interpretação, porém este videoclipe tem elementos explícitos de curtametragem: personagens, objetivo e clímax. A história do casal é mostrada de tal forma, que se cria uma empatia para com o mesmo, e a montagem, com as cenas em câmera lenta, potencializa a ideia de um casal feliz e apaixonado. Este clipe contém inclusive, diálogos no início e no meio, em que a música é quebrada, o diálogo acontece e então retoma-se a canção. 6 Videoclipe disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=KjNJmwwf7QA/> (acessado em 10/04/2012) 24 Figura 9 - Imagem aos 3'34" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" O clímax é uma cena de guerra, junto com o solo de guitarra; logo depois, a música acalma, e as imagens também, dando espaço ao final em aberto, com a menina ainda esperando e o menino, que está na guerra, enquanto os músicos da banda tocam em um ambiente separado de onde ocorreram as cenas do casal. São utilizados muito planos detalhes pra criar a sensação intimista, recursos de câmera lenta e explosões de luz e filmagens de silhuetas, dando o toque dramático. Figura 10 - Imagem aos 5'40" do videoclipe "Wake Me Up When September Ends" Tudo isso contribui para a intensidade do vídeo, dando maior profundidade para a própria canção. Pode-se dizer que a narrativa desse videoclipe segue na linha do curta-metragem mesmo, mas também não se distancia do fato de se tratar de uma obra baseada numa canção e portanto evidencia os artistas responsáveis, encaixando-os nessa narrativa. O importante aqui é ressaltar que por se tratar de um videoclipe, o fluxo de narração e a história são abordadas de forma diferente do que no cinema ou na televisão, já que o principal é que deve se comunicar diretamente com a música envolvida. 25 O conceito de narratividade amplia a noção de narrativa, ao contemplar uma reciprocidade entre forma de expressão e forma de conteúdo. É possível falar em narratividades, assim mesmo, no plural, uma vez que o ato de configuração de sentido na música não é o mesmo do romance ou novela televisiva. (CARVALHO, 2008: 103) Já no caso do videoclipe de 1999, da canção Emotion Sickness7 da banda norte americana Silverchair, a diretora Cate Anderson, optou também pela similaridade ao curta metragem, mas foi por um caminho mais desfragmentado. Percebe-se a continuidade e a narrativa considerando-se um panorama geral, porém existem várias cenas que são mostradas muito rapidamente e que logo de início parecem não ter muito a ver com o que já havia sido mostrado. No final, tudo fica esclarecido e a junção das cenas mostra o sentido do vídeo. A canção já aborda um tópico de tristeza e angústia, e esse tema é o foco do clipe. Os símbolos utilizados não são muito fáceis de decifrar num primeiro olhar, mas ao pensar no videoclipe como um todo, relacionado à letra da canção, fica mais claro. É a história de um menino que sofre algum tipo de tristeza, seja depressão ou qualquer outra coisa, e ele vai a uma festa em que não interage com ninguém, fica apenas sentado olhando em volta. Nota-se que ele tromba com algumas pessoas que são como ele, que sofrem da mesma angústia, mas ele não se manifesta. Um dos símbolos utilizados foi a água; como se aquela tristeza o fizesse afundar e portanto ele estivesse sempre andando molhado, dominado por essa sensação. Figura 11 - Imagem aos 2'44" do videoclipe "Emotion Sickness" O vídeo é todo escuro, em tons de cinza, novamente em harmonia com a temática, e um dos pontos interessantes é que foi o primeiro videoclipe da banda em que os integrantes não aparecem, ou seja, o foco é totalmente no personagem deprimido. As passagens de cenas 7 Videoclipe disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=xBf1UblIMKU> (acessado em 29/09/2012) 26 e o ritmo das mesmas são sincronizados com os instrumentos presentes na canção, que tem picos de orquestra misturados com as batidas e guitarras do rock. Anderson soube usar as variações dentro da canção para montar um videoclipe de acordo. Em suma, videoclipes têm diversas possibilidades de abordagem, sempre permitindo o caráter experimental e aberto. Contribui para a canção dando possibilidade de interpretação e visualização, podendo aumentar as sensações da própria. Desde o início, possibilita a divulgação do artista, e agora cria maior conexão com o espectador, que, portanto, tem uma nova forma de se relacionar com determinada canção. Permite também o formato curtametragem, com planos mais ousados e abordagens mais poéticas, sempre utilizando recursos simbólicos e metafóricos para expressar a música e então criar o link entre obra e ouvintes. Grande parte desses recursos utilizados são técnicos, como luz e ambiente, que expressam e reproduzem sensações, pois criam a atmosfera estética do vídeo, em comunicação com a identidade visual do artista ou banda em questão. Vale mencionar também que o videoclipe mantém semelhança com a canção abordada, seja em relação ao ritmo, batidas, melodia e/ou letra, eles sempre mantém certa comunicação entre si, para assim dar algum sentido visual à canção e para garantir que ambos videoclipe e canção estejam em harmonia. Apesar de ser uma área pouco visível pelo audiovisual, o videoclipe tem grande influência em tendências e disseminação de música e imagem, principalmente agora, na era digital. 27 3. Not So Fine: diretriz conceitual A banda JohnnyBox é independente e segue pelo gênero do rock. Surgiu em meados de 2009, tocando apenas covers de algumas músicas, e tinha quatro integrantes: Rafael Pontes (baixo), Vinicius Azevedo (guitarra), Caio Al-Behy (bateria) e Fábio Couto (vocal e gaita). Em 2011, integraram mais um guitarrista, Gustavo “Goiaba” e começaram a compor canções próprias e a se apresentar em casas de shows, principalmente em competições de bandas. Já em 2012, a banda sofreu algumas alterações de membros, sendo agora composta por: Tato Ferrari nos vocais, Gustavo “Goiaba” na guitarra, Fabio Couto também na guitarra, Rafael Pontes no baixo e Caio Al-Behy na bateria. Suas músicas têm, além da característica de mencionar o personagem criado por eles (Jerry), ritmos mesclados de rock e funk, com referência dos anos 70 aos 90 (Jimmy Hendrix, AC/DC, Guns’n Roses, Aerosmith, etc) e letra escrita em inglês. Algumas de suas músicas são: “Jerry”, “Just Wait” e “Not So Fine”, que é a canção abordada. Figura 12 - Banda Johnnybox Letra da canção: “Not So Fine” “Não Tão Bem” VERSO 1 I’ve been down Eu estive pra baixo Couldn’t be found Não podia ser encontrado 28 I’ve been walking, Eu estive andando Walking all around Andando por todos os lugares I’ve been down Eu estive pra baixo Way underground Bem debaixo da terra Don’t know what to do Não sei o que fazer Just want to get out Só quero sair daqui PONTE A Every time I see you I get mad Toda vez que te vejo eu fico bravo Cause I know I wanna get loose Por que eu sei que quero me soltar But it’s getting bad Mas está piorando VERSO 2 You always say Você sempre diz Won’t get in my way Que não ficará no meu caminho You always say it’s not every day Você sempre diz que não é todo dia Let me just say Deixe me dizer Let’s not be late Não vamos nos atrasar Forget about the past, Esqueça-se do passado, Live it day by day Viva dia após dia PONTE A Every time I see you I get mad Toda vez que te vejo eu fico bravo Cause I know I wanna get loose Por que eu sei que quero me soltar But it’s getting bad Mas está piorando REFRAO 1 Cause when Jerry says he’s all right Porque quando Jerry diz que está bem He says he’s all right Ele diz que está bem I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem 29 Maybe he’s hiding the truth in his mind Talvez ele esteja escondendo a verdade, em sua cabeça I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem VERSO 3 I can’t stay Eu não posso ficar Through the day O dia inteiro I can’t stay and lose my way Eu não posso ficar e perder minha direção I don`t know Eu não sei If you know Se você sabe But I want things to grow Mas eu quero que as coisas cresçam PONTE B Night and day, Noite e dia, Jerry says get out of my way Jerry diz saia do meu caminho Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay Pois eu sei que se eu não obedecer, vou pagar VERSO 4 You always say Você sempre diz Won’t get in my way Que não ficará no meu caminho You always say it’s not every day Você sempre diz que não é todo dia Let me just say Deixe me dizer Let’s not be late Não vamos nos atrasar Forget about the past, Esqueça-se do passado, Live it day by day Viva dia após dia 30 PONTE B Night and day, Noite e dia, Jerry says get out of my way Jerry diz saia do meu caminho Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay Pois eu sei que se eu não obedecer, vou pagar REFRAO 2 Cause when Jerry says he’s all right Porque quando Jerry diz que está bem He says he’s all right Ele diz que está bem I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem Maybe he’s hiding the truth in his mind Talvez ele esteja escondendo a verdade, em sua cabeça I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem (SOLOS) REFRAO 3 (2x) Cause when Jerry says he’s all right Porque quando Jerry diz que está bem He says he’s all right Ele diz que está bem I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem Maybe he’s hiding the truth in his mind Talvez ele esteja escondendo a verdade, em sua cabeça I think he’s not so fine Eu acho que ele não está tão bem 31 A canção aborda Jerry, um homem de mais ou menos 20 anos de idade que se encontra em um estado emocional abalado. Ele não se sente bem com a vida que está levando, ao mesmo tempo em que não entende seus sentimentos. Ele tenta bloqueá-los e ignorá-los, e, portanto não expressa nada. Por outro lado, ele sabe que por dentro ele está sucumbindo à depressão, por mais que não consiga enfrentar esse reconhecimento de que está mal. Para mostrar o interno depressivo dele, há cenas apenas de Jerry contra uma parede, como se estivesse sozinho num quarto com a câmera, e ele não sabe direito o que fazer. Às vezes está apenas sentado pensando, dando voltas, gritando para a câmera, encostado na parede e etc.. Essas partes são seus sentimentos: perdido, infeliz e sozinho, como o que se passa de fato em sua mente. Devido a essa sensação melancólica, muitas vezes ele não consegue ver o mundo da forma como é, pois de tanto fugir de seus sentimentos, a vida aos seus olhos fica distorcida. Como Jerry é o personagem predominante do vídeo, diversas vezes mostra-se tudo através do ponto de vista dele. O tempo de duração do vídeo é o tempo da música em si, mais ou menos 4 minutos e 45 segundos; o garoto vai à diversos lugares, interagindo pela cidade, tentando encontrar algum lugar ou alguma coisa que faça sentido e que faça com que ele se sinta melhor, mas isso não acontece. A narrativa mostra o decorrer do dia de Jerry, desde o momento em que ele acorda até o ponto em que ele chega à uma festa, já à noite. As cenas em sua mente tentam sempre comunicar o estado emocional com a realidade do personagem, sendo às vezes o gatilho para a cena mental algum elemento e/ou acontecimento de sua realidade. São intercaladas imagens do dia de Jerry com imagens da banda tocando, num show improvisado, em um terreno supostamente abandonado. Assim, foi possível introduzir os membros da banda e mostrar como eles agem ao tocar a música, sendo possível identificá-los mais tarde no vídeo. Isso também contribui para indicar a idéia de videoclipe e possibilitando que o espectador faça a ligação da canção com a narrativa. Um elemento importante do personagem no videoclipe é o fato de ele sempre ter um cigarro na orelha; isso funciona, para ele, como uma garantia, uma espécie simbólica de segurança. Esse cigarro, no entanto, é perdido na cena final, deixando Jerry desesperado para encontrá-lo, e quando isso acontece, o cigarro está pisado e quebrado, fazendo com que o personagem fique frustrado. As cenas que representam seu estado emotivo oferecem uma abertura para que ele se solte, podendo expressar o que sente, mas mesmo assim, ele não consegue fazer isso por completo, já que não entende muito bem tais sentimentos. Há essa 32 ambigüidade de sensações do personagem, pois ele não aceita o fato de que precisa de ajuda e que não está bem. Na cena final, Jerry chega a uma festa onde não consegue se encaixar e fica andando de um lado para o outro, até não agüentar mais. Para um neo-realista, disse-lhe, um copo é um copo e nada mais; nós o vemos ser tirado do armário, enchido de bebida, levado à cozinha onde a empregada o lava e talvez o quebre, o que pode ou não custar-lhe o emprego, etc. Mas este mesmo copo, visto por seres diferentes, pode ser milhares de coisas, pois cada um transmite ao que vê uma carga de afetividade; ninguém o ve tal como é, mas como seus desejos e seu estado de espírito determinam. (BUÑUEL, 1970: 337) Pode-se dizer que o surrealismo é presente em um momento do videoclipe, como quando Jerry vê um palhaço na rua, que está com um buque de rosas e sorridente; porém do ponto de vista do personagem, o palhaço é macabro, com maquiagem escura e olhar sério, e está comendo o buque de rosas. Vale ressaltar que o palhaço é o vocalista da banda, o Tato, e isso pode causar confusão no espectador e deixar incerto se aquela cena é de fato verdade ou apenas uma criação da mente de Jerry. Nota-se na festa que os membros da banda estão lá, mas nesse momento apenas como participantes e não como banda. Foi importante ressaltá-los e mostrá-los, pois uma das características do Jerry é que ele carrega um pouco de cada um dos integrantes da banda, já que são eles que escrevem as canções. A idéia inicial de Jerry, enquanto ele era apenas um nome nas músicas, era o fato de ele ser um pouco de cada um dos meninos, ter pequenos traços de personalidade de cada, dependendo da canção; agora com o videoclipe, o personagem foi aprofundado e já não é mais tão semelhante aos membros, mas é importante sublinhar que tal semelhança existe, por menor que seja, e por isso eles devem aparecer no mesmo ambiente que Jerry nas cenas finais do clipe. As imagens irão reforçar as palavras na letra, e com isso unir à música a elas. Isso resultou num videoclipe oficial da canção, sempre dialogando com a banda e a própria. A divulgação será feita através de mídias sociais, como o Facebook e o YouTube. A banda já tem sua página no Facebook, como mencionado acima, em que algumas pessoas já “curtem”, ou seguem as atividades que são postadas pelos próprios membros, como forma de visibilidade e meio de atingir um público ouvinte. A página contém fotos, biografia e 33 informações gerais de shows e atividades da banda. Como complemento a este perfil, entrará o videoclipe, em conexão ao YouTube 34 4. Not So Fine: diretriz visual As cenas em que o personagem Jerry aparece são predominantemente vermelhas, enquanto ele usa roupas verdes, para dar contraste e trabalhar com a contraposição dessas duas cores, que são complementares. A primeira cena, porém, é em cores frias e neutras, em que ele acorda em seu apartamento e começa seu dia. Nas partes em que é a abordada a mente do Jerry, ele está numa sala de paredes vermelhas, vestido de preto, dando sensação de claustrofobia, pois ele fica no canto desta sala, rodeado pelas paredes. Na cena principal, a da festa, o ambiente é cercado de luzes vermelhas e uma luz azul, para quebrar um pouco o excesso da cor quente, enquanto todos os figurantes estão vestidos também de cores quentes. Nesse ponto, Jerry já está sofrendo mais intensamente com seus sentimentos, e por isso o ambiente fica mais escuro e a imagem mais granulada à medida que o videoclipe se desenrola, indicando a confusão em que ele se encontra emocionalmente. Já as cenas da banda, em que eles tocam em um terreno em meio de escombros, são predominantemente em cores frias, para contrastar com as cenas do Jerry, mostrando que são dois momentos diferentes dentro do videoclipe. Devido ao estado emocional do personagem Jerry, a maquiagem aplicada foi sempre para dar a impressão de que ele tinha olheiras e estava cansado. Isso foi feito através de sombra preta mesclada com marrom e roxo ao redor de seus olhos, fazendo-os parecer fundos e escuros. Essa maquiagem foi reforçada nas cenas de sua mente, simplesmente para exaltar que aquele momento é interno, e suas emoções estão mais á flor da pele. Quanto ao palhaço, ele mesmo executou sua maquiagem, pois ele já segue uma linha visual própria, e mesmo quando ele virou o “palhaço negro”, continuou em relação á sua maquiagem colorida, mas em preto e branco e com aplicações mais profundas do preto. Todos os figurantes presentes na festa cooperaram ao se vestirem sempre de cores quentes ou de preto. Foram adicionados acessórios, como braceletes, colares, coletes e entre outros, para complementar o visual de cada um e as meninas usaram maquiagem carregada. Isso foi importante para complementar a estética do ambiente, que estava mais escuro e granulado, e somado à canção “Not So Fine” era necessário que as pessoas perecessem pertencentes ao nicho do rock, e o todo foi montado sempre mantendo características estéticas que dialogam com a identidade visual da própria banda. 35 4.1. Perfil do público espectador O público alvo deste trabalho são jovens ligados em música. Além de ter o intuito de atrair novos ouvintes para a banda, também pretende atingir pessoas interessadas em música e dispostas a descobrir novos sons e estilos, possivelmente atraindo alguém influente o suficiente para ajudar a banda a crescer. O videoclipe serve como porta de entrada para os demais trabalhos da banda, é um material para se apresentar em concursos e festivais de bandas independentes, assim como um atrativo para a página oficial, que além de disponibilizar as canções, agora tem um videoclipe oficial. Vale ressaltar que os ouvintes nesse caso seriam da tribo do rock, que já escutam bandas como AC/DC, Guns ‘n Roses, Aerosmith, etc, pois se familiarizariam mais com o estilo da banda Johnnybox. 4.2. Referências Audiovisuais Algumas obras audiovisuais nortearam a criação do videoclipe de “Not So Fine”, tanto em termos psicológicos do personagem, conceitual e estético do vídeo em si. Abaixo, estão listadas tais obras. Videoclipe: “Tainted Love” Artista: Marilyn Manson Direção: Philip Atwell Ano: 2001, EUA Link: http://www.youtube.com/watch?v=XkKulSH2nNc Nesse videoclipe, foram utilizados reflexos de luzes coloridas na parede em determinadas cenas, e foi daí que surgiu a idéia de que poderia ficar interessante durante a festa em que Jerry passa as cenas finais do clipe do Johnnybox. No vídeo de Manson, é apenas um pequeno detalhe, já no caso de “Not So Fine”, o artifício é uma característica dominante das cenas finais, pois climatiza o videoclipe e contribui para potencializar a forma como os sentimentos de Jerry são abordados. 36 Figura 13 - Imagem aos 2'13" do videoclipe "Tainted Love" Videoclipe: “Bug Eyes” Artista: Dregd Direção: Philip Andelman Ano: 2005, EUA Link: http://www.youtube.com/watch?v=JQz_WjTn68U O que chamou a atenção nesse videoclipe também foi um elemento do cenário; a banda Dregd aparece tocando em um quarto todo revestido com um papel de parede em tons vinhos e com desenhos tribais, de característica antiga, detalhe que foi usado de referência para cobrir o grande espelho da sala em que acontece a cena final do videoclipe “Not So Fine”. Em “Not So Fine”, o espelho foi revestido por um tipo de papel de presente marrom com desenhos arabescos em rosa, mas devido ao reflexo das luzes vermelhas nesse papel, deu-se a impressão de que ele é vermelho. Figura 14 - Imagem aos 0'08" do videoclipe "Bug Eyes" 37 Videoclipe: “O Castelinho na Rua Apa” Artista: Visitantes Direção: Rafa Calil Ano: 2011, Brasil Link: http://www.youtube.com/watch?v=ES1Wgcbid1E Aqui, a locação escolhida para o vídeo foi um terreno abandonado, onde há uma construção inacabada. Por ser um local remoto, fica claro que a equipe e a banda tiveram bastante liberdade e mobilidade, conseguindo gravar inteiro em apenas uma locação. Foi a partir disso que foi considerada a utilização de algum terreno desocupado, mas no caso de Johnnybox, sem nenhuma obra iniciada. Figura 15 - Imagem aos 1'06" do videoclipe "O Castelinho na Rua Apa" Videoclipe: “Jesus of Suburbia” Artista: Greenday Direção: Samuel Bayer Ano: 2005, EUA Link: http://www.youtube.com/watch?v=FNKPYhXmzoE Este clipe do Greenday aborda a vida de um jovem que apresenta diversos problemas, tanto familiares quanto sociais, e ele parece perdido o tempo inteiro, vagando e fazendo coisas sem pensar, o que o leva a passar por situações difíceis que ele mesmo não sabe lidar. Jerry foi levemente espelhado nesse personagem, principalmente quando se trata da maquiagem nos olhos e um pouco do perfil psicológico e emocional, de não saber como lidar 38 com seus sentimentos e simplesmente vagar pela vida sem rumo e sem resolução. Em “Jesus of Suburbia”, o personagem é muito agressivo e suas características físicas deploráveis também são muito evidentes, enquanto Jerry foi mais por uma linha emocional, depressiva e sutil, pois Jerry, diferentemente do personagem do Greenday, apresenta ambigüidade e bloqueio sentimentais. Figura 16 - Imagem aos 0'00" do videoclipe "Jesus of Suburbia" Filme: Um Corpo Que Cai (Vertigo) Direção: Alfred Hitchcock Ano: 1958, EUA Sinopse: “Em São Francisco, o detetive aposentado John 'Scottie' Ferguson (James Stewart) sofre de um terrível medo de alturas. Certo dia, encontra com um antigo conhecido, dos tempos de faculdade, que pede que ele siga sua esposa, Madeleine Elster (Kim Novak). John aceita a tarefa e fica encarregado da mulher, seguindo-a por toda a cidade. Ela demonstra uma estranha atração por lugares altos, levando o detetive a enfrentar seus piores medos. Ele começa a acreditar que a mulher é louca, com possíveis tendências suicidas, quando algo estranho acontece nesta missão.” In: http://www.imdb.com/title/tt0052357/ No caso dessa obra de Hitchcock, foi retirado como referência o uso da contraposição das cores vermelho e verde. Essa característica é presente no filme onde em algumas cenas apresentam detalhes predominantemente em cores quentes enquanto os personagens vestem figurinos em cores frias, dando preferência ao verde no vermelho. No videoclipe “Not So Fine” isso foi explorado abertamente em termos de cores quentes/frias e de forma muito mais explicita do que no filme de Alfred Hitchcock, sendo que 39 a idéia era de que apenas Jerry usasse verde para que assim ele fosse o foco de contraste nas cenas. Os membros da banda então optaram por cores frias, como azul e roxo, para se diferenciarem dos outros elementos de cenário, que eram todos em cores quentes. Filme: Em Nome Do Pai (In The Name of the Father) Direção: Jim Sheridan Ano: 1993, Irlanda/Inglaterra Sinopse: “Gerry era um pequeno delinqüente de Belfast, durante os anos 70. Depois de ir para a Inglaterra, é injustamente acusado como um dos quatro terroristas de Guildford, pegando prisão perpétua e descobrindo, aos poucos, suas forças mais profundas para lutar contra tal injustiça.” In: http://www.imdb.com/title/tt0107207/ A forma como o personagem central do filme foi construído é levemente parecida com Jerry, mas principalmente em termos psicológicos, do jovem rebelde e perdido. Ironicamente, o personagem de Sheridan e o de Johnnybox têm o mesmo nome, mas escrito de forma diferente. 40 5. Etapas da realização 5.1. Pré-produção Foi necessária a criação de um grupo na rede social Facebook, para facilitar a comunicação de todos os envolvidos no projeto. Considerando que são cinco membros da banda e a equipe central de gravação foi composta por mais seis pessoas, ficaria muito complicado passar informações e novidades através de outro meio senão a rede social. Dessa forma, a troca de informações, as novidades, as discussões e as decisões foram feitas de forma mais rápida e prática, com todos a par das situações. Também tornou possível que todo mundo acompanhasse o processo de pré produção, já que todas as mudanças e as novidades eram postadas no grupo, em foto e/ou documento. O cronograma ficou constantemente disponível e foi alterado diversas vezes de acordo com a disposição dos envolvidos. Foi uma forma colaborativa de produção, em que todos podiam opinar e sugerir e assim discutir o projeto. Só quando necessário, eram marcadas reuniões presenciais, principalmente quando havia visitação de locação e alguma alteração muito grande e representativa no roteiro. Foi uma saída boa para a comunicação também pela mobilidade e pela disponibilidade, já que todos moram muito longe uns dos outros e cada um tem exerce alguma atividade durante a semana, dificultando os encontros pessoalmente. 5.1.1. Personagens Jerry: homem de mais ou menos 20 anos de idade, com cabelos escuros e barba. Descabelado e desleixado, ele usa uma camiseta verde por debaixo da camisa xadrez marrom e verde, com calças jeans surradas e um All Star preto. Tem olheiras o tempo inteiro, e o rosto um pouco pálido. Fuma cigarro Marlboro vermelho, pois tem o filtro amarelo ficando visualmente mais bonito na imagem. Para melhor visualizar o personagem “Jerry”, Gustavo “Goiaba”, guitarrista da Johnnybox, desenhou um perfil, aprovado por todos os integrantes: 41 Figura 17 - Croqui do personagem "Jerry" 42 Abaixo, o personagem Jerry, representado por Mauricio Ludewig, no videoclipe: Figura 18 - Mauricio Ludewig como "Jerry" Na cena de seu estado emocional, ele usa uma camiseta preta com detalhes em vermelho e uma jaqueta de couro preta por cima. Também veste um chapéu preto, tudo para se sobressair ao ambiente completamente vermelho em que se encontra. A maquiagem preta, simulando as olheiras, está mais forte nesse momento. Figura 19 - Mauricio Ludewig como "Jerry", em seu estado emocional Banda em geral: Era necessário que os membros estivessem em cores frias para diferenciá-los dos figurantes na festa e para entrarem em harmonia com a cena do terreno que faz contraste com a maioria das cenas do Jerry. A escolha dos óculos escuros na gravação do 43 terreno foi feita pela própria banda, para assim diferenciar os membros com os instrumentos e o vocalista, que não usou óculos escuros e ficou de chapéu. A identidade visual da banda transita entre cores escuras do rock pesado e camisas xadrez do rock grunge, enquanto o vocalista sempre se apresenta de chapéu, dando carisma e presença à banda. Figura 20 - Banda Johnnybox tocando na gravação Tato: de acordo com a identidade visual da banda, o vocalista veste uma camiseta verde com um ponto de interrogação e um colete escuro por cima. A camiseta foi escolha dele, pois pretende mantê-la como marca registrada; o chapéu também funciona como sua marca registrada, porém ele não está usando na cena da festa. Figura 21 - Tato, vocalista da banda Johnnybox 44 Gustavo “Goiaba”: sempre com alguma camiseta de cor neutra e sem estampa e calça preta. Por ser ruivo e sua guitarra ser laranja e amarela, as cores neutras se harmonizaram com o conjunto. Figura 22 - Gustavo, guitarrista da banda Johnnybox Fabio Couto: no dia do terreno, ele optou por camiseta preta com detalhes em azul, para poder ter algum toque de cor fria em sua roupa. Já na festa, ele optou por algo mais neutro, como a camiseta escura com a jaqueta jeans, que foi o suficiente para distingui-lo como membro da banda. Figura 23 - Fabio, guitarrista da banda Johnnybox 45 Caio Al-Behy: no terreno, ele vestiu uma regata, pois movimentou muito os braços e precisava dessa mobilidade. Funcionou, pois mesmo estando mais no fundo, ele é facilmente reconhecido. Na festa, ele veste uma camisa xadrez azul escura enquanto conversa com a namorada que está de vermelho. Figura 24 - Caio, baterista da banda Johnnybox Rafa Pontes: ele usou a mesma roupa nos dois momentos, no terreno e na festa. Mantendo assim coerência visual, deixando-o facilmente identificável em ambos os momentos. Figura 25 - Rafael, baixista da banda Johnnybox Palhaço: o palhaço tem dois lados, o lado normal, em que ele é colorido, sorridente e amigável. Está de passagem e carrega um buque de rosas vermelhas. E o outro lado que é o visto pelo Jerry, em que o palhaço é escuro, macabro e melancólico. Está parado, encarando o personagem enquanto come o buque de rosas. Ele reforça o fato de que Jerry não consegue ver as coisas como elas são, ele apenas enxerga o que a sua mente determina, fator contribuído pelo o palhaço ser interpretado por Tato, o vocalista da banda, deixando ambígua a veracidade dos fatos nesse momento do vídeo. 46 Figura 26 - Tato como palhaço feliz Figura 27 - Tato como palhaço mórbido Figurantes: aparecem apenas na cena da festa, e estão todos vestidos de vermelho, amarelo, laranja e/ou preto, com acessórios como braceletes, bota e colares, para dar a impressão de uma festa do nicho do rock e se comunicar com o ambiente em si. 5.1.2. Locações A primeira locação a ser estabelecida foi o terreno em que a banda toca a música. Foi nesse ponto que a idéia inicial do roteiro foi alterada, pois era pra ser um show nesse terreno em que Jerry chegaria e assistiria junto com uma multidão, a poeira subiria, e ele perderia o cigarro quando entrasse em um bate cabeça. Isso teve que mudar devido ao terreno ser todo de grama e de ter escombros em volta. Foi a partir disso que o roteiro passou para o que é de fato: Jerry vai a uma festa e banda tocando é um momento diferente, que acontece em paralelo à trajetória do personagem. Os escombros serviram para decorar o cenário, e a banda pôde transitar pelo ambiente. 47 Figura 28 - Locação um: terreno A segunda locação foi o apartamento da festa. Normalmente é um ambiente claro e limpo, foi com a adição de objetos de cena que demos a sensação de cheio, sujo e escuro. Havia um grande espelho que teve que ser coberto para melhor mobilidade da equipe de gravação, e a saída foi cobri-lo inteiro com um papel de presente. Figura 29 - Locação dois: apartamento da festa, vista da mesa Figura 30 - Locação dois: apartamento da festa, vista da sala A próxima locação foi o apartamento de Jerry, o da primeira cena, onde ele acorda. Novamente houveram mudanças de roteiro, onde originalmente ele acordaria no sofá. Mas 48 devido à ausência de um sofá, ficou decidido que seria um colchonete, o que contribuiu para a caracterização do personagem como um cara desleixado e largado. Figura 31 - Locação três: apartamento do Jerry Depois, estudamos a Rua Augusta, decidindo que o personagem passaria por trechos onde há muitos grafites nas paredes. Figura 32 - Locação quatro: Rua Augusta Por último, foi produzida a locação do estado emocional de Jerry, ou seja um quarto com paredes vermelhas. Apenas uma dessas paredes é de fato uma parede vermelha, a outra foi montada com papelão pintado e colado, para podermos usar o ângulo de encontro das duas paredes, uma verdadeira e a outra falsa. São visíveis as partes de encontro entre os papelões, 49 mas isso não foi um problema, pois se tratando da mente do personagem, causa uma idéia de fragmentação e claustrofobia. Figura 33 - Locação cinco: estado emocional de Jerry (quarto vermelho) 5.1.3. Roteiro Devido às condições de locação, a idéia original foi alterada; inicialmente, Jerry acordaria, andaria pela rua e por fim chagaria a um show da banda Johnnybox em que estariam tocando a canção “Not So Fine”, sendo que cenas desse show seriam mostradas paralelamente ao dia do Jerry; então entraria em um bate cabeça, perdendo seu cigarro na multidão, e tendo que procurá-lo por meio de poeira, pernas e terra. Ao achá-lo quebrado e pisado, ficaria frustrado. As primeiras cenas foram mantidas: ele acorda e anda pela rua. Porém, o terreno fornecido para a gravação não era arenoso, e sim gramado. Isso mudou muita coisa, pois a poeira e a sujeira faziam parte do contexto. A saída encontrada foi alterar a cena final, ao invés de um show da banda, Jerry chega a uma festa, em que os membros da banda estão lá, como convidados, interagindo com as pessoas. O personagem se sente deslocado e transtornado, e o final também se manteve, no meio de seu transtorno psicológico, ele perde o cigarro, e procura pelo chão, em um ambiente escuro e com pessoas passando ao seu redor. Novamente a idéia inicial foi mantida, pois o cigarro está quebrado e pisado, deixando Jerry frustado. Mesmo assim, o terreno foi usado para que a banda tivesse uma parte só dela, em que estão de fato tocando a canção, mas deixando explicito que é um momento diferente dentro do videoclipe. Para a melhor elaboração do roteiro, foi feito o argumento, que explica a história e trajetória do personagem Jerry. E após, foi elaborado o roteiro literário. 50 ARGUMENTO Jerry é um menino de mais ou menos 20 anos de idade e mora sozinho na cidade de São Paulo. Leva uma vida relativamente agitada, já que não consegue ficar o dia inteiro no mesmo lugar. Ele anda pela cidade, encontra com seus poucos amigos e vai a festas fechadas nas casas desses seus conhecidos, para ouvir música e curtir a noite. O maior problema de Jerry, porém, é que ele não se sente bem, ele não entende direito o que está sentindo, mas sabe no fundo que não está feliz com o estilo de vida que segue. No entanto, essa percepção de infelicidade não é explícita para Jerry, ele não conta para seus amigos e também não admite para si mesmo. Apenas continua a fazer o que sempre faz: andar pela cidade e ir a shows. Seu dia começa como qualquer outro, a luz do sol entrando pela janela da sala, e acordando-o, já que ele prefere dormir em seu sofá rasgado todas as noites. Com a entrada da luz do sol, Jerry desperta e começa seu dia, relutante a levantar, mas sai de casa. Acende seu cigarro que estava guardado desde o dia anterior, apoiado na parte superior de sua orelha, e ao fumá-lo, substitui por outro, mas nunca encosta nesse segundo, apenas o deixa lá, como garantia. Ele anda pela rua e sua percepção está diferente. O mundo parece estar mais escuro e distorcido; as pessoas não têm faces nem feições normais, apenas borrões e manchas. Ele prefere ignorar o que vê, e continua vivendo como se nada estivesse acontecendo, ele não divide suas percepções sombrias com ninguém, tudo isso mantém-se guardado em sua mente. Com isso, suas emoções e pensamentos ficam confusos e desconexos, mas Jerry apenas continua seu dia, enquanto a banda JohnnyBoy toca Not So Fine num terreno abandonado, com entulhos e sujeira. Jerry segue com seus planos do dia, e vai à festa no apartamento de uma amigo, não muito longe de casa. Ao chegar lá, se depara com situações típicas de festas fechadas, pessoas conversando, rindo alto, jogando beerpong e paquerando. Ele tenta participar de algumas conversas, mas não consegue se concentrar; senta-se no sofá, mas se sente deslocado, pois há um casal ao seu lado. Ele levanta e observa o local. Horas, tudo parece acelerado, horas em câmera lenta e ele precisa se sentar. Sua visão não se foca mais, e ele não sabe o que está de fato acontecendo e o que é imaginação. Ao se sentar num canto da sala, ele esfrega a cabeça tentando voltar a realidade. Neste momento, percebe que seu cigarro de garantia, aquele que fica na orelha, não está mais lá. Com isso, vai procurá-lo, ainda agachado, e engatinhando 51 pela sala, desviando das pernas das pessoas. Quando o encontra, ele está amarrotado e pisado, o que deixa Jerry frustrado. 52 VIDEOCLIPE “NOT SO FINE” Banda JohnnyBoy escrito por Julia Tereno 1ª versão 05/08/2012 53 1. INT. SALA DO APARTAMENTO - DIA FADE IN: A luz do sol domina a SALA, e em um COLCHONETE SURRADO, deita JERRY, com o braço esquerdo por cima dos olhos e um CIGARRO AMASSADO em sua orelha direita. Ele ainda usa as roupas da noite anterior, MEIAS, JEANS e uma CAMISETA PRETA. A sala está bagunçada com COPOS VAZIOS pela mesa, MAÇOS DE CIGARROS AMASSADOS e uma BANDEJA com um CARTÃO DE CRÉDITO no CHÃO. MÚSICA I’ve been down, couldn’t be found I’ve been walking all around A luz começa a incomodar e Jerry acorda. Ainda deitado, esfrega os olhos. Devagar ele se senta no colchonete e olha para a luz do lado de fora da janela. Ele esfrega os olhos novamente, respirando fundo. Pega o cigarro que está em sua orelha, e o acende. Esfrega os olhos uma última vez e se levanta. Andando em direção à janela, ele se espreguiça. CUT TO: 2. EXT. RUA AUGUSTA - DIA MÚSICA I’ve been down, way underground Don’t know what to do, just want to get out Jerry sai do prédio, e coloca uma CAMISA VERDE MUSGO por cima de sua CAMISETA PRETA, e a deixa aberta. Ainda andando, ele acende um cigarro. MONTAGEM: 1.MAÇO DE CIGARRO aberto, Jerry puxa um cigarro. 2.Coloca o CIGARRO na ORELHA. 3.MAÇO DE CIGARRO, Jerry puxa mais um cigarro 4.Cigarro na BOCA, Jerry acende e continua a andar. 54 CUT TO: 6. INT. MENTE DO JERRY - DIA MÚSICA Every time I see you I get mad Em um fundo VERMELHO ESCURO, Jerry senta encostado na parede, joelhos para cima, com um CHAPÉU e de cabeça baixa. BACK TO: 4. EXT. RUA AUGUSTA - DIA MÚSICA Cause I know I wanna get loose, but it’s getting bad Jerry se encosta em um POSTE DE LUZ e aguarda para atravessar a rua, pensativo e fumando seu cigarro. CUT TO: 5. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA MÚSICA You always say, won’t get in my way, you always say it’s not every day Num TERRENO aparentemente abandonado, a BANDA JOHNNYBOY toca a música “Not So Fine”. Estão todos vestidos de CORES FRIAS, e interagem um com os outros enquanto tocam. O vocalista, TATO, se move pelo local, enquanto os GUITARRISTAS, GUSTAVO e FÁBIO tocam animados, virados um para o outro. BACK TO: 6. EXT. RUA AUGUSTA - DIA MÚSICA 55 Let me just say, let’s not be late, forget about the past, live it day by day Jerry sobe a Rua Augusta, andando com atitude e sem olhar para as pessoas ou para os lados. As pessoas na rua abrem espaço para ele passar. CUT TO: 7. INT. MENTE DO JERRY - DIA MÚSICA Every time I see you I get mad Na mesma posição, sentado e encostado na parede, Jerry apenas olha para cima, em direção à câmera. BACK TO: 8. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA MÚSICA Cause I know I wanna get loose, but it’s getting bad Banda tocando. TATO cantando de frente para o BAIXISTA, RAFAEL. MÚSICA cause when Jerry says he’s all right, he says he’s all right, I think he’s not so fine O BATERISTA, CAIO, está mais atrás do que o resto da banda, e neste momento, vê-se Caio em PRIMEIRO PLANO, de COSTAS, enquanto os outros integrantes da banda interagem e se movem pelo local. CUT TO: 9. INT. MENTE DO JERRY - DIA 56 MÚSICA Maybe he’s hiding the truth in his mind, I think he’s not so fine Jerry está de costas e de pé, com as MÃOS apoiadas na PAREDE VERMELHA, e sua cabeça baixa. Ele olha para trás, em direção à câmera. BACK TO: 10. EXT. RUA AUGUSTA - DIA MÚSICA I can’t stay, through the day, I can’t stay and lose my way Um PALHAÇO está na rua, ele brinca com as pessoas que passam e tenta passar alegria e humor pela cidade. Enquanto Jerry continua a subir a rua ele avista o palhaço, e então pára de andar um pouco, pois não consegue ver direito. Ele olha novamente. MÚSICA I don`t know, if you know, but I want things to grow Agora, na visão de Jerry, o palhaço não está alegre e nem espalhando humor. Ele está apenas PARADO, olhando para o Jerry, segurando um CORDÃO COM UM BALÃO AZUL ESTOURADO, com a MAQUIAGEM BORRADA. Jerry balança a cabeça, ignora a visão e continua seu caminho. CUT TO: 11. INT. MENTE DO JERRY - DIA MÚSICA Night and day, Jerry says get out of my way Jerry está de pé, encostado na parede vermelha, com o rosto levemente levantado e as mãos nas costas, encarando a câmera. 57 MÚSICA Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay Ele anda em direção a câmera e olha para dentro da lente, inclinando a cabeça para o lado, ainda com as mãos nas costas. CUT TO: 12. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA MÚSICA You always say, won’t get in my way, you always say it’s not every day Let me just say, let’s not be late, forget about the past, live it day by day Banda tocando no terreno. CUT TO: 13. INT. APARTAMENTO - NOITE MÚSICA Night and day, Jerry says get out of my way Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay Jerry entra no partamento, onde está tendo uma FESTA. Ele logo vê GRUPOS DE PESSOAS conversando e vários COPOS VERMELHOS espalhados pela SALA. Jerry continua a escanear o ambiente, tudo parace um pouco devagar e ele se sente desconexo. MÚSICA cause when Jerry says he’s all right, he says he’s all right, I think he’s not so fine Maybe he’s hiding the truth in his mind, I think he’s not so fine 58 Ele se aproxima do grupo mais próximo, em que estão o RAFAEL, uma MENINA (BLANCA) e UM MENINO conversando. Ele tenta participar da conversa, mas não consegue. Estão todos gesticulando e rindo. Como não conseguiu participar, sai da roda e se senta no SOFÁ. CUT TO: 14. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA RAFAEL tocando. BACK TO: 15. INT. APARTAMENTO - NOITE Ainda sentado no SOFÁ, Jerry se inclina para frente e depois se encosta. Está inquieto quando percebe um CASAL ao seu lado, CAIO e uma MENINA, que estão flertando, e nem notam a presença de Jerry. Ele olha, incomodado. CUT TO: 16. INT. MENTE DO JERRY - DIA Ele olha para a câmera lateralmente, e passar os dedos pelo CHAPÉU. BACK TO: 17. INT. APARTAMENTO - NOITE Jerry decidi se levantar. Vai em direção ao corredor, e nota uma MESA com vários COPOS VERMELHOS em cada lado, e GUSTAVO e TATO, jogam BEER PONG. (CONTINUED) CONTINUED: CUT TO: 18. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA 59 Os GUITARRISTAS, FABIO e GUSTAVO, tocando. BACK TO: 19. INT. APARTAMENTO - NOITE Jerry tenta entrar no BANHEIRO, mas FABIO o impede, pois está lá dentro, olhando no ESPELHO e usando a PIA. Jerry aguarda, encostado na parede do lado de fora. CAIO passa com a MENINA, de mãos dadas rumo ao quarto. FABIO sai do banheiro e Jerry entra. MÚSICA cause when Jerry says he’s all right, he says he’s all right, I think he’s not so fine Jerry se olha no espelho. CUT TO: 20. INT. MENTE DO JERRY - DIA MÚSICA Maybe he’s hiding the truth in his mind, I think he’s not so fine De olhos fechados, e bem próximo à câmera, Jerry grita. BACK TO: 21. INT. APARTAMENTO - NOITE MÚSICA cause when Jerry says he’s all right, he says he’s all right, I think he’s not so fine Maybe he’s hiding the truth in his mind, I think he’s not so fine Jerry sai do banheiro e pára no meio da SALA, ele olha em volta, e de repente, tudo parece balançar e tremer. Ele esfrega as mãos nos cabelos, e seu CIGARRO que estava na 60 ORELHA cai, mas ele não percebe e se senta contra a PAREDE DA SALA. Esfrega seu rosto e cabelos. CUT TO: 22. EXT. TERRENO ABANDONADO - DIA MÚSICA not so fine Banda tocando, todos em campo. BACK TO: 23. INT. APARTAMENTO - NOITE MÚSICA not so fine Jerry nota que seu cigarro sumiu, e desesperado vai procurálo, engatinhando pelo chão e desviando das PERNAS das pessoas na festa. Quando o acha, o cigarro está quebrado e pisoteado, e ele fica frustrado. FIM FADE OUT. Naturalmente, durante a gravação e a edição, algumas cenas foram excluídas, por não se encaixarem direito no fluxo da narrativa, havendo então essa segunda pequena alteração de roteiro literário. Não foi realizado um roteiro técnico em virtude da proposta de gravação. Era apenas necessária uma organização de cenas por ordem de filmagem e planos para que a direção de fotografia não ficasse solta. Portanto a opção foi mais simplificada, e foi criada uma tabela apenas para guiar a posição da câmera. 61 5.2. Produção Os passos da produção foram: casting para o personagem Jerry, montagem dos cenários nas locações pré-estabelecidas, definição da equipe, gravação e por fim, edição. 5.2.1. Casting O casting foi realizado em dois dias. Através do grupo “Banco de atores” no Facebook, foi disponibilizado a descrição do personagem e uma breve explicação do projeto, e os interessados enviariam e-mail com fotos e CV para um e-mail específico do projeto. Para os selecionados ao casting, foi enviada uma breve descrição do perfil psicológico e visual de Jerry e o argumento do videoclipe, para que os atores se preparassem e entendessem a proposta. Foram oito atores pré selecionados, mas apenas cinco compareceram. O escolhido foi Maurício Ludewig, por apresentar mais semelhanças de perfil visual e conseguir entender o perfil psicológico do personagem. Foi pedido que ele encenasse a cena da mente do Jerry, pois já que é um videoclipe e não há diálogos, era necessário ver se o ator conseguia transmitir sentimentos através de olhares e expressões. Isso foi feito ao som da música “Not So Fine”. 5.2.2. Montagem dos cenários A primeira cena, em que Jerry acorda em seu próprio apartamento, evidencia como o personagem é desleixado, já que o local apresenta várias coisas jogadas, ele dorme em um colchonete rasgado, e não troca de roupas. Figura 34 – Cenário do apartamento de Jerry 62 A Rua Augusta é a rua que ele sobe, ao sair de casa, e os grafites espalhados pelos muros ao longo do trajeto contribuem dando mais uma vez, um ar de bagunça e sujeira. Figura 35 - Cena na Rua Augusta A festa em que ele vai acontece num apartamento cheio e escuro, todo decorado com lâmpadas vermelhas e abajures; copos, garrafas e fichas de pôquer estão pelo chão e pelas mesas, enquanto as pessoas conversam e fumam pelo ambiente. As pessoas vestem roupas de cores quentes ou estão de preto, e apenas os integrantes da banda e Jerry estão de corem frias, para diferenciá-los dos outros. O apartamento foi decorado com quadros de bandas de rock, um mancebo com vários casacos e acessórios pendurados e um papel de parede marrom e rosa, que ao brilho de lâmpadas vermelhas, parece ser todo vermelho. Tudo isso reforça a idéia de lugar cheio, sujo e bagunçado, onde Jerry se sente deslocado. Abaixo, imagens do ambiente vazio: 63 Figura 36 - Cenário da festa no apartamento Figura 37 - Cenário da festa no apartamento, sala Figura 38 - Corredor da festa no apartamento, teste de luz O terreno em que a banda toca foi decorado com escombros, como pedaços de madeira e restos de objetos encontrados por lá, novamente dando essa impressão de sujeira, 64 mas também um pouco de liberdade. Nesse ponto, entra em comunicação com o próprio som da canção que é rápido e animado, apesar da letra se tratar de um tema melancólico. Figura 39 - Cenário do terreno 5.2.3. Equipe Vale mencionar que para a cena da festa, foi necessária a escalação de alguém para fazer a direção de figurantes. Havia muitas pessoas para essa cena, e era preciso que durante as gravações o diretor de figurantes lembrasse que eles não podiam olhar para a câmera, ficar parados ou olhar para o ator, já que seu personagem foi ignorado pelas pessoas da festa para que se sentisse mais deslocado. Outro ponto importante disso, é que a diretora geral e a de fotografia precisavam se focar nos membros da banda, que tinham cada um uma função dentro da festa, no ator e na movimentação dentro do ambiente, sem ter que se preocupar com os figurantes. Seguem abaixo, os nomes e posições da equipe envolvida no projeto: Jerry: Mauricio Ludewig Palhaço: Pelúcio (Marcel Ferrari Longuini “Tato”) Banda: Caio Al-Behy (bateria), Fabio Couto (guitarra), Gustavo Loiola Miranda (guitarra), Rafael Pontes (baixo) e Tato Ferrari Longuini (vocal) Direção: Julia Tereno Produção: Blanca Rajai, Julia Tereno, Rafael Pontes Direção de fotografia: Vic von Poser 65 Direção de arte: Blanca Rajai e Marcia Rajai Assistente de direção: Jessica Tauane Assistentes de produção: Filipe Salvador e Jessica Tauane Assistente de fotografia: Nadia Palma Direção de figurantes: Jessica Tauane Edição: Julia Tereno e Vic von Poser Finalização: Maquiagem: Blanca Rajai, Gika Torres e Natalia Contave Figurino (festa): Gika Torres Colaboração: Ana Lucia de Sousa, Ana Paula Bohnenberger, André Cobra, Camila Tereno, Deise Martins, Helena Duppre, Linha BOMB!, Maria Lucia Tereno, Mauro Augusto de Sousa, Murilo Pelissoni, Stella Miranda,VUC Express. Figurantes: Blanca Rajai, Fernanda Brito Santos, Gabriel Nicolau Firmino, Helena Duppre, Isabela Maria de Oliveira, Jéssica Bonini Torres, Karolina Lessa, Larissa Oliveira Abdalla, Mariana Crego, Mayara Ferrari Longuini, Murilo Pelissoni, Nadia de Palma, Victor Rios 5.2.4. Gravação A gravação foi realizada em dois dias, sendo as cenas separadas por mobilidade e distância entre uma locação e outra. As primeiras, do terreno e da mente do Jerry ocorreram em Alphaville, desde manhã até o pôr do sol, pois usamos a luz natural para a gravação externa. Enquanto as demais ocorreram em São Paulo - capital, começando de manhã no apartamento do Jerry que é em um prédio na Rua Augusta, facilitando a gravação das cenas seguintes que eram na própria rua. A festa aconteceu em um apartamento no Morumbi, onde foi gravada no final da tarde e a noite, do mesmo dia. Não foi necessária a captação de áudio, pois a qualidade não seria boa o suficiente para colocar no videoclipe pronto, então, a canção gravada em estúdio foi sincronizada ao vídeo na etapa de finalização, pois essa gravação está limpa e em alta qualidade. Seguem imagens das cenas: 66 1. ESTADO EMOCIONAL DE JERRY Figura 40 - Cena do estado emocional de Jerry 2. TERRENO Figura 41 - Cena da banda tocando 67 3. APARTAMENTO DO JERRY Figura 42 - Cena de Jerry em seu apartamento 4. RUA AUGUSTA Figura 43 - Cena de Jerry na Rua Augusta 68 5. FESTA Figura 44 - Cena da festa no apartamento, entrada e sala Figura 45 - Cena da festa no apartamento, mesa de beer pong Figura 46 - Cena da festa no apartamento, corredor 69 5.2.5. Edição Para a edição, foi necessário realizar uma decupagem do material bruto, para facilitar o corte e a montagem das cenas. Foram separados os minutos dentro de cada arquivo de vídeo das cenas gravadas. Isso facilitou na montagem do esqueleto do vídeo, dando mais noção para os cortes e as cenas escolhidas. 5.2.6. Créditos finais Por motivos acadêmicos, os créditos finais sobem como em um curta metragem quando o vídeo termina. Porém, como produto comercial, a equipe será creditada na área de descrição do vídeo quando este estiver disponível no YouTube, e não dentro do vídeo em si, para seguir o padrão de videoclipe, onde apenas o nome da canção e da banda aparecem no início e no final, na lateral esquerda de baixo da tela. 5.3. Pós-produção: finalização e divulgação A finalização foi centrada na sincronização do áudio da canção com as imagens. O mais importante era que esse áudio correspondesse às cenas da banda tocando, como se tudo tivesse sido captado ao mesmo tempo. Como todo o material havia sido decupado, os minutos já estavam todos planejados e as cenas da banda no vídeo já haviam sido previamente pensadas para a sincronização. Foi utilizado um filtro para alterar levemente as cores do vídeo, deixando todas um pouco mais intensas, e escuras. Também foi adicionada granulação nas imagens, para dar mais atmosfera de sujeira, suprindo a estética escolhida. Esses toques finais complementaram a narrativa e encorparam o vídeo como um todo. Quanto à divulgação, será feita através de mídias sociais, principalmente das páginas oficiais da banda Johnnybox no Facebook e no YouTube. Através do Facebook, o compartilhamento do vídeo poderá ser feito de forma muito abrangente, pois o alcance dessa mídia social é vasto, possibilitando novas visualizações para a banda. Como já discutido pelos alunos de Comunicação e Multimeios, Mateus Pires e Yuri de Franco, em seu memorial descritivo de 2011: “A comunicação atingiu níveis que extrapolam a barreira jornal/leitor ou televisão/espectador, em que vemos cada vez com maior intensidade uma relação de se consumir, compartilhar e produzir informação” (FRANCO; PIRES; 2011: 15). Portanto, 70 devido a esse compartilhamento pelo público, a visualização do videoclipe aumenta ao mesmo tempo em que se aumenta a audiência. A banda também pretende utilizar o videoclipe como material de portfólio abrindo portas para festivais e competições de bandas independentes. 5.4. Tecnologia utilizada Para a captação das imagens foi utilizada apenas uma câmera, a Canon 5D Mark II, não era necessário ter duas câmeras, até porque se não fossem do mesmo tipo, haveria muita diferença nas imagens, em termos de cor, luz e qualidade. Para a edição foi utilizado o programa Adobe Premiere CS5 e para a finalização, foi utilizado o Adobe After Effects CS6. 71 6. Considerações finais O produto final deste trabalho foi a construção de um videoclipe da canção “Not So Fine”, da banda independente Johnnybox, seguindo uma linha de narrativa como se fosse um curta-metragem, com um personagem, Jerry e mostrando a sua trajetória. A banda teve grande participação, pois tal narrativa foi construída com base nessa canção que foi composta pelos integrantes e, portanto, a participação deles era essencial. A escolha de usar um ator também foi válida, pois, mesmo com os integrantes da banda aparecendo mais tarde como convidados de uma festa, foi possível separar os artistas e evidenciá-los como membros, enquanto Jerry vive sua história de um dia. Nas palavras de Lilian Coelho: Em alguns casos, o artista canta olhando diretamente para a câmera enquanto uma ação vivida por outros (por atores) desenrola-se paralelamente. Performance e encenação podem ocorrer tanto no mesmo espaço quanto em espaços e tempos diferentes. Neste caso, portanto, o artista não atua como uma personagem, ele apenas exerce sua função primária, que é a de cantor e/ou instrumentista. (COELHO, 2003:s/n) Um ponto importante na realização foi a preocupação em comunicar as imagens com a canção em si, sempre criando esse link audiovisual. Durante a produção, foram necessárias algumas alterações, principalmente de roteiro, para que fosse possível realizar o videoclipe. Foi possível causar efeitos de contraste entre cenas e o personagem pôde ser bem trabalhado psicologicamente. Houve grande preocupação com os cenários que representam a estética utilizada, como o contraste de cores e o fato de o vídeo ficar mais escuro e granulado conforme se aproxima do final, acompanhando os sentimentos do personagem. Quanto ao ritmo da música em relação às imagens na tela, a ideia era a de que a movimentação do personagem refletisse no tal ritmo ao mesmo tempo em que a narrativa fosse contínua como em um curta-metragem. Porém, o que ocorreu durante a edição foi que para manter o formato de curta metragem e a continuidade o personagem em si não se movimenta tanto quanto o esperado; foram feitos diversos cortes rápidos, intercalando cenas de Jerry no seu apartamento, no seu estado emocional, na rua e na festa com imagens da banda. Foi utilizado também a técnica do jump cut, para deixar as passagens mais rápidas. Portanto, o foco do ritmo das imagens foi baseado em cortes, e não em elementos na própria cena, o que resultou em uma contraposição de ritmo de imagem versus som. A escolha de deixar uma última cena depois que Jerry encontra seu cigarro pisoteado foi uma alteração importante que deu mais sentido a narrativa e foi executada nas últimas 72 etapas da realização. É uma cena que acontece depois dos créditos, em que ele volta a encostar-se à parede depois de ver seu cigarro destruído, indicando que apesar de tudo que aconteceu, a situação do personagem não muda, já que fica claro ao longo do vídeo que ele não busca a mudança. O resultado foi a realização do videoclipe com a cooperação da equipe e da própria banda e, apesar das mudanças ocorridas ao longo da produção, atinge o objetivo proposto. Esse produto irá além das finalidades acadêmicas, será divulgado e apresentado como videoclipe oficial da banda, podendo ser disseminado pela Internet através de mídias sociais e outros sites, servindo como porta de entrada para alcançar novos ouvintes e até mesmo animar o público que já acompanha o trabalho da Johnnybox. 73 7. Referências bibliográficas BASBAUM, S. R. Sinestesia, arte e tecnologia: fundamentos da cromossonia. 1999. Mestrado em semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 1999. BUÑUEL, Luis. Cinema: instrumento de poesia. In. ISMAIL, X. (Org.). A Experiência do Cinema. Cidade: editora, ano. Páginas CARVALHO, Claudiane. Sinestesia, ritmo e narratividade: interação entre música e imagem no videoclipe. Programa de pós graduação em Comunicação. Universidade Federal de Pernambuco. Vol.10, n.1, jul/2008. COELHO, Lilian Reichert. As relações entre canção, imagem e narrativa nos videoclipes. Artigos Acadêmicos Google. 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Roteiro final...........................................................................................................79 78 Decupagem Apto (MVI_1144): 0:11 - 0:16 Apto (MVI_1147): 0:10 - 0:16 Apto (MVI_1144): 0:26 - 0:29 Apto (MVI_1140): 0:36 - 0:38 Apto (MVI_1145): 0:12 - 0:19 Apto (MVI_1146): 0:12 - 0:16 Augusta (MVI_1159): 0:03 - 0:15 Augusta (MVI_1166): 0:03 - 0:06 Augusta (MVI_1176): 0:11 - 0:13 Augusta (MVI_1176): 0:14 - 0:15 Augusta (MVI_1178): 0:40 - 0:42 Augusta (MVI_1175): 0:26 - 0:30:01 Augusta (MVI_1182): 0:39 - 041 Mente (MVI_0925): 0:07 - 0:10 Terreno Augusta (MVI_1170): 0:02 - 0:15 Augusta (MVI_1188): 0:04 - 0:16 Augusta (MVI_1193): 0:12 - 0:21 Augusta (MVI_1194): 0:34 - 0:42 Mente (MVI_0925): 0:14 - 0:31(acelera) Augusta (MVI_1189): 0:26 - 0:32 Terreno House party (MVI_1261): 0:01 - 0:08 House party (MVI_1264): 0:32 - 0:36 Terreno - Rafa House party (MVI_1265): 0:09 - 0:20 House party (MVI_1265): 0:27 - 0:30 Terreno House party (MVI_1269): 0:15 - 0:23 Mente (MVI_0929): 0:06 - 0:08 House party (MVI_1273): 0:03 - 0:05 House party (MVI_1280): 0:01 - 0:03 House party (MVI_1284): 0:05 - 0:09 House party (MVI_1280): 0:04 - 0:06 Terreno House party (MVI_1280): 0:13 - 0:24 House party (MVI_1287): 0:11 - 0:14 Mente (MVI_0939): 2:09 - 2:15 House party (MVI_1289): 0:12 - 0:16 Terreno House party (MVI_1299): 0:00 - 0:04 House party (MVI_1296): 0:01 - 0:09 House party (MVI_1299): 0:11 - 0:20 House party (MVI_1301): 0:04 - 0:15 Mente (MVI_0938): 2:12 - 2:18 House party (MVI_1301): 0:23 - 0:27 Terreno House party (MVI_1306): 0:03 - 0:17 79 VIDEOCLIPE “NOT SO FINE” Banda Johnnybox escrito por Julia Tereno 2a versão 08/11/2012 80 1.SALA VERMELHA INT/DIA Em um quarto de paredes vermelhas com aspecto antigo, que representa o estado emocional de Jerry, ele se senta encostado no canto das paredes, de cabeça baixa. Veste uma jaqueta de couro preta, uma camiseta preta com detalhes em vermelho, calças jeans e um chapéu também preto. CUT TO: 2. TERRENO EXT/DIA No terreno aparentemente abandonado e cercado de escombros, com pedaços de madeira e objetos quebrados, a banda Johnnybox toca a canção Not So Fine. O vocalista da banda, Tato, está sentado em uma cadeira quebrada de cores branca e verde no centro do campo, vestindo uma camiseta verde com um ponto de interrogação, um colete curto de cor cinza e um chapéu vermelho e balançando o microfone pelo fio. Rafael, baixista, um garoto barbudo que veste camiseta preta com uma camisa xadrez azul escura e jeans. Fabio, guitarrista, garoto loiro de pele bem clara, vestindo uma camiseta da banda System of a Down e com sua guitarra vermelha, encontram-se do lado direito de Tato, ambos usando óculos escuros. À esquerda de Tato, está Gustavo Goiaba, o outro guitarrista, menino alto e ruivo vestido escuros, sua guitarra é laranja. todo de preto e com óculos 81 O baterista, Caio, menino loiro com regata cinza e óculos escuros, encontra-se em segundo plano, atrás de Tato. Todos tocando seus respectivos instrumentos. O campo se fecha e a CAM percorre por Caio. CUT TO: 5. APARTAMENTO DO JERRY INT/DIA CAM fechada no rosto de Jerry, que acabou de acordar, está com os cabelos bagunçados e veste uma velha camiseta verde, ele está encostado acendendo o cigarro. CAM revela o ambiente, um apartamento levemente bagunçado, com coisas em cima da mesa branca de alumínio, uma garrafa d’água e uma bandeja no criado mudo de madeira abaixo da janela, uma camisa xadrez marrom e verde apoiada na cadeira branca no canto da sala e a janela com grade de madeira espessa. A luz do sol bate na parede lateral enquanto Jerry anda até a janela fumando seu cigarro. BACK TO: 7. TERRENO EXT/DIA Apenas Goiaba em campo, tocando guitarra, ora olha para a câmera, ora para a guitarra. Luz do sol reflete na lente. CUT TO: 7. APARTAMENTO DO JERRY INT/DIA 82 Jerry de costas para a CAM, se apoia na janela, ainda fumando o cigarro. BACK TO: 5. TERRENO EXT/DIA CAM levemente tremendo e se movimentando por Tato em primeiro plano, sentado e visto de perfil, cantando. Goiaba em segundo plano e Caio no fundo, ambos tocando seus respectivos instrumentos. MÚSICA I’ve been down Couldn’t be found I’ve been walking all around CUT TO: 6. RUA AUGUSTA EXT/DIA É visível a parede e a porta do prédio de Jerry, com desenhos de grafiti coloridos. Jerry sai da porta do prédio, ajeita sua camisa xadrez marrom e cruza o campo da câmera, andando e em ritmo acelerado. MÚSICA I’ve been down Way underground Dont’ know what to do just want BACK TO: 83 7. TERRENO EXT/DIA CAM fechada em Tato cantando, ainda sentando. MÚSICA To get out CUT TO: 8. RUA AUGUSTA EXT/DIA CAM fechada no rosto de Jerry de perfil, que continua a andar pela rua, sempre olhando para frente. Seu ritmo acompanha a canção. MÚSICA Every time I see you BACK TO: 9. TERRENO EXT/DIA Todos os apenas membros Tato que da banda está de em campo, pé e na mesma andando pelo disposição, ambiente, interagindo com os outros integrantes. MÚSICA I get mad CUT TO: 10. RUA AUGUSTA EXT/DIA CAM fechada nas mãos de Jerry, que tira um cigarro do maço. 84 CAM companha o movimento quando ele coloca-o em sua orelha. CAM fechada novamente em suas mãos enquanto ele pega outro cigarro. CAM acompanha quando ele o leva até a boca e acende. Solta a fumaça na câmera e continua a andar. MONTAGEM: A.MAÇO DE CIGARRO aberto, Jerry puxa um cigarro. B.Coloca o CIGARRO na ORELHA. C.MAÇO DE CIGARRO, Jerry puxa mais um cigarro D.Cigarro na BOCA, Jerry acende e continua a andar. MÚSICA Cause I just wanna get loose but it’s getting bad BACK TO: 11. TERRENO EXT/DIA Fabio em primeiro plano,tocando a guitarra. CAM levemente tremida também captura Rafael em segundo plano. CUT TO: 12. RUA AUGUSTA EXT/DIA Tato como o palhaço Pelúcio, vestido de camisa vermelha e colete cinza, cheira rosas vermelhas na rua e olha para os lados, ao fundo uma parede grafitada. Está sol. Do outro lado da rua, um fusca verde musgo está estacionado no meio fio, e uma parede laranja predomina o campo, quando passa 85 um ônibus amarelo e Jerry entra em campo logo após a passagem desse ônibus. Andando e ainda fumando, ele olha para o lado oposto da rua, onde se encontra o palhaço. Ele pára e observa. Intercalam-se imagens do palhaço cheirando as rosas com imagens do mesmo palhaço, mas de maquiagem negra e sob luz mais escura, comendo as rosas vermelhas. CAM fechada de volta para Jerry, que observa parado. CAM fechada no palhaço que continua a comer as rosas. MÚSICA You always say Won’t get in my way You always say it’s not every day Let me just say Let’s not be late Forget about the past, Live it day by day Every time I see you I get mad Cause I know I wanna get loose CUT TO: 13. SALA VERMELHA INT/DIA CAM fechada no rosto de Jerry, que olha diretamente para ela. MÚSICA But it’s getting bad BACK TO: 15. TERRENO EXT/DIA CAM fechada em Fabio tocando guitarra. MÚSICA (continua) 86 bad CUT TO: 17. RUA AUGUSTA EXT/DIA CAM fechada no rosto do palhaço que continua a comer as rosas, e está olhando para Jerry, ele solta algumas pétalas com a boca, acompanhando a batida da canção. Jerry observa um pouco mais, mas, vagarosamente, continua a andar e fumar. MÚSICA Cause when Jerry says he’s all right He says he’s all right I think he’s not so fine CUT TO: 14. APARTAMENTO INT/NOITE CAM subjetiva, Jerry entra no apartamento, onde está acontecendo uma festa e há muitas pessoas no ambiente, que é composto por uma sala, com a área do sofá e a TV, o outro lado, com uma mesa preta e um pendurador de casacos. Pessoas conversando em pé, um casal sentado no sofá e um jogo de beer pong na mesa preta, que está cercada por mais pessoas. Tato e Goiaba jogando beer pong. Rafael conversando em pé com mais duas pessoas. Caio sentado no sofá com a namorada. O ambiente é predominantemente composto por iluminação vermelha e existem diversas garrafas de cerveja e copos vermelhos no chão e nas mesas, enquanto as pessoas, vestidas de preto ou cores quentes, estão conversando, bebendo e se divertindo. Todo o ambiente remete ao nicho do rock. A CAM se movimenta em câmera lenta e depois acelera sua movimentação, dando um panorama geral do local. 87 CAM se fecha em Jerry, que observa o local perto da entrada, logo que chegou à festa. Ele não sabe para onde deve ir então apenas escaneia tudo com os olhos. CAM passeia pelo grupo em que Rafael está conversando, com um menino e uma menina, todos interagindo. Jerry tenta se encaixar, mas apenas observa. Ele então decide sair desse grupo, pois é ignorado pelos três. MÚSICA Maybe he’s hiding the truth in his mind I think he’s not so fine I can’t stay Through the day I can’t stay and lose my way I don`t know If you know But I want things to grow CUT TO: 15. TERRENO EXT/DIA CAM passeia, inicialmente fora de foco, filmando Tato cantando lado a lado com Rafael, que está tocando o baixo e cantando o backing vocal. CAM acompanha Tato, que se move e dança ao ritmo da canção. Caio em segundo plano. MÚSICA Night and day, Jerry says get out of my way BACK TO: 16. APARTAMENTO INT/NOITE CAM passeia pelas pessoas perto da janela, e se fixa quando Jerry senta-se no sofá, ao lado do casal, Caio e a namorada. Ele olha o casal que está se beijando e flertando. MÚSICA Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay CUT TO: 17. TERRENO EXT/DIA 88 CAm fechada, inicialmente tremida, em Caio tocando, depois se movimenta rapidamente para o lado. MÚSICA (continua) pay BACK TO: 18. APARTAMENTO INT/NOITE CAM fechada em Jerry, que está em primeiro plano, ele se encosta no sofá, e o foco vai para Caio e a namorada que conversam intimamente ao lado de Jerry, e estão inclinados para frente, mas em segundo plano. Jerry olha para eles de vez em quando. Então, levanta-se e vai em direção a mesa do jogo de beer pong. Caio e a namorada continuam a conversar, movimentos acelerados e cortados. MÚSICA You always say Won’t get in my way You always say it’s not every day Let me just say Let’s not be late CUT TO: 21. TERRENO EXT/DIA Tato está apoiado com um pé no suporte da bateria. Tato e Caio, interagindo enquanto tocando a canção. MÚSICA Forget about the past, Live it day by day Night and day, Jerry says 89 CUT TO: 18. SALA VERMELHA INT/DIA Jerry está de pé e apoiado com as duas mãos contra as paredes vermelha, na aresta. Devagar ele olha por cima dos ombros para a câmera. MÚSICA get out of my way CUT TO: 19. TERRENO EXT/DIA Todos os membros da banda em campo, tocando. Tato se move pelo ambiente. BACK TO: 22. APARTAMENTO INT/NOITE CAM subjetiva, Jerry andando em direção ao corredor depois da mesa de beer pong. Tato e Goiaba jogando beer pong e algumas pessoas paradas em pé conversando do outro lado da mesa. MÚSICA Cause I know if I don’t obey I’m gonna pay CUT TO: 20. CORREDOR DO APARTAMENTO INT/NOITE O corredor é estreito, e luzes vermelhas e azuis refletem nas paredes. CAM em Jerry, de perfil, que está sozinho nesse ambiente e tenta abrir a porta do banheiro. MÚSICA (continua) pay CUT TO: 21. TERRENO EXT/DIA CAM se movimentando em direção a Goiaba. 90 Tato, fora de foco está pulando, e Goiaba tocando guitarra. Luz do sol refletindo na imagem. MÚSICA Yeah CUT TO: 28. CORREDOR DO APARTAMENTO INT/NOITE CAM subjetiva, Jerry abre a porta do banheiro, que é de correr, pela metade e nota que Fabio está lá dentro, olhandose no espelho e quando Jerry tenta abrir a porta, ele olha para o personagem e fecha a porta em sua cara. CAM no corredor quando Jerry encosta-se na parede e aguarda, de frente para a câmera. MÚSICA Cause when Jerry says he’s all right He says he’s all right I think he’s not so fine CUT TO: 22. TERRENO EXT/DIA Todos os integrantes enquanto eles tocam. em campo, Tato interagem com Goiaba BACK TO: 23. CORREDOR DO APARTAMENTO INT/NOITE Fabio sai do banheiro, e Jerry acompanha com os olhos o menino saindo. Fabio sai de campo, e Jerry entra no banheiro. Quando fecha a porta, Caio e a namorada passam pelo corredor e entram no segundo quarto, de onde vem a luz vermelha. Fecham a porta e agora há apenas o reflexo da luz azul nas paredes do corredor vazio. MÚSICA 91 Maybe he’s hiding the truth in his mind I think he’s not so fine CUT TO: 23. TERRENO EXT/DIA Já no momento do solo do baixo, todos os integrantes estão em campo. Tato volta a se sentar microfone pelo fio. na cadeira quebrada e balança o A CAM se fecha nos dedos de Rafael enquanto ele toca seu solo de baixo. CUT TO: 24. SALA VERMELHA INT/DIA CAM de cima e levemente inclinada para a direita, vagarosamente fazendo movimentos giratórios mostra Jerry sentado de forma desleixada no chão, com as costas em uma das paredes, e com a mão na boca. Ele olha para frente. Veste a jaqueta de couro preto em apenas metade de um braço. BACK TO: 33. TERRENO EXT/DIA Ainda durante o solo do baixo, CAM levemente tremida em Goiaba que está apoiando uma perna no suporte da bateria, tocando em direção a Caio. CUT TO: 34. BANHEIRO INT/NOITE CAM fechada em reflexo de Jerry no espelho, ele se encara. O banheiro é um ambiente claro e amarelado, apenas o rosto de Jerry é visível, com seu cigarro na orelha. CUT TO: 35. SALA VERMELHA INT/DIA 92 CAM de cima continua seu movimento giratório, agora no sentido contrário, e Jerry sentado de forma desleixada no chão, com as costas em uma das paredes, e com a mão na boca e de olhos fechados. BACK TO: 36. BANHEIRO INT/NOITE CAM fechada em reflexo de Jerry no espelho, ele se encara e inclina a cabeça para a direita. CUT TO: 37. TERRENO EXT/DIA Rafael tocando o baixo, na lateral esquerda do campo, enquanto Tato caminha a sua volta. BACK TO: 38. BANHEIRO INT/NOITE CAM fechada em reflexo de Jerry no encarando, mantém a cabeça inclinada. espelho, ele ainda A canção já se encaminhando para o final do solo do baixo. CUT TO: 39. SALA VERMELHA INT/DIA CAM se aproximando de Jerry, ainda inclinada. A posição do garoto se mantém a mesma. CUT TO: 40. TERRENO EXT/DIA Rafael tocando o baixo, na lateral esquerda do campo. CUT TO: 41. SALA VERMELHA INT/DIA CAM se aproximando ainda mais de Jerry, ainda inclinada. BACK TO: 42. BANHEIRO INT/NOITE se 93 CAM fechada em reflexo de Jerry no espelho, ele movimenta um pouco mais a cabeça. CUT TO: 43. TERRENO EXT/DIA Já no final do solo do baixo, Rafael tocando na lateral esquerda do campo, enquanto Tato interage com ele, ao seu lado. CUT TO: 44. SALA VERMELHA INT/DIA CAM se aproximando ainda mais de Jerry, ainda inclinada e em movimentos giratórios. BACK TO: 45. BANHEIRO INT/NOITE CAM fechada em reflexo de Jerry no espelho, ele continua a se encarar no espelho. CUT TO: 46. SALA VERMELHA INT/DIA CAM se aproximando ainda mais de Jerry, ainda inclinada e em movimentos giratórios. Jerry continua encolhido no local. BACK TO: 47. BANHEIRO INT/NOITE CAM fechada em reflexo de Jerry no espelho, ele continua a se encarar no espelho, mas movimentando a cabeça para cima. CUT TO: 48. TERRENO EXT/DIA CAM fechada em Rafael, e Tato em segundo plano, acompanhando empolgado o ritmo da música. O solo de baixo se encerra. Ao iniciar o solo integrantes, Goiaba caminha pelo espaço. CUT TO: da guitarra, CAM aberta em todos os levanta a guitarra para tocar e Tato 94 49. APARTAMENTO INT/NOITE CAM fechada no rosto de Jerry. Ele anda pelo corredor, que reflete luz azul em seu rosto, de volta a festa. A câmera se movimenta, inclinando-se de um lado para outro, indicando a própria instabilidade de Jerry. CUT TO: 24. TERRENO EXT/DIA Goiaba fora de foco, CAM enquanto toca seu solo. tremida e retomando foco nele, BACK TO: 51. APARTAMENTO INT/NOITE CAM subjetiva, Jerry anda pela sala, vê Tato e Goiaba ainda jogando beer pong. Pessoas olham rapidamente para ele conforme ele anda. CUT TO: 25. TERRENO EXT/DIA Goiaba, tocando. CAM se fecha em sua guitarra. BACK TO: 53. APARTAMENTO INT/NOITE CAM fechada no rosto de Jerry, luz vermelha refletindo em seu rosto. Ele coloca a mão na boca, depois leva as mãos à cabeça e esfrega os cabelos. Cigarro cai da orelha, ele não percebe. Começa a girar e continua a esfregar a cabeça. CUT TO: 54. TERRENO EXT/DIA CAM fechada em Goiaba, que continua a tocar o solo. BACK TO: 55. APARTAMENTO INT/NOITE 95 CAM fechada em Jerry que se encosta na parede, ainda com as mãos na cabeça. Ele se senta e a CAM acompanha o movimento. CUT TO: 26. TERRENO EXT/DIA Tato em um canto do campo, Rafael em outro. Tato arremessa o microfone e pega, começa a cantar. Caio em segundo plano. CUT TO: 57. SALA VERMELHA INT/DIA CAM fechada no rosto de Jerry. Ele grita. CAM perde o foco gradativamente. MÚSICA Cause when Jerry says he’s all right He says he’s all right I think he’s not so fine CUT TO: 58. TERRENO EXT/DIA Tato em primeiro plano, cantando. Goiaba e Caio em segundo plano. MÚSICA (continua) fine BACK TO: 59. APARTAMENTO INT/NOITE CAM fechada em Jerry sentado no chão, ao lado de uma luminária de luz vermelha. Ele procura seu cigarro. CAM se movimenta de um lado para outro. 96 MÚSICA Maybe he’s hiding the truth in his mind CUT TO: 27. TERRENO EXT/DIA Todos os integrantes em campo. Caio em primeiro plano, de costas. Restante dos integrantes em volta de Caio. MÚSICA I think he’s not so fine BACK TO: 61. APARTAMENTO INT/NOITE CAM fechada em Jerry sentado no chão, ao lado de uma luminária de luz vermelha. Ele procura seu cigarro. CAM se movimenta de um lado para outro. MÚSICA Cause when Jerry says he’s all right He says CUT TO: 28. TERRENO EXT/DIA CAM fechada em Rafael tocando. Tato entra em campo, de perfil, primeiro plano. MÚSICA he’s all right I think he’s not so fine BACK TO: 63. APARTAMENTO INT/NOITE Cigarro no chão em primeiro plano, Jerry vem rastejando em segundo plano, procurando. Pessoas passam por trás, frente e por cima dele, desviando. Alguém pisa no cigarro. 97 Jerry encontra o cigarro e vê que está quebrado e pisado. Bate com a mão no chão, no ritmo da canção. MÚSICA Maybe he’s hiding the truth in his mind I think he’s not so fine not so fine not so fine CUT TO: 29. TERRENO EXT/DIA Todos integrantes canção. em campo, Tato FADE OUT. FIM no centro, finalizando a