Transporte TransformaçãoXII em Trabalhos vencedores do Prêmio CNT Produção Acadêmica 2007 Transporte TransformaçãoXII em Trabalhos vencedores do Prêmio CNT Produção Acadêmica 2007 Confederação Nacional do Transporte – CNT SAUS Quadra 1 – Bloco “J” Entradas 10 e 20 Ed. Confederação Nacional do Transporte – 13º. e 14º. Andares Brasília – DF CEP: 70070-944 Telefone: (61) 3315-7000 Fale com a CNT: 0800 728 2891 Site: www.cnt.org.br Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes – ANPET Rua Marquês de São Vicente, 225 – sala 954L Ed. Cardeal Leme Gávea Rio de Janeiro – RJ CEP: 22453-900 Telefone: (21) 2562-8727 Site: http://www.anpet.org.br Transporte em Transformação XII - Trabalhos Vencedores do Prêmio CNT Producção Acadêmica 2007. © 2008 CNT - Confederação Nacional do Transporte / ANPET - Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte. Todos os direitos para a língua portuguesa reservados para CNT/ANPET. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema retrieval ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação, ou outros, sem prévia autorização, por escrito, da Editora. Impresso no Brasil ISBN: 978-85-9908-206-5 Tiragem: 1000 exemplares Coordenação Editorial: Gráfica e Editora Positiva Ltda. Composição e Impressão: Gráfica e Editora Positiva Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Transporte em transformação XII: trabalhos vencedores do prêmio CNT de Produção Aca dêmica 2007/ Confederação Nacional do Transporte, Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte. -Brasília: Positiva, 2008. 220 p. ISBN: 978-85-9908-206-5 Trabalhos apresentados durante o XX II Congresso da ANPET realizado em Fortaleza (CE) no período de 3 a 7 de novembro de 2007. 1. Tráfego veículos pesados. 2. Diagramas de Voronoi. 3. Problemas de transportes. 4. Transporte de cimento. 5. Agrupamento de cargas fracionadas. 6. Tanqueamento de combustível. 7. Retenção de transporte urbano. 8. Gestão pública municipal de trânsito. 9. Rota marítima – contêiner. 10. Acessibilidade por transporte coletivo. 11. Fonte de energia para transporte.I. Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes – ANPET. II.Aquino, Juliana Jerônimo de. III. Setti, José Reynaldo A. IV. Novaes, Antonio Galvão. V. Mirua, Marcos. VI. Cunha, Cláudio Barbieri da. VII. Fregnani, José Alexandre Tavares Guerreiro. VIII. Miller, Carlos. IX. Coréia, Anderson Ribeiro. X. Kochler, Luiz Alberto. XI. Kraus Júnior, Werner. XII. Camponogara, Eduardo. XIII. Oliveira, Marcelo Leismann de. XIV. Cybis, Helena Beatriz Bettella. XV. Sousa, Felipe Brum de. XVI. França, Luis Cláudio Rodrigues de. XVII. Jacques, Maria Alice Prudêncio. XVIII. Caillaux, Marcio Arzua. XIX. Sant”anna, Annibal Parracho. XX. Meza, Lídia Ângulo. XXI. Mello, João Carlos Correia Baptista Soares de. XXII. Ferronatto, Luciana Guadalupe. XXIII. Michel, Fernando Dutra. XXIV. D’Agosto, Márcio de Almeida. XXV. Ribeiro, Suzana Kahn. XXVI. Título. CDU: 656.132 Autores dos Trabalhos Vencedores do Prêmio CNT Produção Acadêmica – 2007 Juliana Jerônimo de Araújo José Reynaldo A. Setti Antônio Galvão Novaes Marcos Miura Cláudio Barbieri da Cunha José Alexandre Tavares Guerreiro Fregnani Carlos Muller Anderson Ribeiro Correia Luiz Alberto Koehler Werner Kraus Júnior Eduardo Camponogara Marcelo Leismann de Oliveira Felipe Brum de Brito Sousa Helena Beatriz Bettella Cybis Luis Cláudio Rodrigues de França Maria Alice Prudêncio Jacques Marcio Arzua Caillaux Annibal Parracho Sant’anna Lidia Angulo Meza João Carlos Correia Baptista Soares de Mello Luciana Guadalupe Ferronatto Fernando Dutra Michel Márcio de Almeida D’Agosto Suzana Kahn Ribeiro Confederação Nacional do Transporte – CNT CLÉSIO SOARES DE ANDRADE Presidente THIERS FATTORI COSTA Presidente de Honra Vice-Presidentes da CNT NEWTON JERÔNIMO GIBSON DUARTE RODRIGUES Transporte de Cargas METON SOARES JÚNIOR Transporte Aquaviário, Ferroviário e Aéreo MARCO ANTONIO GULIN Transporte de Passageiros JOSÉ FIORAVANTI Transportadores Autônomos, de Pessoas e de Bens Presidente de Seção e Vice-Presidente de Seção OTÁVIO VIEIRA DA CUNHA FILHO ILSO PEDRO MENTA Seção do Transporte de Passageiros FLÁVIO BENATTI ANTÔNIO PEREIRA DE SIQUEIRA Seção do Transporte de Cargas JOSÉ DA FONSECA LOPES MARIANO COSTA Seção dos Transportadores Autônomos, de Pessoas e de Bens GLEN GORDON FINDLAY HERNANI GOULART FORTUNA Seção do Transporte Aquaviário RODRIGO VILAÇA Seção do Transporte Ferroviário WOLNER JOSÉ PEREIRA DE AGUIAR JOSÉ AFONSO ASSUMPÇÃO Seção do Transporte Aéreo Conselho Fiscal – Titulares DAVID LOPES DE OLIVEIRA ÉDER DAL’LAGO LUIZ MALDONADO MARTHOS JOSÉ HÉLIO FERNANDES Conselho Fiscal – Suplentes WALDEMAR ARAÚJO ANDRÉ LUIZ ZANIN DE OLIVEIRA JOSÉ VERONEZ Diretoria Seção do Transporte Rodoviário de Cargas LUIZ ANSELMO TROMBINI EDUARDO FERREIRA REBUZZI PAULO BRONDANI IRANI BERTOLINI PEDRO JOSÉ DE OLIVEIRA LOPES OSWALDO DIAS DE CASTRO DANIEL LUÍS CARVALHO AUGUSTO EMÍLIO DALÇÓQUIO GERALDO AGUIAR BRITO VIANNA AUGUSTO DALÇÓQUIO NETO EUCLIDES HAISS PAULO VICENTE CALEFFI FRANCISCO PELÚCIO Seção do Transporte de Passageiros LUIZ WAGNER CHIEPPE ALFREDO JOSÉ BEZERRA LEITE JACOB BARATA FILHO JOSÉ AUGUSTO PINHEIRO MARCUS VINÍCIUS GRAVINA TARCÍSIO SCHETTINO RIBEIRO JOSÉ SEVERIANO CHAVES EUDO LARANJEIRAS COSTA ANTÔNIO CARLOS MELGAÇO KNITELL ABRÃO ABDO IZACC FRANCISCO SALDANHA BEZERRA JERSON ANTONIO PICOLI JOSÉ NOLAR SCHAEDLER MÁRIO MARTINS Seção dos Transportadores Autônomos, de Pessoas e de Bens EDGAR FERREIRA DE SOUSA JOSÉ ALEXANDRINO FERREIRA NETO JOSÉ PERCIDES RODRIGUES LUIZ MALDONADO MARTHOS SANDOVAL GERALDINO DOS SANTOS DIRCEU EFIGENIO REIS ÉDER DAL’ LAGO ANDRÉ LUIZ COSTA MARIANO COSTA JOSÉ DA FONSECA LOPES CLAUDINEI NATAL PELEGRINI GETÚLIO VARGAS DE MOURA BRAATZ NILTON NOEL DA ROCHA NEIRMAN MOREIRA DA SILVA Seção do Transporte Aquaviário, Ferroviário e Aéreo LUIZ REBELO NETO PAULO DUARTE ALECRIM ANDRÉ LUIZ ZANIN DE OLIVEIRA MOACYR BONELLI JOSÉ CARLOS RIBEIRO GOMES PAULO SERGIO DE MELLO COTTA MARCELINO JOSÉ LOBATO NASCIMENTO RONALDO MATTOS DE OLIVEIRA LIMA JOSÉ EDUARDO LOPES FERNANDO FERREIRA BECKER PEDRO HENRIQUE GARCIA DE JESUS JORGE AFONSO QUAGLIANI PEREIRA ECLÉSIO DA SILVA Diretoria da ANPET MARILITA GNECCO DE CAMARGO BRAGA Presidente MARIA CRISTINA FOGLIATTI DE SINAY Diretora Executiva HELENA BEATRIZ BETTELLA CYBIS Diretora Cinetífica GLAUCO TÚLIO PESSA FABRI Diretor MARIA LEONOR ALVES MAIA Diretora ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR Diretor PAULO CESAR MARQUES DA SILVA Diretor WERNER KRAUS JÚNIOR Diretor Comissão Julgadora dos Artigos Enga. FERNANDA PINHEIRO REZENDE – CNT Prof . JORGE AUGUSTO PEREIRA CERATTI – UFRGS Prof . JOSÉ EUGENIO LEAL – PUC-RIO Profa. MARIA LEONOR ALVES MAIA - UFPE Sumário Prefácio.............................................................................................................21 Capítulo 1 Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica................................................................... 23 Resumo.................................................................................................... 23 Abstract.................................................................................................... 24 1. Introdução........................................................................................... 24 2. Objetivo............................................................................................... 25 3. Justificativa......................................................................................... 25 4. Carregamento móvel para análise estrutural de pontes....................... 26 5. O Simulador Corsim........................................................................... 27 5.1. Rede simulada.......................................................................... 27 6. Coleta de dados................................................................................... 27 6.1. Dados para caracterização do tráfego e estimativa da matriz origem/destino................................................................................. 28 6.2. Dados sobre as características dos veículos pesados............... 30 7. calibração e validação do corsim........................................................ 33 8. Estudo de caso..................................................................................... 37 Agradecimentos....................................................................................... 41 Referências Bibliográficas....................................................................... 42 Capítulo 2 Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi............................................ 43 Resumo.................................................................................................... 43 Abstract.................................................................................................... 44 1. Introdução............................................................................................ 44 2. Diagramas de Voronoi . ....................................................................... 46 3. Aspectos Computacionais ................................................................... 49 4. APLICAÇÃO AOS TRANSPORTES................................................. 52 4.1 Descrição do problema . ........................................................... 52 4.2 Diagrama de Voronoi correspondente....................................... 53 4.3 Modelo de localização/alocação............................................... 56 4.4 Aplicação do modelo................................................................. 57 5. Conclusões........................................................................................... 58 Agradecimento......................................................................................... 59 Referências Bibliográficas....................................................................... 60 Capítulo 3 Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento........ 63 Resumo.................................................................................................... 63 Abstract.................................................................................................... 64 1. Introdução............................................................................................ 64 2. Revisão Bibliográfica........................................................................... 66 3. Caracterização do Problema................................................................ 68 4. Formulação Matemática....................................................................... 69 5. Estratégia de Solução........................................................................... 70 5.1. Fases I e II: Algoritmo para resolução do VSBPP................... 72 5.2. Fases III: Agrupamento de cargas de cidades diferentes.......... 75 6. Experimentos Computacionais............................................................ 76 7. Considerações Finais........................................................................... 79 Referências Bibliográficas....................................................................... 81 Capítulo 4 Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira.................. 83 Resumo.................................................................................................... 83 Abstract.................................................................................................... 84 1. Introdução............................................................................................ 84 2. Procedimento para tanqueamento de combustível............................... 86 3. Revisão Bibliográfica........................................................................... 87 4. Modelo Proposto.................................................................................. 89 5. Aplicação do Modelo........................................................................... 92 6. Resultados.. ..........................................................................................97 7. Considerações Finais........................................................................... 99 Referências Bibliográficas..................................................................... 102 Capítulo 5 Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público....................................................... 105 Resumo.................................................................................................. 105 Abstract.................................................................................................. 106 1. Introdução......................................................................................... 106 2. Operação em Tempo Real do Sistema de Transporte Público ......... 107 2.1. Estratégia de Controle Tipo Retenção.................................... 107 2.2. Classificação das Estratégias de Controle Tipo Retenção..... 108 3. Modelo de um Sistema de Controle de Retenção para Brt............... 110 3.2. Características do Modelo e da Solução Proposta ................ 115 4. Estudo de Caso.................................................................................. 117 5. Conclusões........................................................................................ 119 Referências Bibliográficas..................................................................... 121 Capítulo 6 Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio......................... 123 Resumo.................................................................................................. 123 Abstract ................................................................................................. 124 1. Introdução.......................................................................................... 124 2. Indicadores de Desempenho.............................................................. 125 2.1. Estado da Arte de Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio..................................................................................... 126 2.2. Estado da Prática sobre Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio.......................................................................... 130 3. Mecanismo de viabilidade de utilização de indicadores.................... 131 3.1. Critérios de Julgamento para Análise de Viabilidade de Indicadores............................................................................... 132 3.2. Escalas de Medidas para os Critérios e Sub-Critérios de Julgamento................................................................................ 133 3.3. Cálculo das Viabilidades de Utilização dos Indicadores........ 134 4. Análise dos indicadores..................................................................... 135 5. Considerações finais........................................................................... 138 Referências Bibliográficas..................................................................... 140 Capítulo 7 Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal.................................. 143 Resumo.................................................................................................. 143 Abatract.................................................................................................. 144 1. Introdução.......................................................................................... 144 2. Municipalização do Trânsito no Brasil.............................................. 145 2.1. Situação Atual dos Municípios Brasileiros Frente à Municipalização............................................................................ 146 3. Técnica de Análise Multicritério........................................................ 150 4. Prodecimento Proposto...................................................................... 152 5. Exemplo de Resultados do Procedimento Proposto.......................... 158 6. Avaliação do Procedimento Proposto............................................... 159 7. Conclusões......................................................................................... 160 Referências Bibliográficas..................................................................... 162 Capítulo 8 Seleção de Rota Marítima de Contêineres................. 163 Resumo.................................................................................................. 163 Abstract.................................................................................................. 164 1. Introdução......................................................................................... 164 2. Técnicas Utilizadas .......................................................................... 165 2.1. DEA........................................................................................ 166 2.2. Método de Copeland.............................................................. 168 2.3. Composição Probabilística..................................................... 168 3. DEA em Transportes......................................................................... 171 4. Modelagem....................................................................................... 172 5. Modelos Utilizados........................................................................... 174 6. Considerações finais.......................................................................... 177 Agradecimentos..................................................................................... 178 Referências Bibliográficas..................................................................... 179 Capítulo 9 Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo..... 181 Resumo.................................................................................................. 181 Abstract.................................................................................................. 182 Palavras-chave....................................................................................... 182 1. Introdução.......................................................................................... 182 2. Acessibilidade: definição e quantificação.......................................... 183 2.1. Quantificação da acessibilidade............................................. 183 2.1.1. Como medir......................................................................... 184 2.2 Índices de acessibilidade......................................................... 184 2.3. Ferramentas utilizadas............................................................ 185 3. Estrutura do índice de acessibilidade por transporte coletivo............ 186 3.1. Unidades de análise................................................................ 186 3.2. Fatores de acessibilidade........................................................ 186 3.3. Formulação do Índice............................................................. 186 4. Aplicação............................................................................................ 189 4.1. Acessibilidade das paradas de ônibus.................................... 190 4.2. Acessibilidade das zonas de tráfego....................................... 191 4.3. Sensibilidade do índice.......................................................... 193 5. Oferta x demanda............................................................................... 194 6. Conclusões e desenvolvimento futuro............................................... 196 Referências Bibliográficas..................................................................... 198 Capítulo 10 Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil.......................... 199 Resumo.................................................................................................. 199 Abstract.................................................................................................. 200 1. Introdução.......................................................................................... 200 2. Aplicação da ACV às Fontes de Energia para Transporte................. 201 3. Proposta de Procedimento.................................................................. 203 3.1. FASE 1: Objetivo e escopo.................................................... 204 3.2. FASE 2: Análise do inventário............................................... 206 3.3. FASE 3: Avaliação dos dados................................................. 206 3.4. FASE 4: Comparação dos resultados..................................... 207 4. Verificação do Procedimento............................................................. 207 4.1. FASE 1: Objetivo e escopo.................................................... 207 4.1.1. FASE 1 – ETAPA 1 - Abrangência...................................... 207 4.1.2. FASE 1 – ETAPA 2 - Dimensões........................................ 209 4.2. FASE 2: Análise do inventário............................................... 210 4.3. FASE 3: Avaliação dos dados................................................. 212 4.4. FASE 4: Comparação dos resultados e discussão.................. 212 5. Conclusões e Recomendações........................................................... 215 Referências Bibliográficas..................................................................... 217 Prefácio A Confederação Nacional do Transporte (CNT) incentiva os trabalhos acadêmicos no âmbito da atividade transportadora, com o intuito de estimular a descoberta de tecnologias e formas de gestão. As novidades que surgem a partir das pesquisas contribuem para a melhoria da produtividade e da competitividade e, conseqüentemente, para o crescimento e o desenvolvimento do setor de transporte no Brasil. Sob a ótica do incentivo à pesquisa – e conseqüentemente da inovação -, foi criado, em 1996, o Prêmio CNT Produção Acadêmica. A partir daí, as metodologias, as experimentações e os resultados obtidos pelos pesquisadores são acompanhados pela Confederação e pela Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET). A cada ano, os dez artigos científicos mais relevantes recebem uma premiação e são publicados neste “Transporte em Transformação”. As propostas vencedoras devem ser de fácil implementação e abordar questões como soluções dos problemas na operação e planejamento de transporte; alternativas para se chegar à redução de custos; inovações tecnológicas e de logística; responsabilidade social e ambiental; gestão de recursos; propostas e estudos de regulamentação do setor. A parceria firmada com a ANPET também concretiza a meta da CNT de incentivo constante à maior especialização do trabalhador do transporte e aperfeiçoamento das empresas. Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 1 Juliana Jerônimo de Araújo José Reynaldo A. Setti Universidade de São Paulo Escola de Engenharia de São Carlos Resumo O objetivo deste trabalho foi desenvolver um método para estabelecer o efeito das características e da operação dos veículos pesados sobre uma ponte através do uso de resultados de simulação microscópica de tráfego. Para isso, foi necessária a aquisição de um conjunto de dados sobre as características de veículos pesados e a obtenção de um modelo de simulação calibrado para um trecho de rodovia de pista dupla. A metodologia desenvolvida é demonstrada através da realização de um estudo de caso em que foram simulados dois cenários de tráfego e em que foi considerada uma ponte hipotética com 100 m de extensão. Os resultados do estudo de caso demonstram a viabilidade do procedimento proposto. 24 Transporte em Transformação XI Abstract The objective of this research was to develop a method for establishing the effect of heavy vehicles characteristics and operation on a highway bridge by using the results of a microscopic traffic simulation model. Therefore, it was necessary to acquire a database with the characteristics of these vehicles and to calibrate a traffic simulation model for a multilane highway. The developed methodology is demonstrated through a case study in which two traffic scenarios were simulated and in which a hypothetic 100 m bridge was considered. The case study results demonstrate the proposed procedure viability. 1. Introdução Segundo a Confederação Nacional do Transporte (2006), em 2005, o transporte de 47,5% da carga brasileira foi feito pelo modo rodoviário, com mais de 790 milhões de toneladas transportadas por uma frota que ultrapassa os dois milhões de veículos pesados. Nesse cenário, os veículos pesados desempenham um papel relevante, suscitando a necessidade de analisar o impacto que eles ocasionam não somente em termos de operação, como também no projeto e na manutenção da infra-estrutura rodoviária. De forma geral, as leis que regulamentam os pesos e as dimensões dos veículos pesados visam reduzir o impacto provocado pelo seu tráfego. Na fase de projeto da infra-estrutura rodoviária, fatores tais como largura de faixas de rolamento, alinhamento horizontal de curvas e espessura do pavimento estão diretamente relacionados às características dos veículos pesados. Na fase de manutenção, essas características estão ligadas ao desgaste dos pavimentos e pontes. Um aspecto a ser notado é que o constante desenvolvimento da indústria de transporte rodoviário e o conseqüente aumento das cargas transportadas pelos veículos podem ocasionar desgastes maiores do que os previstos tanto para a pavimentação quanto para as pontes e viadutos. Portanto, é desejável aperfeiçoar a determinação de como a ação do carregamento móvel é levada em consideração durante o processo de dimensionamento da infra-estrutura rodoviária. Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 25 2. Objetivo A meta principal deste trabalho é desenvolver uma metodologia para estabelecer o efeito das características e da operação dos veículos pesados sobre uma ponte através do uso de resultados de simulação microscópica de tráfego. Para tanto, foram estabelecidos dois objetivos secundários: 1) aquisição de um conjunto de dados com amostra de tamanho significativo sobre as diversas características de veículos pesados; e 2) obtenção de um modelo de simulação de tráfego calibrado para um trecho de rodovia de pista dupla. A metodologia proposta combina esses dois aspectos na medida em que associa dados microscópicos extraídos de um simulador a um banco de dados detalhado sobre as características dos veículos pesados para obter um carregamento móvel decorrente do tráfego desses veículos. Para demonstrar como a metodologia desenvolvida pode ser utilizada, efetuou-se um estudo de caso que calculou o efeito ocasionado pela presença simultânea de veículos pesados sobre uma ponte, a fim de compará-lo com o provocado pelo trem-tipo estabelecido pela norma brasileira. 3. Justificativa O dimensionamento de pontes leva em conta vários fatores, sendo a ação do tráfego um dos mais significativos. O valor real do carregamento do tráfego é considerado difícil de modelar de uma forma precisa devido à sua aleatoriedade e, por isso, os engenheiros estruturais costumam fazer várias simplificações para tornar essa tarefa possível. De acordo com a norma brasileira, NBR-7188, a ação das cargas móveis no processo de análise estrutural de pontes não corresponde aos veículos reais que trafegam sobre as mesmas, mas a um carregamento hipotético que tenta reproduzir as solicitações provocadas pelo tráfego (ABNT, 1984). Esse carregamento, que possui o nome de trem-tipo, consta de um veículo-tipo de peso e geometria estabelecidos pela própria norma e de cargas uniformemente distribuídas. Um fato importante a ser observado é que, apesar das combinações de carga apresentadas na NBR-7188 terem como objetivo reproduzir as solicitações provo- 26 Transporte em Transformação XI cadas pelo tráfego real sobre as pontes, em nenhuma delas é prevista a passagem simultânea de dois ou mais veículos-tipo, ao contrário do que acontece nas situações reais de carregamento. Dessa forma, este trabalho propõe como ferramenta de análise o uso de um modelo de simulação de tráfego capaz de representar adequadamente os fluxos observados em campo e que possua um bom nível de detalhamento. Os resultados da simulação fornecem dados importantes, como a probabilidade de ocorrência simultânea de veículos pesados na ponte e a posição relativa desses veículos. A associação dessas informações a um banco de dados que contém as características dos veículos pesados (tais como pesos por eixo e distâncias entre eixos) permite obter os carregamentos totais nas pontes e as localizações dessas cargas de uma forma mais realística, uma vez que leva em consideração os efeitos da composição do tráfego e da mecânica de car-following sobre o espaçamento e o headway entre veículos na corrente de tráfego. 4. Carregamento móvel para análise estrutural de pontes O desenvolvimento de modelos de carregamento móvel vem sendo tema de vários estudos, principalmente no exterior. O interesse no assunto resulta da preocupação com a evolução da indústria de transporte rodoviário, que busca otimizar esse modo de transporte através do uso de veículos cada vez mais pesados, comprometendo a segurança das obras de arte especiais. No Brasil, os principais trabalhos que tratam das cargas móveis para a análise estrutural de pontes são recentes, uma vez que o foco principal das pesquisas realizadas sempre foi a análise e o dimensionamento de pavimentos (Luchi, 2006). Os modelos desenvolvidos sobre o tema se baseiam fundamentalmente na teoria dos processos estocásticos, na concepção de configurações estáticas do tráfego ou na simulação do fluxo de tráfego através do método de Monte Carlo (Ghosn e Moses, 1985; Nowak e Hong, 1991; Crespo-Minguillón e Casas, 1997; Luchi, 2006). Dentre eles, considera-se que os modelos de simulação de tráfego são os mais completos, apesar de uma de suas características ser a grande quantidade de dados que são necessários para a obtenção de um bom resultado. Este trabalho utiliza o simulador de tráfego CORSIM para avaliar o impacto do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte e procura levar em consideração Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 27 um grande número de variáveis para que o modelo simule de forma realística o tráfego observado em uma rodovia de pista dupla típica no estado de São Paulo. A abordagem proposta evita os efeitos causados por suposições simplificadoras e incorpora os efeitos de car-following na modelagem do posicionamento de veículos pesados sobre as pontes. 5. O Simulador Corsim O CORSIM foi desenvolvido e é mantido pelo Federal Highway Administration. Nele, cada veículo é modelado individualmente e pode ser identificado pela sua classe (automóvel, caminhão, ônibus e carpool). Um total de nove tipos diferentes de veículos pode ser especificado para caracterizar as quatro classes. O CORSIM é implementado em ambiente Windows através da interface TSIS que, através do pós-processador TRAFVU, permite que o usuário visualize a rede simulada graficamente e acompanhe seu desempenho. A resolução do CORSIM para descrever as operações do tráfego é de um segundo, ou seja, cada veículo é modelado como um objeto que se move a cada segundo, enquanto cada tipo de controle de tráfego na rede também é atualizado a cada segundo. 5.1. Rede simulada Neste trabalho, o modelo desenvolvido para a simulação faz a representação da Rodovia Washington Luís (SP-310), em seus dois sentidos de tráfego, no trecho que margeia a cidade de São Carlos - SP. A rede simulada tem extensão aproximada de 7,5 km e possui 11 acessos de entrada e saída no sentido Norte (capital-interior) e 16 acessos de entrada e saída no sentido Sul (interior-capital). A construção da rede foi baseada no projeto geométrico da rodovia. 6. Coleta de dados Dois tipos de coletas de dados foram necessários. O primeiro deles estava relacionado aos dados de tráfego usados na simulação, que serviram para calibrar e validar o CORSIM, e o segundo, à caracterização da frota de veículos pesados que 28 Transporte em Transformação XI trafega no estado de São Paulo. Essa caracterização tornou possível a realização do estudo de caso proposto. 6.1. Dados para caracterização do tráfego e estimativa da matriz origem/destino Para esta pesquisa, além de dados caracterizando o fluxo e a composição do tráfego, também foram coletados dados de origem/destino e da velocidade da corrente de tráfego. A obtenção da matriz origem/destino foi considerada necessária para que pudesse representar o tráfego observado com o grau de fidelidade desejado. As observações de velocidade média da corrente de tráfego em postos de controle ao longo do trecho foram necessárias para o processo de calibração e validação do simulador. Os dados para a caracterização dos fluxos de tráfego e para a estimativa das matrizes origem/destino foram coletados simultaneamente. O método de coleta utilizado foi a observação e o registro em planilhas, em intervalos de 15 minutos, do tipo de veículo e dos números existentes em sua placa. Para isso, foram escolhidos como postos de controle os viadutos localizados nos extremos do trecho de rodovia selecionado, as passarelas de pedestres localizadas em pontos intermediários e também os acessos de entrada e saída da rodovia. Câmeras de vídeo foram usadas nos postos de controle da SP-310. As informações relacionadas às coletas de dados estão contidas na Tabela 1. Tabela 1: Informações sobre as coletas de dados Postos de controle Data da coleta Horário SP-310 Acessos 6/6/2005 13/6/2005 1/7/2005 10:00 – 12:00 9:00 – 12:00 14:00 – 17:00 6 6 8 27 27 27 Pesquisadores envolvidos 23 23 25 Na análise dos dados coletados, verificou-se que os fluxos da primeira e da segunda coletas de dados mostraram-se bastante similares, uma vez que elas foram realizadas no mesmo dia da semana e no mesmo período, diferentemente da terceira coleta. Então, diante da necessidade de segregar os dados coletados em dois conjuntos isolados para fins de calibração e validação do modelo de simulação CORSIM, Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 29 os dados da primeira e da segunda coletas de dados foram selecionados para a calibração e os dados da terceira coleta, para a validação. Para definição da composição do tráfego, os veículos foram classificados em três categorias: automóveis, caminhões e ônibus. Entretanto, devido à combinação de alta velocidade, alto fluxo e posicionamento dos observadores em viadutos e passarelas, tornou-se inviável verificar o modelo e a configuração de eixos dos caminhões. Como esse dado é considerado de fundamental importância para o estudo de caso realizado, optou-se pela suposição de que a distribuição dos veículos pesados na rede simulada segue a observada em balanças localizadas em rodovias de pista dupla no estado de São Paulo (ver item 6.2). As matrizes origem/destino obtidas são dinâmicas, uma vez que o registro da hora de passagem do veículo pelos postos de controle associado à categoria e à placa desse veículo permite fazer a análise para cada período de 15 minutos. A definição da velocidade média da corrente de tráfego adotada é a média aritmética das velocidades pontuais de todos os veículos que passam por uma determinada seção da via. Durante o período de planejamento das coletas de dados, foi estabelecido que as velocidades pontuais dos veículos seriam obtidas usando o método da base longa como definido pelo DNIT (2006). Nesse método, é fixada uma distância em campo e calculado o tempo gasto para percorrê-la. A distância foi escolhida em função das linhas de divisão de fluxos de mesmo sentido que fazem parte da sinalização horizontal. No trecho estudado essas linhas são seccionadas. A medição em campo indicou que o padrão adotado no trecho estabelece uma distância 15,5 m. Como as imagens captadas pelas câmeras de vídeo permitiam a visualização de sucessivas linhas seccionadas, foi fixada uma seção de 62 m em cada posto de controle ao longo da SP-310. Esse valor corresponde à distância de quatro linhas seccionadas. Para a obtenção do tempo gasto por cada veículo para percorrer a seção de 62 m de rodovia fez-se uso de uma macro no Microsoft Excel, escrita na linguagem VBA. A macro desenvolvida permitia a medição do tempo que um veículo demorava para transpor a seção, mediante a utilização do relógio do computador. Esse relógio era acionado através de teclas de atalho, relacionadas à entrada e à saída do veículo na seção. Dessa forma, com quatro teclas de atalhos ativadas era possível registrar a entrada e a saída de todos os veículos em cada uma das duas faixas de tráfego de cada seção. Então, o comprimento da seção dividido pelo tempo gasto para 30 Transporte em Transformação XI percorrê-la fornece a velocidade, que pode ser considerada a velocidade pontual. A principal desvantagem na utilização desse método consiste no erro que deriva da decisão do pesquisador acerca dos instantes de passagem do veículo pelos extremos da seção. 6.2. Dados sobre as características dos veículos pesados Para a caracterização da frota de veículos pesados que trafega nas rodovias de pista dupla do estado de São Paulo, foram realizadas coletas de dados em balanças localizadas em diferentes rodovias. A localização das balanças, as datas das coletas de dados e os tamanhos das amostras obtidas estão listados na Tabela 2. Esse conjunto de balanças foi escolhido para que tornasse possível a obtenção de uma amostra que representasse a variabilidade das características dos veículos pesados, em uma tentativa de caracterizar a frota que circula em São Paulo. Tabela 2: Tamanho das amostras obtidas nas coletas de dados em balanças rodoviárias Localização SP-225 (km 224) SP-330 (km 207) SP-330 (km 207) SP-330 (km 53) SP-330 (km 37) SP-348 (km 58) SP-348 (km 40) SP-310 (km 200) Sentido Oeste Norte Norte Sul Norte Sul Norte Norte Data da coleta 28/9/2004 7/10/2004 16/2/2005 1/3/2005 2/3/2005 8/3/2005 9/3/2005 12/8/2005 Total Amostra 192 209 352 968 787 1.901 1.010 834 6.253 As coletas de dados nas balanças rodoviárias foram realizadas por dois pesquisadores, que registravam em planilha informações tais como marca, modelo, configuração de eixos dos veículos e existência de eixos erguidos. Essas informações foram utilizadas no levantamento da potência nominal dos veículos, realizado através de consulta a dados contidos em catálogos, publicações especializadas e websites dos fabricantes. Duas câmeras de vídeo também foram utilizadas durante as coletas de dados, a fim de auxiliar na associação das informações obtidas em campo com os dados de pesagem contidos em relatórios emitidos pelas balanças. No total, foram coletados dados de 6.253 caminhões, distribuídos em 22 configurações de eixos. A Tabela 3 lista a nomenclatura das principais configurações Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 31 observadas e apresenta o tamanho das amostras. A análise dessa tabela indica que 59% dos veículos pesados observados nas rodovias paulistas de pista dupla são do tipo caminhão-plataforma (rígidos) e 41% são articulados. Dentre os articulados, o caminhão do tipo 2S3 é o mais freqüente (59,6%). Apesar de existirem oito configurações na amostra de pesagem com freqüência considerada significativa, o CORSIM, dentro de suas limitações, permite ao usuário especificar no máximo quatro categorias de caminhões para serem utilizadas durante a simulação. Então, foi necessário adotar um critério de agrupamento das configurações observadas. À exemplo do trabalho desenvolvido por Cunha et al. (2005), o critério adotado foi a similaridade das distribuições acumuladas da relação peso/potência. A Tabela 4 apresenta o agrupamento das configurações em apenas quatro categorias, para fins de simulação. Tabela 3: Configurações de eixos observadas nas balanças Eixos Configuração Nomenclatura Amostra 2C 1.881 30,08% 3C 1.809 28,93% 2S1 39 0,62% 2S2 206 3,29% 2S3 1.527 24,42% 2I3 71 1,14% 6 3S3 413 6,61% 7 3T4 243 3,89% 64 1,02% Total 6.253 100,00% 2 Freqüência relativa 3 4 5 Outros – 32 Transporte em Transformação XI Tabela 4: Agrupamento das configurações observadas e respectivos valores típicos para relação peso/potência Categoria Eixos Configurações Veículo típico Leves 2 2C Médios 3e4 3C, 2S1 e 2S2 Pesados 5e6 Extra-pesados 7 ou mais Peso/potência (kg/kW) Média Mediana Ford F-4000 67 64 Mercedes-Benz L1620 110 98 2S3, 2I3 e 3S3 Scania 113H 126 144 3T4 Volvo FH12 173 200 A Figura 1 apresenta as distribuições acumuladas da relação peso/potência para as categorias agrupadas. Observa-se que cada uma das distribuições possui um perfil bem definido, principalmente aquelas das categorias de caminhões leves e extra-pesados. Apesar de as demais distribuições mostrarem perfis semelhantes até aproximadamente o 30º percentil, a partir desse ponto cada uma delas segue um perfil distinto, justificando a escolha de tais categorias. De posse da configuração de eixos, marca e modelo do caminhão, foi feito um levantamento detalhado de suas características. Esse levantamento visou não somente o conhecimento da potência nominal dos veículos (como citado anteriormente), como também o conhecimento de todas as distâncias entre eixos existentes. A obtenção das distâncias entre eixos é considerada fundamental para a realização do estudo de caso proposto nesta pesquisa. A tarefa de obter a distância entre eixos dos 22 tipos de configurações observadas nas balanças consistiu em um trabalho minucioso, visto que existe uma grande variedade nos padrões estabelecidos por cada fabricante e mesmo entre modelos de um mesmo fabricante. Outro fator importante é que os veículos articulados podem utilizar carrocerias de uma grande variedade de fabricantes e com diferentes finalidades, cada um adotando um padrão diferente de distâncias entre eixos. Dentre os principais fabricantes de carrocerias pesquisados, aquele que apresentou dados mais completos das características técnicas de seus produtos foi a Randon S/A. Dessa forma, esta pesquisa considerou que toda a amostra de veículos articulados utilizava carrocerias desse fabricante. É importante destacar que as imagens gravadas nas balanças foram usadas para que pudessem ser feitas considerações sobre o tipo de carga transportada por cada veículo e, assim, associar o modelo da carroceria que mais se aproximasse da realidade. O banco de dados é então composto Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 33 pela configuração, marca/modelo, distância entre eixos e peso por eixos de todos os 6.253 veículos pesados observados nas balanças. Freqüência Acumulada 100% 80% 60% Leves 40% Médios Pesados 20% Extra-pesados 0% 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 Relação Peso/Potência (kg/kW) Figura 1: Distribuição acumulada da relação peso/potência (categorias agrupadas) 7. Calibração e Calidação do Corsim Todo simulador possui parâmetros de calibração que podem ser ajustados pelos usuários e que contém inicialmente valores default sugeridos pelos seus desenvolvedores. Entretanto, somente em raras circunstâncias esses modelos são capazes de produzir bons resultados para um caso específico usando os valores default. O usuário deve sempre realizar uma calibração para assegurar que o modelo codificado reproduz com fidelidade as condições de tráfego locais e o comportamento dos motoristas. A validação é uma etapa pós-calibração que tem como objetivo verificar a validade dos valores dos parâmetros encontrados na fase de calibração. A validação consiste no processo de determinar se o modelo pode representar de forma acurada as medidas de campo para diferentes cenários. Para isso, ela deve usar um conjunto de dados diferente daquele utilizado para a calibração do modelo (Zhang e Owen, 2004). 34 Transporte em Transformação XI Devido ao grande número de parâmetros a ser ajustado nos simuladores de tráfego, o processo de calibração pode tornar-se bastante complexo. Por isso, técnicas de otimização vêm sendo empregadas visando a minimização desse esforço. Dentre elas, pode-se citar os algoritmos genéticos, que realizam a calibração de vários parâmetros simultaneamente para diminuir a discrepância entre o sistema real e o modelo simulado. O uso de um algoritmo genético requer a codificação dos parâmetros de calibração. Apesar de existirem vários esquemas de representação possíveis, a codificação dos genes dos cromossomos na forma binária (bits) ainda é a preferida pela maioria dos pesquisadores, uma vez que ela apresenta uma representação do problema de forma mais simplificada. Um programa computacional baseado em um algoritmo genético foi desenvolvido para calibrar o CORSIM no trecho de rodovia de pista dupla estudado. O programa foi desenvolvido na linguagem Perl. No CORSIM, foram identificados vários parâmetros de entrada que podem ser modificados para melhor reproduzir as condições de tráfego locais. A fim de evitar um gasto desnecessário de tempo na calibração de parâmetros que produzem pequeno impacto nos resultados da simulação, é mais conveniente que se faça ajuste apenas nos parâmetros mais significativos. Além disso, em um algoritmo genético o tamanho da seqüência binária é proporcional ao número de parâmetros codificados em cada cromossomo e, quanto maiores as seqüências binárias, maiores são as necessidades computacionais. Portanto, apenas os parâmetros mais significativos devem ser usados, com o intuito de permitir que a calibração seja alcançada dentro do mínimo de gerações possível. Através de uma análise de sensibilidade, foram determinados que os parâmetros de calibração utilizados neste trabalho seriam os apresentados na Tabela 5. Tabela 5: Parâmetros selecionados para a calibração do CORSIM Parâmetro P1 – P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 Descrição Fator de sensibilidade para o car-following (motoristas do tipo 1 ao 10) Constante de Pitt para o car-following Tempo de reação para acelerar Tempo de reação para desacelerar Tempo para completar uma mudança de faixa Tempo mínimo para geração de veículos Aceitação de gap para mudança de faixa obrigatória % de motoristas que cedem o direito de passagem para veículos mudando de faixa Multiplicador para o desejo de realizar uma mudança de faixa arbitrária Desaceleração máxima do veículo líder percebida pelo seu seguidor Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 35 Para executar uma calibração fazendo uso de um algoritmo genético, devem ser especificados o número de cromossomos, o número máximo de gerações e as probabilidades de cruzamento e de mutação. O tempo de processamento pode restringir a utilização de combinações grandes de número de cromossomos versus número máximo de gerações. Portanto, vários testes foram realizados com o objetivo de obter uma combinação que fornecesse uma boa convergência do MAER. A combinação escolhida para a calibração foi a de 100 cromossomos e 200 gerações. As probabilidades de cruzamento (Pc) e de mutação (Pm) adotadas foram de 50% e 20%, respectivamente. Esses valores foram determinados a partir de uma análise de sensibilidade, que testou diversas combinações em que Pc e Pm variavam de 10% a 50%, com incrementos de 10%. Esses intervalos de variação foram fundamentados nos experimentos realizados por Kim e Rilett (2001). A função fitness utilizada nesta pesquisa é a apresentada na Equação 1, sendo as constantes dela as mesmas adotadas por Egami et al. (2004) e Schultz e Rilett (2005): −5 MAER ) (1) F = 100 e ( em que: F: fitness; e MAER: erro médio absoluto percentual (Mean Absolut Error Ratio). Na calibração, o MAER foi calculado em função das duas medidas de desempenho escolhidas (fluxo e velocidade média) em seis pontos de controle ao longo da rede de tráfego, três em cada sentido. Os dados utilizados na calibração foram os observados na primeira e segunda coleta de dados (realizadas nos dias 6 e 13/6/2005), perfazendo um total de cinco horas. O MAER calculado antes da calibração do simulador, ou seja, com os parâmetros default do CORSIM é de 9,11% e, após as 200 gerações, esse valor foi reduzido para 6,32%. O valor do fitness calculado com os parâmetros default do CORSIM é 63,41. Ao final da calibração, esse valor chegou a 72,89, sendo que o valor máximo é 100. Esses valores indicam que a calibração reduziu o MAER em 2,79%, o que representa uma redução relativa do erro médio de aproximadamente 30%. Paralelamente, o fitness aumentou em 9,48. A validação foi realizada usando um conjunto de dados diferente daquele utilizado na calibração do CORSIM. A adoção do critério utilizado para separar os dados para calibração e validação de um modelo é arbitrária. O conjunto de dados 36 Transporte em Transformação XI usado na validação foi o observado na terceira coleta de dados, que compreendeu três horas e foi realizada em 1/7/2005. Estes dados apresentaram características operacionais diferentes dos observados nas outras coletas, com fluxos de tráfego superiores. Nessa coleta de dados, foi adicionado um posto de controle em cada sentido de tráfego, ou seja, o total de postos de controle passou a ser oito. A validação envolve a aplicação do modelo de simulação com o uso dos parâmetros encontrados na fase de calibração. Ela serve para verificar se os resultados da representação de diferentes condições de tráfego são confiáveis. Na validação, executa-se uma simulação empregando a mesma seqüência de número aleatórios utilizadas na calibração. A importância de simular com a mesma seqüência reside no fato de que se deseja reproduzir as mesmas condições de tráfego encontradas na calibração, já que a seqüência de números aleatórios está relacionada aos processos estocásticos de tomada de decisão envolvidos na simulação. O MAER calculado antes da calibração do simulador, ou seja, com os parâmetros default do CORSIM é de 9,11% e, após as 200 gerações, esse valor foi reduzido para 6,32%. O valor do fitness calculado com os parâmetros default do CORSIM é 63,41. Ao final da calibração, esse valor chegou a 72,89, sendo que o valor máximo é 100. Esses valores indicam que a calibração reduziu o MAER em 2,79%, o que representa uma redução relativa do erro médio de aproximadamente 30%. Paralelamente, o fitness aumentou em 9,48. A validação foi realizada usando um conjunto de dados diferente daquele utilizado na calibração do CORSIM. A adoção do critério utilizado para separar os dados para calibração e validação de um modelo é arbitrária. O conjunto de dados usado na validação foi o observado na terceira coleta de dados, que compreendeu três horas e foi realizada em 1/7/2005. Estes dados apresentaram características operacionais diferentes dos observados nas outras coletas, com fluxos de tráfego superiores. Nessa coleta de dados, foi adicionado um posto de controle em cada sentido de tráfego, ou seja, o total de postos de controle passou a ser oito. A validação envolve a aplicação do modelo de simulação com o uso dos parâmetros encontrados na fase de calibração. Ela serve para verificar se os resultados da representação de diferentes condições de tráfego são confiáveis. Na validação, executa-se uma simulação empregando a mesma seqüência de número aleatórios utilizadas na calibração. A importância de simular com a mesma seqüência reside no fato de que se deseja reproduzir as mesmas condições de tráfego encontradas na Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 37 calibração, já que a seqüência de números aleatórios está relacionada aos processos estocásticos de tomada de decisão envolvidos na simulação. O MAER foi calculado na validação com as mesmas medidas de desempenho da calibração. O valor calculado para a validação foi de 6,58%, ligeiramente superior ao valor obtido na calibração (6,32%), apesar da inclusão de mais dois postos de controle. Esse resultado comprova que os parâmetros calibrados são válidos para uso em um conjunto de dados com características diferentes. A diferença entre o MAER da validação e da calibração é julgada inexpressiva. 8. Estudo de Caso Uma vez obtida uma versão calibrada do CORSIM, capaz de reproduzir as condições de tráfego observadas em campo, procedeu-se a um estudo de caso em que se buscou estabelecer o efeito do tráfego dos veículos pesados sobre uma ponte. O propósito foi demonstrar como os dados sobre o carregamento móvel obtidos a partir da simulação microscópica de uma rede de tráfego podem ser usados em seu dimensionamento. No estudo de caso, foram considerados dois cenários de tráfego e o efeito analisado foi o momento fletor máximo positivo ocasionado pela presença simultânea de veículos pesados, a fim de fazer uma comparação com aquele provocado pelo veículo-tipo e a carga uniformemente distribuída estabelecidos na NBR-7188. Essa ponte é hipotética e está localizada em um dos tramos da rede simulada. A escolha dos cenários simulados no estudo de caso deu-se em função da vida útil de projeto das pontes, que, em geral, é de 50 anos para pontes de concreto. Eles foram definidos com o intuito de demonstrar a metodologia proposta nesta pesquisa e não têm a pretensão de prever as alterações das características da corrente de tráfego ao longo do tempo. Os cenários foram assim estabelecidos: 1) crescimento do fluxo de tráfego atual a uma taxa de 2% ao ano para um período de 50 anos, mantendo a composição do tráfego obtida nas coletas de dados (27% de caminhões); e 2) crescimento do fluxo de tráfego atual a uma taxa de 2% ao ano para um período de 50 anos, modificando a composição do tráfego para contemplar uma participação de 50% da frota de veículos pesados. O cálculo do crescimento do tráfego foi feito admitindo uma progressão geométrica e o fluxo diário de tráfego atual foi definido como o observado no dia da segunda coleta de dados, obtido através de sensores automáticos instalados no pavimento pela concessionária que administra o trecho. 38 Transporte em Transformação XI O tramo escolhido para representar a ponte está localizado no sentido Norte da rede e o único aspecto considerado na sua escolha foi a sua posição em relação ao ponto de início da rede, pois um tramo localizado muito próximo da entrada da rede sofreria uma grande influência do processo de geração de veículos do simulador de tráfego e pouca influência do car-following e da mudança de faixa, o que não seria desejável. Dessa forma, o tramo escolhido está situado a uma distância aproximada de 2 km do início da rede e possui extensão de 100 m. Neste trabalho, considera-se que a ponte é simplesmente apoiada, apesar de, na prática, vãos maiores que 50 m dificilmente serem empregados em pontes com esse sistema estrutural. Diante da necessidade de obter dados microscópicos da simulação, verificouse que o arquivo padrão de saída do CORSIM não poderia ser utilizado, já que ele contém apenas relatórios globais e esse tipo de informação não atende aos propósitos desta pesquisa. Nesse caso, a fim de obter dados individuais de cada veículo simulado, foi usado um outro arquivo de saída, o TSD, que é um arquivo de resultados binário gerado pelo CORSIM em que são escritas a cada segundo de simulação diversas informações sobre cada um dos veículos. Para ler o arquivo TSD, foi desenvolvida uma macro escrita na linguagem VBA. Em síntese, a macro busca em um determinado tramo da rede os segundos em que ocorrem a presença dos veículos do tipo 3 a 6 (que representam os caminhões no CORSIM). Aqui, o tramo de interesse é o que representa a ponte. Para os instantes em que se verifica a existência de caminhões no tramo, são extraídos os números de identificação dos veículos (ID), os tipos de veículos (3, 4, 5 e 6), as faixas de tráfego em que eles se encontram naquele instante (faixa 1 ou 2) e suas posições nessas faixas. Apesar da possibilidade de existência de automóveis ou ônibus juntamente com os caminhões, eles não são levados em conta neste trabalho porque não chegam a produzir solicitações suficientes para causar danos às pontes (Loriggio, 1993). A macro associa o tipo de veículo extraído do CORSIM ao banco de dados obtido das pesagens nas balanças. Essa associação é feita através de análises probabilísticas com a geração de números aleatórios. Nelas são definidas a configuração de eixos, a marca/modelo e os pesos por eixo de cada caminhão, com suas respectivas distâncias entre eixos. Para a análise do efeito do tráfego dos caminhões sobre a ponte foi preciso obter a carga móvel determinada na norma brasileira e a gerada pelas simulações. Para Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 39 isso, foi usado o FTOOL, um programa que se destina à análise do comportamento estrutural de pórticos planos. Segundo a NBR-7188, em pontes rodoviárias, a carga móvel é constituída por um veículo-tipo e por cargas q e q’ uniformemente distribuídas. Enquanto a carga q procura levar em consideração a existência de outros veículos na ponte, a carga q’ tenta reproduzir a ação de multidão (ABNT, 1984). Neste trabalho, considera-se que a ponte é da classe 45, o que implica que a carga q tem valor de 5 kN/m2. Essa carga deve ser aplicada nas faixas de tráfego e nos acostamentos, deduzindo-se apenas a área ocupada pelo veículo-tipo. A carga q’, que possui valor de 3 kN/m2 para todas as classes de ponte e é aplicada nos passeios, não foi considerada nesta pesquisa. A razão para tal reside no fato de que o efeito provocado por ela seria o mesmo para as situações de carregamento móvel da norma e carregamento móvel das simulações. O tabuleiro considerado para a ponte foi de 8,20 m, ou seja, duas faixas de tráfego com 3,60 m cada e um acostamento com 1 m. A largura do tabuleiro é levada em conta no cálculo da carga q. Para a ponte simplesmente apoiada, o veículo-tipo, com suas três cargas concentradas de 150 kN cada uma, é posicionado no meio do vão. Essa localização representa o caso mais crítico para o cálculo do momento fletor. O peso total do trem-tipo para esse vão é de 4.460 kN e o momento fletor máximo provocado tem valor de 6.009 kN.m. O carregamento móvel gerado pelos veículos simulados corresponde às cargas por eixo dos caminhões e suas localizações na ponte, obtidas com o uso da macro. Nesse caso são considerados apenas os pesos dos eixos efetivamente sobre a ponte. Vale lembrar que uma vez que se obtém toda a distribuição de cargas sobre a ponte, que poderia ser chamada de um trem-tipo representativo, não é necessária a consideração da carga q, já que ela é admitida na norma para reproduzir as solicitações provocadas por outros veículos na ponte além do veículo-tipo. Devido à alta freqüência das probabilidades de ocorrência de algumas quantidades de caminhões sobre a ponte, optou-se por fazer a análise do efeito provocado pela presença de múltiplos caminhões apenas para os três maiores carregamentos totais das três maiores quantidades verificadas para cada cenário simulado. Entende-se que, de forma geral, os maiores carregamentos levam à análise dos casos mais críticos. No Cenário 1, foi observado um máximo de 10 caminhões simultaneamente sobre a ponte. No Cenário 2, esse valor chegou a 12. 40 Transporte em Transformação XI Os dados obtidos indicam que o carregamento máximo foi verificado no Cenário 2 com a presença simultânea de 10 caminhões sobre a ponte. O valor desse carregamento é de 2.843 kN, que representa 63,74% do peso do trem-tipo normativo. O momento mais crítico foi ocasionado por esse mesmo carregamento. Seu valor é 4.082 kN.m, correspondente a 67,93% do causado pelo trem-tipo normativo. Um dado interessante é que o menor momento obtido é ocasionado pela presença de 12 caminhões no Cenário 2. Esse resultado indica que o número de caminhões na ponte, que a princípio pode ser visto como um fator crítico, não é predominante no cálculo do momento fletor. A razão para isso decorre do fato de que quanto maior o número de caminhões, menores e mais leves eles tendem a ser, implicando em menos eixos e carregamentos totais menores. 9. conclusões A calibração do CORSIM fez com que o erro médio do simulador fosse reduzido de 9,11% para 6,32%. Essa redução relativa de aproximadamente 30% é considerada significativa e demonstra a eficiência do uso de um algoritmo genético para a calibração de um modelo de simulação. O processo de validação comprovou que os parâmetros obtidos na calibração poderiam ser usados para outro conjunto de dados com características distintas. O método de obtenção de um carregamento móvel através de um simulador de tráfego se mostra viável e adequado, uma vez que incorpora um modelo de car-following para representar o posicionamento dos veículos sobre as pontes. Apesar da necessidade de agregar veículos com características similares para fins de simulação (devido a uma limitação do CORSIM), a análise probabilística a partir da geração de números aleatórios torna possível a desagregação dos dados de uma maneira que não compromete os resultados obtidos. Apesar de o estudo de caso ter sido realizado para a análise estrutural de uma ponte, o método de obtenção do carregamento móvel desenvolvido nesta tese pode ser adaptado para aplicação no dimensionamento de pavimento, outro componente da infra-estrutura rodoviária. É importante ressaltar também que, embora tenha sido feita a análise de um único vão em um sistema estrutural específico, a metodologia desenvolvida pode ser aplicada para vãos de quaisquer magnitude e sistema estrutural. Análise do efeito do tráfego de veículos pesados sobre uma ponte através de simulação microscópica 41 Agradecimentos Os autores agradecem o apoio financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa fornecido pela CAPES e pelo CNPq. O algoritmo para calibração do CORSIM foi parcialmente desenvolvido durante estágio sanduíche na Texas A&M University, com a colaboração do Prof. Laurence Rilett, cujo apoio os autores agradecem. Os autores agradecem também as sugestões e o apoio fornecidos pelo Prof. Mounir Khalil El-Debs (SET-EESC-USP) e pelo Dr. Luciano Maldonado Ferreira durante o desenvolvimento do estudo de caso. 42 Transporte em Transformação XI Referências bibliográficas ABNT (1984). NBR 7188 – Carga Móvel em Ponte Rodoviária e Passarela de Pedestres. Rio de Janeiro. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE (2006). Boletim estatístico da CNT. Disponível em: <http://www.cnt.org.br>. Acesso em: 30 dez. 2006. CRESPO-MINGUILLÓN, C.; CASAS, J. R. (1997). 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In: 83rd ANNUAL MEETING OF THE TRANSPORTATION RESEARCH BOARD, 2004, Washington. Proceedings... 1 CD-ROM. Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 2 Antonio Galvão Novaes Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas Universidade Federal de Santa Catarina Resumo Problemas de localização de facilidades numa região são freqüentes na literatura. Nos problemas de zoneamento, por outro lado, o objetivo é dividir o território em sub-regiões menores, denominadas distritos ou zonas, de forma a otimizar uma determinada função objetivo e garantindo certas condições de balanceamento da demanda, de contigüidade, e soluções compactas. Embora diversos problemas de localização e de zoneamento têm sido tratados de forma discreta, agrupando áreas elementares em distritos com o auxílio de um modelo matemático, o atual estágio da computação tem permitido a utilização de modelos contínuos, com aproximações baseadas na distribuição da demanda sobre a região 44 Transporte em Transformação XI e não nas informações específicas de cada unidade a ser atendida. Diagramas de Voronoi podem ser utilizados com sucesso na resolução de problemas de localização e zoneamento desse tipo. São apresentados, neste artigo, os principais contornos teóricos e práticos do assunto, seguidos de uma aplicação a um problema de transporte. Abstract Facility location problems over a region are frequent in the literature. In districting problems, on the other hand, the aim is to partition a territory into smaller units, called districts or zones, while an objective function is optimized and some constraints are satisfied, such as balance, contiguity, and compactness. Although many location and districting problems have been treated by assuming the region previously partitioned into a large number of elemental areas and further aggregating these units into districts with a mathematical programming model, continuous approximation, on the other hand, is based on the spatial density of demand, rather than on precise information on every elementary unit. Voronoi diagrams can be successfully used in association with continuous approximation models to solve location-districting problems, specially transportation and logistics applications. We discuss in the paper the main theoretical and practical elements associated to this subject, followed by an application to a transportation problem. 1. Introdução A grande maioria de problemas de transporte e de logística envolve relações espaciais, sejam elas de divisão de território (definição de zonas de tráfego, por exemplo), localização de facilidades (estações de metrô, depósitos, centros de distribuição de mercadorias, pontos de transbordo, etc.), redes de transporte, etc. Muitos problemas apresentam formulação discreta, mas com os avanços da computação, modelos contínuos têm sido utilizados de forma crescente ( Langevin et al., 1996; Novaes et al., 2000; Dasci e Verter, 2001; da Silva, 2004; Galvão et al., 2006, Novaes et al., 2007 ), principalmente nas fases de planejamento de novos sistemas de transporte e de logística. Neste trabalho vamos abordar, dentro da formulação contínua, dois tipos de problemas bastante comuns na análise de Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 45 sistemas de transportes e de logística, e apresentados de forma integrada: problemas de localização de facilidades e problemas de zoneamento (districting). Problemas de localização de facilidades (Drezner, 1995; Drezner e Hamacher, 2002) buscam determinar os locais ótimos para sediar instalações diversas de forma a otimizar uma função objetivo, como, por exemplo, minimizar o custo de transporte, maximizar a demanda atraída pelo serviço, além de outras. Esse tipo de problema tem frequentemente natureza geométrica e combinatória. A literatura técnica apresenta um grande número de aplicações: localização de estações de metrô, de hospitais, escolas, depósitos, centros de distribuição, etc. O objetivo dos problemas de zoneamento, por outro lado, é obter a partição otimizada de um território em unidades menores, chamadas de distritos, bolsões, ou zonas, obedecendo algumas restrições. Uma parte dessas restrições reflete basicamente critérios de bom senso. Uma delas procura equilibrar a demanda entre os distritos. Além disso, os distritos ou zonas devem ser contíguos e geograficamente compactos (Williams, 1995; Mehotra et al., 1998). Outras restrições refletindo a natureza específica do problema são normalmente adicionadas ao modelo. Problemas de zoneamento são freqüentes em diversas aplicações práticas. Por exemplo, zoneamento escolar (Schoepfle et al., 1991), definição de distritos policiais (D’Amico et al., 2002), divisão de território para vendedores (Zoltners e Sinha, 1983), são exemplos típicos. No caso específico de transporte e logística são encontradas também diversas aplicações na literatura técnica: definição de distritos para aplicação de sal em redes urbanas (Muyldermans et al., 2002), distribuição espacial de clientes de centros de distribuição (Zhou et al., 2002), definição de zonas de entrega para veículos de distribuição de produtos (Dasci e Verter, 2001; Novaes et al., 2000; Galvão et al., 2006, Novaes et al., 2007), etc. Uma forma de resolver problemas de zoneamento é partir de uma divisão prévia do território em pequenas áreas e agrupá-las para gerar um certo número de distritos, de forma a otimizar uma função objetivo, obedecendo algumas restrições (William, 1995; Mehrotra et al., 1998). Já nos problemas com formulação contínua, o espaço subjacente é representado por variáveis contínuas e a análise é baseada na distribuição aproximada da demanda sobre a região e não nas informações específicas de cada unidade a ser atendida (Langevin et al, 1996; Galvão et al., 2006). 46 Transporte em Transformação XI A associação de técnicas de aproximação contínua com diagramas de Voronoi permite resolver uma série de problemas da vida real. Especificamente, aplicações de diagramas de Voronoi não ordinários têm sido apresentados na literatura (Suzuki e Okabe, 1995; Boots et al., 1997; Okabe et al., 2000; Galvão et al., 2006, Novaes et al., 2007). Boots et al. (1997) utilizaram diagrama de Voronoi com pesos multiplicativos para definir áreas de competição no comércio varejista. Galvão et al. (2006) desenvolveram modelo matemático incorporando diagrama de Voronoi com pesos multiplicativos para resolver um problema de distribuição urbana de carga parcelada. Esse mesmo problema foi resolvido considerando a existência de barreiras no processo de criação dos distritos (da Silva, 2004). O objetivo deste artigo é descrever e analisar modelos de localização e/ou zoneamento aplicados à solução de problemas de transporte, combinando diagramas de Voronoi com algoritmos de otimização. Na Seção 2 é apresentado um resumo dos conceitos básicos e propriedades sobre diagramas de Voronoi de interesse para a solução de problemas de transportes e logística. A Seção 3 aborda aspectos computacionais ligados à construção prática de diagramas de Voronoi. Na Seção 4, por sua vez, é apresentada em detalhe uma aplicação na área de transporte urbano. Finalmente, na Seção 5, são apresentadas as conclusões. 2. Diagramas de Voronoi Diagramas de Voronoi, de interesse para nosso estudo, são definidos no plano ( R ), embora também sejam analisados noutras dimensões. O conceito básico de diagrama de Voronoi é bastante simples (Aurenhammer, 1991; Okabe et al., 2 2000): dado um conjunto de pontos distintos P ≡ {P1 , P2 ,..., Pm } num espaço contínuo, procura-se associar todos os demais pontos desse espaço com o membro mais próximo do conjunto P (aqui a distância está ligada a uma métrica específica, cujas várias formulações serão sumarizadas adiante). O conjunto fechado de m pontos constitui o conjunto gerador do diagrama de Voronoi, representado por P ≡ {P1 , P2 ,..., Pm } , com m ≥ 2. Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 47 Sendo m( X , Y ) a variável que exprime a distância entre dois pontos numa métrica apropriada, e sendo X,Y∈ R 2 pontos do plano, o diagrama de Voronoi é definido matematicamente por V ( Pi ) = { X ∈ R 2 | m( X , Pi ) ≤ m(X , Pj ) , j = 1,..., m } (1) O exemplo clássico é o diagrama de Voronoi ordinário, em que a distância entre dois pontos é a Euclidiana, com m( X , Y ) = X − Y , com as sub-regiões resultantes formadas por polígonos convexos (Figura 1a). Figure 1 - Diagrama de Voronoi ordinário e com pesos multiplicativos Há situações em que a distância Euclidiana não representa bem o processo de atração dos pontos geradores. Por exemplo, suponhamos que os seis pontos geradores mostrados na Figura 1b sejam lojas de varejo vendendo um mesmo tipo de produto. Suponhamos adicionalmente que, além da distância, a atração das lojas depende de uma série de atributos refletidos nos pesos mostrados na Figura 1b. Para representar adequadamente esse tipo de inter-relação, diversos tipos de diagrama de Voronoi foram desenvolvidos. Um deles é o diagrama de Voronoi com pesos multiplicativos (Voronoi-PM), representado pela seguinte métrica (Okabe et al., 2000) m( X , Pi ) = 1 wi X − Pi , (2) 48 Transporte em Transformação XI onde wi (i = 1, 2,..., m) representa um conjunto de pesos estritamente positivos. Para o caso de dois pontos geradores, o lugar comum dos pontos do plano que satisfazem (2) é o cículo de Apolônio (Okabe et al., 2000), exceto quando w1 = w2 , quando o bissetor se torna uma reta. A Figura 1b mostra um exemplo de diagrama de Voronoi-PM, para os pesos mostrados no gráfico. De uma forma geral, a região resultante não é necessariamente convexa ou conectada, podendo inclusive apresentar espaços vazios (Okabe et al., 2000). Por essa razão, cuidado especial deve ser tomado ao se desenvolver modelos iterativos computacionais envolvendo Voronoi-PM. Caso contrário, o processo computacional pode não convergir ou pode gerar soluções não realistas (Galvão et al., 2006). De forma análoga, o diagrama de Voronoi com pesos aditivos (Voronoi-PA) é representado por (Okabe et al., 2000) m( X , Pi ) = X − Pi − wi . (3) Aqui, o sinal de wi não é restritivo, podendo ser positivo ou negativo dependendo do problema. Considerando dois pontos geradores Pi e Pj, o bissetor associado ao diagrama de Voronoi-PA é um segmento de uma curva hiperbólica com focos em Pi e Pj, ou um segmento de reta em casos particulares (Okabe et al., 2000). Há também o diagrama de Voronoi com pesos combinados (Voronoi-PC), representado por m( X , Pi ) = 1 X − Pi − wi 2 , wi1 (4) Onde o sinal de wi 2 também não é restrito a valores positivos. Para este tipo de diagrama de Voronoi, os limites das sub-divisões são representados por uma função polinomial de grau quatro, com forma geométrica bastante complexa (Okabe et al., 2000). Finalmente, o diagrama de Voronoi de potência (Voronoi-PT) é definido da seguinte forma m( X , Pi ) = 2 X − Pi − wi (5) Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 49 Para este caso os limites das sub-regiões geradas pelos pontos geradores Pi e Pj é um segmento de reta perpendicular ao segmento ligando os pontos Pi e Pj , e passando pelo ponto X ij* dado por (Okabe et al., 2000) X * ij = Pj 2 2 − Pi + wi − w j 2 Pj − Pi 2 ( Pj − Pi ) , (6) Uma propriedade importante do diagrama de Voronoi-PT, bastante útil nas aplicações, é que as sub-regiões são polígonos convexos. Esse tipo de diagrama de Voronoi é especialmente indicado para solução de problemas com barreiras impostas por vias expressas, rios, lagos, grandes parques, montanhas, etc. Para problemas com barreiras, a métrica para medir as distâncias é mais elaborada (Okabe et al., 2000; da Silva, 2004). Se um obstáculo ou barreira está colocado na linha reta entre uma origem e um destino, torna-se necessário realizar um desvio em torno do obstáculo. A métrica adotada, neste caso, é a da distância visível mais curta (Okabe et al., 2000; da Silva, 2004). 3. Aspectos Computacionais A pesquisa científica em geometria computacional vem atraindo grande interesse nos últimos anos (Preparata e Shamos, 1975; Hoff III et al., 2000), cobrindo diversas áreas de informática, como, por exemplo, jogos computacionais, projeto assistido por computador, robótica, reconhecimento de padrões, etc. Em particular, também cresceu muito o interesse por diagramas de Voronoi (Aurenhammer, 1991, Hoff III et al., 2000). Os enfoques atualmente utilizados para a construção de diagramas de Voronoi são métodos combinatórios, técnicas incrementais, métodos de divisão e conquista (divide-and-conquer), e métodos aproximados, destacandose a técnica plane-sweep (Fortune, 1987; Aurenhammer, 1991) e a técnica quadtree (Samet, 1988). A técnica plane-sweep foi desenvolvida por Fortune (1987) e se destaca pela sua concepção e simplicidade computacional. Uma interessante demonstração prática desse método pode ser encontrado em < www.diku.dk/hjemmesider/ studerende/duff/ 50 Transporte em Transformação XI Fortune/ >. O método plane-sweep é bastante eficaz para a construção de diagramas de Voronói do tipo ordinário e com pesos aditivos, mas não resolve problemas com pesos multiplicativos e problemas com barreiras. Por essa razão utilizamos na nossa pesquisa a técnica quad-tree (Samet, 1988), que se aplica igualmente a todos os tipos de diagramas de Voronoi de interesse. A técnica quad-tree (Samet, 1988) é um processo computacional para representação de imagens baseado na sucessiva sub-divisão da figura em quadrantes, seguindo uma estrutura hierárquica de dados. Suponha, por exemplo, que se deseja definir graficamente um bissetor de um diagrama de Voronoi qualquer, bissetor esse que separa dois distritos adjacentes i e j (Figura 2a). Aqui os quadrantes são quadrados, mas podem também ser retângulos. Em cada estágio do processo (representado pelos diversos níveis na Figura 2b), cada vértice do quadrante é examinado, determinando-se qual o ponto gerador do diagrama de Voronoi mais próximo a ele. Podem ocorrer duas situações: (a) os quatro vértices do quadrante têm um mesmo ponto gerador como elemento mais próximo; (b) pelo menos um dos vértices é associado a um ponto gerador diferente dos demais. Uma função simples FQ é definida: (a) FQ = i , se os quarto vértices do quadrante Q estão relacionados com o mesmo ponto gerador i; (b) FQ = 0 , se uma parte dos vértices do quadrante Q está relacionada com um ponto gerador i, e os outros vértices estão relacionados com pontos geradores diferentes de i. À medida que se avança nos níveis, forma-se uma árvore de grau 4, em que a raiz (um quadrante) se abre em quatro elementos iguais representados simbolicamente pelos quadrantes NW, NE, SW, e SE, obtidos pela sub-divisão da raiz (Samet, 1988). É o que mostra a Figura 2. Os dados de cada quadrante são colocados num arquivo contendo seis registros. Os primeiros cinco registros contêm a identificação da raiz (quadrante pai) e dos quatro quadrantes gerados a partir dela (quadrantes filhos). O sexto elemento registra o valor da função FQ . Por exemplo, na obtenção do bissetor separando as sub-regiões i e j da Figura 2a, inicia-se com a imagem plena inicial formada pelo quadrado ACEGA. Para o quadrante NW (ABIH na Figura 2a) tem-se FQ = 0 , pois os vertices A, B, and H estão próximos do ponto gerador i, enquanto o vértice I está próximo do ponto gerador j. Os quadrantes NE e SW têm também FQ = 0 , mas, para o quadrante SE, tem-se FQ = j , já que seus quatro vértices estão próximos do mesmo ponto gerador j. Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 51 As seguintes regras são estabelecidas para o processo quadtree: a) O processo de sub-divisão termina quando se encontra um sub-quadrante tal que FQ = k (k ≠ 0) . Por exemplo, o quadrante SE (quadrado DEFI ) na Figura 2a. b) O processo de sub-divisão prossegue enquanto FQ = 0 . Neste caso os valores de FQ são determinados para os quarto sub-quadrantes gerados a partir dele e registrados. c) Quando a seqüência atinge um determinado nível de precisão préestabelecido, o processo quadtree termina. A Figura 2b mostra a seqüência de codificação do processo quadtree relacionado com o quadrante noroeste ABIHA da Figura 3a. Os nós circulares em branco representam os quadrantes do tipo FQ = 0 . Os nós circulares pretos indicam as células finais (dentro do nível de precisão desejado) que vão constituir a curva bissetora procurada. No exemplo da Figura 2, apenas quatro níveis foram examinados e, obviamente, o bissetor resultante é bastante impreciso, exigindo maior detalhamento. Os nós quadrados, por sua vez, representam quadrantes terminais do tipo FQ = k , com k ≠ 0 . Figure 2 - A técnica quad-tree aplicada à construção de um diagrama de Voronoi. 52 Transporte em Transformação XI A técnica quad-tree leva a uma redução substancial do tempo de computação na construção de diagramas de Voronoi não ordinários. De fato, os pontos que formam as curvas bissetoras dos diagramas de Voronoi são esparsos sobre a região plana de interesse e uma grande parte dos quadrantes serão do tipo FQ = k (k ≠ 0) , nos vários níveis do processo. Essa situação geral leva a uma substancial redução no processo de sub-divisão dos quadrantes. Em segundo lugar, quando a construção do diagrama de Voronoi é completada, torna-se necessário determinar os valores de diversas funções e de integrais para cada um dos distritos, e os quadrantes resultantes, de tamanhos diversos, facilitam em muito essa tarefa. A técnica quadtree foi utilizada para construir os diagramas de Voronoi associados à aplicação descrita na Seção 4. 4. Aplicação aos Transportes Será apresentado nesta seção um exemplo de aplicação de diagrama de Voronoi associado a um modelo de localização-alocação na área de transporte urbano de pessoas. Outros problemas de transportes e de logística podem também ser tratados com a mesma metodologia (da Silva, 2004; Galvão et al., 2006; Novaes et al., 2007). 4.1 Descrição do problema Diagramas de Voronoi são úteis para análise espacial e otimização de localização de diversos problemas de transporte e de logística. Neste artigo é apresentado e discutido um problema de localização de estações ao longo de um trecho de linha de metrô. A localização ótima das estações de metrô e a alocação da demanda às diversas estações são dois aspectos importantes relacionados com projetos desse modo de transporte urbano (Hamacher et al., 2001; Saka, 2001; Laporte et al., 2002, Novaes et al., 2007). Nesta seção é apresentada uma aplicação específica, na qual os usuários se deslocam de suas origens para um terminal localizado no centro da cidade (CBD), escolhendo como meio de transporte o metrô, ou uma linha de ônibus alternativa, ou caminhando diretamente ao CBD. O problema é determinar o número de estações de metrô e suas localizações ótimas, de forma a maximizar a captação da demanda para esse meio de transporte. Outros objetivos podem ser adotados, como, por exemplo, a minimização do tempo médio de deslocamento total Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 53 até o terminal do CBD (Okabe et al., 2000, Seção 9.2.7), minimização do tamanho da frota de veículos para um determinado nível de demanda (Saka, 2001), etc. Seja a região urbana hipotética R mostrada na Figura 3, que é atualmente servida por uma linha de ônibus convergindo para o terminal CBD. Além do terminal CBD, existem sete pontos de embarque/desembarque ao longo da linha de ônibus, (numerados 1,…,7), dentro da região R. Uma nova linha de metrô está sendo planejada, que se desenvolverá ao longo de uma circunferência de raio r = 3.85 km, como mostrada na Figura 3. A demanda de transporte, no caso, segue uma função de densidade exponencial negativa, circular, com centro no CBD. As curvas circulares da Figura 3 indicam os níveis de demanda em termos percentuais, correspondendo 100% ao CBD. Ao acrescentar uma nova estação à linha do metrô, dois efeitos contrários influem na possibilidade de captação adicional da demanda, e na perda de parte da demanda já existente (Hamacher et al., 2001; Laporte et al., 2002). Em primeiro lugar, o tempo de percurso do metrô vai aumentar devido aos tempos adicionais ocasionados pela aceleração e desaceleração da composição, como também pela parada do trem na nova estação. Para alguns usuários, esse tempo adicional pode alterar sua escolha do modo de transporte, levando-os a selecionar o ônibus ou decidir ir a pé até o CBD. Em segundo lugar, esse acréscimo no número de pontos de embarque poderá atrair para o metrô novos usuários localizados nas proximidades da nova estação. Assim, dois efeitos contrários ocorrem nesse processo, e o modelo de otimização busca equilibrar tais efeitos, selecionando o número e a localização das estações que maximizem a captação da demanda para o sistema de transporte rápido (Hamacher et al.,2001; Laporte et al., 2002). 4.2 Diagrama de Voronoi correspondente Sejam ga e gd a aceleração e a deceleração da composição de metrô e seja VC sua velocidade de cruzeiro projetada (Saka, 2001). Durante as fases de aceleração e desaceleração, as distâncias cobertas pelo veículo são, respectivamente, D(a) = VC2 V2 and D ( d ) = C . 2 ga 2 gd (7) Se Di , i +1 é a distância na linha férrea entre as duas estações adjacentes i e i + 1 , a velocidade do metrô nesse trecho é dada por 54 Transporte em Transformação XI (s) V V i , i +1 = ( D ( a ) + D ( d ) ) C + ( Di , i +1 − D ( a ) − D ( d ) ) VC / Di , i +1 , 2 se D ( a ) + D ( d ) ≤ Di , i +1 e por (s) V i , i +1 = 1 2 ga gd Di , i +1 , 2 ga + gd (8) (9) em caso contrário (Saka, 2001). Figura 3 – Uma região urbana servida por uma linha de ônibus e uma nova linha de metrô Figura 3 – Uma região urbana servida por uma linha de ônibus e uma nova linha de metrô Para cada configuração, representada pelo número de estações e as respectivas localizações, a velocidade média em cada link é computada de acordo com (8) ou (9). Assim, o tempo de percurso da composição, desde a estação i até o CBD, é dado por i −1 D j , j +1 j =0 (s) j , j +1 tvi( s ) = ∑ V + i ∑ j =1 ST (s) , (10) Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 55 (s) onde ST é o tempo médio de parada numa estação. No caso da linha de ônibus, uma vez que o número e as localizações dos pontos de parada são admitidos fixos no problema, e uma vez que o movimento dos veículos é afetado pelas interferências com o fluxo externo, admitiu-se uma velocidade média constante (b ) V . Assim o tempo médio de percurso do ônibus desde o ponto de parade i até o CBD é dado por i −1 tvi(b ) = ∑ j =0 D j , j +1 V (b ) + i ∑ ST (b ) , (11) j =1 (b ) onde ST é o tempo médio de parada do ônibus num ponto qualquer. Por outro lado, o tempo de percurso a pé do usuário, desde seu ponto de origem X até um ponto de ônibus ou uma estação de metrô, representados genericamente por Pi , é dado por (i ) tH = k X − Pi , VH (12) onde VH é a velocidade média de uma pessoa ao caminhar, sendo k um coeficiente corretivo (route factor) que reflete a impendância da rede viária em relação à métrica Euclidiana (Galvão et al., 2006; Laporte et al., 2002). O tempo médio de espera tW( L ) num ponto de embarque qualquer é admitido como igual à metade do headway t L observado na rota L que contenha i ( L = s para metrô, e L = b para ônibus). O tempo total gasto por uma pessoa se deslocando do ponto X até o CBD, através do ponto de embarque genérico i (metrô ou ônibus), é dado pela soma desses três elementos Ti = tvi( L ) + t H(i ) + tW( L ) (i = 1,..., m) . (13) Assim, para cada origem X, o modelo busca o ponto de embarque i (seja ônibus, metrô, ou caminhando diretamente a pé até o CBD) que apresente o menor 56 Transporte em Transformação XI valor de T (i ) . Fazendo as necessaries substituições em (13), Ti pode ser expresso da seguinte forma Ti = c X − Pi + wi , (i = 1, 2..., m) , (14) onde c é uma constante. Dividindo ambos os termos de (14) por c, o processo de zoneamento resultante, em cada estágio do modelo de localização/alocação, pode ser representado por um diagrama de Voronoi com pesos aditivos (Seção 2), associado aos pontos geradores P ≡ {P1 , P2 ,..., Pm } , que são, no caso, os pontos de transferência (ônibus, metrô e o CBD). 4.3 Modelo de localização/alocação O objetivo do modelo de localização/alocação é maximizar o total de passageiros que potencialmente pode ser transportado pelo metrô, atuando em duas variáveis de decisão: (a) número de estações de metrô; (b) localização das estações ao longo da linha. Uma vez que o traçado em planta do metrô já está definido neste exemplo, os locais possíveis para localização das estações estão sobre um arco de circunferência. Esses pontos podem então ser representados por uma variável θ (um ângulo) de forma que cada ponto ao longo da linha corresponda a um valor de θ dentro do intervalo (θmin , θmax). Seja Θ = (θ1, …,θs) o vetor que representa as localizações das estações, sendo s o número de estações. Seja f ( X ) , por outro lado, a função que representa a densidade da demanda no ponto X. A função objetivo a ser maximizada é a seguinte G (Θ s ) = b+ s ∑ ∫ f ( X ) dX , (15) i =b +1 V i onde i representa as estações de metrô (i = 1, 2,..., s ) , sendo Vi o diagrama de Voronoi correspondente à estação i. A avaliação numérica de G ( Q s ) envolve a construção do diagrama de Voronoi, com pesos aditivos, correspondente a cada ponto de embarque (ônibus, metrô, a pé). Essa construção foi feita, neste caso, com a técnica quad-tree (Seção 3). Foi utilizado, para maximizar (15), o método de Hooke e Jeeves (1962). No modelo foi imposta apenas uma restrição, obrigando a distância média entre estações de metrô não ser inferior a uma determinada extensão, no caso em questão 800m. Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 57 4.4 Aplicação do modelo Para a aplicação do modelo foram adotados os seguintes valores para as variáveis do problema: k = 1.35 , VH = 4.4 km/h, V (b ) = 20 km/h na linha de ônibus, VC = 60 km/h para o metrô, tempo médio de parade igual a 90 seg para ônibus e 30 seg para metrô, headway de 5 min para ônibus e 1,5 min para o trem. Por outro lado, as pessoas não estão dispostas a andar longas distâncias para usar o transporte público, preferindo, nesse caso, ir direto a pé ao CBD, utilizar o automóvel ou tomar um táxi. Com base em Sullivan e Morral (1996), admitimos um tempo máximo de percurso a pé de 20 min até a estação do metrô, e de 15 min até o ponto de ônibus. O modelo de otimização, combinado com o sub-programa para construir o diagrama de Voronoi com pesos aditivos, foi aplicado variando o número de estações do metrô de 1 a 7. Os resultados são mostrados na Tabela 1, onde aparecem o número de iterações necessárias para se chegar à solução ótima, a distância média entre estações e o nível de demanda atraída pelo metrô, expressa em porcentagem sobre a demanda total. Observa-se que, para 5 estações, se alcança o máximo nível de atração da demanda para o metrô. Mas, como a distância média mínima entre estações foi limitada a 800m nesta aplicação, a solução final, que atende à restrição, possui quatro estações, conforme indicado na Tabela 1. Na Figura 4 são mostradas as localizações ótimas das estações de metrô para a solução de quatro instalações, juntamente com as áreas de influência de cada ponto de embarque, mais o CBD. Essas áreas de influência são o resultado da aplicação do diagrama de Voronoi com pesos aditivos. Table 1 - Resultados da otimização em função do número de estações do metrô Número de estações do metro (s) 1 2 3 4 5 6 7 Número de iterações 29 65 205 227 359 441 443 Distância media entre estações (m) 2,103 1,402 1,051 841 701 601 526 Demanda atraida pelo metrô (%) 25.38 44.04 50.71 52.19 52.62 (*) 52.32 51.61 (*) Captação máxima da demanda pelo metrô devida aos efeitos contrários na atração dos usuários. 58 Transporte em Transformação XI 5. Conclusões Desenvolvimentos recentes em geometria computacional abriram caminho para se trabalhar com diagramas de Voronoi de maior escala e mais complexos, o que possibilitou resolver importantes problemas de transportes e de logística. A utilização de diagramas de Voronoi não ordinários, como o de pesos multiplicativos, aditivos ou combinados, bem como os diagramas de Voronoi com obstáculos, associados a modelos de otimização do tipo localização-alocação, permitem resolver problemas práticos nas fases de planejamento de sistemas de transporte, conforme demonstrado no presente trabalho. Da mesma forma, problemas espaciais de logística podem ser resolvidos de forma semelhante. De fato, diagramas de Voronoi podem ser utilizados na solução de problemas logísticos relacionados com a determinação de zonas de serviços a serem alocadas a pessoas ou veículos (Boots e South, 1997; Galvão et al., 2006; da Silva, 2004; Novaes et al., 2007). A utilização de diagramas de Voronoi na solução de problemas logísticos leva geralmente a fatores de carga mais equilibrados entre os distritos. Isso ocorre porque os diagramas de Voronoi associados a esses problemas apresentam grau de liberdade maior do que as formas de zoneamento resultantes dos métodos tradicionais. Por outro lado, o potencial das possíveis aplicações de diagramas de Voronoi é bastante grande e merece ser explorado extensiva e intensivamente. Resolução de Problemas de Transporte com Diagramas de Voronoi 59 Agradecimento Esta pesquisa foi apoiada financeiramente pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, projeto nº 300886/2005-5. Figure 4 – Resultado da aplicação do modelo de localização-alocação com o auxílio de diagrama de Voronoi 60 Transporte em Transformação XI Referências bibliográficas Aurenhammer, F. (1991) Voronoi Diagrams – a Survey of a Fundamental Geometric Data Structure. ACM Computing Surveys, v. 23, n. 3, p. 345-405. Boots B.e R. South (1997) Modeling Retail Trade Areas Using Higher-order, Multiplicatively Weighted Voronoi Diagrams. 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Endereço do autor: Antonio Galvão Novaes Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário – Trindade Florianópolis, SC 88040-900 Tel: (48) 3721 7009 Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 3 Marcos Miura Cláudio Barbieri da Cunha Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Logísticos Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Resumo Este artigo trata do problema do agrupamento de cargas fracionadas na distribuição do cimento ensacado partindo de um depósito central. O problema consiste em definir quais entregas de cimento serão carregadas juntas em um determinado veículo, de modo a aproveitar ao máximo sua capacidade e ao mesmo tempo minimizar o custo com o frete pago aos transportadores que farão sua distribuição. Em especial, o método de resolução proposto pode ser dividido em três fases. Na primeira fase, as entregas pertencentes a um mesmo cliente são agrupadas prioritariamente. Na segunda fase, são agrupadas as entregas de clientes dentro de uma mesma cidade. Neste caso, uma simplificação necessária é considerar 64 Transporte em Transformação XI que todas as entregas de uma mesma cidade estão localizadas em um único ponto. Com isso, a distância entre os clientes se torna irrelevante e é proposto um método baseado em um algoritmo genético para resolução de problemas de “bin-packing” (BPP). Para a terceira fase, é considerado o agrupamento para pontos de entrega pertencentes a cidades diferentes, onde as distâncias rodoviárias são consideradas. Nesta etapa, é proposta uma variação do método anterior, incorporando ao modelo algumas heurísticas para resolução de problemas de roteirização de veículos, como o algoritmo de Clarke & Wright e o algoritmo do Vizinho Mais Próximo. Abstract This paper deals with the problem of grouping less-than-truckload deliveries in bagged cement distribution departing from a central depot. The problem consists in defining which cement deliveries shall be loaded in each given vehicle, aiming to achieve its maximum occupancy as well as to minimize the total freight expense paid to third-party carriers. The proposed solution method can be divided into three consecutive stages. In the initial stage, we seek to merge all deliveries belonging to the same client and load them into the same vehicle. In the second stage we then group all deliveries located in the same city. In this case, we assume that distances between consecutive deliveries are irrelevant when compared to the total distance traveled from the depot. This allows us to model this problem as a “bin-packing” problem (BPP) and to solve both phases using genetic algorithms. In the third stage, merging of different delivery points located in different cities is considered. For this step, a variation of the previous method is proposed, incorporating some heuristics to solve the vehicle routing problem, such as Clarke & Wright’s savings algorithm and the Nearest Neighbor procedure. 1. Introdução O mercado de cimento atual no Brasil é muito competitivo. A presença de vários competidores em busca de uma fatia do mercado exerce uma pressão constante para redução dos preços, afetando a rentabilidade das empresas deste segmento. Desta forma, surge uma necessidade permanente de aumentar a margem comercial das vendas, seja através da redução dos custos, onde a logística possui Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 65 grande representatividade, seja na busca de canais de distribuição mais rentáveis, além de outros fatores. Com isso, uma tendência de algumas dessas empresas passou a ser o foco em clientes menores, no varejo, que podem proporcionar uma margem de venda melhor. Por outro lado, o aumento da participação de clientes de pequeno porte dificulta a atividade logística de distribuição, devido à pulverização geográfica dos mesmos. Além disso, a diminuição do tamanho do pedido médio feito por cada cliente faz com que o trabalho de agrupamento das entregas nos veículos se torne fundamental para a redução dos custos. A distribuição de cimento normalmente não se restringe a uma cidade ou região metropolitana. Geralmente são atendidos vários municípios a partir de uma base de origem, de diferentes tamanhos, cada qual com diversos pontos de entrega. Normalmente, a distância de deslocamento desde o local de origem onde é carregado o veículo até um município onde são realizadas as entregas é de magnitude muito superior às distâncias de percurso entre entregas consecutivas. A forma de contratação do transporte, e de remuneração dos transportadores autônomos ou pequenas empresas transportadoras, favorece esse agrupamento por município, uma vez que um custo adicional é incorrido apenas quando as entregas ocorrem em municípios distintos, levando à necessidade do veículo se deslocar uma distância maior para completar as entregas. Em outras palavras, o frete é determinado com base no município de destino das cargas, e considerando o aproveitamento pleno da capacidade de carga do veículo. Tudo isso, associado a não existência de mapas digitais para a grande maioria dos municípios onde devem ser realizadas entregas, com exceção daqueles de maior porte, leva a uma programação da distribuição onde a localização dos destinos é considerada em nível de município. Este tipo de consideração é muito conveniente para a situação real, visto que, a cada dia, surgem novos clientes, de modo que, mapear a localização exata de cada um é inviável. Desta forma, são formados clusters de clientes em macro regiões, onde para cada cliente novo cadastrado na base de dados, define-se este ponto de localização chamado de “zona de transporte”, que pode representar sua cidade ou bairro (no caso de cidades grandes). Com isso, podemos ter muitas entregas para um mesmo ponto de destino. Nesse contexto propõe-se uma estratégia de solução buscando otimizar a programação da distribuição diária de cimento aos pontos de entrega, que compreende a definição, para cada município ou zona de transporte, quantos veículos de cada 66 Transporte em Transformação XI tipo serão necessários, e quais pontos de entrega serão alocados a cada veículo, buscando minimizar a despesa total com frete. Como são normalmente reduzidas as distâncias entre pontos de entrega alocados a um mesmo veículo, não há necessidade de definição do roteiro ou seqüência de entregas alocadas ao veículo, o que simplifica o problema e permite considerar uma abordagem de solução heurística, inspirada em uma generalização do chamado problema de bin-packing (BPP). Para os pontos de entrega remanescentes, isto é, todos aqueles que não permitiram completar a carga de algum dos veículos alocados a cada um dos municípios ou zonas de transporte, é então resolvido um problema de roteirização, que consiste em agrupar e roteirizar esses conjuntos de pontos, de forma a minimizar o custo de transporte. Para tanto, são incorporadas ao modelo algumas heurísticas tradicionais para resolução do problema de roteirização de veículos. A estratégia de solução proposta é aplicada a um problema real de uma grande empresa do setor de cimentos, comparando-se os resultados obtidos com a solução praticada pela empresa. 2. Revisão Bibliográfica Os problemas de roteirização de veículos pertencem a uma categoria ampla de problemas de pesquisa operacional conhecida como problemas de otimização de rede. Dentro desta categoria estão os problemas clássicos, como o problema do fluxo máximo, problema do caminho mínimo, problema de transporte, problema de designação. Problemas de roteirização de veículos foram exaustivamente estudados por diversos autores na literatura. Uma estratégia de solução para é a clusterização ou agrupamento dos nós. Consiste em agrupar os nós ou arcos de demanda primeiro, e depois construir rotas econômicas para cada agrupamento. Gillet e Miller (1974) e Fisher e Jaikumar (1981) aplicaram esta estratégia para roteirização de veículos com um único depósito. A maioria dos problemas de roteirização de veículos é tratada como NPdifícil. Em outras palavras, o esforço computacional para a sua resolução cresce exponencialmente com o tamanho do problema, dado pelo número de pontos a serem atendidos. Por isso, muitos trabalhos neste campo foram desenvolvidos na Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 67 busca de métodos heurísticos que apresentassem bom desempenho computacional e ao mesmo tempo soluções iguais ou muito próximas aos métodos exatos. O algoritmo de Clarke e Wright (1964) ou algoritmo das economias é um dos métodos heurísticos mais conhecidos e utilizados para resolução do problema de roteirização de veículos. Apesar de manter seu conceito principal, muitas modificações foram sugeridas por outros autores, de modo a melhorar os resultados do algoritmo. Golden et al.(1984) propuseram algumas mudanças, acrescentando custos fixos e custos de oportunidade no cálculo das economias, de modo a melhor representar problemas com frota heterogênea. Desrochers e Verhoog (1991) apresentaram uma nova metodologia para selecionar as rotas mais econômicas, o Matching Based Savings Algorithm (MBSA). Outros trabalhos importantes baseados no critério de economias podem ser encontrados em Mole e Jameson (1976), Paessens (1988) e Landeghem (1988). Como visto na seção anterior, é proposto um método baseado no problema de bin-packing para resolução do problema de roteirização de veículos. No problema original de bin-packing (BPP) o objetivo é encontrar o número mínimo de mochilas ou bins de tamanhos idênticos que são necessários para armazenar um dado número de objetos de tamanhos/dimensões variadas de forma que a capacidade de cada bin não seja violada (Garey e Johnson, 1979). Diversas heurísticas são apresentadas por Martello e Toth (1990) para resolver este tipo de problema e um método enumerativo é apresentado para casos pequenos utilizando branch-and-bound. Um caso particular do BPP é o variablesized bin packing (VSBPP), onde os bins não têm tamanhos idênticos. Zhang (1997) prova que as heurísticas clássicas não fornecem bons resultados para este tipo de problema. Kang e Park (2003) apresentam variações nas heurísticas clássicas, de modo a oferecer bons resultados. Apesar do problema clássico de bin-packing ser bem conhecido e muito explorado na literatura; poucos trabalhos são encontrados relacionando sua aplicação com a de problemas de roteirização de veículos. Apenas nos últimos anos, este tema foi levantado por alguns autores. Poh et al.(2005) fizeram uma analogia entre o problema de bin-packing com o problema de programação de veículos no transporte de multi-comodities com frota heterogênea. Altinel e Oncan (2005) utilizaram a idéia da heurística First-Fit-Decreasing em uma modificação do cálculo de economias do algoritmo de Clarke e Wright (1964). 68 Transporte em Transformação XI Em resumo, poucos trabalhos foram realizados abordando a resolução de problemas de roteirização de veículos com entregas fracionadas em conjunto com a resolução de problemas de bin-packing com bins de tamanhos variáveis (VSBPP). 3. Caracterização Do Problema É dado um conjunto de pontos de entrega de cimento a serem atendidos em um dado dia. Para cada ponto, são conhecidos a quantidade a ser entregue (em peso), o tamanho do veículo máximo que pode atendê-lo e a sua localização em termos do município onde se situa. Embora os clientes demandem diferentes tipos de produtos, a carga pode ser considerada homogênea em termos do seu acondicionamento e transporte no veículo, já que os produtos, na sua maioria, são acondicionados em sacos de 40kg e 50kg, sem qualquer restrição para carregamento no veículo, exceto a capacidade máxima do veículo, normalmente em peso para esse tipo de produto. Pode-se assumir que todos os clientes recebem a mercadoria em horário comercial, sem restrição de janela de tempo. O número de entregas normalmente alocadas a cada veículo, e o tempo por entrega, permitem o cumprimento das mesmas durante o horário comercial, sem que isso constitua uma restrição da programação. Um mesmo cliente pode demandar mais de uma carga (tipos diferentes de cimento). No entanto, a soma das mesmas não ultrapassa a capacidade de um veículo. Além disso, as entregas para um mesmo cliente devem ser agrupadas prioritariamente na mesma viagem. As entregas devem ser realizadas utilizando uma frota de veículos de terceiros, composta de veículos de diferentes tipos/tamanhos e considerada ilimitada em termos do número de veículos disponíveis de cada tipo. Para cada tipo de veículo é conhecida a sua capacidade de carga (em peso). Todos os veículos partem de um único ponto de origem, onde é feito o carregamento. Os clientes possuem restrições quanto ao tamanho máximo de veículos que podem receber, visto que muitos deles não possuem infra-estrutura suficiente para receber veículos grandes como carretas e bitrens, por exemplo. Além disso, alguns Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 69 clientes podem estar localizados em regiões metropolitanas, onde a circulação de veículos pesados é proibida. Para cada município de destino, é conhecido o valor do frete de entrega, que é proporcional à distância desde a origem, e depende do tipo/tamanho do veículo. Adicionalmente, o frete é pago por viagem, independente se o veículo foi totalmente ocupado ou não. Quando mais de uma entrega de diferentes municípios são agrupadas em um mesmo veículo, é considerado o valor de frete correspondente ao município mais distante da origem. O objetivo do problema é designar/alocar todas as entregas nos veículos, de modo a minimizar o custo total com o pagamento de fretes para esses transportadores. 4. Formulação Matemática Seja N o número total de entregas a ser feita em um dia e K o número total de veículos disponíveis. Para cada ponto i = 1, 2, ..., N é conhecida sua demanda wi e o tamanho máximo (Mi)do veículo que poderá atendê-lo. Analogamente, para cada veículo k = 1, 2, .., K é conhecida sua capacidade máxima Qk e o valor do frete fik para atender o cliente i. Define-se ainda ck o custo da viagem feita pelo veículo k. Parâmetros N = Número total de clientes a serem atendidos em um determinado período K = Número total de veículos disponíveis ck = custo da viagem feita pelo veículo k fik = frete do veículo k para atender cliente i Qk = Capacidade máxima do veículo k wi = demanda do cliente i Mi = Tamanho máximo do veículo que poderá atender o cliente i (capacidade) 70 Transporte em Transformação XI Definem-se as variáveis de decisão: { 1, se o cliente i é atendido pelo veículo k 0, caso contrário { 1, se o veículo k é usado 0, caso contrário xik = yk = A formulação matemática é dada por: A formulação matemática é dada por: K A formulação matemática éé dada dada por: por: K A formulação c k matemática ⋅ yk Min (1) ∑ K A formulação K ckk=1⋅ y kmatemática é dada por: Min � Min K ck ⋅ y k � k =1 c ⋅ y Min � k =1 ck ⋅a: Sujeito ykk Min � k =1a: k Sujeito k =1a: Sujeito Sujeito ,, para (2) ck ≥a: f ⋅x para todo todo kk ∈ K, ii ∈ N ∈ K, ∈ N Sujeito cc k ≥ ≥a: ff ii kk ⋅⋅ xxikikik ,, para para todo todo kk ∈ K, ii ∈ N ∈ K, ∈N cKKkk ≥ f ii kk ⋅ xikik , para todo k ∈ K, i ∈ N K x =1 , para todo i ∈ N ik = 11 K xik para todo todo iii ∈ ∈ N N ik = ,,, para (3) k =1 xik para todo ∈ N k =1 x = 1 , para todo i ∈ N kN =1 ik N kN =1 w ⋅ x ≤ Q ⋅ y , para k ∈ K ik k k i N wi ⋅ x ik ≤ Qk ⋅ y k para kkk ∈ K ∈ K i =1 wi ⋅ x iik ≤ Qk ⋅ y k ,,, para (4) para K ∈ k i =1 w ⋅ x ≤ Qk ⋅ y k , para k ∈ K =1 ⋅ ix ik iM ≥Q ⋅y , para todo k ∈ K, i ∈ N i =1 i ⋅ xik ≥ Qk ⋅ y k M ∈ K, ∈N , para para todo todo kk ∈ K, ii ∈ N i ⋅ x ik ≥ Q k ⋅ y k M , M ii ⋅ xikikik ≥ Qkk ⋅ y kk ,, para (5) ∈ K, ∈ N para todo todo kk ∈ K, ii ∈ N A função objetivo (1) visa minimizar o custo total das viagens. As restrições (2) garantem A função função objetivo objetivo (1) (1) visa visa minimizar minimizar oo custo custo total total das das viagens. viagens. As As restrições restrições (2) (2) garantem A o custo de cada viagem seja minimizar o valor referente ao maior frete entre as cargasgarantem dos clie A função objetivo (1) visa o custo total das viagens. As restrições funçãode (1) visaseja minimizar custo totalao viagens. restrições (2) garantem o custo custo deobjetivo cada viagem viagem seja valoro referente referente aodasmaior maior freteAsentre entre as cargas cargas dos clie clie oA cada oo valor frete as dos alocadas no veículo. As restrições (3) garantem que cada cliente será atendido por apena (2)oalocadas garantem que o custo derestrições cada viagem seja o valorque referente ao maior frete entre aspordos custo de cada viagem seja o valor referente ao maior frete entre as cargas clie no veículo. As (3) garantem cada cliente será atendido apena alocadas no veículo. As(4) restrições (3) que garantem que cada de cliente será atendido por apenas veículo. As restrições garantem a capacidade cada um doscliente veículos não cargas dos clientes alocadas no veículo. As restrições (3) garantem que cada alocadas no veículo. As(4) restrições (3) que garantem que cada de cliente por apena veículo. As restrições (4) garantem que a capacidade capacidade de cadaserá umatendido dos veículos veículos não veículo. restrições garantem dos não violada. As restrições (5) garantem que oaveículo alocado acada cadaum cliente seja menor q será atendido por apenas (5) um veículo. As restrições (4)alocado garantem que um a cliente capacidade veículo. restrições (4) garantem que a capacidade de cada dos veículos nãoqq violada. As restrições garantem que o veículo a cada seja menor violada. As restrições (5) garantem que o veículo alocado a cada cliente seja menor tamanho de veículo máximo permitido para aquele cliente. detamanho cada umAs dos veículos não seja violada. Aso restrições (5) garantem o veículo violada. restrições (5) garantem que veículo alocado a cadaque cliente seja menor q tamanho de veículo máximo permitido para aquele cliente. cliente. de veículo máximo permitido para aquele tamanho de veículo máximo permitido para aquele cliente. alocado a cada cliente seja menor que o tamanho de veículo máximo permitido para 5. ESTRATÉGIA DE SOLUÇÃO 5. ESTRATÉGIA DE SOLUÇÃO aquele cliente. de programação 5. ESTRATÉGIA DE SOLUÇÃO O problema de entregas de cimento pode ser visto como uma combin 5. ESTRATÉGIA DE SOLUÇÃO O problema de programação programação de entregas entregas de de cimento cimento pode pode ser ser visto visto como como uma uma combin combin O problema de de entre um problema que apresenta características de “bin-packing” com um problem O problema de programação de entregas de cimento pode ser visto como uma combin entre um problema que apresenta características de “bin-packing” com um problem entre um problema que apresenta características de “bin-packing” problem roteirização de veículos. A determinação de como vão ser feitascom as um entregas pa entre um problema que apresenta características de “bin-packing” problem roteirização de veículos. veículos. A determinação determinação de como como vão ser ser feitas feitascom as um entregas pa roteirização de A de vão as entregas pa subconjunto clientes correspondente a cada município, em termos de quantos e q 5.roteirização Estratégia de Solução de veículos. A determinação de como vão ser feitas as entregas pa subconjunto clientes correspondente a cada município, em termos de quantos e subconjunto de eclientes correspondente a cada município, emvista termos quantos e qq veículos utilizar quais entregas alocar a cada veículo pode ser comodeuma generaliz subconjunto de eeclientes correspondente a cada município, emvista termos quantos e q veículos utilizar utilizar quais entregas entregas alocar aa cada cada veículo pode ser ser comodeuma uma generaliz veículos quais alocar veículo do problema de de “bin-packing”. Os veículos de representam as mochilas (ou bins), neste cas O problema programação de entregas cimentopode pode servista vistocomo como umageneraliz veículos utilizar e quais entregas alocar a cada veículo pode ser vista como uma generaliz do problema de “bin-packing”. Os veículos representam as mochilas (ou bins), neste cas do problema de eum “bin-packing”. Os veículos representam mochilas bins), cas diferentes tipos tamanhos, nos quais as entregas devem as ser alocadas(ou de modo aneste minimi combinação entre problema que apresenta características de “bin-packing” com do problema de ee“bin-packing”. veículos representam bins), aaneste cas diferentes tipos tamanhos, nos nosOs quais as entregas entregas devem as sermochilas alocadas (ou de modo modo minimi diferentes tipos tamanhos, quais as devem ser alocadas de minimiz despesa total de frete. Para aquelas entregas que não permitiram completar um veículo diferentes tipos e tamanhos, nos quais as entregas devem ser alocadas de modo a minimi despesa total de frete. Para aquelas entregas que não permitiram completar um veículo despesa de frete. aquelas que não completar umentrega veículode ser entãototal resolvido umPara problema de entregas roteirização, parapermitiram definir quais grupos de despesa total de frete. Para aquelas entregas que não permitiram completar um veículode ser então resolvido um problema de roteirização, para definir quais grupos de entrega de ser alocados então resolvido um problema de roteirização, paraminimizado. definir quais grupos de entrega a cada veículo, de modo que o frete seja ser alocados então resolvido um problema de roteirização, para definir quais grupos de entrega de alocados cada veículo, veículo, de modo modo que oo frete frete seja seja minimizado. ser aa cada de que minimizado. ser alocados a cada veículo, de modo que o frete seja minimizado. � ∑ � � � � � ∑ � � Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 71 um problema de roteirização de veículos. A determinação de como vão ser feitas as entregas para o subconjunto de clientes correspondente a cada município, em termos de quantos e quais veículos utilizar e quais entregas alocar a cada veículo pode ser vista como uma generalização do problema de “bin-packing”. Os veículos representam as mochilas (ou bins), neste caso de diferentes tipos e tamanhos, nos quais as entregas devem ser alocadas de modo a minimizar a despesa total de frete. Para aquelas entregas que não permitiram completar um veículo deve ser então resolvido um problema de roteirização, para definir quais grupos de entrega devem ser alocados a cada veículo, de modo que o frete seja minimizado. Tanto o problema de bin-packing quanto o de roteirização de veículos são, do ponto de vista matemático, problemas de natureza combinatória, em que o esforço computacional cresce exponencialmente com o tamanho do problema, o que impede a sua resolução através de algoritmos exatos (Garey e Johnson, 1979). Assim, propõe-se uma estratégia de solução heurística para a sua resolução. O método de resolução é dividido em três fases: a primeira agrupa cargas de um mesmo cliente, a segunda agrupa cargas de clientes de uma mesma zona de transporte (cidade ou bairro), e por último, a terceira consolida cargas de clientes de regiões diferentes, as quais implicam em fretes distintos. Considera-se que a cada fase, as cargas já agrupadas na etapa anterior não poderão ser reagrupadas separadamente. O método descrito acima é similar à estratégia de solução “cluster first-route second” utilizada para a resolução de problemas de roteirização de veículos nos trabalhos de Gillett e Miller (1974) e Fisher e Jaikumar (1981). Esta estratégia de divisão por fases foi utilizada de modo a reduzir o número de cargas a ser considerado em cada fase, e proporcionando um tratamento diferenciado a cada etapa do algoritmo. Para as cargas do mesmo cliente e da mesma cidade (primeira e segunda fase), em que o frete unitário não muda, será utilizado um método heurístico para resolução de problema com características de bin-packing, como explicado anteriormente. Como já foi mencionado na seção anterior, o menor ponto de localização dos clientes são as zonas de transporte, representadas dentro de uma cidade. Desta forma, a roteirização dos pontos dentro de uma zona de transporte não se faz necessária, dada a ausência de informações mais detalhadas sobre a posição geográfica dos clientes. O problema passa a ser o agrupamento das cargas de uma mesma cidade de 72 Transporte em Transformação XI modo a reduzir o número de veículos necessários para realizarem as viagens e, com isso, minimizar a despesa total com o pagamento dos fretes. Lembrando também que os mesmos são pagos por viagem, independente se a capacidade do veículo foi totalmente utilizada ou não. Para a Fase III, onde as distâncias devem ser levadas em consideração, são incorporadas outras heurísticas aos algoritmos genéticos para a obtenção da população inicial, tais como a versão paralela do algoritmo de Clarke & Wright ou algoritmo das economias e a heurística do Vizinho Mais Próximo. Nesta etapa, as cargas que não foram agrupadas ou que foram agrupadas, mas não completaram a capacidade total dos veículos nas etapas anteriores, serão consideradas. 5.1. Fases I e II: Algoritmo para resolução do VSBPP Conforme visto anteriormente, problema de alocação das entregas de cada município aos veículos pode ser visto como problema de bin-packing com bins de tamanhos variados (Variable Sized Bin Packing Problem – VSBPP). Dada a dificuldade de resolução desse problema, foi proposta uma estratégia de solução heurística baseada na metaheurística algoritmo genético. Os algoritmos genéticos são algoritmos de buscas baseados nos mecanismos de seleção natural e na genética. Idealizados e estabelecidos por Holland (1975) esses algoritmos implementam estratégias de buscas paralelas e aleatórias para solucionar problemas de otimização. Os algoritmos genéticos fazem parte da classe de algoritmos denominados algoritmos populacionais. Em linhas gerais, eles trabalham com um grupo (ou população) de soluções. Cada indivíduo é representado por um cromossomo, que armazena as informações genéticas. Os cromossomos são compostos por genes, os quais são responsáveis pelas características dos seres e são trocados ou transmitidos durante o processo de reprodução. A cada iteração, indivíduos da população são selecionados para reprodução, sendo os mais aptos com maiores chances de serem transmitidos para a geração seguinte e os demais menos aptos simplesmente eliminados de acordo com o princípio darwiniano de seleção natural e sobrevivência do mais forte. Uma forma de contornar a complexidade adicional proporcionada pela possibilidade de usar veículos de tamanhos diferentes é aplicar heurística proposta, baseada em algoritmos genéticos, para o problema do bin-packing tradicional Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 73 (BPP), considerando os diferentes tipos/tamanhos de veículo separadamente, a partir do menor para o maior. Assim, resolve-se inicialmente, para cada município de entrega, o sub-problema correspondente aos clientes que requerem entregas com veículos menores. Caso sobre algum veículo não totalmente utilizado, busca-se então alocar outras cargas de modo a completar a sua capacidade, considerando-se clientes que podem ser atendidos por veículos maiores; para tanto é usada a heurística Next-Fit-Decreasing, descrita em Martello e Toth (1990), onde são consideradas as entregas remanescentes em ordem decrescente de peso. Uma vez atendidos todos os clientes que requerem atendimento pelo menor tamanho de veículo, e completados os veículos que realizam esse atendimento, passa-se então à resolução do problema de bin-packing correspondente aos clientes que só podem ser atendidos pelo tipo/ modelo de veículo imediatamente superior, e assim sucessivamente, até os clientes que não apresentem restrição quanto ao tipo/tamanho do veículo que possa atendêlo, como ilustrado pela Figura 1. GA 1 GA 2 GA 3 Capacidade = 5 Capacidade = 15 Capacidade = 30 Bin 1 Bin 2 Bin 3 Figura 1: Estratégia de tratamento para caminhões de diferentes capacidades A representação cromossômica adotada para a resolução de cada problema de bin-packing será dada pelo indicação do veículo (bin) em que cada entrega é alocada. A Figura 2 exemplifica esse conceito, indicando, a alocação, em termos do veículo, para cada uma das oito entregas a serem programadas, que requereram quatro veículos. 1 2 3 4 5 6 7 8 4 1 1 3 2 2 3 4 Figura 2: Representação do cromossomo no problema estudado conceito, indicando, a alocação, em termos do veículo, para cada uma das em programadas, que requereram quatro veículos. 1 74 2 3 em4Transformação 5 6 XI 7 Transporte 8 4 1 1 3 2 2 3 4 Figura 2: Representação do cromossomo no problema estudado A população inicial é formada quase em sua totalidade por indivíduos gerados aleatoriamente, com base empor ordenações randômicas de entregas que são alocadas al é formada quase em sua totalidade indivíduos gerados aleatoriamente, veículos atédepreencherem sua capacidade. Além indivíduos, são criados rdenaçõesaosrandômicas entregas que são alocadas aosdesses veículos até maisAlém três cromossomos utilizando as heurísticas: Next-Fit-Decreasing, First-Fitcapacidade. desses indivíduos, são criados mais três cromossomos rísticas: Decreasing Next-Fit-Decreasing, First-Fit-Decreasing Best-Fit-Decreasing e Best-Fit-Decreasing (Martello e Toth, 1990). 1990). A função aptidão é definida através da seguinte expressão: é definida através da seguinte expressão: ∑ ¦ (C N N f (S ) = ii==11 ii C MAX MAX N ) 22 (6) (6) Onde N é o número de veículos necessários para a solução S; Ci é o peso ero de veículos necessários para ai, solução Ci é o pesomáxima total alocado ao Esta função total alocado ao veículo e Cmax é S; a capacidade do veículo. é a capacidade máxima do veículo. Esta função aptidão visa minimizar a aptidão visa minimizar a ociosidade total dos veículos. A mesma não faz distinção os veículos. A mesma não faz distinção em relação aos diferentes tipos de em relação aos diferentes tipos de veículos e seus custos relacionados. stos relacionados. O método a seleção dos paisNeste é o método da roleta. do para a seleção dos utilizado pais é o para método da roleta. método, cada Neste método, cada indivíduo população é representado naaptidão. roleta conforme seu valor de aptidão. ulação é representado nada roleta conforme seu valor de Desta forma, Desta forma, os indivíduos com elevada aptidão receberão um intervalo maior na m elevada aptidão receberão um intervalo maior na roleta, enquanto aqueles enquanto quenatêm maisApós baixaa aptidão receberão menor intervalo na xa aptidãoroleta, receberão menoraqueles intervalo roleta. distribuição na roleta, Após distribuição na roleta, são gerados aleatoriamente números oriamenteroleta. números noa intervalo entre 0 e o total do somatório da aptidão de no intervalo entre 0 e o total do somatório da aptidão de todos os indivíduos os da população. É gerado um determinado número de vezes, dependendo doda população. É um determinado vezes, dependendo do tamanho ulação. Ogerado indivíduo que possuir número em seu de intervalo o número gerado será da população. O indivíduo que possuir em seu intervalo o número gerado será selecionado para o o cruzamento. Para o problema estudado foi considerado o cruzamento o problema estudado foi considerado cruzamento (crossover) de m único cruzamento. ponto. ParaPara isso, uma posição dentro do gene é oselecionada um único ponto. Para isso, uma posição dentro do gene é selecionada aleatoriamente. A partir daí, o restante dos genes são trocados entre os pais. A mutação ocorre com o sorteio de dois genes dentro de um cromossomo que trocarão suas posições. Após as etapas de cruzamento e mutação, o cromossomo resultante pode ter violado a restrição de capacidade dos veículos (bins). Para reparar esse problema, foi adotado um procedimento de reparo do cromossomo que consistiu em varrer todos os veículos e guardar num vetor todos os itens que superaram a capacidade dos veículos em que estavam alocados. Em seguida, os itens eram re-alocados nos veículos que estivessem mais próximos de sua capacidade máxima, num movimento similar à heurística de Best-Fit. Para os itens que não coubessem em nenhum dos veículos ativos, torna-se necessária a alocação de veículos adicionais. Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 75 Como resultado, têm-se todas as entregas alocadas aos veículos, respeitando restrições de capacidade. Alguns veículos que atendem a municípios distintos podem estar parcialmente ocupados, o que leva a terceira fase, descrita a seguir, que consiste em agrupar (ou roteirizar) clientes de municípios distintos. 5.2. Fases III: Agrupamento de cargas de cidades diferentes Na Fase III, as distâncias são levadas em consideração para o agrupamento das entregas remanescentes, para os veículos que não tiveram a sua carga completada. Para tanto, algumas modificações são aplicadas ao algoritmo genético utilizado nas fases I e II. Essas mudanças ocorrerão nas fases de geração da população inicial e na função aptidão utilizada. O restante das fases permanece igual aos das fases I e II. Tendo em vista que na Fase III as distâncias entre as cidades interferem na escolha do melhor agrupamento de rotas, algumas heurísticas construtivas foram adicionadas para formação da população inicial: • Heurísticas Next-Fit, First-Fit e Best-Fit ordenadas pela menor distância da cidade ao local de origem; • Algoritmo de Clarke & Wright clássico e outras extensões do algoritmo de economias propostas por Golden et al.(1984); • Algoritmo do Vizinho Mais Próximo de Rosenkrantz et al. (1977). Para considerar a distância na escolha da melhor solução, a função aptidão é substituída pela equação abaixo: N f (S ) = ∑ fmaxi (7) i =1 Onde N é o número de roteiros formados para a solução S; e fmaxi representa o valor do maior frete encontrado dentre os pontos do roteiro i. Esta equação calcula o custo total das viagens e, desta forma, quanto menor a função aptidão melhor é a solução encontrada. Assim, na Fase III os indivíduos com menores valores de aptidão são mantidos. 76 Transporte em Transformação XI 6. Experimentos Computacionais Os experimentos computacionais foram divididos em três etapas. Na primeira, é testado o algoritmo para resolução do problema de bin-packing, utilizado nas fases I e II, com dados de benchmark extraídos de uma base de dados (OR-Library), descrita por Beasley (1990). Na segunda etapa, o modelo completo é testado comparando a um programa atual utilizado na empresa estudada. Por fim, os resultados do modelo proposto são comparados a um modelo exato na terceira etapa. Os algoritmos que compõem a estratégia de solução proposta foram implantados em linguagem C++, utilizando o compilador DEV-C++. Os testes foram realizados em um computador com processador Pentium Centrino 1.8 GHz, 512 MB RAM. Avaliação das Fases I e II Os dados de entrada de cada problema foram formados por itens de tamanhos variados, uniformemente distribuídos entre 20 e 100, para serem alocados em bins de capacidade igual a 150. Os resultados do algoritmo proposto foram comparados com os resultados do método GGA (Grouping Genetic Algorithm) apresentado por Falkenauer (1996) e com os resultados do procedimento MTP, proposto por Martello e Toth (1990), que utiliza um método enumerativo (branch-and-bound) com um critério de dominância embutido. A Tabela 1 apresenta os resultados da comparação para 10 instâncias de problemas para agrupamento de 120 itens. A tabela mostra, para cada uma das 10 instâncias: o número da instância (problema); o número mínimo teórico (dado pelo quociente entre a soma dos tamanhos dos itens e a capacidade total dos bins); e os respectivos resultados do algoritmo proposto, do GGA e do MTP, com o número de bins utilizados e a perda em relação ao número teórico. Tabela 1 - Resultados do algoritmo para resolução do BPP (120 itens) Bins teórico 48 49 46 49 50 48 48 49 50 46 Totais Problema 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Método proposto Bins Diferença 48 0 49 0 46 0 49 0 50 0 48 0 48 0 49 0 50 0 46 0 0 Bins 48 49 46 49 50 48 48 49 51 46 HGGA Diferença 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 Bins 48 49 46 49 50 48 48 49 51 46 MTP Diferença 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 77 Observando os resultados da Tabela 1, percebe-se que o método proposto foi mais eficiente que o GGA de Falkenauer (1996) e o MTP de Martello e Toth (1990), alcançando a solução ótima para todas as 10 instancias testadas. Entretanto, o método proposto perdeu eficiência quando o número de itens foi aumentado para 250, numa segunda comparação não apresentada no presente trabalho. Nesta segunda etapa de testes, o algoritmo genético híbrido de Falkenauer (1996) obteve os melhores resultados; mostrando ser mais eficiente até mesmo se comparado ao método MTP na medida em que se aumenta a quantidade de itens. Com isso, conclui-se que o algoritmo proposto fornece excelentes resultados até uma certa quantidade de itens como dado de entrada. Levando-se em conta que para o problema proposto no presente trabalho o número de itens agrupados em cada fase do algoritmo é bem inferior a quantidade de itens testada acima, pode-se concluir que este método proposto é ideal para o problema real. Comparação com o procedimento atual Numa segunda etapa, a abordagem completa proposta no presente trabalho foi testada considerando dados reais de uma empresa de cimento. A abordagem foi comparada a um método atualmente utilizado pela mesma, baseado em heurística para agrupamento das cargas, chamado Pégasus. O Pégasus é um método desenvolvido internamente, baseado em uma heurística simples de agrupamento de cargas, cuja prioridade é encontrar a solução que utiliza o menor número de veículos. Em segundo lugar, considera a menor distância entre os pontos. Desta forma, o método oferece resultados muito bons, mas apesar de poder trabalhar com uma base de dados de entrada relativamente grande, possui a restrição de considerar somente frota homogênea. Esta deficiência do Pégasus faz com que os operadores executem rotinas seguidas para cada tipo de veículo, aumentando o tempo de operação e podendo reduzir significativamente a qualidade da solução gerada. Tendo em vista a limitação do Pégasus supramencionada, os dados de entrada para comparação continham apenas clientes com o mesmo tipo de veículo máximo permitido. Foram consideradas 15 instâncias reais para comparação, cada qual representada por entregas pertencentes a um dia normal partindo de um único depósito. Essas cargas estão espalhadas em diversos municípios num raio de até 500 km do centro. Os resultados foram comparados em relação ao número mínimo de veículos designados para realizar as entregas e o custo total provindo do pagamento do frete aos transportadores. Os resultados obtidos estão demonstrados na Tabela 2. 78 Transporte em Transformação XI Tabela 2 - Resultados do algoritmo comparados ao modelo atual Método Pegasus Método Proposto Variação Teste Quantidade de entregas Veículos Custo Veículos Custo Veículos 1 47 30 3,012 29 2,976 -1 -1.2% 2 53 30 3,285 30 3,234 0 -1.6% 3 69 24 22,278 23 21,561 -1 -3.2% 4 72 23 20,951 21 19,465 -2 -7.1% 5 55 20 17,741 19 17,245 -1 -2.8% 6 59 19 17,757 18 17,346 -1 -2.3% 7 56 21 19,835 20 19,447 -1 -2.0% 8 58 18 17,444 17 16,702 -1 -4.3% Custo 9 75 25 22,996 24 22,453 -1 -2.4% 10 64 21 19,268 20 18,563 -1 -3.7% 11 60 18 17,287 17 16,868 -1 -2.4% 12 70 23 21,745 22 21,594 -1 -0.7% 13 46 15 14,417 13 12,996 -2 -9.9% 14 64 23 19,237 22 18,839 -1 -2.1% 15 51 18 17,014 16 15,434 -2 -9.3% Média 60 22 16,951 21 16,315 -1 -3.7% A partir dos resultados desta simulação, percebe-se que o método proposto apresenta economias significativas em relação ao método Pégusus. Em média, o método proposto apresentou uma economia média de 3.7% sobre o procedimento atual. Além disso, para a maioria dos testes obteve menos veículos alocados, o que pode representar um ganho extra em aumento de capacidade de transporte. Isso comprova a eficiência do algoritmo proposto e a oportunidade de gerar economias se aplicado na prática. Comparação com o método exato Na última etapa de testes, o desempenho do método proposto foi analisado frente aos resultados obtidos com o modelo de programação matemática do problema da seção 4. Foram consideradas todas as restrições impostas pelo problema, inclusive a restrição quanto ao tamanho máximo de veículo utilizado. Entretanto, este método só pode ser testado para problemas com poucas entregas, pois para problemas maiores o mesmo incorria em tempos computacionais muito elevados. A eficiência do método proposto foi analisada tomando-se oito instâncias reais. Os dados de entrada foram retirados da situação real, sendo comparados custo e tempo computacional requeridos por ambas as abordagens. O método exato foi resolvido 79 Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento através do programa What’s Best 8.0, que utiliza a plataforma do Microsoft Excel XP. A CPU utilizada é a mesma descrita para o método proposto. Os resultados são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Resultados do algoritmo comparados ao modelo ótimo Método Exato Teste Quantidade de entregas Custo Tempo comp (segundos) Método Proposto Custo Tempo comp (segundos) Desvio Custo 1 12 3257 90 3257 0,98 2 12 2443 12 2459 0,31 0,0% 0,7% 3 14 3217 4272 3217 0,81 0,0% 4 13 746 132 746 1,00 0,0% 5 13 709 42 709 0,33 0,0% 6 13 764 12 764 0,27 0,0% 7 13 740 96 740 0,61 0,0% 8 13 523 84 523 0,33 0,0% Através dos resultados obtidos, observa-se que o método proposto atingiu a solução ótima (menor custo) em sete dos oito problemas testados. Além disso, nota-se que o método proposto obteve os resultados em tempos computacionais bem inferiores ao método exato. Deve-se ressaltar que para um modelo para o qual se pretende a utilização como uma ferramenta de nível operacional, tempos acima de 1 minuto já são considerados muito elevados. Percebe-se também que para alguns casos o tempo computacional cresce exponencialmente para os testes com o método exato, apenas acrescentando uma entrega a mais aos dados de entrada, como é o caso do teste 3. Este resultado mostra que o método proposto além de apresentar resultados satisfatórios, é razoavelmente rápido; o que é fundamental para que a utilização uma ferramenta de nível operacional seja viável quando aplicada à prática. 7. Considerações Finais O presente trabalho propôs a solução do problema de agrupamento de entregas de cimento através da construção de um modelo heurístico, baseado em métodos para resolução de problemas de “bin-packing” e roteirização de veículos. Trata-se de um tema relevante, pois se levou em conta um modelo de tarifação 80 Transporte em Transformação XI muito utilizado no Brasil para pagamento de transportadores terceiros. Além disso, ofereceu uma abordagem interessante para o problema da falta de informações quanto ao detalhamento na localização exata dos pontos de entrega. Todos os testes comprovaram a eficiência do algoritmo proposto, bem como sua boa aplicabilidade à prática. Pois, além de considerar a restrição que muitas empresas apresentam quanto à ausência de mapas digitais para localização exata de seus clientes, o método apresentou excelentes resultados em todas as etapas dos experimentos, gerando ganhos em custos e capacidade da frota. E, finalmente, obteve os resultados em tempos bem satisfatórios, fundamental para que se torne uma ferramenta operacional no futuro. Como recomendações para trabalhos futuros, sugere-se a alteração da representação cromossômica utilizada no presente trabalho pela apresentada por Falkenauer (1996) para resolução de problemas de “bin-packing”, através de um algoritmo genético híbrido. Esta obteve resultados melhores para problemas maiores, que pode ser o caso de algumas empresas. Outra recomendação é testar mudanças nos operadores dos algoritmos genéticos como outros métodos de seleção, crossover e mutação. A qualidade da população inicial também pode ser melhorada utilizando outras heurísticas construtivas eficientes. Além disso, outras metaheurísticas também podem ser testadas para resolução do problema de binpacking como Busca Tabu, Simulated Annealing, GRASP, dentre outras. Modelagem Heurística no Problema de Distribuição de Cargas Fracionadas de Cimento 81 Referências Bibliográficas Altinel, I.K. e Oncan, T. 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Endereço dos Autores: Marcos Miura Departamento de Engenharia de Transportes Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Email: [email protected] Cláudio Barbieri da Cunha Departamento de Engenharia de Transportes Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Email: [email protected] Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 4 Engº José Alexandre Tavares Guerreiro Fregnani Prof. Dr. Carlos Müller Prof. Dr. Anderson Ribeiro Correia Instituto Tecnológico de Aeronáutica Departamento de Transporte Aéreo e Aeroportos (EIA-T) Setembro de 2007 Resumo Neste trabalho propõe-se um modelo de programação linear cujo objetivo é determinar o abastecimento de quantidades ótimas de combustível ao longo de uma malha de vôos de uma empresa aérea doméstica brasileira. Assumindo que não há restrições de venda de volume ou capacidade de armazenamento em cada localidade, efetua-se a análise para o caso de uma aeronave em um dia de sua programação, extrapolando os resultados para projeções mensais e anuais. Através do modelo proposto, verifica-se que tal técnica de tanqueamento de combustível provê ganhos econômicos da ordem de 5%, porém produz um consumo adicional de combustível da ordem de 1%. Uma discussão do impacto ambiental de tal procedimento também é proposta. 84 Transporte em Transformação XI Abstract This paper presents a linear programming model designed to determine the optimum fuel loading quantities along a route network considering a Brazilian domestic airline. Assuming that there are no volume purchase or storage capacity restrictions on each station, the analysis is carried out for one aircraft in one day of its schedule. Results are extrapolated to monthly and yearly basis. Through the proposed model, it is verified that such fuel tankering technique provides 5% economical savings, but produces 1% of additional fuel burn. An environmental impact discussion is also proposed for such procedure. 1. Introdução De acordo com recentes estudos realizados pela IATA (2004), o consumo de combustível representa o segundo maior componente dos custos diretos operacionais das empresas aéreas, seguindo apenas os custos referentes à mão de obra. Estima-se que a participação do consumo de combustível atinja 20% ou mais sobre os custos diretos operacionais totais de qualquer tipo de empresa aérea. O ramo da aviação comercial tem como característica própria de se fazer presente em mercados extremamente competitivos e com baixas margens de lucro. Desta forma, as empresas aéreas que conseguirem gerenciar o consumo de combustível de forma eficiente apresentarão, sem dúvida, vantagens competitivas que poderão determinar sua sobrevivência. Estima-se atualmente que, para cada dólar consumido em combustível, as empresas aéreas tenham que gerar de 15 a 20 dólares em receita para obter a mesma margem de lucro. Além disso, o preço do barril de petróleo tem experimentado um dramático aumento desde o ano 2000. Apesar dos avanços tecnológicos da indústria petrolífera haver possibilitado a descoberta de novas fontes deste recurso, outros fatores de influência, sobretudo de natureza geopolítica no Oriente Médio ou mesmo influências não convencionais, tais como catástrofes naturais, têm contribuindo para a instabilidade e aumento destes preços ao longo dos últimos anos. A evolução dos preços do combustível de Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 85 aviação segue sempre acoplada aos preços do barril de petróleo e, portanto, atenção redobrada ao consumo de combustível tem sido dada por parte das empresas aéreas nos últimos anos. Na Figura 1, pode-se verificar a tendência de aumentos de preços médios anuais do barril de petróleo e do combustível de aviação até 2006, de acordo com a Air Transport Association. Observa-se um aumento no preço médio do barril de petróleo de US$ 26,01 no início de 2002 para US$ 66,02 ao final de 2006, ou seja, um acréscimo de 152,95% em quatro anos, ou 3,19% ao mês. Estima-se que, ao final de 2007, o preço do barril de petróleo possa atingir a marca dos US $ 90,00 caso tal tendência se mantenha. Evolução de Preços Barril de Petróleo x Querosene de Aviação Fonte:Airline Transport Association of America (ATA) / US Department of Transportation 90 JET A1 80 US$/Barril 70 60 Óleo Cru 50 40 30 20 2008 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 0 1974 10 Ano Figura 1: Evolução dos preços do barril de petróleo e querosene de aviação. É prática cada vez mais comum nas empresas aéreas o estabelecimento de programas de conservação de combustível, onde um conjunto de medidas envolvendo as áreas de operações e de manutenção é criado com o objetivo de se minimizar o consumo. De acordo com estudos efetuados pela EMBRAER (2005), 1% de economia de combustível pode ser facilmente atingido através de práticas operacionais coerentes. Procedimentos operacionais com foco em conservação de combustível são de fácil execução e não envolvem grandes investimentos, na 86 Transporte em Transformação XI maioria das vezes concentrando-se apenas no treinamento de pilotos e despachantes operacionais. Um dos procedimentos mais comuns adotado pelas empresas aéreas é o chamado “Abastecimento Econômico” ou “Tanqueamento de combustível”, a ser apresentado a seguir. 2. Procedimento para tanqueamento de combustível Variações de preço de combustível em cada localidade, uma eventual ausência deste recurso (como, por exemplo, operações em aeroportos remotos) ou restrições contratuais com as empresas abastecedoras ao longo de malha de vôos pode resultar em se transportar maior quantidade de combustível que o mínimo requerido pela regulamentação a partir de determinadas localidades, de modo a se minimizar os custos de abastecimento. A prática de carregar uma quantidade extra de combustível é denominada de “Tanqueamento de Combustível” ou “Abastecimento Econômico”. Como a quantidade de combustível extra carregado resulta em peso extra na aeronave e, portanto, produz um consumo adicional de combustível na referida etapa, é importante se analisar os custos de transporte deste peso adicional de combustível. Geralmente, as empresas aéreas analisam a viabilidade econômica de transporte de combustível etapa por etapa, para cada aeronave. Em cada etapa, caso o tanqueamento seja viável, programa-se abastecer a aeronave na origem com tal quantidade de combustível extra de modo que o combustível remanescente no destino seja exatamente o combustível regulamentar mínimo para a próxima etapa, calculado de acordo com o item 121.645 do Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA) parte 121. Além disso, devido ao peso adicional que a operação impõe às aeronaves, alguns requisitos devem ser respeitados em cada etapa onde o combustível extra é tanqueado: o Peso Máximo de Decolagem (PMD) no aeroporto de origem não pode ser excedido, o Peso Máximo de Pouso (PMP) no aeroporto de destino não pode ser excedido e a capacidade máxima de abastecimento da aeronave não pode ser excedida No Brasil, o procedimento de tanqueamento de combustível é uma prática bastante comum, uma vez que existe uma grande variação de incidência da alíquota de ICMS sobre combustíveis de aviação entre estados (variações de 4% a 25% são esperadas). As empresas aéreas geralmente recorrem à análise pontual, etapa por etapa, para estudarem a viabilidade de efetuarem o tanqueamento de combustível. Efeitos de rede, tais como a minimização do custo de todos os abastecimentos ao longo da programação de uma aeronave em uma malha de vôos, de forma integrada Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 87 e simultânea, não são ainda avaliados. Muitas vezes, a análise de preço break even não é sistematizada e geralmente efetua-se a operação de tanqueamento de combustível apenas onde os preços de combustível são mais baratos. Preocupações por consumos adicionais são ignoradas por certos operadores. 3. Revisão Bibliográfica A EMBRAER (2006b) sugere a análise de viabilidade econômica para tanqueamento de combustível em uma única etapa comparando-se o preço break even (Pdeq), determinado através de ábacos e tabelas no manual de operações das aeronaves, com o preço real de combustível no destino (Pd). Caso o preço real do combustível no destino seja superior ao preço break even, é economicamente viável o tanqueamento de combustível extra no aeroporto de origem. Sugere-se que a quantidade abastecida na origem seja tal que, ao se pousar no destino, o combustível remanescente seja exatamente o combustível mínimo regulamentar para a etapa seguinte. O preço braek even no destino é determinado pelas seguintes relações: Pdeq Onde Pdeq P0 f dWf dW Po (1 f ) (1) f dWf dW (2) : Preço break even no destino. : Preço do Combustível na origem. : Fator de ajuste de consumo de combustível. : Variação de combustível consumido [kg]. : Variação de peso da aeronave em [kg]. O fator f é sensível ao tamanho da etapa, altitude e velocidade de cruzeiro e vento médio da etapa. Geralmente é um fator informado pelos sistemas informatizados de planejamento de navegação como Fator de Ajuste de Consumo (ou Fuel Burn Adjustment) sob a forma de percentual. Valores entre 3% e 5% são esperados para etapas curtas e médias (até 1.000 NM) para aeronaves regionais com capacidade para 70 a 110 assentos. Nos manuais de vôo destas aeronaves, encontram-se ábacos para a determinação do fator f, bem como Pdeq. 88 Transporte em Transformação XI Saboya (1992) sugere a comparação entre os preços break even e real do combustível no destino, de maneira idêntica ao fabricante de aeronaves, ou seja, etapa por etapa. Porém desenvolve um algoritmo para a produção do fator f a partir das informações disponíveis nos manuais de vôo de quaisquer tipos de aeronaves. Tal algoritmo consiste na determinação do acréscimo percentual médio de consumo em relação a um peso de pouso de referência inferior ao Peso Máximo de Estrutural de Pouso (PMEP) para uma determinada etapa. Para isto, leva em conta a hipótese que o consumo adicional percentual nesta faixa de pesos é aproximadamente constante. Os percentuais obtidos serão os próprios valores do fator f. Padilla (1996) sugere que se faça a verificação de viabilidade econômica de se transportar quantidades adicionais de combustível através da análise da área abaixo da curva de alcance específico em função do peso. Stroup e Lackey (1975) provêm modelo de decisão para indicar onde efetuar o procedimento de tanqueamento de combustível ao longo de uma malha de vôos. Consideram restrições de localidade e fornecedores, além do preço dos combustíveis. Utilizam o fator f constante em sua análise. Darnell e Loflin (1977) determinam uma estratégia ótima para abastecimento a ser usada a curto e médio prazo. Desenvolvem um modelo de escolha que fornece os melhores lugares e fornecedores para cada etapa baseando-se em: preços, disponibilidade, consumo, custos de tanqueamento (considerando fator f constante) e dados reais dos vôos em questão. Stroup e Wollmer (1991) apresentam um modelo genérico que minimiza os custos de abastecimento de uma malha de vôos suprida por vários tipos de aeronave, através de um modelo de programação linear, assumindo fator f constante. As decisões de abastecimento são baseadas em preços de combustível e em restrições de fornecimento nos aeroportos. Caso o problema seja limitado apenas a preços de combustível, o problema pode ser transformado em um problema de rede puro. Neste modelo, estimam de 5% a 6% de economia em abastecimento utilizando este tipo de resolução. Zouein et. al (2002) apresentam um modelo de decisão para determinação da quantidade de combustível a ser abastecida em uma aeronave ao longo de cada aeroporto de sua programação, considerando-se um determinado horizonte de planejamento no tempo. Tal problema é modelado como um problema de inventário de período múltiplo e resolvido usando-se programação linear. As restrições de peso e capacidades consideradas em cada trecho são as seguintes: Peso Máximo de Decolagem (PMD), Peso Máximo de Pouso no destino (PMP), Capacidade Total de Combustível e Combustível de Segurança Mínimo (remanescente no destino). Efetua-se uma análise para cada aeronave de uma frota ao longo das escalas de sua Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 89 programação diária. O fator f é determinado como função linear do peso para cada etapa, obtendo ganhos econômicos da ordem de 10%. Finalmente, Abdelghany et. al (2004) desenvolveram um modelo de programação linear para abastecimento em múltiplas localidades, considerando um fator f constante o e aplicando-o a vários cenários de preços. Analisam os cenários de múltiplo abastecimento e o de trecho a trecho. Obtém valores de ganhos econômicos na faixa de 0.5% para a análise de trecho a trecho e 3% para a análise de múltipos trechos. 4. Modelo Proposto Seja a programação diária para um conjunto de aeronaves em uma malha de vôos de uma empresa aérea. Para cada aeronave, é definida uma programação diária com N aeroportos e i trechos a serem cumpridos, com i = 1,..,N-1, de acordo com a Figura 2. trecho 1 Localidade 1 P1 trecho N-2 trecho 2 Localidade 2 P2 Localidade i Pi trecho N-1 Localidade N-1 PN-1 Localidade N PN Figura 2: Programação de vôos para cada aeronave em uma malha aérea Considera-se também que, para cada aeroporto, é pré-definido o preço do combustível Pi [kg]. O problema consiste em se determinar qual é a quantidade de combustível que se deve abastecer em cada aeroporto a fim de se minimizar o custo total da operação de cada aeronave. As seguintes restrições operacionais devem ser obedecidas: i. O Peso Máximo de Decolagem nos aeroportos de origem não deve ser excedido. ii. O Peso Máximo de Pouso nos aeroportos de destino não deve ser excedido. iii. A Capacidade Máxima de Combustível da aeronave não deve ser excedida. iv. O combustível abastecido não deve ser inferior ao mínimo requerido pela regulamentação. 90 Transporte em Transformação XI v. O combustível remanescente nos destinos não deve ser inferior ao combustível de reserva mínimo definido pela política operacional da empresa. Consideramos ainda as seguintes hipóteses: i. Haverá um único fornecedor de combustível, determinado contratualmente, em cada localidade. Tal hipótese é bastante razoável, uma vez que as empresas aéreas sempre optam pelo fornecedor mais barato. ii. Não haverá restrições contratuais de volume total de combustível comprado ao longo da malha de vôos para um determinado fornecedor. Ou seja, a venda de combustível é ilimitada. iii. Todas as localidades serão capazes de prover a quantidade necessária de combustível para todos os vôos. Ou seja, não haverá restrições de capacidade de armazenamento de combustível para atender a todas as aeronaves que passem por cada localidade. Desta forma, o abastecimento de cada aeronave não interfere no abastecimento das outras ao longo da malha de vôos. Isso permite tratar cada aeronave separadamente em sua programação. O custo de abastecimento total da malha de vôos será a somatória dos custos de abastecimento de cada aeronave. A resolução deste problema será efetuada através de um modelo de programação linear para minimização do custo total de abastecimento ao longo das N localidades da programação diária de cada aeronave. A variável de decisão é a quantidade de combustível a se abastecer (Xi) para cada trecho i, na localidade i, com i=1,..N-1. Para cada aeronave, em sua programação diária, pode-se formular o seguinte modelo de programação linear: Função objetivo: Min Z = Σ Pi*Xi para i = 1,...,N-1 (3) Obedecendo às seguintes restrições: i. Restrição de Peso Máximo de Decolagem (PMD): PZCi + FOBi ≤ PMDi para i = 1,..,N-1 (4) Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira vi. 91 ii. Restrição de Peso Máximo de Pouso (PMP): PDi – TRIPi ≤ PMPi para i = 1,..,N-1 (5) iii. Restrição de máxima capacidade de combustível da aeronave: REM i + Xi ≤ MAXF para i = 1,..,N-1 (6) iv. Restrição de combustível regulamentar mínimo para a etapa i: para i = 1,..,N-1 REM i + Xi ≥ FOB0i (7) v. Restrição de combustível remanescente mínimo no destino: FOBi-1 – TRIPi-1 ≥ MINFi para i = 2,..,N (8) vi. Ajuste de consumo pelo fator f: Ajuste de consumo pelo fator f: dWf ≈ � (TRIPii – TRP0ii)/(FOB )/(FOBii-FOB0 -FOB0ii)) para ipara i = 1,..,N-1 = 1,..,N-1 ffi i = dW dW (9) vii. vii. Definição de combustível a bordo na localidade de origem: Definição de combustível a bordo na localidade de origem: FOBi = REMi + Xi para i = 1,..,N-1 FOBi = REM para i = 1,..,N-1 i + Xi (10) (10) viii. viii. Definição do combustível remanescente no destino: Definição do combustível remanescente no destino: – TRIPi-1 parai = i =1,..,N-1 1,..,N-1 i-1i-1 REMi = REM FOBii-1=– FOB TRIP para (11) (11) ix. ix. Positividade dos valores de abastecimento: Positividade dos valores de abastecimento: Xi ≥ 0 Xi � 0 Onde: (9) (12) (12) Onde: fi: Constante de Ajuste de Combustível. FOB0fi:i: Combustível Constante deregulamentar Ajuste de Combustível. mínimo no trecho i [kg]. FOB total a bordo no trecho no i [kg] FOB0i:i: Combustível Combustível regulamentar mínimo trecho i [kg]. MAXF: Máxima Capacidade de Combustível nos tanques [kg]. FOB : Combustível total a bordo no trecho i [kg] MINFi:i Combustível remanescente mínimo do trecho i [kg]. MAXF: Máxima Capacidade de Combustível nos tanques [kg]. PDi: Peso de decolagem no trecho i em [kg]. MINF Combustível remanescente mínimode doorigem trecho no i [kg]. Pi:i: Preço do combustível no aeroporto trecho i [US$/kg]. PDii:: Peso Peso Máximo de decolagem no trecho i em [kg].[kg]. PMD Estrutural de Decolagem PMPPi:i: Peso Estrutural Pouso [kg]. PreçoMáximo do combustível node aeroporto de origem no trecho i [US$/kg]. PMZC : Peso Máximo Zero Combustível [kg]. i PMDi: Peso Máximo Estrutural de Decolagem [kg]. PP : Peso de Pouso no trecho i [kg]. PMPi : Peso Máximo Estrutural de Pouso [kg]. PZCi:i Peso Zero Combustível no trecho i [kg]. PMZCi: Peso Máximo Zero Combustível [kg]. REM i: Combustível remanescente após o pouso no trecho i [kg]. TRIP0i: Consumo da etapa i com combustível mínimo regulamentar [kg]. TRIPi: Consumo da etapa no trecho i [kg]. Xi: Combustível a ser abastecido no trecho i [kg]. 92 Transporte em Transformação XI PPi: Peso de Pouso no trecho i [kg]. Peso Zero Combustível no trecho i [kg]. REMi: Combustível remanescente após o pouso no trecho i [kg]. TRIP0i: Consumo da etapa i com combustível mínimo regulamentar [kg]. TRIPi: Consumo da etapa no trecho i [kg]. Xi: Combustível a ser abastecido no trecho i [kg]. PZCi: Observa-se que as equações referentes a uma etapa i são combinações lineares das equações referentes à etapa anterior (i-1), provendo ao modelo um caráter recursivo. Verifica-se também que o número de restrições é função do número de localidades envolvidas: para N localidades, são geradas 5.(N-1) restrições, considerando-se as equações 4 a 8. Quanto às equações 9 a 11, estas apenas definem algumas das variáveis envolvidas nestas restrições. Considerando que as malhas de vôos de empresas aéreas regionais e domésticas brasileiras apresentam tipicamente de 4 a 12 etapas diárias para cada aeronave, observa-se que o modelo de programação linear proposto apresenta de 20 a 60 equações de restrições. Isto nos leva à conclusão de que um algoritmo robusto de resolução se faz necessário. No modelo proposto, a novidade em relação aos demais encontrados na literatura será a forma com que o fator f será modelado: representação polinomial em função da distância e altitude de cruzeiro para um determinado perfil de velocidades em cada trecho considerado. A influência do peso da aeronave estará embutida em tal modelagem. 5. Aplicação do Modelo A partir de uma malha de vôos fornecida por uma empresa aérea doméstica brasileira e sua respectiva programação para uma aeronave para um dia, utilizamos o modelo proposto para determinar o abastecimento ótimo em doze trechos. Os preços de combustível em cada base também foram fornecidos, já convertidos para custo por kg, utilizando-se para isto uma densidade de 0,785 kg/l. Os valores foram informados em dólares americanos. Consideramos a utilização de um único modelo de aeronave regional com capacidade para 108 assentos, equipada com motores GE CF34-10E6 que desenvolve 18500 lbf de tração máxima de decolagem ao nível do mar, em condições ambientais Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 93 ISA (International Standard Atmosphere). O Software de modelagem Advanced Integrated Multidimensional Modeling Software (AIMMS) foi usado como ferramenta para a resolução do problema de programação linear, devido sua natureza recursiva. O custo total de abastecimento obtido (extrapolado para o período de um mês) foi comparado ao custo total do abastecimento “convencional”, onde cada localidade é abastecida com a quantidade de combustível mínimo regulamentar. As seguintes fontes de dados de entrada foram consideradas: • Informações de Aeroportos: Provenientes do manual AIP Brasil ou informadas pelo administrador de aeroporto. • Características das aeronaves: Retiradas do Manual de Operações as seguintes informações: Pesos Máximos Estruturais Zero Combustível (PMEZC), de Decolagem (PMED), de Pouso (PMEP) e Capacidade de combustível máxima (MAXF). O gráfico de Planejamento de Vôo Simplificado em regime de Long Range Cruise (Anexo I) foi utilizado para a determinação do consumo envolvido cálculo do fator f. • Peso Zero Combustível (PZCi): Foi estimado através do Load Factor médio de 65% e 500 kg de carga nos porões em todas as etapas. Foi adotado o peso médio do passageiro de 85 kg, com 5 kg de bagagem de mão e 20 kg de bagagem despachada e Peso Básico operacional (PBO) de 27400 kg. O valor de PZC considerado para todas as etapas foi de 35600 kg. • Pesos Máximos de Decolagem e Pouso (PMDi e PMPi) :Foram determinados através do software específico para cálculo de desempenho de decolagem e pouso produzido pelo fabricante da aeronave. Para este cálculo, foram consideradas as temperaturas de referência, vento calmo e as cabeceiras estatisticamente mais utilizadas em cada aeroporto. • Consumo sem Tanqueamento (TRIP0i) e Combustível Mínimo Regulamentar (FOB0i): Foram determinados através do software específico para cálculo de planejamento de navegação produzido pelo fabricante da aeronave. Para efeito de planejamento do vôo as seguintes premissas foram consideradas: i. As altitudes de cruzeiro, na medida do possível, corresponderam àquelas de menor consumo específico. Entretanto foram respeitadas as altitudes mais adequadas para os rumos e limites superiores das aerovias utilizadas, bem como as altitudes máximas permitidas pelo desempenho da aeronave. ii. As reservas regulamentares foram calculadas de acordo com o RBHA 94 Transporte em Transformação XI 121.645 referentes a vôos por instrumento em empresas aéreas regulares de transporte de passageiros. iii. Os aeroportos de alternativa foram considerados distantes, no máximo, 200 NM do aeroporto de destino. iv. Para cada rota considerada foram utilizados ventos e temperaturas em cruzeiro de estatística anual com significância de 85%. Para isto foi consultada referência BOEING (1992). v. As distâncias em aerovia foram retiradas das cartas de navegação por instrumentos publicados pelo DECEA para o espaço aéreo superior (H1) e inferior (L1). • Combustível Remanescente: O combustível mínimo de pouso no destino (MINFi) foi considerado 2.000 kg em todas as etapas. Este valor foi também adotado como remanescente na primeira etapa (REM1). A determinação do fator f para cada trecho i considerado é essencial para a resolução do problema. Para isto, adotamos a metodologia citada por Saboya (1992): i. Escolher um valor de peso de pouso de referência. Foi considerado como referência 36000 kg, que corresponde aproximadamente ao PZC do estudo. ii. Utilizando-se do gráfico de Análise de Rota Simplificados para o regime de Long Range Cruise presente no Manual de Operações da aeronave, calcular o consumo para cada combinação de pesos de pouso, altitudes e distâncias previamente estabelecidas. Os seguintes intervalos foram considerados: • Distâncias: 200, 400, 600, 800,1000 e 1200 NM. • Altitudes: 15000, 20000, 25000, 30000, 35000, 39000 e 41000 ft. • Pesos: 36000 (peso de referência), 38000, 40000, 42000 e 43000 (PMEP) kg. iii. Para cada conjunto de pesos para um dado par distância e altitude, calcular a diferença percentual de consumo em relação ao peso de referência neste conjunto. A média dos desvios percentuais será o fator f referente à respectiva combinação de altitude e distância. Notase que, desta forma, a variável peso não tem mais papel direto nos cálculos de f. Esta metodologia assume a hipótese de que a influência do peso tem menor magnitude do que a influência da distância e/ou altitude no consumo adicional o Pesos: 36000 (peso de referência), 38000, 40000, 42000 e 43000 (PMEP) kg. o o Pesos: Pesos: 36000 36000 (peso (peso de de referência), referência), 38000, 38000, 40000, 40000, 42000 42000 ee 43000 43000 (PMEP) (PMEP) kg. kg. Para cada conjunto de pesos para um dado par distância ee altitude, calcular aa diferença Para cada conjunto de pesos para um dado par distância altitude, calcular diferença Para cada conjunto de pesos para um dado par distância e altitude, calcular a diferença percentual de consumo em relação ao peso de referência neste conjunto. A média dos percentual relação peso conjunto. A percentual de de consumo consumo em relação ao peso de dedosreferência referência neste conjunto. A média médiaasdos dos Umem Modelo para a ao Minimização Custos Totaisneste de Abastecimento Considerando desvios percentuais será o fator f referente à respectiva combinação de altitude e desvios percentuais será o fator f referente à respectiva combinação de altitude Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira desvios percentuais será o fator f referente à respectiva combinação de altitude ee 95 distância. Nota-se que, desta forma, a variável peso não tem mais papel direto nos distância. distância. Nota-se Nota-se que, que, desta desta forma, forma, aa variável variável peso peso não não tem tem mais mais papel papel direto direto nos nos cálculos de f. cálculos de de f. f. cálculos etodologia assume aa hipótese de que a influência do peso tem menor magnitude do que etodologia de que do menor magnitude que deassume combustível. Desta pode-se adotar umtem valor médio do fatordo f para etodologia assume a hipótese hipótese de forma que aa influência influência do peso peso tem menor magnitude do que um ência da distância e/ou altitude no consumo adicional de combustível. Desta forma ência da da conjunto distância de e/ou altitude no consumo consumo adicional dedecombustível. combustível. Desta forma de ência distância e/ou altitude no forma pesos próximos ao Pesoadicional Máximode Pouso, dadaDesta combinação ee adotar um valor médio do fator ff para um conjunto de pesos próximos ao Peso um médio um pesos ao e adotar adotar altitude um valor valor médio do doNafator fator f para para um conjunto conjuntoo de de pesos próximos próximos ao Peso Peso e distância. Tabela 1, apresentamos resultado completo para todas o de Pouso, dada combinação de altitude e distância. Na Tabela 1, apresentamos oo as mo de de Pouso, Pouso, dada combinação de altitude e distância. Na Tabela 1, apresentamos mo dada combinação de altitude e distância. Na Tabela 1, apresentamos o altitudes. do completo para todas as altitudes. do completo para todas as altitudes. do completo para todas as altitudes. Altitude [ft] Dist Altitude Dist Altitude [ft] [ft] Dist Altitude [ft] Dist 15000 20000 25000 30000 37000 39000 41000 [NM] 15000 20000 25000 30000 35000 3700035000 [NM] 39000 41000 [NM] [NM] [NM] 200 200 200 400 200 400 400 600 400 600 600 800 600 800 800 1000 800 1000 1000 1200 1000 1200 1200 1200 15000 20000 20000 25000 25000 15000 1,30% 1,19% 1,30% 1,19% 1,07% 1,30% 1,07% 2,94%1,19% 1,30% 1,19%2,68% 1,07% 2,94% 2,68% 2,43% 2,94% 2,68% 2,43% 4,60%2,68%4,19% 2,94% 2,43% 4,60% 4,19% 3,81% 4,60% 4,19%5,71% 3,81% 6,28%4,19% 4,60% 3,81% 6,28% 5,71% 5,19% 6,28% 5,19% 7,96%5,71% 6,28% 5,71%7,24% 5,19% 7,96% 7,24% 6,58% 7,96% 7,24% 6,58% 9,67%7,24%8,79% 7,96% 6,58% 9,67% 9,67% 8,79% 8,79% 7,97% 7,97% 9,67% 8,79% 7,97% 30000 30000 1,07% 0,99% 0,99% 2,43% 0,99% 2,24% 2,24% 3,81% 2,24% 3,50% 3,50% 5,19% 3,50% 4,77% 4,77% 6,58% 4,77% 6,06% 6,06% 7,97% 6,06% 7,35% 7,35% 7,35% 35000 37000 37000 39000 39000 35000 0,99% 0,94% 0,94% 0,94% 2,24% -- 2,12%-0,94% 2,12% 2,10% 2,10% 2,12% 2,10% 3,50%2,10% 2,12% 2,10%3,30% 2,10% 3,30% 3,26% 3,24% 3,30% 3,26% 3,24% 4,77%3,26%4,51% 3,30% 3,24% 4,51% 4,45% 4,43% 4,51% 4,43% 6,06%4,45% 4,51% 4,45%5,75% 4,43% 5,75% 5,71% 5,72% 5,75% 5,71% 5,72% 7,35%5,71%7,05% 5,75% 5,72% 7,05% 7,05% 7,05% 7,05% 7,14% 7,14% 7,05% 7,05% 7,14% 41000 41000 -2,10% 2,12% 2,12% 3,26% 2,12% 3,26% 3,26% 4,45% 3,26% 4,45% 4,45% 5,71% 4,45% 5,78% 5,78% 7,05% 5,78% 7,32% 7,32% 7,32% 2,10% 3,24% 4,43% 5,72% 7,14% 2,12% 3,26% 4,45% 5,78% 7,32% Tabela 1: Fator f em função de distância e altitude Tabela 1: Fator ff em função de distância ee altitude Tabela 1: Tabela 1: Fator Fator f em em função função de de distância distância e altitude altitude A fim de tornar o cálculo exato do fator f mais exeqüível do ponto de vista de tornar oo cálculo exato do fator f mais exeqüível do ponto de vista computacional, aa de fator mais exeqüível do de Tabela então modelada sob a forma de tornar tornar computacional, o cálculo cálculo exato exatoado do fator 2ff pode mais ser exeqüível do ponto ponto convenientemente de vista vista computacional, computacional, a 22 pode ser então modelada convenientemente sob a forma polinomial (cúbica) através então sob aa forma 2 pode pode ser ser então modelada modelada convenientemente sob formadepolinomial polinomial (cúbica) através através polinomial (cúbica)convenientemente através do seguinte conjunto equações: (cúbica) uinte conjunto de equações: uinte uinte conjunto conjunto de de equações: equações: ff == A +A .didi ++ A .didi 22222 ++ A .didi 33333 f =A A00000 + +A A11111..di di + A A22222..di di + A A33333..di di 2222 + A .Hi 3333 A = A + A . Hi + A . Hi 2 A = A + A . H i + A . H i + iHi A A 00 + 01..Hi 02 ..Hi 03...H A000000 = =A A000 +A A0101 Hi + +A A0202 Hi 2 + +A A0303 Hi 33 00 01 02 03 00 01 02 03 00 01 02 03 22 3 222 + A .Hi 3333 A11 == A A10 ++ A A11 .H Hi +A A12 .H Hi 13 2+ 3 Hi Hi Hi A . i + . i A . H i 11 12 13 A1111 = A1010 + A . Hi + A . Hi + A . Hi 10 11 12 13 111 1212 1313 10 10 11 12 13 22 33 2 A = A + A . Hi + A . Hi + A . Hi 22 + A23 333 22 = A20 21 22 A + A Hi + A Hi Hi 20 + 21..H 22..H 23..H Hi Hi Hi A = A A i + A i + A i 2 20 21 22 23 A222 = A2020 + A222 + A2323 20 + A2121 21 . 22 . 23 . 22 33 2 3 A = A + A . Hi + A . Hi + A . Hi 22 33 A A A A 30 + 31..Hi 32 ..Hi 33 ..Hi A333333 == =A A3030 +A A31 +A A3232 +A A333 30 31 32 33 A iHi ++ iHi 2 ++ iHi3 30 32 33 30 + A3131 31.H 32.H 33.H Para i = 1,..,N-1 Para Para ii = = 1,..,N-1 1,..,N-1 Para i = 1,..,N-1 (14) (14) (14) (14) (15) (15) (15) (15) (16) (16) (16) (16) (17) (17) (17) (17) (18) (18) (18) (18) Onde di : Distância na etapa i [NM]. Hi : Altitude de cruzeiro na etapa i [ft]. Amn : Coeficientes de ajuste. Para m=[0..3] e n=[0..3]. Aplicando o método dos Mínimos Quadrados para duas dimensões, os valores de Amn para o caso analisado podem ser determinados. A Tabela 2 mostra seus valores. O Coeficiente de Correlação (R²) considerando estes coeficientes é de 0,9998, o que julgamos ser adequado para a resolução do problema proposto. a na etapa i [NM]. de cruzeiro na etapa i [ft]. ntes de ajuste. Para m=[0..3] e n=[0..3]. Transporte em Transformação XI 96 dos Mínimos Quadrados para duas dimensões, os valores de Amn para o m ser determinados. A Tabela 2 mostra seus valores. O Coeficiente de iderando estes coeficientes é de 0,9998, o que julgamos ser adequado m oblema proposto. Amn mn 0 1 2 3 0 -3,7858E-03 8,1052E-05 5,0303E-08 -3,0389E-11 0 1 0 -3,7858E-03 3,2574E-09 1 m 8,1052E-05 1,7169E-09 n1 3 3 2 5,0303E-08 -6,6826E-12 3,2574E-09 2,9702E-12 -5,4218E-17 3 -3,0389E-11 4,3148E-15 1,7169E-09 -1,5362E-13 2,4814E-18 -6,6826E-12 2,9830E-16 -4,3019E-21 Tabela 2: Coeficientes de interpolação 4,3148E-15 -1,9807E-19 2,9187E-24 3 2,9702E-12 -1,5362E-13 2,9830E-16 -1,9807E-19 3 -5,4218E-17 2,4814E-18 -4,3019E-21 2,9187E-24 (Amn) da função f = f (d, H). acordo com a(A BOEING (1998a), se considerarmos o efeito do vento médio 2: Coeficientes De de interpolação mn) da função f = f (d, H). ao longo da rota, a distância (di) considerada nas tabelas acima deve ser interpretado como sendo a distância percorrida aeronave na da massa de ar, o que é OEING (1998a), se considerarmos o efeito dopela vento médio dentro ao longo diferente da distância percorrida pela aeronave no solo em função considerada nas tabelas acima deve ser interpretado como sendo a do vento em rota. É necessária correção ao solo (ou distância pela aeronave dentro uma na massa de na ar,distância o que épercorrida diferente em da relação distância total rota) ado fimvento de seem prover valor de “d” ave no solo emdafunção rota. um É necessária umaequivalente, correção nalevando em conta a componente do vetor de vento médio projetado ao longo do eixo longitudinal da m relação ao solo (ou distância total da rota) a fim de se prover um valor aeronave e a velocidade verdadeira (TAS) ao longo evando em conta a(Vw) componente do vetor de ventomédia médio projetado ao da rota. A seguinte relação é aplicável: dinal da aeronave (Vw) e a velocidade verdadeira média (TAS) ao longo lação é aplicável: TAS i (19) ( ) (19) d i = Di ..( Vw TAS i + V w i de verdadeira média da aeronave para o trecho i [kt]. nte do vetor deOnde ventoTAS médio de cruzeiro projetadomédia no eixo longitudinal :Velocidade verdadeira da aeronave para o trecho i [kt]. i ara o trecho i Vw [kt]. Componente Valores negativos representam ventos decruzeiro proa e projetado no eixo do vetor de vento médio de i: entam ventos de cauda. longitudinal da aeronave para o trecho i [kt]. Valores negativos representam ventos percorridade noproa soloe(ou em aerovia) em NM para odetrecho positivos representam ventos cauda.i. Adotamos os dos nas cartas de altitude para vôos(ou por em instrumentos. Dinavegação : Distânciaem percorrida no solo aerovia) em NM para o trecho i. Adotamos os valores publicados nas cartas de navegação em altitude para vôos por ser provido pelo sistema de planejamento de navegação produzido pelo instrumentos. e. Valores negativos de Vw significam componentes de vento de proa. nificam componentes de ventos de cauda. Adicionalmente, é necessário o de TAS deve serem provido sistema planejamento de navegação ara condições O devalor temperatura média rota pelo diferente do de padrão. A pelo fabricante daaraeronave. definida produzido como temperatura estática do na referidaValores altitudenegativos de acordode Vw significam componentes vento de proa. Valores positivos componentes de ventos mosfera padrão definidodepela OACI (denominada condiçãosignificam ISA, ou seja, de cauda. Adicionalmente, é necessário o ajuste de consumo andard Atmosphere). Maiores detalhes podem ser verificados das para condições de média em rota diferente do padrão. A temperatura padrão é definida a (1996) etemperatura BOEING (1998a). como temperatura estática do ar cada na referida altitude acordo Manual de Operações da Aeronave, para 1ºC acima do de valor da com o modelo de atmosfera definido pela (denominada condição escenta-se 0,4% nopadrão consumo horário da OACI aeronave. Como o fator f é ISA, ou seja, na onal ao consumo total (que é a integração do consumo horário), então o mbém ajustado para este desvio com razoável aproximação através da Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 97 International Standard Atmosphere). Maiores detalhes podem ser verificados das referências em Padilla (1996) e BOEING (1998a). De acordo com o Manual de Operações da Aeronave, para cada 1ºC acima do valor da temperatura ISA, acrescenta-se 0,4% no consumo horário da aeronave. Como o fator f é diretamente proporcional ao consumo total (que é a integração do consumo horário), então o mesmo pode ser também ajustado para este desvio com razoável aproximação através da seguinte equação: f i*= fi. (1+0,004*DELTA_ISAi) (20) Onde fi* : Fator de ajuste de consumo de combustível em condições de temperatura diferente da temperatura padrão (ISA) para o trecho i. fi : Fator de ajuste de consumo de combustível em condições de temperatura padrão (ISA) para o trecho i. DELTA_ISAi : Desvio da temperatura na altitude de cruzeiro em relação à temperatura padrão (ISA) para o trecho i [ºC]. Resultados Considerou-se que, no início da programação, a aeronave encontrava-se com 2.000 kg, geralmente determinada como a quantidade de combustível mínima a bordo conforme a política operacional da empresa aérea. Na Tabela 3 encontram-se todos os dados de entrada necessários para a resolução do problema. Na Tabela 4, apresentam-se os resultados contendo a estratégia de abastecimento convencional, onde se procura decolar na medida do possível com o combustível mínimo regulamentar, e os valores de abastecimento obtidos a partir da aplicação do modelo proposto. Uma exceção é feita na etapa REC-MCZ onde o combustível mínimo regulamentar foi inferior ao remanescente da etapa. Nesta tabela, verificam-se também os valores abastecidos em cada base (Xi), bem como os custos associados a cada abastecimento de acordo com os preços de combustível informados. 98 i Transporte em Transformação XI DE PARA Pi D [ US$ / kg] ALT CRZ ISA Dev CRZ VENTO CRZ TAS d PZCi f* PMDi PMPi MFOB0i TRIP0i [NM] [ft] [ºC] [Kt] [Kt] [NM] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] 1 FOR REC 1,26 339 39000 4 -11 404 348 1,80% 35600 50300 43000 4870 1957 2 REC MCZ 1,01 98 15000 17 -5 310 100 0,46% 35600 50300 43000 2639 1143 3 MCZ AJU 1,16 116 20000 17 -9 330 119 0,57% 35600 50198 43000 2841 964 4 AJU SSA 1,16 137 24000 16 -9 347 141 0,67% 35600 50300 43000 3093 1085 5 SSA GRU 1,05 846 38000 6 -44 439 940 5,31% 35600 50300 43000 6818 4395 6 GRU CWB 0,96 194 30000 12 -52 386 224 1,13% 35600 50300 43000 3707 1400 7 CWB GRU 0,93 221 31000 12 5 377 218 1,07% 35600 46971 43000 3520 1382 8 GRU SSA 0,96 787 39000 4 2 432 783 4,33% 35600 50300 43000 5941 3675 9 SSA AJU 1,05 137 25000 16 -17 353 144 0,68% 35600 50300 43000 3093 1098 10 AJU MCZ 1,16 116 19000 17 -10 325 120 0,58% 35600 50300 43000 2750 973 11 MCZ REC 1,16 98 18000 17 -10 319 101 0,45% 35600 50198 43000 2633 867 12 REC FOR 1,01 337 38000 6 -22 408 356 1,84% 35600 50300 43000 4875 1986 Tabela 3: Dados de entrada. ESTRATÉGIA CONVENCIONAL ESTRATÉGIA COM TANQUEAMENTO i DE PARA REMi [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [US$] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [US$] 1 FOR REC 2000 2870 4870 40470 1957 38513 3.604,53 2000 2870 4870 40470 1957 38513 3.604,53 2 REC MCZ 2913 0 2639 38513 1143 37370 0 2913 5657 8570 44170 1170 43000 5.737,21 3 MCZ AJU 1770 1071 2841 38441 964 37477 1.243,64 7400 0 7400 43000 990 42010 0 Xi FOBi Pdi TRIPi PPi CUSTO REMi Xi FOBi Pdi TRIPi PPi CUSTO 4 AJU SSA 1877 1216 3093 38693 1085 37608 1.407,17 6410 0 6410 42010 1107 40903 0 5 SSA GRU 2008 4810 6818 42418 4395 38023 5.042,84 5303 1515 6818 42418 4395 38023 1.588,56 6 GRU CWB 2423 1284 3707 39307 1400 37907 1.227,57 2423 1284 3707 39307 1400 37907 1.227,57 GRU 2307 1213 3520 39120 1382 37738 1.124,01 2307 6532 8839 44439 1439 43000 6.052,70 7 8 GRU SSA 2138 3803 5941 41541 3675 37866 3.635,86 7400 1355 8755 44355 3797 40558 1.295,40 9 SSA AJU 2266 827 3093 38693 1098 37595 867,03 4958 0 4958 40558 1111 39447 0 10 AJU MCZ 1995 755 2750 38350 973 37377 873,69 3847 0 3847 39447 979 38468 0 11 MCZ REC 1777 856 2633 38233 867 37366 993,74 2868 0 2868 38468 868 37600 0 12 REC FOR 1766 3109 4875 40475 1986 38489 3.152,93 2000 2875 4875 40475 1986 38489 2.915,62 21199 22.421,60 TOTAL 20925 23.173,01 Tabela 4: Estratégias de abastecimento Na Tabela 5, encontra-se um comparativo final entre os dois métodos. As estimativas mensais e anuais são projetadas para uma única aeronave efetuando Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 99 esta programação seis dias por semana. Na Figura 3, pode ser vista claramente a estratégia de abastecimento. Os valores entre parênteses são os preços de combustível nas localidades de origem. ITEM VALOR DIÁRIO PROJEÇÃO MENSAL PROJEÇÃO ANUAL ECONOMIA [US$] 751,41 (3,24%) 19.322,08 231.865,00 1096 (1,31%) 28.191 ECONOMIA MÉDIA POR TRECHO [US$] 62,62 CONSUMO EXTRA [kg] CONSUMO EXTRA POR TRECHO [kg] 338.294 23 Tabela 5: Resultados comparativos finais Diferenças de Abastecimento 6000 5000 4000 CONVENCIONAL 3000 COM TANQUEAMENTO 2000 1000 /F O R (1 ,0 1) 6) ,1 6) EC R M C Z/ R Z C EC (1 (1 ,1 5) ) ,0 (1 U AJ U /M ) 96 (0 , AJ SA SS A/ ) 93 (0 , R U /S G G R U ) 96 05 W B/ C U /C W B (1 , (0 , 6) G G R A/ SS /S SA R U (1 ,1 ,1 6) 1) (1 JU Z/ A C M AJ U ,2 (1 Z C /M /R EC EC R FO R (1 6) 0 ,0 Quantidade Abastecida - Xi (kg) 7000 Etapas Figura 3: Diferença de quantidade de abastecimento (Xi) ao longo das rotas entre a estratégia convencional e o tanqueamento de combustível. 7. Considerações Finais Verificou-se que o modelo proposto está consistente com os resultados encontrados por Stroup e Wollmer (1991), quando aplicam seu modelo sem restrição de quantidade de combustível abastecida nos aeroportos. Todos os 100 Transporte em Transformação XI resultados encontrados são válidos considerando-se as premissas adotadas pelo modelo. Obteve-se um ganho de 3,24% para as doze etapas analisadas, o que é considerado bastante satisfatório na indústria aeronáutica, onde reduções de custos operacionais da ordem de 1% são usuais. Para o cenário analisado, uma frota de dez aeronaves, voando seis vezes por semana, traria economias anuais estimadas em US$ 2.318.650,00 caso tal procedimento fosse adotado. Entretanto, deve-se ressaltar que o procedimento de tanqueamento de combustível traz, além dos ganhos econômicos, um grande impacto ambiental. No exemplo analisado, existe um consumo adicional médio de combustível de 23 kg por etapa voada, ou 338 toneladas de consumo adicional anual por aeronave. Este consumo adicional também implica na emissão de poluentes que serão liberados nas camadas superiores da troposfera e tropopausa, onde as aeronaves comerciais a jato geralmente voam. De acordo com estudos recentes do FAA (2004), para cada 1.000 kg de combustível JET-A1 queimado, a combinação aeronave/motor em questão gera como produto de sua combustão as seguintes quantidades de gases na atmosfera é mostrada na Tabela 6: Elemento NOX CO HC CO2 H20 SOX Emissão [kg] 23,957 3,547 0,312 3155,933 1311,297 0,799 Tabela 6 - Emissão de poluentes para cada 1000 kg de combustível consumido Ou seja, apenas considerando o CO2, tal operação implicaria a emissão de 1067 toneladas adicionais anuais na atmosfera, apenas considerando-se uma única aeronave. Nos tempos atuais, discute-se fortemente a influência do aquecimento global como conseqüência da emissão de gases provenientes da atividade industrial humana. Análises da contribuição da atividade aérea no efeito estufa estão cada vez mais apuradas, estimando-se que a mesma participe atualmente em aproximadamente 2,5 % nas emissões totais de CO2 ou 12% das emissões efetuadas pelos meios de transporte que utilizam combustíveis fósseis. Um Modelo para a Minimização dos Custos Totais de Abastecimento Considerando as Múltiplas Escalas das Aeronaves nas Rotas de uma Empresa Aérea Doméstica Brasileira 101 De acordo com a ICAO (2006), começa-se a estudar a possibilidade da adoção de taxas de pouso e permanência baseadas em níveis de emissões das aeronaves, assim como hoje é aplicado ao ruído aeroportuário em alguns lugares do mundo. Os aeroportos internacionais em Zurique e Estocolmo foram os primeiros a ensaiar tais medidas. Nos próximos anos, é previsto que o Anexo XVI da OACI já contenha recomendações para a determinação de tais tarifas e classificação de grupos de aeronaves poluentes. Empresas aéreas que operarem aeronaves com altos níveis de emissão pagarão mais por seu prejuízo ecológico. Portanto, um objetivo para investigação futura é a avaliação do procedimento de tanqueamento de combustível à luz dos impactos causados por esta técnica ao meio ambiente. 102 Transporte em Transformação XI Referências Bibliográficas ABDELGHANY, K.; ABDELGHANY, A.; RAINA, S. (2004). A model for the airlines’ fuel management strategies. Journal of Air Transport Management 11 (2005) 199-206. BOEING COMPANY. Fuel Conservation News Letters. Seattle ,1992. BOEING COMPANY. Wind and Temperature Route Statistical Information. Seattle, 1992. BOEING COMPANY. Jet Transport Performance Methods. Seattle, 1998. COMANDO DA AERONÁUTICA. Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA) 121 – REQUISITOS OPERACIONAIS: OPERAÇÕES DOMÉSTICAS, DE BANDEIRA E SUPLEMENTARES. Rio de Janeiro, 2003. CORDINA, E. A study on ways to limit the environmental harm caused by engine emissions and an assessment of the future environmentally friendly aircraft technologies . London City University. Londres, 2002. DARNELL, D.W.; LOFLIN, C. (1977). National Airlines Fuel Management and Allocation Model. Interfaces. Vol. 7, pp. 1-16, 1977. EMBRAER. Embraer 170/190 Fuel Conservation. São José dos Campos, 2005. EMBRAER. Embraer 170/190 Flight Operations Engineering Course Notes. São José dos Campos, 2006. EMBRAER. Embraer 190 Operations Manual Vol.1. Chapter 6 – Flight Planning. São José dos Campos, 2006. FAA. SAGE - APPENDIX “D” MODAL AIRCRAFT FUEL BURN AND EMISSIONS FOR 2004. Seattle, 2004. INTERNATIONAL AIR TRANSPORT ASSOCIATION (IATA). 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ISA CONDITION 13000 EMBRAER 190 SIMPLIFIED FLIGHT PLANNING SIMPLIFIED FLIGHT PLANNING TRIP FUEL TRIP FUEL ALL ENGINE TYPES LONG CRUISE LONGRANGE RANGE CRUISE 12500 12000 FL150 FL200 FL250 FL300 BASED ON: 250/290/M0.75 CLIMB M0.77/290/250 DESCENT 11500 11000 10500 FL350 10000 FUEL REQUIRED - kg 9500 9000 8500 8000 7500 FL370 7000 6500 6000 5500 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 LANDING WEIGHT - kg 1000 500 0 -500 44000 -1000 42000 -1500 40000 REF. LINE -2000 38000 36000 -2500 -3000 34000 -3500 -4000 60 WIND - kt TAIL HEAD -4500 -5000 30 -5500 -60000 REF. LINE -6500 30 -7000 -7500 -8000 60 -8500 -9000 0 200 400 190AOM001 - 07OCT2005 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 TRIP DISTANCE - NM 2000 2200 2400 2600 2800 Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 5 Luiz Alberto Koehler Universidade Regional de Blumenau Depto. de Eng. Elétrida e de Telecomunicações Werner Kraus Jr. Eduardo Camponogara Universidade Federal de Santa Catarina Depto. de Automação e Sistemas Resumo Este trabalho apresenta uma estratégia de controle de retenção para um sistema de transporte urbano tipo expresso ou BRT. O modelo utilizado é determinístico e pressupõe informações em tempo real e dados históricos do sistema. A partir destes dados calcula-se o tempo de retenção ótimo de cada ônibus para os pontos dentro do horizonte considerado. O objetivo é a minimização do atraso total dos passageiros, representado por uma função custo quadrática com uma parcela linear. O modelo utilizado e a heurística adotada na instanciação do problema de otimização apresentam várias vantagens em relação a outros trabalhos da literatura, tais como a complexidade computacional reduzida e a convexidade da função custo. Um exemplo numérico ilustra a aplicação do método. 106 Transporte em Transformação XI Abstract A holding strategy for the control of a BRT urban transportation system is presented. The model developed is deterministic and assumes availability of realtime information and historical data of the system. From these data the optimal holding time for each vehicle in different stops is evaluated for a given time horizon. The objective is to minimize total passenger delay which is represented by a quadratic cost function combined with a linear term. Both the model and the heuristic used in the instantiation of the optimization problem present advantages when compared to other approaches in the literature such as reduced computational complexity and convexity of the cost function. A numerical example illustrates the application of the method. 1. Introdução O sistema de transporte público representa, atualmente, um serviço vital, com grande número de usuários e considerável significado social. Este serviço permite uma redução significativa dos congestionamentos de veículos além de outros benefícios associados, tornando-se essencial para a preservação e revitalização das áreas urbanas. No caso do modal ônibus, podem-se citar ainda as características de alta flexibilidade e baixo custo de implantação e manutenção quando comparado com o transporte sobre trilhos. Na prática verifica-se com freqüência uma operação inadequada do serviço de transporte público, caracterizada através do agrupamento dos VTP (veículos de transporte público) e desvios no plano de horários e intervalo entre VTP. Estes fatores implicam num aumento do tempo de espera e viagem dos passageiros. Uma solução para os problemas citados é a utilização de uma política baseada em estratégias de controle da operação do sistema de transporte público. Enquanto o planejamento operacional é responsável por solucionar problemas de natureza persistente e contínua através da reestruturação de rotas e planos de horário, a operação tempo real têm por objetivo responder de forma imediata a possíveis e esporádicas perturbações no serviço, de forma a otimizar o desempenho do sistema (Turnquist e Blume, 1980). Desvios no serviço impõem custos aos Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 107 prestadores do serviço na forma de queda de produtividade e aos usuários na forma de aumento do tempo de viagem, aumento no tempo de espera nos pontos e incertezas nos horários. Neste trabalho propõe-se uma estratégia de controle tempo real do intervalo ou espaçamento (“headway”) entre VTP para um sistema de transporte tipo expresso ou BRT (“Bus Rapid Transit”). O objetivo é a minimização do atraso dos usuários do sistema. Como diferencial em relação a trabalhos anteriores (Eberlein et al., 1999; O’ Dell e Wilson, 1999; Eberlein et al., 2001; Sun e Hickman, 2004; Zolfaghari et al., 2004), este trabalho apresenta várias particularidades em relação ao modelo utilizado e à heurística adotada para solução do problema. 2. Operação em Tempo Real do Sistema de Transporte Público As principais estratégias de controle em tempo real aplicadas a sistemas de transporte urbano são: retenção ou “holding”; salto de pontos ou “stop skipping”; retorno antecipado ou “short-turning”; sempre avante ou “dead-heading”; expresso e VTP extra. Na prática, a utilização de estratégias do tipo salto de ponto, sempre avante e retorno antecipado não são bem vistas pelas agências de trânsito, isto em virtude da reação negativa dos passageiros em relação ao salto de pontos e necessidade de desembarque “forçado” do VTP (Strathman et al., 2001). Para um serviço normal sujeito a pequenos desvios e pequenas perturbações no plano de horários ou espaçamento entre VTP, as estratégias mais empregadas são a prioridade para VTP nas sinalizações e retenção nos pontos (Zolfaghari et al., 2004; Koehler e Kraus, 2006a; Koehler e Kraus, 2006b). Este trabalho está focado na estratégia de retenção, descrita a seguir. 2.1. Estratégia de Controle Tipo Retenção A necessidade de controlar o movimento dos VTP ao longo das rotas e pontos deve-se a instabilidade natural do intervalo ou espaçamento entre estes. Esta instabilidade é causada por variações probabilísticas no tempo de embarque/ 108 Transporte em Transformação XI desembarque dos passageiros nos pontos (devido a variações no número de passageiros) e ou velocidades ao longo da rota (devido a variações no volume de tráfego) (Lin et al., 1995). Esta instabilidade faz com que os VTP acabem se agrupando e formando pelotões (efeito “bunching”). A estratégia de controle tipo retenção consiste em reter o VTP por determinado tempo nos pontos, buscando com isso reduzir a variação no espaçamento (ou intervalo) entre estes. Osuna e Newell (apud Bukkapatnam et al., 2003) concluíram que o tempo de espera dos passageiros nos pontos diminui com o aumento da regularidade do espaçamento e que o valor é mínimo para variação zero em relação ao espaçamento nominal. Estas duas conclusões são a base para as estratégias de retenção. O controle do espaçamento via retenção dos VTP nos pontos é mais indicado para rotas operando com espaçamentos pequenos e uniformes. Neste caso os passageiros não estão preocupados com o horário de chegada dos VTP aos pontos. (Abkowitz e Engelstein, 1984; Lin et al., 1995). Esta característica implica na utilização de um modelo de chegada dos passageiros nos pontos representado por uma taxa constante. 2.2. Classificação das Estratégias de Controle Tipo Retenção As estratégias de retenção podem ser classificadas em dois grupos (Zolfaghari et al., 2004): • controle baseado no valor limite: manutenção de um espaçamento entre VTP constante, onde o VTP, após o embarque e desembarque de passageiros, é retido no ponto se o espaçamento está abaixo do tempo especificado. Neste caso o VTP é retido até o espaçamento ser restaurado e então despachado. Se após o embarque e desembarque de passageiros o espaçamento está acima do tempo especificado o VTP é despachado imediatamente; • modelo de programação matemática: utiliza como variável de decisão o tempo de retenção dos VTP nos ponto e, como função custo a ser minimizada, o tempo de atraso dos passageiros. Estes modelos geralmente incluem dados da operação do transporte público como tempo de parada dos VTP nos pontos, processos de embarque e desembarque dos passageiros, limiares de espaçamento e restrições de capacidade (Desaulniers e Hickman, 2003). Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 109 Conforme citado por Eberlein et al. (2001), vários estudos anteriores a partir de 1972 abordaram a estratégia de retenção baseada no valor limite. A maioria destes não considera informações em tempo real, ignora os efeitos do tempo de embarque/desembarque de passageiros na variação do espaçamento entre VTP e desconsidera várias restrições relacionadas ao tempo de partida e ultrapassagem dos VTP. Devido à complexidade do problema de retenção, somente modelos analíticos bastante simplificados foram utilizados. De forma geral, os resultados apresentados concluem que estes modelos utilizados para controle da retenção não são muito eficientes. Nos sistemas de controle de tráfego e de transporte público modernos, com a utilização de tecnologias do tipo “AVL” (localização automática de veículos), “AVI” (identificação automática de veículos), “APC” (contagem automática de passageiros) e outras, uma abordagem em tempo-real se faz possível e desejável. O primeiro trabalho neste sentido foi apresentado por Eberlein et al. (1999), podendo-se citar ainda os trabalhos de O’ Dell e Wilson (1999), Eberlein et al. (2001), Sun e Hickman (2004) e Zolfaghari et al. (2004), dentre outros. No trabalho apresentado por Eberlein et al. (2001), as informações são baseadas em dados tempo-real, como o instante de partida de cada VTP do último ponto visitado e dados históricos como taxa de chegada de passageiros nos pontos, tempo de viagem entre pontos, percentual de passageiros que desembarcam em cada ponto, etc. O modelo, baseado nas características de um sistema de transporte sobre trilhos, é completamente determinístico e inclui o efeito do tempo de embarque/ desembarque de passageiros e um modelo analítico para descrever o movimento dos VTP. O controle de retenção só é exercido num ponto, escolhido dentro do conjunto de pontos da rota, para um conjunto de veículos dentro de um horizonte (rolante) considerado. Considera-se ainda um conjunto de pontos de impacto, que vai do ponto de controle até o próximo ponto ou terminal com controle do plano de horários. A variável de decisão é o instante de partida dos VTP, pertencentes ao horizonte, no ponto de controle. Como pode ser constatado, existe uma limitação no número de veículos considerados (horizonte) e um único ponto de controle. O modelo não considera o atraso dos passageiros embarcados nos VTP e apresenta limitações na descrição do tempo de embarque/desembarque de passageiros. O trabalho apresentado por Zolfaghari et al. (2004), incorpora ainda alguns aspectos específicos do sistema de transporte de ônibus urbano, como por exemplo, 110 Transporte em Transformação XI a capacidade dos VTP. As informações também são baseadas em dados tempo-real e dados históricos do sistema. O tempo de retenção, para cada intervalo de controle, é calculado para todos os VTP no primeiro ponto de embarque/desembarque encontrado. Considera-se também um conjunto de pontos de impacto, seguintes ao ponto de controle. O modelo utiliza variáveis do tipo inteira para o instante de partida dos VTP dos pontos, o que leva facilmente a uma explosão combinatória, inviabilizando uma solução em tempo real. O exemplo apresentado pelos autores não traduz esta possibilidade, limitando-se a solução de um problema bastante simples e restrito. Neste contexto, este trabalho propõe um modelo de estratégia de controle tipo retenção, para um sistema de transporte urbano tipo expresso ou “BRT”. A utilização de um sistema BRT se justifica pela facilidade de estimativa do tempo de viagem dos VTP entre pontos. Nada impede a utilização do modelo num sistema de transporte público que não BRT, bastando para isso, dadas as particularidades e características de cada cenário, as estimativas atualizadas do tempo de viagem dos VTP entre pontos. O modelo aqui proposto apresenta soluções para várias limitações de modelos anteriores, conforme descrito a seguir. 3. Modelo de um Sistema de Controle de Retenção para Brt O modelo aqui utilizado considera um sistema de transporte urbano tipo BRT com canaleta exclusiva para os VTP, sistema este adotado em várias cidades brasileiras. Considera-se ainda, conforme indicado na Figura 1, uma rota fechada com uma pista de mão única, com vários VTP operando ao longo de vários pontos. Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 111 Figura 1: Esquema do modelo BRT utilizado Assume-se a disponibilidade das seguintes informações através de sistemas “AVL” e “APC”: • o instante de partida de cada VTP do último ponto visitado; • índice do último ponto visitado; • número de passageiros embarcados na saída do último ponto visitado. Consideram-se ainda os seguintes dados históricos: • taxa de chegada dos passageiros nos pontos; • percentual de passageiros embarcados que desembarcam nos pontos; • parâmetros/constantes de embarque e desembarque de passageiros nos pontos; • tempo de viagem dos VTP entre pontos. O modelo é sujeito as seguintes aproximações e limitações: • a capacidade dos VTP não é considerada (não existe resíduo de fila de passageiros nos pontos); • o tempo de viagem dos VTP entre pontos é aproximado pelo valor esperado, incluindo o possível atraso provocado por semáforos; 112 Transporte em Transformação XI • o tempo de embarque e desembarque é aproximado por uma função linear; • o impacto do controle do instante de partida de cada VTP dos pontos é considerado para um horizonte limitado de pontos a jusante; • o número de passageiros embarcados é representado por uma variável contínua; • utilizaçãodeestimativasparadeterminaçãodonúmerodepassageirosembarcados e do maior tempo (“dwell time”) entre embarque ou desembarque. 3.1. Modelo Matemático No modelo proposto a função objetivo considera o tempo de espera dos passageiros nos pontos, ao longo da rota, mais o tempo de espera dos passageiros embarcados. Consideram-se todos os VTP do sistema e um horizonte de pontos a jusante para cada um destes. O tempo de espera dos passageiros embarcados é definido como o tempo que o VTP fica retido no ponto (retenção) além do tempo de embarque e desembarque dos passageiros (“dwell time”). O tempo total de atraso de passageiros, nos pontos e embarcados é dado por: ni f =∑ li +N i ∑G i i =1 k =l +1 l p k 2 (d i ,k − d i −1,k ) + Ge (1 − q k )liest , k −1 hi , k 2 (1) onde i: índice dos VTP, i=1,...,ni; k: índice dos pontos, k=1,...,nk; li: vetor contendo o último ponto de parada dos VTP i; Ni: horizonte do número de pontos a jusante a serem considerados no cálculo dos atrasos; Gp: peso dos passageiros nos pontos; Ge: peso dos passageiros embarcados nos VTP; λk: taxa de chegada de passageiros no ponto k [passag./s]; di,k: instante de partida do VTP i do ponto k [s]; qk: percentual de passageiros embarcados que desembarcam no ponto k; li,kest: estimativa do número de passageiros embarcados no VTP i quando parte do ponto k; hi,k: tempo de retenção do VTP i no ponto k [s]; A primeira parcela da Equação 1 representa o atraso dos passageiros nos pontos e a segunda parcela o atraso dos passageiros embarcados nos VTP. Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 113 A questão a ser respondida consiste em determinar quanto, em quais pontos e quais VTP devem ser retidos para se minimizar a função custo apresentada, ou seja, minimizar o atraso total dos passageiros. As restrições associadas ao modelo são discutidas a seguir. Inicialmente, o instante de chegada do VTP i ao ponto k é dado por: a i ,k = d i ,k −1 + rk (2) com ai,k sendo o instante de chegada do VTP i no ponto k [s], rk o tempo de viagem entre os pontos k-1 e k [s] e di,k conforme definido anteriormente. O modelo utilizado para descrever o tempo de embarque de passageiros e o instante de partida do VTP do ponto está indicado no gráfico da Figura 2. Figura 2: Gráfico do modelo de embarque de passageiros e do instante de partida do VTP O tempo de embarque representa o tempo a partir da chegada do VTP no ponto k até a extinção da fila de passageiros: siemb ,k = C 0 + C1l k (a i ,k − d i −1,k ) (1 − C1l k ) (3) 114 Transporte em Transformação XI onde C0 e C1 (tempo de embarque por passageiro) são constantes do modelo. O tempo de desembarque é dado por: sides , k = C 0 + C 2 q k l i , k −1 (4) com C2 (tempo de desembarque por passageiro) constante e o número de passageiros que desembarcam no ponto k sendo um percentual dos passageiros embarcados. Apesar dos tempos de embarque e desembarque reais não serem uma função linear, vários estudos mostram que para um serviço com espaçamentos pequenos entre VTP, estes podem ser aproximados por uma função linear (Wilson e Lin, 1992). A restrição de escolha do maior dentre os tempos é: ( ) des si ,k = max siemb ,k , si ,k (5) que implica numa restrição não linear. O instante de partida do VTP i do ponto k é dado por: d i ,k = ai ,k + si ,k + hi ,k (6) onde hi,k é o valor de retenção que se deseja otimizar. Para garantir um intervalo mínimo entre dois VTPs sucessivos, define-se: d i ,k ≤ d i +1,k −1 + rk − emin (7) isto é, o instante de partida do VTP i do ponto k pode ser no máximo igual ao instante de chegada do VTP i+1 ao ponto k menos o intervalo mínimo emin permitido [s]. A retenção também é limitada a um valor máximo, hi ,k ≤ hmax (8) para evitar-se esperas muito longas nos pontos. O número de passageiros transportados pelo VTP i ao partir do ponto k é dado por: li ,k = l k (d i ,k − d i −1,k )+ (1 − q k )li ,k −1 (9) Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 115 Por fim, define-se a natureza não-negativa das variáveis: ai ,k , d i ,k , si ,k , hi ,k , li ,k ≥ 0 (10) Como se depreende, com exceção da Equação 5, as demais restrições apresentadas são lineares. 3.2. Características do Modelo e da Solução Proposta Para um modelo realista e uma solução ou otimização eficiente, em tempo real, foram feitas as seguintes considerações: i) Utilização de um modelo determinístico: apesar do problema de controle de retenção em tempo real ter uma natureza eminentemente estocástica, este pode ser analisado como um caso limite onde a variância dos elementos estocásticos envolvidos, durante o intervalo de decisão de controle, é muito pequena e, portanto, aproximado por um modelo determinístico (Eberlein et al., 2001). ii) Formulação do custo como uma função convexa: a utilização de uma função objetivo convexa implica num mínimo global, ou seja, numa solução ótima única. Entretanto, a inserção na função objetivo da parcela que representa o atraso dos passageiros embarcados nos VTP, implica numa não convexidade em função da dependência de li,k em relação aos valores calculados para di,k (ou hi,k). Para contornar este problema, utiliza-se uma estimativa dos passageiros embarcados nos VTP (li,kest), calculada considerando-se uma retenção igual a zero nos pontos dentro do horizonte e portanto, não dependente de hi,k. iii) Utilização de restrições lineares: a não linearidade imposta pela Equação 5 na escolha entre o tempo de embarque ou desembarque é contornada através de uma estimativa de si,kemb e si,kdes para cada ponto k antes de resolver o problema de otimização. Tal estimativa considera uma retenção igual a zero nos pontos dentro do horizonte. Através da estimativa, determina-se o maior dos dois valores e, então, resolve-se uma instância particular do modelo que considera, para cada ponto k, somente a restrição que corresponde ao maior dos dois tempos. Deste modo, evitase a não linearidade imposta pela Equação 5. 116 Transporte em Transformação XI iv) Representação do modelo através de variáveis contínuas: a representação de ai,k , di,k , si,k , hi,k e li,k na forma de variáveis contínuas permite a utilização de técnicas de otimização de complexidade polinomial, evitando-se assim uma explosão combinatória. A possibilidade de representação do número de passageiros embarcados por um número não inteiro tem impacto insignificante face às aproximações utilizadas no modelo. v) Utilização de restrição de agrupamento (“bunching”) ou ultrapassagem (“overtaking”): um modelo que busque representar um sistema real deve considerar o problema de agrupamento e ultrapassagem de VTP. No modelo aqui utilizado tal problema é evitado através da utilização da Equação 7. Tal restrição não aparece, por exemplo, no trabalho de Zolfaghari et al. (2004). vi) Possibilidade de retenção em todos os pontos do horizonte Ni: nos trabalhos apresentados por Eberlein et al. (2001), Zolfaghari et al. (2004) e outros, o controle de retenção só é possível num único ponto dentre os pontos da rota ou no primeiro ponto dentro do horizonte de pontos de cada VTP, respectivamente. Tal fato implica numa ação de retenção concentrada neste(s) ponto(s) e portanto, num possível tempo de retenção excessivo sob o ponto de vista dos passageiros embarcados. Outro aspecto a ser considerado é a limitação do valor máximo de retenção indicado na Equação 8. Caso a retenção seja limitada por hmax, a diferença não pode ser compensada nos pontos seguintes dentro do horizonte se apenas um ponto de controle é utilizado. Com a possibilidade de retenção em todos os pontos do horizonte, estes possíveis problemas são minimizados. Em suma, quando comparados com outros métodos na literatura, o presente modelo e a técnica de solução têm as seguintes vantagens: acréscimo da parcela do atraso dos passageiros embarcados na função custo mantendo-se a convexidade, conforme discutido no item ii acima; eliminação da restrição não-linear de escolha entre si,kemb ou si,kdes através do procedimneto descrito no item iii; na utilização de variáveis contínuas em oposição as variáveis discretas adotadas por Zolfaghari et al. (2004); restrição de ultrapassagem, ausente em Zolfaghari et al. (2004); e cálculo do controle ótimo com retenção em todos os pontos do horizonte considerado. As simplificações, aproximações e características resultantes da heurística utilizada permitem uma solução eficiente face à complexidade do modelo proposto, mantendo-se ainda o aspecto realista deste. Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 117 4. Estudo de Caso O cenário utilizado para testar a estratégia aqui proposta, via simulação MatLab, é baseado no modelo apresentado na Figura 1 e constituído de um sistema BRT em rota fechada, com 3 VTP e 3 pontos. A utilização de um cenário reduzido visa tornar mais clara a análise e o entendimento da dinâmica envolvida. Como citado, deve-se conhecer o instante de partida di,k de todos os VTP i do último ponto k visitado, o número de passageiros li,k embarcados, os dados históricos ou esperados do tempo de viagem rk entre pontos, taxa de chegada λk de passageiros nos pontos, percentual de passageiros embarcados qk que desembarcam em cada ponto, horizonte de pontos Ni considerado, retenção máxima hmax permitida e outros. Os valores utilizados no exemplo aqui descrito são: d1,3 = 70 [s], d2,1 = 50 [s] , d3,1 = 20 [s] , l1,3 = 0, l2,1 = 0, l3,1 = 0, rk = [60 60 60], qk = [0,2 0,2 0,2], λk = [0,05 0,05 0,05], Ni = 3, hmax = infinito, emin = 0, Gp = 1 e Ge = 1. A simulação abrange duas voltas no circuito fechado proposto, com um tempo de percurso de aproximadamente 8 minutos. Ao final da simulação é calculado o atraso total dos passageiros, nos pontos e embarcados, para o período considerado. Vale relembrar que, conforme indicado na Equação 1, a função custo considera o atraso dos passageiros nos pontos e embarcados nos VTP. Portanto, uma possível retenção de um VTP em determinado ponto, que a princípio reduziria o atraso dos passageiros nos pontos, pode vir a aumentar o atraso dos passageiros embarcados. Ou seja, o modelo utilizado considera ambos os atrasos no cálculo da solução ótima. São simulados dois casos, com e sem o controle de retenção. As trajetórias dos VTP com e sem controle de retenção são apresentadas nas Figuras 3 e 4 respectivamente. Aparece nos gráficos a trajetória do BRT ou VTP “0”, que representa o BRT anterior ao BRT 1. Tal trajetória está presente a fim de se observar o intervalo ou espaçamento entre o BRT 1 e o BRT anterior. Com a presença do controle, o VTP 3 é retido no ponto k = 2, primeira volta, percurso de 1000 [m], durante 22,6 [s]. A retenção, como pode ser verificado, implica numa alteração da trajetória do VTP 3. Para o exemplo apresentado as retenções ótimas calculadas são: h3,2 = 22,6 [s] (volta 1), com o restante das retenções iguais a zero. 118 Transporte em Transformação XI Figura 3: Trajetórias dos BRT (ou VTP) com o controle de retenção Figura 4: Trajetórias dos BRT (ou VTP) sem o controle de retenção Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 119 A Tabela 1 apresenta o atraso total dos passageiros, no período considerado, para os dois casos, com e sem controle de retenção. Como pode ser observado, o controle de retenção permitiu uma redução de 277,86 [s] ou 9,3% no atraso total dos passageiros. Tabela 1: Comparativo do atraso total dos passageiros com e sem controle de retenção Controle de Retenção Sim Não Atraso total dos passageiros [s] 2710.61 2988.47 5. Conclusões Este trabalho apresenta um modelo de controle de retenção para um sistema de transporte urbano tipo BRT. O modelo utilizado é completamente determinístico e pressupõe informações em tempo real e dados históricos do sistema. A partir destes dados calcula-se o tempo de retenção ótimo de cada VTP para os pontos dentro do horizonte considerado. O objetivo é a minimização do atraso total dos passageiros, nos pontos e embarcados, representado por uma função custo quadrática mais uma parcela linear. O modelo utilizado e a heurística adotada para solução do problema apresentam várias particularidades e vantagens em relação a outros trabalhos anteriormente apresentados. Pode-se citar como diferencial a inclusão do atraso dos passageiros embarcados na função custo, mantendo-se a convexidade; a utilização de estimativas para escolha entre si,kemb ou si,kdes, evitando-se a não linearidade; a utilização de variáveis contínuas, evitando-se a explosão combinatória; utilização de restrição de ultrapassagem e possibilidade de retenção para todos os VTP em todos os pontos do horizonte considerado. As simplificações, aproximações e características resultantes da heurística utilizada permitem uma solução eficiente face à complexidade do modelo proposto, mantendo-se ainda o aspecto realista deste. O modelo é testado, via simulação, num cenário reduzido, visando tornar mais clara a análise e o entendimento da dinâmica envolvida. Os resultados apresentados mostram a eficiência do modelo de controle de retenção para o exemplo proposto. 120 Transporte em Transformação XI A utilização do modelo de controle de retenção aqui apresentado num cenário maior e ou real é perfeitamente viável e possível. Espera-se para estes casos resultados similares ou tão positivos quanto os obtidos no exemplo aqui apresentado. Num cenário maior recomenda-se a utilização de um algoritmo de otimização mais eficiente do que o aqui utilizado, o que não representa maiores problemas. A especificação do peso dos passageiros nos pontos e embarcados, Gp e Ge respectivamente, na função custo, fica a cargo do operador do sistema, devendo refletir os objetivos desejados. Sugere-se para trabalhos futuros o teste do modelo aqui apresentado num sistema BRT real, com controle em tempo real do instante de partida (ou retenção) dos VTP. De forma similar a simulação aqui apresentada, seriam necessárias as informações em tempo real do instante de partida de cada VTP do último ponto visitado e do número de passageiros embarcados e, dados históricos ou esperados do tempo de viagem entre pontos, taxa de chegada de passageiros nos pontos e percentual de passageiros embarcados que desembarcam em cada ponto, além de alguns parâmetros constantes. Conforme já citado, nada impede a utilização do modelo aqui apresentado num sistema de transporte público que não BRT, bastando para isso, dadas as particularidades e características de cada cenário, as estimativas atualizadas do tempo de viagem dos VTP entre pontos. Uma próxima etapa deste trabalho prevê a inclusão de semáforos no modelo com possibilidade de prioridade para BRT, o que implica em restrições adicionais para di,k e ou nova formulação para rk. Controle de Retenção para Sistemas de Transporte Público 121 Referências bibliográficas Abkowitz, M. e I. 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Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 6 Marcelo Leismann de Oliveira Helena Beatriz Bettella Cybis Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – PPGEP Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Felipe Brum de Brito Sousa Consórcio UNIVIAS Resumo Este trabalho apresenta um mecanismo de seleção de indicadores de desempenho visando análises operacionais em praças de pedágio. Os indicadores em avaliação foram obtidos através de revisão bibliográfica e pesquisa, considerando o estado da prática brasileira. Características de qualificação de indicadores serão utilizadas para julgamento, de forma a classificá-los em ordem de importância. Após a avaliação, os indicadores com maiores índices foram “nível de utilização das cabines”, seguido por “tamanho de fila máxima nas cabines”, “tempo máximo de espera na fila” e “tempos de atendimento de veículos”. A utilização conjunta de dois ou mais indicadores pode fornecer importante informação para análises operacionais e a definição de escalas para níveis de serviço, avaliando-se tanto a operacionalidade da praça, como também fatores de tráfego, e o inconveniente percebido pelos usuários quando enfrantam diferentes situações de tráfego. 124 Transporte em Transformação XI Abstract This paper presents a mechanism for selection measures of efficiency for operational analysis in toll plazas. The measures of efficiency to be evaluated were obtained through bibliographical review and research considering the Brazilian state of practice. Qualification characteristics are used for judgment and classification of measures of efficiency in order of importance. According to the evaluation, the measure of efficiency with higher indices were “level of utilization of tollbooths”, “maximum length of queue in tollbooths”, “maximum waiting times in queue” and “vehicle’s service times”. The conjoint utilization of two or more measures of efficiency can supply important information for operational analysis and the definition of scales for levels of service, evaluating operational efficiency of the plaza also traffic factors and the inconvenient perceived by the drivers when facing different situations of traffic. 1. Introdução Com a transferência da administração de rodovias para a iniciativa privada, ocorreu um aumento no número de praças de pedágio implantadas nas rodovias concedidas brasileiras. Atualmente existem 201 praças de pedágio nas rodovias brasileiras (ABCR, 2007a). Concessionárias filiadas a ABCR - Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias - administram 175 praças de pedágio nos estados do Espírito Santo (2), Bahia (1), Minas Gerais (3), Rio de Janeiro (20), São Paulo (88), Paraná (27) e Rio Grande do Sul (34) (ABCR, 2007a). O poder público administra 26 praças de pedágio, distribuídas nos estados de São Paulo (19), Rio Grande do Sul (3), Ceará (1) e Mato Grosso do Sul (3) (ABCR, 2007b). A ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres – estima ainda que serão repassados 2600 quilômetros de rodovias para a administração privada, e implantadas mais 36 praças, com a segunda etapa do Programa de Concessões Federais (ANTT, 2007). Sob o ponto de vista de engenharia de tráfego, uma praça de pedágio atua como um gargalo ao fluxo normal de tráfego nas rodovias, já que todos os veículos devem desacelerar e a maioria deve parar para realizar o pagamento das tarifas. O congestionamento ocasionado em períodos de pico de tráfego está ligado diretamente à relação entre a oferta e demanda de serviço nas praças, e atrasos gerados por elas Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 125 podem ser indicativos para a adoção de medidas alternativas de projeto e operação (Lin e Su, 1994). Medidas alternativas de projeto e operação estão relacionadas diretamente com estratégias de análise do comportamento do fluxo de tráfego nas praças, e com estimativas de parâmetros operacionais e escalas de níveis de serviço ligados a eles. Parâmetros operacionais são aqueles indicadores de desempenho (medidas de eficiência) que captam quantitativamente as características de operação de tráfego. Exemplos de indicadores são: (i) atrasos, (ii) relação entre volume e capacidade (V/C) e (iii) tamanho de filas nas cabines. Algumas destes indicadores fazem parte dos contratos de concessão rodoviária no Brasil (Oliveira e Cybis, 2006). A avaliação do nível de serviço para praças de pedágio, por sua vez, ainda não foi formalmente definida no Highway Capacity Manual 2000 (Kittelson e Roess, 2001). Devido a este fato, estudos sobre o tema divergem com relação aos indicadores de desempenho que melhor caracterizam o funcionamento destas infra-estruturas. Este artigo apresenta um mecanismo para avaliação da adequação de indicadores de desempenho para análises de praças de pedágio. O atendimento em praças de pedágio será enquadrado como um serviço prestado, abrangendo sua qualidade, processos funcionais e indicadores. Os indicadores em avaliação neste estudo foram obtidos através de revisão bibliográfica e pesquisa, considerando o estado da prática brasileira. Serão analisados todos os indicadores obtidos, tanto aqueles úteis para avaliações exclusivamente operacionais, quanto àqueles que podem colaborar na obtenção de escalas de níveis de serviço. Características de qualificação de indicadores serão utilizadas para julgamento, de forma a classificálos em ordem de importância. 2. Indicadores de Desempenho Em função de sua natureza, a atividade de transportes é considerada um serviço. A produção e o consumo da atividade de transporte são coincidentes, o produto resultante da atividade não pode ser estocado e o cliente participa de sua produção (Ortúzar e Willumsen, 1990). Da mesma forma, a atividade desenvolvida em uma praça de pedágio pode ser medida através de mecanismos utilizados para avaliar o desempenho de um serviço. 126 Transporte em Transformação XI Uma maneira objetiva e sistêmica de acompanhamento e controle dos atributos componentes dos transportes consiste na utilização de indicadores. Segundo Rummler e Brache (1994), servem de base para: comunicar as expectativas de desempenho esperadas; identificar falhas no desempenho e; fornecer feedback para comparar seu desempenho a um padrão. Em outras palavras, os indicadores servem como termômetros para premiar as melhores performances e punir as deficientes, incentivando a competição (Aragão et al., 2000). Assim, os indicadores são índices numéricos estabelecidos sobre os efeitos de cada processo para medir o desempenho, sendo ferramentas valiosas nesse contexto (Müller, 2003). Um sistema de análise de desempenho não é simplesmente a coleta de dados para verificar se um produto ou serviço atingiu o padrão pré-definido, mas sim um sistema global de gerenciamento, que também envolve prevenção e detecção, visando alcançar conformidades destes produtos ou serviços de acordo com o desejo de clientes/usuários (Jagdev et al., 2004). A análise do serviço deve ser baseada em um número limitado de indicadores de grande abrangência (Downs, 1988 apud Costa et al., 2001). Da mesma forma, o processo de seleção e ponderação de indicadores precisa ter caráter dinâmico, considerando os diferentes objetivos e os anseios dos usuários dos sistemas de transportes (Lindau et al., 2001). Os objetivos envolvem as análises (i) das percepções do inconveniente causado aos usuários devido a situações de tráfego, e (ii) operacionais da própria concessionária. 2.1. Estado da Arte de Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio O desempenho e a qualidade de serviço mensurada por um indicador pode ser comparada com valores padrões pré-fixados ou com medições anteriores do mesmo indicador. Neste sentido surge o conceito de nível de serviço (TRB, 2003). O conceito de nível de serviço foi originalmente desenvolvido em 1965 no Highway Capacity Manual, e divide o desempenho de um indicador em 6 classes, onde cada classe é identificada por uma letra, de “A” (mais alta qualidade) a “F” (mais baixa qualidade). O nível de serviço deve medir o ponto de vista dos usuários e não do operador de transporte. Praças de pedágio devem ser analisadas, como qualquer outra infraestrutura de transportes, quanto à qualidade de serviço oferecido aos usuários. O HCM-2000 Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 127 e a bibliografia não apresentam metodologia tacitamente aceita para este fim, por este motivo estudos que buscam analisar praças divergem com relação a métodos e indicadores de desempenho utilizados. Em estudo pioneiro sobre a operação e otimização da coleta manual de pedágios, Edie (1954) utiliza, como indicador de desempenho, atrasos médios por veículo e fila máxima nas cabines como critério para avaliação do desempenho operacional de praças de pedágio. O atraso total gerado pelas praças foi utilizado como indicador de desempenho na definição de níveis de serviço por Zarrillo (1998), Polus (1996) e Gulewicz e Danko (1995). Considera-se atraso total, neste caso, a soma dos atrasos sofridos por todos os veículos, que são obrigados a praticar velocidades inferiores, devido à presença da praça de pedágio no sistema. Burris e Hildebrand (1996) utilizaram comprimento médio de fila e tempo médio no sistema como indicadores de desempenho para avaliar o desempenho de praças. Outro indicador verificado foi o tempo de espera do usuário na fila para pagamento (Wanisubut, 1989 e Nielsten, 1988 apud Zarrillo, 1998). O atraso médio por veículo, gerado pelas paradas nas filas, também foi utilizado como indicador de desempenho para avaliar a operação de praças por Fan e Saito (1998). Como indicado por Schaufler (1997), o tamanho das filas e os atrasos são utilizados por diversas agências de transportes norte-americanas como indicadores de desempenho para avaliar alternativas de planejamento e projeto para praças de pedágio. Al-Deek e Radwan (1995) sugerem um sistema para avaliação do nível de serviço nas praças, com cobrança eletrônica de pedágios, baseado em vários indicadores incluindo o tempo médio de espera por veículo e relação volumecapacidade (V/C). Assim como Woo e Hoel (1991), que sugerem que a relação volume-capacidade, agregada para todas as cabines da praça, pode ser utilizada para classificar o nível de serviço. O indicador de desempenho comumente utilizado para determinação do nível de serviço em rodovias e interseções é a relação volume-capacidade (TRB, 2000). Lin e Su (1994) acrescentam que, para praças de pedágio, a relação volumecapacidade (V/C) é mais fácil de ser obtida em campo do que outros indicadores. 128 Transporte em Transformação XI A relação volume-capacidade (V/C) foi largamente utilizada para determinação do nível de serviço nas praças. Porém, Zarrillo (2000) contesta que a relação volume-capacidade (V/C) é inadequada para avaliação de praças de pedágio, pois a capacidade é dependente de fatores humanos que influenciam no tempo de atendimento e escolha da forma de pagamento, portanto muito variável. Oliveira et al. (2003) também realizaram estudo sobre a influência de fatores humanos (motoristas e arrecadadores) nos tempos de atendimento e capacidades de processamento nas cabines, chegando a conclusão de que estes fatores não devem ser desprezados em análises de capacidade em praças de pedágio. Em estudo mais recente, Klodzinski e Al-Deek (2002) propõem uma avaliação do nível de serviço baseado na formação de grupos de veículos que sofreram o mesmo atraso individual acumulado (em segundos). De acordo com o estudo, o atraso experimentado por 85% do total de veículos que atravessam a praça pode ser tomado como indicador de desempenho na determinação do nível de serviço geral da praça em estudo. Em trabalho desenvolvido por Horn (2003), são utilizados indicadores de desempenho genéricos para praças de pedágio, correspondentes, em sua maioria, a indicadores provenientes do micro simulador de tráfego, já que praças são simuladas em conjunto com rodovias e entornos. Para praças, os indicadores de desempenho escolhidos são apresentados por cabine de atendimento. A tabela 1 apresenta um resumo, e os respectivos níveis de agregação, de alguns indicadores de desempenho encontrados na literatura quando da avaliação de praças de pedágio. Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 129 Tabela 1 - Indicadores de desempenho para praças de pedágio encontrados na literatura Estudos Indicadores de Desempenho Edie (1954) Atraso Médio; e Fila Máxima Individual por veículo; e por cabine da praça Nível de Agregação Wanisubut (1989) e Nielsten (1988) apud Zarrillo (1998); Tempo de Espera na Fila Individual por veículo Woo e Hoel (1991) Relação Volume–Capacidade (V/C) Agregado para toda a praça Burris e Hildebrand (1996) e Lin e Su (1994) Comprimento Médio de Fila; e Tempo Médio no Sistema Por cabine; e Individual por veículo Gulewicz e Danko (1995) Comprimento de Fila; e Tempo de Espera Médio Individual por cabine Al-Deek e Radwan (1995) Tempo Médio de Espera na Fila; e Relação Volume-Capacidade (V/C) Individual por veículo; e (V/C) agregado para toda a praça Morin et al. (1996) Comprimento de Filas; e Tempos de Espera Por cabine; e para cada forma de coleta de pedágio (incluindo mix de formas) Polus (1996) Atraso Total Agregado para toda a praça Zarrillo (1998) Atrasos; Tamanho de Fila Máxima Agregado para toda a praça ou por cabine; e por cabine. Fan e Saito (1998) Atraso Médio de Parada nas Filas Individual por veículo Van Dijk et al. (1999) Tempos de Espera; Tamanho de Fila Máxima; e Nível de Utilização das Cabines Agregado para toda a praça; separado por intervalos; por cabine - (%) de utilização das cabines Astarita et al. (2001) Capacidade de Processamento da praça; Atraso Médio; e Nível de Utilização das Cabines Agregado para toda a praça; atraso médio de cada veículo; por cabine - (%) de utilização das cabines Klodzinski e Al-Deek (2002) Atraso Individual Acumulado Individual por veículo Horn (2003) Velocidades, Volume, atraso, Filas, Número de troca de Pistas, Consumo de Combustível e Emissão de Poluentes Individual por cabine para cada praça de pedágio simulada Nota-se que a relação volume-capacidade (V/C) foi medida utilizada na verificação do funcionamento de praças em trabalhos mais antigos, revelando a tentativa de adaptação de métodos já existentes no HCM para análises de praças de pedágio. O indicador de desempenho mais freqüentemente encontrado nos trabalhos levantados nesta revisão bibliográfica foi o tempo de espera na fila, aparecendo em cinco trabalhos. Atraso médio por veículo, fila máxima observada e comprimento médio de fila foram indicadores também encontrados com freqüência, sendo sugeridos em três dos dezesseis trabalhos levantados. Indicadores de desempenho 130 Transporte em Transformação XI que apresentaram duas observações cada foram: (i) atrasos totais; (ii) nível de utilização das cabines e (iii) a relação volume-capacidade. E, por último, com uma observação cada, estão os indicadores: (i) tempo médio no sistema e (ii) atraso individual acumulado. Destacando que autores podem apresentar, em um mesmo trabalho, vários indicadores de desempenho. Existem algumas considerações quando tratamos de indicadores de desempenho relacionados a atrasos. Em praças de pedágio existem três principais atrasos: (i) aqueles que são sofridos pelos veículos devido às filas nas cabines, (ii) aqueles que são resultados da diferença de velocidades devido à presença da praça de pedágio no sistema, ou seja, diferença entre o tempo gasto para percorrer a mesma seção de rodovia com e sem a praça de pedágio, e (iii) atrasos vivenciados pelos veículos quando executando o pagamento de tarifas. Atrasos totais ou acumulados seriam aqueles atrasos onde estão somados todos os atrasos vivenciados pelos veículos no sistema de pedagiamento, com desacelerações, espera na fila, tempo para atendimento e reaceleração para retomada de velocidade. 2.2. Estado da Prática sobre Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio Oliveira e Cybis (2006) realizaram estudo qualitativo/quantitativo sobre o estado da prática brasileira a respeito de indicadores de desempenho para praças de pedágio. Enviaram pesquisa a todos os gerentes operacionais de concessionárias filiadas a ABCR - Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. As respostas obtidas conseguiram englobar um terço do total de concessionárias pesquisadas. Os indicadores que mais apareceram em contratos daquelas concessões pesquisadas, de acordo com seus gerentes operacionais, são o “tempo máximo de espera na fila” e o “tempo de atendimento de veículos”, com seis observações cada. A revisão bibliográfica apresenta o “tempo máximo de espera na fila” como indicador de desempenho mais utilizado dentre os trabalhos levantados sobre praças de pedágio. O “tempo de atendimento de veículos” nas cabines não foi observado na literatura. O “tamanho de fila máxima nas cabines” apresentou quatro observações, e o “tempo médio de espera na fila” foi informado pertencer a um contrato de concessão. Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 131 Oliveira e Cybis (2006) também realizaram levantamento a respeito de alterações contratuais envolvendo indicadores de desempenho. Todos os gerentes operacionais pesquisados informaram que não ocorreram modificações em seus contratos de concessão, no que diz respeito a alterações ou adoção de indicadores para praças de pedágio. Uma exceção foi verificada, onde ocorreram mudanças nos limites originalmente estabelecidos para tempos máximos de espera na fila, além de incorporação de indicador novo: “tempos de atendimento nas cabines” (Oliveira e Cybis, 2006). Foi realizado levantamento sobre utilização de indicadores de desempenho diferentes daquelas previstos em contrato, e as respostas foram muito variadas, ficando a confiabilidade destas bastante limitada, de acordo com Oliveira e Cybis (2006). Porém, dois indicadores mereceram destaque: “número de reclamações” e “nível de utilização das cabines”. O “número de reclamação”, apesar de não ser um indicador de desempenho para praças de pedágio, pode fornecer indicativos sobre o processamento do fluxo de tráfego nas praças quando motoristas vivenciam altos atrasos com filas longas. Já o “nível de utilização das cabines”, que possui duas observações na literatura, não é indicador diretamente relacionado à verificação de níveis de serviço, contudo pode ser utilizado como indicador de desempenho na formação de estratégias operacionais de aberturas de cabines. Este mede a porcentagem de fluxo de tráfego processado por cabine em determinado intervalo de tempo, além de fornecer informação sobre possíveis capacidades de processamento ociosas. Cabines em extremidades opostas da praça podem apresentar diferentes taxas de ocupação, o que pode ser ocasionado por preferências de motoristas na escolha da cabine para pagamento ou influencia do layout da praça, quando filas em cabines tornam-se longas o suficiente para bloquear o acesso de veículos em cabines adjacentes (fenômeno de SpillBack reportado por Astarita et al., 2001). 3. Mecanismo de viabilidade de utilização de indicadores A revisão bibliográfica e a análise do estado da prática brasileira forneceram um número considerável de indicadores que podem ser utilizados na avaliação operacional de praças de pedágio, e nesta seção será apresentado mecanismo para a verificação de viabilidade de utilização destes indicadores listados. 132 Transporte em Transformação XI A proposta consiste na aplicação de um mecanismo de cálculo, baseado na análise de características que devem possuir os indicadores de desempenho de serviços. Este mecanismo de análise possibilita destacar resumidamente quais são os benéficos e/ou problemas específicos de cada indicador quando da sua obtenção, representatividade e utilização. 3.1. Critérios de Julgamento para Análise de Viabilidade de Indicadores Para analisar a viabilidade de utilização de cada um dos indicadores listados, primeiramente é necessário determinar quais são as características ou critérios básicos presentes nos indicadores que os distinguem entre si. Aqui, é importante diferenciar o termo “viabilidade” do termo “possibilidade”. Já que, no limite, todos os indicadores são possíveis de serem calculados e utilizados, contudo alguns deles não são viáveis, devido à inexistência de dados, ao elevado custo de obtenção ou baixa representatividade, dentre outros aspectos. Caplice e Sheffi (1994) realizaram amplo estudo na área de logística buscando determinar características que devem possuir os indicadores de desempenho voltados para a análise de serviços. Dentre as características levantadas pelos autores, serão utilizadas neste estudo aquelas que possuem representatividade e coerência com o objetivo deste trabalho. Eventualmente, em outros estudos sobre indicadores, os critérios de julgamento podem ser diferentes. Os critérios citados em Caplice e Sheffi (1994) e utilizados neste estudo serão: (i) Validade - um indicador é válido se consegue refletir a atividade que está sendo desenvolvida sem que seja afetado por fatores externos ao processo (ex.: condições meteorológicas); (ii) Robusteza - um indicador é robusto se é amplamente aceito, interpretado similarmente por diferentes usuários e pode ser utilizado para comparações através do tempo, locais e organizações; (iii) Utilidade - um indicador é útil se é facilmente compreendido pelos tomadores de decisão, e fornece sugestão de melhorias no serviço sendo prestado; (iv) Integração - um indicador é integrador se incorpora todos os componentes e aspectos do processo medido (abrange o macro-processo de transposição de praças de pedágio), e; (v) Compatibilidade de Dados – um indicador é compatível com os dados e informações existentes e disponíveis se não necessitar de esforço extra para ser utilizado. No último critério de avaliação serão ainda analisados os sub-critérios de (i) existência, (ii) disponibilidade e (iii) adequação dos dados. Existência – se Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 133 dados existem, existem parcialmente ou não existem para o cálculo do indicador; Disponibilidade – se dados, para o cálculo do indicador, estão disponíveis eletronicamente, se necessitam levantamento em campo, se não estão disponíveis ou não existem, e; Adequação – se dados são adequados para uma aplicação direta no cálculo do indicador, se necessitam de algum tratamento para serem utilizados, se são inadequados ou se não existem. Procurou-se aqui não analisar a confiabilidade dos dados a serem utilizados para o cálculo de cada indicador. A justificativa estaria na dificuldade de padronização dos (i) equipamentos de coleta e suas calibrações, (ii) formas de coleta praticadas e (iii) treinamentos de equipes. 3.2. Escalas de Medidas para os Critérios e Sub-Critérios de Julgamento Cada um dos critérios e sub-critérios de julgamento para o cálculo da viabilidade de utilização de indicadores apresenta uma escala específica, e todas as escalas estão contidas no intervalo entre 0 a 9 pontos. Contudo, nas escalas propostas, procura-se ponderar dando ênfase às características boas através de pontuação 9, penalizando aquelas características intermediárias e ruins com notas 3 e 1, respectivamente, de acordo com metodologia proposta por Akao (1996). A escala para cada critério está descrita a seguir: • Critério X1 (Validade): 9, se o indicador é válido, conseguindo refletir a atividade medida sem sofrer interferência de fatores externos; 3, se o indicador não está perfeitamente adequado, mas pode ser ajustado, e; 1, se o indicador é pouco válido, medindo a atividade desenvolvida, porém muito suscetível a fatores externos. • Critério X2 (Robusteza): 9, se o indicador é amplamente aceito e interpretado similarmente por diferentes usuários, podendo ser utilizado para comparações através do tempo e organizações; 3, se o indicador é aceito, porém causa dúvidas quando utilizado fora da organização que lhe deu origem, e; 1, se o indicador não apresenta consenso para sua utilização. • Critério X3 (Compatibilidade de Dados): é calculado pela média aritmética dos três sub-critérios que o compõe. A média aritmética foi escolhida visando diminuir a influência de valores extremos (valores muito baixos, ou muito altos) no cálculo final deste critério, mantendo 134 Transporte em Transformação XI assim sua importância em relação aos demais critérios. Segundo Mandim (2001), a média aritmética tem a característica de absorver diferenças provocadas por valores extremos do conjunto. As escalas dos sub-critérios que compõe este critério são: m Sub-critério Y1 (Existência dos Dados): 9, se os dados existem; 3, se dados existem parcialmente; 1, se dados não existem. m Sub-critério Y2 (Disponibilidade dos Dados): 9, se a disponibilidade é eletrônica; 3, se há necessidade de levantamentos em campo; 1, se dados não estão disponíveis, e; 0 se dados não existem, ou seja, caso o sub-critério Y1 seja igual a 1; m Sub-critério Y3 (Adequação dos dados): 9, se dados estão adequados para utilização direta no cálculo do indicador em questão; 3, se dados necessitam algum tipo de tratamento ou ajuste para tornaremse adequados ao uso; 1, se dados são inadequados para o cálculo do indicador, e; 0, se não existem, ou seja, caso o sub-critério Y1 seja igual a 1. • Critério X4 (Utilidade): 9, se o indicador é de fácil entendimento para a tomada de decisão e fornece sugestão para atuação ou direção a ser seguida; 3, se o indicador é compreensível, porém não fornece sugestão para atuação ou direção a ser seguida, e; 1, se é pouco compreensível e dúbio. • Critério X5 (Integração): 9, se o indicador é amplamente integrador, incorporando todos os componentes do macro-processo de transposição de praças de pedágio; 3, se o indicador é pouco integrador, somente incorporando parte do macro-processo medido, e; 1, se não é integrador. É importante notar que, em função da escala adotada, nenhum dos critérios pode apresentar valor nulo. Mesmo se dados não existirem para o sub-critério Y1, o critério X3 será maior que zero. 3.3. Cálculo das Viabilidades de Utilização dos Indicadores O cálculo das viabilidades dos indicadores é obtido através da média geométrica (raiz quíntupla do produto dos cinco critérios). Aqui, todos os cinco critérios apresentam o mesmo peso e grau de importância, portanto procuramse indicadores que satisfaçam todos os cinco critérios. Dessa forma, escolheu- Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 135 se a média geométrica como ferramenta, já que é sensível a valores extremos, favorecendo indicadores que apresentam valores altos para todos os critérios, e penalizando àqueles cujo valor de algum dos critérios seja baixo. Procura-se aqui obter o valor final mais próximo de 9, que é a nota máxima. A figura 1 apresenta resumidamente as escalas dos critérios e dos sub-critérios e o procedimento de cálculo da viabilidade de utilização dos indicadores. Critérios Sub-Critérios X1 (Validade) 9 - Grande 3 - Média 1 - Baixa Média Final X2 (Robusteza) 9 - Grande 3 - Média 1 - Baixa Y1 (Existência dos dados) 9 - Existem 3 - Existem Parcialmente 1 - Não Existem X3 (Compatibilidade de dados) Y2 (Disponibilidade dos dados) 9 - Eletrônica 3 - Levantamento em Campo 1 - Não Disponíveis 0 - Não Existem, Y1=1 5 YYY X 3 123 � � 3 X4 (Utilidade) 9 - Grande 3 - Média 1 - Baixa X5 (Integração) 9 - Grande 3 - Média 1 - Baixa Y3 (Adequação dos dados) 9 - Adequados 3 - Tratamento Necessário 1 - Inadequados 0 - Não Existem, Y1=1 Figura 1 - Procedimento de Cálculo da Viabilidade dos Indicadores. 4. Análise dos indicadores Para fins de exemplificação, a avaliação dos indicadores foi realizada pelos autores através de consenso a respeito das notas de cada critério e sub-critério para cada indicador. Após a aplicação do procedimento de avaliação, os indicadores com maiores índices de viabilidade foram “nível de utilização das cabines” (5,80 pontos), seguido 136 Transporte em Transformação XI por “tamanho de fila máxima nas cabines” (4,43 pontos), “tempo máximo de espera na fila” (4,02 pontos) e “tempos de atendimento de veículos” (3,74 pontos). 1 2 3 4 5 7 8 9 5,80 nível de utilização das cabines tamanho de fila máxima nas cabines 4,43 4,02 tempo máximo de espera na fila tempo de atendimento de veículos 3,74 3,55 atraso médio por veículo relação (V/C) 3,32 2,85 tamanho de fila média nas cabines tempo de espera na fila por veículo 2,85 2,67 atraso individual acumulado por veículo tempo de espera por forma de pgto 2,41 2,29 atraso total por praça tempo de espera na fila por cabine 6 1,93 tempo médio no sistema por veículo 1,55 número de reclamações 1,55 Viabilidade dos Indicadores Figura 2 - Valores de Viabilidade de Utilização dos Indicadores Verifica-se que o indicador “nível de utilização das cabines” foi observado duas vezes na literatura, e é utilizado na prática por concessionárias brasileiras, apesar de não pertencer a contratos de concessão. Este indicador foi avaliado como: (i) medianamente válido, pois é parcialmente suscetível a fatores externos; (ii) de grande robusteza, pois é aceito na prática, além de interpretado similarmente por diferentes usuários e pode ser utilizado para comparações através do tempo e organizações; (iii) seus dados existem nos sistemas eletrônicos das concessionárias, estão disponíveis e são adequados para um cálculo direto do indicador; (iv) de grande utilidade, pois é facilmente compreendido e fornece sugestão para atuação a ser tomada, e (v) de média integração, pois incorpora somente parte do macroprocesso de transposição das praças pelos veículos. Os indicadores que aparecem em segundo e terceiro lugares são relativos a medidas obtidas em filas, e possuem alta correlação entre sí: “tamanho máximo de fila nas cabines” e “tempo máximo de espera na fila”. Ambos tem relação direta Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 137 com o desconforto experimentado pelos usuários quando do ato de pagamento das tarifas, representado forte apelo sensitivo. Ainda, apresentam características de fácil mensuração prática pelos operadores, reforçando a necessidade de incorporação de indicadores deste tipo no desenvolvimento de metodologia para avaliação do nível de serviço nestas infraestruturas. O indicador classificado em quarto lugar de acordo com o índice proposto, porém não menos importante, foi “tempo de atendimento de veículos” nas cabines. Esta colocação é justificada na medida em que avalia parte do macro-processo de passagem dos veículos pela praça (momento do pagamento de tarifas), indicando problemas com soluções pontuais, como treinamento de arrecadadores, por exemplo. O “tempo de atendimento de veículos” possui representatividade para operadores, que necessitam monitorar produtividade, mas é informação desagregada para avaliar o desempenho da praça como um todo. Dentre os indicadores citados na bibliografia ou na pesquisa a respeito do estado da prática brasileira, aqueles que apresentaram piores índices de viablidade de utilização foram “tempo médio no sistema por veículo” e “número de reclamações”, ambos com 1,55 pontos. O “tempo médio no sistema por veículo” pode ser afetado por fatores externos, é pouco robusto, possui baixa utilidade, pois mede muito amplamento a situação de tráfego na praça, não fornecendo indicativos de atuação a ser tomada, além de baixa integração. O “número de reclamações” é totalmente suscetível a fatores externos, possui baixa robusteza, pois pode ser interpratado diferentemente se avaliado por outra organização diferente daquela que lhe deu origem, baixa utilidade, já que não fornece direção de atuação, e baixa integração, pois não incorpora todos os detalhes do macro-processo de transposição de praças de pedágio. Contudo, a utilização conjunta de dois ou mais indicadores pode fornecer importante informação para a definição de escalas para níveis de serviço, avaliandose tanto a operacionalidade da praça, de responsabilidade das concessionárias, como também fatores aleatórios de tráfego, como escolha de cabines e formas de pagamento por usuários, e o inconveniente percebido pelos mesmos quando enfrentam diferentes situações de filas nas cabines. Neste sentido, indicadores para praças de pedágio podem ser classificados como (i) indicadores operacionais da operadora e (ii) indicadores de níveis de 138 Transporte em Transformação XI serviço. Indicadores operacionais buscam analisar a operação das praças e fornecer subsídios para uma operação eficiente, atendendo à restrições contratuais, diminuindo custos (eficiência de mão-de-obra) e satisfazendo os usuários. Indicadores de níveis de serviço possuem o objetivo de definir referências de comparação na forma de escalas, que representem as opiniões dos usuários, seu desconforto e inconveniência percebidos quando enfrantam determinadas situações de tráfego. Aqueles indicadores aptos a representar escalas de níveis de serviço devem ser: (i) válidos, conseguindo refletir a atividade medida sem que sejam afetados por fatores externos ao processo; (ii) robustos, no sentido de amplamente aceitos, interpretados similarmente por diversos usuários e possíveis de serem utilizados através do tempo e organizações; (iii) úteis, sendo facilmente compreendidos e; (iv) integradores, incorporando todos os componentes e aspectos do processo medido, neste caso, abrangendo o macro-processo de transposição de praças de pedágio. 5. Considerações finais Este trabalho apresentou um mecanismo de análise visando à seleção de indicadores para praças de pedágio. Os indicadores analisados podem contribuir para o acompanhamento operacional das praças (indicadores de desempenho e eficiência interna das concessionárias) e para análises de níveis de serviço oferecido aos motoristas (percepção do desconforto e inconveniência percebidos pelos usuários de praças). O mecanismo descrito neste estudo permitiu uma hierarquização dos diversos indicadores de desempenho listados na revisão bibliográfica e em pesquisa sobre o estado da prática brasileira quanto ao tema. A importância do desenvolvimento de metodologia para avaliação de níveis de serviço em praças está diretamente relacionada com a importância de obtenção de indicadores amplamente aceitos e compreendidos, de fácil mensuração prática e que possuam representatividade. Apesar de não ser um indicador que verifique diretamente o nível de serviço nas praças, o “nível de utilização das cabines” pode ser utilizado em conjunto com outros indicadores para a verificação do comportamento do fluxo. Este indicador Selecionando Indicadores de Desempenho para Praças de Pedágio 139 analisaria preferências aleatórias de usuários por formas e cabines de cobrança, que poderiam implicar em subutilização da capacidade de processamento disponível. A utilização de indicador que avalie a operacionalidade das praças em conjunto com indicador que analise o desconforto sofrido pelos usuários é indicada. Indicadores que medem as diversas situações enfrentadas pelos usuários em filas de espera são altamente indicados para análises de níveis de serviço em praças. Tempos de espera e tamanhos de filas foram indicadores de desempenho mais encontrados na literatura e no estado da prática brasileira, e possuem relação direta com o desconforto experimentado pelos motoristas quando do ato de pagamento das tarifas, representando forte apelo sensitivo. O mecanismo de avaliação proposto neste trabalho destacou a importância de dois indicadores: “tamanho de fila máxima nas cabines” e “tempo máximo de espera nas cabines”. A correlação entre estes indicadores é evidente, o que reforça ainda mais a importância. Contudo, uma pesquisa ampliada utilizando o mecanismo apresentado neste estudo deve ser realizada, visando a obtenção da percepção de outros agentes envolvidos no processo. 140 Transporte em Transformação XI Referências Bibliográficas ABCR (2007a) Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Concessionárias Associadas. Disponível em http://www.abcr.org.br/conc/index.php, acessado em 23/05/2007. ABCR (2007b) Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. Rodovias Pedagiadas Administradas pelo Governo. Disponível em http://www.abcr.org.br/etc/ ser_pedagios.php , acessado em 22/05/2007. Akao, Y. (1996) Quality Function Deployment: Integrating Customer Requirements Into Product Design. Productivity Press. Cambridge. Al-Deek, H. M. e A.E. Radwan (1995) A framework for evaluation level of service at electronic toll collection plazas. Proceedings of Transportation Congress: Civil Engineers – Key to World Infrastructure, ASCE, v.2. 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Marcelo Leismann de Oliveira [email protected])\ Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN Helena Beatriz Bettella Cybis ([email protected]) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Felipe Brum de Brito Sousa ([email protected]) Consórcio UNIVIAS Marcelo Leismann de Oliveira ([email protected]) Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN Helena Beatriz Bettella Cybis ([email protected]) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Felipe Brum de Brito Sousa ([email protected]) Consórcio UNIVIAS Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 7 Luis Cláudio Rodrigues de França Maria Alice Prudêncio Jacques Universidade de Brasília Programa de Pós-Graduação em Transportes Resumo Este trabalho visa contribuir com a gestão pública municipal de trânsito no Brasil, por meio do desenvolvimento de um procedimento capaz de avaliar sistematicamente a eficácia dessa gestão. É empregado o modelo de análise multicritério AHP, implementado com uma ferramenta computacional disponível no mercado, que contempla uma seqüência lógica de atividades voltada à determinação da eficácia da gestão do trânsito no município de forma global e específica. O procedimento é suficientemente flexível para permitir que cada órgão gestor municipal defina quesitos próprios de avaliação, que reflitam efetivamente os objetivos da gestão do trânsito no seu município. Ele foi elaborado a partir de dados de seis municípios brasileiros, e seus resultados mostraram-se satisfatórios e compatíveis com os produzidos por avaliações efetuadas por técnicos que atuam em alguns dos municípios pesquisados. 144 Transporte em Transformação XI Abstract This work seeks to contribute to municipal traffic management in Brazil. It aims to develop a procedure able to systematically assess traffic management effectiveness at municipal level. The procedure proposed adopts the AHP multicriteria analysis model, implemented through an available computational program. It covers a logical sequence of activities that allows for determining the municipality’s traffic management effectiveness both in global as well as specific terms. The procedure is flexible enough so as to allow for each municipal management agency to define its own factors to be assessed and which clearly reflect the municipality’s traffic management objectives. Its development was based upon data from six Brazilian municipalities. The results obtained were satisfactory and compatible to those produced by the technical staff of some municipalities that participated in the research. 1. Introdução Com a promulgação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) em 1997, os municípios assumiram a incumbência de gerenciar o seu trânsito, somando à sua responsabilidade a competência para atuar nessa área atendendo aos interesses e peculiaridades locais. Nesse sentido, cada município pode optar por municipalizar, assumindo diretamente as competências especificadas no Art. 24 do CTB, ou delegando as competências, por meio de convênios, a outros órgãos e entidades de trânsito conforme Art. 25 do CTB. Podem, ainda, estabelecer consórcios públicos para a gestão associada do trânsito. Esta prerrogativa lhes é facultada pela Constituição Federal, através do Art. 241. Os municípios brasileiros têm relutado em assumir o encargo da municipalização do trânsito. De acordo com dados do DENATRAN (2007), apenas 825 municípios já assumiram efetivamente o gerenciamento do seu trânsito, o que corresponde a 14,83 % do total de 5.563 municípios brasileiros. Várias são as razões que podem ser apontadas para explicar a demora dos municípios brasileiros em se integrarem ao Sistema Nacional de Trânsito (SNT). Entre elas destacam-se: a) a falta de mão de obra qualificada para implementar e gerir o órgão de trânsito no município; Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 145 b) a falta de recursos financeiros necessários para manter e equipar o órgão de trânsito. Para o executivo municipal, a municipalização do trânsito vem apenas onerar o orçamento e levar o município à perda da qualidade dos demais serviços prestados à comunidade, sem a devida contrapartida em termos da melhora das condições de mobilidade e segurança dos veículos e pedestres; c) a falta de uma avaliação sistemática da gestão dos órgãos já integrados de modo a produzir parâmetros para os municípios que ainda não se integraram ao SNT. Os resultados da municipalização do trânsito no Brasil não têm sido avaliados de forma sistemática e padronizada, de modo a produzir informações que indiquem aos municípios que ainda não se integraram ao SNT, a eficácia do processo de municipalização ocorrido sob diferentes concepções de gestão. Estas informações poderão mostrar aos executivos municipais que o planejamento integrado dos transportes, do trânsito e do sistema viário permite melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, diminuindo os acidentes em suas vias, o tempo e o custo dos deslocamentos e os gastos da máquina pública, além de aumentar a acessibilidade aos equipamentos urbanos e o valor do uso do solo. Entre os problemas levantados, o presente trabalho se concentra no último. Isto é, aborda a questão do desenvolvimento de uma ferramenta que permita, de forma simples e efetiva, os municípios já integrados ao SNT, avaliarem de forma sistemática a eficácia dos resultados alcançados com a gestão do trânsito após sua integração. Essa avaliação deverá contribuir com a explicitação dos objetivos propostos e dos benefícios alcançados com a municipalização do trânsito, produzindo parâmetros de gestão para os municípios que ainda não se integraram, devido à insegurança em relação à eficácia desta iniciativa. 2. Municipalização do Trânsito no Brasil A municipalização do trânsito é o processo legal, administrativo e técnico, por meio do qual o município assume integralmente a responsabilidade pelos serviços de engenharia, fiscalização e educação de trânsito; levantamento, análise e controle de dados estatísticos e pelas juntas administrativas de recursos de infrações (JARI) 146 Transporte em Transformação XI dentro de sua circunscrição (Brasil, 1997). É a forma de garantir ao administrador municipal as condições básicas para atender a gestão do trânsito no município de forma direta, ou seja, assumindo as questões relacionadas à circulação de pessoas e mercadorias, ao estacionamento, à parada de veículos e animais, à implantação e manutenção da sinalização de trânsito, entre outras. A Municipalização do Trânsito incorpora às análises dos sistemas de transporte, os aspectos administrativos, institucionais e políticos, na busca do funcionamento eficiente e harmônico do planejamento de transportes e trânsito, para que esses exerçam sua função de permitir o pleno desenvolvimento das demais atividades sociais e econômicas do município. Nesse sentido, o município passa a ter direitos e obrigações atribuídos pela CTB nos aspectos legais, institucionais, financeiros e técnicos, conforme apresentado, de forma resumida, na Tabela 1. 2.1. Situação Atual dos Municípios Brasileiros Frente à Municipalização Apesar das vantagens intrínsecas da municipalização do trânsito, os municípios brasileiros têm relutado em assumir o encargo desta municipalização. De acordo com dados do DENATRAN (2007), apenas 825 municípios estão municipalizados, o que corresponde aproximadamente 14,83% do total de 5.563 municípios brasileiros. Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 147 Tabela 1: Resumo das principais obrigações e direitos dos municípios ÁREA Legal ARTIGO OBRIGAÇÕES E DIREITOS Art. 24 e 21 Art. 1º Art. 73 Art. 75 Art. 74 Art. 74 Art. 93, 94 e 95 Municipalizar o trânsito Assegurar o direito ao trânsito em condições seguras Responder às solicitações dos cidadãos Participar de programas nacionais de educação e segurança de trânsito Criar área de educação Criar Escola Pública de Trânsito Adequar legislação municipal referente a: calçada, passeio, obras e eventos na via e fora da via etc. Fiscalizar o trânsito diretamente através de seus agentes próprios ou indiretamente, através da Polícia Militar (sempre com base em convênio), autuando, aplicando as penalidades de multa e arrecadando as multas que aplicar (diretamente através da arrecadação própria ou indiretamente através do Detran). Art. 24, 23 e 21 Art. 8 Art. 16 Art. 24 e 21 Art. 25 Institucional Art. 25 Art. 25 Financeira Técnica Organizar e criar órgão ou entidade municipal de trânsito Criar a JARI Integrar-se ao SNT Firmar convênio com o Governo do Estado sobre: acesso ao cadastro de veículos, bloqueio e desbloqueio de documentos; gestão de trechos de rodovias estaduais (se for o caso) etc. Firmar convênio com o Governo Federal sobre gestão de trechos de rodovias federais (se for o caso) Firmar convênio com outros órgãos ou entidades municipais (se for o caso). Art. 320 Art. 320 Art. 16 e 337 Aplicar recursos das multas e taxas cobradas em projetos de trânsito Repassar 5% das multas para programas nacionais Apoiar financeiramente a JARI e o CETRAN. Art. 24 e 21 Planejar, organizar e operar o trânsito no âmbito da circulação, do estacionamento e da parada do veículo. Responsabilizar-se pela implantação e manutenção da sinalização de trânsito Autorizar e fiscalizar obras na via ou fora da via pública Controlar circulação de veículos especiais Analisar projetos de pólos geradores Art. 24 e 21 Art. 95 Art. 24 e 21 Art. 93 (DENATRAN, 2007) 148 Transporte em Transformação XI Até 1998 o Brasil só possuía 17 prefeituras efetuando a gestão do trânsito, dos 5.563 municípios espalhados em todo o seu território. Dentre elas se encontravam São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Aracaju, Contagem e mais 12 municípios paulistas prontos para exercerem legalmente a gestão do trânsito. Com o advento do CTB, o número de municípios integrados ao SNT veio aumentando ano a ano, conforme é mostrado na Tabela 2. Dentre os estados brasileiros, o Rio de Janeiro é o que vem se destacando com 60,87% dos municípios integrados ao SNT, seguido por Mato Grosso de Sul (38,46%) e São Paulo (36,12%). Os Estados com pouca representação, segundo o DENATRAN (2007), são: Tocantins (2,16%), Piauí (2,24%), Minas Gerais (3,75%), Bahia (5,28%) e, ainda, Acre e Roraima, com somente o município da capital integrado ao SNT. Não há uma explicação técnica (incentivos ou campanhas), para o aumento significativo apresentado no número de municípios integrados ao SNT nos anos de 1999 e 2002, a não ser a própria imposição do CTB. Mas este crescimento foi pequeno se compararmos ao número de municípios que o país possui (5.563), nove anos passados da data de promulgação do CTB. Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 149 Tabela 2: Histórico do processo de municipalização do trânsito no Brasil Trânsito Municipalizado Estados Municípios Acre 22 Alagoas 102 Amazonas 62 Amapá 16 Bahia 417 Ceará 184 Espírito Santo Goiás Maranhão 217 Minas Gerais 853 Mato Grosso 141 Mato Grosso do Sul Pará Paraíba 223 Pernambuco Antes de 1998 1998 1999 1 3 2000 2001 2002 1 1 2003 Após 2003 1 1 1 1 1 1 Total 1 % dos Municípios Municipalizados 4,55% 2 9 8,82% 6 8 12,90% 3 18,75% 11 22 5,28% 15 46 25,00% 7,69% 1 3 2 1 5 2 5 2 5 11 6 78 2 3 1 6 246 1 3 2 4 4 1 7 22 8,94% 4 1 3 6 7 24 45 20,74% 3 2 3 8 5 8 32 3,75% 5 3 1 4 2 4 19 13,48% 78 10 3 2 1 1 13 30 38,46% 143 5 3 2 5 4 12 31 21,68% 2 10 2 1 1 6 22 9,87% 185 3 3 2 1 5 18 9,73% Piauí 223 1 1 3 5 2,24% Paraná 399 Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul 92 167 Roraima 15 Rondônia 52 Santa Catarina 293 Sergipe 75 1 São Paulo 645 13 11 62 496 2 1 4 3 3 1 1 6 2 16 28 7,02% 7 2 7 56 60,87% 13 7,78% 106 21,37% 26 5 6 10 2 1 32 20 3 3 8 2 3 3 7 1 8 1 26 11 1 12 1 6,67% 4 6 11,54% 20 53 18,09% 4 7 9,33% 233 36,12% 40 29 41 1 3 2,16% 249 825 14,83% 26 100,0% Tocantins 139 Total Município 5563 17 29 195 78 58 119 80 26 4 6 10 1 3 1 1 Capitais Estaduais 39 1 1 (DENATRAN, 2007) A região geográfica mais bem representada em termos de gestão do trânsito realizada pelos municípios, é a Região Sudeste, que possui 39,6% dos seus municípios integrados ao Sistema Nacional de Trânsito (Figura 1). Nesta região, o município precursor foi São Paulo, que teve seu processo de municipalização do trânsito iniciado em 1973 (Vasconcellos, 1999). 150 Transporte em Transformação XI A Figura 1 permite verificar, também, a percentagem da frota veicular em cada região, e no Brasil como um todo, que pertence aos municípios integrados ao sistema. Embora em torno de 72% da frota nacional pertença aos municípios integrados, verifica-se que esse resultado decorre principalmente do porte desses municípios localizados na Região Sudeste. Para as demais regiões, como a percentagem da frota integrada é menor que a dos municípios pertencentes ao sistema, é possível concluir que alguns municípios de grande porte dessas regiões ainda precisam ser integrados. 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 71,9% 64,0% 39,6% 22,7% 8,6% 6,1% CENTROOESTE 6,4% 22,7% 15,5% 3,1% NORTE SUL SUDESTE Municípios Integrados 11,3% 14,8% NORDESTE BRASIL Frota Integrados Figura 1: Participação dos municípios com o trânsito municipalizado e frota veicular dentro de cada região geográfica Apesar dos esforços do DENATRAN em acompanhar as atividades dos municípios integrados ao Sistema Nacional de Trânsito, vale destacar que o órgão ainda não dispõe de uma forma de verificação e acompanhamento sistemáticos da eficácia com que esses municípios vêm gerindo o seu trânsito e cumprindo as atribuições exigidas pelo CTB. 3. Técnica de Análise Multicritério A análise de multicritério tem como objetivo identificar e selecionar o melhor curso a tomar, quando existe um problema de decisão que envolve uma complexidade Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 151 elevada, devido à dificuldade de mensuração adequada para variáveis qualitativas como qualidade ambiental, saúde, felicidade, realização pessoal, etc. O método multicriterial de avaliação ajuda no processo, pois utiliza medições que permitem avaliar de maneira igualitária, tanto os aspectos subjetivos como objetivos da situação considerada (Lucena, 1999). No processo multicriterial de decisão existe um decisor (ou vários) que toma a decisão; um conjunto de objetivos a serem perseguidos e um conjunto de alternativas das quais uma será selecionada. Desta forma, um processo de decisão multicritério trabalha com termos como ator, objetivos, metas, critérios, atributos, restrições e suas relações. Em termos gerais, a análise multicritério sempre opera segundo um esquema seqüencial de fases, não estático nem linear, que pressupõe realimentações, revisões e reformulações no decorrer do processo. Através da análise multicritério é possível gerar soluções compromisso ou uma hierarquização das alternativas, de acordo com o grau de atração destas para o tomador de decisão. Classicamente, esta análise é usada para a definição de três problemáticas: ordenação, escolha e alocação em classes (Mello et al, 2002). Segundo Baasc (1995) as etapas básicas do processo da análise multicritério são: definição das ações potenciais ou desejáveis a serem analisadas, formulação dos critérios de análise, avaliação das ações com base em cada critério e agregação final, utilizando um dos vários métodos multicritério. Para Bana e Costa, apud Ensslin et al (2001), as etapas são duas: a de estruturação e a de avaliação. Esses autores indicam que a análise multicriterial é classificada tradicionalmente em duas classes: Decisão com múltiplos atributos e Decisão com múltiplos objetivos. Dentro dessas classes existem diversos métodos utilizados atualmente, dentre os quais optou-se neste trabalho pelo método AHP de Saaty (Analytic Hierarchy Process). Esta opção decorreu do fato do método permitir a análise do problema através da estruturação hierárquica, e da possibilidade de análise de sensibilidade dos critérios utilizados. Isto é, ele possibilita uma tomada de decisão mais objetiva, o que facilitaria a consecução dos objetivos do presente trabalho. O método AHP consiste em construir uma estrutura hierárquica do problema de decisão, efetuando uma comparação relativa entre pares dos elementos da hierarquia e finalizando o processo com uma série de julgamentos, objetivando priorizar os fatores na análise das diversas alternativas. Este método também utiliza a técnica dos pesos para classificar seus elementos, sejam eles objetivos ou 152 Transporte em Transformação XI fortemente caracterizados por análises subjetivas. O processo, de uma forma geral, segue quatro etapas básicas: (i) estruturação hierárquica; (ii) comparação paritária dos elementos em cada nível do sistema (critério e sub-critério); (iii) princípio de priorização e sintetização de prioridades; e (iv) análise de sensibilidade. Em síntese, a estruturação do problema se inicia com a definição de um objetivo global desejado. A partir desta, são definidos os critérios e, dependendo da complexidade do problema, sub-critérios, até a extremidade da estrutura onde são relacionadas as alternativas mais possíveis e prováveis. Para cada grupo, formado por critérios e sub-critérios identificados, é utilizada uma matriz de comparações paritárias, onde são obtidos os níveis de preferência por comparação. Ao final do processo de estruturação do modelo, espera-se identificar a alternativa mais adequada para o objetivo global, definido no inicio do processo, através de uma posição hierárquica. A construção da árvore hierárquica pode ser feita do objetivo para as alternativas ou no sentido inverso, isto é, das alternativas para o objetivo. A opção por um ou por outro procedimento fica a critério dos decisores, que poderão escolher uma ou outra forma de acordo com os conhecimentos de que dispõem sobre o problema. Além do resultado obtido, o método fornece uma medida de inconsistência que é útil para se identificar possíveis erros nos julgamentos. Dificilmente se obtém uma consistência perfeita em um modelo, mas também é importante entender as reais causas de uma inconsistência, que podem variar desde a falta de informação até um simples esquecimento durante a modelagem do problema. No geral, a taxa de inconsistência tem que ser menor do que 10% 4. Procedimento Proposto A elaboração do procedimento proposto foi realizada em duas etapas, conforme é apresentado na Figura 2. A primeira etapa se resume na coleta e identificação dos elementos essenciais para a elaboração do procedimento. A coleta de dados foi feita com auxilio de um questionário, construído a partir dos objetivos básicos da municipalização do trânsito, extraídos do CTB e das recomendações do DENATRAN. Procurou-se, através deste instrumento de pesquisa, levantar todos os elementos significativos Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 153 1a Etapa necessários para a elaboração do procedimento proposto, tais como as atividades efetivamente executadas e os principais resultados alcançados pelo órgão gestor com a municipalização do trânsito. O questionário permitiu, também, obter informações que refletissem o porte do município e do órgão em questão. Coleta e identificação dos elementos fundamentais ao desenvolvimento do procedimento proposto Elaboração do questionário Coleta dos dados Análise dos dados Procedimento Proposto 2a Etapa Expert Choice Tratamento preliminar dos dados Relação das atividades com os resultados alcançados Hierarquização dos resultados alcançados Relação dos resultados com as possíveis alternativas Análise do resultado final produzido Figura 2: Etapas para o desenvolvimento do procedimento proposto Após a finalização do questionário, que foi testado e devidamente ajustado, o instrumento foi enviado para 153 prefeituras onde o trânsito já se encontrava municipalizado. Este número foi alcançado com o auxilio do DENATRAN, que forneceu o cadastro de algumas prefeituras, e através da busca de contatos de órgãos de trânsito municipais na Internet. Dos questionários enviados, que abrangeu as 5 (cinco) regiões do país, foram retornados apenas 6 (seis): Anápolis/GO, Araraquara/ SP, Campina Grande/PB, Campinas/SP, Palmas/TO e Valparaizo de Goiás/GO. Esse baixo índice de respostas, apesar de não permitir a realização de qualquer generalização dos resultados obtidos, viabilizou a montagem do banco de dados necessário ao desenvolvimento do procedimento. A segunda etapa da metodologia consiste na definição e sistematização das atividades para a execução de um método de avaliação multicriterial aplicado à análise da gestão municipal do trânsito, o que efetivamente se constitui no procedimento proposto. Para tanto foi usada uma ferramenta computacional de 154 Transporte em Transformação XI análise multicritério, o software Expert Choice 2000, 2aedição. Com o uso dessa ferramenta, o procedimento proposto é estruturado em 05(cinco) passos, como segue: a) tratamento preliminar dos dados: visa identificar, para o município a ser analisado, as atividades básicas efetuadas, as fontes de custos e receitas decorrentes dessas atividades, e os resultados alcançados; b) relação das atividades básicas executadas com as principais fontes de custos e receitas, e com os resultados alcançados pelos órgãos gestores do trânsito: busca identificar quais atividades executadas pelo órgão de trânsito se relacionam diretamente com os resultados alcançados pela gestão municipal; c) hierarquização dos resultados alcançados pelos órgãos de trânsito: nesse passo os resultados alcançados pelo órgão gestor do trânsito (quesitos) são hierarquizados por pesos, visando identificar a importância de um resultado sobre o outro; d) relação dos resultados alcançados pelo órgão de trânsito (quesitos) com as possíveis alternativas relacionadas no procedimento: neste passo são priorizados os quesitos hierarquizados com relação a cada alternativa relacionada no procedimento proposto, neste caso “Gestão Eficaz” e “Gestão não Eficaz”, visando sintetizar a análise final do órgão de trânsito; e) análise do resultado final produzido pelo procedimento proposto: o último passo do procedimento se resume na análise de sensibilidade do resultado final, que é apresentado após o passo anterior de forma resumida e detalhada pelos quesitos hierarquizados. Com base na análise do banco de dados gerado, foi identificada a relação de qual atividade geraria, de forma direta, um custo e/ou uma receita para o órgão de Trânsito, e o embasamento legal para a execução da atividade, perfazendo um total de 29 atividades (ver França, 2004). Destaca-se que esta relação pode ser alterada em função da necessidade de um órgão gestor específico ou do próprio DENATRAN. Posteriormente, foram identificados os seguintes quesitos para avaliação do órgão de trânsito para efeito do procedimento sugerido neste trabalho: (1) redução de acidentes com mortes; (2) redução de acidentes com feridos; (3) redução dos acidentes em geral; (4) lucro financeiro da atividade; (5) melhoria da qualidade de circulação; (6) aprovação da comunidade; (7) possibilidade de profissionalização; e (8) diminuição da poluição. Estes quesitos também podem ser modificados em função da necessidade de uma aplicação específica. Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 155 Para conseguir a relação proposta no passo (b) do procedimento, foi necessário associar cada atividade detectada com os resultados alcançados, de forma que essa relação produzisse um só padrão de informação. Para se conseguir esta uniformização foram usadas várias técnicas de relacionamentos, de forma que o produto das operações só gerasse 3 (três) valores possíveis: 0 (zero), 5 (cinco) e 10 (dez). Esse passo foi necessário para permitir a alimentação do software com dados adequados. O próximo passo para a elaboração do procedimento foi a hierarquização por pesos dos resultados alcançados, conforme indicado no passo (c). No desenvolvimento desta etapa contou-se com a ajuda de três especialistas que hierarquizaram os 8 (oito) resultados, que refletem os quesitos de avaliação, par a par, pela importância de um sobre o outro. O resultado dessa hierarquização foi uma matriz de comparação paritária (ver Figura 3). Com a matriz aprovada, o software gerou os resultados das comparações entre os pares de forma hierárquica, possibilitando a visualização do impacto de cada resultado sobre o conjunto trabalhado. Estes resultados são apresentados como parte do modelo de análise da eficácia da gestão de um órgão de trânsito, mostrado na Figura 4. Partindo da hierarquização dos resultados alcançados chega-se ao passo (d), de priorização e sintetização dos elementos do sistema. Neste passo é determinada a importância de cada resultado alcançado pelo órgão de trânsito em relação às possíveis alternativas relacionadas para o modelo proposto. As alternativas a serem incluídas são duas: Gestão Eficaz e Gestão não Eficaz. A alimentação do modelo proposto é feita de forma individual por município. Cada resultado alcançado é relacionado às alternativas possíveis, adotando que: quando um quesito de avaliação for 0 (zero), corresponderá a medida 5 (cinco) a direita, próximo da palavra “Gestão não Eficaz”; quando o quesito for 5 (cinco), corresponderá a medida 1(um) do software; e quando o quesito for 10, corresponderá a medida 5 (cinco), próximo da palavra “Gestão Eficaz”. Desta forma cada quesito de avaliação terá 50% de chances de ser enquadrado como eficaz ou não eficaz. 156 Transporte em Transformação XI Índice de Inconsistência Figura 3: Matriz de comparação paritária sobre os resultados alcançados A Figura 4 traz o modelo já montado, pronto para ser alimentado com os dados dos resultados da gestão de um órgão de trânsito, e a Figura 5 traz um exemplo de alimentação de dados no software. Figura 4: Modelo de análise da eficácia da gestão de um órgão de trânsito Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 157 Avaliação Barras representando o peso relativo de cada alternativa dentro do modelo criado Figura 5: Exemplo de alimentação do modelo proposto O resultado final produzido pelo procedimento proposto é fornecido após a inclusão de todos os dados no sistema. O software disponibiliza uma janela com as pontuações finais para cada alternativa, podendo essa avaliação ser apresentada de duas formas: 1. Resumida – é apresentado um gráfico de barras que representa as prioridades de cada alternativa em relação ao objetivo final; e 2. Detalhada – é apresentada uma tabela com as prioridades das alternativas para cada resultado avaliado, numa escala de 0 (zero) a 1 (um) onde a soma das importâncias atribuídas a todas as alternativas analisadas é igual a 1,00. Se a gestão do órgão de trânsito, como um todo, obtiver uma avaliação igual ou superior a um valor limite a ser arbitrado pelo usuário do sistema, como o valor mínimo de avaliação adotado como aceitável, a gestão do órgão será considerada eficaz. Caso contrário, mesmo obtendo uma avaliação como “eficaz” maior que a “não eficaz”, a gestão será considerada INEFICAZ. Para o procedimento proposto, será arbitrado 0,700 como o valor mínimo aceitável para a classificação da gestão do órgão de trânsito como eficaz. O software usado traz, ainda, a possibilidade do órgão de trânsito analisar sua avaliação, resultado por resultado, permitindo que o mesmo encontre os problemas que levaram ao resultado final. 158 Transporte em Transformação XI O último passo do método, análise de sensibilidade, é usado para determinar como as mudanças nos pesos dos resultados alcançados afetam nos valores das alternativas. O software Expert Choice 2000 possibilita que esta análise seja feita através de gráficos, permitindo, também, que um ou outro resultado seja excluído para complementar uma análise mais detalhada. Além disso, o usuário pode simular outros valores no modelo trabalhado, buscando encontrar uma melhor estratégia de ação. 5. Exemplo de Resultados do Procedimento Proposto A título de mostrar os resultados produzidos pelo procedimento ao ser aplicado a um determinado município, foi considerado um município hipotético que se integrou ao SNT no ano 2000, e a análise do órgão de trânsito deste município é feita com base nos dados de 2002 (ano da análise). Os dados iniciais disponibilizados para a análise, bem como o tratamento que estes sofreram para serem introduzidos no software, são detalhados em França (2004). Nesta seção são mostradas apenas as janelas de saída do programa relativas aos dois tipos de resultados produzidos: resultado resumido (Figura 6) e resultado detalhado (Figura 7). Resultado Final Resumido Figura 6: Exemplo de um resultado final – Resumido O exemplo hipotético apresentado obteve uma avaliação de 0,765, superior ao valor mínimo arbitrado no procedimento proposto. Assim, sua gestão do trânsito é avaliada como EFICAZ. Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 159 Resultado Final Detalhado por Quesito Avaliado Figura 7: Exemplo de um resultado final – Detalhado 6. Avaliação do Procedimento Proposto O procedimento elaborado foi aplicado nos seis municípios que participaram do trabalho. Posteriormente, foi solicitado aos municípios que avaliassem a eficácia de sua gestão através da atribuição de uma nota no intervalo de 0 (zero) a 1 (um), inclusive, onde zero significava gestão totalmente ineficaz, e 1 (um) gestão totalmente eficaz. A escala adotada visou permitir a comparação direta entre a avaliação dos órgãos de trânsito e o valor gerado pelo procedimento. Somente 03 (três) municípios encaminharam a avaliação solicitada, e os resultados obtidos, tanto os solicitados quanto os gerados pelo procedimento, estão apresentados na Tabela 3. 160 Transporte em Transformação XI Tabela 3 - Comparação dos resultados Município Município 1 Município 2 Município 3 Município 4 Município 5 Município 6 Avaliação da eficácia gerada pelo procedimento proposto 0,793 0,270 0,796 0,760 0,825 0,813 Avaliação da eficácia feita pelo órgão de trânsito do município 0,800 0,500 Não respondeu 0,800 Não respondeu Não respondeu Os resultados mostram que nos dois municípios onde a avaliação resultante do uso do procedimento proposto foi positiva (EFICAZ), ela foi bem compatível com a avaliação realizada pelos técnicos que acompanham, no dia a dia, o processo da municipalização do trânsito. No município onde a discrepância foi elevada chama a atenção o fato da avaliação do órgão ser bem superior à produzida pelo procedimento. 7. Conclusões O objetivo proposto neste trabalho, que foi desenvolver um procedimento que permitisse a avaliação da eficácia da gestão do trânsito realizada em nível municipal, foi plenamente alcançado. A técnica de multicritério associada ao modelo proposto permitiu a análise dos resultados operacionais alcançados com a municipalização do trânsito, tanto de forma geral quanto de forma detalhada por resultado operacional (quesito) incluído nessa análise. O software Expert Choice 2000, utilizado na pesquisa, apresentou uma operacionalidade bem simples, gerando o resultado final desejado logo após a alimentação dos dados necessários para o modelo estruturado. A operacionalização do procedimento criado é bastante flexível, permitindo que novos quesitos, subquesitos, e formas diferenciadas de avaliação da importância relativa dos mesmos sejam incorporados ou excluídos do processo de análise hierárquica para alcançar uma melhor análise dos resultados. Esta flexibilidade do modelo proporciona a representação de propósitos diferenciados de órgãos gestores do trânsito que possuem características distintas, contribuindo para uma análise mais completa e eficiente. Avaliação da Eficácia da Gestão do Trânsito em Nível Municipal 161 O procedimento poderá ser aplicável a órgãos gestores de trânsito dos municípios brasileiros, desde que os quesitos de avaliação e os pesos relativos desses quesitos sejam estabelecidos de forma a refletir a característica de cada órgão e os seus principais objetivos no processo de municipalização do trânsito. O acompanhamento dos dados relacionados a cada atividade (custos, receitas, forma como é realizada e resultados) ao longo do tempo, poderá proporcionar ao município a análise de impactos decorrentes de alterações na forma de gestão do órgão de trânsito sobre essas atividades. 162 Transporte em Transformação XI Referências Bibliográficas BAASC, Sandra Sulamita Nahas (1995). Um Sistema de Suporte Multicritério Aplicado na Gestão dos Resíduos Sólidos nos Municípios Catarinenses. Tese de Doutorado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. BRASIL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Senado, Brasília, DF. BRASIL (1997). CTB - Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em <http://www. denatran.gov.br/ctb.htm> acesso em 28 de junho de 2007. DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito. Brasília (2007). Disponível em <http://www.denatran.gov.br/municipios/orgaosmunicipais.htm> acesso em 28 de junho de 2007. ENSSLIN, Leonardo; MONTIBELLES, Gilberto N. e NORONHA, Sandro MacDonald (2001) APOIO A DECISÃO: Metodologias para estruturação de Problemas e Avaliação Multicritério de Alternativas. São Paulo, SP: Editora Insular. FRANÇA, Luis Cláudio R. (2004). Procedimento para Análise da Eficácia da Gestão dos Órgãos de Trânsito dos Municípios Brasileiros. Dissertação de Mestrado em Transportes, Universidade Federal de Brasília. Brasília/DF. LUCENA, Luciana F.L. (1999) A Análise Multicriterial na Avaliação de Impactos Ambientais. III Encontro ECO - Instrumentos Econômicos e Políticas Públicas para a Gestão Ambiental. Recife, PE. MELLO, João C. C. B. S.;GOMES, E. G.; NETO, L. B. e GOMES, L. F. A . M. (2002). Avaliação Multicritério das Opções de Ligação Aérea Rio – São Paulo. Rio de Janeiro – RJ: ANPET – Associação Nacional de Pesquisa em Transportes. VASCONCELOS, Eduardo A. (1999). Circular é Preciso, Viver não é Preciso. São Paulo – SP: Editora ANNABLUME. Luis Cláudio Rodrigues de França ([email protected]) Maria Alice Prudêncio Jacques ([email protected]) Seleção de Rota Marítima de Contêineres 8 Marcio Arzua Caillaux Annibal Parracho Sant’anna Lidia Angulo Meza João Carlos Correia Baptista Soares de Mello Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Resumo Este trabalho tem por objetivo a escolha da rota marítima mais adequada para um contêiner entre dois portos. Possíveis rotas do contêiner são analisadas utilizando-se a Análise Envoltória de Dados (DEA), a composição de probabilidades de otimizar e o método de Copeland. As variáveis consideradas são tempo de transporte, produtividade e custos dos terminais portuários, tais como: armazenagem do contêiner e custo da operação de transbordo. São usados dados reais de uma empresa brasileira de transporte marítimo que possui rotas de navios fixas e regulares entre os portos da costa leste da América do Sul. 164 Transporte em Transformação XI Abstract This paper aims the selection of the most suitable maritime route for a container between two ports. Possible routes are analyzed by means of Data Envelopment Analysis (DEA), the probabilistic composition of optimizing and the Copeland method. The variables taken into account are time of transportation, productivity and cost of the port terminals, such as: container storage and operational transshipment cost. The analysis employs data of a Brazilian shipping company which has vessels in fixed and regular routes along South America east cost. 1. Introdução O objetivo desse trabalho é apoiar o transportador marítimo na tomada de decisão, definindo a rota mais vantajosa, em forma de ordenação, para um contêiner entre a origem e destino solicitados pelo cliente. Os resultados são obtidos através da DEA, do método multicritério ordinal de Copeland e da comparação probabilística de probabilidades de atingir a fronteira assumindo-se as observações como sujeitas a erros com distribuição de Pareto. O presente trabalho usa dados de uma empresa que atua há mais de 50 anos na prestação de serviços de transporte marítimo entre diversos portos do mundo. Atualmente, o serviço foco da empresa é o que envolve os portos da costa leste da América do Sul. Neste serviço, são treze navios distribuídos em três rotas fixas e regulares. Em diversos casos, uma única rota de navios não escala diretamente a origem e destino solicitado pelo cliente ao transportador marítimo. Esta impossibilidade de conexão direta é conseqüência da configuração do serviço, onde nenhuma das três rotas existentes escala diretamente todos os onze portos. Neste caso, haverá a necessidade de trasbordar a carga de uma rota de navios para outra, em algum porto determinado. Também há casos em que o tempo em trânsito da carga pode ser menor caso o contêiner seja transbordado de uma rota de navios para outra, em algum momento da operação, ao invés de seguir diretamente através de uma única rota. No serviço em estudo, existem diferentes caminhos que um contêiner pode percorrer entre uma determinada origem e destino. O transportador marítimo nem Seleção de Rota Marítima de Contêineres 165 sempre escolhe a melhor alternativa disponível por falta de um instrumento que compare todas as opções e aponte a mais vantajosa. A seguir, faz-se a apresentação das três técnicas utilizadas para a apuração e ordenação das rotas mais vantajosas. Na seção 3, são apresentadas algumas aplicações de uma das metodologias utilizadas na área de transportes. Na seção 4, passa-se à descrição do caso de estudo. Na seção 5, a metodologia desenvolvida para a escolha e ordenação das rotas são descritas, em suas linhas gerais. Adicionalmente, algumas comparações das técnicas utilizadas nessa ordenação são realizadas. Finalmente, na seção 6, apresentam-se as conclusões deste trabalho. 2. Técnicas Utilizadas A fim de apurar, conhecer e finalmente selecionar a rota mais adequada entre duas localidades, foram utilizadas três técnicas. A Análise Envoltória de Dados (DEA) pode ser vista como um método de composição de critérios com a importância atribuída a cada critério variando de acordo com a posição relativa. Um método clássico de composição de critérios com esta característica é o método ordinal de Copeland (que pode ser considerado um meio termo entre os métodos de Borda e Condorcet). Uma outra abordagem com a mesma característica é a composição de probabilidades de atingir a fronteira desenvolvida em Sant’Anna (2002). Este último tem em comum com a DEA a característica de atribuir maior importância às distâncias entre as unidades comparadas que, de alguma forma, possam ser consideradas mais próximas de uma fronteira de referência. A DEA considera as variáveis na escala em que foram naturalmente medidas. No método de Copeland, consideram-se apenas os postos segundo cada critério, mais especificamente, a relação entre os postos de cada par de alternativas. Na composição probabilística, a proximidade da fronteira é medida em termos de probabilidades de cada opção atingir a fronteira. Outra diferença importante entre a DEA, o método de Copeland e a composição probabilística é que, nestas duas últimas abordagens, a medida de preferência atribuída a cada opção segundo cada critério depende da sua posição relativa a todas as outras opções, e não apenas àquelas na fronteira. 166 Transporte em Transformação XI 2.1. DEA A história da Análise Envoltória de Dados começa com a tese para obtenção de grau Ph.D. de Edward Rhodes sob a supervisão de W.W. Cooper, publicada em 1978 (Charnes et al., 1978). O objetivo da tese foi desenvolver um modelo para estimar a eficiência técnica sem recorrer ao arbítrio de pesos para cada variável de input ou output, e sem converter todas as variáveis em valores econômicos comparáveis. Em contraste com as aproximações paramétricas, cujo objetivo é determinar um hiperplano de regressão ótimo, DEA otimiza cada observação individual com o objetivo de calcular uma fronteira de eficiência. A eficiência 100% é atingida por uma unidade quando comparações com as outras unidades não provem evidência de ineficiência no uso de qualquer input ou output. Este conceito permite diferenciar entre estados de produção eficientes e ineficientes. Descrevem-se a seguir dois modelos DEA clássicos: o modelo CRS (ou CCR) e o VRS (ou BCC). O modelo CCR determina uma fronteira CRS (Constant Returns to Scale) que indica que crescimentos proporcionais dos inputs produzirão crescimentos proporcionais dos outputs. O modelo VRS (Variable Returns to Scale) diferenciase do modelo CRS por considerar a possibilidade de rendimentos crescentes ou decrescentes de escala na fronteira eficiente. Modelos com orientação ao input indicam que se deseja minimizar a utilização de recursos tal que o nível dos outputs não se reduza. Modelos com orientação ao output indicam que o objetivo é maximizar os produtos obtidos sem alterar o nível atual dos inputs. DMUs são as unidades tomadoras de decisão (Decision Making Units) e, geralmente, são representadas pelas empresas, setores ou instituições a serem avaliadas. Estas devem ser homogêneas, ou seja, atuam no mesmo tipo de negócio, realizam as mesmas tarefas com os mesmos objetivos e estão trabalhando nas mesmas condições de mercado. As variáveis utilizadas para cada DMU devem ser iguais. ar os produtos obtidos sem alterar o nível atual dos inputs. tomadoras de decisão (Decision Making Units) e, geralmente, são presas, setores ou instituições a serem avaliadas. devem são ser tomadoras de decisão (Decision Making Units)Units) e, Estas geralmente, dades tomadoras de decisão (Decision Making e, geralmente, são uam nosetores mesmoou tipo de negócio, as mesmas tarefas comser os a realizam serem avaliadas. Estas devem sresas, empresas, setoresinstituições ou instituições a serem avaliadas. Estas devem ser Seleção Rota Marítima de Contêineres ão trabalhando nas demesmas condições de mercado. As devariáveis 167 uam no mesmo tipo negócio, realizam as mesmas tarefas com os ja, atuam no mesmo tipo de negócio, realizam as mesmas tarefas com os U devem ser iguais. ão trabalhando nas mesmas condições de mercado. As variáveis e estão trabalhando nas mesmas condições de mercado. As variáveis U devem ser iguais. a DMU devem ser iguais. emática, considera-se cada DMU k , k = 1,considera-se ..., n, é umaque unidade Em suaque formulação matemática, cada DMU k , k = 1, ..., n, é nmática, inputsconsidera-se xik, iunidade =1, …,que r, produção para produzir m outputs yjk, j =1, …, s. Opara produzir m outputs uma de que utiliza n inputs xik, i =1, …, k , k =k 1, o matemática, considera-secada que DMU cada DMU , k..., = n, 1, é...,uma n, éunidade uma r,unidade o quociente entre a combinação linear dos outputs e a combinação yjk, ij xik, s.r, O modelo o quociente linear dos ntiliza inputs xik, =1, …, para mmaximiza outputs yjk, j yjk, =1, …, s. …, Oa combinação n inputs i =1, …, r,produzir paraCCR produzir m outputs j entre =1, s. O restrição de que, para qualquer DMU, esse quociente não pode ser omiza quociente entree aentre combinação lineardos dos outputs eaarestrição combinação outputs combinação linear inputs, de que, para qualquer DMU, o quociente a combinação linear doscom outputs e a combinação arestrição uma DMU o, ho para é a eficiência; xiomaior e yjo são osAssim, inputsnão e outputs da o, ho é a eficiência; de que, qualquer DMU, esse quociente pode esse quociente não pode ser que 1. para uma DMU com a restrição de que, para qualquer DMU, esse quociente não ser pode ser sos calculados pelo para inputs e outputs, respectivamente. Acalculados pelo modelo o, ho são éo,modelo aho eficiência; xio e yjo são oso; inputs esão outputs da xioDMU e yjo os inputs e outputs da DMU vi os e ujinputs osepesos m,uma paraDMU uma é a eficiência; xio e yjo são outputs da delo CCR:para inputs sos calculados pelo modelo para inputs e outputs, respectivamente. A e outputs, respectivamente. A seguir, encontra-se o modelo os pesos calculados pelo modelo para inputs e outputs, respectivamente. A CCR: delo CCR: CCR: o modelo Maximizar s ¦u y ∑ h = ¦ u y¦ u y h = ∑ ¦ h v= x ¦v x¦v x j jojo s s j =1 r j jo j =1 j =1 r o i ioio r i =1 i io i =1 i =1 o o s j jo i io Sujeito a ¦u y ¦ u y¦ u≤ y1, k = 1,..., n ∑ ¦ v x ≤ 1, k≤=1,1,...,k =n 1,..., n vx vx ¦ ∑0 ∀i, j u , v ≥¦ j s j =1 r j j =1 i r i =1 i i =1j i jk ss jk jj=11 ik rr ik ii=11 jj (1) (1) (1) (1) jk jk ii ik ik u j , vi ≥u 0, v ∀≥i,0j ∀i, j jj ii os matemáticos, esse modelo pode ser linearizado, transformando-se gramação Linear esse (PPL) apresentado a seguir: s matemáticos, modelo pode ser linearizado, transformando-se Mediante artifícios matemáticos, esse modelo pode ser linearizado, rtifícios matemáticos, essealguns modelo pode ser linearizado, transformando-se ramação Linear (PPL) apresentado a seguir: e Programação Linear (PPL) seguir: transformando-se emapresentado um Problemaade Programação Linear (PPL) apresentado a seguir: s Maximizar ho = ¦ u j y jo ss s j =1 hoo = ¦ ∑hou=jj y¦ jo u y jo j jo jj =1 j =1 Sujeito a rr ∑ vv xx ¦ =11 ii = ss io ii io ∑ uu ¦ =11 jj = (2) (2) (2) =1 rr jj yy jkjk − ¦ ∑ vvii xxikik ≤ 0 , kk = 1,..., nn =11 ii = uu jj , vvii ≥ 0 ∀ii, jj odelos DEA tenham a vantagem de permitir fazer ordenações sem depender de decisores, são extremamente benevolentes com as unidades avaliadas. Estas cientes ao considerar apenas algumas das variáveis, a saber, aquelas que lhes são (2) 168 Transporte em Transformação XI Embora os modelos DEA tenham a vantagem de permitir fazer ordenações sem depender de opiniões de decisores, são extremamente benevolentes com as unidades avaliadas. Estas podem ser eficientes ao considerar apenas algumas das variáveis, a saber, aquelas que lhes são mais favoráveis. Uma interpretação não matemática desse fato pode ser encontrada em Novaes (2001). Essa característica de benevolência dos modelos DEA faz com que ocorram empates para as unidades 100% eficientes, o que provoca uma baixa discriminação entre as DMUs. 2.2. Método de Copeland Segundo Arrow (1951), citado por Barba-Romero e Pomerol (1997), não existe escolha justa, ou seja, não existe método multicritério, ou multidecisor “perfeito”. Considera-se como justo um método de escolha multidecisor que obedeça aos axiomas de universalidade, da unanimidade, da independência em relação às alternativas irrelevantes, da transitividade e da totalidade. O teorema de Arrow garante que, com exceção de métodos de ditador, nenhum método de escolha atende simultaneamente a esses axiomas. No método de Copeland a avaliação de uma opção qualquer é dada pela diferença entre o número de opções que ela sobrepuja e o número de opções que a ela são preferíveis, não importando quantas opções sejam consideradas equivalentes a ela. A diferença entre o método de Copeland e o método de Borda surge apenas quando há empates. A diferença entre o método de Copeland e o método de Condorcet surge apenas quando há ciclos de intransitividade. Para um aprofundamento da discussão sobre os métodos ordinais, recomenda-se Dias et al. (1996). 2.3. Composição Probabilística Na composição probabilística, com o reconhecimento da presença de erros de medida aleatórios, os volumes de entradas e saídas observados passam a ser tratados como estimativas de parâmetros de posição de distribuições de probabilidades. Derivam-se, também, do conjunto de valores observados, estimativas para outros parâmetros dessas distribuições. Segundo Sant’Anna (2002), a avaliação probabilística tende a atribuir menos medidas de eficiência elevadas às unidades de dimensão muito pequena ou muito Seleção de Rota Marítima de Contêineres 169 grande em relação ao conjunto analisado. Unidades com valores extremos terão suas medidas de eficiência calculadas através do produto de probabilidades muito próximas de zero por probabilidades muito próximas de 1, enquanto as unidades com valores mais próximos da mediana terão suas medidas de eficiência calculadas através do produto de fatores mais homogêneos. A abordagem probabilística, de um lado, eleva fortemente a medida de eficiência de qualquer unidade de produção sempre que apresente desempenho extremo seja na minimização do volume de algum recurso seja na maximização do volume de algum produto, mas, de outro lado, ameniza a influência desses pontos extremos, levando em conta o desempenho de mais variáveis e de mais unidades de observação. Enquanto a fronteira de excelência tende a ser formada por desempenhos raros, a comparação em variáveis em que a unidade não apresente desempenho extremo e a comparação com um conjunto de observações com valores mais freqüentes torna o procedimento de avaliação resistente a erros aleatórios. É difícil dispor de informação a priori sobre a forma da distribuição das perturbações aleatórias e, nas primeiras aplicações, não é comum dispor de um número de observações, em cada unidade, suficiente para, mesmo assumindo as habituais hipóteses de normalidade e independência, estimar, com precisão satisfatória, seus parâmetros de dispersão. Neste trabalho se assumem distribuições de Pareto. È interessante notar que, embora as variáveis assumam valores inteiros e positivos, é recomendável o uso de uma aproximação contínua para suavizar as avaliações das probabilidades de maximizar. A influência dos empates no caso de se adotar uma distribuição discreta é exemplificada em Sant’Anna (2005). Diferentes medidas podem ser construídas a partir da composição das probabilidades de atingir as fronteiras em cada variável, conforme utilizemos os conectivos “e” ou “ou” e conforme tomemos a fronteira inferior ou a fronteira superior como referência. O uso de formas diferentes de exigir que se atinja simultaneamente a maximização de saídas e a minimização de entradas permite avaliar os efeitos de pequenas diferenças. Uma classificação de pontos de vista em dois eixos subjetivos facilita a identificação dessas diferenças. Esses eixos são um eixo pessimista-otimista e um eixo conservador-progressista. Uma composição é otimista quando considera a probabilidade de atingir a fronteira de excelência (ou afastar-se da fronteira de pior desempenho) em pelo menos uma variável. E pessimista quando se baseia na exigência de aproximação da fronteira conjuntamente, em todas as variáveis. Diferentes medidas podem ser construídas a partir da composição atingir as fronteiras em cada variável, conforme utilizemos os cone conforme tomemos a fronteira inferior ou a fronteira superior como formas diferentes de exigir que se atinja simultaneamente a maxim XI 170 Transporte em Transformação minimização de entradas permite avaliar os efeitos de pequenas diferen de pontos de vista em dois eixos subjetivos facilita a identificação d são um eixo pessimista-otimista e um como eixo conservador-progressi Por outro lado, umaeixos composição é progressista quando toma referência a otimista quando considera a probabilidade de atingir a fronteira de ex fronteira de excelência e conservadora quando toma como referência a fronteira de da fronteira de pior desempenho) em pelo menos uma variável. E pessi pior desempenho. na exigência de aproximação da fronteira conjuntamente, em todas a lado, uma composição é progressista quando toma referência a fr Para cada alternativa j0 e critério i, sejam Mj0j a probabilidade de acomo alternativa conservadora quando toma como referência a fronteira de piore desempe j0 apresentar, segundo o critério i-ésimo, avaliação maior que todas as outras mj0i a probabilidade de tal alternativa apresentar avaliação menor ou igual a todas Para cada alternativa j0 e critério i, sejam Mj0j a probabilidade de a al segundo o mesmo critério. segundo o critério i-ésimo, avaliação maior que todas as outras e mj0i alternativa apresentar avaliação menor ou igual a todas segundo o mesm Com esta notação, a avaliação probabilística conservadora e pessimista da alternativa j par a produção denotação, um conjunto de outputs utilizando conservadora um conjunto de Com esta a avaliação probabilística e pessimist inputs será proporcional ao produto ∏s(1 – mjs)*∏i(1 – Mji), para produção de um conjunto de outputs utilizando∏s umdenotando conjunto de input produtório com s variando longo de todas –asMji), saídas ∏i denotando produtório produtório com i produto ao s(1 – mjs)*i(1 parae s com variando ao longo de todas entradas. Para facilitar a comparação, resultado todas as as saídas e i produtório com i variando ao olongo de todas as en desta operação é padronizado, dividindo por uma que avaliação comparação, o resultado destaconstante operaçãodeé modo padronizado, dividindo por u da unidade de avaliação alta seja sempre de igual a 1. mais alta seja sempre igual a 1. que mais avaliação da unidade avaliação Um método para as variáveis tenham igual importância Umassegurar método que paratodas assegurar que todas as variáveis tenham igual im analisado é calcular a probabilidade de uma alternativa ser a preferida no contexto analisado é calcular a probabilidade de uma alternativa ser a preferida critérios Matematicamente, esta esta composição é em pelo menos um dos critériosconsiderados. considerados. Matematicamente, composição 1 − [∏ kk ==1p (1 − M i ,k ) × ∏ jj ==1n (1 − mi , j )])] . é dada pelo produto No modelo DEA, fato de produzir uma unidade produzir em grande quant No modelo DEA, o fato de umao unidade em grande quantidade output ou utilizar pequena quantidade de determinado input fará c um determinado output ou utilizar pequena quantidade de determinado input aproxime da fronteira de eficiência. A probabilidade de a unidade max fará com que a mesma se aproxime da fronteira de eficiência. A probabilidade output e minimizar pelo menos um input corresponde a esta de a unidade maximizar pelo menos um output e minimizar pelo menos um abordage input corresponde a esta abordagem. Essa composição é descrita pelo produto )] ×[1 − ∏ jj ==1n (1 − mi , j )] )] [1 − ∏ kk ==1p (1 − M i ,k )] a visão progressista produto , que que nada nadamais maiséédodoque que a visão e otimista,e otimista, tanto paratanto inputs quanto para outputs. para inputs quanto para outputs. ho, a composição probabilística usada para propiciar uma Neste trabalho, a será composição probabilística serávisão usadapessimista, para propiciar uma simultaneamente minimização das duassimultaneamente variáveis consideradas, custo das e tempo. visão pessimista, exigindo-se minimização duas variáveis entretanto, a ótica progressista, dando maior importância as diferenças próximas consideradas, custo e tempo. Manter-se-á, entretanto, a ótica progressista, dando e melhor desempenho. maior importância as diferenças próximas à fronteira de melhor desempenho. M TRANSPORTES transportes são encontrados estudos utilizando-se DEA nos diversos modais de Novaes (2001) analisa a eficiência e ganhos de escala de 21 metrôs de diversas mundo, além de analisar o benchmarking de metrôs não eficientes, com ênfase ao o Paulo. Seleção de Rota Marítima de Contêineres 171 3. DEA em Transportes Na área de transportes são encontrados estudos utilizando-se DEA nos diversos modais de transporte. Novaes (2001) analisa a eficiência e ganhos de escala de 21 metrôs de diversas cidades do mundo, além de analisar o benchmarking de metrôs não eficientes, com ênfase ao metrô de São Paulo. No setor aéreo, em Soares de Mello et al. (2003), é feito um estudo da eficiência e dos benchmarks para as companhias aéreas brasileiras. Ainda no transporte aéreo, estudos de eficiência que utilizam DEA e que consideram aspectos financeiros são encontrados em Fernandes e Capobianco (2000). Um modelo com aspectos financeiros e não financeiros é usado por Adler e Golany (2001). Para a avaliação de desempenho de companhias aéreas ou aeroportos, outras abordagens não financeiras são encontradas em, por exemplo, Charnes et al. (1996) e Fernandes e Pacheco (2002). Essas abordagens têm em comum o fato de calcularem uma única eficiência para cada DMU. No setor marítimo, os primeiros estudos utilizando-se DEA foram realizados no setor portuário por Roll e Hayuth (1993), que trabalharam com dados hipotéticos e demonstraram como suas eficiências poderiam ser mensuradas. Alguns outros poucos trabalhos nesta linha foram publicados, como, por exemplo, MartinezBudría et al. (1999), que analisaram vinte e seis portos espanhóis no período de 1993 a 1997, em um total de 130 observações, utilizando três inputs (despesas com pessoal, taxas de depreciação e outros gastos) e dois outputs (total de carga movimentada e receita obtida no aluguel de facilidades). Tongzon (2001), com 16 terminais de diferentes países, utilizou um output (TEUs) e seis inputs (número de guindastes, número de berços, número de rebocadores, número de funcionários, área do terminal e tempo de espera) para realizar uma análise de suas eficiências. Itoh (2002) analisou a eficiência operacional dos oito maiores terminais de contêineres do Japão, utilizando como número de TEUs movimentados por ano e os inputs foram divididos em 3 categorias: infra-estrutura (área do terminal e número de berços), superestrutura (número de guindastes) e número de trabalhadores. Turner et al. (2004) mediram a eficiência de 26 terminais de contêineres dos Estados Unidos e Canadá entre 1984 a 1997. Os inputs escolhidos foram a área do terminal, número de guindastes e tamanho do berço. O output considerado foi o número de TEUs movimentados. 172 Transporte em Transformação XI 4. Modelagem No serviço de cabotagem e Mercosul, oferecido pela empresa estudada, onze portos são escalados por treze navios, distribuídos em três rotas fixas e regulares (I, II e III), ao longo da costa leste da América do Sul, a saber: Manaus (AM), Vila do Conde (PA), Fortaleza (CE), Suape (PE), Salvador (BA), Vitória (ES), Sepetiba (RJ), Santos (SP), Rio Grande (RS), Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina). Existem, nesse serviço, 110 possíveis combinações origem-destino (nos sentidos norte e sul) oferecidas ao cliente pela empresa transportadora. Esta, dispondo de suas três rotas de navios, deve definir o trajeto que o contêiner percorrerá entre a origem e destino solicitados pelo cliente. O presente trabalho limita-se a apenas 3 das 110 opções origem-destino, entre os portos da costa leste da América do Sul, oferecidas pela referida empresa. As opções em estudo são: Montevidéu – Suape, Fortaleza – Rio Grande e Rio Grande – Fortaleza. A escolha desses pares de portos foi com base nos significativos volumes dos mesmos e, ao mesmo tempo, na sua importância no que se refere às suas localizações. Além disso, verifica-se, nos últimos anos, uma crescente evolução relacionada ao volume de carga transportada entre essas localidades. Pela estrutura do serviço em questão, existe a possibilidade, nos três casos, de transportar a carga diretamente (através de um único navio) ou por meio de transbordo (fazendo a conexão para outro navio). As opções a serem comparadas (DMUs, na terminologia da DEA) são representadas pelas possíveis rotas entre cada par de localidades. Pela atual configuração do serviço em estudo, a Tabela 1 mostra a quantidade de alternativa de rotas sem e com transbordo para os três casos em questão. Tabela 01: Pares de portos selecionados e suas quantidades de rotas por tipo Porto de origem Porto de destino Alternativas de rotas sem transbordo Alternativas de rotas com transbordo Total de alternativas de rotas Montevidéu Fortaleza Rio Grande Suape Rio Grande Fortaleza 01 01 02 06 11 16 07 12 18 Seleção de Rota Marítima de Contêineres 173 No caso de uma rota com conexão, o contêiner deverá embarcar em um primeiro navio (da rota I, II ou III), fazer o transbordo em algum porto para, em seguida, embarcar em um segundo navio (da rota I, II ou III), conforme mostra a Tabela 2. No caso de uma rota direta (sem transbordo), as etapas 3 e 4 são desconsideradas. Tabela 02: Etapas operacionais do transporte marítimo de contêiner com transbordo Etapa 1 Chegada do contêiner no porto de origem Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Embarque do contêiner no porto de origem Desembarque do contêiner no porto de transbordo Embarque do contêiner no porto de transbordo Chegada do contêiner no porto de destino 1° navio (rota I, II ou III) 2° navio (rota I, II ou III) Dessa forma, o estudo foi limitado à utilização de duas variáveis de input, a saber: Input 1: tempo O tempo em trânsito da carga inicia-se com a chegada do contêiner no porto de origem (etapa 1) e encerra-se com a entrega do contêiner no porto de destino (etapa 5). Neste estudo é utilizado o calendário real do serviço, contendo as datas programadas para as escalas dos navios das rotas I, II e III, nos onze portos. As rotas I e III possuem freqüência semanal, e, a rota II, quinzenal. Foi determinada a data de 01/01/2007 para a chegada do contêiner no porto de origem. Input 2: custo Três tipos de custos são considerados, a saber: a) Custo de armazenagem do contêiner antes do embarque, cobrado pelo terminal portuário do porto de origem (etapas 1 e 2); b) custos de armazenagem do contêiner durante a conexão, cobrado pelo terminal portuário do porto de transbordo (etapa 3 até 4); c) custo da operação de transbordo, cobrado pelo terminal portuário do porto de transbordo. Consideram-se, nesse item, as duas operações: desembarque do contêiner do primeiro navio e o embarque do mesmo, no segundo (etapas 3 e 4). 174 Transporte em Transformação XI Os custos de embarque do contêiner no porto de origem e desembarque no porto de destino são desconsiderados, visto que eles são os mesmos para todas as opções. Os custos acima citados cabem ao transportador marítimo. Este, ao receber o pedido de transporte do cliente, analisa os custos inerentes ao serviço de transporte que será realizado e, teoricamente, calcula o frete que será cobrado do cliente com base numa estimativa de custos que terá na operação completa, que inclui, dentre outros, os três citados acima. Ressalta-se que, teoricamente, quanto menor for o custo do transportador marítimo na operação, menor será o frete cobrado do cliente. Outro aspecto que deve ser ressaltado é que neste estudo são utilizados os custos reais de cada terminal portuário. 5. Modelos Utilizados Foram aplicadas as três técnicas (apresentadas na seção 2) a fim de obter uma ordenação das rotas descritas conforme o cenário apresentado na seção anterior. Na DEA, a opção natural é o modelo CRS, visto que, com o output constante, não há que se levar em conta possíveis mudanças de escala. Da mesma forma, o modelo foi orientado a input, pois se deseja minimizar os recursos utilizados, com o output constante e unitário. Neste caso, o output unitário foi assumido com a finalidade de representar a própria existência da rota, numa abordagem semelhante à usada por Soares de Mello e Gomes (2004), de acordo com as considerações teóricas de Lovell e Pastor (1999). Para o cálculo das eficiências, utilizou-se o software SIAD (Angulo Meza et al., 2005). Este usa o algoritmo Simplex (Dantzig, 1963) para a resolução de Problemas de Programação Linear (PPL). Além disto, considera uma abordagem em Kuenzi et al. (1971) que inclui uma sub-rotina para evitar problemas de degeneração, um problema comum em DEA, devido à típica estrutura dos DEA PPLs. 175 Seleção de Rota Marítima de Contêineres A Tabela 3 mostra as duas composições de opções de rotas (DMUs) consideradas. O modelo 1 garante maior homogeneidade das DMUs, enquanto o modelo 2 permite comparar DMUs pertencentes a dois grupos diferentes. Tabela 03: Modelos desenvolvidos e inputs e outputs considerados Modelo Modelo DEA Orientação do modelo Tipos de rotas Inputs 1 CRS input com transbordo tempo custo unitário 2 CRS input sem e com transbordo tempo custo unitário Output A seguir, são apresentados os resultados em forma de ordenação (da rota mais vantajosa para a menos atrativa). Tabela 04: Postos finais através das três técnicas para Montevidéu – Suape modelo 1 Montevidéu – Suape DEA 6 1 4 2 5 3 Pareto 6 1 4 5 3 2 modelo 2 Copeland 6 1 2=4=5 3 DEA 7 6 1 4 2 3 5 Pareto 7 2 6 1 4 3 5 Copeland 7 6 1 2=4=5 3 Conforme mostra a Tabela 4, ao comparar as rotas do percurso MontevidéuSuape, os resultados obtidos através de DEA foram validados pelas duas outras metodologias (Probabilística e Copeland). Observou-se apenas uma alteração, no resultado obtido pela rota representada pela DMU 2. Neste caso, ela obteve um pior resultado sob a ótica probabilística relativamente às demais, no caso do modelo 1, que analisa somente as rotas com transbordo. No modelo 2, onde todas os tipos de rotas são analisados, a abordagem probabilística, ao contrário, melhora sua classificação em relação aos resultados obtidos através de DEA. Deve-se levar em conta, entretanto, que a abordagem probabilística indica preferência absoluta para a DMU 7 e preferências próximas de zero para todas as demais DMUs quando competem com ela. No modelo 1, a abordagem probabilística também atribui preferência próxima de zero para as DMUs 2 e 3. 176 Transporte em Transformação XI Tabela 05: Postos finais através das três abordagens para Fortaleza – Rio Grande modelo 1 Fortaleza Rio Grande modelo 2 DEA Probabilidade Copeland Posto DEA Probabilidade Copeland 7 6 9 2 1 8 11 4 3 10 5 6 7 9 2 1 8 11 10 4 3 5 6 7 9 2 8 1 4 11 3 10 5 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 12 6 9 7 2 1 4 11 8 3 5 10 12 6 9 4 7 2 1 11 3 8 5 10 6=12 7 9 2 8 1=4 11 3 10 5 Na tabela 5, pode-se observar, no modelo 1, que as abordagens probabilística e de Copeland invertem as colocações das duas primeiras colocadas sob a ótica DEA (DMUs 7 e 6). Com relação às demais DMUs analisadas no modelo 1, observa-se que grande parte delas obteve a mesma colocação sob a ótica probabilística e de Copeland. O mesmo ocorreu no modelo 2, sendo que, dentre as primeiras colocadas, destaca-se, apenas, que a DMU 6 passa a ser equivalente à DMU quando se adota o método de Copeland. 177 Seleção de Rota Marítima de Contêineres Tabela 06: Postos finais através das três abordagens para Rio Grande – Fortaleza modelo 1 Rio Grande Fortaleza modelo 2 DEA Probabilidade Copeland Posto DEA Probabilidade Copeland 14 11 12 5 9 15 3 10 2 6 4 13 16 8 1 7 14 11 5 12 9 3 4 6 15 16 8 10 2 13 1 7 14 11 12 5 9 15 4 6 13 3 16 10 2 1 8 7 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 18 17 14 11 15 12 9 5 3 6 16 8 10 1 2 13 4 7 18 17 14 11 15 12 9 6 16 1 5 3 8 10 13 4 2 7 18 17 14 11=12 5 9 15 4 6 13 3 16 10 2 1 8 7 Para o terceiro caso estudado, os resultados obtidos através das três metodologias são apresentados na Tabela 6. Há significativa similaridade no que se refere à classificação obtida pelas DMUs sob as três óticas estudadas. Foram observadas algumas alterações apenas nas posições intermediárias e inferiores da tabela de classificação. 6. Considerações Finais A análise realizada demonstrou a estabilidade da metodologia adotada quanto ao uso de diferentes alternativas de composição de critérios, além de demostrar a viabilidade de ordenação de opções de rotas entre duas dadas localidades, sendo útil, nesse caso, para o tomador de decisões (transportador marítimo). Tendo em vista a necessidade de fortalecer esse modal de transporte, tornando-o mais competitivo e contribuindo para uma logística integrada, esta ferramenta pode 178 Transporte em Transformação XI ser útil e aplicável a qualquer serviço oferecido pelas empresas de navegação em geral. Atualmente, a empresa estudada não possui uma ferramenta de auxílio no apoio à decisão relacionada à seleção de rota marítima de contêiner na costa leste da América do Sul. Tampouco existe uma metodologia desenvolvida para medir a eficiência das rotas de cargas, a partir de rotas fixas de navios previamente definidas. Entre os possíveis desenvolvimentos futuros desta pesquisa, destacase o transporte de outros tipos de contêineres, incluindo o específico para carga refrigerada, que possui diferentes custos de armazenagem nos terminais portuários. Um outro possível ponto a ser abordado é o transporte de mais de um contêiner, considerando as capacidades dos navios. Agradecimentos Os autores agradecem a todos os colegas que ajudaram com informações e sugestões ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Seleção de Rota Marítima de Contêineres 179 Referências bibliográficas Adler, N. e B. Golany (2001) Evaluation of deregulated airline networks using data envelopment analysis combined with principal component analysis with an application to Western Europe. European Journal of Operational Research, North-Holland, p. 260-273. Angulo-Meza, L.; L. B. Neto; J. C. 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É apresentada uma aplicação do método proposto ao caso de Porto Alegre. 182 Transporte em Transformação XI Abstract The aim of this work is to develop an aggregate accessibility index for public transport. The index is based on the degree of resilience to access different destinations, given a specific origin. A theoretical basis is considered in order to select indicators that actually represent the accessibility factors influencing accessibility. The proposed methodology includes Geographic Information Systems to aggregate the data into traffic zones. A practical exercise is conducted using data from Porto Alegre, Brazil. Palavras-chave Acessibilidade, índice de acessibilidade, transporte coletivo. 1. Introdução O termo acessibilidade resume conceitos diversos em diferentes áreas do conhecimento. Mesmo no campo de transportes, encontram-se dois focos distintos: por um lado, trata-se da acessibilidade física aos equipamentos de transportes, tais como paradas de ônibus, estações e veículos; e, por outro lado, entende-se como a facilidade de atingir um destino, a partir de uma origem. Empregamos a palavra acessibilidade, no presente artigo, com este último sentido. Considerando a significativa participação do transporte coletivo na divisão modal das grandes cidades brasileiras, o atendimento adequado das necessidades de transporte da população urbana bastaria para justificar esforços no sentido de medir e avaliar as condições da oferta. No entanto, há ainda outras razões para que se desenvolvam ferramentas de apoio ao planejamento e à decisão nesse campo. Entre elas, a urgência de reverter parte dos usuários de automóvel ao uso de transporte coletivo, como forma de mitigar congestionamentos e poluição. O objetivo deste trabalho foi estabelecer uma medida agregada de acessibilidade que permitisse a comparação entre regiões de uma cidade, assim como o acompanhamento da evolução de uma região. Como ferramenta de apoio à decisão, pode representar um maior respaldo e aceitação pública. Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 183 Este artigo propõe um índice agregado para medir a acessibilidade por transporte coletivo. A partir de uma base teórica, indicadores representativos de fatores de acessibilidade são selecionados para compor o índice. Propõe-se uma metodologia para agregação dos dados primários em dois níveis: primeiro, em paradas de ônibus; depois em zonas de tráfego. A aplicação do método ao caso de Porto Alegre é apresentada e, finalmente, o índice resultante, representando os níveis de oferta de transporte coletivo, é comparado aos níveis de demanda encontrados nas zonas de tráfego. 2. Acessibilidade: definição e quantificação Segundo Litman (2007), acessibilidade é a capacidade para alcançar atividades, serviços, mercadorias ou quaisquer destinos desejados. No campo da sociologia, trata-se da capacidade de utilizar serviços e oportunidades, enquanto no projeto de equipamentos urbanos entende-se acessibilidade como o desenho que permite acesso a pessoas com deficiências de locomoção. As várias especialidades apresentam focos diferenciados na abordagem desse tema e, em planejamento de transportes, acessibilidade relaciona-se geralmente com o acesso físico aos objetivos individuais. Na definição do BTS (1997), enquanto a mobilidade mede quanto as pessoas viajam, a acessibilidade indica quão facilmente as pessoas podem chegar ao seu destino. Essa facilidade pode ser representada por um baixo custo generalizado de deslocamento, somando o dispêndio de tempo, dinheiro, esforço, risco, etc. Entre os fatores a considerar, destacam-se: 1) a mobilidade proporcionada pelos diversos modos de transporte; 2) a conectividade entre origens e destinos; 3) a distribuição das atividades no espaço, ou uso do solo; e 4) os substitutos da mobilidade, tais como telecomunicações e serviços de entregas (Litman, 2007). 2.1. Quantificação da acessibilidade A necessidade de estabelecer uma medida quantitativa de acessibilidade decorre da ampla utilização do termo entre os objetivos de projetos de transportes. Para avaliar a eficácia de tais projetos, é indispensável a utilização de indicadores. Entretanto, como a acessibilidade é influenciada por diversos fatores, vários indicadores precisam ser acompanhados em sua avaliação. Uma medida agregada, 184 Transporte em Transformação XI cuja composição seja totalmente transparente e válida, permite a avaliação direta dos resultados eventualmente obtidos em relação ao objetivo. Além disso, uma medida simplificada tem grande utilidade na divulgação de informações e como apoio à discussão comunidades afetadas por projetos de transportes. 2.1.1. Como medir Segundo MacLaren (1996), bons indicadores são cientificamente válidos, representativos de uma ampla faixa de condições, sensíveis a mudanças, relevantes para as necessidades dos potenciais usuários, comparáveis, com custos razoáveis de coleta e uso, atraentes para divulgação e não-ambíguos. Conhecidos os fatores que afetam a acessibilidade, podem ser estabelecidos indicadores representativos. Considerando que o presente estudo refere-se ao transporte coletivo, freqüência e cobertura dos serviços disponíveis são indicadores adequados para medir acessibilidade. De acordo com Saisana et al (2005a), a combinação de indicadores em um índice pode agregar maior quantidade de informação em uma medida única, mais fácil de interpretar embora seja mais sofisticada. Índices compostos podem ser usados para resumir questões complexas ou multidimensionais com o objetivo de dar suporte à decisão, oferecem uma visão geral, facilitam a tarefa de classificação, ajudam a atrair o interesse do público porque facilitam a comparação com outros sistemas e resumem a informação. Por outro lado, podem levar a conclusões simplistas se não forem usados em conjunto com os indicadores originais. A conveniência de utilizar-se índices agregados ao invés de indicadores isolados é discutida por Booysen (2004), que destaca a necessidade de não se perder de vista os indicadores desagregados quando se utiliza um índice. 2.2 Índices de acessibilidade Uma medida muito simples de acessibilidade ao transporte coletivo é a estratificação dos domicílios da área de estudo segundo sua distância da linha ou parada mais próxima (BTS, 1997). Conforme agregam mais informações, as medidas tornam-se mais sofisticadas mas não necessáriamente mais difíceis de compreender. Ponderando relevância das informações e custo de obtenção dos dados, pode-se compor um índice de acessibilidade de fácil compreensão e baixo custo, principalmente se os indicadores componentes já têm dados disponíveis, analisados individualmente. Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 185 Bhat et al (2002) propõem um índice de acessibilidade urbana que mede a quantidade de oportunidades acessíveis a uma zona, dentro de uma determinada distância ou tempo de viagem. Dados relativos ao uso do solo e infra-estrutura de transportes são analisados em um sistema de informações geográficas (SIG). Rood (1997) desenvolveu um índice de disponibilidade de transporte coletivo para a cidade de Sacramento, California. Os indicadores componentes do índice são construídos a partir da freqüência e capacidade ofertadas e da população residente e empregos localizados em uma unidade de área. A metodologia empregada não requer recursos sofisticados, podendo ser implementada em planilhas eletrônicas comuns, com o uso opcional de SIG. Grengs e Arbor (2003) desenvolveram um método que mede a acessibilidade por transporte coletivo, combinando a avaliação de padrões de uso do solo e serviços de transporte coletivo. O método inclui a formulação de um modelo gravitacional e o cálculo de um índice de acessibilidade. Uma boa revisão sobre indicadores e índices para avaliação de serviços de transporte coletivo encontra-se em TCRP (2003). A publicação é um guia para desenvolvimento de sistemas de indicadores. Raia Jr. (2000), que propõe a análise conjunta de acessibilidade e mobilidade como forma de estimar potencial de viagens, também apresenta uma revisão de conceitos e medidas de acessibilidade. 2.3. Ferramentas utilizadas Uma revisão sobre métodos de normalização e agregação de indicadores para formulação de índices compostos encontra-se em Saisana et al (2005b). No presente estudo foi utilizado o método de análise hierárquica (Saaty, 1991) para atribuição de pesos em diferentes etapas da agregação de indicadores. A agregação de dados de transporte coletivo em unidades de área foi facilitada pelo uso de um sistema de informações geográficas (SIG). Sem o auxílio dessa ferramenta, a aplicação da metodologia torna-se demasiado trabalhosa. 186 Transporte em Transformação XI 3. Estrutura do índice de acessibilidade por transporte coletivo O índice reflete o nível de acessibilidade, ou facilidade de acesso, por transporte coletivo a diferentes destinos em uma área da zona urbana. Uma unidade de área para análise é definida e fatores que afetam a acessibilidade são agregados nessa unidade. 3.1. Unidades de análise A unidade de área estabelecida para essa análise foi a zona de tráfego (ZT). Por ser amplamente utilizada em estudos de transportes, oferece facilidades no que se refere a disponibilidade de dados e termos de comparação com outros indicadores. 3.2. Fatores de acessibilidade O acesso ao transporte coletivo pode ser facilitado, ou dificultado, por fatores espaciais, temporais e econômicos, ou sócio-econômicos. O índice proposto não abrange fatores sócio-econômicos, tais como tarifa, subsídios e características culturais que afetam a acessibilidade. Trata-se, exclusivamente, da acessibilidade espacial e temporal proporcionada pelo transporte coletivo. A proporção de área de uma ZT atendida por paradas e a variedade de destinos alternativos oferecidos representam a acessibilidade espacial. A freqüência diária do serviço ofertado na parada é utilizada como medida de acessibilidade temporal. 3.3. Formulação do Índice A estrutura de indicadores que compõem o índice de acessibilidade proposto pode ser resumida da seguinte forma: • Uma Zona de Tráfego (ZT) tem um nível de acessibilidade por transporte coletivo de acordo com: m O nível de acessibilidade oferecido pelas Paradas de ônibus que atendem essa zona, o qual é função da • freqüência dos • serviços e • destinos ofertados Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 187 Uma ZT é atendida por todas as paradas localizadas no seu interior ou a uma distância de caminhada da referida zona (500 metros). O Índice de Acessibilidade da ZT (IAZT) é calculado em função da proporção de sua área atendida por paradas e do nível dessas paradas. Cada parada de ônibus que atende a ZT oferece uma certa freqüência diária de viagens de um ou mais serviços, dando acesso a diferentes destinos. O Nível das Paradas (NP) é calculado em função da freqüência ofertada e do valor atribuído aos Serviços/Destinos (SD). Serviços são alternativas com características diferenciadas tais como, por exemplo, Expresso e Parador. Destino representa a oferta de destinos alternativos na parada. Ideal seria uma medida do número de zonas acessíveis através de um determinado serviço. Entretanto, pode-se simplificar através de características das linhas, tais como alimentadoras (que dão acesso principalmente a um terminal de outras linhas), interbairros (que dão acesso a outros bairros), centro, etc. A importância, ou valor relativo, dos Destinos oferecidos e dos Serviços pode ser estimada através de análise hierárquica (Saaty, 1991), comparando-se as alternativas par a par. Esse método foi empregado na aplicação em Porto Alegre, resultando os valores da Tabela 1, os quais representam o consenso de 6 técnicos em planejamento de transportes. Tabela 1 – Valor atribuído aos Serviços/Destinos (SD) SD Destinos Alimentador Interbairros Retorno Centro Transversal (1), Serviços Parador Direto 0,02 0,04 0,04 0,09 0,04 0,09 0,11 0,23 0,11 0,23 O nível de uma parada (NP) pode, então, ser calculado segundo a equação NP SD F (1) 188 Transporte em Transformação XI onde: SD = é o valor do Serviço/Destino ofertado na parada F = é a freqüência diária do Serviço/Destino ofertado na parada Os NP encontrados são normalizados, adequando-se a uma escala de 0 a 1, de acordo com a equação (2). Este procedimento relativiza os valores, facilitando a interpretação. NP NORM NP NPMínimo (2) NPMáximo NPMínimo Agora, as paradas podem ser classificadas segundo seu nível NPNORM, que varia de 0 a 1, sendo 1 o nível mais alto, com o melhor serviço. A classificação em 10 intervalos iguais permite a atribuição de valores a essas classes, em um procedimento simples de análise hierárquica (Saaty, 1991). A Tabela 2 traz a classificação com os respectivos valores, cuja soma é igual a 1. Tabela 2 – Classes de paradas de ônibus Classe (N P ) 0 a 0,1 0,11 a 0,2 0,21 a 0,3 0,31 a 0,4 0,41 a 0,5 0,51 a 0,6 0,61 a 0,7 0,71 a 0,8 0,81 a 0,9 0,91 a 1 VP 0,0152 0,0203 0,0284 0,0401 0,0564 0,0788 0,1094 0,1515 0,2099 0,2900 Através de uma seleção das paradas de cada classe em um SIG, pode-se avaliar a área de cada ZT coberta por essa classe de paradas. Tem-se, assim, todas as condições para chegar ao Índice de Acessibilidade (IAZT), através da equação (3). IA ZT A V A cob total P ANP (3) Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 189 onde: A A cob total = área total da ZT coberta por quaisquer paradas (raio de 500m) = área total da ZT VP = valor atribuído a uma classe de paradas A NP % de área da ZT coberta por paradas de uma classe Finalmente, IAZT também deve ser normalizado, para maior facilidade de interpretação. 4. Aplicação O índice proposto foi aplicado ao caso de Porto Alegre, abrangendo apenas a área do município e, portanto, o transporte coletivo por ônibus intra-urbano. A área de estudo é subdividida em 98 zonas de tráfego, como ilustra a Figura 1. Figura 1 – Zonas de Tráfego, Porto Alegre 190 Transporte em Transformação XI 4.1. Acessibilidade das paradas de ônibus O cadastro de paradas de ônibus é georreferenciado, permitindo o relacionamento dos dados da parada com itinerários e freqüência de linhas de ônibus em um sistema de informação geográfica (SIG). O nível da parada (NP) foi calculado de acordo com a equação (1), multiplicando-se a soma das freqüências pelo valor atribuído ao Serviço/Destino (SD) correspondente. Para atribuição dos pesos, foram considerados 2 tipos de serviço (Parador e Direto) e 5 tipos de destinos (Alimentador, Retorno, Interbairros, Centro e Transversal). Foi aplicada análise hierárquica (Saaty, 1991) para atribuição dos valores, resumidos na Tabela 1. A subdivisão de serviços agrega um elemento de velocidade (que reflete no tempo de viagem) à avaliação de acessibilidade. Quanto aos destinos, linhas alimentadoras dão acesso a destinos pouco atrativos; o centro da cidade oferece a maior quantidade de oportunidades e linhas transversais dão acesso a pólos de atração diferenciados que não se localizam no centro. A Figura 2 ilustra a localização das paradas, classificadas em 10 intervalos segundo os níveis de acessibilidade encontrados. Essa classificação foi utilizada para atribuição dos pesos encontrados na Tabela 2, utilizados para cálculo do Índice de Acessibilidade através da equação (3). Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 191 Figura 2 – Classes de Paradas de Ônibus 4.2. Acessibilidade das zonas de tráfego De acordo com a formulação enunciada no item 3.3, o Índice de Acessibilidade da ZT é calculado a partir da equação (4). A área de cobertura das paradas foi estabelecida em um raio de 500 metros, distância máxima de caminhada admitida em Porto Alegre. A Figura 3 mostra o mapa de acessibilidade por zonas de tráfego, normalizado em uma escala de 0 a 1, de maneira semelhante à normalização dos níveis de acessibilidade das paradas, conforme equação (2). As áreas mais escuras têm maior acessibilidade. De maneira geral, nota-se o aumento da acessibilidade a partir da periferia, em direção ao centro da cidade, o que é condizente com o desenho predominantemente 192 Transporte em Transformação XI radial das linhas de transporte coletivo. Uma exceção fica visível no mapa: algumas zonas contíguas com localização próxima ao centro e nível de acessibilidade igual ao da periferia. Trata-se de uma região de renda alta, cujas viagens são realizadas predominantemente por transporte individual. A oferta de transporte coletivo ajustase a essa demanda. Como representação dos níveis de oferta, o mapa foi avaliado positivamente por técnicos que atuam no planejamento de transporte coletivo. Figura 3 – Acessibilidade por Zona de Tráfego Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 193 4.3. Sensibilidade do índice Um fator relevante na construção de um índice é sua sensibilidade à variação nos componentes. Como resultado da formulação proposta, quando uma zona tem 100% de sua área atendida por paradas de todos os níveis, seu índice de acessibilidade é igual a 1. A variação do índice de acessibilidade em função da área coberta por diferentes classes de paradas é ilustrada pelas curvas da Figura 4. As classes de níveis mais baixos (até 5), que compõem a maioria das paradas de Porto Alegre, têm pequena influência no índice e, mesmo com 100% de cobertura em uma zona, não modificariam o mapa da Figura 3, com 10 classes de intervalos iguais. Entretanto, se fossem consideradas 20 classes no mapa de acessibilidade, 100% de cobertura de paradas de nível 4,1 a 5,0 representaria uma alteração já visível. Sensibilidade à área de cobertura 0,4500 0,4000 0,3500 0,91 a 1 0,81 a 0,9 0,3000 0,71 a 0,8 0,61 a 0,7 0,2500 IA ZT 0,51 a 0,6 0,2000 0,41 a 0,5 0,31 a 0,4 0,1500 0,21 a 0,3 0,11 a 0,2 0,1000 0 a 0,1 0,0500 0,0000 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% A NP Figura 4 – Índice de Acessibilidade x cobertura de diferentes classes 194 Transporte em Transformação XI A Figura 5 mostra a variação do nível das paradas segundo a oferta de diferentes Serviços/Destinos. Uma parada de ônibus que dá acesso somente a linhas alimentadoras não passaria da classe 1 (NP_NORM de 0 a 0,10) com uma freqüência menor do que 2.000 viagens/dia. A freqüência de viagens interbairros já provoca uma mudança de classe com cerca de 1000 viagens/dia, enquanto as linhas de acesso ao centro e diretas provocam mudanças mais rápidas. Naturalmente que tais freqüências somente serão alcançadas somando-se diversas linhas que atendem uma mesma parada. 1 0,9 0,8 0,7 NP_NORM 0,6 Direta Centro Interbairros Alimentadora 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 viagens/dia Figura 5 – Acessibilidade das paradas x freqüência 5. Oferta x Demanda O Equilíbrio (ou desequilíbrio) entre oferta de transporte coletivo e demanda potencial foi avaliado, com o objetivo de complementar a informação obtida através do índice de acessibilidade. A partir do número de viagens atraídas e produzidas por zona de tráfego pode-se obter um nível adimensional de atração e produção, variando de zero a 1, conforme equação (4). 5 OFERTA X DEMANDA O Equilíbrio (ou desequilíbrio) entre oferta de transporte coletivo e demanda potencial Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo avaliado, com o objetivo de complementar a informação obtida através 195do índice acessibilidade. A partir do número de viagens atraídas e produzidas por zona de tráfego p se obter um nível adimensional de atração e produção, variando de zero a 1, confo equação (4). ATR __ PROD PROD N __ ATR ZTZT == ATR ++ PROD PRODZTZT −− ATR ATR ++ PROD PRODMínimo ATR Mínimo ATR ++ PROD PRODMáximo − ATR ATR ++ PROD PRODMínimo ATR Máximo − Mínimo (4) (4 N _ ATR _ PROD é a soma de viagens atraídas e produzidas pela zona tráfego. O número de viagens considerado representa o totalatraídas por todos os modos, não som Onde é a soma de viagens e produzidas N _ ATR _ PROD por transporte coletivo, buscando representar a demanda potencial mais do que a dema Onde ZT ZT pela zona de tráfego. O número de viagens considerado representa o total por todos a qual pode ser pelacoletivo, oferta de buscando transporterepresentar coletivo. a demanda osmanifesta, modos, não somente porrestrita transporte A quantificação do nível de equilíbrio entre oferta de Acessibilidade) potencial mais do que a demanda manifesta, a qual pode(Índice ser restrita pela oferta de e dema (Nível decoletivo. Atração/Produção de viagens) está representada na Figura 6 e foi calcu transporte subtraindo-se N_ATR_PROD IA. Assim, quanto mais próximo de zero, maior o equilíb A quantificação do nível dedeequilíbrio entre oferta (Índice de Acessibilidade) Valores positivos indicam sobre-oferta e vice-versa. e demanda (Nível de Atração/Produção de viagens) está representada na Figura 6 e foi calculadoo subtraindo-se N_ATR_PROD IA. Assim, quanto mais próximo de à oferta Enquanto mapa da Figura 3 permite adecomparação de zonas apenas quanto zero, maior o equilíbrio. Valores positivos indicam sobre-oferta e vice-versa. transporte coletivo, o mapa da Figura 6 agrega a ponderação de oferta e demanda. A parti Enquanto de o mapa da Figura permite a comparação zonase apenas quanto identificação zonas com 3níveis discrepantes de de oferta demanda, os indicad à componentes oferta de transporte coletivo, o mapa da Figura 6 agrega a ponderação de oferta do índice de acessibilidade podem ser resgatados. e demanda. A partir da identificação de zonas com níveis discrepantes de oferta e demanda, os indicadores componentes do índice de acessibilidade podem ser resgatados. Figura 6 – Desequilíbrio entre oferta e demanda 196 Transporte em Transformação XI Figura 6 – Desequilíbrio entre oferta e demanda 6. Conclusões e Desenvolvimento Futuro O índice proposto caracteriza satisfatoriamente as zonas de tráfego quanto à oferta de transporte coletivo. Entretanto, a utilidade prática dessa medida pode ser mais efetiva se a mesma for ponderada através de comparação com a demanda. A sensibilidade do índice a alterações nos vários elementos indica uma aplicabilidade compatível com o planejamento estratégico, mais do que operacional, onde os projetos alteram significativamente a oferta de transportes. A ordem de grandeza da influência de pequenas modificações em indicadores isolados sobre Índice de Acessibilidade por Transporte Coletivo 197 o resultado final dificilmente poderia ser representada graficamente de maneira visível. Isso condiz com a proposta inicial do estudo, de relativização do nível local de acessibilidade. Dando seqüência ao estudo, pretende-se incluir na avaliação a oferta de transporte coletivo em fins-de-semana, o que dá uma dimensão da acessibilidade oferecida para atividades de lazer. Além disso, dados relativos a capacidade ofertada deverão ser considerados, por representarem uma informação mais exata do que somente a freqüência. 198 Transporte em Transformação XI Referências bibliográficas BHAT, C. et al (2002) Development of an Urban Accessibility Index: a Summary. Center for Transportation Research, The University of Texas at Austin.Project Summary Report 4938-S. BTS (1997), Mobility and Access: Transportation Statistics Annual Report 1997, Bureau of Transportation Statistics (www.bts.gov), pp. 173-192. GRENGS, J. e Arbor, A (2003) Measuring Change in Small-Scale Transit Accessibility with GIS: the Cases of Buffalo and Rochester. Urban and Regional Research Collaborative, University of Michigan. Working Paper URCC 03-04. LITMAN, T. (2007) Evaluating Accessibility for Transportation Planning. Victoria Transport Policy Institute, Victoria, Canada. MacLaren, V. (1996) Urban Sustainability Report, Journal of the American Planning Association, 3 – 22. RAIA JR., A. 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TCRP (2003) A Guidebook for Developing a Transit Performance-Measurement System, TCRP Report 88. Transit Cooperative Research Program, Transportation Research Board, Washington, DC. Endereços dos autores: Luciana Guadalupe Ferronatto - [email protected] Fernando Dutra Michel - [email protected] Empresa Pública de Transporte e Circulação – EPTC R. João Neves da Fontoura, 7 90050-030 – Porto Alegre - RS Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 10 Márcio de Almeida D’Agosto Suzana Kahn Ribeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia – COPPE Programa de Engenharia de Transportes Resumo Apresenta-se um procedimento desenvolvido a partir da Análise de Ciclo de Vida (ACV) para uma primeira abordagem na comparação de alternativas de fontes de energia para transportes. O procedimento é aplicado ao transporte rodoviário por automóveis na comparação entre três alternativas adotadas no Brasil (gasolina com 25% de etanol, etanol e gás natural comprimido) considerando o uso final no tráfego urbano no Município do Rio de Janeiro, Brasil. O trabalho baseou-se em dados representativos da realidade brasileira e os resultados destacam a adequação do procedimento em identificar, ao longo do ciclo de vida de cada alternativa, onde ocorrem vantagens específicas, em particular no uso de combustíveis renováveis oriundos da biomassa, opção praticada e interessante para a realidade brasileira. 200 Transporte em Transformação XI Abstract This article presents a procedure developed from life cycle analysis (LCA) for a first approach for comparing energy source alternatives for transportation. We apply the procedure to passenger car transportation, comparing three fuels used in Brazil (gasoline with 25% ethanol, pure ethanol and compressed natural gas), considering their use in urban traffic in the city of Rio de Janeiro and representative data of Brazilian reality. The results show the procedure is suitable to identify, over the life cycle of each alternative, where specific advantages occur, particularly in the use of renewable fuels made from biomass, an option already practiced and appropriate for Brazilian reality. 1. Introdução No Brasil, entre 1996 e 2005, o consumo de energia para transportes cresceu 17%, dos quais, o transporte rodoviário respondeu por cerca de 90%, envolvendo derivados de petróleo (81%), gás natural comprimido (4%) e etanol de cana-deaçúcar (15%) (MME, 2007). A prática do desenvolvimento sustentável implica na escolha destas alternativas considerando toda a cadeia de suprimento, o que pode ser feito por meio da aplicação da Análise de Ciclo de Vida (ACV) (IEA, 1999). Porém, a difusão da ACV nos países em desenvolvimento depende de considerações que se aplicam especificamente à realidade de cada sociedade por meio do desenvolvimento de procedimentos específicos capazes de equilibrar alcances e limitações. A partir da análise de um conjunto de referências selecionadas, este artigo propõe um procedimento baseado nas duas primeiras fases ACV para a comparação de alternativas de fontes de energia para transportes sob a óptica do consumo de energia. O procedimento é aplicado ao transporte rodoviário por automóveis na comparação entre gasolina com 25% de etanol, etanol e gás natural comprimido, considerando o seu uso final no tráfego urbano no Município do Rio de Janeiro e baseando-se em dados representativos da realidade brasileira. Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 201 2. Aplicação Da Acv Às Fontes De Energia Para Transporte Os estágios típicos do ciclo de vida de um produto são extração e processamento de matéria-prima, produção e uso final; sendo os três primeiros relacionados à cadeia de suprimento (ABNT, 2001). Não existe um único método para conduzir a ACV (Hanssen, 1998; Culaba e Purvis, 1999;), havendo flexibilidade para prática com base nos requisitos mínimos da norma. Investigar a aplicação da ACV às fontes de energia para o transporte rodoviário é um dos objetivos deste artigo. Doze trabalhos que tratam deste assunto foram selecionados para análise e sua síntese encontra-se na Tabela 1. 1995 1997 1998 1999 2000 2001 2001 2002 2002 2004 2005 2005 Furuholt Wrang et al. Sheeranet al. IEA Armstrong e Akhurst Berr et al. Hackney e Neufville Kadam Kreith et al. HU et al Wang et al Collela et al Aplicação da técnica Aplicação Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento USA China China EUA Índia EUA Gasolina, gasolina reformulada, óleo diesel, M85, E85, M100, E100, GLP, GNC, GNL, HC, eletricidade ICV Parcial ICV Parcial ICV Parcial: ICV Gasolina, oleo diesel, hidrogênio Metanol, gasolina e hidrogênio E85, gasolina GNC, HC, óleo diesel GTL, M100, eletricidade Completa: 4 fases E10 do ACV Parcial: ICV Comparação Comparação Comparação Comparação Desenvolver produto Comparação Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento Produzir deslocamento Comparação Comparação Comparação Austrália Completa: 4 fases Gasolina Premiun sem Comparação da ACV enxofre, E85, E10, GLP, GNC, GNL, B100, diesool, óleo diesel e óleo diesel GTL Gasolina, óleo diesel, GLP, GNC, M100, E100, B100, HC, eletricidade Gasolina, óleo diesel, GLP, GNC, M100, E100, B100, HC, DME B100, B20 e óleo diesel E85, E10 e gasolina Produzir deslocamento Função Produzir deslocamento Não divulga Parcial: ICV Parcial - ICV e interpretação Parcial: ICV e interpretação Comparação Propósito Objetivo Comparação CE CE EUA EUA Noruega Completa: 4 fases Gasolina, gasolina da ACV com MTBE e óleo diesel Ano Local Autores 1o nivel e 2o nível Não especifica Não especifica 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível 1o nível Largura Energia, CO 2 Suprimento 1 e uso final Médio prazo Valores médios nacionais e internacionais Valores médios nacionais Energia, CO 2, CO, HC, Curto prazo NO x, MP, SOx e custos Energia, CO 2, CO, HC, Curto prazo NO x, MP, Sox, CH4 Cadeia de suprimento e uso final Valores médios nacionais Valores médios nacionais Valores médios nacionais Cadeia de suprimento e uso final Curto prazo (ano do estudo) Curto prazo (ano do estudo) Médio prazo (12 anos de vida dos veículos) Valores médios nacionais e internacionais Energia Energia, CO2, CO, NO x, SOx, HC e MP Energia, CO 2, NO x, HCNM, MP Valores médios nacionais Valores médios dos países da CE Energia, CO 2, CO, HC, Curto prazo NO x, MP e custos Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento e uso final Valores médios nacionais e internacionais Valores médios nacionais e regionais Curto prazo (1 a 5 Valores médios dos anos) e longo prazo (15 países da OECD. a 25 anos) Energia, GEE e Curto prazo poluentes atmosféricos locais Energia, CO 2, NO x, CO, HC, MP Cadeia de suprimento e uso final Curto prazo (ano do estudo) e longo prazo (não definido) Dados proprietários Curto prazo (ano do estudo) Abrangência Geográfica Temporal Escopo Energia, GEE, Curto prazo (ano do poluentes atmosféricos estudo) locais Energia, CO 2, CH 4, N 2O Energia, CO 2, NO x, SOx, COV Profundidade Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento e uso final Cadeia de suprimento Comprimento Dimensões Btu/milha Tecnologia usual na data 1 ano de do estudo operação Tecnologia usual na data 200.000 km do estudo Tecnologia usual na data 200.000 km do estudo Tecnologia usual na data Não divulga do estudo Tecnologia usual na data 1 tonelada de do estudo bagaço seco Tecnologia usual na data Energia em 12 do estudo anos de vida do veículo Tecnologia usual na data g/t.km do estudo Tecnologia usual na data MJ/km do estudo Tecnologia usual na data GJ do estudo Tecnologia usual na data bhp-h do estudo Aprimoramento tecnológico para a produção do etanol no longo prazo Não considera 5 categorias 2 Categoria de Impactos Não considera Não considera Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica Não especifica Não considera Não considera Não considera Não considera 6 categorias 3 Equivalente mássico Não considera Equivalente Não considera energético e mássico Não especifica Não especifica Equivalente mássico Não considera Não especifica Equivalente energético Critério Unidade Funcional de Alocação Tecnologia usual na data litros do estudo Tecnológica 202 Transporte em Transformação XI Tabela 1: Síntese das referências selecionadas sobre aplicação de ACV as fontes de energia para o transporte rodoviário. Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 203 Legenda: EUA – Estados Unidos; CE – Comunidade Européia; MTBE – metil-terci-butil-éter; EX – mistura com X% de etanol e 100-X% gasolina, MX – mistura com X% de metanol e 100-X% de gasolina; BX – mistura com X% de biodiesel e 100-X% de óleo diesel; GLP – gás liqüefeito de petróleo, GNC – gás natural comprimido, GNL – gás natural liqüefeito; HC – hidrogênio comprimido; DME – di-metil-éter; GTL – gas to liquid. Notas: 1 – O trabalho não deixa claro quais são os estágios da cadeia de suprimento para cada alternativa; 2 – Consumo de combustível fóssil, aquecimento global, oxidantes fotoquímicos, acidificação e geração de resíduos sólidos; 3 – Consumo de combustível fóssil, aquecimento global, acidificação, eutrofização, toxidade humana e odor do ar; ICV – Aplicação parcial da ACV, considerando apenas as fases de objetivo e escopo e análise do inventário. 3. Proposta de Procedimento A partir dasDE referências bibliográficas selecionadas propõe-se um procedimento 3. PROPOSTA PROCEDIMENTO A partirnadastécnica referências propõe-se um procedimento baseado de baseado de bibliográficas ACV para selecionadas uma primeira abordagem na comparação na técnica de ACV para uma primeira abordagem na comparação de alternativas de fontes alternativas de fontes de energia para o transporte sob a óptica do consumo de energia. de energia para o transporte sob a óptica do consumo de energia. A Figura 1 apresenta o A Figura 1 apresenta o esquema do procedimento e baseia a discussão a seguir. esquema do procedimento e baseia a discussão a seguir. REFERÊNCIA REFERÊNCIA SP1 11 SPSP SP SP2 22 SPSP SP SP 3 33 FE1 11 FE FE PROPÓSITO PROPÓSITO FUNÇÃO FUNÇÃO ... ...... FE2 22 FE FE OBJETIVO OBJETIVO APLICAÇÃO APLICAÇÃO SP SP SPSP m-1 SP m m-1 mm (1) (1) (1) ... ...... FE3 33 FE FE (FE (FE ,SP ) (FE 11,SP 1,SP 1) 1 MCV MCV 1 1 (FE ) (FE 2,SP 2,SP 2) 2 MCV MCV 2 2 (FE ) (FE 3,SP 3,SP 3) 3 ... ...... (2) (2) (2) (7)(7) ... ... (FE (FE )) 3,SP 3,SP m-1m-1 (3) (3) (3) FEn-1n-1 FE FE n-1 ... ...... FE FEn nn FE ... ...... ... ...... ... ... ... ...... ...... ... ...... ... TEMPORAL TEMPORAL MCV MCV 4 4 ... ... (FE ,SP (FE ,SP n-1n-1 1) 1) MCV MCV k-1k-1 (FE (FE n,SP m)m) n,SP MCV MCV k k (5)(5) (4)(4) GEOGRÁFICA GEOGRÁFICA MCV MCV 3 3 TECNOLÓGICA TECNOLÓGICA (7)(7) [F][F] 1 1 ICV ICV 1 1 [F][F] 2 2 ICV ICV 2 2 [F][F] 3 3 ICV ICV 3 3 [F][F] 4 4 ICV ICV 4 4 ... ... ICV ICV k-1k-1 [F][F] k-1 k-1 [F][F] k k ICV ICV k k A1A1 A2A2 A3A3 A4A4 ... ... Ak-1 Ak-1 AkAk [F’][F’] 1 1 [F’][F’] 2 2 CC RR (8)(8) [F’][F’] 3 3 [F’][F’] 4 4 [F’][F’] k-1 k-1 [F’][F’] k k (6)(6) DIMENSÕES DIMENSÕES BANCO DEDE BANCO DADOS DADOS ABRANGÊNCIA ABRANGÊNCIA ESCOPO ESCOPO ETAPA ETAPA1 1 ETAPA DODO ETAPA2 2 ANÁLISE ANÁLISE INVENTÁRIO INVENTÁRIO FASE FASE1 1 FASE 22 FASE AVALIAÇÃO AVALIA ÇÃO DOS DADOS DOS DADOS COMPARAÇÃO COMPARAÇÃO DOS DOS RESULTADOS RESULTADOS FASE 4 4 FASE 3 3 FASE FASE Legenda - (1) Fontes de energia para transporte; (2) Comparar alternativas; (3) Produzir deslocamento; (4) Dados de restrição e relacionamento; (5) Limites do sistemapara de produto; (6) Dados o inventário; (7) Dados para (8) Dados para Legenda - (1) Fontes de energia transporte; (2) para Comparar alternativas; (3) reavaliação; Produzir deslocamento; (4) comparação; FE: Fonte de energia; SP: Sistema de propulsão; MCV: Modelo de Ciclo de Vida; ICV: Inventário de Ciclo de Vida; [F]: Dados de restrição relacionamento; Limites sistema de produto; (6)avaliados Dadosdopara inventário; Matriz de fluxos doe ICV; A: Avaliação da(5) qualidade dosdo dados; [F’]: Matriz de fluxos ICV;o C: Comparação(7) dosDados R: Relatório de resultados. pararesultados; reavaliação; (8) Dados para comparação; FE: Fonte de energia; SP: Sistema de propulsão; MCV: Modelo Figura 1: Estrutura dode procedimento de Ciclo de Vida; ICV: Inventário de Ciclo de Vida; [F]: Matriz fluxos do ICV; A: Avaliação da qualidade dos dados; [F’]: Matriz de fluxos avaliados do ICV; C: Comparação dos resultados; R: Relatório de resultados. 3.1. FASE 1: Objetivo e escopo O objetivo desdobra-se em aplicação aos ciclos de vida das fontes de energia para o Figura 1: Estrutura do procedimento transporte, propósito de comparar alternativas e função de produzir deslocamento. Na ETAPA 1 do escopo, a consideração de limites para a abrangência geográfica, temporal e tecnológica restringe e relaciona as fontes de energia (FE), associadas à cadeias de suprimento e os sistemas de propulsão (SP), associados ao uso final. Cada par (FE, SP) deve ser caracterizado de modo tão específico e detalhado quanto necessário. Na ETAPA 2 do escopo, para cada par (FE, SP) são associados modelos de ciclo de vida (MCV) que 204 Transporte em Transformação XI 3.1. FASE 1: Objetivo e escopo O objetivo desdobra-se em aplicação aos ciclos de vida das fontes de energia para o transporte, propósito de comparar alternativas e função de produzir deslocamento. Na ETAPA 1 do escopo, a consideração de limites para a abrangência geográfica, temporal e tecnológica restringe e relaciona as fontes de energia (FE), associadas à cadeias de suprimento e os sistemas de propulsão (SP), associados ao uso final. Cada par (FE, SP) deve ser caracterizado de modo tão específico e detalhado quanto necessário. Na ETAPA 2 do escopo, para cada par (FE, SP) são associados modelos de ciclo de vida (MCV) que estabelecem as dimensões da aplicação e os fluxos a serem considerados. Recomenda-se uma estrutura modular para elaboração dos MCV (Figuras 2 e 3), com três níveis de profundidade, na forma de macro-estágios, meso-estágios e micro-estágios, que permite a prática de refinamentos sucessivos, garantindo equivalência entre os níveis. Como os microestágios são específicos para cada ciclo de vida, recomenda-se que a comparação de alternativas se faça no nível de meso-estágios, onde se consegue melhor equidade. Quanto à largura, inicialmente recomenda-se considerar o nível 1 (insumos e cargas ambientais diretamente associadas aos processos). Refinamentos podem ser obtidos considerando-se os níveis 2 e 3. Sob a ótica do consumo energético é comum que sejam considerados para cada processo os fluxos de energia total (ET); energia de origem renovável (ER) e gases de efeito estufa (GEE) oriundos do consumo de energia. Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil MACROESTÁGIOS MESOESTÁGIOS USO FINAL CADEIA DE SUPRIMENTO PRODUÇÃO DE MAT ÉRIA-PRIMA PRODUÇÃO DA FONTE DE ENERGIA TRANSPORTE DE MAT ÉRIA-PRIMA INTERNACIONAL PRODUÇÃO DE ETANOL ANIDRO EXPLORAÇÃO PRODUÇÃO BT1 E1 DISTRIBUIÇÃO DA FONTE DE ENERGIA BC2 BC1 BD1 E2 TR1 BD2 E4 BC3 USO FINAL TR2 TM MICROESTÁGIOS 205 BT2 E5 BA1 CD1 CA1 REFINO PROCESSAMENTO NACIONAL EXPLORAÇÃO PRODUÇÃO BT3 E3 BT4 CT1 Legenda Petróleo Gasolina C Gasolina A Etanol anidro Gás natural BA: bombeio para abastecimento; BC: bombeio para carregamento; BD: bombeio para descarregamento; BT: bombeio para transporte por duto; E: estoque; TM: transporte marítimo; TR: transporte rodoviário; CT: compressão para transporte por duto; CD: compressão para distribuição por duto; CA: compressão para abastecimento. Figura 2: Modelos de Ciclo de Vida (MCV) da gasolina C e do gás natural comprimido. 206 Transporte em Transformação XI MACROESTÁGIOS MESOESTÁGIOS USO FINAL CADEIA DE SUPRIMENTO PRODUÇÃO DE MAT ÉRIA-PRIMA TRANSPORTE DE MAT ÉRIA-PRIMA PRODUÇÃO DA FONTE DE ENERGIA DISTRIBUIÇÃO DA FONTE DE ENERGIA DISTRIBUIÇÃO DE GASOLINA C PRODUÇÃO DE INSUMOS AGRÍCOLAS(1) BC4 MICROESTÁGIOS SUPRIMENTO DE INSUMOS AGRÍCOLAS(2) TR3 AGRICULTURA (3) CR PRODUÇÃO TR4 BD3 E6 BC5 TR5 E7 Legenda USO FINAL Cana-de-açúcar Etanol anidro BA2 Etanol hidratado BA: bombeio para abastecimento; BC: bombeio para carregamento; BD: bombeio para descarregamento; CR: carregamento; E: estoque; TR: transporte rodoviário. Notas - (1): Energia embutida em mudas = 5,87 MJ/ tc ; fertilizantes = 66,49 MJ/tc; calcário = 7,14 MJ/tc; herbicidas = 11,26 MJ/tc e inseticidas = 0,79 MJ/tc (Nogueira, 1987; CTC, 2003); (2): Óleo diesel para transporte de mudas, fertilizante orgânico e químico no valor de 8,2 ± 0,8 MJ/tc (CTC, 2003); (3): Preparação do solo, plantio e colheita mecanizada. Figura 3: Modelo de Ciclo de Vida (MCV) do etanol hidratado (EH) e anidro. 3.2. FASE 2: Análise do inventário Realiza-se a coleta de dados para cada um dos MCV resultantes da FASE 1, ao que se denomina inventário de ciclo de vida (ICV). Numa pesquisa preliminar quantificam-se os dados com pouca preocupação quanto a qualidade, promovendo refinamentos sucessivos posteriormente. Como resultado da FASE 2, para cada MCV associa-se uma matriz [F] de fluxos por processo, que sofrerá avaliação da qualidade dos dados na FASE 3. 3.3. FASE 3: Avaliação dos dados O critério de avaliação varia em função da necessidade de cada estudo. Para uma abordagem preliminar recomenda-se um critério baseado em Maurice Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 207 et al. (2000) que propõe avaliações quanto ao: (1) peso que os fluxos individuais de insumos e cargas ambientais de cada processo têm em relação aos respectivos fluxos totais no ciclo de vida (Pmin); (2) intervalo de variação dos valores de cada fluxo (Tmax)e (3) origem, que pode ser uso específico ou uso geral. Como resultado da FASE 3 obtém-se uma matriz [F’] de fluxos avaliados por meso-estágio para cada alternativa. 3.4. FASE 4: Comparação dos resultados A comparação dos resultados pode seguir diversos critérios, sendo possível a comparação dos valores de [F’] para cada alternativa entre si ou com uma referência, fornecendo uma hierarquia, ou a parametrização das alternativas considerando uma alternativa ou os melhores resultados de cada alternativa como referência. 4. Verificação do Procedimento A verificação do procedimento será feita por meio da seleção de uma situação típica, porém não restritiva, de transporte de passageiros no Brasil. 4.1. FASE 1: Objetivo e escopo Escolheu-se como aplicação os ciclos de vida de fontes de energia para o transporte por automóvel, o propósito de comparar alternativas e como função o deslocamento de passageiros. Decorre da função a escolha da unidade funcional de 1 pass.km. 4.1.1. FASE 1 – ETAPA 1 - Abrangência Adotou-se como abrangência geográfica o transporte urbano no Município do Rio de Janeiro, selecionando alternativas de fontes de energia (FE) para um sistema de propulsão (SP) disponível no mercado no momento presente, com viabilidade legal, tecnológica, econômica e disponibilidade de dados, conforme Tabela 2. Tal escolha não limita a aplicação do procedimento e se justifica pelas considerações apresentadas a seguir. 208 Transporte em Transformação XI Tabela 2: Caracterização dos pares de alternativas (FE, SP) Fonte de energia Nome Gasolina C Sigla Caracterização GC Mistura com 85% de gasolina obtida do refino de petróleo e 25%(1) de etanol anidro obtido a partir do processamento da cana-de-açúcar Gás natural GNC comprimido Etanol hidratado EH Gás natural associado ao petróleo purificado e comprimido Etanol hidratado obtido a partir do processamento da cana-de-açúcar Sistema de propulsão(2) Nome Convencional Bi-combustível Flexible-fuel Alternativas Sigla Caracterização SPC Automóvel(3) dedicado ao uso de gasolina C (GC,SPC) SPBC Automóvel(3) dedicado ao uso de gasolina C e adaptado ao uso de GNC(4) (GNC,SPBC) SPFF Automóvel(3) capaz de consumir gasolina C e/ ou etanol hidratado(5) (EH,SPFF) Notas: (1) Este era o percentual vigente na época da elaboração do artigo, que pode variar entre 20% e 25% em função de política do governo. (2) Perfil de operação: tráfego urbano com velocidade média do fluxo de 12 km/h, ar condicionado ligado e ocupação média de 1,5 passageiro por veículo (PDT-RJ, 2006); (3) Veículo pequeno de 1.450 kgf de peso vazio, equipado com motor alternativo de combustão interna de ignição por centelhamento com 1,6 dm3 de cilindrada e 97 cv de potência máxima e sistema de transmissão mecânico; (4) Pressupõe predominância do uso de GNC, embora também possa consumir gasolina C; (5) Considera-se que os veículos flexible-fuel utilizam predominantemente etanol. Desde 2003 comercializa-se no Brasil veículos flexible fuel, que utilizam gasolina C e etanol em qualquer proporção de mistura (ANFAVEA, 2006). Entre 1996 e 2005, os automóveis de passageiros representaram 89% das vendas de veículos que consomem gasolina C e/ou etanol, incluído aqui os automóveis flexiblefuel que responderam por 53% das vendas (ANFAVEA, 2006). Estes veículos podem ser adaptados para consumo de gás natural comprimido (GNC) assumindo a configuração bi-combustível. Em 2006, cerca de 4% frota brasileira de automóveis apresentava esta configuração e o Rio de Janeiro respondia por 42% desta fração, com a maior frota brasileira movida a GNV (GASNET, 2007). Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 209 4.1.2. FASE 1 – ETAPA 2 - Dimensões As Figuras 2 e 3 apresentam os MCV adotados para as alternativas da Tabela 2. Numa primeira abordagem, para cada micro-estágio considerou-se: energia total, energia renovável e emissão líquida (gás emitido na queima do combustível e não reabsorvido na produção de matéria-prima) de dióxido de carbono (CO2). Metade do petróleo para suprimento do município do Rio de Janeiro (cerca de 7 x 106 m3) é proveniente de jazidas on-shore do Oriente Médio e o restante de jazidas off-shore na Bacia de Campos (ANP, 2003, Medeiros, 2003). Admitese o transporte marítimo do petróleo importado por 8.746 ± 262 milhas náuticas (Dobson & Beresford, 1989) em navios-tipo de 300.000 TPB; o transporte poçoterminal no Oriente Médio por 145 ± 15 km em oleodutos (Rio Oil & Gas, 2002) e terminal-refinaria no Brasil em oleoduto por 125 km. O transporte poço-refinaria do petróleo nacional é realizado exclusivamente em oleoduto por 334 km (Transpetro, 2002). Nos terminais nacionais, o petróleo é mantido aquecido para bombeio (Petrobras-Conpet, 2003). Após o refino, a gasolina A (sem adição de etanol) é bombeada por dutos para tanques próximos da refinaria, onde se adiciona 25% de etanol anidro, produzindo gasolina C. Esta é carregada em caminhões-tipo com 30.000 l de capacidade que a distribuem para postos a distância de 26,23 ± 1,84 km (Menezes, 2004). O gás natural associado ao petróleo nacional pode ser reinjetado no poço, queimado, consumido como energia nas plataformas ou disponibilizado para uso (ANP, 2003, Petrobras-Conpet, 2003). O gás disponível é transportado em gasodutos por 452 km até a unidade de processamento (Transpetro, 2002). Após processamento, é distribuído por uma rede de 638 km de gasodutos até postos (SEINPE, 2000), onde é comprimido a 220 atm para abastecer os veículos. Admite-se que todo o etanol consumido no município do Rio de Janeiro é produzido em São Paulo e transportado em caminhões-tipo com 30.000 l de capacidade por 697 ± 24 km até a base de distribuição no Rio de Janeiro (UDOP, 2004, Menezes, 2004). A partir deste ponto segue o modelo de distribuição da gasolina C. A matéria-prima para a produção do etanol é a cana-de-açúcar que é transportada em caminhões com 23 t de capacidade por 20 ± 5 km até as usinas. Admite-se colheita mecanizada em 25% da plantação e colheita manual com carregamento mecanizado no restante. 210 Transporte em Transformação XI 4.2. FASE 2: Análise do inventário O óleo diesel e o gás natural (GN) consumidos na produção de petróleo e GN nacional foram obtidos de inventários anuais realizado no período de 1990 a 2003. Como critério de alocação utilizou-se o rateio mássico (0,043 kg GN / 1 kg petróleo). O óleo diesel consumido na exploração e o GN reinjetado foram alocados exclusivamente ao petróleo, pois têm como finalidade a sua obtenção (Petrobras-Conpet, 2003). Para o petróleo, os valores obtidos foram: 0,0042 ± 0,0005 tEP/t (exploração) e 154 ± 11 MJ/barril (produção) e para o GN, 2004 ± 140 MJ/t (produção). Para o petróleo importado, adotou-se 0,0075 ± 0,0004 tEP/t para exploração on-shore e 97 ± 5 MJ/barril para produção. Admite-se o uso de óleo diesel na exploração e GN na produção (Sheehan et al, 1998). O bombeio de petróleo nacional (BT2, BT3 e BT4) consome 0,0311 ± 0,0031 kWh/t.km de energia elétrica e (1,79 ± 0,23).10-4 tEP/t para aquecimento nos terminais (E2 e E3) com óleo combustível e GN (Petrobras-Conpet, 2003). Adotouse 0,0144 ± 0,0007 kWh/t.km de GN para o bombeiro de petróleo no Oriente Médio (BT1) (Sheehan et al, 1998) e o dado nacional para aquecimento no terminal E1. Para o transporte marítimo (TM) adotou-se consumo entre 1,543 e 1,637 g/t.milha de óleo combustível para capacidade entre 328.000 e 347.000 m3. O carregamento e descarregamento (BC1 e BD1) consomem entre 3,7 e 3,5 t/h de óleo combustível (Transpetro, 2002, Gabina, 2004). A série histórica (1990 a 2003) do consumo de óleo combustível, GN, gás de refinaria, coque e energia elétrica para refino de petróleo e processamento de GN foi obtida de Petrobras-Conpet (2003). No período de 1999 a 2003 obteve-se a produção de gasolina A e derivados de ANP (2003), sendo possível calcular a eficiência energética do processo (89% a 91%) e os balanços de massa e energia (6% a 8%). Dividiu-se a energia elétrica e o GN consumido pela massa dos derivados do petróleo e do GN seco e os demais combustíveis apenas pelos derivados de petróleo (Petrobras-Conpet, 2003). Os valores obtidos foram: 3798 ± 190 MJ/t (gasolina A) e 509 ± 25 MJ/t (GN). O carregamento de caminhões para distribuição de gasolina C (BC3) consome 2,32 ± 0,17 MJ/t de energia elétrica (Petrobras-Conpet, 2003; Marques, 2003). Os valores típicos de eficiência energética para o caminhão-tipo de 30.000 l de capacidade (TR1 e TR2) variam entre 1,81 e 2,25 km/l (Volvo, 2000) e adotou-se o consumo de Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 211 energia elétrica no abastecimento (BA1) como 0,654 ± 0,033 MJ/m3 (Gilbarco, 2004). O estoque na base (E4 e E6) e no posto (E5 e E7) não consomem energia. Os dados de energia elétrica consumida no transporte de GN até o processamento (CT1) foram obtidos de Petrobras-Conpet (2003) por meio de série histórica (1990 a 2003) no valor de 30 ± 0,9 MJ/t. Este mesmo valor foi utilizado como uma aproximação subestimada para a distribuição de GN (CD1), em função da dificuldade na obtenção de dados específicos. Para compressão para abastecimento (CA1) adotou-se 1021 ± 94 MJ/t (Petrobras-Conpet, 2003). Na cadeia de suprimento do etanol admite-se 65 tc/ha (tc = tonelada de canade-açúcar) para a produção de cana-de-açúcar e 85,4 l/tc para a produção de etanol (Lima e Marcondes, 2002; CTC, 2003). Por uma questão de coerência com os trabalhos apresentados na Tabela 1 considerou-se a energia embutida nos insumos agrícolas e seu suprimento, embora se trate de fluxos de 2º nível. A cada 5 anos a agricultura envolve o cultivo da cana-planta (1 vez), das soqueiras (3 vezes) e colheita mecanizada (4 vezes), utilizando equipamentos que consomem óleo diesel e totalizam 25,10 ± 2,25 MJ/tc (CTC, 2003). O consumo de energia para a produção de matéria-prima totalizou 1807 ± 45 MJ/tEH (tEH = tonelada de etanol hidratado). O carregamento (CR) e transporte (TR3) de cana-de-açúcar até as destilarias utiliza carregadeiras e caminhões que consomem óleo diesel em taxas de 16,25 ± 1,62 l/ha e 0,0209 a 0,0231 l/t.km, respectivamente. (CTC, 2003; Ribeiro, 2004). O consumo de energia para o transporte de matéria-prima totalizou 553 ± 31 MJ/tEH. Admite-se que toda a energia necessária para a produção de etanol é obtida da queima de 232 kg/tc de bagaço com PCI de 1650 kcal/kg e eficiência na conversão de vapor de 78%, produzindo excedente de 8% de bagaço que é considerado como co-produto pelo potencial de geração de energia elétrica comercializável (Coelho et al, 1997; Lima e Marcondes, 2002; CTC, 2003). Obteve-se 58% de eficiência energética do processo, 7% para o balanço de massa, 0,3% para o balanço de energia e 13.355 ± 668 MJ/tEH. Por analogia aos cálculos adotados para a gasolina C, obteve-se 519,6 ± 92 MJ/tEH para o carregamento, descarregamento (BC4 e BD3) e transporte rodoviário da usina até a base de distribuição (TR4) e 48,6 ± 9 MJ/tEH para a distribuição urbana (BC5 e TR5) e abastecimento (BA2). 212 Transporte em Transformação XI Para cada sistema de propulsão apresentado na Tabela 2, foram coletados dados de campo de eficiência para 3 veículos com as características e perfil operacional descritos nas notas (2) e (3) (Gomes, 2004). Adotou-se posição conservadora, escolhendo-se os menores valores por alternativa, que foram: 8,76 ± 0,52 km/l para (GC, SPC); 9,47 ± 0,38 km/m3 para (GNC, SPBC) e 5,47 ± 0,27 km/l para (EH, SPFF). 4.3. FASE 3: Avaliação dos dados A finalidade desta fase é orientar uma possível reavaliação dos dados por meio da identificação de fluxos críticos. Os parâmetros adotados foram: Pmim=10% e Tmax=5% (Maurice et al., 2000). Apenas as variações relativas aos fluxos de uso final para a alternativa (GC, SPC) ultrapassam em 1,022% Tmax estando associadas aos resultados do levantamento de campo da eficiência energética dos veículos escolhidos. A consistência dos resultados foi testada por meio de sua comparação com dados de referências bibliográficas que refletissem a realidade brasileira (Clauset, 1999; Gerrero, 2003). 4.4. FASE 4: Comparação dos resultados e discussão Por facilitar a visualização dos resultados, optou-se pela comparação paramétrica. As Figuras 4, 5 e 6 baseiam a discussão dos principais resultados. Com exceção da distribuição, a alternativa (EH, SPFF) apresenta os maiores consumos de energia total por meso-estágios, sendo a energia embutida nos insumos agrícolas decisiva para tornar o consumo de energia total da produção de matéria-prima superior em 32% a alternativa (GC, SPC) e 38% a alternativa (GNC, SPBC). Esta última se privilegia da não consideração do óleo diesel consumido na exploração do GN associado. A diferença entre o consumo de energia total para o transporte de matéria-prima de cada alternativa é função do modo de transporte e do critério de alocação mássica na conversão da matéria-prima em fonte de energia. O GN é transportado por gasodutos e o petróleo por oleodutos e navios, modos de maior eficiência energética que o modo rodoviário, utilizado para a cana-de-açúcar. Adicionalmente, admite-se que uma pequena fração da massa da cana-de-açúcar, o equivalente a 85,4 l/tc, é transformada em etanol, enquanto para o petróleo e GN, a menos das pequenas perdas de processo, a matéria-prima é integralmente transformada em co-produtos comercializáveis. Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil Percentual sobre o maior valor 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Produção MP Transporte MP Produção FE Distribuição FE Uso final Ciclo de vida (GC,SPC) 67,79% 39,77% 27,04% 16,27% 82,88% 64,21% (GNC,SPBC) 61,80% 3,06% 2,17% 100,00% 95,85% 65,45% (EH,SPFF) 100,00% 100,00% 100,00% 97,00% 100,00% 100,00% Legenda – MP: matéria-prima; FE: fonte de energia. Figura 4: Energia total consumida em cada alternativa Percentual sobre a energia total 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Produção MP Transporte MP Produção FE Distribuição FE Uso final Ciclo de vida (GC,SPC) 0,00% 6,63% 54,18% 2,18% 18,31% 21,87% (GNC,SPBC) 0,00% 100,00% 0,00% 100,00% 0,00% 2,10% (EH,SPFF) 0,00% 0,00% 100,00% 1,35% 100,00% 93,33% Legenda – MP: matéria-prima; FE: fonte de energia. Figura 5: Energia renovável associada a cada alternativa Percentual sobre o maior valor 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Produção MP Transporte MP Produção FE Distribuição FE Uso final (GC,SPC) 100,00% 37,83% 100,00% 14,71% 84,14% 93,59% (GNC,SPBC) 98,87% 0,00% 10,31% 0,00% 100,00% 100,00% (EH,SPFF) 66,65% 100,00% 0,00% 100,00% 0,00% 7,93% Legenda – MP: matéria-prima; FE: fonte de energia. Ciclo de vida Figura 7: Emissões líquidas de CO2 associadas a cada alternativa 213 214 Transporte em Transformação XI Além de apresentar o menor consumo de energia total, o transporte de GN utiliza exclusivamente energia renovável (hidrelétrica) e por hipótese não apresenta emissões líquidas de CO2. Isso não ocorre para as alternativas (GC, SPC), onde apenas uma pequena parte da energia total é renovável e (EH, SPFF), onde toda a energia consumida é de origem fóssil (óleo diesel), produzindo emissões líquidas de CO2 com perfil semelhante ao consumo de energia total. O consumo de energia total para a produção de etanol é 3,7 vezes maior que para a gasolina C e 46 vezes maior que para o GN, porém, toda a energia consumida é biomassa o que leva a inexistência de emissões líquidas de CO2. A maior parte da energia renovável observada na produção de gasolina C (99%). O maior consumo de energia total na distribuição ocorre para a alternativa (GNC, SPBC) e está associado à energia elétrica utilizada na compressão para abastecimento. A utilização do óleo diesel em transporte rodoviário implica nas maiores emissões líquidas de CO2 para o etanol este meso-estágio. Para a distribuição da gasolina C, a energia total e a emissão líquida de CO2 representam, respectivamente, 16% e 15% das obtidas para o etanol. Esta diferença está associada ao transporte do etanol até a base de distribuição, uma vez que a partir deste ponto, o modelo de distribuição é idêntico para as duas alternativas. Os consumos de energia total para o transporte de matéria-prima e a distribuição da fonte de energia da alternativa (EH, SPFF) apresentam valores da mesma ordem, embora o último meso-estágio considere deslocamento muito maior. Este é mais um reflexo da relação mássica entre a cana-de-açúcar e o etanol que só fica claro considerando-se toda a cadeia de suprimento. A alternativa (GC, SPC) apresenta o melhor desempenho para o uso final, com consumo de energia total 13,5% menor que a alternativa (GNC, SPBC) e 17% menor que a alternativa (EH, SPFF). Para esta última as emissões líquidas de CO2 são nulas, por se tratar de energia com origem na biomassa. A parcela de etanol adicionada à gasolina C contribui para a redução da emissão líquida de CO2 em seu uso final, o que não ocorre para o GNC, responsável pela maior emissão líquida de CO2 neste meso-estágio. A parcela do etanol na gasolina C representa 38% de energia renovável na energia total da cadeia de suprimento da alternativa (GC, SPC), percentual mais Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 215 expressivo que os 18,31% obtido para o uso final e os 21,87% obtidos para o ciclo de vida. Constatação que só é possível por meio da análise do ciclo de vida. A alternativa (GC, SPC) é a que apresenta o menor consumo de energia total para o ciclo de vida, com desempenho semelhante à alternativa (CNG, SPBC) e 36% melhor que a alternativa (EH, SPFF), sendo que esta última apresenta a vantagem de utilizar predominantemente energia renovável (93%) e apresentar a menor emissão líquida de CO2. Porém, os seguintes aspectos devem ser considerados: a fração de etanol na gasolina C representa uma parcela de energia renovável em todo o seu ciclo de vida o que não se verifica no GN; o MCV estabelecido para o GN associado às incertezas nos dados para a distribuição do GN podem ter subestimado o seu consumo de energia; a alternativa (EH, SPFF) ainda apresenta oportunidades de melhoria significativas nos meso-estágios de transporte de matéria-prima e distribuição, indicando a direção de futuros estudos. Os resultados obtidos representam a realidade brasileira limitada à abrangência do modelo. Esta situação privilegia as alternativas (GC, SPC) e (GNC, SPBC) pela proximidade entre o local de produção da matéria-prima, em sua totalidade ou em parte, e o local de uso final. Tais resultados não devem ser adotados como médias nacionais, o que implicaria da determinação de outra abrangência. Para as alternativas (GC, SPC) e (GNC, SPBC) a cadeia de suprimento consome respectivamente 18% e 7% da energia total do ciclo de vida. Estes valores são comparáveis com os obtidos por IEA (1999), sendo de 13% a 21% para a gasolina e de 6% a 13,5% para o GN. No caso da alternativa (EH, SPFF), a cadeia de suprimento responde por 36,5% da energia total do ciclo de vida, valor bem inferior a faixa de 50,5% a 92% apresentada por IEA (1999), porém, considerando etanol produzido a partir de milho e beterraba. 5. Conclusões e Recomendações O procedimento sugerido apresenta aderência à técnica de ACV, estando alinhado a prática apresentada na literatura consultada. A adoção de três níveis na elaboração dos modelos de ciclo de vida (MCV), permite a prática de refinamentos sucessivos e garante equivalência entre os níveis. A associação de cada fonte de energia a apenas um sistema de propulsão, racionaliza a coleta de dados e facilita 216 Transporte em Transformação XI a comparação dos resultados. Os MCV apresentados são aplicáveis a qualquer tipo de atividade de transporte, bastando para isso que se caracterize adequadamente o uso final. Com isso, destaca-se a robustez e flexibilidade do modelo em face de diferentes aplicações. A aplicação representa uma contribuição para divulgação de conhecimento no que se refere às fontes de energia para o transporte em países em desenvolvimento, uma vez que considera dados representativos de uma parte da realidade brasileira, sendo a comparação das alternativas (GC, SPC) e (GNC, SPBC) com (EH, SPFF) um estudo inédito. A identificação da melhor fonte de energia para o transporte rodoviário por automóveis depende dos aspectos que se pretende valorizar. Se considerado apenas o menor consumo de energia total, o uso de gasolina C e GNC, nesta ordem, são as melhores alternativas. Porém, sob a ótica do uso de energia renovável e emissões líquidas de CO2, para as condições apresentadas, o uso de etanol é imbatível. Os resultados também destacam a adequação do procedimento em identificar, ao longo do ciclo de vida de cada alternativa, onde ocorrem vantagens específicas, em particular no uso de combustíveis renováveis oriundos da biomassa, opção praticada e interessante para a realidade brasileira. Procedimento de Análise de Ciclo de Vida para Comparação de Fontes de Energia para o Transporte no Brasil 217 Referências Bibliográficas ABNT (2001) NBR – ISO 14040 – Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida: Princípios e Estrutura. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ. ANFAVEA (2006) Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, www.anfavea. com.br/anuario2006/Cap02, acessado em 08/02/2007. 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