TerrorZine – Minicontos de Terror 1 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves São Paulo, Setembro/2008 Ano 01. Número 01 Circulação Gratuita Abel Reginatto Elenir Alves Marcelo Borghi O Segredo da Lareira O Confessionário Olhos de Superficie Ademir Pascale Frodo Oliveira Marcelo M. Marques Coruja Jezebel A Mala Homem, a Cobaia Macabra Adriano Siqueira Giulia Moon Márcio Benjamin Encontro com a Vampira A Senhora do Castelo Linha de Trem Alexandre Copelli Helena Gomes Martha Argel O Espelho Sem Testemunhas Diamantes Efêmeros Almir Pascale J. Modesto Nazarethe Fonseca O Velho Casebre A Existência de Deus Mentira Mortal André Beltrão João B. dos Santos Nelson Magrini Um Homem Guardado Bicho de Duas Cabeças Cativeiro de Vidro Anne C. Quiangala Jonatas T. Syrayama Ricardo Delfin Uno et continnum Luz no fim da estrada O Último Suspiro Arlequim N. Kathia Brienza Roberlandio A. P. Carne Moída Força Bruta Noites Urbanas Cláudio Brites Leandro “Radrak” Simone Marques Saturno Noturno Debutante Danny Marks Leonardo Brum Sr. Arcano O Buraco A Loja de Antiguidades Rancor Diego Piovesan Leonardo Grasel Waldick Garrett A Mão do Coração A Gosma A Herança TerrorZine – Minicontos de Terror 2 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Editorial É com grande orgulho que lançamos nesta sexta-feira (05/09/08) o zine TerrorZine – Minicontos de Terror. Seu diferencial são os minicontos; ótimo exercício, pois quem é escritor, tem que se adequar aos limitados textos, romper as barreiras e deixar a mente fluir. É verdade que alguns escritores ultrapassaram em poucas linhas o limite máximo exigido de 12 linhas. Eu sou um deles...(rsrs). Então decidimos que aceitaremos para o próximo zine, o limite máximo de 15 linhas. O nosso intuito é mostrar o excelente exercício que o miniconto gera; contar muito em poucas linhas, sem muitos detalhes, fazendo os nossos leitores imaginarem as incríveis cenas e preenchendo os detalhes não mencionados pelo autor, então, consecutivamente, os leitores serão co-autores. Neste TerrorZine – Minicontos de Terror nº 01, conseguimos reunir 33 excelentes minicontos, e como convidados especiais, temos: Nelson Magrini, J.Modesto, Giulia Moon, Helena Gomes, Nazarethe Fonseca, Martha Argel, Adriano Siqueira e Waldick Garret. Nossos singelos agradecimentos aos 31 escritores que nos apoiaram com belas palavras e incentivos. Agora pedimos o apoio de todos os escritores e leitores, para que divulguem o TerrorZine, enviem para seus amigos e disponibilizem o link para download deste nº 01 (www.cranik.com/terrorzine1.pdf) em seus blogs. sites, comunidades e newsletters. Além dos minicontos, ainda contamos neste número com duas excelentes entrevistas com os escritores Richard Diegues e Nelson Magrini, além de dicas de ótimas obras literárias. Você que ainda não participou ou já está participando, envie seu miniconto até o dia 30/09 para o TerrorZine – Minicontos de Terror nº 02. é só acessar a página: www.cranik.com/terrorzine.html, ler os procedimentos, fazer o download da ficha de inscrição, preencher com os seus dados, escrever seu miniconto e enviar para o e-mail: [email protected]. Desejamos uma ótima leitura e os alertamos para um perigo real: não leiam sozinhos, pois coisas estranhas poderão acontecer... Ademir Pascale e Elenir Alves Editores e Organizadores Fotos: Elenir Alves e Ademir Pascale Elenir Alves está lendo a obra “Caminhos do Medo” (Andross) TerrorZine – Minicontos de Terror 3 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Índice Abel Reginatto Ademir Pascale Adriano Siqueira Alexandre Copelli Almir Pascale André Beltrão Anne Caroline Quiangala Arlequim Noctâmbulo Cláudio Brites Danny Marks Diego Piovesan Elenir Alves Frodo Oliveira Giulia Moon Helena Gomes J. Modesto João Batista dos Santos Jonatas T. Syrayama Kathia Brienza Leandro “Radrak” Leonardo Brum Leonardo Grasel Marcelo Borghi Marcelo M. Marques Márcio Benjamin Martha Argel Nazarethe Fonseca Nelson Magrini Ricardo Delfin Roberlandio A. Pinheiro Simone Marques Sr. Arcano Waldick Garrett Entrevistas Livros (O Segredo da lareira).............................................. (Coruja Jezebel)...................................................... (Encontro com a vampira)........................................ (O Espelho)............................................................. (O velho casebre).......................................................... (Um homem guardado)................................................. (Uno et continnum)....................................................... (Carne Moída)............................................................... (Saturno)........................................................................ (O Buraco)..................................................................... (A mão do Coração)...................................................... (O Confessionário)........................................................ (A Mala)........................................................................ (A Senhora do Castelo).................................................. (Sem Testemunhas)....................................................... (A Existência de Deus).................................................. (Bicho de Duas Cabeças)............................................... (Luz no fim da estrada).................................................. (Força Bruta).................................................................. (Noturno)....................................................................... (A Loja de antiguidades)............................................... (A Gosma)..................................................................... (Olhos de Superfície)..................................................... (Homem, a cobaia macabra).......................................... (Linha de trem).............................................................. (Diamantes efêmeros).................................................... (Mentira mortal)............................................................ (Cativeiro de vidro)....................................................... (O último suspiro).......................................................... (Noites Urbanas)............................................................ (Debutante).................................................................... (Rancor)......................................................................... (A herança).................................................................... (Entrevista com Richard Diegues e Nelson Magrini).... (Dicas de Livros)........................................................... 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 46 TerrorZine – Minicontos de Terror 4 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Segredo da Lareira Abel Reginatto M olusco era o nome da Banda de quatro rapazes, há dois dias procurados pela polícia. O irmão de um deles, que sabia o local do ensaio, foi até uma casa antiga e misteriosa, e não notou que dois policiais o seguiram. Um entrou pela frente, o outro pelos fundos, e lá estava o jovem, lutando para não ser tragado para dentro de uma lareira. Conseguiram puxá-lo e penetraram em seu lugar. Subitamente os policiais voltaram e com o grupo, mas atrás deles, veio uma estranha entidade com formato humano, mas todo gelatinoso. Os policiais pegaram suas armas, mas, a criatura os engoliu e foi na direção do grupo. Eles não sabiam o que fazer, quando o baterista começou a tocar freneticamente e, para surpresa geral, aquele ser começou a inchar e explodiu. Os dois policiais surgiram ilesos, então todos entraram na lareira, notando que havia uma fenda que dava para um nada. A fecharam com cimento e combinaram jamais revelar a alguém. Abel Reginatto: nascido em Porto Alegre-RS, em 03 de fevereiro de 1950, é escritor, poeta e músico. Publicou o romance Corações e Mentes – A História de John Winston, em 2003; oito e-books no site de cultura, da cidade de Bauru-SP, www.avbl.com.br e lançou, na 20ª Bienal do Livro de São Paulo, o romance TAILA – A Bruxa. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 5 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Coruja Jezebel Ademir Pascale N atan, amigo e companheiro de diversas bebedeiras. Rapaz jovem que se foi cedo, muito cedo, não sei pra onde... Quem sabe para o céu ou mesmo para o inferno? Coruja Jezebel: noturno e crepuscular ser que passou a me acompanhar nas noites de solidão, a vigiar meus passos vacilantes e a pousar em meu ombro nas frias manhãs paulistanas, sempre antes de partir para os confins do inimaginável. Ave estrigiformes de rara beleza; murutucu, agourenta, às vezes mascote de Atena, outras, personificação de Lilith, ou apenas mero e pequeno demônio alado? Seu olhar indiscreto e seu irritante piado, passaram a me perseguir loucamente, noite após noite. Prenúncio de má sorte? Quem sabe, talvez pelo feminiu que a nomeei, enganando-me por completo, pois numa noite de trevas, após minha bebedeira noturna, sorrateiramente ela pousou em meu ombro esquerdo, deixando-me deveras irritado, e antes que eu lhe desse um forte e certeiro golpe com minha garrafa de uísque escocês, fixou seus vitrificados olhos nos cansados meus e, sem mais nem menos, como num pesadelo escrito pelo próprio Poe, vociferou: "Não se sinta só; para o céu não fui convidado e do inferno escapei. Agora estou do seu lado, velho companheiro, até o dia, em breve, que sua morte testemunharei..." Ademir Pascale: Lingüista, crítico de cinema, ativista cultural, escritor, idealizador do projeto de inclusão social “Vá ao cinema” e do zine TerrorZine – Minicontos de Terror. Administrador do portal Cranik (www.cranik.com) e dos sites (www.oentrevistador.com.br) e (www.divulgalivros.org) é autor do áudio-livro Cinema – Despertando seu olhar crítico, além de ter publicado seus contos em diversas antologias. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 6 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Encontro com a Vampira Adriano Siqueira O abraço da vampira deixou-me com eternas marcas. Uma conversa, um toque, um sorriso e a esperança de que cada noite será melhor, mas quente e mais apaixonante. A vampira disse que temos o dom de sermos o que quisermos ser, mas ela não. Ela me beijou e seguiu seu caminho. Fiquei ali... Calado, com lágrimas nos olhos. Tento olhar as estrelas, mas a minha vista estava embaçada demais. Imagino que caminho eu escolheria, mas não existe caminho nenhum. Meu coração tinha ido com ela. Coloco a mão no meu pescoço e sinto o meu sangue sair lentamente. Ela me mordeu. Meu sorriso voltou. Em breve então, irei encontrá-la! Adriano Siqueira: é colecionador sobre tudo o que existe em relação aos vampiros, além de escritor, produz curtas, radionovelas, Hqs e Quadros. Participou do livro Amor Vampiro junto com mais seis escritores. Produz o zine de contos de vampiros Adorável Noite que é distribuído em eventos e casas noturnas. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 7 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Espelho Alexandre Copelli O lhou para o espelho e refletiu. Refletida. Gorda como uma porca, ainda assim sua silhueta não preencheria toda aquela área. Algo disputava espaço entre a moldura. Lembranças? Sentia falta do tempo em que era amada e ainda caberia no espelho, mesmo que como agora, sob seu ombro, repousasse alma penada. O frango bateu asas no estômago, almoço querendo fugir. A galinha saiu, depenada, escorrendo pelo vidro em amarelo. Gotejando como as mãos rubras que vertiam sangue no espelho. Olhou para trás. Sozinha. Diante de si, via algo que não podia estar ali. Mas já estivera. Era o rosto nítido de seu falecido marido. Algo disputava espaço. Espírito? Culpa! Remorso pela traição, pela facada. Acidental. A traição não, o golpe. Com a mesma faca que agora saia do espelho. Pendurou o espelho, da filha. Suicida. Algo disputava espaço. Não viu os dois vultos sob seus ombros. O que ela teria para ver ali refletido? Refletindo? Alexandre Copelli: nasceu em Votorantim, São Paulo, em 1989. Estudante de Processamento de Dados. É co-autor de duas antologias de contos: O Livro Negro dos Vampiros, Andross. E Vampirus Brasil, Giz Editorial. Contato com o autor: [email protected] ou [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 8 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Velho Casebre Almir Pascale A o caminhar na calçada do velho casebre abandonado, me detive ao ouvir algumas vozes. No quintal da casa, havia um casal, um pequeno garoto e uma jovem com aproximadamente meus 15 anos. Eles vestiam roupas antigas, iguais às fotos do álbum de minha avó Benedita. Ao ver-me, a jovem de vestido branco com um crucifixo nas mãos, aproximou-se e falou: Sei que não me conhece, mas por favor, encontre um padre e diga à ele para entrar no porão desta casa. Lá ele encontrará o resultado da ação de uma esposa ciumenta, que há 49 anos, após envenenar e matar sua família, arrastou um a um para o porão, e cortando os pulsos, uniu-se à eles. À seguir, a jovem e sua família se despediram e entraram na casa. Horas depois, ao lado de meu pai e de um padre, encontramos quatro esqueletos no porão, e entre eles, um de vestido branco com um crucifixo nas mãos. Almir Pascale: São Paulo, 1968, de origem européia (Itália) por parte de mãe, é formado em Gestão Financeira, escritor, participou da Antologia Anno Domini pela editora Andross, e da Antologia Contos Fantásticos 12° volume pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores; ativista cultural e colaborador do Portal Cultural Cranik. (www.Cranik.com). Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 9 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Um Homem Guardado André Beltrão S entiu que não conseguiria abrir os olhos naquela manhã. Aquilo vinha se repetindo com uma freqüência cada vez maior, ele acordava mas não conseguia abrir os olhos nem se mexer por alguns instantes. O único sentido em alerta era o olfato, e sentia o cheiro de café quente. Primeiro foram segundos, parecia ter sido apenas uma impressão. Então, a cada vez, alguns segundos a mais, alguns minutos a mais. Sabia estar acordado há muito tempo, uma hora talvez. Ao redor, a casa vivia: ouvia murmúrios. Mexiam nele, em seus braços, em seu rosto. Cheiros variados, de álcool, medicamentos. O tempo já não existia, em ebulição interna porém inerte confundia as horas com minutos e já nem sabia em que pensar. Tinha sido levantado, carregado, remexido. Espetaram coisas, amarraram partes, muitas vozes diferentes, sons. Então o silêncio. O único cheiro era o do perfume de crisântemos e rosas. André Beltrão: Designer, sócio do escritório carioca Studio Creamcrackers e professor dos cursos de Design e Publicidade da UniverCidade/Rio de Janeiro. Tem contos publicados em antologias pelas editoras Andross e Guemanisse. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 10 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Uno et continnum Anne Caroline Quiangala A bri os olhos, não era possível que aquilo fosse real... mas era. Meus pés e mãos atados por correntes, o suor gotejando visivelmente. A lua já ia alta, o ritual enfim se iniciara, evidentemente. Suspensa a uma espécie de piscina repleta de cabeças soltas dos corpos, que meus pés tocavam caso não os encolhesse rigidamente. Fui embebida de uma estranha mistura composta por sangue, certamente. À medida que o tempo transcorria não era mais capaz de manter-me separada daquela pilha. Ao longo daquilo que bem poderia ser um templo das trevas, tamanha a imensidão e quantidade de mulheres em condições idênticas a minha, mesmas piscinas de cadáveres pútridos, mesmos cadáveres decapitados, mesmas incertezas... ou não. De uma hora para outra, todas, excetuando-me, foram empaladas de baixo para cima: tratava-se de uma sangria em honra de um deus que hoje sou sacerdotisa só e contínua. Anne Caroline Quiangala: nasceu em 19 de janeiro de 1990 em Vila Velha, Espírito Santo. Publica textos de sua autoria na revista independente Pequeno Almanaque Gótico, no blog www.carolquiangala.blogspot.com, além do site de terror: www.contosdeterror.com.br/contos/hostias.html. Contato com a autora: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 11 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Carne Moída Arlequim Noctâmbulo E u já estava cansado de tanto esperar pela hora de rever minha dama. -Ah, dama da noite. Eu olho para as estrelas imaginando nós dois no além, somente nós dois juntos e na Terra. Quinta-feira já à Noite. Precisava pegar o trem, mas eu não estava a fim de pagar a passagem. Eu me aproximava do muro e ao avistar uma pessoa que há poucas semanas desejava acabar com ela. Consegui pular o muro da estação sem a pessoa ver. Estava decidido a dar um fim nela. Cheguei por detrás dela, o trem vinha e rapidamente com meus pés dei um empurrão no individuo e ele caiu bem na frente do trem formando pedaços moídos. Um dos passageiros perguntou: “Onde está o segurança?” E eu respondi: “ele esta debaixo do trem todo despedaçado pra aprender a me deixar pular a estação”. Arlequim Noctâmbulo: é o pseudônimo de Tiago Freitas. nasceu em 1988 na cidade de Osasco/SP. atualmente trabalha como operador de máquinas e cursa técnico de informática. Escreve contos e apóia o incentivo à leitura. Ferrenho defensor da leitura e da ordem social. Seu trabalho é aos poucos divulgado em zines alternativos. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 12 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Saturno Cláudio Brites N ão havia no contato com os pés algo mais morno e cândido do que aquelas mãozinhas infantis, ainda mais quando paradas. Somente as mãos, pequenas, pisadas, em silêncio. Livres dos movimentos irritantes e sem controle. Todas elas, caídas, restos do banquete de um pai faminto. Cláudio Brites: nasceu na cidade de São Paulo, em 1983. Formado em letras trabalha no terceiro setor e escreve nas horas vagas, aos amigos diz que não é um escritor, mas um leitor que ousa escrever. Organizou as antologias de contos O Livro Negro dos Vampiros e Anno Domini - Manuscritos Medievais pela Andross Editora. Contato com o autor: www.hipocentro.blogspot.com. TerrorZine – Minicontos de Terror 13 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Buraco Danny Marks Q uando, por um acaso, o encontraram e o tiraram do buraco, não entenderam porque ele lutou tanto para ficar onde estava. Nem imaginavam de onde tirava tanta força, alimentando-se das frutas que caíam da árvore, dos vermes que habitavam o lugar, bebendo a água da chuva que empoçava no fundo. Trataram dele e o devolveram ao seu mundo, curado. Ainda hoje ele pensa no buraco, sonha com ele, mas não conta nada pra ninguém. Em algum lugar, o buraco aguarda pacientemente que ele atenda o chamado. Danny Marks: como é conhecido Daniel Teijeira Claro, nasceu em Santos – São Paulo. Aposentado, é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Santa Cecília e Ciência Evolucionária pela Irmandade Mística Filhos do Dragão. Critico de Cinema no portal www.cranik.com. Publicou anteriormente em Garimpo de Palavras e Letras Mínimas, pela Editora Guemanisse e Anno Domini e Caminhos do Medo, pela Editora Andross. Possui várias premiações em concursos literários. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 14 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Mão do Coração Diego Piovesan À frente de um espelho Amy mirava-se. Lá estava ela, com aquele rosto ossudo que lhe dava a aparência de um crânio com uma leve e fina camada de pele por cima. Estava deslumbrante, inteira de preto como deveria ser. A viúva negra. Indiferente, ela caminhou lentamente até a sala ao lado, onde um negro caixão lustroso a esperava. As poucas pessoas a volta tornou aquilo tudo mais fácil. Lá estava Christian, deitado com as mãos juntas a frente do peito. O relógio havia parado para ele. Tudo estava ao seu alcance agora que havia partido. Amy deixou cair uma lágrima na gélida e esbranquiçada mão de seu amado, que abriu os olhos vermelhos cheio de sua amaldiçoada vida: “Há espaço aqui para você, querida”. Enfim lá estava, em um mundo onde não havia mais tempo ou relógio, vazio e frio. Um mundo que seria deles, só deles. Para sempre. Diego Piovesan: estudante de Jornalismo, escreve desde quando não sabia falar quantos anos tinha sem mostrar nos dedos. Amante de música, filmes e livros de ficção. Perdido em um mundo de loucos maníacos homicidas, mas mesmo assim se diverte. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 15 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Confessionário Elenir Alves M arta está pronta esperando só dar o horário de ir até a pequena igreja, há dois quarteirões de sua casa, pois ela sempre se arrumara cedo para não chegar atrasada na missa que começa às 18h. Marta, 25 anos, vai a igreja desde os cinco. Filha única, de pais falecidos há 6 anos em acidente automobilístico. Hoje é independente e mora sozinha. Ao chegar na igreja às 17h45, Marta percebe apenas a presença de sua amiga Roberta, sendo que naquele horário, sempre encontrava a igreja cheia. Pensativa, pergunta pelo padre Israel para sua amiga, mas ela responde que chegou às 17h30 e até o momento ele não aparecera. Marta vai até o confessionário a procura do padre, mas para sua surpresa, antes de chegar lá, percebe uma sombra negra saindo atrás da porta da ante-sala do confessionário, assustada pela medonha visão, grita pelo padre Israel, mas, ao adentrar-se no pequeno recinto, encontra um corpo inerte de um conhecido padre. Elenir Alves: publicitária e escritora. Colabora regularmente com a revista Caderno Literário da editora Pragmatha, trabalhou 10 anos na área de R.H e trabalha atualmente na assessoria de imprensa do portal Cranik (www.cranik.com), além de organizadora e co-editora do zine TerrorZine – Minicontos de Terror. Contato com a autora: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 16 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Mala Frodo Oliveira - Q uero que saiba, sempre te achei uma mala sem alça! Você implicou com tudo o que eu gostava. Se era o futebol na TV, você queria ver a novela. Se eu planejava ir ao cinema, você sempre arranjava uma desculpa para não sairmos. Meus amigos nunca eram bons o suficiente. Uns fracassados, como você fazia questão de deixar bem claro. Uma mala, ouviu?... Sempre pronta a me humilhar, me fazer passar por idiota!... Agora chega! Cansei dessa vida, não sei onde estava com a cabeça quando me casei com você!... Adeus, até nunca mais. Sua mala... Deu uma gargalhada ensandecida, enquanto com as duas mãos, tentava fechar o zíper da grande mala onde o cadáver esquartejado da esposa teimava em não caber. Frodo Oliveira: é o pseudônimo de Frodovino Lemos de Oliveira, nascido em Recife/PE em 30/12/67 e residente há mais de vinte anos no Rio de Janeiro. Comerciário e acadêmico de Letras da Faculdade Simonsen, participou das antologias Noctâmbulos (2007), Caminhos do Medo (2008) e publicou o livro Extrema Perfeição (2008). Atualmente finaliza o segundo livro, A torre negra. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 17 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Senhora do Castelo Giulia Moon E le bateu à minha porta numa noite sem luar. Seu cavalo era negro, trazia um lobo gigantesco a saltar ao seu lado. “Senhora, dê-me abrigo”, disse, seus dentes brancos surgindo nos lábios entreabertos por um sorriso morno. Deixei-o entrar e servi-lhe vinho que não bebeu, carne que não provou, pão que recusou. Quis o que não lhe cabia, segurando-me com as mãos grandes e fortes, enquanto eu gritava um pouco de medo e um pouco de prazer. Isso foi há tempos. Hoje, restou apenas o seu corpo sem vida que apodrece nas masmorras. Restou também o grande lobo de caninos afiados, que monto nua nas noites de lua cheia. Grito sempre, uivos longos e cheios de sensações inexplicáveis. Sinto medo, ainda. E pressinto o prazer. Aquele que eu espero ainda não veio, ainda não veio, ainda não veio... Giulia Moon: é paulistana, já foi diretora de arte, ilustradora e diretora de criação em propaganda. Seus livros: Luar de Vampiros (Scortecci, 2003), Vampiros no Espelho & Outros Seres Obscuros (Landy, 2004), A Dama-Morcega (Landy, 2006), Amor Vampiro (Giz Editorial, 2008). Edita o fanzine FicZine e é co-editora da Scarium Megazine. Site: www.giuliamoon.com.br. TerrorZine – Minicontos de Terror 18 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Sem Testemunhas Helena Gomes E la gritou alto. Indiferente ao sofrimento que provocava, ele investiu toda a sua força no ataque. Não era a primeira vez, mas também estava muito longe de ser a última. Minúsculas gotas de sangue se uniram ao suor do corpo feminino. As lágrimas de dor roubavam-lhe a visão. Ele prosseguiu em seu ritual de voracidade. Mais dor. Mais lágrimas. O sangue ainda fluía quando ele aumentou sua ânsia pelo prazer que arrancava dela. Ávido, não se importava com a tortura. Por amor, ela lhe concederia tudo. Adorá-lo era sua salvação. E perdê-lo, seu maior terror. Ele a impedia de ser só, de morrer envolvida pela solidão. Não havia mais ninguém agora. Somente os dois. Lá fora, o vento frio surrava a velha cabana perdida na floresta. Enfim saciado, ele adormeceu. Com cuidado, ela o embalou na manta e o devolveu ao improvisado berço de madeira. Mais sofrimento a aguardava na próxima mamada. Até que seus seios adolescentes se acostumassem com a rotina de mãe que a fortalecia a cada dia. Helena Gomes: nasceu em Santos, São Paulo, em 1966. É jornalista e professora universitária, com especialização em Educação e Educação a Distância. Publicou os livros Assassinato na Biblioteca (Rocco, 2008), Lobo Alpha (Rocco, 2006), O Arqueiro e a Feiticeira (Devir, 2003), Aliança dos Povos (Idea, 2007) e Despertar do Dragão (Idea, 2008). É co-autora do livro Memórias da Hotelaria Santista (1997). Participou da antologia O Livro Negro dos Vampiros (Andross, 2007) e é coorganizadora da antologia de contos medievais Anno Domini (Andross, 2008). Blog: www.mundonergal.blogspot.com. TerrorZine – Minicontos de Terror 19 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Existência de Deus J. Modesto N ewton terminou de reler, pela última vez, o texto que produzira e ficou satisfeito. Em sua modesta opinião era seu melhor trabalho. O tema fora desenvolvido com maestria. “A existência de Deus” fora, claramente, uma forma de seu editor, católico fervoroso, provocá-lo, pois, sabidamente, Newton era um ateu convicto. De posse do trabalho, dirigiu-se até a redação, onde o editor o recebeu. Com um sorriso no rosto, Newton entregou-lhe o texto e ambos sentaram-se. Após lê-lo, e com lágrimas nos olhos o chefe cumprimentou-o, dizendo saber que Newton nunca fora um ateu e que sempre soubera que ele acreditava no Criador, fato provado pelo texto maravilhoso que produzira. Sem titubear, o escritor negou tal crença. Calmamente o escritor respondeu-lhe – É apenas uma história de ficçããããão! J. Modesto: nascido em 04/12/1966, Arquiteto e Urbanista, é autor das obras TREVAS e ANHANGÁ - A FÚRIA DO DEMÔNIO. Participou da coletânea AMOR VAMPIRO, com os contos AMANTE NOTÍVAGO e O ANJO E A VAMPIRA, todas publicadas pela GIZ EDITORIAL. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 20 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Bicho de Duas Cabeças João Batista dos Santos P uxou uma longa tragada. Depois, seguidamente, mais e mais. Queria chegar ao fundo do seu eu. Quando viu, estava em pânico total. "Ele existia mesmo, ou tudo não passava de um sonho?" Drogado de primeira viagem, saiu, nu, correndo pelas ruas, sem saber o que fazer. De repente estava no consultório da sua psiquiatra. - Por que você fez isso, sua besta? - berrou ela com uma das bocas. - Vem cá, meu anjo - sussurrou a mulher com a outra boca - não fica com medo não, que isso passa logo. Mas não passou. João Batista dos Santos: é de Londrina/PR. Tem 52 anos, é servidor público e escreve desde adolescente nos gêneros poesias, contos, crônicas e humor. Ganhou vários prêmios como poeta e contista. Lançou um livro de poesias: O Descanso do Guerreiro Distraído. Em 1999 lançou o zine Jornal Leco. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 21 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Luz no fim da estrada Jonatas Turcato Syrayama A cidente de carro. A pobre mulher tentou desviar de alguém que apareceu repentinamente na pista e acabou capotando o carro. Estava de cabeça para baixo e sangrando, arrastou-se para fora do pouco que sobrou do veículo. No fim da estrada viu uma luz branca e teve a sensação de estar indo para outro mundo. Olhou para dentro do carro e pode ver seu corpo entre as ferragens. Ficou apavorada e sentiu uma luz branca chamando-a. Ela não queria morrer, não queria partir. Então uma menina de uns oito anos apareceu e a pegou pela mão – “Venha comigo! Vamos fugir! Não deixem que eles nos peguem. Sentindo a luz aumentar e o medo a dominar, a pobre mulher correu com a garota para bem longe da luz, para que a morte não às alcançassem. Do outro lado da estrada em meio a escuridão a menina sorri – “Que bom que você não foi embora, agora nunca mais ficarei sozinha aqui nesta estrada. Nunca mais...” Jonatas Turcato Syrayama: de Praia Grande, SP, é formado em Letras, Especialista em Produção Textual e Mestrando em Educação. É professor universitário e escritor. Expõe trabalhos nos site www.recantodasletras.com.br. www.cranik.com e uma coluna no site www.oentrevistador.com.br. Publicou anteriormente em antologias de terror, ficção, entre outras. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 22 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Força Bruta Kathia Brienza U m filete de sangue escorre por sobre meus olhos, turvando minha visão, colando meus cílios. Sinto um cheiro estranho e, então, a dor aguda, profunda, lancinante, do ferro marcando meu corpo. Tento gritar, mas o joelho de um dos homens está pressionando meu pescoço contra o chão, me imobilizando. Mal consigo respirar. Uma lágrima escorre do meu olho esquerdo, que está muito perto do solo. Água, sal, sangue e terra se misturam; dor, desespero, impotência e humilhação se confundem, mas nada comove nenhum daqueles homens. Eles conversam, riem, contam piadas, alheios ao meu sofrimento. Partem, agora, para a última tortura: minhas pernas são puxadas para frente, amarradas, e meu saco escrotal tracionado para trás. A lâmina amolada rasga a pele, meus testículos imaturos são expostos e os canais que os prendem, rompidos com vigor, causando uma dor inenarrável. Tudo está acabado. Meu destino está traçado. Agora só me resta ir para o pasto, engordar. Kathia Brienza: nasceu em Santos, São Paulo, em 1964. Mestre em Letras e em Medicina Veterinária, trabalha, atualmente, como funcionária pública federal. Participou das antologias O Livro Negro dos Vampiros e Anno Domini da Andross Editora. Contato com a autora: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 23 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Noturno Leandro “Radrak” E u desperto. Não entendo porquê, mas meu coração está disparado. Meu corpo recusa-se a mover. Falta-me ar devido a uma pressão em meu peito. O que está acontecendo? O estranho toque move-se para perto de meu pescoço. Uma mão? Não consigo pensar. Nada enxergo na escuridão, mesmo assim fecho meus olhos com força. Uma dormência aflige meus membros. O silêncio nada revela, exceto o pulsar apavorado em meu peito. Uma respiração toca meu rosto. Nenhum cheiro. Somente um suspiro e o ar quente. A pressão diminui e ouço passos afastando-se. Sentido lágrimas fugirem de meus olhos permaneço ali, sem coragem para sequer tentar mover-me. Desperto novamente, a janela bate com o vento. Apenas rezo para que possa dormir mais uma vez. Para que tudo tenha sido somente um sonho. Leandro “Radrak”: vive em São José dos Campos-SP, nas horas vagas escreve contos e trabalha no romance Filhos de Galagah, de seu projeto intitulado Grinmelken. Autor do conto Batismo de Fogo, publicado na antologia Anno Domini, expõe seus trabalhos em www.grinmelken.com.br e blog.grinmelken.com.br. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 24 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Loja de Antiguidades Leonardo Brum E ntrou repentinamente na penumbra. Outra loja daquelas. Ninguém o encontraria ali. Olhou desconfiado a sua volta. Algo ali dentro o incomodava. Arte-décor, artnouveau, nada de valor. Apertava alguma coisa contra o peito. Ninguém poderia saber. “Ai, que porra é essa?”. Assustou-se com o palhacinho tocador de sanfona. Olhos acesos e vermelhos. Parecia vivo. Súbito, foi arremessado longe, deixando cair o que tinha nas mãos: Castiçais antigos de prata. Ouviu uma música soar. Sanfona. Olhos vermelhos ao longe, mais uma vez foi lançado contra a parede. Um frio dos diabos. “Quem está aí?”. Mas não houve resposta. Uma porta se abriu. Claridade da rua. Sirene de polícia. Um homem esbaforido sai correndo da Loja de Antiguidades e é preso sob o olhar curioso do policial. “Fanfantasma!”, berrava ele, “Eu vi um fantasma!” Leonardo Brum: tem 35 anos e é mineiro de Belo Horizonte, Minas Gerais. Participou da Antologia Sentido Inverso, 2008, da Andross. Publicará seu primeiro livro de suspense pela Editora Novo Século no próximo mês de outubro, intitulado Um Mundo Perfeito. Reside atualmente no Rio de Janeiro e dedica-se à conclusão de seu segundo livro. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 25 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Gosma Leonardo Grasel O lho para os lados. Nada. A escuridão é tamanha que sequer percebo minha existência. Tento mexer os braços, sacudindo-os, na esperança que meus olhos detectem algum lampejo de vida. Em vão! Para meu total desespero, percebo que, mesmo depois de algum tempo, minha visão não parece acostumar-se com aquela inexorável negritude. Arrisco o primeiro passo. O chão é estranhamente pegajoso, como se um tapete de cola se estendesse sob meus pés. Ao tencionar o segundo, sinto minha chinela grudando-se no solo, meu corpo cambaleando, os braços revoltos no ar. Meu rosto bate no piso com estupidez. Uma espécie de gosma penetra pelos meus lábios. Levo uma mão até o pastoso muco e... Deus meu... Está vivo! Debato-me frenético contra aquela nojeira que, agora, desbrava minha língua, rastejando-se. Um jorro de vômito projeta-se de meu estômago. Minha boca se enche de gosma e restos estomacais... Ah, não!... Minha garggg... Leonardo Grasel: nasceu em Florianópolis, em 1982. Cursa Direito na Universidade Federal de Santa Catarina. Já publicou um conto na antologia Caminhos do Medo da Andross Editora. Outras obras deste escritor amador encontram-se no site www.recantodasletras.com.br. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 26 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Olhos de Superfície Marcelo J. Borghi O lhos são abertos. Dor de cabeça e sem qualquer lembrança uma pessoa acorda. Um som baixo da sirene de carro de policia aproximando-se. Há muito sangue nas mãos desta pessoa e uma faca ensangüentada na mão direita. Aos pés desta pessoa, um corpo esquartejado pela mesma faca. Em minutos a policia invade o local e prende o suspeito, enquanto alguém observa tudo a uma distância segura o verdadeiro culpado. Tudo naquele lugar foi perfeitamente implantado pelo verdadeiro culpado para incriminar um inocente e, também para mostrar, através desta forma cruel e psicótica, que a verdade está além dos olhos, devendo ser interpretada. Pois se a policia observasse o quê estava além de todas as provas veria uma dica deixada propositalmente pelo culpado, que o incriminava. Macelo J. Borghi: é o pseudônimo de Marcelo Jacomo Borghi, que nasceu em São Paulo. Trabalha como empreendedor no ramo de atividade da reciclagem. Publicou em O livro negro dos vampiros e Caminhos do medo, ambos da Andross Editora. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 27 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Homem, a Cobaia Macabra Marcelo M. Marques Q uando voltei a enxergar, mesmo paralisado, naquele ambiente sombrio, vi três criaturas gelatinosas e disformes, fagocitando membros humanos antes pendurados em ganchos no teto pútrido, os trazendo ao chão. Quando o macabro show acabou vieram em minha direção, mesclando-se virando uma única grande criatura recheada de carne e ossos, então percebi algo que não gostaria de saber nunca. Olhei para ela e vi um cérebro, dentro de um cilindro vítreo, cheio de líquido viscoso. A única coisa que humanizava aquele cérebro eram dois globos oculares, que permaneciam ligados a ele. Imóveis. Na verdade o que eu estava vendo era o meu reflexo no monstro gelatinoso. Queria gritar, chorar, me matar....mas não podia, pois eu era apenas uma Massa cinzenta sem corpo, e nem ao menos sabia como e porquê estava Ali. Marcelo M. Marques: é ilustrador, gosta de ficção cientifica, filosofia, antropologia Além de boas ilustrações é claro. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 28 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Linha de Trem Márcio Benjamin D iz que começou com o filho da dona da barraca de verdura, bem aqui em frente. Foi pegar um carrinho, sei lá, e não ouviu o apito do bloqueio. A gente nem sabia onde começava uma coisa e terminava outra. Coisa feia de se ver, mulher. O povo jurava que o menino tava lá. Na casa. Tomando sopa e café, a comida toda se esparramando pela garganta, Deus me perdoe. Dia desses tomei coragem. Falei com ela. O menino só vi de costas, sentado na mesa da cozinha. As linhas pretas e grossas mal costuradas juntando braços, juntando pernas. Mas aceitei, no fim. Saudade é pior. Daqui da janela dá pra ver que vem alguém. No fim da rua. Cambaleando que nem criança. Reconheço o terno sim; todo furado de bala. Vem, amor. Volta pra casa. Márcio Benjamin: tem 28 anos, é natalense, advogado e escritor, com dois livros publicados pela editora Andross, Noctâmbulos e Caminhos do medo. Acredita piamente que o verdadeiro terror mora em nosso cotidiano. Escreve no site www.umanjopornografico.blogspot.com. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 29 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Diamantes Efêmeros Martha Argel E la abriu os olhos. Viu somente a rosa, uma gota de umidade da noite pendendo indecisa das pétalas vermelhas manchadas pela idade. Sentiu no peito a dor da ferida fatal. Relembrou. O homem que amara e que transformara, na fúria cega do ato de ciúmes, em perseguidor implacável. O fim. Uma última lágrima de amor surgiu-lhe nos olhos. Gota e lágrima caíram, em justa sincronia, diamantes líquidos brilhando no primeiro raio do sol nascente. Em breve, o sol impiedoso que crescia no horizonte iluminava apenas o jardim abandonado, enquanto suas cinzas se perdiam, passado já, no vento suave da manhã. Martha Argel: é bióloga e escritora. Junto com Humberto Moura Neto, traduziu e organizou O Vampiro Antes de Drácula (Editora Aleph), antologia com 12 contos vampíricos do século XIX, que também traz um estudo sobre a evolução do mito até o surgimento de Drácula, de Bram Stoker. Site: www.marthaargel.com. Lista de notícias: br.groups.yahoo.com/group/MarthaArgel. TerrorZine – Minicontos de Terror 30 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Mentira Mortal Nazarethe Fonseca -C omo se chama? - o assassino perguntou com a arma junto à cabeça de sua última refém. Os olhos nas portas do banco. - Nelly. - a jovem disse num soluço rouco. – Se entregue, por favor. - a jovem pediu tentando evitar o que se seguiria. - É muito tarde para voltar atrás. – comentou vendo os corpos dos reféns que matou, quando suas exigências não eram cumpridas. - Cale a boca! - disse enlouquecido puxando seus cabelos. - Eu não vou morrer! - gritou furioso. Entrou no banco e alvejou varias pessoas. Fugia de um assalto mal sucedido em uma joalheria. Esperava um helicóptero para a fuga. O detonador estava em sua mão suada. Ao redor somente sangue e morte... O desespero deixava Nelly sem ar... Precisava respirar. Ela agiu depressa, se abaixou e apertou o detonador. Tudo pareceu estar em câmera lenta. Não houve explosão, só um disparo seco e o respingar de sangue e pedaços de cérebro sobre seu rosto e cabelos. O Seqüestrador estava morto e ela viva. Nazarethe Fonseca: nasceu em São Luís, no Maranhão. Leitora voraz desde a infância, manteve o hábito de devorar seus livros na calada da noite. Sua paixão pelo soturno passou a abraçar os filmes, as músicas e tudo com uma capacidade inerente de gerar a atmosfera fascinante do sobrenatural. Como predestinação, os vampiros foram os personagens que mais marcaram esse prazer, fazendo aflorar a arte das letras, que a autora exerce desde seu primeiro romance: Alma e Sangue, o despertar do vampiro e Kara e Kman em uma nova saga de alma e sangue. TerrorZine – Minicontos de Terror 31 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Cativeiro de Vidro Nelson Magrini A noção do tempo não existia. Dia após dia, a fuga dominava-lhe os desejos, enraizada com firmeza à vontade. Paciência e oportunidade se faziam necessárias, mas não havia certeza de que delas iria dispor. Porém, precisava agüentar, sobreviver até surgir a chance que tanto vislumbrava. Os outros não tinham nomes, embora alguns os chamavam de predadores, uma palavra rebuscada para descrever o inimigo implacável, que não media esforços para impor sua vontade. E frente à realidade, não se iludia quanto à fuga. Sabia que não teria segurança e liberdade para sempre, ainda assim, por menor que fosse, era preferível a se submeter a uma servidão de sádicos. Os dias se sobrepuseram a dias, e por fim, paciência e persistência foram recompensadas, e uma pequena fresta na porta, deixada aberta de modo descuidado, foi tudo que o ratinho de laboratório precisou para esvaecer. Nelson Magrini: é engenheiro mecânico e um apaixonado em Física e Mecânica Quântica. Passou a escrever a partir do ano 2000, tendo publicado ANJO A Face do Mal (2004), Relâmpagos de Sangue (2006), e o conto Isabella, em Amor Vampiro (2008). Seu mais recente livro, VAMPIRO – Fria Simetria, se encontra no prelo. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 32 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves O Último Suspiro Ricardo Delfin D os pulsos recente abertos escorreu o néctar vermelho da vida. O líquido escarlate vertia em queda rumo ao chão e formava uma poça ao redor da lâmina fria já caída no piso imundo. Na boca, o sabor nauseante da derrota. Nos olhos, a lágrima da dor. No chão, o suco viscoso da existência espalhava-se e envolvia o ser amargurado. A visão, agora turva. O equilíbrio, falho. A consciência pouco a pouco esvaía-se e antes do último suspiro, um sentimento. O arrependimento. Ricardo Delfin: publicou contos nas antologias O Livro Negro dos Vampiros, Anno Domini – Manuscritos Medievais e Caminhos do Medo. Todas da Andross Editora. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 33 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Noites Urbanas Roberlandio A. Pinheiro A s mãos resvalaram, trêmulas, na pedra fria. O toque gélido abrandou as batidas desenfreadas de seu coração. Mas, não por tempo suficiente. À frente, um caminho infinito, feito de portas fechadas, ouvidos surdos e janelas de vidros escuros se perdiam ao longe e a lua, escondida em algum lugar, chorava triste. Não havia tempo! As pernas fraquejaram, teimando em não obedecer. Precisava correr. Fugir dali; dele. Olhou a escuridão que avançava, não o viu. Mas, um som rouco a perseguia, enchia seus ouvidos. Som de medo, de morte. Um grito abafado ficou preso na garganta, um pedido mudo de socorro. Pra quem? Estava só. E então, sentiu. Garras afiadas dilacerando sua carne flácida, palavras vis ditas entre sons guturais, desejos que não entendia. E os olhos, aqueles malditos olhos negros que a devoravam avidamente. Outra dor, forte, pungente, e a noite foi-se, morta! Roberlandio A. Pinheiro: Publicitário. Casado. Pai da Sade (uma siamesa linda) e um apaixonado pelas letras e pela literatura. Por volta dos 15 anos começou a escrever pequenos contos e histórias de ficção e fantasia, cuja reunião deu origem a seu primeiro romance, Lordes de Thargor, O Vale de Eldor, recentemente publicado. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 34 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Debutante Simone Marques A mão pálida estendida. A música favorita que tocava. Nunca dançara. Nunca ninguém se importara. Os dedos se esticaram e alcançaram a mão salvadora. Era quente, acolhedora, firme, segura. Ele era lindo. Nem em seus sonhos o havia imaginado tão encantador. A conduzia com leveza. Seus passos a faziam flutuar. Era a dança da sua vida! Os olhares não eram de escárnio ou desprezo. Transmitiam apenas a inveja ao vê-la dançando tão bem com aquele belo par. A vingança a fazia flutuar cada vez mais. Todos os anos em que quisera ser aceita e apenas recebera o desdém estavam vingados enquanto ela dançava, perfeitamente, com o par mais belo do salão. Ele a puxou para junto do corpo forte, quente. O coração juvenil deu um salto no peito e sua respiração falhou. Ela sorriu como não sorria desde que entrara para adolescência. Encostou-se ao corpo quente convidativo... Ana não ouviu os gritos de seu pai e os lamentos dolorosos de sua mãe quando a encontraram cercada por um mar de sangue, os pulsos cortados sobre os lençóis cor-de-rosa. Nos fones de ouvido, sua música favorita. Nos lábios, um sorriso. Simone Marques: nasceu na cidade de São Paulo em novembro de 1969, casada, mãe de uma filha de 15 anos. Formada em Pedagogia pela PUC-SP, Mestre em Educação pela UFPR. Lecionou em cursos de graduação e pós-graduação. Começou a se dedicar à criação de contos e romances em fevereiro de 2007. Atualmente mora em Recife. TerrorZine – Minicontos de Terror 35 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Rancor Sr. Arcano J udas era rancoroso, mas bem calmo... Até chegar a hora de lhe provocarem! “Pau no Judas! Pau no Judas!”. E ele ficava furioso com a brincadeira, pedia SEISCENTAS E SESSENTA E SEIS VEZES para pararem com aquilo. Mas não paravam... E ele se debatia e gritava de ódio... Mas acontece que por mais que ele se debatesse e gritasse as provocações nunca acabavam, pelo contrário, só aumentavam, vindas de todas as partes. E Judas sentia os músculos de seu corpo se enrijecendo, e quanto mais gritava de ódio, mais sentia seu corpo petrificando-se. E petrificou-se com um olhar de ódio voltado para o céu, numa ânsia de querer arrebentar a todos com seu ódio, mas sem conseguir porque eram muitos! E de tanto ódio pelo o que veio a acontecer-lhe... quebrou. Sr. Arcano: (Alexandre Souza), escreve contos e poemas. Tem preferência pelos temas sombrios e macabros. Possui um site e fanzine, chamados de “Sombrias Escrituras”, que reúnem diversos autores com preferências pelos mesmos temas. Já publicou diversos textos em sites e fanzines. Contato com o autor: [email protected]. TerrorZine – Minicontos de Terror 36 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves A Herança Waldick Garrett V itor decidira descer. Imóvel na penumbra, ouviu algo se arrastar em um dos cantos do porão. Elevou o facão sobre a cabeça, que comumente usava para cortar cana-de-açúcar, e permaneceu silente, na espreita. Então sentiu um toque gélido logo acima de sua curta meia. Antes que pudesse reagir, ouviu um estalo, seguido de fragmentos em atrito. Sua canela fora esmigalhada, assim como fazia seu compadre aos gracejos ao pressionar um pedaço de cana maduro até transformá-lo em feixes desconexos. Sentia o sangue vertendo do que restara de sua perna, escorrendo entre as garras daquela coisa rastejante, imunda. Despencou uivando de dor. Na queda, o facão atingiu sua coxa direita. O som tornou-se aquoso e Vitor, incrédulo, sentia sua perna sendo devorada rapidamente. A coisa sentia o odor do sangue, fazia-a salivar, enlouquecia-a. Vitor já não conseguia mais concatenar suas idéias, seu plano de reação. A dor o paralisara. Sua silhueta na escuridão grunhia, estremecia com os golpes das mandíbulas colossais. Arrependera-se de ter arrombado o porão. Sempre fora curioso, sempre fora desobediente. Se ao menos morresse... se ao menos tivesse mantido o porão trancado até a sua morte podia ter, pelo menos, tentado evitar que aquela herança maldita se perpetrasse. Talvez não o transformasse naquilo que, há décadas, seus ancestrais experimentavam, mas não... havia sempre muita teimosia na família... e talvez isso também fizesse parte da herança. Waldick Garrett: é Comendador Literário Internacional BR/PO e foi indicado a receber a Faixa Grã-Cruz, pertencente ao Imperador D. Pedro II, como destaque da cultura internacional. Membro efetivo da tradicional ACCUR - Academia de Cultura de Curitiba e autor do Manuscritos de Sangue, Ed. Novo Século. Garrett angariou diversos prêmios literários no Brasil e no exterior. TerrorZine – Minicontos de Terror 37 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Entrevista Ademir Pascale entrevista o editor e escritor Richard Diegues Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por aceitar a entrevista. Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Richard Diegues na literatura. Richard Diegues: Eu é que tenho que agradecer pela força que tem dado tanto aos autores já conhecidos do público, como para os iniciantes. Considero isso algo muito louvável para a literatura. Grande passo! Respondendo a pergunta: comecei cedo na literatura, tendo escrito meu primeiro romance entre meus 15 e 16 anos, que foi o livro “Magia – Tomo I”, publicado em 1997. Este livro narra a história de um jovem que é impelido por Vozes a seguir em uma busca pessoal, onde segue a premissa da Jornada do Herói. É um livro bem diferente da minha fase presente de escrita, mas que permanece atual em sua trama. Tem muito das Mil e Uma Noites nele, o que torna o ritmo muito agradável. Devo republicar essa obra ano que vem, com uma linguagem atualizada, mas mantendo a história completamente. Bem, depois disso publiquei pela coleção Necrópole os livros “Histórias de Vampiros”, “Histórias de Fantasmas” e, mais recente, o “Histórias de Bruxaria”, juntamente com outros parceiros literários (Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Doris Fleury, Eric Novello, Gianpaolo Celli, Giorgio Capelli, Marcelo Dias Amado e Nazarethe Fonseca). Essa coleção é de extrema qualidade gráfica e de conteúdo, com novelas de cerca de 30 páginas, voltadas para o suspense e terror. Tem sido um sucesso absoluto de crítica e os leitores realmente acabam por colecionar os livros. A parte disso, já publiquei um livro de contos, chamado “Sob a Luz do Abajur”, que explora em 17 contos os monstros reais, aqueles que encontramos em cada esquina, aqui, em nossas próprias cidades, e principalmente dentro década um de nós. Um livro igualmente denso, com contos bem trabalhados e de forte carga de suspense e terror. Além disso, participei dos livros “Visões de São Paulo – ensaios urbanos” como autor e organizador, do “Histórias do Tarô”, do “Livro Vermelho dos Vampiros” e do “Projeto 22”. Tenho mais quatro livros prontos para serem publicados, dois deles garantidos para 2009. No momento tenho me dedicado muito a um projeto monstruoso meu, que creio que falarei mais adiante, e para a Tarja Editorial, na qual atuo como editor, juntamente com meu sócio, Gianpaolo Celli e nos concentramos na literatura de ficção fantástica nacional. Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias? Richard Diegues: Para ser sincero eu não me foco muito em um estilo literário, de tal forma que não aparecem reflexos nítidos de outros autores em minha literatura. Se eu tivesse que dar o título de “influências” para algo que me guie, eu diria que leio muito Terry Pratchet, Stephen King, Neil Gaiman, Peter Straub, Ursula K. Le Guin, citando a geração mais contemporânea, além de autores novos e estreantes, e obviamente os clássicos, que explicar seria impensável. Eu leio em média 15 livros a cada mês, quando não mais. Além da compulsão que tenho pela literatura, isso se deve ao fato de que recebo inúmeros originais por conta da Tarja Editorial. TerrorZine – Minicontos de Terror 38 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Ademir Pascale: Quando e como surgiu (www.tarjaeditorial.com.br) e qual é seu principal foco? a editora Tarja Richard Diegues: A Tarja Editorial foi fundada por mim em 2006, por ocasião da criação do livro “Visões de São Paulo – ensaios urbanos”, que reuniu 50 autores, cada um com um conto que retratasse a cidade de São Paulo com uma visão particular. Eu organizei e editei o livro, lançando pela editora, antes mesmo de ter sua fundação legalmente concretizada. Pode-se dizer que foi uma prévia do que viria. Depois disso, fechei uma sociedade com Gianpaolo Celli, que é meu sócio na editora e finalmente a “abrimos” em caráter empresarial. Hoje lançamos livros de literatura fantásticas, abrangendo desde a ficção científica até a fantasia, incluindo todos os seus subgêneros que incidam diretamente sobre a prosa. Ademir Pascale: Além de editor e escritor, você também é palestrante? Conte pra gente como é o dia-a-dia do Richard multitarefas. Richard Diegues: Eu sempre fui o tipo “agitador cultural”. Desde que morava em Santos (hoje moro em São Paulo), já participava de grupos de debate literários, fui ator de teatro, e trabalhei um bom tempo como locutor de rádio. Com essa bagagem em relacionamento pessoal, acabei me tornando referência em alguns temas e comecei a ser convidado para participar de eventos e palestras. Esse ano, para encurtar a coisa, participei da Fantasticon (o maior evento nacional dirigido a literatura fantástica) como palestrante, também fui convidado a discursar em faculdades para estudantes de cursos de formação de escritores, além de ter sido convidado para algumas mesas de literatura fantástica e ficção na Livraria Cultura. Em setembro vou compor a mesa sobre “Publicar uma nova ficção fantástica no Brasil”, em um superevento organizado pelo Itaú Cultural. E pra fechar, estou organizando para breve um curso de formação de escritores, que sairá dessa absurda monotonia de tentar ensinar apenas os truques para uma boa escrita, mas transcenderá para ensinar os autores a pensarem de forma “grande”, desenvolvendo suas histórias desde a criação de universos fantásticos, passando por construção de personagens, tramas, enredo, mídias e finalizando com os conhecimentos sólidos de produção e mercado editorial. Esse curso é uma meta minha, para que um dia tenhamos bons autores de ficção, que realmente produzam algo que seja publicável pelas editoras. Ele surgiu justamente da dificuldade que venho tendo, como editor, em encontrar material de qualidade para ser publicado. Ademir Pascale: No seu ponto de vista como editor, o que o mercado editorial brasileiro busca no jovem escritor que deseja ingressar no meio literário? Richard Diegues: Em uma palavra: profissionalismo! Os novos autores pensam que o fato de terem escrito um livro os torna aptos para a publicação. Isso é muito ruim e uma das coisas que eu mais lamento hoje em dia. Qualquer pessoa que acredite que pode se tornar um escritor de livros – aqui vale uma observação: quem escreve é escritor, mesmo na Internet, mas existe um segmento que prefere ser escritor de livros, e essas duas áreas são como água e vinho: fácil de diferenciar, e muito duro de separar depois que se misturam – deve produzir pelo menos dois originais, sendo que três é o desejável, antes de sequer pensar em TerrorZine – Minicontos de Terror 39 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves enviar um original para uma editora. Sinceramente conheço dezenas de bons livros que secaram a fonte dos seus autores. A fonte de um profissional nunca seca, se é que me faço compreender. Em resumo, sinto falta do escritor que escreve para colocar suas idéias no papel, de forma pretensiosa, com esmero, cuidado, e acima de tudo, sem pressa. Onde está aquele escritor que tem quatro originais na gaveta, e ainda assim prossegue escrevendo? Onde está o jovem escritor que se dedica a arte, antes da celebridade? Uma verdade: viver da venda de livros em qualquer recanto do mundo é uma tarefa árdua e cansativa. Na literatura, um autor profissional é o que reúne as seguintes qualidades: vontade (de mostrar suas idéias), criatividade (para passar essas idéias ao papel de maneira inteligente), paciência (para deixar as idéias repousando no papel e vez ou outra as retomar e reescrever até se tornarem algo polido) e desprendimento (para não acharem que serão publicados e ficarão ricos com isso, mas sim que estarão passando suas idéias adiante). Ademir Pascale: Como está sendo a receptividade dos leitores com a coleção Necrópole (editora Alaúde)? Richard Diegues: A coleção Necrópole já nasceu como um sucesso. Não há leitor que compre um dos volumes e não siga para os outros, e mesmo para os demais livros de alguns dos autores. É uma literatura muito madura, trabalhada a exaustão por cada um dos autores, até beirarem a perfeição. E isso não é opinião somente minha ou dos leitores, pois essa é a característica que a mídia tem apontado em sua crítica literária. É claro que em um ambiente de pouca divulgação a coleção nunca nos deixará famosos e muito menos ricos, mas ela é um ótimo medidor de sua própria força, pois a cada leitor que nos dá um retorno sobre o que achou da obra, vemos que ganhamos um fã perpétuo, daqueles que aguarda por mais, ávido por qualidade e inovação. E Necrópole é isso acima de tudo: inovação! A nossa intenção sempre foi pegar os “mitos” e resgatar sua origem de uma forma criativa, fugindo do lugar comum dos livros atuais sobre os temas. Nossos vampiros, fantasmas e bruxarias inovam no sentido de forma, mas com um forte resgate do velho mito. Ademir Pascale: Como é o trabalho em conjunto na produção de uma obra do início até chegar nas livrarias? Richard Diegues: Vou continuar usando como exemplo o livro “Necrópole – histórias de vampiros”, que teve uma produção muito bacana por parte do grupo. O processo ocorreu assim: juntamos um grupo de cinco escritores com qualidade boa, e formas de escrita divergentes, isso foi pensado justamente para diversificar a obra e atingir todos os leitores possíveis; depois selecionamos um tema, no caso os vampiros, e cada um escreveu uma novela com o compromisso de ser o mais inovadora possível; assim que os textos foram dados por concluídos, fizemos uma troca entre nós, onde eu li o texto de um outro autor, passando o meu para que um outro lesse, como em uma ciranda; cada um dos textos foi limado e criticado até a exaustão, depois ajustado, corrigido e adaptado; essa segunda versão passou a girar uma vez mais na ciranda, com leitura, crítica, correção, melhorias, e... um novo giro; depois que os textos haviam girado por cinco vezes, estavam realmente livres de falhas, e com uma história muito melhor do que quando foram criados; daí pra frente foi revisão gramatical, capa, diagramação e busca por uma editora. Essa busca não levou mais de um mês, para você ter idéia da qualidade final que atingimos. Mas não pense que o trabalho parou por aí, depois do livro ir para as livrarias os autores continuaram se reunindo mensalmente. Criamos sites, mandamos releases para revistas e jornais, demos entrevistas, fizemos eventos, continuamos fazendo e distribuindo Zines, enfim, continuamos com nosso profissionalismo, pois sem ele o livro estaria encalhado nas prateleiras. É um trabalho cansativo, mas muito recompensador em termos de prazer pessoal. Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra Sob a luz do Abajur (editora Tarja)? TerrorZine – Minicontos de Terror 40 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Richard Diegues: Eu já citei um pouco sobre ele acima, mas vamos lá: é um livro de contos, dezessete no total. O tema são os monstros, mas no sentido explícito da palavra. No dicionário o termo “monstro” designa um ser cuja formação se afasta da natural à sua espécie; um ente fantástico da mitologia; pessoa cruel, desumana, perversa; assombro, prodígio; pois é exatamente esse conjunto de definições que eu retrato em cada um de meus contos. O livro fala sobre eventos fictícios, mas é inteiramente legítimo quanto aos monstros. E eles são os da pior espécie. Perguntas rápidas: Um livro: A torre negra (a coleção completa), de Stephen King Um(a) autor(a): Neil Gaiman Um ator ou atriz: Al Pacino e Sandra Bulock Um filme: Advogado do Diabo Um dia especial: Dia das Bruxas Um desejo: viver somente da minha literatura. Ademir Pascale: Mais uma vez, agradeço por ceder tão preciosa entrevista. Desejo-lhe muito sucesso. Richard Diegues: Ademir, o prazer foi meu, acredite! Sucesso vale para nós dois... estamos no caminho! TerrorZine – Minicontos de Terror 41 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Entrevista Ademir Pascale entrevista o escritor Nelson Magrini Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Nelson Magrini na literatura. Nelson Magrini: Olá, Ademir. Antes de tudo, é um prazer participar desta entrevista. E quanto à pergunta, he he, começamos bem, pois a resposta não deixa de ter seu lado surreal. Tudo aconteceu em uma madrugada, no ano 2000. Na época, eu procurava algo diferente para me dedicar, e que também pudesse vir a gerar ganhos. Não tinha uma idéia formada, apenas que deveria ser algo que eu gostasse de fazer e que já soubesse fazer. Depois de muito pensar, e eliminar um bocado de coisas que gosto, mas que não sei fazer, foi de estalo. Eu sabia que sabia escrever. Foi bem assim. Sempre fui um leitor devorador de livros, mas fora as famosas redações escolares, eu nunca havia escrito nada antes, salvo alguns poemas bem livres, e isso já fazia muito tempo. Acredite, naquela mesma hora, eu escrevi um recadinho para mim mesmo (costumo fazer isso para me lembrar de várias coisas), onde apenas dizia: escrever. No dia seguinte, comecei a criar pequenos trechos, até para ver se aquilo que eu escrevia, depois de pronto, tinha pelo menos uma aparência de um livro, e praticamente no mesmo dia, criei alguns personagens, uma trama bastante incompleta (incrível como minha criatividade funciona assim. É muito difícil eu começar a escrever com a coisa toda pronta e definida na cabeça) e comecei a escrever. De lá para cá, não parei mais. Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias? Nelson Magrini: Quando adolescente, eu lia muita ficção-científica, principalmente Isaac Asimov e Arthur Clark. Com o passar dos anos, fui migrando para a literatura de suspense e terror, onde destaco Stephen King e Dean Koontz. Ademir Pascale: Como você consegue conciliar as atividades como escritor, engenheiro mecânico, consultor internacional de gestão empresarial e estudos e trabalhos de física quântica? Nelson Magrini: Não é nada fácil e sempre necessito desdobrar o tempo vago. Física é uma paixão antiga, inclusive, por muito pouco não fiz faculdade de Física. Neste sentido, foi mais uma decisão estratégica, uma vez que eu havia ingressado em Engenharia Mecânica, no Mackenzie, e Física, na USP. Contudo, na época, trabalhar como físico no Brasil é estar fadado a ser professor, muito possivelmente de colegial. Então esta paixão também me consome tempo, principalmente lendo e estudando muito. A vantagem é que criatividade não tem hora ou lugar, então, sempre que uma idéia me aparece, eu rabisco algumas anotações e depois começo a trabalhar em cima, seja no dia seguinte, seja meses depois. Hoje, tenho me centrado mais em Logística, consultoria em Gestão anda em baixa no mercado, o que torna as coisas um pouco mais fáceis, mas, he he, é uma senhora correria. TerrorZine – Minicontos de Terror 42 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Ademir Pascale: Como foi a idéia inicial para a criação da obra “Anjo – A face do mal” (Novo Século Editora)? Nelson Magrini: Como comentei, minha criatividade escolheu uma maneira interessante de se manifestar. Como qualquer outro livro, tudo começa com uma cena que me vem à cabeça, ou um personagem, uma personalidade que aparece do nada. No caso de ANJO A Face do Mal, isso aconteceu com Lúcifer. Ele por si só é um arquétipo muito forte, e ao mesmo tempo em que dá trabalho tratar com um personagem assim, ele também permite ser usado para fazer o leitor pensar nos mais variados assuntos. Escrevo para entreter, mas sempre gosto, dentro do possível, de fazer meus leitores pensarem, questionarem. Obviamente, isso tudo tem de estar dentro do contexto da obra, caso contrário, ela assumirá ares de panfletagem, o que não teria o menor sentido. Então, com um personagem como Lúcifer em mãos, foi quase natural enveredar por um confronto entre anjos e demônios, muito embora Lúcifer, em minha obra, nada tenha a ver com o diabo das religiões. Foi aí que tive a idéia de torcer, ou melhor, de relativizar certos conceitos bastante enraigados, como Bem e Mal, a Verdade, etc. Em ANJO A Face do Mal, os anjos não são bonitinhos, bonzinhos e tal, e comandem o Céu ou Astral quase de maneira tirânica. Já os demônios chegam a ser democráticos, contrapondo-se, no sentido de equilíbrio, à outra vertente. Com isto tudo em mãos, adicionei algumas entidades afro-brasileiras e cheguei à lapidação final da trama. No mais, um bocado de imaginação e muito suspense. Recentemente, ANJO me deu muita satisfação por dois motivos. O primeiro, é que ele se tornou objeto de pesquisa acadêmica na UNICASTELO, podendo vir a se tornar tese de mestrado. E segundo, soube que a primeira edição se esgotou, e que deverá ganhar uma segunda edição renovada, mais primorosa, com nova capa, tamanho e acabamento. Isso certamente deixa qualquer autor orgulhoso. Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra “Relâmpagos de Sangue” (Novo Século Editora)? Nelson Magrini: O livro gira em torno de dois personagens, Sara e Josimar (Jôs), que há aproximadamente um mês estão tendo estranhas visões que envolvem sangue, a cor vermelha e tempestades, além de lapsos de memória. Em função disso, ambos resolvem voltar ao local onde passaram as últimas férias, certos de que alguma coisa muito errada aconteceu. A aventura se passa em uma cidade fictícia, Germinade, no interior de Minas Gerais, aonde fatos estranhos vão ganhando proporções inimagináveis, envolvendo tanto os personagens principais como outros, que vão aparecendo ao correr da história, num suspense crescente, aonde o mistério por detrás de tudo vai se revelando, até chegar em um clímax com um desfecho inesperado. Descobrir qual é este mistério faz parte da leitura. De tudo o que já escrevi até hoje, Relâmpagos de Sangue é o mais extremamente visual, onde a própria linguagem que utilizei, bastante cinematográfica, com frases curtas e de impacto, é usada para transmitir sentimentos e emoções de uma maneira direta, crua e até selvagem. É um livro que, se o leitor se deixar levar pela história, ele viverá a aflição, o medo e o terror de cada personagem como se tudo estivesse se passando consigo próprio. Tenho orgulho de saber de leitores que tiveram pesadelos com a história, e outros que não conseguiam dormir, após lerem determinadas cenas. Embora menos filosófico e crítico que ANJO A Face do Mal, e mais focado no entretenimento, em contrapartida, Relâmpagos de Sangue assusta de verdade, ao menos, uma boa gama de leitores. TerrorZine – Minicontos de Terror 43 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Ademir Pascale: Como foi a sua participação na excelente obra “Amor Vampiro” (Giz Editorial)? Nelson Magrini: Tudo se inicia através do convite do J. Modesto, autor do ótimo Trevas e mais recentemente, de Anhangá, A Fúria do Demônio. Eu conheci o Modesto como um leitor, ou melhor, como um fã, como ele mesmo gosta de dizer. Somente após um bom tempo descobri que ele também era escritor, e acabamos por nos tornar bons amigos. Responder positivamente a este convite foi fácil; os problemas começaram logo em seguida. Primeiro, eu não tinha muita vontade de escrever sobre vampiros, não por que não goste do personagem, mas porque muita gente estava fazendo. Segunda questão, não sei exatamente porque, mas tenho muito mais facilidade de escrever umas quatrocentas páginas do que um conto, ainda mais, um com tamanho limitado. Neste sentido, foi uma verdadeira aventura e superação criar Isabella. Ainda havia uma terceira questão. Para deixar os autores bem livres, apenas nos foi passado o tema e que poderia haver cenas picantes. Eu imaginava o que os demais iriam fazer, e queria de qualquer maneira bolar algo diferente, o que creio, consegui. Isabella não só é meu melhor conto, mas é um marco para mim. A linguagem, minha maneira de escrever, construir as frases e as próprias palavras foram escolhidas a dedo, tudo para compor uma atmosfera que, mais do que descrever ações e eventos, traduzisse os personagens e seus anseios e sentimentos. Isabella, no fundo, é uma história de busca e esperança, onde um homem se apaixona por uma vampira, e para conquistar seu amor, primeiro tem de resgatar sua humanidade. Para tanto, me utilizei de minha velha paixão, e contraponho o sobrenatural com a Física, os conhecimentos da Ciência. As considerações que há no conto, a respeito do luar, não deixa de ser intrigante e instigante na mística dos vampiros. Enfim, o que posso dizer, para todos aqueles que gostaram do conto, e se apaixonaram por Isabella, que gostei tanto da personagem que ela certamente retornará em algum trabalho futuro. Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado editorial brasileiro para os jovens escritores que desejam ingressar no meio literário? Nelson Magrini: É um pouco difícil falar do mercado editorial como um todo, mas as perspectivas dentro da chamada Literatura Fantástica são muito boas, e estão se ampliando ainda mais. É inegável que a abertura atual se iniciou com o André Vianco e com a iniciativa da editora Novo Século, que em pouco tempo criou a Coleção Novos Talentos da Literatura, tornando-a um canal de entrada para milhares de escritores, em sua maioria jovens, que até a pouco tempo não tinham, e nem sabiam, como chegar às editoras. E o que vemos a partir disto foi que, em pouco anos, várias editoras têm se voltado para este segmento e principalmente, para o autor nacional. De fato, hoje temos uma nova geração, ou nova frente de escritores nacionais que encabeçam e fazem Literatura Fantástica de primeira linha. Não só tenho orgulho de pertencer e ter ajudado a iniciar este movimento, como mais orgulho ainda quando me deparo, no orkut, por exemplo, com leitores trocando comentários entre si e dizendo que atualmente, procuram e dão preferência ao autor nacional. A próxima leva que está vindo aí promete bastante e deixará o mercado ainda mais receptivo a outros que se seguirão. Inclusive, estamos vendo um fenômeno que muitos ainda não se deram conta, que nossos jovens, muitos na faixa de quinze, dezessete anos, estão deixando de ser apenas leitores, para se sentarem à frente de seus micros e começarem a criar, escrever. Não sei dizer qual foi a última década em que tal aconteceu, mas faz um bocado de tempo! Ademir Pascale: Poderia falar para os nossos leitores como será o projeto da Giz Editorial em que você participará, intitulado “Fontes da Ficção”? Nelson Magrini: Primeiro, uma correção. O projeto não é da GIZ Editorial, muito embora, seja apoiado pela GIZ. Este projeto partiu da idéia do escritor e jornalista Sérgio Pereira Couto, mais conhecido por dezenas de livros que tratam de trabalhos que demanda muitas pesquisas, fosse sobre sociedades secretas, crime, etc. O TerrorZine – Minicontos de Terror 44 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Sérgio não só enveredou recentemente pela Literatura Fantástica, com o ótimo Renascimento, A Lenda do Judeu Errante, mas também, sentia a necessidade de ter um canal mais direto com o público, proporcionando pequenas obras de qualidade. Neste sentido, imaginou criar um blog, algo hoje bastante fácil e comum, e de contato dinâmico com o leitor, onde alguns autores se juntariam e dariam ênfase às composições de suspense e mistério. Foi quando ele me convidou, bem como ao J. Modesto, e por fim, ao James Andrade, que estreou recentemente com o ótimo Getsêmani, A Verdade Oculta, e assim nascia o blog Fontes da Ficção. Em paralelo a isso, vindo a somar, inclusive, o Sérgio apresentou uma outra parte do projeto à livraria Martins Fontes, onde a idéia era ampliar ainda mais este canal com o leitor, aproximando-os das obras, de seus questionamentos e curiosidades, em um patê-papo bastante informal, onde a tônica sempre será dada pelos participantes. Desta idéia, resultou o 1ª. Fontes da Ficção, o primeiro dos encontros com os leitores. Resumindo, o projeto Fontes da Ficção é uma inovadora maneira dinâmica, através de um blog com atualizações semanais, e encontros mensais, de aproximarmos os leitores do universo da criação e escrita. Ademir Pascale: Onde os leitores poderão saber mais sobre Nelson Magrini? Nelson Magrini: De um modo geral na Internet, onde através que qualquer pesquisa, encontrarão inúmeras resenhas, por exemplo. Através do blog e encontros Fontes da Ficção e, em breve, também através de um site ou blog pessoal, algo que estou definindo. No orkut, basta procurar o perfil Nelson Magrini II. O II é porque o meu perfil original, simplesmente, não me deixa mais acessá-lo como usuário, e então, tive de criar um perfil novo. E por fim, é só escrever para [email protected] que terei um imenso prazer em responder qualquer questão. Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta? Nelson Magrini: Para dizer a verdade, vários deles. Meu novo livro VAMPIRO – Fria Simetria já está concluído e se encontra em fase de avaliação. Minha intenção é publicar ainda este ano, mas isto depende de alguns fatores. O livro não é uma história de vampiros, e sim, uma trama de terror onde um dos personagens é um vampiro, inclusive, o vampiro se encaixou muito bem na trama, embora eu trabalhe o personagem em uma abordagem diferente do tradicional. No momento, estou escrevendo o próximo, que pretendo ser uma obra tão densa e assustadora quanto Relâmpagos de Sangue. Além disto, há inúmeros projetos rabiscados, vários deles com Lúcifer como personagem principal, inclusive, tive uma idéia nova recentemente que devo desenvolvê-la em breve. Também está nos planos a continuação de ANJO A Face do Mal, tendo Lucas como personagem principal e passando-se seis meses depois do livro original. Por fim, algumas possibilidades sobre temas curiosos, que gostaria muito de desenvolver com o tempo. Uma delas é um verdadeiro livro de terror, envolvendo alguns aspectos da Física de Partículas e a Mecânica Quântica. A idéia que tive por detrás dessa história foi simples e contundente: “Pode a Mecânica Quântica ser assustadora”? Bem, espero mostrar que sim, e aqui, não me refiro às suas equações! O outro projeto é mais complicado, extremamente mais denso e árduo, e nasceu de outra idéia que me passou pela cabeça: conseguiria escrever algo tão intrincado e misterioso quanto LOST? Obviamente, não se trataria de pessoas em uma ilha, afinal, isso não teria o menor sentido, mas estou construindo uma história que está se desenvolvendo de maneira incrível, e para isso, adotei o método de não planejar os caminhos ou imaginar seqüências ou eventos. Simplesmente, começo a escrever, anotando os pontos chaves e fazendo as amarrações necessárias. Mas não sei dizer o que acontecerá a seguir na história. Para isso, tenho que sentar e escrever. É como se a história se escrevesse a si própria. TerrorZine – Minicontos de Terror 45 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Não sei o que vocês pensam, mas para mim, isso já me parece um bocado assustador! Perguntas rápidas: Um livro: O Apanhador de Sonhos. Um(a) autor(a): Stephen King. Um ator ou atriz: Al Pacino. Um filme: 2001, Uma Odisséia no Espaço. Um dia especial: quando publiquei meu primeiro livro. Um desejo: viver apenas da escrita, junto à pessoa que amo. Ademir Pascale: Mais uma vez agradeço por expor suas idéias para os nossos leitores. Foi um imenso prazer ter essa conversa contigo. Desejo-lhe muito sucesso em suas empreitadas literárias. Nelson Magrini: Eu que agradeço mais uma vez a oportunidade. Foi um prazer responder suas questões e fico aberto aos leitores que quiserem me escrever. E parabéns a você, Ademir, por este seu espaço que, cada vez mais, tem conquistado leitores. Um abraço a todos! TerrorZine – Minicontos de Terror 46 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves Livros CAMINHOS DO MEDO Vários autores Se você, leitor, é uma pessoa normal, com certeza adora sentir um frio na barriga. Com CAMINHOS DO MEDO isso ocorrerá com freqüência, pois os autores que nele escreveram trazem 41 histórias de terror, com tramas que beiram o inimaginável. Não leia na penumbra ou sob a luz de velas, pois as sombras projetadas nas paredes podem afetar seu julgamento racional. E se você não sentir medo é porque já está morto! Valor: R$ 29,90 – Frete incluso (encomenda simples) SBN: 8599267299 ISBN-13: 9788599267295 Livro em português Páginas: 206 - 15 x 21 cm - Peso 0,400 Kg 1ª Edição - 2008 Adquira o livro autografado diretamente com o autor Ademir Pascale. Envie um email para: [email protected] ANNO DOMINI Vários autores 'Anno Domini' reúne contos que mergulham na Idade Média em seu conceito mais amplo. História e fantasia se misturam, mesclam o real ao imaginário, evocam magia, aventura, luz e escuridão. Reis, bruxas, magos, guerreiros, dragões, simples camponeses... Todos enfrentam as próprias batalhas numa atmosfera sombria e irrespirável, por vezes lírica e cativante. Estes manuscritos medievais apresentam o trabalho de jovens autores, pouco ou mais conhecidos, e também de autores veteranos, como Raphael Draccon, Claudio Villa, Nazarethe Fonseca e Madô Martins. Uma viagem a um passado muito mais presente em nossas vidas do que imaginamos Valor: R$ 29,90 – Frete incluso (encomenda simples) ISBN: 8599267272 ISBN-13: 9788599267271 Livro em português Páginas: 303 - 21 x 15 cm - Peso 0,450 Kg 1ª Edição - 2008 Adquira o livro autografado diretamente com o autor Ademir Pascale. Envie um email para: [email protected] TerrorZine – Minicontos de Terror 47 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves ASSASSINATO NA BIBLIOTECA Helena Gomes Prepare-se para se surpreender. Assassinato na biblioteca, o novo romance juvenil da escritora e jornalista paulista Helena Gomes, autora de Lobo Alpha, entre outros, é uma bem costurada trama de ação e suspense que prende a atenção do leitor do início ao fim. Mas não é só isso. Com um enredo que vai e volta no tempo, o livro conta uma história de mistério que beira o sobrenatural, no ritmo das narrativas policiais, mas oferece mais do que puro entretenimento: para decifrar o assassinato da bibliotecária do tradicional colégio onde estuda, em Santos, no litoral paulista, o jovem Igor se envolve num intricado quebra-cabeças e acaba descobrindo muito sobre um período negro da História do Brasil: a ditadura militar. ISBN: 978-85-61384-03-6 Autor: Helena Gomes Gênero: Infanto-juvenil Editora Rocco Páginas: 256 Formato: 21x21 Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br AMOR VAMPIRO Vários autores O que aconteceria se o amor dominasse um ser maléfico e que perambula pelas sombras buscando saciar seu desejo? Adriano Siqueira, André Vianco, Martha Argel, J. Modesto, Nelson Magrini, Regina Drummond e Giulia Moon, ícones da literatura fantástica nacional, se reuniram para responder a questão e desvendar o 'Amor Vampiro'. ISBN: 8599822764 ISBN-13: 9788599822760 Vários autores Giz Editorial Livro em português Páginas: 176 - 16 x 23 cm 1ª Edição - 2008 Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br *SAIBA COMO DIVULGAR O SEU LIVRO NO TERRORZINE. ENVIE UM E-MAIL PARA: [email protected] TerrorZine – Minicontos de Terror Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves 48 TerrorZine – Minicontos de Terror 49 Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves [email protected] [email protected] www.cranik.com ® Todos os direitos reservados a Ademir Pascale e Elenir Alves - 2008