TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
São Paulo, Setembro/2008
Ano 01. Número 01
Circulação Gratuita
Abel Reginatto
Elenir Alves
Marcelo Borghi
O Segredo da Lareira
O Confessionário
Olhos de Superficie
Ademir Pascale
Frodo Oliveira
Marcelo M. Marques
Coruja Jezebel
A Mala
Homem, a Cobaia Macabra
Adriano Siqueira
Giulia Moon
Márcio Benjamin
Encontro com a Vampira
A Senhora do Castelo
Linha de Trem
Alexandre Copelli
Helena Gomes
Martha Argel
O Espelho
Sem Testemunhas
Diamantes Efêmeros
Almir Pascale
J. Modesto
Nazarethe Fonseca
O Velho Casebre
A Existência de Deus
Mentira Mortal
André Beltrão
João B. dos Santos
Nelson Magrini
Um Homem Guardado
Bicho de Duas Cabeças
Cativeiro de Vidro
Anne C. Quiangala
Jonatas T. Syrayama
Ricardo Delfin
Uno et continnum
Luz no fim da estrada
O Último Suspiro
Arlequim N.
Kathia Brienza
Roberlandio A. P.
Carne Moída
Força Bruta
Noites Urbanas
Cláudio Brites
Leandro “Radrak”
Simone Marques
Saturno
Noturno
Debutante
Danny Marks
Leonardo Brum
Sr. Arcano
O Buraco
A Loja de Antiguidades
Rancor
Diego Piovesan
Leonardo Grasel
Waldick Garrett
A Mão do Coração
A Gosma
A Herança
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Editorial
É com grande orgulho que lançamos nesta sexta-feira (05/09/08) o zine
TerrorZine – Minicontos de Terror. Seu diferencial são os minicontos; ótimo
exercício, pois quem é escritor, tem que se adequar aos limitados textos, romper as
barreiras e deixar a mente fluir. É verdade que alguns escritores ultrapassaram em
poucas linhas o limite máximo exigido de 12 linhas. Eu sou um deles...(rsrs). Então
decidimos que aceitaremos para o
próximo zine, o limite máximo de
15 linhas. O nosso intuito é
mostrar o excelente exercício que
o miniconto gera; contar muito em
poucas
linhas,
sem
muitos
detalhes,
fazendo
os
nossos
leitores imaginarem as incríveis
cenas e preenchendo os detalhes
não mencionados pelo autor,
então,
consecutivamente,
os
leitores serão co-autores.
Neste TerrorZine –
Minicontos de Terror nº 01,
conseguimos reunir 33 excelentes
minicontos, e como convidados
especiais, temos: Nelson Magrini, J.Modesto, Giulia Moon, Helena Gomes,
Nazarethe Fonseca, Martha Argel, Adriano Siqueira e Waldick Garret. Nossos
singelos agradecimentos aos 31 escritores que nos apoiaram com belas palavras e
incentivos. Agora pedimos o apoio de todos os escritores e leitores, para que
divulguem o TerrorZine, enviem para seus amigos e disponibilizem o link para
download deste nº 01 (www.cranik.com/terrorzine1.pdf) em seus blogs. sites,
comunidades e newsletters.
Além dos minicontos, ainda
contamos neste número com duas
excelentes entrevistas com os
escritores Richard Diegues e Nelson
Magrini, além de dicas de ótimas
obras literárias.
Você
que
ainda
não
participou ou já está participando,
envie seu miniconto até o dia 30/09
para o TerrorZine – Minicontos de
Terror nº 02. é só acessar a
página:
www.cranik.com/terrorzine.html,
ler os procedimentos, fazer o
download da ficha de inscrição,
preencher com os seus dados,
escrever seu miniconto e enviar para o e-mail: [email protected].
Desejamos uma ótima leitura e os alertamos para um perigo real: não leiam
sozinhos, pois coisas estranhas poderão acontecer...
Ademir Pascale e Elenir Alves
Editores e Organizadores
Fotos: Elenir Alves e Ademir Pascale
Elenir Alves está lendo a obra “Caminhos do Medo” (Andross)
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Índice
Abel Reginatto
Ademir Pascale
Adriano Siqueira
Alexandre Copelli
Almir Pascale
André Beltrão
Anne Caroline Quiangala
Arlequim Noctâmbulo
Cláudio Brites
Danny Marks
Diego Piovesan
Elenir Alves
Frodo Oliveira
Giulia Moon
Helena Gomes
J. Modesto
João Batista dos Santos
Jonatas T. Syrayama
Kathia Brienza
Leandro “Radrak”
Leonardo Brum
Leonardo Grasel
Marcelo Borghi
Marcelo M. Marques
Márcio Benjamin
Martha Argel
Nazarethe Fonseca
Nelson Magrini
Ricardo Delfin
Roberlandio A. Pinheiro
Simone Marques
Sr. Arcano
Waldick Garrett
Entrevistas
Livros
(O Segredo da lareira)..............................................
(Coruja Jezebel)......................................................
(Encontro com a vampira)........................................
(O Espelho).............................................................
(O velho casebre)..........................................................
(Um homem guardado).................................................
(Uno et continnum).......................................................
(Carne Moída)...............................................................
(Saturno)........................................................................
(O Buraco).....................................................................
(A mão do Coração)......................................................
(O Confessionário)........................................................
(A Mala)........................................................................
(A Senhora do Castelo)..................................................
(Sem Testemunhas).......................................................
(A Existência de Deus)..................................................
(Bicho de Duas Cabeças)...............................................
(Luz no fim da estrada)..................................................
(Força Bruta)..................................................................
(Noturno).......................................................................
(A Loja de antiguidades)...............................................
(A Gosma).....................................................................
(Olhos de Superfície).....................................................
(Homem, a cobaia macabra)..........................................
(Linha de trem)..............................................................
(Diamantes efêmeros)....................................................
(Mentira mortal)............................................................
(Cativeiro de vidro).......................................................
(O último suspiro)..........................................................
(Noites Urbanas)............................................................
(Debutante)....................................................................
(Rancor).........................................................................
(A herança)....................................................................
(Entrevista com Richard Diegues e Nelson Magrini)....
(Dicas de Livros)...........................................................
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TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Segredo da Lareira
Abel Reginatto
M
olusco era o nome da Banda de quatro rapazes, há dois dias procurados pela
polícia. O irmão de um deles, que sabia o local do ensaio, foi até uma casa antiga e
misteriosa, e não notou que dois policiais o seguiram. Um entrou pela frente, o
outro pelos fundos, e lá estava o jovem, lutando para não ser tragado para dentro
de uma lareira. Conseguiram puxá-lo e penetraram em seu lugar. Subitamente os
policiais voltaram e com o grupo, mas atrás deles, veio uma estranha entidade com
formato humano, mas todo gelatinoso. Os policiais pegaram suas armas, mas, a
criatura os engoliu e foi na direção do grupo. Eles não sabiam o que fazer, quando
o baterista começou a tocar freneticamente e, para surpresa geral, aquele ser
começou a inchar e explodiu. Os dois policiais surgiram ilesos, então todos
entraram na lareira, notando que havia uma fenda que dava para um nada. A
fecharam com cimento e combinaram jamais revelar a alguém.
Abel Reginatto: nascido em Porto Alegre-RS, em 03 de fevereiro de 1950, é
escritor, poeta e músico. Publicou o romance Corações e Mentes – A História de
John Winston, em 2003; oito e-books no site de cultura, da cidade de Bauru-SP,
www.avbl.com.br e lançou, na 20ª Bienal do Livro de São Paulo, o romance TAILA –
A Bruxa. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Coruja Jezebel
Ademir Pascale
N
atan, amigo e companheiro de diversas bebedeiras. Rapaz jovem que se foi
cedo, muito cedo, não sei pra onde... Quem sabe para o céu ou mesmo para o
inferno?
Coruja Jezebel: noturno e crepuscular ser que passou a me acompanhar nas noites
de solidão, a vigiar meus passos vacilantes e a pousar em meu ombro nas frias
manhãs paulistanas, sempre antes de partir para os confins do inimaginável. Ave
estrigiformes de rara beleza; murutucu, agourenta, às vezes mascote de Atena,
outras, personificação de Lilith, ou apenas mero e pequeno demônio alado? Seu
olhar indiscreto e seu irritante piado, passaram a me perseguir loucamente, noite
após noite. Prenúncio de má sorte? Quem sabe, talvez pelo feminiu que a nomeei,
enganando-me por completo, pois numa noite de trevas, após minha bebedeira
noturna, sorrateiramente ela pousou em meu ombro esquerdo, deixando-me
deveras irritado, e antes que eu lhe desse um forte e certeiro golpe com minha
garrafa de uísque escocês, fixou seus vitrificados olhos nos cansados meus e, sem
mais nem menos, como num pesadelo escrito pelo próprio Poe, vociferou: "Não se
sinta só; para o céu não fui convidado e do inferno escapei. Agora estou do seu
lado, velho companheiro, até o dia, em breve, que sua morte testemunharei..."
Ademir Pascale: Lingüista, crítico de cinema, ativista cultural, escritor, idealizador
do projeto de inclusão social “Vá ao cinema” e do zine TerrorZine – Minicontos de
Terror. Administrador do portal Cranik (www.cranik.com) e dos sites
(www.oentrevistador.com.br) e (www.divulgalivros.org) é autor do áudio-livro
Cinema – Despertando seu olhar crítico, além de ter publicado seus contos em
diversas antologias. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Encontro com a Vampira
Adriano Siqueira
O
abraço da vampira deixou-me com eternas marcas. Uma conversa, um toque,
um sorriso e a esperança de que cada noite será melhor, mas quente e mais
apaixonante.
A vampira disse que temos o dom de sermos o que quisermos ser, mas ela não.
Ela me beijou e seguiu seu caminho. Fiquei ali... Calado, com lágrimas nos olhos.
Tento olhar as estrelas, mas a minha vista estava embaçada demais. Imagino que
caminho eu escolheria, mas não existe caminho nenhum.
Meu coração tinha ido com ela. Coloco a mão no meu pescoço e sinto o meu
sangue sair lentamente.
Ela me mordeu. Meu sorriso voltou.
Em breve então, irei encontrá-la!
Adriano Siqueira: é colecionador sobre tudo o que existe em relação aos
vampiros, além de escritor, produz curtas, radionovelas, Hqs e Quadros. Participou
do livro Amor Vampiro junto com mais seis escritores. Produz o zine de contos de
vampiros Adorável Noite que é distribuído em eventos e casas noturnas.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Espelho
Alexandre Copelli
O
lhou para o espelho e refletiu. Refletida. Gorda como uma porca, ainda assim
sua silhueta não preencheria toda aquela área. Algo disputava espaço entre a
moldura. Lembranças? Sentia falta do tempo em que era amada e ainda caberia no
espelho, mesmo que como agora, sob seu ombro, repousasse alma penada.
O frango bateu asas no estômago, almoço querendo fugir. A galinha saiu,
depenada, escorrendo pelo vidro em amarelo. Gotejando como as mãos rubras que
vertiam sangue no espelho. Olhou para trás. Sozinha. Diante de si, via algo que
não podia estar ali. Mas já estivera. Era o rosto nítido de seu falecido marido.
Algo disputava espaço. Espírito? Culpa! Remorso pela traição, pela facada.
Acidental. A traição não, o golpe. Com a mesma faca que agora saia do espelho.
Pendurou o espelho, da filha. Suicida. Algo disputava espaço. Não viu os dois vultos
sob seus ombros. O que ela teria para ver ali refletido? Refletindo?
Alexandre Copelli: nasceu em Votorantim, São Paulo, em 1989. Estudante de
Processamento de Dados. É co-autor de duas antologias de contos: O Livro Negro
dos Vampiros, Andross. E Vampirus Brasil, Giz Editorial.
Contato com o autor: [email protected] ou [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Velho Casebre
Almir Pascale
A
o caminhar na calçada do velho casebre abandonado, me detive ao ouvir
algumas vozes. No quintal da casa, havia um casal, um pequeno garoto e uma
jovem com aproximadamente meus 15 anos. Eles vestiam roupas antigas, iguais às
fotos do álbum de minha avó Benedita. Ao ver-me, a jovem de vestido branco com
um crucifixo nas mãos, aproximou-se e falou:
Sei que não me conhece, mas por favor, encontre um padre e diga à ele
para entrar no porão desta casa. Lá ele encontrará o resultado da ação de uma
esposa ciumenta, que há 49 anos, após envenenar e matar sua família, arrastou
um a um para o porão, e cortando os pulsos, uniu-se à eles.
À seguir, a jovem e sua família se despediram e entraram na casa.
Horas depois, ao lado de meu pai e de um padre, encontramos quatro esqueletos
no porão, e entre eles, um de vestido branco com um crucifixo nas mãos.
Almir Pascale: São Paulo, 1968, de origem européia (Itália) por parte de mãe, é
formado em Gestão Financeira, escritor, participou da Antologia Anno Domini pela
editora Andross, e da Antologia Contos Fantásticos 12° volume pela Câmara
Brasileira de Jovens Escritores; ativista cultural e colaborador do Portal Cultural
Cranik. (www.Cranik.com). Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Um Homem Guardado
André Beltrão
S
entiu que não conseguiria abrir os olhos naquela manhã. Aquilo vinha se
repetindo com uma freqüência cada vez maior, ele acordava mas não conseguia
abrir os olhos nem se mexer por alguns instantes. O único sentido em alerta era o
olfato, e sentia o cheiro de café quente.
Primeiro foram segundos, parecia ter sido apenas uma impressão. Então, a cada
vez, alguns segundos a mais, alguns minutos a mais. Sabia estar acordado há
muito tempo, uma hora talvez. Ao redor, a casa vivia: ouvia murmúrios. Mexiam
nele, em seus braços, em seu rosto. Cheiros variados, de álcool, medicamentos.
O tempo já não existia, em ebulição interna porém inerte confundia as horas com
minutos e já nem sabia em que pensar. Tinha sido levantado, carregado, remexido.
Espetaram coisas, amarraram partes, muitas vozes diferentes, sons. Então o
silêncio. O único cheiro era o do perfume de crisântemos e rosas.
André Beltrão: Designer, sócio do escritório carioca Studio Creamcrackers e
professor dos cursos de Design e Publicidade da UniverCidade/Rio de Janeiro. Tem
contos publicados em antologias pelas editoras Andross e Guemanisse.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Uno et continnum
Anne Caroline Quiangala
A
bri os olhos, não era possível que aquilo fosse real... mas era. Meus pés e mãos
atados por correntes, o suor gotejando visivelmente. A lua já ia alta, o ritual enfim
se iniciara, evidentemente. Suspensa a uma espécie de piscina repleta de cabeças
soltas dos corpos, que meus pés tocavam caso não os encolhesse rigidamente. Fui
embebida de uma estranha mistura composta por sangue, certamente. À medida
que o tempo transcorria não era mais capaz de manter-me separada daquela pilha.
Ao longo daquilo que bem poderia ser um templo das trevas, tamanha a imensidão
e quantidade de mulheres em condições idênticas a minha, mesmas piscinas de
cadáveres pútridos, mesmos cadáveres decapitados, mesmas incertezas... ou não.
De uma hora para outra, todas, excetuando-me, foram empaladas de baixo para
cima: tratava-se de uma sangria em honra de um deus que hoje sou sacerdotisa só
e contínua.
Anne Caroline Quiangala: nasceu em 19 de janeiro de 1990 em Vila Velha,
Espírito Santo. Publica textos de sua autoria na revista independente Pequeno
Almanaque Gótico, no blog www.carolquiangala.blogspot.com, além do site de
terror: www.contosdeterror.com.br/contos/hostias.html. Contato com a autora:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Carne Moída
Arlequim Noctâmbulo
E
u já estava cansado de tanto esperar pela hora de rever minha dama.
-Ah, dama da noite. Eu olho para as estrelas imaginando nós dois no além,
somente nós dois juntos e na Terra.
Quinta-feira já à Noite. Precisava pegar o trem, mas eu não estava a fim de pagar a
passagem. Eu me aproximava do muro e ao avistar uma pessoa que há poucas
semanas desejava acabar com ela. Consegui pular o muro da estação sem a pessoa
ver. Estava decidido a dar um fim nela. Cheguei por detrás dela, o trem vinha e
rapidamente com meus pés dei um empurrão no individuo e ele caiu bem na frente
do trem formando pedaços moídos. Um dos passageiros perguntou: “Onde está o
segurança?”
E eu respondi: “ele esta debaixo do trem todo despedaçado pra aprender a me
deixar pular a estação”.
Arlequim Noctâmbulo: é o pseudônimo de Tiago Freitas. nasceu em 1988 na
cidade de Osasco/SP. atualmente trabalha como operador de máquinas e cursa
técnico de informática. Escreve contos e apóia o incentivo à leitura. Ferrenho
defensor da leitura e da ordem social. Seu trabalho é aos poucos divulgado em
zines alternativos. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Saturno
Cláudio Brites
N
ão havia no contato com os pés algo mais morno e cândido do que aquelas
mãozinhas infantis, ainda mais quando paradas. Somente as mãos, pequenas,
pisadas, em silêncio. Livres dos movimentos irritantes e sem controle. Todas elas,
caídas, restos do banquete de um pai faminto.
Cláudio Brites: nasceu na cidade de São Paulo, em 1983. Formado em letras
trabalha no terceiro setor e escreve nas horas vagas, aos amigos diz que não é um
escritor, mas um leitor que ousa escrever. Organizou as antologias de contos O
Livro Negro dos Vampiros e Anno Domini - Manuscritos Medievais pela Andross
Editora. Contato com o autor: www.hipocentro.blogspot.com.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Buraco
Danny Marks
Q
uando, por um acaso, o encontraram e o tiraram do buraco, não entenderam
porque ele lutou tanto para ficar onde estava. Nem imaginavam de onde tirava
tanta força, alimentando-se das frutas que caíam da árvore, dos vermes que
habitavam o lugar, bebendo a água da chuva que empoçava no fundo.
Trataram dele e o devolveram ao seu mundo, curado.
Ainda hoje ele pensa no buraco, sonha com ele, mas não conta nada pra ninguém.
Em algum lugar, o buraco aguarda pacientemente que ele atenda o chamado.
Danny Marks: como é conhecido Daniel Teijeira Claro, nasceu em Santos – São
Paulo. Aposentado, é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Santa
Cecília e Ciência Evolucionária pela Irmandade Mística Filhos do Dragão. Critico de
Cinema no portal www.cranik.com. Publicou anteriormente em Garimpo de Palavras
e Letras Mínimas, pela Editora Guemanisse e Anno Domini e Caminhos do Medo,
pela Editora Andross. Possui várias premiações em concursos literários.
Contato com o autor: [email protected].
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Mão do Coração
Diego Piovesan
À
frente de um espelho Amy mirava-se. Lá estava ela, com aquele rosto ossudo
que lhe dava a aparência de um crânio com uma leve e fina camada de pele por
cima. Estava deslumbrante, inteira de preto como deveria ser. A viúva negra.
Indiferente, ela caminhou lentamente até a sala ao lado, onde um negro caixão
lustroso a esperava. As poucas pessoas a volta tornou aquilo tudo mais fácil.
Lá estava Christian, deitado com as mãos juntas a frente do peito. O relógio havia
parado para ele. Tudo estava ao seu alcance agora que havia partido. Amy deixou
cair uma lágrima na gélida e esbranquiçada mão de seu amado, que abriu os olhos
vermelhos cheio de sua amaldiçoada vida: “Há espaço aqui para você, querida”.
Enfim lá estava, em um mundo onde não havia mais tempo ou relógio, vazio e frio.
Um mundo que seria deles, só deles. Para sempre.
Diego Piovesan: estudante de Jornalismo, escreve desde quando não sabia falar
quantos anos tinha sem mostrar nos dedos. Amante de música, filmes e livros de
ficção. Perdido em um mundo de loucos maníacos homicidas, mas mesmo assim se
diverte. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Confessionário
Elenir Alves
M
arta está pronta esperando só dar o horário de ir até a pequena igreja, há dois
quarteirões de sua casa, pois ela sempre se arrumara cedo para não chegar
atrasada na missa que começa às 18h. Marta, 25 anos, vai a igreja desde os cinco.
Filha única, de pais falecidos há 6 anos em acidente automobilístico. Hoje é
independente e mora sozinha. Ao chegar na igreja às 17h45, Marta percebe apenas
a presença de sua amiga Roberta, sendo que naquele horário, sempre encontrava a
igreja cheia. Pensativa, pergunta pelo padre Israel para sua amiga, mas ela
responde que chegou às 17h30 e até o momento ele não aparecera. Marta vai até o
confessionário a procura do padre, mas para sua surpresa, antes de chegar lá,
percebe uma sombra negra saindo atrás da porta da ante-sala do confessionário,
assustada pela medonha visão, grita pelo padre Israel, mas, ao adentrar-se no
pequeno recinto, encontra um corpo inerte de um conhecido padre.
Elenir Alves: publicitária e escritora. Colabora regularmente com a revista
Caderno Literário da editora Pragmatha, trabalhou 10 anos na área de R.H e
trabalha atualmente na assessoria de imprensa do portal Cranik (www.cranik.com),
além de organizadora e co-editora do zine TerrorZine – Minicontos de Terror.
Contato com a autora: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
16
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Mala
Frodo Oliveira
- Q
uero que saiba, sempre te achei uma mala sem alça! Você implicou com
tudo o que eu gostava. Se era o futebol na TV, você queria ver a novela. Se eu
planejava ir ao cinema, você sempre arranjava uma desculpa para não sairmos.
Meus amigos nunca eram bons o suficiente. Uns fracassados, como você fazia
questão de deixar bem claro. Uma mala, ouviu?... Sempre pronta a me humilhar,
me fazer passar por idiota!... Agora chega! Cansei dessa vida, não sei onde estava
com a cabeça quando me casei com você!... Adeus, até nunca mais. Sua mala...
Deu uma gargalhada ensandecida, enquanto com as duas mãos, tentava fechar o
zíper da grande mala onde o cadáver esquartejado da esposa teimava em não
caber.
Frodo Oliveira: é o pseudônimo de Frodovino Lemos de Oliveira, nascido em
Recife/PE em 30/12/67 e residente há mais de vinte anos no Rio de Janeiro.
Comerciário e acadêmico de Letras da Faculdade Simonsen, participou das
antologias Noctâmbulos (2007), Caminhos do Medo (2008) e publicou o livro
Extrema Perfeição (2008). Atualmente finaliza o segundo livro, A torre negra.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Senhora do Castelo
Giulia Moon
E
le bateu à minha porta numa noite sem luar. Seu cavalo era negro, trazia um
lobo gigantesco a saltar ao seu lado.
“Senhora, dê-me abrigo”, disse, seus dentes brancos surgindo nos lábios
entreabertos por um sorriso morno.
Deixei-o entrar e servi-lhe vinho que não bebeu, carne que não provou, pão que
recusou. Quis o que não lhe cabia, segurando-me com as mãos grandes e fortes,
enquanto eu gritava um pouco de medo e um pouco de prazer.
Isso foi há tempos. Hoje, restou apenas o seu corpo sem vida que apodrece nas
masmorras. Restou também o grande lobo de caninos afiados, que monto nua nas
noites de lua cheia. Grito sempre, uivos longos e cheios de sensações inexplicáveis.
Sinto medo, ainda. E pressinto o prazer.
Aquele que eu espero ainda não veio, ainda não veio, ainda não veio...
Giulia Moon: é paulistana, já foi diretora de arte, ilustradora e diretora de criação
em propaganda. Seus livros: Luar de Vampiros (Scortecci, 2003), Vampiros no
Espelho & Outros Seres Obscuros (Landy, 2004), A Dama-Morcega (Landy, 2006),
Amor Vampiro (Giz Editorial, 2008). Edita o fanzine FicZine e é co-editora da
Scarium Megazine. Site: www.giuliamoon.com.br.
TerrorZine – Minicontos de Terror
18
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Sem Testemunhas
Helena Gomes
E
la gritou alto. Indiferente ao sofrimento que provocava, ele investiu toda
a sua força no ataque. Não era a primeira vez, mas também estava muito longe de
ser a última. Minúsculas gotas de sangue se uniram ao suor do corpo feminino. As
lágrimas de dor roubavam-lhe a visão.
Ele prosseguiu em seu ritual de voracidade. Mais dor. Mais lágrimas. O
sangue ainda fluía quando ele aumentou sua ânsia pelo prazer que arrancava dela.
Ávido, não se importava com a tortura.
Por amor, ela lhe concederia tudo. Adorá-lo era sua salvação. E perdê-lo,
seu maior terror. Ele a impedia de ser só, de morrer envolvida pela solidão. Não
havia mais ninguém agora. Somente os dois. Lá fora, o vento frio surrava a velha
cabana perdida na floresta.
Enfim saciado, ele adormeceu. Com cuidado, ela o embalou na manta e o
devolveu ao improvisado berço de madeira. Mais sofrimento a aguardava na
próxima mamada. Até que seus seios adolescentes se acostumassem com a rotina
de mãe que a fortalecia a cada dia.
Helena Gomes: nasceu em Santos, São Paulo, em 1966. É jornalista e professora
universitária, com especialização em Educação e Educação a Distância. Publicou os
livros Assassinato na Biblioteca (Rocco, 2008), Lobo Alpha (Rocco, 2006), O
Arqueiro e a Feiticeira (Devir, 2003), Aliança dos Povos (Idea, 2007) e Despertar do
Dragão (Idea, 2008). É co-autora do livro Memórias da Hotelaria Santista (1997).
Participou da antologia O Livro Negro dos Vampiros (Andross, 2007) e é coorganizadora da antologia de contos medievais Anno Domini (Andross, 2008). Blog:
www.mundonergal.blogspot.com.
TerrorZine – Minicontos de Terror
19
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Existência de Deus
J. Modesto
N
ewton terminou de reler, pela última vez, o texto que produzira e ficou
satisfeito. Em sua modesta opinião era seu melhor trabalho. O tema fora
desenvolvido com maestria. “A existência de Deus” fora, claramente, uma forma de
seu editor, católico fervoroso, provocá-lo, pois, sabidamente, Newton era um ateu
convicto. De posse do trabalho, dirigiu-se até a redação, onde o editor o recebeu.
Com um sorriso no rosto, Newton entregou-lhe o texto e ambos sentaram-se. Após
lê-lo, e com lágrimas nos olhos o chefe cumprimentou-o, dizendo saber que Newton
nunca fora um ateu e que sempre soubera que ele acreditava no Criador, fato
provado pelo texto maravilhoso que produzira. Sem titubear, o escritor negou tal
crença.
Calmamente o escritor respondeu-lhe
– É apenas uma história de ficçããããão!
J. Modesto: nascido em 04/12/1966, Arquiteto e Urbanista, é autor das obras
TREVAS e ANHANGÁ - A FÚRIA DO DEMÔNIO. Participou da coletânea AMOR
VAMPIRO, com os contos AMANTE NOTÍVAGO e O ANJO E A VAMPIRA, todas
publicadas
pela
GIZ
EDITORIAL.
Contato
com
o
autor:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
20
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Bicho de Duas Cabeças
João Batista dos Santos
P
uxou uma longa tragada.
Depois, seguidamente, mais e mais.
Queria chegar ao fundo do seu eu.
Quando viu, estava em pânico total.
"Ele existia mesmo, ou tudo não passava de um sonho?"
Drogado de primeira viagem, saiu, nu, correndo pelas ruas, sem saber o que fazer.
De repente estava no consultório da sua psiquiatra.
- Por que você fez isso, sua besta? - berrou ela com uma das bocas.
- Vem cá, meu anjo - sussurrou a mulher com a outra boca - não fica com medo
não, que isso passa logo.
Mas não passou.
João Batista dos Santos: é de Londrina/PR. Tem 52 anos, é servidor público e
escreve desde adolescente nos gêneros poesias, contos, crônicas e humor. Ganhou
vários prêmios como poeta e contista. Lançou um livro de poesias: O Descanso do
Guerreiro Distraído. Em 1999 lançou o zine Jornal Leco. Contato com o autor:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Luz no fim da estrada
Jonatas Turcato Syrayama
A
cidente de carro. A pobre mulher tentou desviar de alguém que apareceu
repentinamente na pista e acabou capotando o carro. Estava de cabeça para baixo
e sangrando, arrastou-se para fora do pouco que sobrou do veículo. No fim da
estrada viu uma luz branca e teve a sensação de estar indo para outro mundo.
Olhou para dentro do carro e pode ver seu corpo entre as ferragens. Ficou
apavorada e sentiu uma luz branca chamando-a. Ela não queria morrer, não queria
partir. Então uma menina de uns oito anos apareceu e a pegou pela mão – “Venha
comigo! Vamos fugir! Não deixem que eles nos peguem. Sentindo a luz aumentar e
o medo a dominar, a pobre mulher correu com a garota para bem longe da luz,
para que a morte não às alcançassem. Do outro lado da estrada em meio a
escuridão a menina sorri – “Que bom que você não foi embora, agora nunca mais
ficarei sozinha aqui nesta estrada. Nunca mais...”
Jonatas Turcato Syrayama: de Praia Grande, SP, é formado em Letras,
Especialista em Produção Textual e Mestrando em Educação. É professor
universitário e escritor. Expõe trabalhos nos site www.recantodasletras.com.br.
www.cranik.com e uma coluna no site www.oentrevistador.com.br. Publicou
anteriormente em antologias de terror, ficção, entre outras. Contato com o autor:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Força Bruta
Kathia Brienza
U
m filete de sangue escorre por sobre meus olhos, turvando minha visão,
colando meus cílios. Sinto um cheiro estranho e, então, a dor aguda, profunda,
lancinante, do ferro marcando meu corpo. Tento gritar, mas o joelho de um dos
homens está pressionando meu pescoço contra o chão, me imobilizando. Mal
consigo respirar. Uma lágrima escorre do meu olho esquerdo, que está muito perto
do solo. Água, sal, sangue e terra se misturam; dor, desespero, impotência e
humilhação se confundem, mas nada comove nenhum daqueles homens.
Eles conversam, riem, contam piadas, alheios ao meu sofrimento. Partem,
agora, para a última tortura: minhas pernas são puxadas para frente, amarradas, e
meu saco escrotal tracionado para trás. A lâmina amolada rasga a pele, meus
testículos imaturos são expostos e os canais que os prendem, rompidos com vigor,
causando uma dor inenarrável. Tudo está acabado. Meu destino está traçado.
Agora só me resta ir para o pasto, engordar.
Kathia Brienza: nasceu em Santos, São Paulo, em 1964. Mestre em Letras e em
Medicina Veterinária, trabalha, atualmente, como funcionária pública federal.
Participou das antologias O Livro Negro dos Vampiros e Anno Domini da Andross
Editora. Contato com a autora: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Noturno
Leandro “Radrak”
E
u desperto. Não entendo porquê, mas meu coração está disparado. Meu corpo
recusa-se a mover. Falta-me ar devido a uma pressão em meu peito. O que está
acontecendo?
O estranho toque move-se para perto de meu pescoço. Uma mão? Não consigo
pensar. Nada enxergo na escuridão, mesmo assim fecho meus olhos com força.
Uma dormência aflige meus membros. O silêncio nada revela, exceto o pulsar
apavorado em meu peito. Uma respiração toca meu rosto. Nenhum cheiro.
Somente um suspiro e o ar quente. A pressão diminui e ouço passos afastando-se.
Sentido lágrimas fugirem de meus olhos permaneço ali, sem coragem para sequer
tentar mover-me.
Desperto novamente, a janela bate com o vento. Apenas rezo para que possa
dormir mais uma vez. Para que tudo tenha sido somente um sonho.
Leandro “Radrak”: vive em São José dos Campos-SP, nas horas vagas escreve
contos e trabalha no romance Filhos de Galagah, de seu projeto intitulado
Grinmelken. Autor do conto Batismo de Fogo, publicado na antologia Anno Domini,
expõe seus trabalhos em www.grinmelken.com.br e blog.grinmelken.com.br.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Loja de Antiguidades
Leonardo Brum
E
ntrou repentinamente na penumbra. Outra loja daquelas. Ninguém o encontraria
ali. Olhou desconfiado a sua volta. Algo ali dentro o incomodava. Arte-décor, artnouveau, nada de valor. Apertava alguma coisa contra o peito. Ninguém poderia
saber. “Ai, que porra é essa?”. Assustou-se com o palhacinho tocador de sanfona.
Olhos acesos e vermelhos. Parecia vivo.
Súbito, foi arremessado longe, deixando cair o que tinha nas mãos: Castiçais
antigos de prata. Ouviu uma música soar. Sanfona. Olhos vermelhos ao longe, mais
uma vez foi lançado contra a parede. Um frio dos diabos. “Quem está aí?”. Mas não
houve resposta.
Uma porta se abriu. Claridade da rua. Sirene de polícia. Um homem esbaforido sai
correndo da Loja de Antiguidades e é preso sob o olhar curioso do policial. “Fanfantasma!”, berrava ele, “Eu vi um fantasma!”
Leonardo Brum: tem 35 anos e é mineiro de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Participou da Antologia Sentido Inverso, 2008, da Andross. Publicará seu primeiro
livro de suspense pela Editora Novo Século no próximo mês de outubro, intitulado
Um Mundo Perfeito. Reside atualmente no Rio de Janeiro e dedica-se à conclusão
de seu segundo livro. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Gosma
Leonardo Grasel
O
lho para os lados. Nada. A escuridão é tamanha que sequer percebo minha
existência. Tento mexer os braços, sacudindo-os, na esperança que meus olhos
detectem algum lampejo de vida. Em vão! Para meu total desespero, percebo que,
mesmo depois de algum tempo, minha visão não parece acostumar-se com aquela
inexorável negritude. Arrisco o primeiro passo. O chão é estranhamente pegajoso,
como se um tapete de cola se estendesse sob meus pés. Ao tencionar o segundo,
sinto minha chinela grudando-se no solo, meu corpo cambaleando, os braços
revoltos no ar. Meu rosto bate no piso com estupidez. Uma espécie de gosma
penetra pelos meus lábios. Levo uma mão até o pastoso muco e... Deus meu...
Está vivo! Debato-me frenético contra aquela nojeira que, agora, desbrava minha
língua, rastejando-se. Um jorro de vômito projeta-se de meu estômago. Minha
boca se enche de gosma e restos estomacais... Ah, não!... Minha garggg...
Leonardo Grasel: nasceu em Florianópolis, em 1982.
Cursa Direito na
Universidade Federal de Santa Catarina. Já publicou um conto na antologia
Caminhos do Medo da Andross Editora. Outras obras deste escritor amador
encontram-se no site www.recantodasletras.com.br. Contato com o autor:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Olhos de Superfície
Marcelo J. Borghi
O
lhos são abertos. Dor de cabeça e sem qualquer lembrança uma pessoa acorda.
Um som baixo da sirene de carro de policia aproximando-se. Há muito sangue nas
mãos desta pessoa e uma faca ensangüentada na mão direita. Aos pés desta
pessoa, um corpo esquartejado pela mesma faca. Em minutos a policia invade o
local e prende o suspeito, enquanto alguém observa tudo a uma distância segura o verdadeiro culpado. Tudo naquele lugar foi perfeitamente implantado pelo
verdadeiro culpado para incriminar um inocente e, também para mostrar, através
desta forma cruel e psicótica, que a verdade está além dos olhos, devendo ser
interpretada. Pois se a policia observasse o quê estava além de todas as provas
veria uma dica deixada propositalmente pelo culpado, que o incriminava.
Macelo J. Borghi: é o pseudônimo de Marcelo Jacomo Borghi, que nasceu em São
Paulo. Trabalha como empreendedor no ramo de atividade da reciclagem. Publicou
em O livro negro dos vampiros e Caminhos do medo, ambos da Andross Editora.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Homem, a Cobaia Macabra
Marcelo M. Marques
Q
uando voltei a enxergar, mesmo paralisado, naquele ambiente sombrio, vi três
criaturas gelatinosas e disformes, fagocitando membros humanos antes pendurados
em ganchos no teto pútrido, os trazendo ao chão. Quando o macabro show acabou
vieram em minha direção, mesclando-se virando uma única grande criatura
recheada de carne e ossos, então percebi algo que não gostaria de saber nunca.
Olhei para ela e vi um cérebro, dentro de um cilindro vítreo, cheio de líquido
viscoso. A única coisa que humanizava aquele cérebro eram dois globos oculares,
que permaneciam ligados a ele. Imóveis.
Na verdade o que eu estava vendo era o meu reflexo no monstro gelatinoso.
Queria gritar, chorar, me matar....mas não podia, pois eu era apenas uma
Massa cinzenta sem corpo, e nem ao menos sabia como e porquê estava
Ali.
Marcelo M. Marques: é ilustrador, gosta de ficção cientifica, filosofia, antropologia
Além de boas ilustrações é claro. Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Linha de Trem
Márcio Benjamin
D
iz que começou com o filho da dona da barraca de verdura, bem aqui em
frente. Foi pegar um carrinho, sei lá, e não ouviu o apito do bloqueio. A gente nem
sabia onde começava uma coisa e terminava outra. Coisa feia de se ver, mulher.
O povo jurava que o menino tava lá. Na casa. Tomando sopa e café, a comida toda
se esparramando pela garganta, Deus me perdoe.
Dia desses tomei coragem. Falei com ela. O menino só vi de costas, sentado na
mesa da cozinha. As linhas pretas e grossas mal costuradas juntando braços,
juntando pernas. Mas aceitei, no fim. Saudade é pior.
Daqui da janela dá pra ver que vem alguém. No fim da rua. Cambaleando que nem
criança. Reconheço o terno sim; todo furado de bala.
Vem, amor. Volta pra casa.
Márcio Benjamin: tem 28 anos, é natalense, advogado e escritor, com dois livros
publicados pela editora Andross, Noctâmbulos e Caminhos do medo. Acredita
piamente que o verdadeiro terror mora em nosso cotidiano. Escreve no site
www.umanjopornografico.blogspot.com.
Contato
com
o
autor:
[email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Diamantes Efêmeros
Martha Argel
E
la abriu os olhos.
Viu somente a rosa, uma gota de umidade da noite pendendo indecisa das pétalas
vermelhas manchadas pela idade.
Sentiu no peito a dor da ferida fatal. Relembrou. O homem que amara e que
transformara, na fúria cega do ato de ciúmes, em perseguidor implacável.
O fim. Uma última lágrima de amor surgiu-lhe nos olhos.
Gota e lágrima caíram, em justa sincronia, diamantes líquidos brilhando no primeiro
raio do sol nascente.
Em breve, o sol impiedoso que crescia no horizonte iluminava apenas o jardim
abandonado, enquanto suas cinzas se perdiam, passado já, no vento suave da
manhã.
Martha Argel: é bióloga e escritora. Junto com Humberto Moura Neto, traduziu e
organizou O Vampiro Antes de Drácula (Editora Aleph), antologia com 12 contos
vampíricos do século XIX, que também traz um estudo sobre a evolução do mito
até o surgimento de Drácula, de Bram Stoker. Site: www.marthaargel.com. Lista
de notícias: br.groups.yahoo.com/group/MarthaArgel.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Mentira Mortal
Nazarethe Fonseca
-C
omo se chama? - o assassino perguntou com a arma junto à cabeça de sua
última refém. Os olhos nas portas do banco.
- Nelly. - a jovem disse num soluço rouco. – Se entregue, por favor. - a
jovem pediu tentando evitar o que se seguiria.
- É muito tarde para voltar atrás. – comentou vendo os corpos dos reféns
que matou, quando suas exigências não eram cumpridas. - Cale a boca! - disse
enlouquecido puxando seus cabelos. - Eu não vou morrer! - gritou furioso.
Entrou no banco e alvejou varias pessoas. Fugia de um assalto mal sucedido em
uma joalheria. Esperava um helicóptero para a fuga. O detonador estava em sua
mão suada. Ao redor somente sangue e morte... O desespero deixava Nelly sem
ar... Precisava respirar. Ela agiu depressa, se abaixou e apertou o detonador. Tudo
pareceu estar em câmera lenta. Não houve explosão, só um disparo seco e o
respingar de sangue e pedaços de cérebro sobre seu rosto e cabelos. O
Seqüestrador estava morto e ela viva.
Nazarethe Fonseca: nasceu em São Luís, no Maranhão. Leitora voraz desde a
infância, manteve o hábito de devorar seus livros na calada da noite. Sua paixão
pelo soturno passou a abraçar os filmes, as músicas e tudo com uma capacidade
inerente de gerar a atmosfera fascinante do sobrenatural. Como predestinação, os
vampiros foram os personagens que mais marcaram esse prazer, fazendo aflorar a
arte das letras, que a autora exerce desde seu primeiro romance: Alma e Sangue, o
despertar do vampiro e Kara e Kman em uma nova saga de alma e sangue.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Cativeiro de Vidro
Nelson Magrini
A
noção do tempo não existia. Dia após dia, a fuga dominava-lhe os desejos,
enraizada com firmeza à vontade. Paciência e oportunidade se faziam necessárias,
mas não havia certeza de que delas iria dispor. Porém, precisava agüentar,
sobreviver até surgir a chance que tanto vislumbrava.
Os outros não tinham nomes, embora alguns os chamavam de predadores, uma
palavra rebuscada para descrever o inimigo implacável, que não media esforços
para impor sua vontade. E frente à realidade, não se iludia quanto à fuga. Sabia
que não teria segurança e liberdade para sempre, ainda assim, por menor que
fosse, era preferível a se submeter a uma servidão de sádicos.
Os dias se sobrepuseram a dias, e por fim, paciência e persistência foram
recompensadas, e uma pequena fresta na porta, deixada aberta de modo
descuidado, foi tudo que o ratinho de laboratório precisou para esvaecer.
Nelson Magrini: é engenheiro mecânico e um apaixonado em Física e Mecânica
Quântica. Passou a escrever a partir do ano 2000, tendo publicado ANJO A Face do
Mal (2004), Relâmpagos de Sangue (2006), e o conto Isabella, em Amor Vampiro
(2008). Seu mais recente livro, VAMPIRO – Fria Simetria, se encontra no prelo.
Contato com o autor: [email protected].
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
O Último Suspiro
Ricardo Delfin
D
os pulsos recente abertos escorreu o néctar vermelho da vida. O líquido
escarlate vertia em queda rumo ao chão e formava uma poça ao redor da lâmina
fria já caída no piso imundo. Na boca, o sabor nauseante da derrota. Nos olhos, a
lágrima da dor. No chão, o suco viscoso da existência espalhava-se e envolvia o ser
amargurado. A visão, agora turva. O equilíbrio, falho. A consciência pouco a pouco
esvaía-se e antes do último suspiro, um sentimento. O arrependimento.
Ricardo Delfin: publicou contos nas antologias O Livro Negro dos Vampiros, Anno
Domini – Manuscritos Medievais e Caminhos do Medo. Todas da Andross Editora.
Contato com o autor: [email protected].
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Noites Urbanas
Roberlandio A. Pinheiro
A
s mãos resvalaram, trêmulas, na pedra fria. O toque gélido abrandou as batidas
desenfreadas de seu coração. Mas, não por tempo suficiente. À frente, um caminho
infinito, feito de portas fechadas, ouvidos surdos e janelas de vidros escuros se
perdiam ao longe e a lua, escondida em algum lugar, chorava triste.
Não havia tempo!
As pernas fraquejaram, teimando em não obedecer. Precisava correr. Fugir
dali; dele. Olhou a escuridão que avançava, não o viu. Mas, um som rouco a
perseguia, enchia seus ouvidos. Som de medo, de morte. Um grito abafado ficou
preso na garganta, um pedido mudo de socorro. Pra quem? Estava só. E então,
sentiu. Garras afiadas dilacerando sua carne flácida, palavras vis ditas entre sons
guturais, desejos que não entendia. E os olhos, aqueles malditos olhos negros que
a devoravam avidamente. Outra dor, forte, pungente, e a noite foi-se, morta!
Roberlandio A. Pinheiro: Publicitário. Casado. Pai da Sade (uma siamesa linda) e
um apaixonado pelas letras e pela literatura.
Por volta dos 15 anos começou a escrever pequenos contos e histórias de ficção e
fantasia, cuja reunião deu origem a seu primeiro romance, Lordes de Thargor, O
Vale
de
Eldor,
recentemente
publicado.
Contato
com
o
autor:
[email protected].
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Debutante
Simone Marques
A
mão pálida estendida. A música favorita que tocava. Nunca dançara. Nunca
ninguém se importara. Os dedos se esticaram e alcançaram a mão salvadora. Era
quente, acolhedora, firme, segura. Ele era lindo. Nem em seus sonhos o havia
imaginado tão encantador. A conduzia com leveza. Seus passos a faziam flutuar.
Era a dança da sua vida! Os olhares não eram de escárnio ou desprezo.
Transmitiam apenas a inveja ao vê-la dançando tão bem com aquele belo par. A
vingança a fazia flutuar cada vez mais. Todos os anos em que quisera ser aceita e
apenas recebera o desdém estavam vingados enquanto ela dançava,
perfeitamente, com o par mais belo do salão. Ele a puxou para junto do corpo
forte, quente. O coração juvenil deu um salto no peito e sua respiração falhou. Ela
sorriu como não sorria desde que entrara para adolescência. Encostou-se ao corpo
quente convidativo... Ana não ouviu os gritos de seu pai e os lamentos dolorosos de
sua mãe quando a encontraram cercada por um mar de sangue, os pulsos cortados
sobre os lençóis cor-de-rosa. Nos fones de ouvido, sua música favorita. Nos lábios,
um sorriso.
Simone Marques: nasceu na cidade de São Paulo em novembro de 1969, casada,
mãe de uma filha de 15 anos. Formada em Pedagogia pela PUC-SP, Mestre em
Educação pela UFPR. Lecionou em cursos de graduação e pós-graduação. Começou
a se dedicar à criação de contos e romances em fevereiro de 2007. Atualmente
mora em Recife.
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Rancor
Sr. Arcano
J
udas era rancoroso, mas bem calmo... Até chegar a hora de lhe provocarem!
“Pau no Judas! Pau no Judas!”. E ele ficava furioso com a brincadeira, pedia
SEISCENTAS E SESSENTA E SEIS VEZES para pararem com aquilo. Mas não
paravam... E ele se debatia e gritava de ódio...
Mas acontece que por mais que ele se debatesse e gritasse as provocações nunca
acabavam, pelo contrário, só aumentavam, vindas de todas as partes. E Judas
sentia os músculos de seu corpo se enrijecendo, e quanto mais gritava de ódio,
mais sentia seu corpo petrificando-se.
E petrificou-se com um olhar de ódio voltado para o céu, numa ânsia de querer
arrebentar a todos com seu ódio, mas sem conseguir porque eram muitos!
E de tanto ódio pelo o que veio a acontecer-lhe... quebrou.
Sr. Arcano: (Alexandre Souza), escreve contos e poemas. Tem preferência pelos
temas sombrios e macabros. Possui um site e fanzine, chamados de “Sombrias
Escrituras”, que reúnem diversos autores com preferências pelos mesmos temas.
Já publicou diversos textos em sites e fanzines. Contato com o autor:
[email protected].
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
A Herança
Waldick Garrett
V
itor decidira descer. Imóvel na penumbra, ouviu algo se arrastar em um dos
cantos do porão. Elevou o facão sobre a cabeça, que comumente usava para cortar
cana-de-açúcar, e permaneceu silente, na espreita. Então sentiu um toque gélido
logo acima de sua curta meia. Antes que pudesse reagir, ouviu um estalo, seguido
de fragmentos em atrito. Sua canela fora esmigalhada, assim como fazia seu
compadre aos gracejos ao pressionar um pedaço de cana maduro até transformá-lo
em feixes desconexos. Sentia o sangue vertendo do que restara de sua perna,
escorrendo entre as garras daquela coisa rastejante, imunda.
Despencou uivando de dor. Na queda, o facão atingiu sua coxa direita. O som
tornou-se aquoso e Vitor, incrédulo, sentia sua perna sendo devorada rapidamente.
A coisa sentia o odor do sangue, fazia-a salivar, enlouquecia-a.
Vitor já não conseguia mais concatenar suas idéias, seu plano de reação. A dor o
paralisara. Sua silhueta na escuridão grunhia, estremecia com os golpes das
mandíbulas colossais. Arrependera-se de ter arrombado o porão. Sempre fora
curioso, sempre fora desobediente.
Se ao menos morresse... se ao menos tivesse mantido o porão trancado até a sua
morte podia ter, pelo menos, tentado evitar que aquela herança maldita se
perpetrasse. Talvez não o transformasse naquilo que, há décadas, seus ancestrais
experimentavam, mas não... havia sempre muita teimosia na família... e talvez isso
também fizesse parte da herança.
Waldick Garrett: é Comendador Literário Internacional BR/PO e foi indicado a
receber a Faixa Grã-Cruz, pertencente ao Imperador D. Pedro II, como destaque da
cultura internacional. Membro efetivo da tradicional ACCUR - Academia de Cultura
de Curitiba e autor do Manuscritos de Sangue, Ed. Novo Século. Garrett angariou
diversos prêmios literários no Brasil e no exterior.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Entrevista
Ademir Pascale entrevista o editor e escritor Richard Diegues
Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por aceitar a entrevista. Para
iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Richard Diegues na literatura.
Richard Diegues: Eu é que
tenho que agradecer pela força
que tem dado tanto aos autores
já conhecidos do público, como
para os iniciantes. Considero
isso algo muito louvável para a
literatura.
Grande
passo!
Respondendo
a
pergunta:
comecei cedo na literatura,
tendo escrito meu primeiro
romance entre meus 15 e 16
anos, que foi o livro “Magia –
Tomo I”, publicado em 1997.
Este livro narra a história de um
jovem que é impelido por Vozes
a seguir em uma busca pessoal,
onde segue a premissa da Jornada do Herói. É um livro bem diferente da minha
fase presente de escrita, mas que permanece atual em sua trama. Tem muito das
Mil e Uma Noites nele, o que torna o ritmo muito agradável. Devo republicar essa
obra ano que vem, com uma linguagem atualizada, mas mantendo a história
completamente. Bem, depois disso publiquei pela coleção Necrópole os livros
“Histórias de Vampiros”, “Histórias de Fantasmas” e, mais recente, o “Histórias de
Bruxaria”, juntamente com outros parceiros literários (Alexandre Heredia, Camila
Fernandes, Doris Fleury, Eric Novello, Gianpaolo Celli, Giorgio Capelli, Marcelo Dias
Amado e Nazarethe Fonseca). Essa coleção é de extrema qualidade gráfica e de
conteúdo, com novelas de cerca de 30 páginas, voltadas para o suspense e terror.
Tem sido um sucesso absoluto de crítica e os leitores realmente acabam por
colecionar os livros. A parte disso, já publiquei um livro de contos, chamado “Sob a
Luz do Abajur”, que explora em 17 contos os monstros reais, aqueles que
encontramos em cada esquina, aqui, em nossas próprias cidades, e principalmente
dentro década um de nós. Um livro igualmente denso, com contos bem trabalhados
e de forte carga de suspense e terror. Além disso, participei dos livros “Visões de
São Paulo – ensaios urbanos” como autor e organizador, do “Histórias do Tarô”, do
“Livro Vermelho dos Vampiros” e do “Projeto 22”. Tenho mais quatro livros prontos
para serem publicados, dois deles garantidos para 2009. No momento tenho me
dedicado muito a um projeto monstruoso meu, que creio que falarei mais adiante, e
para a Tarja Editorial, na qual atuo como editor, juntamente com meu sócio,
Gianpaolo Celli e nos concentramos na literatura de ficção fantástica nacional.
Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias?
Richard Diegues: Para ser sincero eu não me foco muito em um estilo literário, de
tal forma que não aparecem reflexos nítidos de outros autores em minha literatura.
Se eu tivesse que dar o título de “influências” para algo que me guie, eu diria que
leio muito Terry Pratchet, Stephen King, Neil Gaiman, Peter Straub, Ursula K. Le
Guin, citando a geração mais contemporânea, além de autores novos e estreantes,
e obviamente os clássicos, que explicar seria impensável. Eu leio em média 15
livros a cada mês, quando não mais. Além da compulsão que tenho pela literatura,
isso se deve ao fato de que recebo inúmeros originais por conta da Tarja Editorial.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Ademir
Pascale:
Quando
e
como
surgiu
(www.tarjaeditorial.com.br) e qual é seu principal foco?
a
editora
Tarja
Richard Diegues: A Tarja Editorial foi fundada por mim em 2006, por ocasião da
criação do livro “Visões de São Paulo – ensaios urbanos”, que reuniu 50 autores,
cada um com um conto que retratasse a cidade de São Paulo com uma visão
particular. Eu organizei e editei o livro, lançando pela editora, antes mesmo de ter
sua fundação legalmente concretizada. Pode-se dizer que foi uma prévia do que
viria. Depois disso, fechei uma sociedade com Gianpaolo Celli, que é meu sócio na
editora e finalmente a “abrimos” em caráter empresarial. Hoje lançamos livros de
literatura fantásticas, abrangendo desde a ficção científica até a fantasia, incluindo
todos os seus subgêneros que incidam diretamente sobre a prosa.
Ademir Pascale: Além de editor e escritor, você também é palestrante? Conte pra
gente como é o dia-a-dia do Richard multitarefas.
Richard Diegues: Eu sempre fui o tipo “agitador cultural”. Desde que morava em
Santos (hoje moro em São Paulo), já participava de grupos de debate literários, fui
ator de teatro, e trabalhei um bom tempo como locutor de rádio. Com essa
bagagem em relacionamento pessoal, acabei me tornando referência em alguns
temas e comecei a ser convidado para participar de eventos e palestras. Esse ano,
para encurtar a coisa, participei da Fantasticon (o maior evento nacional dirigido a
literatura fantástica) como palestrante,
também fui convidado a discursar em
faculdades para estudantes de cursos de
formação de escritores, além de ter sido
convidado para algumas mesas de literatura
fantástica e ficção na Livraria Cultura. Em
setembro vou compor a mesa sobre
“Publicar uma nova ficção fantástica no
Brasil”, em um superevento organizado pelo
Itaú
Cultural.
E
pra
fechar,
estou
organizando para breve um curso de
formação de escritores, que sairá dessa
absurda monotonia de tentar ensinar
apenas os truques para uma boa escrita,
mas transcenderá para ensinar os autores a
pensarem
de
forma
“grande”,
desenvolvendo suas histórias desde a
criação de universos fantásticos, passando
por construção de personagens, tramas,
enredo, mídias e finalizando com os
conhecimentos sólidos de produção e
mercado editorial. Esse curso é uma meta
minha, para que um dia tenhamos bons
autores de ficção, que realmente produzam algo que seja publicável pelas editoras.
Ele surgiu justamente da dificuldade que venho tendo, como editor, em encontrar
material de qualidade para ser publicado.
Ademir Pascale: No seu ponto de vista como editor, o que o mercado editorial
brasileiro busca no jovem escritor que deseja ingressar no meio literário?
Richard Diegues: Em uma palavra: profissionalismo! Os novos autores pensam
que o fato de terem escrito um livro os torna aptos para a publicação. Isso é muito
ruim e uma das coisas que eu mais lamento hoje em dia. Qualquer pessoa que
acredite que pode se tornar um escritor de livros – aqui vale uma observação:
quem escreve é escritor, mesmo na Internet, mas existe um segmento que prefere
ser escritor de livros, e essas duas áreas são como água e vinho: fácil de
diferenciar, e muito duro de separar depois que se misturam – deve produzir pelo
menos dois originais, sendo que três é o desejável, antes de sequer pensar em
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
enviar um original para uma editora. Sinceramente conheço dezenas de bons livros
que secaram a fonte dos seus autores. A fonte de um profissional nunca seca, se é
que me faço compreender. Em resumo, sinto falta do escritor que escreve para
colocar suas idéias no papel, de forma pretensiosa, com esmero, cuidado, e acima
de tudo, sem pressa. Onde está aquele escritor que tem quatro originais na gaveta,
e ainda assim prossegue escrevendo? Onde está o jovem escritor que se dedica a
arte, antes da celebridade? Uma verdade: viver da venda de livros em qualquer
recanto do mundo é uma tarefa árdua e cansativa. Na literatura, um autor
profissional é o que reúne as seguintes qualidades: vontade (de mostrar suas
idéias), criatividade (para passar essas idéias ao papel de maneira inteligente),
paciência (para deixar as idéias repousando no papel e vez ou outra as retomar e
reescrever até se tornarem algo polido) e desprendimento (para não acharem que
serão publicados e ficarão ricos com isso, mas sim que estarão passando suas
idéias adiante).
Ademir Pascale: Como está sendo a receptividade dos leitores com a coleção
Necrópole (editora Alaúde)?
Richard Diegues: A coleção Necrópole já nasceu como um sucesso. Não há leitor
que compre um dos volumes e não siga para os outros, e mesmo para os demais
livros de alguns dos autores. É uma literatura muito madura, trabalhada a exaustão
por cada um dos autores, até beirarem a perfeição. E isso não é opinião somente
minha ou dos leitores, pois essa é a característica que a mídia tem apontado em
sua crítica literária. É claro que em um ambiente de pouca divulgação a coleção
nunca nos deixará famosos e muito menos ricos, mas ela é um ótimo medidor de
sua própria força, pois a cada leitor que nos dá um retorno sobre o que achou da
obra, vemos que ganhamos um fã perpétuo, daqueles que aguarda por mais, ávido
por qualidade e inovação. E Necrópole é isso acima de tudo: inovação! A nossa
intenção sempre foi pegar os “mitos” e resgatar sua origem de uma forma criativa,
fugindo do lugar comum dos livros atuais sobre os temas. Nossos vampiros,
fantasmas e bruxarias inovam no sentido de forma, mas com um forte resgate do
velho mito.
Ademir Pascale: Como é o trabalho em conjunto na produção de uma obra do
início até chegar nas livrarias?
Richard Diegues: Vou continuar usando como exemplo o livro “Necrópole –
histórias de vampiros”, que teve uma produção muito bacana por parte do grupo. O
processo ocorreu assim: juntamos um grupo de cinco escritores com qualidade boa,
e formas de escrita divergentes, isso foi pensado justamente para diversificar a
obra e atingir todos os leitores possíveis; depois selecionamos um tema, no caso os
vampiros, e cada um escreveu uma novela com o compromisso de ser o mais
inovadora possível; assim que os textos foram dados por concluídos, fizemos uma
troca entre nós, onde eu li o texto de um outro autor, passando o meu para que um
outro lesse, como em uma ciranda; cada um dos textos foi limado e criticado até a
exaustão, depois ajustado, corrigido e adaptado; essa segunda versão passou a
girar uma vez mais na ciranda, com leitura, crítica, correção, melhorias, e... um
novo giro; depois que os textos haviam girado por cinco vezes, estavam realmente
livres de falhas, e com uma história muito melhor do que quando foram criados; daí
pra frente foi revisão gramatical, capa, diagramação e busca por uma editora. Essa
busca não levou mais de um mês, para você ter idéia da qualidade final que
atingimos. Mas não pense que o trabalho parou por aí, depois do livro ir para as
livrarias os autores continuaram se reunindo mensalmente. Criamos sites,
mandamos releases para revistas e jornais, demos entrevistas, fizemos eventos,
continuamos fazendo e distribuindo Zines, enfim, continuamos com nosso
profissionalismo, pois sem ele o livro estaria encalhado nas prateleiras. É um
trabalho cansativo, mas muito recompensador em termos de prazer pessoal.
Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra Sob a luz do Abajur
(editora Tarja)?
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Richard Diegues: Eu já citei um pouco sobre ele acima, mas vamos lá: é um livro
de contos, dezessete no total. O tema são os monstros, mas no sentido explícito da
palavra. No dicionário o termo “monstro” designa um ser cuja formação se afasta
da natural à sua espécie; um ente fantástico da mitologia; pessoa cruel, desumana,
perversa; assombro, prodígio; pois é exatamente esse conjunto de definições que
eu retrato em cada um de meus contos. O livro fala sobre eventos fictícios, mas é
inteiramente legítimo quanto aos monstros. E eles são os da pior espécie.
Perguntas rápidas:
Um livro: A torre negra (a coleção completa), de Stephen King
Um(a) autor(a): Neil Gaiman
Um ator ou atriz: Al Pacino e Sandra Bulock
Um filme: Advogado do Diabo
Um dia especial: Dia das Bruxas
Um desejo: viver somente da minha literatura.
Ademir Pascale: Mais uma vez, agradeço por ceder tão preciosa entrevista.
Desejo-lhe muito sucesso.
Richard Diegues: Ademir, o prazer foi meu, acredite! Sucesso vale para nós
dois... estamos no caminho!
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Entrevista
Ademir Pascale entrevista o escritor Nelson Magrini
Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Nelson
Magrini na literatura.
Nelson Magrini: Olá, Ademir. Antes de tudo,
é um prazer participar desta entrevista. E
quanto à pergunta, he he, começamos bem,
pois a resposta não deixa de ter seu lado
surreal. Tudo aconteceu em uma madrugada,
no ano 2000. Na época, eu procurava algo
diferente para me dedicar, e que também
pudesse vir a gerar ganhos. Não tinha uma
idéia formada, apenas que deveria ser algo
que eu gostasse de fazer e que já soubesse
fazer. Depois de muito pensar, e eliminar um
bocado de coisas que gosto, mas que não sei
fazer, foi de estalo. Eu sabia que sabia
escrever. Foi bem assim. Sempre fui um leitor
devorador de livros, mas fora as famosas
redações escolares, eu nunca havia escrito
nada antes, salvo alguns poemas bem livres, e
isso já fazia muito tempo. Acredite, naquela
mesma hora, eu escrevi um recadinho para
mim mesmo (costumo fazer isso para me
lembrar de várias coisas), onde apenas dizia: escrever. No dia seguinte, comecei a
criar pequenos trechos, até para ver se aquilo que eu escrevia, depois de pronto,
tinha pelo menos uma aparência de um livro, e praticamente no mesmo dia, criei
alguns personagens, uma trama bastante incompleta (incrível como minha
criatividade funciona assim. É muito difícil eu começar a escrever com a coisa toda
pronta e definida na cabeça) e comecei a escrever. De lá para cá, não parei mais.
Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias?
Nelson Magrini: Quando adolescente, eu lia muita ficção-científica, principalmente
Isaac Asimov e Arthur Clark. Com o passar dos anos, fui migrando para a literatura
de suspense e terror, onde destaco Stephen King e Dean Koontz.
Ademir Pascale: Como você consegue conciliar as atividades como escritor,
engenheiro mecânico, consultor internacional de gestão empresarial e estudos e
trabalhos de física quântica?
Nelson Magrini: Não é nada fácil e sempre necessito desdobrar o tempo vago.
Física é uma paixão antiga, inclusive, por muito pouco não fiz faculdade de Física.
Neste sentido, foi mais uma decisão estratégica, uma vez que eu havia ingressado
em Engenharia Mecânica, no Mackenzie, e Física, na USP. Contudo, na época,
trabalhar como físico no Brasil é estar fadado a ser professor, muito possivelmente
de colegial. Então esta paixão também me consome tempo, principalmente lendo e
estudando muito. A vantagem é que criatividade não tem hora ou lugar, então,
sempre que uma idéia me aparece, eu rabisco algumas anotações e depois começo
a trabalhar em cima, seja no dia seguinte, seja meses depois. Hoje, tenho me
centrado mais em Logística, consultoria em Gestão anda em baixa no mercado, o
que torna as coisas um pouco mais fáceis, mas, he he, é uma senhora correria.
TerrorZine – Minicontos de Terror
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Ademir Pascale: Como foi a idéia inicial para a criação da obra “Anjo – A face do
mal” (Novo Século Editora)?
Nelson Magrini: Como comentei, minha criatividade escolheu uma maneira
interessante de se manifestar. Como qualquer outro livro, tudo começa com uma
cena que me vem à cabeça, ou um personagem, uma personalidade que aparece
do nada. No caso de ANJO A Face do Mal, isso aconteceu com Lúcifer. Ele por si só
é um arquétipo muito forte, e ao mesmo tempo em que dá trabalho tratar com um
personagem assim, ele também permite ser usado para fazer o leitor pensar nos
mais variados assuntos. Escrevo para entreter, mas sempre gosto, dentro do
possível, de fazer meus leitores pensarem, questionarem. Obviamente, isso tudo
tem de estar dentro do contexto da obra, caso contrário, ela assumirá ares de
panfletagem, o que não teria o menor sentido.
Então, com um personagem como Lúcifer em mãos, foi quase natural enveredar
por um confronto entre anjos e demônios, muito embora Lúcifer, em minha obra,
nada tenha a ver com o diabo das religiões. Foi aí que tive a idéia de torcer, ou
melhor, de relativizar certos conceitos bastante enraigados, como Bem e Mal, a
Verdade, etc. Em ANJO A Face do Mal, os anjos não são bonitinhos, bonzinhos e tal,
e comandem o Céu ou Astral quase de maneira tirânica. Já os demônios chegam a
ser democráticos, contrapondo-se, no sentido de equilíbrio, à outra vertente. Com
isto tudo em mãos, adicionei algumas entidades afro-brasileiras e cheguei à
lapidação final da trama. No mais, um bocado de imaginação e muito suspense.
Recentemente, ANJO me deu muita satisfação por dois motivos. O primeiro, é que
ele se tornou objeto de pesquisa acadêmica na UNICASTELO, podendo vir a se
tornar tese de mestrado. E segundo, soube que a primeira edição se esgotou, e que
deverá ganhar uma segunda edição renovada, mais primorosa, com nova capa,
tamanho e acabamento. Isso certamente deixa qualquer autor orgulhoso.
Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra “Relâmpagos de
Sangue” (Novo Século Editora)?
Nelson Magrini: O livro gira em torno de dois
personagens, Sara e Josimar (Jôs), que há
aproximadamente um mês estão tendo estranhas
visões que envolvem sangue, a cor vermelha e
tempestades, além de lapsos de memória. Em
função disso, ambos resolvem voltar ao local onde
passaram as últimas férias, certos de que alguma
coisa muito errada aconteceu.
A aventura se passa em uma cidade fictícia,
Germinade, no interior de Minas Gerais, aonde
fatos
estranhos
vão
ganhando
proporções
inimagináveis, envolvendo tanto os personagens
principais como outros, que vão aparecendo ao
correr da história, num suspense crescente, aonde
o mistério por detrás de tudo vai se revelando, até
chegar em um clímax com um desfecho
inesperado. Descobrir qual é este mistério faz
parte da leitura.
De tudo o que já escrevi até hoje, Relâmpagos de Sangue é o mais extremamente
visual, onde a própria linguagem que utilizei, bastante cinematográfica, com frases
curtas e de impacto, é usada para transmitir sentimentos e emoções de uma
maneira direta, crua e até selvagem. É um livro que, se o leitor se deixar levar pela
história, ele viverá a aflição, o medo e o terror de cada personagem como se tudo
estivesse se passando consigo próprio. Tenho orgulho de saber de leitores que
tiveram pesadelos com a história, e outros que não conseguiam dormir, após lerem
determinadas cenas. Embora menos filosófico e crítico que ANJO A Face do Mal, e
mais focado no entretenimento, em contrapartida, Relâmpagos de Sangue assusta
de verdade, ao menos, uma boa gama de leitores.
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Ademir Pascale: Como foi a sua participação na excelente obra “Amor Vampiro”
(Giz Editorial)?
Nelson Magrini: Tudo se inicia através do convite do J. Modesto, autor do ótimo
Trevas e mais recentemente, de Anhangá, A Fúria do Demônio. Eu conheci o
Modesto como um leitor, ou melhor, como um fã, como ele mesmo gosta de dizer.
Somente após um bom tempo descobri que ele também era escritor, e acabamos
por nos tornar bons amigos. Responder positivamente a este convite foi fácil; os
problemas começaram logo em seguida. Primeiro, eu não tinha muita vontade de
escrever sobre vampiros, não por que não goste do personagem, mas porque muita
gente estava fazendo. Segunda questão, não sei exatamente porque, mas tenho
muito mais facilidade de escrever umas quatrocentas páginas do que um conto,
ainda mais, um com tamanho limitado. Neste sentido, foi uma verdadeira aventura
e superação criar Isabella. Ainda havia uma terceira questão. Para deixar os
autores bem livres, apenas nos foi passado o tema e que poderia haver cenas
picantes.
Eu imaginava o que os demais iriam fazer, e queria de qualquer maneira bolar algo
diferente, o que creio, consegui. Isabella não só é meu melhor conto, mas é um
marco para mim. A linguagem, minha maneira de escrever, construir as frases e as
próprias palavras foram escolhidas a dedo, tudo para compor uma atmosfera que,
mais do que descrever ações e eventos, traduzisse os personagens e seus anseios e
sentimentos. Isabella, no fundo, é uma história de busca e esperança, onde um
homem se apaixona por uma vampira, e para conquistar seu amor, primeiro tem de
resgatar sua humanidade. Para tanto, me utilizei de minha velha paixão, e
contraponho o sobrenatural com a Física, os conhecimentos da Ciência. As
considerações que há no conto, a respeito do luar, não deixa de ser intrigante e
instigante na mística dos vampiros. Enfim, o que posso dizer, para todos aqueles
que gostaram do conto, e se apaixonaram por Isabella, que gostei tanto da
personagem que ela certamente retornará em algum trabalho futuro.
Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado editorial brasileiro
para os jovens escritores que desejam ingressar no meio literário?
Nelson Magrini: É um pouco difícil falar do mercado editorial como um todo, mas
as perspectivas dentro da chamada Literatura Fantástica são muito boas, e estão se
ampliando ainda mais. É inegável que a abertura atual se iniciou com o André
Vianco e com a iniciativa da editora Novo Século, que em pouco tempo criou a
Coleção Novos Talentos da Literatura, tornando-a um canal de entrada para
milhares de escritores, em sua maioria jovens, que até a pouco tempo não tinham,
e nem sabiam, como chegar às editoras. E o que vemos a partir disto foi que, em
pouco anos, várias editoras têm se voltado para este segmento e principalmente,
para o autor nacional. De fato, hoje temos uma nova geração, ou nova frente de
escritores nacionais que encabeçam e fazem Literatura Fantástica de primeira linha.
Não só tenho orgulho de pertencer e ter ajudado a iniciar este movimento, como
mais orgulho ainda quando me deparo, no orkut, por exemplo, com leitores
trocando comentários entre si e dizendo que atualmente, procuram e dão
preferência ao autor nacional. A próxima leva que está vindo aí promete bastante e
deixará o mercado ainda mais receptivo a outros que se seguirão. Inclusive,
estamos vendo um fenômeno que muitos ainda não se deram conta, que nossos
jovens, muitos na faixa de quinze, dezessete anos, estão deixando de ser apenas
leitores, para se sentarem à frente de seus micros e começarem a criar, escrever.
Não sei dizer qual foi a última década em que tal aconteceu, mas faz um bocado de
tempo!
Ademir Pascale: Poderia falar para os nossos leitores como será o projeto da Giz
Editorial em que você participará, intitulado “Fontes da Ficção”?
Nelson Magrini: Primeiro, uma correção. O projeto não é da GIZ Editorial, muito
embora, seja apoiado pela GIZ. Este projeto partiu da idéia do escritor e jornalista
Sérgio Pereira Couto, mais conhecido por dezenas de livros que tratam de trabalhos
que demanda muitas pesquisas, fosse sobre sociedades secretas, crime, etc. O
TerrorZine – Minicontos de Terror
44
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Sérgio não só enveredou recentemente pela Literatura Fantástica, com o ótimo
Renascimento, A Lenda do Judeu Errante, mas também, sentia a necessidade de
ter um canal mais direto com o público, proporcionando pequenas obras de
qualidade. Neste sentido, imaginou criar um blog, algo hoje bastante fácil e
comum, e de contato dinâmico com o leitor, onde alguns autores se juntariam e
dariam ênfase às composições de suspense e mistério. Foi quando ele me convidou,
bem como ao J. Modesto, e por fim, ao James Andrade, que estreou recentemente
com o ótimo Getsêmani, A Verdade Oculta, e assim nascia o blog Fontes da Ficção.
Em paralelo a isso, vindo a somar, inclusive, o Sérgio apresentou uma outra parte
do projeto à livraria Martins Fontes, onde a idéia era ampliar ainda mais este canal
com o leitor, aproximando-os das obras, de seus questionamentos e curiosidades,
em um patê-papo bastante informal, onde a tônica sempre será dada pelos
participantes. Desta idéia, resultou o 1ª. Fontes da Ficção, o primeiro dos encontros
com os leitores.
Resumindo, o projeto Fontes da Ficção é uma inovadora maneira dinâmica, através
de um blog com atualizações semanais, e encontros mensais, de aproximarmos os
leitores do universo da criação e escrita.
Ademir Pascale: Onde os leitores poderão saber mais sobre Nelson Magrini?
Nelson Magrini: De um modo geral na Internet, onde através que qualquer
pesquisa, encontrarão inúmeras resenhas, por exemplo. Através do blog e
encontros Fontes da Ficção e, em breve, também através de um site ou blog
pessoal, algo que estou definindo. No orkut, basta procurar o perfil Nelson Magrini
II. O II é porque o meu perfil original, simplesmente, não me deixa mais acessá-lo
como usuário, e então, tive de criar um perfil novo. E por fim, é só escrever para
[email protected] que terei um imenso prazer em responder qualquer
questão.
Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?
Nelson Magrini: Para dizer a verdade, vários deles. Meu novo livro VAMPIRO –
Fria Simetria já está concluído e se encontra em fase de avaliação. Minha intenção
é publicar ainda este ano, mas isto depende de alguns fatores. O livro não é uma
história de vampiros, e sim, uma trama de terror onde um dos personagens é um
vampiro, inclusive, o vampiro se encaixou muito bem na trama, embora eu trabalhe
o personagem em uma abordagem diferente do tradicional. No momento, estou
escrevendo o próximo, que pretendo ser uma obra tão densa e assustadora quanto
Relâmpagos de Sangue.
Além disto, há inúmeros projetos rabiscados, vários deles com Lúcifer como
personagem principal, inclusive, tive uma idéia nova recentemente que devo
desenvolvê-la em breve. Também está nos planos a continuação de ANJO A Face
do Mal, tendo Lucas como personagem principal e passando-se seis meses depois
do livro original.
Por fim, algumas possibilidades sobre temas curiosos, que gostaria muito de
desenvolver com o tempo. Uma delas é um verdadeiro livro de terror, envolvendo
alguns aspectos da Física de Partículas e a Mecânica Quântica. A idéia que tive por
detrás dessa história foi simples e contundente: “Pode a Mecânica Quântica ser
assustadora”? Bem, espero mostrar que sim, e aqui, não me refiro às suas
equações!
O outro projeto é mais complicado, extremamente mais denso e árduo, e nasceu de
outra idéia que me passou pela cabeça: conseguiria escrever algo tão intrincado e
misterioso quanto LOST?
Obviamente, não se trataria de pessoas em uma ilha, afinal, isso não teria o menor
sentido, mas estou construindo uma história que está se desenvolvendo de maneira
incrível, e para isso, adotei o método de não planejar os caminhos ou imaginar
seqüências ou eventos. Simplesmente, começo a escrever, anotando os pontos
chaves e fazendo as amarrações necessárias. Mas não sei dizer o que acontecerá a
seguir na história. Para isso, tenho que sentar e escrever. É como se a história se
escrevesse a si própria.
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Não sei o que vocês pensam, mas para mim, isso já me parece um bocado
assustador!
Perguntas rápidas:
Um livro: O Apanhador de Sonhos.
Um(a) autor(a): Stephen King.
Um ator ou atriz: Al Pacino.
Um filme: 2001, Uma Odisséia no Espaço.
Um dia especial: quando publiquei meu primeiro livro.
Um desejo: viver apenas da escrita, junto à pessoa que amo.
Ademir Pascale: Mais uma vez agradeço por expor suas idéias para os nossos
leitores. Foi um imenso prazer ter essa conversa contigo. Desejo-lhe muito sucesso
em suas empreitadas literárias.
Nelson Magrini: Eu que agradeço mais uma vez a oportunidade. Foi um prazer
responder suas questões e fico aberto aos leitores que quiserem me escrever. E
parabéns a você, Ademir, por este seu espaço que, cada vez mais, tem conquistado
leitores.
Um abraço a todos!
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
Livros
CAMINHOS DO MEDO
Vários autores
Se você, leitor, é uma pessoa normal, com certeza
adora sentir um frio na barriga. Com CAMINHOS DO
MEDO isso ocorrerá com freqüência, pois os autores
que nele escreveram trazem 41 histórias de terror,
com tramas que beiram o inimaginável. Não leia na
penumbra ou sob a luz de velas, pois as sombras
projetadas
nas
paredes
podem
afetar
seu
julgamento racional. E se você não sentir medo é
porque já está morto!
Valor: R$ 29,90 – Frete incluso (encomenda
simples)
SBN: 8599267299
ISBN-13: 9788599267295
Livro em português
Páginas: 206
- 15 x 21 cm - Peso 0,400 Kg 1ª Edição - 2008
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ANNO DOMINI
Vários autores
'Anno Domini' reúne contos que mergulham na
Idade Média em seu conceito mais amplo. História
e fantasia se misturam, mesclam o real ao
imaginário, evocam magia, aventura, luz e
escuridão. Reis, bruxas, magos, guerreiros,
dragões, simples camponeses... Todos enfrentam
as próprias batalhas numa atmosfera sombria e
irrespirável, por vezes lírica e cativante. Estes
manuscritos medievais apresentam o trabalho de
jovens autores, pouco ou mais conhecidos, e
também de autores veteranos, como Raphael
Draccon, Claudio Villa, Nazarethe Fonseca e Madô
Martins. Uma viagem a um passado muito mais
presente em nossas vidas do que imaginamos
Valor: R$ 29,90 – Frete incluso (encomenda simples)
ISBN: 8599267272
ISBN-13: 9788599267271
Livro em português
Páginas: 303
- 21 x 15 cm - Peso 0,450 Kg 1ª Edição - 2008
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47
Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
ASSASSINATO NA BIBLIOTECA
Helena Gomes
Prepare-se para se surpreender. Assassinato na
biblioteca, o novo romance juvenil da escritora e
jornalista paulista Helena Gomes, autora de Lobo
Alpha, entre outros, é uma bem costurada trama de
ação e suspense que prende a atenção do leitor do
início ao fim. Mas não é só isso. Com um enredo que
vai e volta no tempo, o livro conta uma história de
mistério que beira o sobrenatural, no ritmo das
narrativas policiais, mas oferece mais do que puro
entretenimento: para decifrar o assassinato da
bibliotecária do tradicional colégio onde estuda, em
Santos, no litoral paulista, o jovem Igor se envolve
num intricado quebra-cabeças e acaba descobrindo
muito sobre um período negro da História do Brasil: a
ditadura militar.
ISBN: 978-85-61384-03-6
Autor: Helena Gomes
Gênero: Infanto-juvenil
Editora Rocco
Páginas: 256
Formato: 21x21
Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br
AMOR VAMPIRO
Vários autores
O que aconteceria se o amor dominasse um ser
maléfico e que perambula pelas sombras buscando
saciar seu desejo? Adriano Siqueira, André Vianco,
Martha Argel, J. Modesto, Nelson Magrini, Regina
Drummond e Giulia Moon, ícones da literatura
fantástica nacional, se reuniram para responder a
questão e desvendar o 'Amor Vampiro'.
ISBN: 8599822764
ISBN-13: 9788599822760
Vários autores
Giz Editorial
Livro em português
Páginas: 176
- 16 x 23 cm 1ª Edição - 2008
Para adquirir, acesse: www.livrariacultura.com.br
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Organizadores: Ademir Pascale e Elenir Alves
[email protected]
[email protected]
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