Energia e Relações Internacionais: Um estudo sobre a energia nuclear no Brasil BRITO, Thiago L. F..; GARCIA, Tatiana de S. L. Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP – Campus Ribeirão Preto Contato: [email protected]; [email protected] INTRODUÇÃO O objetivo desta pesquisa foi, a partir da perspectiva das relações internacionais, analisar como os Estados tratam da relação entre energia, desenvolvimento e segurança. Como estudo de caso para esta temática, fez-se um histórico da energia nuclear no Brasil. Devido à variedade de conceitos e visões que envolvem o assunto proposto, foi necessário fazer levantamento bibliográfico, coleta de dados primários com especialistas, professores e políticos em eventos acadêmicos que tratassem dos seguintes temas energia nuclear, planejamento energético, segurança, desenvolvimento e meio ambiente para então, finalmente, produzir esse trabalho. 1. DESENVOLVIMENTO E SEGURANÇA ENERGÉTICA Goldemberg (1998) afirma que o acesso à energia é um fator fundamental para o desenvolvimento, entretanto, é importante ressaltar que o acesso à energia não significa um consumo intensivo de energia por pessoa. O gráfico abaixo demonstra que consumo e desenvolvimento não possuem uma relação linear exata. Tudo depende dos hábitos das populações. O consumo exagerado não eleva necessariamente o IDH de um país. A curva demonstra a tendência da relação consumo-IDH dos países. O gráfico também demonstra que o valor energético anual de 1 tonelada equivalente de petróleo (TEP) parece ser o que mais se aproxima do ideal (IDH igual ou acima de 0,8). Figura 1: IDH versus energia anual consumida per capita Fonte: GOLDEMBERG, 1998 Com base nessa e em outras importâncias (defesa nacional, comunicações, transportes) o tema da energia é elevado pelos país à questão de segurança nacional, uma vez que afeta diretamente a capacidade de sobrevivência do Estado e dos indivíduos. Segurança energética é entendida como: “a garantia de suficiente suprimento energético para permitir que a economia nacional funcione a de maneira politicamente aceitável”. (WILLRICH, 1978, p. 84). Em outras palavras, assegurar o suprimento por meio de recursos em seus próprio território ou através do suprimento externo moderado (OLIVEIRA, 2009). É, portanto, importante perceber quais as relações de interdependência entre os países e o relacionamento que existe entre eles uma vez que os recursos energéticos podem ser objetos de conflitos. Nações importadoras de energia se preocupam com a segurança de suprimento enquanto as exportadoras com a segurança da demanda. Esses são os principais motivos pelo quais a energia é elevada à questão de segurança nacional. 2. ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL Até a década de 1980, o setor nuclear no Brasil esteve bastante fragilizado por causa da grande dependência com relação aos EUA. Diversas questões políticas estiveram em voga na história da energia nuclear do Brasil, dentre elas: a atuação do Almirante Álvaro Alberto, o contrato com a norte-americana Westinghouse para construção de Angra 1, o acordo Brasil-Alemanha de Cooperação, os tratados de Não-Proliferação e de Tlatelolco. O principal interesse para o desenvolvimento do setor é o domínio do conhecimento de modo de obter acesso à tecnologias de ponta e defesa dos recursos nacionais. Atualmente o Programa Nuclear Brasileiro (PNB) possui metas e prazos bem definidos para alcançar seus objetivos, que envolvem o desenvolvimento de um reator multipropósito para radiofármacos, cinco novas usinas, o domínio do combustível nuclear e a construção de uma pequena frota de submarinos nucleares. Um grande avanço pode ser percebido com relação aos seus primórdios, e tudo alcançado com tecnologia nacional. (GOLDEMBERG; GONÇALVES; GUIMARÃES, 2011). O programa sofre críticas em todos os sentidos. Questões de ordem ambiental e de segurança das usinas estão fortemente presentes. Outra discussão envolve a democratização das decisões sobre a energia nuclear, uma vez que os altos riscos exigem que essas decisões sejam consensuais. Em outras palavras, há um temor pelo domínio das elites tecnocráticas e impessoais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o trabalho notou-se seriedade de diversas questões que poucas vezes são devidamente tratadas. A primeira delas é a necessidade de tratar o acesso à energia como uma forma de promover o desenvolvimento. Outro ponto importante é que a segurança energética deve ser tratada como um assunto global, ao invés da concepção nacionalista como os Estados costumam tratar, pois acaba por fomentar a competição por tais recursos, dificultando ainda mais a promoção da segurança internacional. Notou-se a importância de tratar a questão da energia nuclear com extrema delicadeza. Há um grande preocupação com relação aos resíduos nucleares, bem como a possibilidade de acidentes nas usinas. Atualmente, há preocupações com relação à proliferação de armas nucleares no nível de organizações terroristas, o que eleva os cuidados a serem tomados com armazenagem e transporte dos materiais. Com relação ao PNB, percebeu-se que ele tem alcançado seus objetivos na medida do possível, contribuindo para a segurança energética no Brasil e para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país. E a resolução dos seus impasses é um passo importante para sua efetiva implementação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERMANN, Célio. Energia Nuclear no Brasil: uma história de controvérsias, riscos e incertezas. In: BERMANN, Célio; MATTHES, Felix; ROSENKRANZ, Gerd. A energia nuclear em debate: mitos, realidades e mudanças climáticas. Rio de Janeiro. Fundação Heinrich Böll. 2005. p. 134-152. GOLDEMBERG, José. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo. Edusp. 1998. OLIVEIRA, Lucas Kerr de. Petróleo e segurança internacional: aspectos globais e regionais das disputas por petróleo na África Subsaariana.2007. Dissertação de Mestrado – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. VEIGA, José Eli da (Org.) et al. Energia nuclear: do anátema ao diálogo. São Paulo. Editora Senac São Paulo. 2011. WILLRICH, Mason. Energia e política mundial. Rio de Janeiro. AGIR. 1978.