O MAIS INFINITESIMAL DOS CUSTOS1
Celso Luis Rodrigues Vegro2
conhecimento agronômico comprova, de maneira
irrevogável, que a prática de manejo de correção
da acidez do solo, especialmente os situados nas
zonas tropicais, onde os processos de empobrecimento mineral do
solo pertencem ao seu processo de gênese, consiste num dos mais
decisivos procedimentos visando a produção com sustentabilidade
sócio-ambiental e econômica, conceito tão em moda, mesmo entre
aqueles que desconhecem o que estão a dizer.
A realização da calagem dos solos em que se diagnosticou,
por meio de competente análise laboratorial, excessiva acidez e toxidade do alumínio livre, é uma prática de manejo com a qual todos os
produtores agrícolas, sem exceção, devem se preocupar. A correção
da acidez e a inativação do alumínio livre contribuem para um pleno
desenvolvimento radicular e, consequentemente, melhor condições de
nutrição fisiológica da planta, condicionando-a à alta produtividade.
Consiste em desperdício físico e financeiro a esparramação
de adubo numa lavoura em que o solo está demandando correção.
A planta, impedida de absorvê-los, inerte assistirá aos processos de
lixiviação que levarão os tão preciosos nutrientes para as profundezas do lençol freático, contribuindo, isso sim, no longo prazo, para
salgar um bocadinho mais nossos mares e oceanos.
Apreciando uma série de consumo de calcário nos principais estados produtores de café do Brasil, comprova-se um fato
alarmante: o volume de calcário distribuído na agricultura exibe
diminuição, quando não se mantém em patamar irrisório (nitidamente o caso capixaba) (Figura 1).
O
Figura 1. Evolução do consumo de calcário por estado, Brasil, 1992-2006.
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da ABRACAL (www.abracal.com.br).
Ainda que a informação esteja com importante defasagem
(dados até 2006), o cálculo da tendência permite uma visualização
matemática do fenômeno. Assim, por meio da estimação da taxa
geométrica de crescimento do consumo de calcário nos estados
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selecionados, revela que a tendência prevalecente foi negativa e
mais acentuada nos Estados do Paraná e de São Paulo e positiva
para Minas Gerais e Espírito Santo. Observe-se que em razão do
r2 ser muito baixo, aproveitamos apenas o sinal da tendência e não
o número obtido, pois sua probabilidade, estatisticamente, é baixa
(Tabela 1).
Tabela 1. Taxa de crescimento geométrica do consumo de calcário em
Estados selecionados. Brasil, 1992 a 2006.
Estado
Paraná
São Paulo
Minas Gerais Espírito Santo
r2
1,20
4,00
45,20
12,70
Taxa
- 0,62
- 0,49
3,00
4,57
Fonte: Calculada pelo autor a partir de dados básicos da ABRACAL (www.abracal.
com.br).
Os Estados selecionados coincidem com os principais
cinturões de café do país. Tendo em conta que nesses cinturões a
produtividade média das lavouras saiu das ridículas 7,0 sacas ha-1
em 1992 para, aproximadamente, 18sacas ha-1 em 2006, tem-se
que foi observado um salto na produtividade em formidáveis 257%
no período. Entretanto, o desleixo com as aplicações de calcário
demonstrado tanto graficamente como estatisticamente, permite
a ilação de que os produtores rurais, inclusive os cafeicultores,
estão aplicando fertilizantes em suas explorações – uma vez que
a produtividade cresceu – em quantidades muito superiores às
necessárias caso estivessem monitorando a acidez do solo e a
saturação por bases.
O conhecimento agronômico não pode ser ignorado. O
avanço da tecnologia nunca esmorece, mas, ao contrário, está
sempre em busca de inovações, com impactos significativos sobre a
produtividade do trabalho, maior sustentabilidade ambiental e vantagens sócio-econômicas. Até mesmo o gesso, produto até poucos
anos ignorado pela agricultura, vem demonstrando sua importância
como coadjuvante na correção do solo, por meio da condução do
cálcio-magnésio para camadas mais profundas do perfil, aportando
enxofre às áreas em que esse nutriente exibe teores abaixo do nível
de ótimo nutricional para as plantas.
Cafeicultor, se o momento é de crise de preços, e o é desde
as últimas cinco safras, ceifar justamente aquele que é o mais
infinitesimal dos custos – a aplicação de calcário para correção da
acidez do solo, constitui em estratégia pouco sensata e que acarretará, ao contrário, um aumento dos gastos pela perda de nutrientes
fornecidos pela simples incapacidade de absorção radicular das
plantas. Faça análise de solo rotineiramente e procure o agrônomo
de sua cooperativa para aplicar corretamente o calcário que sua
lavoura necessita.
Transcrito do site do CaféPoint (www.cafepoint.com.br).
Engenheiro Agrônomo, MS, Pesquisador Científico VI do Instituto de Economia Agrícola – EA-APTA/SAA-SP, email: [email protected]
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 144 – DEZEMBRO/2013
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