12 E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 1 7 D E O U T U B R O D E 2 0 1 5 CIÊNCIA&SAÚDE E-MAILS: [email protected] e [email protected] TELEFONES: (31) 3263-5120/5779 FEDRIZZI JUNIOR/INPE/ELAT Serviço especial criado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais pretende diminuir número de pessoas atingidas por descargas elétricas no país e também danos, que chegam a R$ 1 bilhão Raios monitorados para evitar mortes e prejuízos EDUARDO TRISTÃO GIRÃO “Anualmente, nosso país é atingido por cerca de 50 milhões de raios, que provocam, em média, a morte de 110 pessoas. Esse fenômeno atmosférico é inevitável, incontrolável e só podemos nos proteger dele”, resume Gisele Zepka, colaboradora do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe). Foi essa a motivação para que criasse um programa de computador capaz de prever a incidência de raios com antecedência de 24 horas. O serviço será disponibilizado gratuitamente a partir de janeiro no site do Inpe, inclusive para uso de veículos de comunicação, a exemplo do que já ocorre com a previsão do tempo. O sistema foi projetado e desenvolvido durante o doutorado de Gisele, associado ao instituto. As pesquisas começaram há cinco anos e usaram como base o modelo meteorológico Weather Research and Forecasting (WRF), ferramentas estatísticas e dados de descargas atmosféricas dentro das nuvens e para o solo registrados pela Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDAT). Foram comparadas informações obtidas pelo WRF (vento, temperatura, umidade e concentração de gelo em diferentes alturas na atmosfera) com dados da BrasilDAT, terceira maior rede de detecção de raios do mundo, operada pelo Inpe. “Os dados de entrada são uma combinação matemática de variáveis meteorológicas indicadoras em potencial de ambientes favoráveis à ocorrência de tempestades com raios. Todas essas variáveis são obtidas exclusivamente de simulações numéricas em alta resolução com o modelo de mesoescala WRF, bastante utilizado para a previsão de tempo no mundo. Por fim, a saída do programa é um mapa colorido, cujas cores representam diferentes probabilidades de ocorrência dos raios, facilitando o entendimento do usuário da informação”, explica ela. Segundo a pesquisadora, a combinação desses dados ainda é pouco comum, apesar de relevante. “A associação entre eletricidade atmosférica e modelagem numérica é considerada parte importante e relativamente nova nas investigações sobre tempestades hoje. ❚ CURIOSIDADES Cores no mapa representam diferentes probabilidades de ocorrência dos raios, facilitando o entendimento da informação pelo usuário Poucos países abordam essa questão e o que se sabe a respeito é divulgado em artigos científicos. No entanto, desconheço um outro sistema de previsão de raios que esteja pronto para ser implementado operacionalmente como o que criei e chamo de Potential Lightning Region (PLR)”, observa ela. Os computadores que rodam o sistema de previsão de raios ficam nas dependências do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe, em São José dos Campos, no interior paulista. De acordo com a pesquisadora, ele permite prever a probabilidade de raios em todo o Brasil – o erro médio é de 20 quilômetros e a margem de acerto é de 85%. O sistema ficará disponível gratuitamente no site do grupo (www.inpe.br/elat) e os dados serão repassados a veículos de comunicação de todo o país. “A ideia é seguir o padrão da previsão do tempo que há nos telejornais. Quanto mais informação, menos exposição ao perigo”, resume Gisele. CLIMA Osmar Pinto Júnior, coordena- dor do Grupo de Eletricidade Atmosférica do instituto, afirma que o desenvolvimento desse projeto teve duplo objetivo: “O propósito do sistema é prevenir as mortes por raios, que chegam a 110 por ano, além das 500 pessoas que ficam feridas por isso anualmente no Brasil. O sistema visa, ainda, diminuir os prejuízos materiais e no campo, que somam R$ 1 bilhão”. O Brasil é um dos países com maior incidência de raios no mundo: cerca de 50 milhões deles cortam o céu daqui todo ano. A explicação é geográfica e mais elementar do que pode parecer, observa Júnior: “Somos o maior país da zona tropical do planeta. Nesta área central, o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades”. Segundo ele, 80% dos acidentes envolvendo raios poderiam ser evitados. ● Relâmpagos são todas as descargas elétricas geradas por nuvens de tempestades, que se conectam ou não ao solo. Já os raios são somente as descargas que se conectam ao solo. ● Trovão é o som produzido pelo rápido aquecimento e expansão do ar na região da atmosfera onde a corrente elétrica do raio circula. ● Um trovão intenso pode chegar a 120 decibéis, intensidade comparável ao que se ouve nas primeiras fileiras de um show de rock. ● Em geral, o trovão é inofensivo, mas o deslocamento de ar provocado por ele pode derrubar uma pessoa que esteja muito perto do local de incidência do raio, podendo até causar sua morte. FOTOS: ELAT/INPE/DIVULGAÇÃO PROTEJA-SE! A chance de ser atingido por um raio é muito baixa, menor do que uma para um milhão. Contudo, numa área descampada e sob tempestade forte, a chance pode aumentar a até uma para 1 mil. Numa situação dessa, o Inpe aconselha ajoelhar-se e curvar-se para frente, colocando as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles – sem deitar. O instituto também recomenda evitar locais como topos de morros e cordilheiras, topos de prédios, campos de futebol, quadras de tênis e estacionamentos abertos, não segurar objetos metálicos longos e manter distância de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas, trilhos e árvores isoladas. Se uma pessoa for atingida por um raio, a corrente pode causar queimaduras e, em caso de morte, a maioria é por parada cardíaca ou respiratória. ● A descarga elétrica de um raio costuma ser mil vezes mais intensa que a de um chuveiro, ou seja, cerca de 30 mil amperes. Ela pode percorrer cinco quilômetros. ● Um raio pode durar até dois segundos, mas dura, em geral, meio ou um terço de segundo. No entanto, cada descarga dura apenas uma fração de milésimo de segundo. O propósito do sistema é prevenir as mortes por raios, que chegam a 110 por ano, além das 500 pessoas que ficam feridas por isso anualmente no Brasil” ■ Osmar Pinto Júnior, coordenador do Elat/Inpe ● Ao contrário do dito popular, um raio pode cair duas vezes em um mesmo lugar. Exemplo é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, atingido cerca de seis vezes por ano. ● Embora a potência de um raio seja alta, sua pequena duração faz com que a energia seja baixa, equivalente ao consumo mensal de uma casa pequena (300kWh). ● Para saber a distância aproximada da queda de um raio, em quilômetros, basta contar o tempo (em segundos) entre o momento em que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir o número obtido por três. ● Apesar da “lenda” sobre o fato de Minas Gerais ser o estado brasileiro com maior incidência de raios, a região mais atingida do país fica no Amazonas, entre Coari e Manaus. Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais