O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Resumo O presente artigo apresenta os avanços de uma pesquisa em andamento, na temática da educação e turismo, na perspectiva da EJA ‐ Educação de Jovens e Adultos. Será apresentada a análise dos resultados parciais referentes à investigação das experiências turísticas vivenciadas por egressos do ensino fundamental na EJA, sendo o lócus de pesquisa o bairro Restinga, na cidade de Porto Alegre. Metodologicamente, trata‐se de pesquisa quali‐
quantitativa, com revisão de literatura sobre o tema, aplicação de questionários e análise de conteúdo. A partir de uma abordagem sobre do turismo como fenômeno sociocultural e sua relação com a educação, são apresentados os conceitos que norteiam a pesquisa. A partir disso, é demonstrada a relevância do turismo e da cultura na EJA. Para uma leitura contextualizada, é apresentado o histórico da Restinga e dados da EJA nesse bairro. Por fim, apresenta‐se o resultado parcial da pesquisa e a análise de dados, com base nos objetivos e políticas da EJA em âmbito nacional. Entendemos que o turismo possibilita a reconstrução do olhar do viajante, constituindo parte da sua formação cidadã. Assim, esse trabalho tem por objetivo incentivar o uso das vivências turísticas como facilitadoras no processo de construção do conhecimento. Palavras‐chave: Turismo, Educação de Jovens e Adultos, Restinga Mirelle Barcos Nunes [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes 1. Introdução Esse trabalho é parte de uma pesquisa iniciada no ano de 2012 no bairro Restinga, que busca compreender o lugar do turismo nas práticas pedagógicas de escolas desse bairro, bem como, a relação entre as vivências turísticas e a formação da cidadania em estudantes do ensino básico. Os sujeitos pesquisados são estudantes regularmente matriculados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Câmpus Restinga, que é uma instituição que recebe egressos de diferentes escolas de ensino básico do bairro. Assim, naquela ocasião, pesquisamos um universo de 62 estudantes do ensino médio integrado, todos moradores do bairro e egressos do ensino fundamental de escolas do bairro. O resultado da pesquisa mostrou fragilidade na oferta de vivências turísticas e culturais no ensino fundamental regular, e nos instigou a aprofundar a pesquisa com outros públicos, o que nesse momento da pesquisa ocorreu com os egressos da EJA. Desse modo, o presente artigo trata de uma análise das experiências turísticas vivenciadas por egressos da EJA no ensino fundamental. Buscamos apresentar nosso entendimento acerca do turismo, caracterizando‐o como um fenômeno sociocultural que possibilita aprendizados significativos a partir do estranhamento dos diferentes contextos, culturas, lugares, vivências. Esses aprendizados podem e devem ser absorvidos no campo da educação como uma oportunidade de qualificação dos processos de ensino‐aprendizagem nos diferentes níveis educacionais, sobretudo na EJA, onde a disposição para o aprendizado é significada pelo fato de que o adulto que está cursando a EJA, em geral, optou por estar estudando, não está obrigado a fazê‐lo. A opção por analisar estudantes moradores do bairro Restinga se deu pelo fato de se tratar de uma periferia, onde as oportunidades de lazer já são escassas pela condição econômica da comunidade. Assim, a escola pode exercer uma função social importante de formação para a cidadania e direito ao lazer, explorando pedagogicamente as possibilidades de acesso ao lazer, ao turismo, à cultura, conjugando os aprendizados. Para uma leitura contextualizada, será apresentado o histórico do bairro Restinga, bem como, as características marcantes de sua comunidade e alguns dados da EJA nesse X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes bairro. Por fim, apresenta‐se o resultado parcial da pesquisa e a análise de dados, com base nos objetivos e políticas da EJA em âmbito nacional. 2. O turismo como fenômeno social e sua aproximação com a educação e a EJA O turismo ainda é considerado por muitos segmentos como uma prática meramente comercial, o que pode ser consequência de um processo de evolução intimamente relacionado aos avanços de produção e comércio trazidos pela Revolução Industrial. Em outra direção, há autores que apresentam uma perspectiva humanizadora desse fenômeno, em que todo contato com outra realidade produz, de alguma forma, um “sujeito de experiência”. Moesch (apud BENI, 2007, p. 53) entende, no sentido da experiência turística, que o turismo é “uma prática social, da vida humana e encontra seu dinamismo enraizado numa experiência da pessoa, do nomadismo e do anseio de superações.” Desse modo, apesar da histórica vinculação do turismo com um simples comércio, esse estudo o entende em sua dimensão social. Conforme Barretto (1999, p. 5), “é um fenômeno que envolve, antes de mais nada, gente. É um ramo das ciências sociais e não das ciências econômicas, e transcende a esfera das meras relações da balança comercial.” Consoante Gastal e Moesch (2007, p.12), que apresentam uma visão mais abrangente sobre o tema, (...) o turismo se constitui em um fenômeno sociocultural de profundo valor simbólico para os sujeitos que o praticam. Simbólico porque as práticas realizadas, os produtos e serviços envolvidos significariam menos pelo seu valor venal ou valor de troca, e mais pelo seu valor de uso e pelo seu valor afetivo [sic] no turismo fala‐se cada vez mais em experienciar, vivenciar e conviver, porque esses são os grandes mobilizadores do estranhamento. (GASTAL e MOESCH, 2007, p. 12, grifo das autoras). Moesch (apud BENI, 2007, p. 53) entende, no sentido da experiência turística, que o turismo é “uma prática social, da vida humana e encontra seu dinamismo enraizado numa experiência da pessoa, do nomadismo e do anseio de superações.” O turismo apresenta‐se assim como um fenômeno sociocultural, como uma prática que se X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes concretiza no contato com o local, na vivência de uma experiência externa ao cotidiano e no reconhecimento do diferente. Diferentes hábitos, costumes, sotaques, pensamentos, religiões, espaços, culinárias, vestimentas, enfim, reforçam a ideia de que a cultura é permeada pelas diferenças. Nessa perspectiva, Moesch (2002, p. 9) traz sua contribuição acerca do conceito de turismo como: “prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais”. Sobre essa relação turismo‐cultura, Barretto (2000, p. 19) coloca que o turismo cultural é “todo turismo em que o principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros aspectos que o conceito de cultura abrange.”. Nesse sentido, entendemos que uma viagem não proporciona simplesmente uma contemplação de lugares, mas os lugares e suas pessoas ‐ em contato e troca de saberes com o visitante ‐ produzem sensações, sentimentos e alterações na “alma do viajante”. O viajante, nesse contexto, não vive um momentâneo deslocamento do olhar ou apenas o reconhecimento de uma perspectiva outra sobre o lugar que está visitando, mas experimenta uma experiência turística capaz de promover uma mudança interior. Essas condições de experimentação produzem, segundo Bondía, um sujeito de experiência, ou seja, “algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos” (BONDÍA, 2002, p. 24). Assim, também acreditamos que o turismo é um fenômeno capaz de não somente revitalizar espaços e atrativos turísticos para ofertá‐los ao turista, mas, acima disso, apresentá‐los à própria comunidade do local onde estão inseridos. Dessa forma, proporciona‐se a esta a experiência de entrar em contato com sua própria identidade histórica e cultural, em um processo de fortalecimento da sua cidadania. Laraia (2009, p. 45), que diz que “o homem é resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam” X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes e coloca que esse “patrimônio cultural” possibilita “inovações e invenções”. Assim, o estudo acerca do turismo na educação, na modalidade de ensino EJA – Educação de Jovens e Adultos é resultante da percepção quanto à relação existente entre a orientação para a inclusão e o acesso atrelados à oferta da dessa modalidade, que compreende o acesso à cultura como parte da ideia de acesso à educação, letramento e por fim, emancipação, e tendo em vista o turismo como um fenômeno social fomentador de vivências culturais significativas. Em dezembro de 2009 o Brasil sediou a VI Conferência Internacional de Educação de Adultos ‐ CONFINTEA, e após o encontro, a Comissão de Cultura e Esporte do Senado Federal realizou uma audiência pública que gerou um documento chamado “Os encaminhamentos e resoluções da VI Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFITEA VI”. Nele há algumas sinalizações acerca dos desafios da EJA, apontando para, entre outras questões, a “compreensão da natureza intersetorial e integrada da educação e aprendizagem de Jovens e Adultos” afirmando que “a EJA tem interfaces imediatas com o trabalho, saúde, agricultura, cultura, meio ambiente” (AZEVEDO, 2010, grifo nosso). A cultura também aparece no alinhamento político da abordagem da EJA em outros documentos como no Parecer CEB nº 11/2000 do Conselho Nacional de Educação a educação de jovens e adultos representa uma promessa de efetivar um caminho de desenvolvimento de todas as pessoas [sic] adolescentes, jovens, adultos e idosos poderão atualizar conhecimentos, mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas regiões do trabalho e da cultura. (CNE/CEB 11/2000, p. 10, grifo nosso) Nessa perspectiva, há uma indicação importante de que a oferta da EJA – Educação de Jovens e Adultos esteja alicerçada em uma proposta pedagógica que promova atividades sociais e de acesso à cultura. Acerca disso, no relatório final da VI Confitea (LEMES, 2013) há uma reafirmação de que “a aprendizagem ao longo da vida” seja “baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento” (BRASIL, 2011a, p. 3 apud LEMES, 2013, p. 45). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Assim, entendemos que o acesso à cultura, ao lazer, indiscutivelmente, é direito de todos, e contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, sobretudo nas relações que estas estabelecem com o meio em que vivem. A EJA tem, nesse sentido, especial potencial para ser o espaço em que se marcam as concentrações de oportunidades de acesso à cultura de modo geral, e não apenas à questão da cultura escrita, da alfabetização. A EJA tem assumido um sentido de aprendizagem continuada ao longo da vida, no entendimento de que, conforme Oliveira e Paiva (2004, p.9), a aprendizagem é a base do estar no mundo de sujeitos, que por esses processos educativos melhor respondem às exigências de: [...] exercer a democracia, constituindo práticas cotidianas de participação e de resistência, como formas de viver a cidadania; participar das redes culturais e sociais que envolvem o código escrito e que definem, em sociedades grafocêntricas, o ser‐cidadão e o exercer a cidadania. (OLIVEIRA e PAIVA, 2004, p. 9, grifo nosso) Neste aspecto, podemos dizer que vivências culturais turísticas somam positivamente na relação já estabelecida entre o território e a comunidade nele inserida, e que a escola e a EJA pode e deve ser fomentadora desse contato, dessa vivência que forma cidadãos mais completos, mais concretos em seu direito ao lazer, à cultura, em seu processo de apropriação do território. Seja o museu ao lado da escola, seja um destino turístico visitado a partir de uma viagem de longa distância planejada e executada com o protagonismo da escola. Sobretudo na EJA, onde jovens e adultos tem um histórico, geralmente, vinculado à privações de direitos ligados ao tempo para dedicação aos estudos e, fundamentalmente do direito à escola no “tempo certo”, se é que podemos considerar um tempo certo para o aprendizado, o turismo, a cultura, o lazer, de modo geral, também são parte desse contexto de privações. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes 3. Um olhar sobre o bairro Restinga, sua comunidade e a oferta da EJA O bairro Restinga está localizado na zona sul a 22km do centro da cidade. De acordo com o Censo do IBGE (2010) e o Observatório da Cidade de Porto Alegre, é um dos bairros mais populosos de Porto Alegre, com 51.569 mil habitantes, o que representa 3,63% da população do município. Com área de 38,56 km², representa 8,10% da área do município. Sua densidade demográfica é de 1394,29 hab/km². A taxa de analfabetismo é de 6% e o rendimento médio dos responsáveis por domicílio é de 3,6 salários mínimos. Um bairro pobre, com características urbanas, circundado por morros, tem a localização distante e características geográficas iniciais rurais. A região é resultado de uma história que começou na década de 60 com a remoção de famílias que viviam em áreas de invasão na região central da cidade de Porto Alegre e que estavam “impedindo” – aos olhos do governo da época ‐ o desenvolvimento urbano da Capital, a modernização (MONTEIRO, 1995). Essa dinâmica foi resultante de um processo de industrialização e modernização pelo qual o país precisou passar e que politicamente começou a se consolidar na década de 20. Na cidade de Porto Alegre, foi a partir da década de 30 que a dinâmica de aceleração do ritmo da cidade exigiu uma remodelação de sua estrutura urbana. Nesse momento, a modernidade começou a se desenhar, promovendo “melhorias” nos espaços de sociabilidade públicos e privados da área central. Ioris (2003, p.96), coloca que: esses novos valores legitimaram a remodelação da área central da cidade, a partir do discurso higienista, no qual exigia a demolição de casas, becos, cortiços, para dar lugar às grandes avenidas, símbolos de progresso e da ordem. Segundo esse novo padrão estético e higienista, a nova estrutura urbana provocou invariavelmente uma repulsa a esses espaços que contradiziam o discurso modernizador. (IORIS, 2003, p. 96) Nesse contexto, ocorreram sucessivas ações de remoção. A esse respeito, Monteiro (1995, p.142) coloca que “as formas de sociabilidade pública, promove a expulsão das classes populares e dos hábitos e costumes ‘tradicionais’ ou nocivos à consolidação da nova ordem, da área central da cidade”. Essas classes populares, tidas como inadequadas ao novo padrão estético da cidade, tinham, em sua maioria, não apenas em comum o estado de pobreza, mas a cor da pele – eram negros. Os moradores X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes do bairro Restinga, portanto, são, em sua maioria, negros. Esse é um dado que pode ser verificado, além das estatísticas populacionais, na própria história de criação do bairro e na remoção de famílias da área central. Há diversas referências da predominância histórica de moradores negros no bairro, desde sua origem, no entanto, citaremos Machado (2009, p. 311) que, ao caracterizar o bairro e seu histórico, descreve que a criação do mesmo se deu pela Lei Municipal 6571 de 8 de janeiro de 1990, quando o Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB) realizou a transferência dos “habitantes da região central para um local 22 km afastado do centro da capital [sic] um dos bairros mais populosos da cidade, com maioria de habitantes afro‐brasileiros”. (MACHADO, 2009, p. 311) As condições iniciais de moradia no bairro Restinga são retratadas pelos moradores que viveram a época das primeiras remoções no livro que conta a história do bairro e que compõe a coletânia “Memória de Bairros”, um projeto que foi desenvolvido pela Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Cultura. A obra traz, através das narrativas desses primeiros moradores, o descaso com que foram tratados no processo de remoção. Pessoas tiveram os materiais de suas casas divididos para acomodar outras famílias, com promessa de recebimento de novas casas em seguida, o que nunca aconteceu. E quanto à forma como foi planejado o acesso e a infraestrutura do novo local de moradias, outra moradora retratou que havia muita dificuldade no local para identificação das ruas do bairro no retorno do trabalho à noite, já que não havia iluminação pública. Moradores perdiam‐se procurando suas casas. As condições básicas de saneamento, energia elétrica e transporte são bastante citadas na obra. Há dois depoimentos muito impressionantes ocasionados pela precariedade e insalubridade do local: um sobre a falta de luz, em que se relata que era necessário fazer buracos no chão para deixar bebidas e frutas geladas, outro sobre o acesso à água, que chegava ao bairro de quinze em quinze dias, e que as famílias tinham que buscar com vasilhas próprias na pipa. Quem não tivesse vasilhas, ficava sem água. Com o tempo, as famílias encontraram um poço natural, que abriam com as mãos. Com um pano, separavam a água do barro. “Ali tinha escorpião, tinha tudo que era bicho.” (SMC, 1990, p. 7). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Para buscar soluções para essas dificuldades, o governo elaborou, em 1969, um projeto habitacional chamado Nova Restinga, além da implantação do Distrito Industrial na região. Para ter acesso à moradia, os critérios utilizados excluíram a maioria da população local, obrigando‐a a permanecer na condição injusta, assistindo à ocupação por parte de pessoas desconhecidas, que tinham os pré‐requisitos que os moradores da Restinga “Velha” não possuíam. Além disso, muitas pessoas adquiriram suas novas moradias na Restinga Nova por meio de “apadrinhamento”, como colocam alguns dos moradores entrevistados, quando citam que, “como muitos, na Restinga, conseguimos por baixo dos panos. Acordinho. O pai conhecia um cara, tinha relação com um cara, assim por diante.” (SMC, 1990, p.14). A vinda desses novos moradores, criou uma divisão no bairro entre sua população, que vai além do aspecto geográfico representado pela avenida João Antônio da Silveira, que divide a Restinga Velha e a Restinga Nova. Esse contexto tem seus reflexos na relação comunitária e, também, em um jeito de ser e de viver de lutas contínuas e de organizações comunitárias participativas politicamente, que tem conseguido, nos últimos anos, ser ouvidas e atendidas pelo poder público. O trauma gerado pela forma e condição com que foram removidos os primeiros moradores da Restinga acabou por gerar uma identidade – “os removidos”, criando‐se, assim, novos vínculos, fortalecidos por causas comuns como “direitos humanos”, “dignidade”, “justiça social”. Essas expressões estão hoje enraizadas na linguagem e na atitude da comunidade da Restinga, que se estruturou politicamente em grupos de luta pelas necessidades básicas de direito, como educação, saúde e habitação. O histórico de criação do bairro, de sua comunidade e sua trajetória configuraram terreno fértil em iniciativas solidárias, grupos de apoio, campanhas e projetos sociais e muitas ações reivindicatórias, nos mais diferentes campos (saneamento, educação, cultura, iluminação, transportes, saúde, entre outros aspectos). Além disso, há na Restinga diversas manifestações culturais (carnaval, capoeira, poesia, desenho, hip hop, grafitti, rádio comunitária, entre outras). Todos esses elementos representam a pluralidade cultural e social dessa comunidade, que até hoje vive em função da luta por melhores condições de vida. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Na área da educação a luta por escolas no bairro é marcante. Atualmente o ensino fundamental público na Restinga é oferecido nas escolas municipais Tristão Sucupira Vianna, Profº Larry José Ribeiro Alves, Mário Quintana, Alberto Pasqualini, Dolores Caldas, Lidovino Fanton, Nossa Senhora do Carmo e Carlos Pessoa de Brum, sendo as últimas cinco citadas as que oferecem a EJA no ensino fundamental. O Instituto Federal de Educação – Câmpus Restinga oferece a EJA no ensino médio e recebe alguns egressos da EJA no bairro. A pesquisa ainda avançará na análise das práticas pedagógicas nas escolas acima referidas, no sentido de aprofundar o entendimento do lugar do turismo nas escolas do bairro. O que o presente artigo apresenta é uma amostragem dessa realidade, na medida em que os estudantes pesquisados são egressos de diferentes escolas do bairro, trazendo diferentes experiências no que tange ao objeto desse estudo – o turismo, conforme veremos na análise dos dados. 4. Os egressos do ensino fundamental EJA na Restinga e o Turismo Nesse momento são apresentados os resultados obtidos através de um questionário aplicado no início do ano letivo em um grupo de 12 estudantes do IFRS ‐ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul ‐ Câmpus Restinga, matriculados no curso PROEJA em Recursos Humanos, moradores do bairro Restinga, oriundos da EJA em diferentes escolas do bairro. A análise a seguir se constitui a partir de elementos qualitativos e quantitativos, importantes para a compreensão que buscamos. O questionário foi composto de quatro questões principais, e nelas algumas perguntas que visavam medir a relevância e profundidade das experiências vividas. Todas as questões tinham aproximadamente doze linhas para registro de respostas. As questões foram: a) “Na sua passagem pelo ensino fundamental e/ou médio na modalidade EJA a escola levou os alunos para visitar lugares da própria cidade? Onde? Quantas saídas?”; b) “Na sua passagem pelo ensino fundamental e/ou médio na modalidade EJA a escola ofereceu passeios/viagens, visitas e saídas de campo fora da X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes cidade? Se sim, quais? Com que frequência?”; c) “Na sua história familiar você teve (na infância e adolescência) oportunidades e experiências relacionadas a passeios, viagens e atividades de lazer? E atualmente você tem esse hábito? Cite alguns exemplos, ou em caso negativo, explique o motivo.”; d) “Na sua opinião, as experiências turísticas, culturais e de lazer motivam a busca por novos conhecimentos e aprendizagens? Por quê?”. Na primeira questão (“Na sua passagem pelo ensino fundamental e/ou médio na modalidade EJA a escola levou os alunos para visitar lugares da própria cidade? Onde? Quantas saídas?”), dos doze estudantes, sete tiveram alguma experiência de passeio na própria cidade com a escola. Desses, apenas três afirmam ter visitado quatro ou mais lugares na cidade com a escola. Outros três sinalizam ter feito de dois a três passeios. O estudante 8 menciona apenas um passeio realizado, afirmando que houve dois passeios, mas ele foi apenas a um deles. O estudante 2 afirma que a escola promoveu alguns passeios, dos quais não lembra, por não ter participado. O estudante 3 afirma não ter sido oferecido nenhuma atividade pela cidade e, outros três estudantes registraram apenas a palavra não, o que nos leva a considerar algumas possibilidades: ou a escola onde estudaram não ofereceu, ou ofereceu e eles não participaram, ou não desejaram compartilhar a informação, entre outras alternativas. Na segunda questão (“Na sua passagem pelo ensino fundamental e/ou médio na modalidade EJA a escola ofereceu passeios/viagens, visitas e saídas de campo fora da cidade? Se sim, quais? Com que frequência?”), dos doze estudantes, apenas quatro afirmam ter realizado viagem para fora da cidade. Nenhum teve três ou mais visitas fora da cidade com a escola. Dois sinalizam ter feito de dois a três passeios. O estudante 8 menciona apenas um passeio realizado para a cidade de Viamão e o estudante 10 viajou para Gramado com a escola. Os demais responderam negativamente, sendo que cinco registraram com frases explícitas que a escola não ofereceu, e quatro registraram apenas a palavra não, o que nos leva a considerar algumas possibilidades: ou a escola onde estudaram não ofereceu, ou ofereceu e eles não participaram, ou não desejaram compartilhar a informação, entre outras alternativas. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Analisando as respostas a essas duas primeiras questões, apenas dois estudantes tiveram ambas experiências: o estudante 8 foi em uma atividade de cada âmbito (municipal e intermunicipal) e o estudante 7 foi de duas a três vezes em cada. Cinco estudantes tiveram apenas saídas em Porto Alegre; um estudante teve apenas viagem para fora de Porto Alegre e, três estudantes não tiveram nenhum tipo de experiência de lazer e turismo – nem na cidade, nem fora dela, com a escola. Na terceira questão (“Na sua história familiar você teve (na infância e adolescência) oportunidades e experiências relacionadas a passeios, viagens e atividades de lazer? E atualmente você tem esse hábito? Cite alguns exemplos, ou em caso negativo, explique o motivo.”), dos doze estudantes, dez afirmam ter tido alguma experiência de lazer e turismo em família. Porém, no momento de citar quais experiências tiveram na infância ou atualmente, são nove os que mencionam alguma experiência. Desses, seis apresentam lembrança de ter realizado de uma a três programações de lazer e turismo em família, e apenas quatro afirmam realizar atualmente alguma atividade de lazer. Nesses dois grupos de experiências (infância e atualmente), apenas um estudante mencionou as duas opções: teve alguma experiência na infância e, atualmente mantém esse hábito. Os dois estudantes que responderam ter tido apenas experiências de lazer e turismo em família na infância, colocam da seguinte forma: “Quanto criança, sim íamos muito em excursões para praia. Atualmente não tem esse habito porque agora cada um tem a sua vida.” (estudante 4) e Quando era criança ia para a grande POA, visitar parentes, perto da adolescência todos os meses de calor juntávamos a família e íamos acampar e pescar nas praias de Itapuã. Atualmente não saio, seguidamente a lugares foras, apenas familiares aos domingos Mas deixo meu filho passear com a vó que tem mais condições financeiras (estudante 1) Ambos optaram por não manter o hábito na fase adulta, independentemente de existirem programações gratuitas na própria cidade e de existir a possibilidade de realizar atividades de lazer sem a família. Um outro estudante registrou: “Na infância e adolescência não tive oportunidades de fazer passeios. Já fiz alguns passeios como X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes pampa safári, zoológico, não mais que isso, acho que é falta de costume não sair muito de casa” (estudante 2) Ao mesmo tempo, o estudante 8 parece ter iniciado as suas experiências de lazer na fase adulta, pois inicia a lista de lugares visitados – todos na cidade ‐ afirmando que os visitou por iniciativa própria, ou seja, sem a família, e possivelmente sem ter passado por essas experiências na infância, pois não menciona essa época da vida: Museus de Porto Alegre, por iniciativa própria, teatros, bliblioteca Pública, Gasometro na Esposição Exodo, Esposição Celita Mate, Museu dos Correio, Camara Municipal do Rio de Janeiro. Museu Julio de Castilhos, Museu da Praça da Alfandega, Museu do Trabalho. Igreja Nossa Senhora das Dores, Camara Municipal de Bagé, Cultura Árabe no Centro Islamico de Porto Alegre. (estudante 8) O único estudante que menciona ter tido oportunidades de passeios em família na infância e na fase adulta – atualmente, é o estudante 7, que descreve: Na infância e adolescência fazia‐mos passeios e pequenas viagens no interior do Rio Grande do Sul. Normalmente vamos nas férias de verão para o Litoral, e pequenos passeios durante o ano, e no parque da Redenção em alguns fins de semana. (estudante 7) Quatro estudantes responderam positivamente, exemplificando poucas experiências, porém sem que fosse possível identificar em que época da vida ocorreram. Desses, um afirma ter tido experiências de lazer, mas apenas em Porto Alegre, não tendo viajado nunca para fora da cidade com a família. Os demais mencionavam algumas cidades na região metropolitana ou litoral. Dos doze estudantes, dois responderam apenas com a palavra “não”, e um deixou a questão em branco, o que nos leva a considerar algumas possibilidades: ou que não tiveram experiências de lazer nem na infância nem atualmente, ou não desejaram compartilhar a informação, entre outras alternativas. A última questão (“Na sua opinião, as experiências turísticas, culturais e de lazer motivam a busca por novos conhecimentos e aprendizagens? Por quê?”) teve dez respostas positivas. Um estudante deixou em branco e outro respondeu apenas com a palavra “não” nessa e nas três questões anteriores. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Essa última questão é especialmente relevante para a pesquisa como um todo, no sentido de corroborar com o nosso entendimento acerca da relevância das experiências de lazer, de turismo, culturais de modo geral, na vida escolar e pessoal dos cidadãos. Nesse sentido, trazemos os registros dos dez estudantes que se manifestaram com, ao menos, uma frase, justificando o motivo de entenderem que as experiências turísticas, culturais e de lazer motivam a busca por novos conhecimentos e aprendizagens: “Pela descoberta e aprendizado que temos com passeios”. (estudante 1) “porque também é uma forma de conhecer sobre aquela cultura ou historia daquele local.” (estudante 2) “porque novos conhecimentos são bons para qualquer pessoa” (estudante 3) “Com certeza, experiências turísticas e culturais e lazer são muito importantes para novos conhecimentos. Porque a gente deve sempre ter grandes experiências e sempre aprender coisas novas, principalmente conhecer novos horizontes.” (estudante 4) “Todas agregam valores e conhecimentos, também é uma forma de ver o mundo de outra maneira no caso de lugares culturais” (estudante 5) “Sim porque tem gente que não tem condições de conhecer e as escolas dão oportunidades de nos os alunos de conhecer os lugares só ouvimos falar.” (estudante 6) “Acho que sim, as pessoas começam a ver oportunidades mais distantes” (estudante 7) “Primeiro vem a curiosidade, após a contemplação e entendimento. Conhecer novas formas, novos métodos, novas possibilidades.” (estudante 8) “Sim, sem duvida, para termos novas esperiencias maiores conhecimento e uma visão horizontes” (estudante 11) “Sim porque alem de várias coisas diferente e legal” (estudante 12) Analisando o conjunto de manifestações dos estudantes, percebemos que as palavras “novo” e “conhecimento”, e suas variações, aparecem em parte considerável das respostas dos estudantes, e outros grupos de palavras tornam o discurso unificado entre os estudantes, a respeito desse novo conhecimento que parece significar a experiência de lazer, cultura, turismo: “descoberta”, “novos horizontes”, “ver o mundo de outra maneira”, “curiosidade”, “coisas diferentes”, grandes experiências”, “oportunidades mais distantes”, “novas possibilidades”, “visões”, “valores”, “lugares culturais”, “contemplação”. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Todas essas expressões e palavras conjugadas dão profundo significado ao que podemos chamar de senso comum a respeito das possibilidades de vivências culturais e turísticas. E assim o é, para aqueles cidadãos que tiverem a abertura para essa experiência, para esse aprendizado, para esse mundo novo que se abre quando se tem contato com novos territórios, culturas e saberes. Entretanto, não podemos deixar de ter um olhar especial e preocupado com um dos estudantes que talvez represente uma parcela significativa da sociedade que está à margem das oportunidade de lazer no nosso país. É o estudante que respondeu apenas com a palavra “não” em todas as questões. Podemos inferir que, se é fato que o mesmo não teve experiência alguma, tanto na vida escolar quanto na vida em família, tanto na infância e adolescência quanto na vida adulta, é considerável que o mesmo não reconheça que experiências turísticas, culturais e de lazer motivam a busca por novos conhecimentos e aprendizagens. As respostas desse estudante nos remeteu a uma recente pesquisa denominada Públicos de Cultura, realizada e publicada pelo SESC (2013), com entrevistas a 2.400 brasileiros, nas cinco regiões do país, que identificou que, dos entrevistados, 89% nunca foram a um concerto de ópera ou música clássica em sala de espetáculo e 83% em qualquer outro local; 75% nunca foram a espetáculos de dança ou balé no teatro; 71% nunca estiveram em exposições de pintura, escultura e outras artes em museus ou outros locais e 70% nunca foram a uma exposição de fotografia. Além disso, outras atividades, como ver uma peça de teatro em qualquer local (61%), a uma peça no teatro (57%) e a um show de música em uma sala de espetáculo foram outras atividades cuja maioria dos entrevistados afirmou nunca ter realizado. (...) importante ressaltar que 26% dos entrevistados afirmam que não gostam de exposições artísticas e outros 26% que não sabem ou nunca foram a uma. (SESC, 2013, grifo nosso) Essa pesquisa, assim como as respostas do estudante 9, nos conduzem ao entendimento de que, talvez a experiência ou a falta dela seja determinante para a constituição dos sujeitos em termos de desejo por realizar determinadas atividades, e por isso o estudante 9 considerou irrelevantes as experiências de lazer e turismo como motivadoras da busca por novos conhecimentos; ele não tem tido condições de avaliar X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes esse tema como relevante. Não faz parte de sua história. Quantos outros cidadãos estão nessa mesma condição? A pesquisa do Sesc apresenta um quadro preocupante. Estamos pesquisando públicos escolares, e o que estamos encontrando é alarmante. Se diante de políticas públicas definidoras de um perfil de ser e fazer ser na educação de jovens e adultos vemos ainda um caminho longo a seguir, o que diremos da sociedade como um todo, das estruturas informais de educação, e dos indivíduos que não chegaram e não chegarão às escolas? Conforme Paiva (2009, p. 207) “a educação como um direito para todos os segmentos populacionais, independente de classe, raça, gênero, idade entre outros, ainda faz parte da luta pela construção de uma sociedade cidadã plural”, ou seja, é urgente e constante a constituição de cidadãos de direito à educação, assim como, de direito ao lazer, mas, sobretudo a educação para o lazer. Considerações finais Como vimos, as experiências e oportunidades de acesso à vivências culturais e turísticas na EJA ainda são incipientes, o turismo e o lazer ainda não encontraram legitimidade nos processos pedagógicos, “acontecendo”, pela discrepância entre as experiências dos doze estudantes pesquisados, de modo desigual e casual, talvez por iniciativas muito particulares, vindas dos professores, e não através de políticas educacionais ou da gestão. Ao tornar essa temática acessível ao público através de publicação das etapas e resultados da pesquisa, pretendemos que os atores envolvidos com a EJA se constituam promotores da ideia de que o acesso às vivências turísticas e culturais trarão consideráveis benefícios aos estudantes e, indiretamente, aos seus familiares, através do empoderamento das diferentes possibilidades de acesso ao turismo, à cultura, ao lazer, de modo geral. Entendemos que, a partir dessas experiências, os estudantes perceberão que essas práticas sociais lhes darão, no mínimo, melhores condições de assimilação de conteúdos e construção de conhecimentos. Acreditamos que as instituições proponentes poderão perceber avanços no desenvolvimento integral do estudante, na medida em que o turismo incentiva o estudante a entender melhor a sua realidade sociocultural, comprometendo‐se como X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes cidadão em preservá‐la, através da manutenção, cuidado e aprimoramento do patrimônio natural e cultural. O sentimento de pertencimento se firma, visto que quem preserva seus valores culturais, sente‐se parte da história de seu povo; condição que lhe outorga o privilégio de enxergar seu espaço territorial e humano; sua gente e suas relações; sua vida e sua história com um olhar mais perceptivo, abrangente, perspicaz e construtivo. Dentro das intenções da pesquisa, está a ideia de fomento a uma renovação no fazer pedagógico para aqueles educadores que se perceberem implicados, sensibilizados e identificados com o tema. A partir disso, que compreendam que podem fazer com que o aprendizado tenha outros espaços territoriais escola afora, e que o estudante da EJA é um indivíduo em momento de vida ideal para esse acesso, essa libertação, não apenas no que tange ao suporte pedagógico voltado aos conteúdos e práticas de ensino tradicionais, mas para experiências e aprendizagens voltadas para uma existência com mais qualidade que vida, com urgência. Por fim, buscaremos que essa pesquisa aponte um cenário sobre o qual será possível nos debruçarmos, educadores, para a construção de uma consciência em torno da importância do lazer e do turismo na qualidade de vida dos estudantes, além do fortalecimento do aprendizado nos diferentes campos do conhecimento e em diferentes níveis, sobretudo o nível fundamental e na EJA, onde temos um público que está em busca de ascensão em amplo sentido e necessita de oportunidades de acesso diversas, principalmente através de ações promotoras de uma formação cidadã, de apropriação de territórios, de incentivo ao espírito aventureiro e desbravador de lugares e conhecimentos mundo afora. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.17
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes Bibliografia AZEVEDO, Neroaldo Pontes de. Audiência Pública promovida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal: Os encaminhamentos e resoluções da VI Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFITEA VI. 2010. Disponível em: http://www.senado.gov.br/comissões/CE/AP/AP 20100707 UNESCO NeroaldoAzevedo.pdf; BARRETTO, Margarita. Coleção Turismo – p. 5 (In: Turismo e Qualidade: Tendências Contemporâneas / TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. ‐ 4 ed. Campinas, SP: Papirus, 1999; BARRETTO, Margarita. Turismo e legado cultural: As possibilidades do planejamento. 3 ed. Campinas, SP: Papirus, 2000; BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. 12ª ed. rev. e atualiz. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007; BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. Nº 19. Jan‐Abr 2002; CNE/CEB, Parecer 11/2000. Assunto: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. MEC‐ Ministério da Educação / CEB ‐ Conselho Nacional de Educação / CEB ‐ Câmara de Educação Básica. Disponível em http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.pdf; GASTAL, Susana, MOESCH, Marutschka. Turismo, Políticas Públicas e Cidadania. São Paulo: Editora Aleph, 2007; IBGE – disponível em http://censo2010.ibge.gov.br/. 2010 IORIS, Fabiana. Com os olhos no futuro: urbanização e modernidade no editorial da Revista do Globo (1929 a 1935). / Fabiana Ioris. – Porto Alegre, 2003. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009; LEMES, Julieta Borges. Itinerário formativo no PROEJA Transiarte de Ceilândia‐DF: uma elaboração a partir das significações e indicações de estudantes da educação de jovens e adultos. Campinas, SP: Autores Associados, 2013; X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.18
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O lugar do turismo na educação de jovens e adultos do bairro Restinga (Porto Alegre) Mirelle Barcos Nunes MACHADO, Sátira Pereira. A Cor da Cultura: crianças, televisão e negritude na escola – p. 304‐315 (In: RS negro [recurso eletrônico]: cartografias sobre a produção do conhecimento / organizadores Gilberto Ferreira da Silva, José Antônio dos Santos. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009; MOESCH, Marutschka Martini. A Produção do saber turístico. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2002; MONTEIRO, Charles. Porto Alegre: urbanização e modernidade: a construção social do espaço urbano. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995; OLIVEIRA, Inês Barbosa de; PAIVA, Jane. (orgs). Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 2004; PAIVA, Jane. Os sentidos do direito à educação de jovens e adultos. Petrópolis, RJ: DP et alii; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2009; PMPA – Observatório da Cidade de Porto Alegre. Disponível em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/observatorio/default.php?p_sistema=S&p_bairro=153; SESC, Serviço Social do Comercio. 2013. http://www.sesc.com.br/portal/site/publicosdecultura; Dados disponíveis em: SMC, Secretaria Municipal da Cultura ‐. Memória dos bairros: Restinga. Porto Alegre: SMC, 1990; SMED, Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, 2014. Dados disponíveis em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smed/default.php?p_secao=308; TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Turismo e Qualidade: Tendências Contemporâneas. 4 ed. Campinas, SP: Papirus, 1999. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.19
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