AGRICULTURA FAMILIAR E SEGURANÇA ALIMENTAR Ruth Youko Tsukamoto Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina - UEL [email protected] Resumo A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que objetiva garantir aos cidadãos em insegurança alimentar e nutricional o acesso aos alimentos e à água, por meio de programas e projetos de apoio à produção, distribuição e consumo de alimentos. O município de Londrina conta com a APRONOR que congrega agricultores voltados à produção de frutas, hortaliças/legumes comercializados na CEASA com mais de 200 produtores associados. Nesse mesmo espaço atuam os “boxistas” da ARUCEL que por meio do corpo administrativo da CEASA têm realizado as doações de produtos perecíveis ao Banco de Alimentos. Além dessa iniciativa da CEASA, há um programa denominado Mesa Brasil-SESC de Londrina que mantém “parceria” com a COAFAS que organiza os produtores do Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar cujo recebimento e distribuição dos produtos procedentes diretamente do campo são realizados pelo SESC. Palavras-chave: Políticas Públicas. Agricultura Familiar. Segurança Alimentar Introdução As políticas públicas do governo federal e estadual no programa de segurança alimentar. A questão das políticas de segurança alimentar e nutricional está vinculada ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome que objetiva garantir aos cidadãos que estão em situação de insegurança alimentar e nutricional, o acesso aos alimentos e à água em volume, qualidade e regularidade suficientes, para tanto desenvolvendo programas e implantando projetos de apoio à produção, distribuição e consumo de alimentos. Entretanto, tem-se observado a partir dos estudos junto às unidades de produção familiar, por meio de iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos, Programa Nacional de Alimentação Escolar e de Agroindústria Familiar (fábrica do agricultor) que os participantes dos mesmos tem também vínculos com os programas 1 voltados à captação e distribuição de alimentos objetivando almejar as metas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Neste contexto, o município de Londrina conta com uma associação paranaense de horticultores (APRONOR) que congrega agricultores voltados à produção de hortaliças/legumes como também, de frutas que comercializam no recinto da CEASA , praticando a venda direta ao consumidor. São mais de 200 produtores associados cuja maioria entrega faz a entrega em dois dias da semana, em dois turnos (manhã e tarde). Por outro lado, nesse mesmo espaço atuam os “boxistas”, isto é, os comerciantes de caráter atacadista já instalados em recintos próprios e que participam da ARUCEL – Associação de Permissionários da CEASA-Londrina. Essas duas associações, por meio do corpo administrativo da CEASA, têm realizado as doações de produtos perecíveis ao Banco de Alimentos que é uma iniciativa que auxilia no abastecimento e segurança alimentar, funcionando através da coleta dos produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais nas Unidades da CEASA/PR. (CEASA,2010) Além dessa iniciativa da CEASA, há um programa denominado Mesa Brasil-SESC que está em funcionamento desde 2008/2009 nas diversas unidades existentes no estado do Paraná, entre elas a de Londrina que atua por meio de uma diretriz instituída em caráter nacional. Vale salientar que essa instituição mantém uma “parceria” com a COAFAS (Cooperativa da Agricultura Familiar), a qual organiza os produtores para participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), sendo que o recebimento e a distribuição dos produtos procedentes diretamente do campo são realizados pelo SESC. Nesse sentido, procurou-se expor no presente artigo uma primeira aproximação das evidências encontradas no município de Londrina por meio das ações da Central de Abastecimento S/A (CEASA) de Londrina e do programa Mesa Brasil-SESC do mesmo município. Trata-se de ações recentes, tendo seu início por volta de 2010/2009, respectivamente. Trata-se assim, de um estudo que pretende aliar as políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar por meio da aquisição do governo federal com as instituições que realizam ações voltadas para a sociedade civil no sentido de promover a distribuição de alimentos a aqueles que são vulneráveis à situação de insegurança alimentar. 2 Agricultura familiar e segurança alimentar: breve entendimento a respeito A existência/permanência das unidades de produção familiar, historicamente, tem exercido papel fundamental na produção de alimentos para a sociedade voltados tanto para o mercado interno quanto ao externo. Esses agricultores passaram a ter maior atenção do Estado a partir da década de 1990 por meio dos programas de financiamento atribuindo juros mais baixos e priorizando aqueles que pretendem permanecer no campo e se reproduzir socialmente. Entretanto, temos notado nas pesquisas realizadas junto esses agricultores uma situação de desestímulo resultante das dificuldades enfrentadas de diversos fatores, ou seja, desde os preços baixos até problemas de intempéries. Nesse sentido, verificou-se de um modo geral, o não desejo da permanência dos descendentes nesse setor de atividade optando por um salário, mesmo que mínimo, nas cidades. Estamos entendendo que esse agricultor familiar é aquele que desenvolve suas atividades por meio da força de trabalho familiar e que, esporadicamente, conta com o trabalho assalariado nos períodos de maior demanda de mão-de-obra. Vale salientar, o fato colocado pelos produtores sobre a falta de trabalhadores para exercer as atividades do campo. Esse agricultor pode estar voltado para o mercado como também para o autoconsumo, mas nota-se que na área estudada estão voltados para o mercado em maior ou menor volume. É nesse momento que as atenções se voltam às políticas públicas existentes para garantir, em parte, um canal de comercialização “seguro”, ou seja, que o produtor obtenha um preço mais adequado no momento de circular a sua produção. Para tanto, existem um série de programas direcionados para esse fim, entre eles, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o da Agroindústria Familiar. Nota-se que esses programas compõem uma rede, uma vez que ao assegurar a aquisição dos produtos oriundos do campo, consequentemente estará propiciando uma renda a outra parcela da população que se encontra em situação de insegurança alimentar. Conforme as bibliografias consultadas e entrevistas realizadas, esse volume distribuído tem um caráter de complementação. 3 Menezes (1998) apresenta o conceito de Segurança Alimentar, construído quando da elaboração do documento brasileiro pelo governo e pela sociedade civil para a Cúpula Mundial de Alimentação que diz: A Segurança Alimentar e Nutricional significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana (MENEZES, 1998, s.p.) Ainda segundo Menezes (1998), as causas da insegurança alimentar são várias, mas a fundamental é a incapacidade de acesso por falta de poder aquisitivo, enfatizando também, uma outra face do problema que é a falta de acesso aos bens de produção na área rural principalmente para aqueles que não tem terra. Além disso, observa que há carência nos serviços públicos de água e esgoto bem como na educação e na saúde. Nota-se que estas observações colocadas pelo autor ainda permanecem no seio da sociedade brasileira, guardadas as diferenças regionais que ainda se apresentam em maior ou menor proporção. Salienta-se também, que o autor menciona a criação do Conselho de Segurança Alimentar ainda no governo Itamar Franco e que foi desativada quando da criação do Programa Comunidade Solidária no governo de Fernando Henrique Cardoso. Há que se observar que nos governos posteriores, outras ações foram executadas visando atingir um maior número de famílias em risco. Assim, somente em 2006 o governo promulgou uma lei regulamentando o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que, conforme o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional—SISAN foi criado por meio da Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 (LOSAN), com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada. O SISAN tem por objetivos formular e implementar políticas e planos de segurança alimentar e nutricional, estimular a integração dos esforços entre governo e sociedade civil, bem como promover o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da segurança alimentar e nutricional no país (BRASIL,MDS, 2006, s.p.) Trata-se de um objetivo amplo, de âmbito nacional que apresenta realidades muito contrastantes e a tentativa de atingir essa meta torna-se uma tarefa complexa, pois como afirma Hoffmann (1994, p.8) “dizer que uma pessoa passa fome porque não tem poder aquisitivo para comprar alimentos e, obviamente, uma análise muito limitada”. O mesmo autor cita Sen (1981) afirmando que para entender porque uma pessoa passa 4 fome é necessário que “sejam analisados os “direitos” dessa pessoa que é um enfoque muito mais abrangente”. Para tanto, Hoffmann (1994, p.9) conclui essa ideia dizendo “que o enfoque dos “direitos” das pessoas para compreender porque, eventualmente, passa fome, envolve uma análise da estrutura jurídica, social e econômica da sociedade”. Hoffmann (1994, p.9) já afirmava que há argumentos de que os preços dos alimentos são elevados no Brasil “porque a produção agrícola é insuficiente e/ ou a sua comercialização é ineficiente e controlada por oligopólios”, mas considera, também, que o processo de comercialização deve ser aperfeiçoado, evitando-se desperdícios. Entendemos que o autor se refere aos desperdícios na colheita ou mesmo na forma de se transportar os alimentos, ocorrendo também, em locais de comercialização como em supermercados , feiras livres e nas Centrais de Abastecimento a exemplo das CEASAS. Nesse sentido, a partir de 2006, o Estado tem implementado programas que vem de encontro a essas necessidades na tentativa de minimizar o quadro de vulnerabilidade de parcela da população brasileira e evitar desperdícios dos produtos alimentícios. Entretanto, verifica-se que há muito que se aperfeiçoar para atingir os objetivos propostos tanto em relação a organização dos produtores para acessar os programas de aquisição de alimentos quanto na distribuição dos mesmos. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar (2012), as ações da SESAN estão organizadas em três eixos de atuação: apoio à produção, comercialização e consumo.No primeiro consta o fomento à produção de alimentos visando o autoconsumo, à organização de sistemas produtivos e à inclusão produtiva da população rural que está em situação de insegurança alimentar; o segundo eixo, garante a compra dos produtos provenientes do campo, de agricultores familiares, pelo poder público , assegurando sua destinação a pessoas atendidas por entidades socioassistenciais e pelos equipamentos de alimentação e nutrição e o terceiro são ações de educação alimentar e nutricional , apoiando a agricultura urbana e periurbana, com o objetivo de estruturar a rede de equipamentos públicos de alimentação e nutrição , com o objetivo de assegurar o direito à alimentação adequada. Nesse item estão incluídos os restaurantes populares, cozinhas comunitárias e bancos de alimentos. Em Londrina, o programa Banco de Alimentos foi inaugurado em 2010 sob a coordenação da Central de Abastecimento S/A (CEASA). Somando ao Mesa Brasil5 SESC inaugurado em 2009, são os que estão atuando efetivamente nesse segmento ora em pauta. A CEASA de Londrina: APRONOR E ARUCEL O município de Londrina faz parte da Microrregião Geográfica de Londrina sendo aquele que ocupa maior dimensão territorial e populacional. (mapa 1) Nele está localizado a Central de Abastecimento (CEASA) que exerce um papel relevante no tocante ao abastecimento alimentar local e regional, extrapolando os limites do estado. Mapa1 Segundo estudos realizados por Tsukamoto (2010) no conjunto da Microrregião Geográfica de Londrina os grupos de área de até 50 hectares representava em 1995, aproximadamente, 80% do total do número de estabelecimentos e em 2006 passou para 84% de representatividade. Destaca-se o grupo de 10 a 50 hectares tanto em 1995 quanto em 2006 estão desenvolvendo a hortifruticultura atividade que absorvem basicamente a força de trabalho familiar.(tab.1 e 2) Tab. 1 Distribuição dos Estabelecimentos na Microrregião Geográfica de Londrina 1995-96 Grupos de Nº % Area % área (ha) 342 6,23 333 0,12 Até 2 686 12,50 2420 0,82 2–5 770 14,03 5974 2,00 5 -10 6 10 – 50 50 – 100 100 – 500 500 – 1000 1000 – 2000 Mais 2000 Totais* 2520 530 565 56 15 02 5.486 45,93 9,66 10,32 1,02 0,27 0,04 100,00 55.288 37.873 113.019 39.533 20.496 19.310 294.246 18,82 12,90 38,40 13,40 6,96 6,58 100,00 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1995-96 *não foram incluídos 19 estabelecimentos sem declaração de área Tab. 2 Distribuição dos Estabelecimentos na Microrregião Geográfica de Londrina 2006 Grupos de Número % Área % Área (ha.) 1217 17,67 775 0,21 Até 2 1132 16,43 3775 1,05 2–5 989 14,36 7.469 2,10 5 – 10 10 – 50 2.427 35,24 51.665 14,43 431 6,26 30.547 8,53 50 – 100 626 9,10 168.532 47,10 100- 500 40 0,58 29.659 8,29 500 – 1000 17 0,25 24.883 6,95 1000 – 2500 08 0,11 40.575 11,34 Mais 2500* 6.887 100,00 357.878 100,00 Totais* Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1995-96 *não foram incluídos 21 estabelecimentos sem declaração de área ** O Censo de 2006 não informa estabelecimentos de 2000 hectares e sim 2.500 hectares. Ainda pode-se verificar nas tabelas 1 e 2 que a área ocupada por esse grupo de até 50 hectares era apenas de 21,76% e 17.8% do total em 1995 e 2006, respectivamente. O grupo de100 a 500 hectares participava com cerca de 10% do total de estabelecimentos nos dois anos ora em análise, mas em área representava, em média, 43% do total das terras. Daí pode-se deduzir que as terras estão concentradas e mais, a produção de gêneros alimentícios tais como a olericultura, a avicultura e a bovinocultura de leite estão sendo desenvolvidas em estabelecimentos que ocupam uma ínfima área no contexto geral da microrregião. No presente estudo salientamos o significado da produção de frutas e verduras/legumes por se tratar de alimentos que em parte serão encaminhados para os programas ora em questão, tais como os bancos de alimentos que destinam os alimentos para asilos, 7 creches e instituições de organização não-governamental e à merenda escolar das escolas públicas. Pode-se verificar nas tabelas 3 e 4 o significado da produção de alimentos da agricultura regional conforme levantamento do Instituto EMATER. Conforme pode-se observar, esses dados não significam que o total dessa produção seja destinado exclusivamente para a Central de Abastecimento de Londrina, mas devemos lembrar que nesse recinto comercializam-se a produção dos mais de 200 associados da APRONOR (Associação Norte Paranaense de Horticultores). Pode-se observar na tabela 3 que de 2004 a 2008 ocorreu um aumento do número de produtores e da área plantada nas dez culturas mais representativas no conjunto da olericultura. Nesse sentido, pode-se fazer uma inter-relação com as tabelas 1 e 2 as quais apresentam a predominância do número de estabelecimentos de até 50 hectares, lembrando que de acordo com o presidente da Associação Norte Paranaense de Horticultores, esses produtores se situam em estabelecimentos de até 10 hectares. Tabela 3 – Olericultura da Microrregião Geográfica de Londrina Principais Culturas 2004-2008 ANOS 2004 2005 2006 2007 Tipos de Nº de Área Nº de Área Nº de Área Nº de Área cultura pro(ha) pro(ha) pro(ha) pro(ha) dutores dutores dutores dutores Alface Aipim Batatadoce Berinjela Cenoura Couveflor Pepino Pimentão Repolho Tomate Totais 2008 Nº de Área pro(ha) dutores 74 298 111 84 400 236 75 310 131 74 408 273 80 316 151 84 415 277 82 316 138 88 415 297 90 316 138 91 415 297 71 76 258 62 109 417 85 77 240 70 126 536 87 81 240 69 131 536 82 86 242 72 131 537 85 89 247 65 136 440 158 153 108 93 364 761 159 346 1.707 2.840 181 109 358 159 1.762 128 95 760 448 2.94 3 126 102 108 94 360 664 207 273 1.689 2.44 1 181 171 112 93 364 762 162 461 1.765 3.027 177 101 114 97 366 714 170 709 1.792 3.065 Fonte: INSTITUTO EMATER - Perfil da Realidade Municipal – 2004/2008 8 Tabela 4 – Fruticultura da Microrregião Geográfica de Londrina Principais Culturas 2004-2008 ANOS 2004 2005 2006 2007 Tipos de cultura Número Áre Número de a de produto (ha) produto res res 28 60 33 Abacate 24 82 23 Banana 37 58 37 Caqui 10 8,5 11 Maçã 9 13 10 Manga 24 23 18 Maracujá 48 19 40 Morango 126 164 132 Laranja 7 27 41 54 Limão 52 56 50 Uva Comum 40 52 38 Uva Fina 34 -36 Uva Rústica Totais 459 2.0 482 60 Áre Número Área Número a de (ha) de (ha) produto produto res res 76 34 76,5 34 82 27 97 25 58 38 57 38 11 10 23 12 13 11 15 13 15 15 12 13 15 39 16 46 139 143 2020 149 0 53 56 56 57 55 50 55 50 47 44 1.85 9 36 36 41 26 495 2.49 5 34 35 2008 Áre Número Áre a de a (ha) produto (ha) res 71,5 33 61 103 24 93 62 38 54 51 11 34 16,6 15 19,6 13,4 12 12,4 17 41 16 204 150 254 7 9 58,4 58 51,4 55 50 55 41 81 34 41 38 38,5 506 2.61 7 504 3.02 5 Fonte: INSTITUTO EMATER - Perfil da Realidade Municipal – 2004/2008 Salienta-se que esses associados tem acesso ao recinto da Central mediante o pagamento de uma taxa para que possam comercializar a sua produção. Importante destacar é a forma de comercialização que é realizada diretamente ao consumidor e curiosamente, os atacadistas adquirem, vez ou outra, dos produtores da APRONOR. A ARUCEL (Associação dos Permissionários da CEASA de Londrina) é composta pelos atacadistas que tem a característica de outras centrais onde se comercializam a produção local /regional e produtos procedentes de outras áreas do território nacional e internacional num pavilhão permanente tendo a obrigatoriedade de funcionar diariamente para as transações comerciais entre atacadistas. Conforme dados da CEASA/PR a unidade de Londrina movimentou em 2009 152.685.878 toneladas de alimentos com 88 empresas superando apenas a capital Curitiba que comercializou quatro vez mais em volume e contou com 470 empresas. 9 É nesse contexto da CEASA Londrina participa do programa Banco de Alimentos do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome para minimizar as necessidades de uma parcela da população mais carente e às instituições de saúde e de ensino da Microrregião de Londrina. As ações da Central de Abastecimento S/A (CEASA) via Banco de Alimentos Trata-se de um programa realizado em parceria com diversas instituições governamentais e não governamentais, e tem por objetivo de organizar a coleta dos produtos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais da CEASA e dos produtos repassados pelo Programa de Aquisição de Alimentos-PAA do governo federal, às entidades sociais e às famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional. Há um conselho gestor cujos integrantes são os representantes de diversas instituições governamentais e não governamentais tais como o EMATER, Secretaria da Agricultura e Abastecimento, CEASA (diretores), Secretaria Municipal da Agricultura, Provopar ,Secretaria do Meio Ambiente, ARUCEL, APRONOR, APAE/Londrina e Ibiporã, Hospital do Câncer, Universidade Estadual de Londrina e UNIFIL- Universidade Filadélfia. Conforme informações obtidas na CEASA Londrina, os produtos, arrecadados na Ceasa e pelo PAA “ são recebidos, selecionados e distribuídos gratuitamente às entidades assistenciais a às famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional, previamente cadastradas, como forma de complementação às refeições diárias da população assistida”. Em Londrina esse programa foi inaugurado em 2010 e conta com um recinto apropriado para armazenar os produtos procedentes do Programa de Aquisição de Alimentos- PAA. Em caráter ilustrativo podemos citar o estoque de iogurtes armazenados na câmara fria com produtos de uma cooperativa assentados de Querência do Norte (COANA), constituído de iogurte e queijo mussarela (esta última não tinha sido recebido no período da nossa entrevista e visita). Para o ano de 2012, prevê-se o recebimento de 80 mil litros de iogurte e cinco toneladas de queijo os quais por meio do PAA a produção será destinada para o Banco de Alimentos que fará a adequada distribuição após estabelecer critérios de prioridade que, 10 no caso, seriam às crianças dos centros de educação infantil e aos idosos das casas de repouso. Nota-se que há uma conexão entre os objetivos do PAA com as instituições que realizam a distribuição desses alimentos adquiridos pelo Estado. São ainda recebidos mercadorias denominadas de “segunda linha”, cuja origem é a CONAB, tais como: feijão, farinha de mandioca, milho, açúcar mascavo, fubá, farinha de trigo e amendoim. Por exemplo, o feijão pode ficar estocado por um período de três anos e quando se aproxima da data limite de validez, é entregue para o Programa. Já houve casos de ter 140 mil sacas de feijão em estoque em armazéns de cidades como Prudentópolis e Maringá que foram destinados ao Programa. O apoio do MDS está sendo concretizado com a instalação de uma infraestrutura de manipulação de alimentos como despolpadeira, geladeiras e freezer que, atualmente, não se encontra em atividade. Esses equipamentos foram adquiridos com verbas provenientes do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no valor de R$140.000,00 Segundo informações coletadas in loco com o diretor da CEASA local, o Banco de Alimentos tem 108 entidades cadastradas entre as regulares e eventuais. São cerca de 45 instituições que enviam seus voluntários (cerca de 3 a 5 pessoas) para a coleta dos alimentos e, no próprio espaço da CEASA, os mesmos fazem a seleção, lavagem e distribuição das doações daquele dia. São cinco instituições que coletam no período da manhã e mais cinco à tarde, uma vez por semana, totalizando cerca de 1500 a 2000 kg/semana. Dentre essa instituições fazem parte os municípios da Microrregião Geográfica de Londrina e segundo a diretoria da CEASA, são atendidas cerca de 20mil pessoas. Participam com doações dos produtos não comercializados 96 empresas em 194 boxes e os produtores do Mercado do Produtor (associados da APRONOR). Há 118 produtores cadastrados no PAA, os quais conseguem entregar um total de R$ 550.000,00 por ano de produtos, beneficiando os produtores familiares. O dados comentados no item anterior demonstram que o volume de vendas é significativo e assim, o excedente não comercializado é proporcional. São caixas e caixas de frutas, verduras e legumes que são plenamente viáveis para o consumo e, para os produtores e atacadistas deixam de ter a qualidade exigida para comercialização ou seja, são mercadorias que estão fora do padrão comercial 11 Um ponto que deve ser ressaltado é que o Banco de Alimentos tem favorecido os boxistas, pois estes necessitam fazer o pagamento à empresa Kurica Ambiental para a retirada das “sobras” e, sendo destinado ao Banco há uma diminuição de custos na operacionalização dos seus negócios. As ações do programa Mesa Brasil SESC Esta é mais um programa que está em vigor na Microrregião Geográfica de Londrina denominado Mesa Brasil SESC que é uma rede nacional de solidariedade que atua na área de segurança alimentar e nutricional por meio da doação de alimentos excedentes às pessoas em situação de insegurança alimentar e vulnerabilidade social. Trata-se de um programa mais abrangente mas é oportuno mencionar a atuação da mesma no tocante ao papel exercido na coleta e distribuição de alimentos oriundos do processo de aquisição pelo governo federal. Mesa Brasil em Londrina foi instalado em 2006 com o objetivo de combater o desperdício e a fome com ações voltadas à realização de manipulação de alimentos e transporte com a distribuição e busca de produtos na área é rural. Além dos produtos perecíveis o SESC também doa produtos industrializados via doação de supermercados e das indústrias alimentícias. Os produtos processados pelos agricultores (agroindústria familiar) têm um valor agregado maior a exemplo dos sucos concentrados de Corumbataí do Sul As áreas de atuação no estado do Paraná são Londrina, Maringá, Francisco Beltrão, Cascavel, Paranaguá, Campo Mourão, Guarapuava e Curitiba. São 89 instituições cadastradas no SESC Londrina que participam da política de assistência à saúde e à educação.No caso da saúde, atualmente, fazem parte o Hospital Infantil e Mater Dei ligadas á Santa Casa de Londrina e a ONG Viver, a Santa Casa de Cambé, Arapongas e Sertanópolis (esta não faz parte da microrregião de Londrina). A participação do Mesa Brasil SESC em parceria com a COAFAS (Cooperativa da Agricultura Familiar) iniciou-se em 2010 pelo fato desta última ainda não ter estrutura suficiente para coletar e distribuir os alimentos procedentes do campo. São cerca de 50 produtores que encaminham a produção para o SESC e esta faz uma avaliação por meio de duas nutricionistas para que os produtos cheguem ao destino com a devida qualidade. Foi salientado pela coordenadora local que os produtores já têm 12 conhecimento das exigências feitas quanto à qualidade do produto. Nota-se que a localização desses produtores estão bem polarizados no município de Londrina e região e para realizar o transporte necessita de uma melhor logística . O programa Mesa Brasil conta com uma “Sprinter” e um caminhão para realizar essa tarefa. Na tentativa de evitar desperdício no próprio local de produção um funcionário se desloca para verificar in loco se está ou não ocorrendo sobras. Considerações finais As ações de duas instituições aqui analisadas demonstram que as políticas públicas lançadas pelo Estado são interessantes na medida em que envolve além dos vários órgãos governamentais as instituições não-governamentais ou seja, a efetiva participação da sociedade civil. Nota-se que o envolvimento dos atacadistas e dos produtores da CEASA vem de encontro ao potencial existente no recinto de comercialização, uma vez que o volume diário de toneladas de alimentos passa por um processo de depreciação que os obriga a descartar de uma forma ou de outra. Nesse sentido, o desperdício seria muito mais significativo se não fosse absorvido pelo Banco de Alimentos. Segundo o diretor da CEASA de Londrina, que implantou o programa em foco, este lamenta sobre a impossibilidade de fornecer produtos derivados de carne bovina, suína, frango pelo fato da capacidade de armazenamento da câmara fria ser pequena, impossibilitando o armazenamento adequado. Constata-se que, muitas vezes, existe um apoio inicial para a implantação por parte do Estado da infraestrutura , mas no decorrer dos anos os programas passam a enfrentar problemas de falta de verba ou a não prioridade do governo que sucede, inviabilizando uma continuidade das ações e/ou melhoria nessas instituições. Vale salientar que se o agricultor familiar conta com os programas que procuram incentivar a permanência no campo por meio da compra de seus produtos com preços acima do mercado e com garantia de contrato por um ano, esta é apenas uma medida paliativa, pois se trata de uma parte da produção que será agregada a sua renda, pois segundo as pesquisas realizadas no campo, o produto que propicia a renda é ainda aquele voltado para o mercado. Por outro lado, nota-se que os produtores ainda estão pouco organizados principalmente no tocante à infraestrutura de transporte e 13 distribuição. A própria cooperativa (COAFAS) ainda está se consolidando enquanto tal. Contudo, trata-se de um programa que está sendo implementado paulatinamente e espera-se que dêem continuidade para serem aperfeiçoados. Nesse sentido, a cota anual a ser paga aos participantes do Programa de Alimentação Escolar foi elevado de R$9.500,00 para R$20.000, em 2012, incentivando os produtores familiares a aderirem ao programa, uma vez que muitos dos produtos solicitados existem nas suas propriedades. Essa conexão entre os programas governamentais para agregar mais valor à produção dos agricultores familiares por meio da aquisição direta e o destino desses produtos à população carente, vulnerável socialmente por meio do Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN), permite esboçar um futuro mais alentador tanto para os componentes das unidades familiares de produção, quanto para os cidadãos em situação de insegurança alimentar. Referências BRASIL.IBGE FIBGE,1997 Censos agropecuários de 1975,1980,1985,1995-96. Rio de Janeiro: _______.Censo Agropecuário de 2006. Disponível em:<http//sidra.ibge.org.Acessado em 16 de jun.2010.. HOFFMANN, Rodolfo. A insegurança alimentar no Brasil. Revista Caderno de Debate. 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