Senhoras, Senhores, meus prezados colegas de Odontologia
Eu não poderia deixar de repartir com todos vocês, a alegria que
transborda deste coração de 82 anos de idade, 65 dos quais,
dedicados à Odontologia.
Para não passar em branco, porque em branco estava apenas o
papel antes que eu começasse a escrever, transformo agora em
algumas palavras, esta incessante alegria que insiste brotar do meu
peito, apenas pela certeza do dever cumprido, dos muitos anos
bem vividos, das experiências adquiridas, das metas atingidas, dos
planos realizados, do reconhecimento da família, dos amigos e dos
colegas, no transcurso dessa jornada.
Alegria que, neste momento, eu renovo e compartilho entre a
comemoração do 47º aniversário do Conselho Regional de
Odontologia da Bahia, e a gentil concessão desta “comenda”,
honraria que tão positiva e particularmente me lisonjeia.
Nestas festivas ocasiões, é quase que protocolar o homenageado
desfilar cronologicamente algumas passagens da sua história,
sempre garimpadas caprichosamente no passado, com o intuito
biográfico de auxiliar o público presente, a melhor compreender o
seu perfil e os méritos da sua indicação. Mas posso lhes assegurar,
que este não será o meu intento nesta oportunidade.
A minha forte e emocional ligação com a Bahia, vem de longa data,
construída através de uma indelével sucessão de variados e
importantes acontecimentos, que contribuíram de maneira decisiva
e irreversível para a minha formação, mas que, neste exato
momento, são absolutamente dispensáveis.
Resumidamente, justifico o sentimento e a relação com esta terra,
perene e docemente abençoada pelo Senhor do Bonfim,
considerando que, desde a calculada aventura de um forasteiro ao
lançar-se num difícil e concorrido vestibular, sequenciada de
imediata e comemorada aprovação para o ingresso em Odontologia
(que funcionava na então antiga Faculdade de Medicina, situada no
Terreiro de Jesus, no início de 1951); passando pela formatura e o
casamento - com uma baiana - chegando até os dias atuais, onde o
tempo e o destino responsavelmente se incumbiram de preservar
vínculos, tanto de amizade, quanto familiares; aditado ainda ao
relevante fato de que dois dos meus seis filhos, Richard e Franklin,
aqui passaram a estudar e a residir – hoje com suas famílias - há
pelo menos 38 anos; me certifico no presente, com plena convicção
e definitivamente, de que TODAS as minhas escolhas foram,
realmente, as mais acertadas.
Com a devida reverência e justa gratidão àqueles que diretamente
influenciaram na minha formação de cirurgião-dentista e docente, a
minha memória destaca em meio a tantos importantes nomes e
vivas recordações, alguns marcantes professores da época,
juntamente com suas respectivas aulas: Aldelmiro José Brochado,
Elias Passos, José Vicente Torres Homem, Jorge Novis, Mário Peixoto,
que além de terem nos acompanhado no decorrer do curso,
tornaram-se amigos e referências para toda uma vida, em
particular, o Prof. Carlos Glicério da Silva Fera.
Foi uma longa jornada, não menos longa a história em defesa da
Odontologia, dos princípios da ética e da própria evolução da
ciência, comparada hoje com aquela que era ensinada e exercida
nos idos de 1950.
Procurei, dentro do possível, acompanhar esta evolução e os
benefícios que tornaram a nossa Odontologia mais científica, mais
humana até, mais inovadora em seus estudos, conceitos e técnicas
aprimoradas, mais abrangente nos planos de tratamento, no
diagnóstico e, seguramente, mais previsível em seus resultados,
sempre pretendidos em prol dos pacientes e da profissão.
Sinto-me feliz e recompensado, por todas as metas conquistadas na
nossa caminhada. Por ter tido o privilégio de acompanhar tantas e
tamanhas modificações, ensinando e me permitindo aprender
diariamente, com a positiva e habitual energia vinda dos mais
jovens, cada vez mais desejosos de acumular conhecimentos.
Sempre tive presente o desejo e a vontade de aprender para
melhor ensinar, e hoje, sinto-me completamente realizado por tudo
o que passei, o que aprendi e o que pude transmitir, registrando
novas experiências, novas emoções.
Confesso que estou em completa harmonia com o pensamento do
escritor Michael Lynberg, quando categoricamente afirmava que “os
anos deixam rugas na pele, mas a perda de entusiasmo, deixa
rugas na alma”.
Certa feita, alguém também sabiamente assim se expressou:
“nascer é uma possibilidade, viver é um risco, envelhecer é um
privilégio. Transformar depende da vontade. Realizar é nossa
responsabilidade”.
É claro, que aqui apenas acrescento: ...envelhecer é um privilégio
sim, mas, preferencialmente, que aconteça COM saúde!
De fato, é um enorme privilégio para qualquer ser humano
considerado do bem, poder olhar para trás e, ainda com boa saúde
e lucidez, contemplar os feitos ou as obras construídas ao longo da
sua trajetória de vida!
Só a maturidade e a experiência nos concedem serenidade e
humildade suficientes, para reconhecermos de que não fazemos
absolutamente nada sozinhos! Há que se ter sempre alguém com
quem contar! Com quem compartilhar ações! Em todas as vertentes
da sua existência, e em todos os sentidos!
Felizes daqueles que conseguem reconhecer e agradecer a todos os
que lhes emprestaram atenção, companheirismo, solidariedade,
parceria ou apoio, participando de importantes etapas da sua
escalada.
Portanto, nada mais oportuno para, por mais uma vez, externar o
meu sincero e emocionado agradecimento por tão valorosas e fiéis
companhias: à Lygia, minha esposa, aos meus seis filhos, Richard,
Franklin, Ingrid, Leonard, Adriane e Luciane – 5 deles, hoje aqui
presentes - genros, noras e netos, a toda minha família, parentes,
amigos e, em especial, à DEUS!
Com toda a inspiração das múltiplas atenções recebidas, do
aprendizado amealhado com o passar do tempo, dos ensinamentos
praticados no curso desta caminhada, trago como estímulo para os
mais jovens, no ato de recebimento desta medalha, uma mensagem
de otimismo e muita esperança, dirigidos para a busca do caminho
que leva ao crescimento pessoal e profissional; a esperança que é a
mais fiel companheira da alma !
Mas a esperança sobre a qual me refiro, é a do verbo esperançar!
De ir atrás, de buscar, de não desistir! Não a esperança do verbo
esperar! Eu espero que dê certo..., eu espero que resolva...
Isto não é esperança, é espera, segundo abalizada opinião do
ilustre professor e filósofo brasileiro, Mário Sérgio Cortella.
Albert Schweitzer, um brilhante médico do século passado e prêmio
Nobel da Paz em 1952, costumava dizer: “a tragédia, não é quando
um homem morre. A tragédia, é aquilo que morre dentro de um
homem, enquanto ele ainda está vivo”.
Por isso, jamais podemos permitir que esta esperança morra
dentro de nós! Sempre haverá espaço e tempo suficientes para que
ela nos movimente no sentido de mais aprender e ensinar!
Não importa a idade que você tenha!
Durante todos os meus 29 anos de docência na universidade, pude
transmitir a gerações de alunos um pensamento nosso, que
acreditamos só ter acrescido força e significado com o passar das
décadas: “felizes os que sabem ler porque podem estudar, os que
estudam porque podem aprender, os que aprendem porque podem
ensinar...”. Ainda que reconheçamos ter mudado de fases,
amadurecido, cumprido ciclos com o passar do tempo e da idade,
NUNCA deveremos deixar que feneça a sempre jovem e contínua
esperança de mais aprender e ensinar. Ou, em caso contrário,
estaremos admitindo, precipitadamente, que, além de cansados,
definitivamente, ficamos VELHOS, e que não nos prestamos para
mais NADA...!
Agradeço, mais uma vez, a gentil indicação do meu nome para a
concessão desta comenda, em particular a Dra. Viviane Dourado,
ativa secretária-geral desta destacada autarquia e também
Presidente da Comissão de Medalhas da atual gestão, ao tempo em
que também desejo ao Presidente do CRO-BA, Dr. Antônio
Fernando Pereira Falcão, uma gestão de sucesso, plena de
realizações em favor da Odontologia baiana e brasileira.
Preparo, experiência e competência, não lhe faltam para isso...!!!
Obrigado aos colegas da Bahia pelo acolhimento, atenção e
reconhecimento a mim dedicados.
Desejo que todos sejam felizes em meio a nossa felicidade nesse
instante.
Muito obrigado!
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Charles - CROBA – Conselho Regional de Odontologia da Bahia