PALAVRA DO PRESIDENTE
Há um tempo que ficou perdido, enquanto a sociedade brasileira ficou observando distraída o
seu “futebol campeão do mundo” e deslumbrada de ver como é possível que dos morros e favelas
pudesse surgir tantos garotos com aptidão inata para o maior desporto do planeta. Da mesma forma,
buscava-se uma explicação, para o fato de que, a maioria deles, após se tornarem ricos e famosos,
retornavam às origens de pobreza, normalmente por não possuírem outra qualificação e capacidade
para administrar seus ganhos, negócios e mesmo adaptação a outra atividade que lhes propiciasse
condição digna de subsistência própria e de seus familiares, não raras vezes, dilapidando o
patrimônio conquistado. Poder-se-ia culpá-los das por isso? Em muitos casos possivelmente, mas na
maioria das vezes certamente que não, porquanto o descuido, não resta a menor dúvida, está nas
raízes culturais da sociedade brasileira, onde cada vez mais se distanciam os grupos sociais, pela má
distribuição de riquezas do país e dentre ela, a educação e o princípio da cidadania.
A atividade profissional do atleta é de curta duração, sequer atingindo o tempo legalmente
estabelecido para aposentadoria. Os momentos de glória e realização são passageiros e, quando a
condição física lhe impede a continuidade, segue-se, normalmente, o desemprego, agravado pelo
despreparo para enfrentar a nova realidade. De repente, em vez do calor da torcida, a solidão e o
desajuste social.
Nada mais justa, portanto, a atitude do governo em ter instituído, através da Lei 6.269/75, o
Sistema de Assistência Complementar ao Atleta Profissional, cujo histórico integra este relatório.
Por acreditarmos na importância do sistema, abraçamos de imediato a causa, como forma de
contribuição social ao meio que sempre representou nossa própria vida, colocando-nos com um dos
privilegiados e enquadrados dentro da máxima, de que “o futebol arruma a vida de poucos e
desarruma a vida de muitos” ou ainda, de ser uma atividade “em que poucos ganham muito e muitos
ganham pouco”.
Em que pese o futebol ser caracterizado como esporte associativo, na prática, infelizmente, as
ações são vivenciadas de forma individualizada. Prova disso, a falta de participação e conscientização
dos problemas afetos à classe e às instituições dos atletas, especialmente daqueles que se encontram
no exercício da atividade.
O tempo do futebol, consideramos como o de conto de fadas, da doce ilusão e da vida irreal,
levando o atleta a não pensar no tempo final da sua profissão. Acredita que vai jogar “a vida inteira”.
Temos orgulho e honra de estar prestando nossa contribuição a este trabalho por idealismo,
sem nenhuma compensação financeira, uma vez que a FAAP e as AGAP são entidades sem fins
lucrativos que não remuneram seus dirigentes. São mais de 27 anos de doação total, iniciados como
fundador e primeiro presidente da AGAP/MG. Agradecemos, primeiramente a Deus, à família que
ficou privada de nossa convivência e aos fiéis companheiros das AGAP e da Diretoria que nos tem
ajudado no cumprimento dessa missão.
Com implantação da FAAP, ao lado de outros companheiros, assumimos a responsabilidade
de conduzir e reestruturar o Sistema. Para tanto, foram tomadas medidas tais como: edição de
normas, saneamento das AGAP, fiscalização e procedimentos de auditoria e, inclusive, a
centralização da Contabilidade na FAAP.
A Federação, com objetivo de fortalecer o Sistema, está buscando junto aos clubes e
federações os recursos financeiros previstos no artigo 57 da Lei 9.615/98, inicialmente de forma
conciliatória, esperando contar com a sensibilidade dos dirigentes quanto ao recolhimento das
importâncias devidas, visto que os recursos arrecadados se revertem ao meio, como valorização
maior do atleta e formação de consciência do que representa o futebol dentro do contexto social.
A luta incansável, os desafios e obstáculos colocados em nossa caminhada, não foram e não
serão suficientes para nos impedir de prosseguir na busca do reconhecimento e das soluções que o
sistema necessita.
Se no governo militar conseguimos conquistas expressivas com à regulamentação da
profissão e a criação do sistema de assistência aos atletas, só nos resta acreditar nas propostas sociais
que o nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinaliza em consolidar no seu Governo
eminentemente democrático. Portanto nada mais justo do que proporcionar aos atletas de um futebol
penta campeão mundial a esperança e certeza de um tempo melhor no seu ajuste social.
Pela sua essência, este trabalho assistencial necessita contar com a participação e a
sensibilidade do governo, representado pelo Ministério do Esporte e de todo o segmento esportivo
(CBF, Federações e Clubes), não ficando restrito apenas à edição de leis, mas ao seu cumprimento,
devendo ser responsabilidade, não somente da FAAP, mas de todos que, de uma forma ou outra,
estejam ligados ao esporte.
Este Relatório, fruto do nosso trabalho à frente da FAAP, retrata, com transparência, suas
ações, nada mais do que nossa obrigação e dever e é apresentado em forma de prestação de contas às
nossas filiadas (AGAP), às entidades de administração e de prática, à imprensa esportiva, às
autoridades dos poderes constituídos e à sociedade como um todo.
Wilson da Silva Piazza
Presidente
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