CEEJA Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos “Max Dadá Gallizzi”- Praia Grande -SP UE 06 Ensino Médio Língua Portuguesa Professores: Arthur Aprígio Faria Júnior Elaine Maria Terroso Mauro Borba Colletes Alves Zélia Virgínia P. F. C. Casasco 2010 1 LÍNGUA PORTUGUESA - Unidade de Estudo 6 Gêneros Textuais Há textos que narram situações importantes vividas pelo autor e pertencem ao gênero textual relato pessoal. Características do relato pessoal: narra um episódio marcante da vida pessoal; há predomínio do tempo passado; apresenta os elementos básicos da narrativa: sequência de fatos, personagens, tempo e espaço; o narrador é protagonista; verbos e pronomes são empregados predominantemente na 1ª pessoa; presença de trechos descritivos e, eventualmente, de diálogos; a linguagem empregada é compatível com os interlocutores, sendo normalmente culta. Outro gênero que apresenta semelhança com o relato pessoal é o relatório . Características do relatório: tem por objetivo expor a investigação de um fato, de um acontecimento ou de uma experiência científica; pode servir-se de descrições, de enumerações, de exposições narrativas, de relatos de fatos, de gráficos, de estatísticas; pode ou não seguir um roteiro preestabelecido; apresenta, normalmente, introdução, desenvolvimento e conclusão; em alguns casos, pode apresentar outras partes, como folha de rosto, sumário, anexos; a linguagem é precisa e objetiva, de acordo com o padrão culto e formal da língua; admite, no entanto, a pessoalidade. 2 Estudos linguísticos Transitividade do verbo Quando analisamos o predicado de uma oração, a análise do verbo é essencial. Chamamos de transitividade à propriedade do verbo de afetar ou não um segundo elemento; uma vez que ele sempre afeta o primeiro elemento da oração. Os verbos que não afetam o segundo elemento chamamos intransitivos. Ex: Maria morreu. (não precisa de nenhum elemento para completar o significado do verbo). Podemos adicionar informações: Quando morreu, em que horas, onde. Essas informações não são necessárias à compreensão da frase (dispensáveis). Os verbos que afetam ao segundo elemento chamamos de transitivos. Temos três tipos de verbos transitivos: diretos; indiretos; transitivos diretos e indiretos. 1- Transitivo direto: verbo que não tem o sentido completo ,ao complemento desse verbo que vem sem preposição chamamos de objeto direto. Ex: Ricardo ama Sofia. Sujeito vtd o.d. 2- Transitivo indireto: quando o elemento que completa o verbo vem acompanhado de preposição obrigatória, chamamos de objeto indireto e o verbo é transitivo indireto. Ex: Eu sujeito gosto de vti Marcinha. o.i. 3- Transitivo direto e indireto : necessita, simultaneamente, de dois elementos: um ligado diretamente (sem preposição) e indiretamente (com preposição) (bitransitivo), e os complementos desse verbo chamamos, respectivamente, de objeto direto e objeto indireto. Ex: Cristina escreveu uma carta ao namorado. Sujeito vtdi od oi escreveu o quê? = objeto direto. a quem?= objeto indireto. ____________________________________________________________________ Lembrete Preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, pelo,pela,(per), trás. ADJUNTO ADVERBIAL- último termo ligado ao verbo; é o termo que sobra da frase depois das análises acima. É o nome que se dá à função sintática de advérbios e locuções adverbiais. Exemplo: Maria morreu hoje de manhã em seu apartamento. Sujeito v.intransitivo adjunto adverbial de tempo adjunto adverbial de lugar 3 Os adjuntos adverbiais podem vir no início, no meio ou no final da oração: As vítimas da enchente foram resgatadas ontem. Ontem, as vítimas da enchente foram resgatadas. As vítimas,ontem, foram resgatadas. COMPLEMENTO NOMINAL – É o termo que completa o sentido de uma palavra que não seja verbo. Refere-se a um substantivo, adjetivo ou advérbio , ligando-se a eles por meio de preposição. Exemplos: A lembrança do passado martelava-lhe a cabeça. Substantivo complemento nominal O porão da casa estava cheio de ratos. complemento nominal Os bons políticos agiram favoravelmente ao povo. Complemento nominal Regência Verbal É a relação que o verbo tem com os seus complementos, o objeto direto e o objeto indireto. Repare que o mesmo verbo pode assumir significados diferentes, de acordo com o significado o mesmo verbo pode ser transitivo direto ou indireto. OBSERVE: 1- aspirar no sentido de cheirar, inspirar, absorver, é transitivo direto, não exige preposição. Ex: O rapaz aspirou o ar puro. A moça aspirava o perfume. Ele aspirava a flor. 2- aspirar no sentido de desejar, almejar, pretender é transitivo indireto, exige a preposição. Ex : O rapaz aspira ao cargo de gerente. A moça aspira à felicidade. No primeiro caso o verbo (termo regente) se relaciona com o objeto(termo regido) sem a preposição. No segundo caso o verbo exige a preposição a , onde ocorre a ( preposição) mais o (artigo) = ao, ou a (preposição) mais a (artigo) = à. No entanto há verbos que admitem mais de uma regência com o mesmo sentido. Ex: Ele esqueceu o livro. v.t.d o.d. Ele não se esqueceu do livro. v.t.i o.i. 4 Literatura O Padeiro Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out , greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo. Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? “Então você não é ninguém?” Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer; e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “ não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém... Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação do jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estaria bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!” E assobiava pelas escadas. Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record,1993. Rubem Braga nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, em 1913. Desde cedo trabalhou como jornalista no Diário da Tarde de Belo Horizonte, Minas Gerais. Morou em muitas capitais do país e publicou enorme quantidade de crônicas, seu gênero preferido, em vários jornais e revistas. Foi correspondente na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos 60, foi embaixador do Brasil no Marrocos. É tido como um de nossos melhores cronistas. Entre seus livros, todos de crônicas anteriormente publicadas em jornais e revistas, estão: Ai de ti Copacabana; Crônicas de guerra na Itália; Duzentas crônicas escolhidas; Recado de primavera; O verão e as mulheres. 5 Vidas Secas Fabiano ia satisfeito. Sim, senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto,com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobriase, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: — Você é um bicho , Fabiano. (…) Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Vocabulário: camarinha:quarto dormir. gretado: rachado, com fendas. esgravatar:limpar, remexer. aió: bolsa usada na caça. binga: isqueiro. Graciliano Ramos nasceu em 1892, no município de Quebrângulo, Alogoas. Em 1910 mudou-se para Palmeira dos Índios, Alagoas, onde chegou a ser prefeito do município. Foi preso sem julgamento como esquerdista e levado para o Rio de Janeiro. Seu primeiro livro foi Caetés. Depois viriam muitos outros, tais como Angústia; São Bernardo; Vidas Secas;Infância e vários publicados após a sua morte. Chegou a ser presidente da Associação Brasileira de Escritores. Morreu em 1953. Em 1954 foi publicado o livro Memórias do Cárceres. Vidas Secas foi filmado e obteve vários prêmios internacionais. Graciliano Ramos é um dos maiores da literatura brasileira. Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [ manifestações de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de [ um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 6 Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo. Será contabilidade tabela cossenos secretário do amante [ exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras [ de agradar às mulheres,etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. ( Manuel Bandeira- Estrela da vida inteira.2ª ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970.) 1) Nesse poema, Manuel Bandeira, ao mesmo tempo que propõe uma nova poética, critica a poesia tradicional, ainda vigente. Identifique as estrofes do texto em que há críticas e as que apresentam propostas. 2) Quanto às críticas: a) O que o poeta critica nas duas primeiras estrofes? b) Que movimento literário apresenta as características criticadas por Bandeira? 3) A síntese do poema encontra-se nas duas últimas estrofes. a) Por que Manuel Bandeira prefere o lirismo dos bêbados, loucos, palhaços ao lirismo tradicional? b) Qual é, enfim, a concepção do autor acerca de lirismo na poesia moderna? Samba do Arnesto Adoniran Barbosa O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás Nós fumos não encontremos ninguém Nós voltermos com uma baita de uma reiva Da outra vez nós num vai mais Nós não semos tatu! No outro dia encontremo com o Arnesto Que pediu desculpas mais nós não aceitemos Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa Mas você devia ter ponhado um recado na porta Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância, Assinado em cruz porque não sei escrever" Adoniram Barbosa nasceu em 1910, em Valinhos, São Paulo e morreu em 1982. Foi tecelão, pintor, encanador, metalúrgico e vendedor. Começou a cantar em programas de calouros nas rádios. Seu verdadeiro nome era João Rubinato, mas passou a usar o pseudônimo em 1935. 7 Rosa de Hiroshima Vinícius de Moraes Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninasCegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada Vinícius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1913 e morreu na mesma cidade em 1980. Foi diplomata, poeta, cronista e autor de letras de música popular. Foi um dos iniciadores do movimento de música popular conhecido como bossa nova e autor de várias composições de sucesso. Algumas de suas obras; Livro de Sonetos; Para viver um grande amor; Para uma menina com uma flor; Orfeu da Conceição. Exercícios Estudos linguísticos 1) Assinale ; (1) para verbo transitivo e (2) para verbo intransitivo a) ( b) ( c) ( d) ( e) ( f) ( g) ( h) ( i) ( j) ( ) O cheiro de tinta contaminou o ar. ) O cantor gosta de entrevistas. ) O Sol despontou. ) As folhas caem no inverno. ) Os professores precisam de melhores salários. ) Ouvimos um forte barulho. ) A criança chorava muito. ) Todos nós necessitamos de amor. ) As empresas obtiveram lucro. ) As bocas silenciaram. 2) Assinale: (1) para verbo transitivo direto ; (2) para verbo transitivo indireto; (3) para verbo transitivo direto e indireto: a) ( ) Poucos viram o cometa. 8 b) ( c) ( d) ( e) ( f) ( g) ( h) ( i) ( j) ( k) ( l) ( m)( ) Não concordo com você. ) Escrevi um bilhete a um amigo. ) Derrubaram a velha casa. ) Ela visa à faculdade. ) O trovão abalou-o. ) As crianças receberam elogios de seus pais. ) Eles me chamaram. ) Os torcedores assistiram ao final do campeonato. ) O patrão pagou o salário ao funcionário. ) Eu acredito em Deus. ) A professora lia um poema. ) Devemos um lindo presente aos alunos. 3) Relacione corretamente os adjuntos adverbiais grifados, quanto a sua classificação; a) afirmação b) dúvida c) intensidade d) lugar e) modo f) negação g) tempo ( ( ( ( ( ( ( ) “Não chores por mim Argentina...” ) “ Acaso você chegasse..” )” É devagar, é devagar, devagarinho...” ) “Nunca diga nunca meu amor...” ) “Você é doida demais...” ) “Certamente eu vou ser mais feliz...” ) “Longe se vai sonhando demais...” 4) Preencha com (CN) para complemento nominal e (CV) para complemento verbal: a) ( b) ( c) ( d) ( e) ( f) ( ) Algumas imobiliárias vendiam casas pré-fabricadas. ) Temos confiança na Justiça. ) Os deputados votaram desfavoravelmente aos professores. ) Ele obedece aos mais velhos. ) Seremos gratos aos mestres. ) Os alunos participaram das atividades. 5) Complete a lacuna com artigo ou preposição ou artigo mais preposição (o,a, à, ao) a) O menino obedeceu ______ pai. b) Ele aspira _______ perfume. c) Ele aspira ______ posto de tenente. d) Ele visa _____ documento. e) Ele visa _____ aprovação no concurso. f) O menino assistiu _______ filme. g) Fomos _____ cinema. h) O médico assiste ______ paciente. 6) Reescreva as orações mudando a posição do advérbio. Preste atenção à pontuação! a) As revistas, na quarta-feira, chegaram. b) No colégio, fiquei lendo meus livros. c) Vamos comprar os presentes da Rosinha no shopping. d) Naquele dia, os acontecimentos foram lembrados. e) Na floresta, os animais vivem felizes. 7)Todas as orações a seguir têm dois complementos verbais. Sublinhe com um traço o objeto direto e com dois, o objeto indireto: a) Lúcia apresentou o professor a seus pais. 9 b) Os médicos davam informações aos pacientes. c) Ofereci-lhe um ótimo emprego. d) O governador enviou uma mensagem ao povo. e) Eu, você e Paulo oferecemos um brinde às garotas. f) Desejamo-lhes toda a sorte do mundo. g) Apresente-nos a bela moça! h) Sua namorada deu um abraço em mim. 8)Sublinhe os complementos verbais das orações e classifique-os em: OD (objeto direto) e OI (objeto indireto): a) ( b) ( c) ( d) ( e) ( f) ( g) ( h) ( ) Os vizinhos apagaram o enorme fogaréu. ) As plantas gostam de sol e chuva. ) Ninguém lhe contou? ) Marcelo preparou um lanche gostoso. ) Todos participaram do Festival de Verão. ) Cumprimente-o. ) Os leões obedeciam ao domador. ) Os artistas farão nova apresentação. Exercícios e Criatividade Leia o texto a seguir e desenvolva as atividades Uma esperança Clarice Lispector Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde : o inseto. Houve o grito abafado de um de meus filhos: - Uma esperança! E na parede bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça, numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser. - Ela quase não tem corpo, queixei-me. - Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças. Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender. - Ela é burrinha, comentou o menino. - Sei disso, respondi um pouco trágica. - Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita. - Sei, é assim mesmo. - Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas. - Sei, continuei mais infeliz ainda. Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não apagasse. - Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar 10 assim. Andava mesmo devagar – estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo. Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança: - É que não se mata aranha, me disseram uma que traz sorte... - Mas ela vai esmigalhar a esperança!, respondeu o menino com ferocidade. - Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros – falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança. O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo. Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde e tem forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la. Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: “ e essa agora? Que devo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais do que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada. ________________________________________________________________________ 1) No texto a palavra esperança apresenta dois significados, quais são? 2) O texto oscila entre dois sentidos da palavra, faz um jogo entre eles, abrindo a cada momento dimensões de entendimento. O que você entende quando se diz: a) Que a esperança pode estar ferida e dela pode escorrer sangue? b) Que a esperança esqueceu que pode voar? c) Que devemos facilitar o caminho da esperança? 3) No texto, surge de trás de um quadro a aranha que persegue a esperança ( inseto) para devorá-lo. Em nosso mundo moderno, na sua opinião, o que representa a aranha que quer matar nossa esperança? 4) A esperança está morta? 11 Produção de Texto Faça uma colagem de fotos ( de revista, jornais, etc.) e/ou textos que representem nossa realidade em seus aspectos negativos e positivos. Referências bibliográficas CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar, Português: Linguagens, vol.1,2,3. São Paulo: Atual, 1999. Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar II. Língua Portuguesa: Caderno de Teoria e Prática . Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. Gabarito Estudos linguísticos 1)a)(1); b) (1); c)(2); d)(2); e)(1); f)(1); g)(2); h)(1); i)(1); j)(2) 2) a) (1); b) (2); c) (3); d) (1); e) (2); f) (1); g) (3); h) (2); i) (2); j) (3); k) (2); l) (1); m) (3). 3) (f); (b); (e); (g); (c); (a); (d) 4) a) (CV); b) (CN); c) (CN); d) (CV); e) (CN); f) (CV) 12 5)a) ao ; b) o ; c) ao ; d) o ; e) à ; f) ao ; g) ao ; h) o . 6) respostas possíveis: a) As revistas chegaram na quarta-feira. Na quarta-feira, chegaram as revistas. b) Fiquei lendo, no colégio, meus livros. Fiquei lendo meus livros no colégio. c) Vamos comprar, no shopping, os presentes da Rosinha. No shopping, vamos comprar os presentes da Rosinha. d) Os acontecimentos, naquele dia, foram lembrados. Os acontecimentos foram lembrados, naquele dia. 7) a) o professor ; a seus pais. b) informação ; aos pacientes. c) lhe ; um ótimo emprego. d) uma mensagem ; ao povo e) um brinde ; às garotas. f) lhes ; toda a sorte do mundo. g) nos ; a bela moça. h) um abraço ; em mim. 8)a) (OD); b) (OI); c) (OI); d) (OD); e) (OI) ; f) (OD); g) (OI); h) (OD). Literatura 1) Nas estrofes 1, 2, 4 e 5 há críticas, e as estrofes 3 (com exceção do 1º verso), 6, 7 apresentam propostas. 2) a) Critica a falta de espontaneidade dos poetas do passado, bem como a sua atitude burocrática e formalista perante a poesia. b) O Parnasianismo. 3)a) Porque seu lirismo é mais autêntico, uma vez que eles não estão presos a valores sociais. b)O lirismo tem de ser, antes de tudo, profundo e verdadeiro. Exercícios e Criatividade 1) inseto (grilo) ; sentimento de confiança, expectativa, fé. 2) A esperança está ferida por causa das ações humanas destrutivas, pelo nosso comportamento agressivo, pelo sangue derramado de nossos irmãos. Ela esqueceu que pode voar porque esquecemos de sonhar com um mundo melhor e facilitar seu caminho na construção de uma sociedade mais justa. 3) injustiça, guerra, miséria, descaso, autoritarismo, corrupção, epidemias, tudo que nos oprime. 4) resposta pessoal. 13