Ficha de Identificação Nome: Carlos Jorge Pessoa Ribeiro Companhia/Grupo/Teatro: Teatro da Garagem http://www.teatrodagaragem.com/ Questões 1. Como define ou caracteriza os objectos artísticos que realiza e que princípios e objectivos considera essenciais na sua realização? Encenações a partir de texto original. Princípios: teatro da palavra situada no contexto originário do logos, isto é, palavra em diálogo em que são suscitadas questões complexas cujo desenlace nunca é peremptório ou teorético. O humor enquanto, oscilação no travejamento da casa, serve de espinha dorsal deste intuito que procura reverberar o sentido do trágico original, ou seja, a do teatro não como resposta aos problemas irresolúveis da existência humana mas como modo de aprender a viver com eles. Objectivos: proporcionar teatro de arte de uma forma igualitária num amplo anseio de fraternidade humana, reparação democrática e aperfeiçoamento crítico. 2. Como caracteriza a linguagem e os procedimentos de encenação/ criação que toma como condições de realização dos seus projectos? A linguagem fundamenta-se no jogo cénico; é postulada na previsão do mesmo e na constatação empírica. A encenação é a materialização da história que se pretende contar sendo que a mesma se articula em camadas, como a cebola de Ibsen, num acumular de leituras, inscrições, vestígios e sinais. Este rasto de uma vivência intensa, que não obsessiva, reitera que não se faz Teatro: é-se parte Teatro e serve-se o Teatro. Deste modo a condição primeira e decisiva para a realização de um projecto é a sua urgência íntima, o modo como as experiências de vida de cada um confluem num objecto que, no fundo, é uma mistura de oráculo de Delfos, de percepção colectiva de um destino comum e universal, com a resolução dos dramas pessoais de cada artista. 3. Integra os seus procedimentos em princípios teórico-práticos de encenação / criação identificáveis? Se sim, descreva esses princípios e referências. Cada estética vai fundando uma técnica que, a bem dizer, deverá ser atomizada no final de cada experiência. Em todo o caso, a haver um qualquer princípio teórico-prático é o da impossibilidade de princípios estáveis. 4. Que formação privilegia no seu percurso como artista? Cinema, filosofia e literatura. 5. Indique até cinco trabalhos realizados que considere fundamentais e definidores dos seus princípios e percurso artísticos. Justifique cada um dos casos. Pequeno Areal Junto à Falésia com Cravos Parece-me… porque não há amor, seja pelo teatro, seja por Portugal, como o primeiro. Café Magnético, quando a experiência pessoal se torna objecto autónomo. Pentateuco quando se cria a percepção da importância de uma estrutura criativa, a Companhia. In(sub)missão pela injunção dos media de um modo artesanal, feito à mão. Snapshots porque é o mais recente. 6. Indique até cinco trabalhos, não realizados por si, que considere fundamentais relativamente ao seu percurso artístico. Justifique cada um dos casos. Andrei Rubliov de Tarkovski, porque me revelou Deus através da arte; toda a obra de Piero della Francesca porque o humanismo adquire um nome subtil, discreto, algures na província onde o eco da urbe a torna orbi; Amarcord porque voglio una donna é a melhor expressão das musas fugidias; os Estilhaços do Mário de Carvalho na encenação do João Brites, porque um hamster, de repente se torna protagonista; Music for a Large Ensemble de Steve Reich porque o rigor pode ser encantatório.