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Ano XXXIII - Nº 233 - Julho/Agosto - 2010
Poraquê:
A revista da Eletrobras Eletronorte
a incrível história do navio-usina
que serviu na II Guerra Mundial
e foi afundado em Cametá
Poraquê, a usina flutuante
Página 3
SUSTENTABILIDADE
O equilíbrio é o negócio da vez
Página 32
CIRCUITO INTERNO
Educação Ambiental
Sobre Rodas
Página 10
CORRENTE ALTERNADA
Investimentos públicos
e privados garantem
a expansão do Setor
Elétrico brasileiro
História
Sumário
HISTÓRIA
Prólogo – Com esta edição, a de
número 233, Corrente Contínua,
esta mídia que já foi boletim, jornal
e depois revista, completa neste
mês de agosto de 2010, 33 anos.
Coincidência ou não o número 33,
vamos trazer à tona até agosto de
2011 assuntos que já foram tema
de nossas reportagens e que
merecem uma redescoberta.
É o nosso presente de aniversário
aos leitores. O navio-usina Poraquê
já foi notícia e é uma dessas
histórias que precisam
ser recontadas: de fornecedor
de energia para as tropas aliadas
na Segunda Guerra Mundial à Baía
de Guajará, em Belém, conheça a
vida do navio que acabou afundado
em Cametá, também no Pará,
nesta reportagem de
Byron de Quevedo.
AMAZÔNIA E NÓS
Página 38
Página 19
TRANSMISSÃO
Em Mato Grosso, uma nova
realidade no setor energético
Página 28
correntecontínua
SCN - Quadra 6 - Conjunto A
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CORREIO CONTÍNUO
Página 42
FOTOLEGENDA
Página 43
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Poraquê, a
usina flutuante
Byron de Quevedo
O Setor Elétrico brasileiro concentra esforços
e recursos em pesquisas e tecnologias para
atender às demandas de energia, mas ainda
existem áreas de exclusão elétrica, em decorrência do difícil acesso encontrado em determinadas regiões da Amazônia, por exemplo.
Técnicos têm estudado soluções como o uso
de fontes alternativas ou programas governamentais como o Luz para Todos e sempre surge
a ideia de uma solução de baixo impacto ambiental, um tipo de usina móvel que possa entregar a energia mesmo em lugares longínquos.
O curioso é que, para resolver essas peculiares
condições, já se usou as chamadas usinas embarcadas. Uma delas veio a ser conhecida pelo
nome de Usina Flutuante Poraquê, desativada
há vinte anos. Agora, técnicos questionam se
essa solução ainda seria viável; evidentemente com o uso de tecnologia moderna, como
aconteceu com uma usina do mesmo tipo, a
Electron, ainda em funcionamento em Manaus
(AM). A despeito de só haver alguns vestígios de
sua existência, a fantástica história da fábrica
de eletricidade e seu grupo de operários ressurge do passado para clarear o nosso presente.
Entre fotos e objetos de um tempo romântico,
reencontramos os caminhos iluminados das cidades por onde passou e iluminou.
Os melhores relatos são do engenheiro eletricista, Walker Cisler, que, em 1990, como presidente honorário da Assembleia Executiva do
Conselho Mundial de Energia, proferiu palestra
no Rio de Janeiro sobre o assunto. Cisler era
diretor da Brascan/Canadá, mas, em setembro
de 1941, as vésperas da entrada dos Estados
Unidos da América na II Grande Guerra Mundial, foi requisitado pelo governo americano
para coordenar os serviços de suprimento de
eletricidade, em função do conflito já iniciado
na Europa. A sua primeira iniciativa foi mandar
uma firma de New York projetar quatro usinas
termelétricas flutuantes, com pouco calado e
aptas a atracar em portos marítimos e fluviais.
4 correntecontínua
As primeiras construções ganharam os nomes de Seapower (a nossa futura Poraquê),
Inpedance, Inductance e Resistance. Surgiu
assim o formato de chatas sem propulsão própria, mas com proa e popa para poder enfrentar o alto mar. As usinas foram construídas pela
Bethlehem Steel Co., de Pittisburg, na Pensylvânia. Embora todas fossem padronizadas para
a redução dos custos, a Seapower era a mais
versátil. No entanto, as quatro embarcações
foram utilizadas no Manhattan Project, de isótopos da incipiente bomba atômica, serviço que
foi interrompido para que elas fossem usadas
na guerra já em curso. Alguns historiadores
atestam que elas prestaram contribuição às tropas aliadas durante os combates. Walker Cisler
se orgulhava tanto da sua criação que se referia
às usinas flutuantes como “minhas filhas a gerar energia pelo mundo”.
O banho inaugural da Seapower aconteceu
no porto do Atlântico Charleston, Carolina do
Sul, no Rio Ohio, um afluente do Mississipi, em
1943. De lá, puxada por rebocadores, ela navegou em direção à Europa. Um dos mistérios
dessa história é como o comboio dela e de sua
irmã, a Resistance, conseguiu se safar dos ataques das flotilhas de submarinos alemães até
o seu destino no outro lado do Atlântico. A Seapower chegou ao estuário do Rio Tamisa, no
dia de Natal de 1944. O seu ponto de chegada
seria em Alexandria, no Egito; e depois seguiria
para Sebastopol, na Rússia, mas, de fato, ela
nunca saiu da Europa.
Já a Resistance foi logo utilizada no canal
Tornosiano e em Langerbrugue, perto de Ghent,
na Bélgica, suprindo 15% da energia para a fabricação das pontes sobre o Rio Reno. Durante
a guerra, o general MacArthur requisitou ambas
para atuar nos conflitos contra o Japão, no Oceano Pacífico. Mas com as explosões das bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e
Nagasaki, nos dias 06 e 09 de agosto de 1945,
a guerra logo acabou. E, antes mesmo que o
Japão se rendesse, a missão foi cancelada. De
volta para os Estados Unidos a Seapower acabou indo prestar serviços na pouco iluminada
Porto Rico e de lá veio para o Brasil.
Diários de bordo - A usina flutuante tinha lá
seus diários. Neles, os homens que dela cuidaram deixaram as pegadas de muitos caminhos
e muitas histórias. Neles consta que, em 1950,
aportou no Rio de Janeiro e foi ligada ao sistema
da Companhia Carris Luz e Força Ltda. Ela fora
adquirida pela Brazilian Hydroeletric Company,
empresa do grupo Ligth, para complementar o
fornecimento de eletricidade da então capital
da República, passando a chamar-se Piraquê.
A Seapower, ou Piraquê, sob a supervisão
da Marinha brasileira, iniciou o seu funcionamento no Rio de Janeiro quando a cidade vivia
Deste convés avistaram-se
paisagens de vários países
uma calamidade pública em matéria de fornecimento de energia. A Marinha teve que intervir
e designou para administrar a situação um militar muito enérgico, o almirante Magaldi, com a
missão de direcionar a energia das subestações
para os bairros que julgasse estrategicamente
mais importantes, a cada momento, o que implicava em cortar a luz de outros locais.
Esses despachos de cargas ora para cá, ora
pra lá, provocou a ira de muita gente e o abnegado oficial da Marinha passou a ser odiado
em vários bairros, já que Copacabana, o ponto
de encontro de intelectuais, poetas, músicos,
turistas e o local dos grandes hotéis, raramente
era posta às escuras. O Almirante então requisitou a usina Piraquê para ajudá-lo a resolver
os problemas de energia. A nova usina ganhou
notoriedade e ajudou o ‘abominável homem
das trevas’, como era chamado, a recuperar a
sua imagem, já que ele agora poderia distribuir
melhor a luz. Mas a história ficou famosa, virou
folclore carioca, e se espalhou pelo Rio de Janeiro: ninguém deveria aborrecer Magaldi, senão ele cortava a energia do local onde aquele
que o aborreceu morava.
A Piraquê operou também em Niterói, em
1954. Nos diários de bordo daquela época
aparece o nome de um certo M. Albuquerque.
Pode-se notar pelos seus relatos que as condições de trabalho do navio eram desgastantes e
sofridas. A sua menção aqui é de uma “homenagem a todos os operadores da Usina a quem
devemos muito pelo nosso progresso futuro por
eles iniciado num passado tão precário”. Em
algumas páginas já amareladas pelo tempo, M.
Albuquerque deixou impressos, e nítidos, os
dedos de sua mão (foto acima). A tinta que fez
impregnar ali as suas digitais veio da fuligem
negra do trabalho duro junto às caldeiras e aos
geradores.
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Após salvar o Rio e Niterói dos constantes racionamentos, a Piraquê chegou a Porto Alegre
(RS) em março de 1968, adquirida pela Companhia Estadual de Energia Elétrica - CEEE,
numa época em que a empresa atravessava
sérios problemas na geração de eletricidade,
devido a uma forte estiagem no estado, comprometendo o abastecimento tanto na capital,
quanto na região nordeste gaúcha. A Usina
desempenhou um papel importante no suprimento elétrico da Região Sul também. Ficou
atracada na margem esquerda do Rio Gravataí,
de frente à Nova Usina Termelétrica de Porto
Alegre – Nutepa (foto acima), aproveitando o
sistema de transmissão ali instalado.
Em 1975, a CEEE vendeu a Piraquê à Companhia de Eletricidade de Manaus – CEM (foto
acima na página ao lado), e foi necessário rebocá-la até Manaus. A operação de busca da Usina teve como comandante o Iranildo, um operador de usinas térmicas do Amazonas, que foi a
Porto Alegre e veio subindo o Oceano Atlântico e
depois o Rio Amazonas acima. E, quando chegou, ela logo foi rebatizada de Poraquê.
Por que Poraquê? - Porque Poraquê é um
peixe incrível. Seu nome técnico é ‘electrophorus electricus’ (peixe gymnotiforme). Ele
é dotado de órgãos elétricos e originário das
margens dos rios e lagos da Amazônia brasileira, venezuelana e as das Guianas. O Poraquê se adaptou para enfrentar as mudanças
do ambiente: seu sistema de eletrorreceptores
afasta os predadores: piranhas, traíras e outros,
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abundantes na região; e facilita a captura de
presas para a sua alimentação. As suas descargas elétricas chegam a até 600 volts.
A Poraquê foi adquirida pela Eletronorte em
1978. Manaus recebeu o reforço de outra usina
flutuante, a Electron, melhorando significativamente o abastecimento de energia na cidade.
Mas era Belém que tinha problemas ainda mais
sérios. O Governo Federal determinou à Eletronorte assumir precocemente, antes da entrada
em operação de Tucuruí, o parque gerador da
cidade. Belém contava com as antigas usinas
termelétricas Miramar e Tapanã, a diesel, e as
de menor porte, a gás, Isabel e Tapanã II. A
Empresa iniciou a modernização das máquinas, enquanto se esforçava, ao lado da Chesf,
para colocar em operação a linha de transmissão que vinha de Boa Esperança, no Nordeste,
para tirar Belém da situação de racionamentos
diários. Foi aí que surgiu a ideia de se trazer
a Poraquê, que operava instantaneamente em
lugares próximos a rios ou ao mar. Peças dispersas - Quando o navio-usina se
posicionou próximo à Subestação Guamá, em
Belém, apareceram os primeiros problemas:
encontrar peças e partes fora de linha de fabricação para a manutenção. Para ligar a Usina
Poraquê à Subestação Miramar era necessário, inclusive, cabos especiais igualmente raros. Oswaldo Rogers Santullo, hoje assessor da
Diretoria de Gestão Corporativa, e na ocasião
encarregado de reestruturar o setor de aquisições da Empresa, comenta que a área só fazia
compras programadas e os processos de aquisição eram muito lentos.
Conseguir os cabos com urgência foi a primeira grande missão da nova área de compras.
“Mas veio a requisição e fizemos a coleta de
preços. Mas se fôssemos esperar a conclusão
do processo, o racionamento duraria ainda mais
seis meses. Quem nos salvou foi o diretor da
Companhia Energética de Brasília - CEB, na
ocasião, José Maria Freire. Comentei com ele
a situação que a Regional de Belém estava vivendo e ele me disse que tinha uns 300 metros
desse cabo. Foi uma alegria! A Eletronorte e a
CEB firmaram um acordo de
cavalheiros: ela nos cedia os
cabos e quando terminássemos a aquisição nós os devolveríamos. Uma semana depois
a Usina estava funcionando”,
relembra Santullo (ao lado).
Segundo ele, outras peças
vieram dos chamados ‘cateiros de navios’, de Campo
Grande (MS) e São Paulo (SP),
que compravam as sobras de
guerra e de velhas subestações no Paraguai,
Uruguai, Bolívia e Peru. Mais tarde, com a
desativação da Usina, vieram para Brasília algumas peças de bordo, depois que o casco
foi afundado em frente ao porto de Cametá
(ver box), e durante alguns anos foram mantidas em exposição na Sede da Empresa, em
Brasília. Estas depois foram distribuídas para
outras empresas de energia e para a Memória
da Eletricidade, sobrando nos arquivos da Eletrobras Eletronorte apenas os diários de bordo,
manuais e o livro de códigos.
Princesinha do Guajará - Outra testemunha
viva daquela época é o Crisógno Ferreira Frazão
Filho (ao lado), na ocasião, chefe da Usina, em
Belém. Ele conta que o problema maior
era fazer a manutenção dos equipamentos: “Lembro-me que o recorde
da Poraquê em funcionamento foi oito
dias ininterruptos, pois as caldeiras de
alumínio furavam com frequência. O
navio tinha sinalização náutica, várias
metralhadoras, barcos salva-vidas,
boias, baleeiras, uma turbina, um gerador e um conversor de frequência. A
orientação era que nós mantivéssemos
as caldeiras quentes para, no horário
de ponta, colocá-la em operação. Éramos dois
operadores de caldeiras, um de gerador, um do
quadro elétrico e outros dois na sala de bombas.
Como a região é muito quente, trabalhávamos
só de botas e bermudas, pois a usina era fechada e sem ventilação, mais preparada para
o clima frio. Havia momentos em que o calor
era tanto que tomávamos banho de botas e bermudas para voltar a trabalhar. Em Belém ela
adquiriu muitos admiradores e os operadores
também gostavam dela. Então arranjaram um
apelido carinhoso: ‘Princesinha do Guajará’”.
Frazão se recorda que a grande preocupação
era com os tanques de combustível, de água e
de óleo. Tudo tinha que estar sob controle para
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a usina não desaprumar. “Se abastecêssemos
mais de um lado que do outro, o navio poderia
afundar. Tínhamos um operador responsável
exclusivamente para vigiar os tanques, controlar o nível da usina e o consumo. Às vezes,
tínhamos que mudar o óleo de um tanque para
o outro rapidamente. A Princesinha era feita de
chapas de aço muito grossas e as revisões subaquáticas eram realizadas por mergulhadores.
Quando em funcionamento, era necessário isolar a entrada de água, senão tudo se alagaria.
Não havia comportas como nas usinas hidrelétricas. Descíamos uma chapa por meio de um
guindaste para o mergulhador aparafusá-la na
tomada d’água. Éramos, ao mesmo tempo, técnicos de manutenção, operação e segurança
do navio”, conta.
De acordo com essa testemunha ocular da
história, a Poraquê tinha um triturador de lixo.
As sobras eram tratadas antes de serem jogadas no rio. Já naquele tempo havia essa preocupação. Eles conheciam os equipamentos por
fora e por dentro e entravam na caldeira para
verificar vazamentos na tubulação. Hoje as caldeiras são lacradas. Também era penosa a manutenção do trocador de calor, um cilindro no
qual entravam deitados num carrinho de rolimã.
“Éramos recém-formados na Escola Técnica e
tudo para nós era novo. A Usina foi um grande
aprendizado para nós e para a Eletronorte. Prova disto é que muitos operadores da Poraquê
ainda estão exercendo suas funções em outros
empreendimentos da Empresa, como Tucuruí e
Curuá-Una. Quando o casco dela foi fundeado
em frente a Cametá, eu já estava exercitando os
conhecimentos nela adquiridos em outras frentes de trabalho. Mas ela ainda ficou muito tempo parada, ancorada ali... Passou, mas foram
bons tempos. Sinto saudades daquela época”,
rememora Crisógno Frazão.
A desativação - No final dos anos 1970 a
velha usina mostrava sinais de cansaço e, sem
nenhum projeto de conservação ou revitalização, entrou em decadência até que o Decreto
8.286/91 e a Lei nº 8.286, de 20 de dezembro
de 1991, assinado pelo presidente Fernando
Collor, autorizou a Eletronorte a doar ao Município de Cametá o que sobrara da antiga fábrica de luz. A finalidade da doação do casco foi
conter a erosão provocada pelo Rio Tocantins
no porto da cidade. Mas a doação não incluía
os itens de geração. Foram, então, retiradas as
peças de importância histórica, como o leme,
sino, aparelhos, adornos etc.
Quando soube do destino que aguardava sua
filha Seapower, Walker Cisler veio ao Brasil para
levá-la de volta aos Estados Unidos. Porém, já
a encontrou desmontada e a operação de retorno ficou inviável. Aquela a quem denominamos
um dia de peixe elétrico jaz em Cametá, após
37 anos de serviços prestados. Quanto às suas
irmãs, vão bem e ainda muito conservadas.
Uma está na Ilha do Mindanao, nas Filipinas.
A outra está sob os cuidados da marinha norteamericana, na Ilha de Guam, no Pacífico. E a
desgarrada Resistance teve destino incerto. Ela
foi vista no Haiti, depois em Santo Domingo: virou uma cigana benemérita. Só se sabe que os
homens ainda a levam a lugares cada vez mais
distantes para dar a luz. Mas dizem que está
linda: totalmente rejuvenescida.
(Agradecimentos a Leila Lobo de Mendonça,
historiadora e pesquisadora da Memória da
Eletricidade, que nos forneceu fotos
e documentação histórica).
Todas as medidas
do Poraquê e Cametá
O navio-usina Poraquê tinha 109,10 metros de comprimento
por 15,24 metros de largura e deslocamento de 5.500 toneladas.
Era preparado para viagens longas: tinha cozinha, frigorífico, camarotes para 28 pessoas e armas de grosso calibre para defesa.
O convés era equipado com a usina, cabine de comando, leme,
dois cabrestantes na proa e dois na popa, acionados por motores elétricos independentes. Era equipada com um conversor de
frequência permitindo que ela operasse tanto em 50Hz, quanto
em 60Hz, o que facilitava operar em qualquer porto.
A unidade geradora era formada por um turbogerador com
potência de 25 MW a 50 Hz ou 30 MW a 60 Hz, acionado por
uma turbina a vapor, produzido por duas caldeiras movidas a
óleo combustível. O navio continha ainda duas caldeiras tipo
marítimo, que forneciam 154 toneladas de vapor por hora, a
uma temperatura de 488º; tanques para óleo combustível com
capacidade para 1.500 toneladas; e outro para armazenar até
300 toneladas de água.
A turbina a vapor convertia a energia térmica em energia
mecânica, transmitida para o eixo do gerador elétrico. Era uma
unidade de fluxo simples, tipo axial, de 19 estágios, que expandia o vapor da pressão monométrica na entrada da turbina
até dois condensadores refrigerados a água.
Outras partes importantes da usina eram o transformador a
vapor, que propiciava a entrega da energia elétrica por meio de
um transformador elevador trifásico, mergulhado em óleo com
circulação forçada e resfriado a água; e o bay de saída, que era
o ponto de entrega para a rede.
E Cametá, como está? - Cametá ainda está a ver navios
a afundar. De acordo com o historiador Haroldo Barros, cin-
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correntecontínua
A reconstrução da orla
de Cametá já iniciou.
Ao fundo, um dos
navios afundados
co embarcações já foram sepultadas em frente à cidade
para conter a erosão provocada pela maré do Rio Tocantins, que pode destruir parte do patrimônio histórico
da cidade, fundada no século XVII, em especial suas
igrejas: o Perseverança, em 1940; o Taubaté, em 1980;
o Leandeteau, em 1990; e na sequência a legendária
Poraquê, em 1991 e, por último, o Roraima, em 2001.
A intenção dos naufrágios é sempre a mesma: criar uma
barreira e assim levantar o canal a um nível superior e
mais distante da orla.
Depois de rodar o mundo, a Poraquê foi parar no fundo
do Rio Tocantins, que no local já teve 20 metros de profundidade e, na última medição, feita em 2001, estava com
16 metros. A erosão continua sendo o pesadelo da cidade,
conhecida como a ‘Pérola do Tocantins’, pois a costa é rica
na produção de ostras com formação de pérolas. Cametá
tem 120 mil habitantes e 374 anos de existência. A cada
ano o processo se agrava, aumentando os riscos de desmoronamento do cais de arrimo e das rampas dos portos,
os quais são as principais formas de acesso da população
ao rio, e de carga e descarga de mercadorias no município.
Entre as medidas para resolver a situação está o convênio
firmado entre a Eletrobras Eletronorte e o Governo do Estado
do Pará, que possibilitará a reconstrução do cais de arrimo
nos trechos em frente à Igreja de Nossa Senhora de Nazaré e
à Igreja de São João Batista. O investimento total na reconstrução da orla de Cametá será de R$ 2,8 milhões, sendo 50%
de responsabilidade da Empresa e 50% do governo estadual.
As obras tiveram início em julho de 2010 e devem terminar
até o final do ano.
correntecontínua 9
Circuito Interno
seja, por meio do entretenimento, atividades
lúdico-pedagógicas, acesso livre à literatura
e novas ferramentas de aprendizagem, como
a informática. “A programação educativa do
ônibus-biblioteca, com foco na educação socioambiental, contribui para que o público
infantil assimile melhor
as mensagens passadas,
principalmente aquelas
das comunidades mais
carentes”, afirma.
Dez mil alunos da região de Tucuruí já participaram
da programação educativa do ônibus-biblioteca
A questão ambiental está em alta por uma
razão simples: necessidade de sobrevivência.
Quanto mais cedo o tema for abordado com as
crianças, maiores as chances de despertar a
consciência pela preservação. Por isso, a educação para uma vida sustentável deve começar
já na pré-escola.
O papel da educação ambiental é colocar e
recolocar as pessoas em contato com o mundo
para que se tenham condições de reler e recriar
a vida sob uma nova ótica: a sustentabilidade
(ver matéria na página 32). Sob esta premissa é
que a Eletrobras Eletronorte, por meio da Superintendência de Produção Hidráulica, difunde
a educação ambiental aos alunos e educadores
dos sete municípios a montante do lago da Usina Hidrelétrica Tucuruí.
A equipe do Programa de Educação Ambiental daquela Superintendência teve a ideia
de desenvolver um programa voltado para a
conscientização sobre as questões ambien10 correntecontínua
tais, por meio de palestras temáticas, teatro
de fantoches, baú da leitura e jogos virtuais
educativos.
Desde a sua inauguração, em 28 de março
de 2009, o ônibus-biblioteca, integrante do projeto ‘Educação Ambiental sobre Rodas’ da Eletrobras Eletronorte, chama a atenção por onde
passa. Nesse primeiro ano de atividades, a iniciativa já atendeu a dez
mil alunos de escolas dos
municípios de Tucuruí,
Breu Branco, Goianésia
do Pará e Jacundá.
Para Trícia Amoras (ao
lado), coordenadora do
Programa, o interesse se
dá por conta da vontade da equipe em propor
aos educadores uma
nova forma de tratar de
educação ambiental, ou
Educadores - A supervisora Cristiane Miranda (ao lado), do colégio
municipal infantil Elza
Borges Soares, no bairro
Jardim Mariluce, aprova
a iniciativa: “Conhecemos o projeto da Eletrobras Eletronorte e nos surpreendemos com a
dinâmica oferecida às crianças. Ele caiu como
uma luva com o nosso propósito de estimular a
leitura e a conscientização ambiental entre as
nossas crianças”. Somente nesse colégio mais
de 270 crianças conheceram o ônibus-biblioteca e participaram das atividades educativas.
Para a educadora Vanusa Oliveira, do colégio
João Batista Oliveira, localizado em um dos bairros mais carentes do município de Breu Branco,
a ação da Empresa funciona como incentivador
multicultural e é um verdadeiro ‘portal’ para o
conhecimento. “Esse tipo de atividade é muito
importante para o desenvolvimento e a formação das crianças. Esse projeto é uma ótima iniciativa”, afirmou.
Em Goianésia do Pará o projeto já frutificou.
Todas as escolas da cidade são atendidas pelo
programa de educação ambiental do município,
que segue o modelo executado pela Eletrobras
Eletronorte. “Nossa proposta é incentivar a
cultura da sustentabilidade e formar cidadãos
conscientes de seu papel no meio em que vivemos. Exemplos dos frutos
brotados dessa parceria são
a diminuição dos índices de
desmatamento na região e o
aumento das áreas verdes no
núcleo de Goianésia”, avalia a
secretária municipal de Educação, Ronise Noia.
Para Carmem Rocha (ao
lado), gerente da Divisão de
Ações Ambientais de Geração,
o surgimento de projetos que
tenham como foco a diminuição das desigualdades sociais
por meio do ensino, da leitura e da educação
básica é fundamental para a conscientização
sobre um dos temas mais em voga: a preservação ambiental. “Nesse contexto, buscamos
sempre estreitar o relacionamento com a sociedade local. Parece pouco para muita gente,
mas para essas crianças e profissionais que recebem o projeto significa muito, na medida em
que adquirem mais conhecimentos”, afirma.
A cultura está nas ruas
correntecontínua 11
Atração - “Lá, a diversão é garantida. Você
encontra livros, materiais didáticos, joguinhos,
massinhas de modelar, pintura e muitas outras
atividades”, conta a pequena Emily aos colegas. É sempre assim, por onde passa o ônibusbiblioteca é uma atração para alunos, professores e populares.
Um exemplo dessa popularidade foram
os cerca de 850 alunos atendidos em Tucuruí, nas escolas Padre Pedro Hermans, no
bairro da Jaqueira, Gumercindo Gomes, no
Getat, e Maria Odete Carneiro Soares, no São
Francisco. “É impressionante como a receptividade de educadores e alunos tem sido
positiva. Muito se deve aos equipamentos e
Atividades
lúdicas e
a leitura
transportam
os alunos
para um
novo mundo
12 correntecontínua
às brincadeiras, já que para muitas crianças
é a oportunidade de terem o primeiro contato com a educação ambiental”, explica a
instrutora Blandina Seixas.
No colégio Gumercindo Gomes, a ação foi
aberta a toda a comunidade do bairro mais
populoso de Tucuruí. A equipe da Eletrobras
Eletronorte deixou o acesso livre à biblioteca
e aos computadores, o que deixou os estudantes muito contentes, como o pequeno
Eduardo, 8 anos. “É primeira vez que vejo
o ônibus-biblioteca. Achei tudo muito bom”,
comentou.
Quando o ônibus estacionou pela primeira
vez em frente ao colégio Maria Odete, houve
alvoroço na vizinhança. Alunos e educadores
ficaram encantados com as atividades e a estrutura do veículo. “Essas atividades são muito
boas e as crianças adoraram”, avaliou a supervisora do colégio, Deuzirene Silva.
A alegria
é mais um
elemento
contagiante
da equipe
Outro exemplo foi o atendimento aos 1.100
alunos do colégio municipal Nair Braz Lima, no
município de Nova Ipixuna. Ali, a reação de alunos e educadores também foi de espanto e alegria. Afinal, para muitos desses brasileirinhos,
é quando acontece o primeiro contato com o
mundo da informática.
A pequena Thalita, aluna do turno intermediário, foi em casa e voltou para a escola para
matar a curiosidade e participar das atividades.
“A gente precisa estudar para aprender a cuidar do meio ambiente. O que mais me chamou
a atenção foram as brincadeiras no computador”, disse entusiasmada a aluna da quarta série do ensino fundamental.
Os alunos Sadoc e Vanessa também fizeram
questão de participar das atividades. “Estou
muito curioso para saber como é”, disseram os
alunos que cursam a segunda série do fundamental. Entre exercícios de pintura e leitura, o
olhar atento e de aprovação das coordenadoras
pedagógicas do colégio.
A diretora, Maria Diene Santos, disse que
a iniciativa da Eletrobras Eletronorte é muito
importante para sensibilizar os alunos sobre
a importância da preservação da natureza
por meio da leitura. “Agora que conhecemos esse trabalho, faremos questão de solicitar o atendimento do ônibus sempre que
preciso”.
Nova Ipixuna é um dos sete municípios que
foram impactados com a formação do lago de
Tucuruí. Estritamente agrícola, o município ainda caminha para uma formação econômica e,
nesse contexto, a educação ambiental tem sido
bem difundida.
O ônibus
também
propicia o
primeiro
contato com
o computador
correntecontínua 13
Foto: Lindacy Oliveira
Desde a implantação do Programa, a equipe
tem recebido inúmeras manifestações de apoio,
expressando a gratidão de educadores e autoridades dos municípios atendidos pelo ônibusbiblioteca. “São cartas singelas, mas que expressam a importância da nossa ação para as
pessoas e o futuro da região”, descreve Trícia.
E acrescenta: “Com esse processo de interação
direta com as comunidades, queremos construir
uma sociedade sustentável e ambientalmente
correta. Para tanto, a formação de sujeitos capazes de compreender o mundo e agir nele de
forma crítica e consciente é o primeiro”.
Entrar
Na escola Severo Alves, em Breu Branco,
no ônibusbiblioteca é a equipe do Programa participou da progracerteza de mação alusiva à Semana do Meio Ambiente.
aprendizado
A ação reuniu alunos de oito escolas daquele
e diversão
município, que puderam aprender um pouco
mais sobre preservação ambiental, como a
reutilização de resíduos e a sua correta destinação.
Watison Gonçalves dos Santos, coordenador
de ensino de ciências da Secretaria Municipal
de Educação, disse que a parceria com a Eletrobras Eletronorte tem sido de grande ajuda na
capacitação dos educadores. Os frutos dessa
parceria já estão sendo colhidos. Exemplo seguido pela estudante Michele Monteiro da Silva, 14 anos, aluna da sétima série da escola.
Educação ambiental para ela é para ser levada
(Colaborou Denis Aragão, da Regional
de Produção Hidráulica -Tucuruí)
a sério. A estudante põe em prática tudo o que
aprende. “Em todos os lugares por onde ando
exercito o que aprendo nas aulas. Não jogo lixo
nos mananciais e procuro sensibilizar outras
pessoas a praticarem atos responsáveis com o
meio ambiente”.
Iviny da Silva, 14 anos, também aluna do
Severo Alves, não joga lixo no chão para não
sujar a cidade e prejudicar o meio ambiente.
“Sei que é um pequeno gesto, mas que faz
uma grande diferença”.
Já Aline Simão, professora da escola Origem
do Saber, diz que tenta passar para seus alunos os princípios da sensibilização ambiental.
Princípios básicos como não jogar lixo no chão
e fazer a coleta seletiva são ensinamentos que
são repassados aos alunos pelos educadores
do colégio. “Aprendemos a fazer a nossa parte
e a Eletrobras Eletronorte tem sido fundamental”, avalia a educadora.
Exemplo - A iniciativa da Eletrobras Eletronorte tem proporcionado às comunidades do
entorno do lago de Tucuruí, tanto o acesso ao
conhecimento, quanto ações efetivas de proteção do meio ambiente. Tanto empenho e dedicação renderam aos idealizadores do projeto o
primeiro lugar na categoria B do 10º Seminário
Interno de Casos de Melhoria em 2009.
14 correntecontínua
O projeto ‘Educação Ambiental sobre Rodas’ foi criado a partir de uma proposta do superintendente de Geração Hidráulica, Antonio
Augusto Bechara Pardauil, na tentativa de se
evitar o descarte dos ônibus de transporte de
empregados, substituídos na época. A ideia foi
aproveitar os espaços internos e externos do
ônibus para transformá-lo em uma biblioteca
ambulante voltada para a difusão da educação
ambiental junto aos sete municípios a montante da Hidrelétrica Tucuruí. Assim, o ônibus
foi inteiramente adaptado para receber a visita
dos estudantes, com a adaptação feita pelas
equipes de manutenção da Empresa, também
responsáveis pela climatização do ambiente,
instalação da rede elétrica e do sistema audiovisual.
Todos os livros que compõem o acervo do
ônibus-biblioteca foram e continuam sendo doados pelos colaboradores da Eletrobras Eletronorte, bem como por editoras que participaram
da campanha organizada durante o Salão do
Livro da Região do Lago de Tucuruí (ver box).
“Com esse processo de interação direta com as comunidades, queremos
construir uma sociedade sustentável e ambientalmente correta”
correntecontínua 15
III Salão do Livro da Região do Lago
de Tucuruí recebe 200 mil visitantes
A cultura literária está vivendo uma nova fase. As tradicionais livrarias estão perdendo força diante da facilidade de
acesso a variados tipos de obras, dos mais vendidos aos menos populares, que a internet tem proporcionado. A necessidade de renovação é notória, mas como manter a natureza da
literatura frente à cultura virtual já enraizada? Os salões e feiras
do livro podem ser uma alternativa criativa, eficiente e democrática para estimular o hábito da leitura.
O município de Tucuruí já vive essa realidade desde 2008,
quando a organização da Feira Pan-amazônica do Livro resolveu expandir o evento para o interior do Estado do Pará,
na intenção de aproximar a população de localidades mais
distantes do cenário literário.
O III Salão do Livro da Região do Lago de Tucuruí movimentou cerca de 200 mil visitantes, somando os dez dias de evento, com uma estrutura de 27 expositores e espaços exclusivos
para uma vasta programação cultural.
Em 2010, o Salão teve como patrono o escritor paraense
Dalcídio Jurandir, homenageado com a exposição que mostrou uma parte de suas obras e a vida do poeta, intitulada
‘Dalcídio Jurandir: um homem no país das águas’.
Público prestigiou o evento, que, em dez dias, reuniu 27 expositores
16 correntecontínua
Como nas edições anteriores, o Salão deste ano possibilitou a interação entre os leitores e grandes nomes da
literatura nacional e regional. Destaque para a presença
do educador e psicopedagogo Celso Antunes, que debateu com o público sobre as diversas formas de aprendizagem, por meio das novas tecnologias de informação
e sobre o papel do professor perante estas mudanças.
Inédito em Tucuruí, o estande dos escritores paraenses,
que já faz parte da programação da Feira Pan-amazônica
do Livro, reuniu autores do Pará, como Dilmar Batista, Eduardo Santos, Rufino Almeida, Luis Alho, Alfredo Garcia e
Luiz Peixoto (o Jabutigão), dando oportunidade ao público
de interagir com os escritores da terra.
Também estiveram presentes os escritores tucuruienses
Almir Machado e Balthazar Tavares. O último lançando
seu livro ‘Um poeta por acaso’, produzido com recursos do
próprio Salão, uma iniciativa da Eletrobras Eletronorte em
parceria com o Governo do Estado.
‘Scatapleft’ - A literatura foi a personagem principal,
mas a programação cultural do evento também chamou
a atenção. Espetáculos de dança, teatro e música, divertiram e emocionaram o público. Tudo isso faz parte
de um grande projeto de acesso a leitura, como explica
Juliana Santana, coordenadora do Salão do Livro, pela
Secult. “O Salão do Livro deve ser visto como um projeto, com um objetivo muito maior e mais elaborado.
Quando trabalhamos com cultura e educação, temos
que nos preocupar com a qualidade e a excelência de
cada programação. Fazemos isso sempre, tendo como
base a literatura, mas usando todas as formas de expressão artística”.
Entre os espetáculos que atraíram maior plateia, destaque para a Companhia dos Notáveis Clowns (foto ao lado),
apresentando ‘Um Novo Circo’. A Cia é composta pelos palhaços Toli Tola Tanto Faz (João Guilherme), Pig Pow Scatapleft (Charles Wesley), Chorona das Lágrimas em Prantos
(Suely Brito) e pelo Mestre de Pista (Nilton César). A participação de grupos de cidades vizinhas, como Breu Branco, Novo Repartimento e Goianésia, também enriqueceu a
programação.
Além das manifestações artísticas e literárias, o Salão contou com um espaço dedicado à Mostra do Cinema Paraense.
Clássicos como ‘A onda, festa na Pororoca’, ‘O menino urubu’
e ‘Meu tempo menino’ foram apresentados ao público em
sessões gratuitas.
A imaginação dos pequenos também foi aguçada com
clássicos da literatura infantil por meio da ‘contação de histórias’ (foto acima). Mas os jovens não foram esquecidos, a
‘Arena do Fala Sério’ foi um espaço dedicado a palestras sobre primeiro emprego e violência nas escolas.
Continua
correntecontínua 17
Corrente Alternada
Seguindo a linha de comprometimento da Empresa com
a sustentabilidade, a terceira edição do Salão do Livro trouxe
oficinas e atividades com foco na conscientização para com
o meio ambiente e no conceito ‘reduzir, reciclar e reutilizar’.
Como exemplo, a Oficina de Reciclagem (acima), realizada
com o material coletado pelo Programa de Gerenciamento de
Resíduos, contribuindo com novas alternativas para a geração
de renda da comunidade.
Outro bom exemplo foi o estande da Eletrobras Eletronorte
(foto abaixo), que apresentou uma parte de cada um dos programas de preservação ambiental desenvolvidos em Tucuruí.
Durante todo o evento houve uma preocupação em expandir
o trabalho da Empresa para além do seu espaço físico, como
a doação de mais de mil mudas e sementes do Programa
Germoplasma Florestal e cerca de 200 livros que serão repassados às escolas atendidas pelos programas de educação
ambiental, ônibus-biblioteca e barco-biblioteca.
18 correntecontínua
Literatura, cultura e educação estarão sempre no foco
principal da organização do evento, mas a contribuição
para a economia da região é algo que merece ser destacado. Durante todos os dez dias de evento, uma arena
de shows foi montada na Praça de Alimentação, atraindo um grande público. Na programação, estiveram artistas locais e músicos da capital e de fora do estado.
O superintendente de Produção Hidráulica, Antônio Augusto Pandovil, (na foto acima à direita) ressaltou o compromisso da Empresa com o desenvolvimento da região por
meio da realização do salão. “Nossa pretensão é incluir as
pessoas excluídas socialmente, porque entendemos que
somente através da educação isso é possível. Manter o
Salão todos os anos é contribuir para o desenvolvimento
e o fortalecimento da cultura da população da região”.
(Colaborou Lívia Bentes, da organização do evento)
Investimentos públicos e
privados garantem a expansão
do Setor Elétrico brasileiro
César Fechine
Mais de seis mil quilômetros de linhas de
transmissão, aumento na capacidade de geração em 11.681 MW e investimentos de
centenas de milhões de reais. Os números
expressivos dos empreendimentos dos quais
a Eletrobras Eletronorte participa comprovam
a importância das Sociedades de Propósito
Específico – SPEs na expansão da geração e
transmissão de energia elétrica para sustentar
o crescimento do País.
A partir de 2004, com o novo marco regulatório do Setor Elétrico brasileiro, a
constituição de SPE´s possibilitou a
integração dos recursos econômicos
de empresas públicas e privadas na
construção dos novos empreendimentos. “Essas parcerias têm sido
importantes porque as empresas do
Sistema Eletrobras têm uma natureza
do desenvolvimento e o País precisa
de mais energia, sobretudo com o
crescimento vigoroso da economia
que estamos vivenciando”, declara
Adhemar Palocci (ao lado), diretor de
Planejamento e Engenharia da Eletrobras Eletronorte.
A mais nova SPE a contar com a participação acionária da Eletrobras Eletronorte é a Norte Energia S/A, que acaba de ser formada para
construir o Aproveitamento Hidrelétrico Belo
Monte, no Rio Xingu, no Pará, com potência de
11.233 MW, a terceira maior do mundo. A Norte Energia será a empresa responsável pela implantação, operação e gerenciamento de Belo
Monte. Além da Eletrobras Eletronorte, com 19,98% de participação,
compõem a nova empresa a Eletrobras, a Eletrobras Chesf e outras 15
parceiras do setor privado.
A união da iniciativa pública e
privada foi celebrada pelo presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz
Lopes, no final do mês de julho de
2010, em Brasília, durante a Assembleia de acionistas para a constituição da SPE Norte Energia. “A
iniciativa privada acreditou que esse
empreendimento era possível e sem o respaldo
deles não teríamos conseguido. Temos certeza que nós, brasileiros, iremos fazer uma obra
que será homenageada em todo o mundo e
acredito que esta, em minha opinião, será a
melhor hidrelétrica do planeta”, disse Muniz
Lopes (acima).
20 correntecontínua
O diretor de Engenharia
da Eletrobras, Valter Cardeal (ao lado), presidiu a mesa
da Assembleia, que elegeu
e deu posse ao Conselho de
Administração da Norte Energia S/A. “Gostaria de externar
o nosso reconhecimento ao
esforço ao longo dessas décadas do senhor Antonio Muniz
e, obviamente, da própria Eletrobras Eletronorte e nossos
colegas que participaram desse desafio. Agradeço também à iniciativa privada e aos fundos
de pensão pela participação. Essa é a maior
empresa criada no Brasil nas últimas décadas e
certamente é a mais robusta para implementar
esse empreendimento.”
Aprendizado - No início da vigência do modelo atual do setor, entre 2004 e 2005, houve um aprendizado muito grande por parte do
corpo gerencial da Empresa em relação aos
procedimentos de leilão e às parcerias públicoprivadas. “Hoje, a Eletronorte está com uma
experiência ampla nessas parcerias e também
já temos a opção de entrar 100% corporativos
em alguns leilões”, explica Palocci.
A Lei 11.079, de 30 de dezembro de 2004,
instituiu as normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito
da administração pública. Em seu capítulo IV,
No Rio Xingu,
a Norte Energia
S/A erguerá
Belo Monte
a Lei cita, entre outras obrigações, que “a sociedade de propósito específico fica incumbida
de implantar e gerir o objeto da parceria e (...)
deverá obedecer a padrões de governança corporativa e adotar contabilidade e demonstrações financeiras padronizadas, conforme regulamento”. Com a edição da Lei 11.651, de 7 de
abril de 2008, a Eletrobras passou a ter direito,
diretamente, ou por meio de suas subsidiárias
ou controladas, a associar-se na constituição
de consórcios empresariais e participação em
sociedades.
O instrumento de constituição da SPE é
o contrato ou estatuto social celebrado entre
as partes, cujas cláusulas essenciais deverão
seguir a legislação que regulamenta as sociedades anônimas, devidamente registrado nas
juntas comerciais. Uma vez constituída, a SPE
adquire personalidade jurídica própria, e passa
a responder pelos direitos e obrigações decorrentes da realização do empreendimento para
o qual foi constituída.
Conforme as diretrizes da Eletrobras, o primeiro passo para a participação nos leilões de
novos empreendimentos é a Chamada Pública.
Um grupo de trabalho é criado pela Diretoria
Executiva para analisar o resultado da Chamada
e, após a definição de alguns critérios técnicos
orientados pela holding, tais como capacidade
financeira, condições legais e experiência em
empreendimentos no Setor Elétrico, são escolhidas as empresas parceiras.
Após a seleção, é constituído um Termo de
Compromisso, que formaliza a composição do
consórcio que vai disputar o leilão e estabelece
as primeiras condições do Acordo de Acionistas.
Se este consórcio for vencedor, a sua natureza
é alterada para SPE. “O Termo de Compromisso
é um contrato firmado entre as partes,
que nos permite participar dos leilões
fazendo pré-contratos, com todos os
preços do fornecedor e empreiteiro estipulados. O levantamento de preços
possibilita a entrada no leilão em condições de competição”, informa Luiz
Cláudio de Oliveira Coutinho, gerente
de Gestão de Participações (ao lado).
Esses termos possuem, entretanto,
a opção de saída do empreendimento, tanto antes quanto depois do leilão.
Nesse caso, a empresa desistente pode assinar
um termo de retirada ainda durante o processo
de leilão, que será comunicado à Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel.
As negociações, às vezes, são duras e a
estratégia é sempre obter o menor preço. “Se
ganhamos o leilão, é porque aquele é o menor
preço e o fornecedor é obrigado a cumprir, senão será acionado judicialmente”, diz Coutinho.
“Às vezes, as negociações são extenuantes, os
ânimos se acirram, mas o nosso pessoal, mais
uma vez, tem demonstrado competência. A Eletrobras Eletronorte tem sido procurada em todos
os leilões e hoje sabe escolher os seus parceiros.
E, nos casos indicados, pode participar sozinha,
por orientação da holding, ou em empreendimentos menores”, acrescenta Palocci.
Os benefícios das participações nas SPEs
são muitos. O modelo estabelece que os novos empreendimentos sejam feitos por meio de
leilões, o que significa que, se a Empresa não
participar, pode ficar fora do mercado. Outra
vantagem é que as participações são definidas
com base na rentabilidade do empreendimento, o que significa reforço de caixa. “Há quem
diga que a rentabilidade de determinado empreendimento é baixa, de 5% ou 6%, mas, pelo
menos, é rentabilidade, porque, antigamente, a
Empresa era obrigada a participar de empreendimentos que só davam prejuízo. Se der 6% a
rentabilidade é positiva”, opina Coutinho.
A rentabilidade dos empreendimentos de
geração é definida por intermédio de uma Taxa
Interna de Retorno – TIR, estabelecida após os
estudos de viabilidade econômico-financeira.
Os empreendimentos de transmissão também
possuem uma TIR, mas são remunerados por
meio de uma Receita Anual Permitida – RAP.
correntecontínua 21
Participações - Atualmente, a Eletrobras
Eletronorte possui participações acionárias em
18 SPEs, num mercado considerado bastante
competitivo e que mostrou aumento do deságio
nos lances pelos empreendimentos, contribuindo para a redução da tarifa de energia. “O amadurecimento do processo de leilão levou a um
maior deságio ao longo do tempo. A média dos
deságios nos primeiros leilões variava entre 2%
e 3%. Com a entrada das empresas estatais,
esses deságios aumentaram significativamente
e subiram para uma faixa de 30%, atingindo
até 55%, o que colabora com a busca da modicidade tarifária”, informa Wilson Fernandes de
Paula, coordenador de Estruturação de Negócios e Gestão
de Participações (ao lado).
Do total de empreendimentos, quatro já estão em
operação, sendo três linhas
de transmissão e uma usina termelétrica. Outros 14
empreendimentos estão em
construção, sendo seis linhas
de transmissão, duas usinas
hidrelétricas, quatro usinas
eólicas e duas construtoras.
A primeira SPE da qual a Eletrobras Eletronorte participou foi a Amazônia Eletronorte
Transmissora de Energia S/A – Aete, responsável pela construção da linha de transmissão Coxipó – Cuiabá – Rondonópolis, em 230
kV, com extensão de 188 quilômetros, e da
subestação seccionadora de Cuiabá, em 230
kV. O empreendimento foi implantado com o
objetivo de reforçar a transmissão no Estado
de Mato Grosso, que possui hoje papel relevante para o Sistema Interligado Nacional
– SIN (foto à esquerda).
A Aete está em operação desde 2005 e já
começou a distribuir dividendos aos acionistas, que são a Eletrobras Eletronorte, Alubar
Energia, Bimetal e Linear Participações. “A
empresa apresenta uma excelente rentabilida-
de, com uma taxa interna de retorno superior
a 25%. É uma empresa altamente rentável”,
informa o engenheiro Sebastião Caetano Belém, que participa da diretoria da Aete, bem
como da Brasnorte Transmissora de Energia
S/A e da Transmissora Matogrossense de
Energia S/A.
A Eletrobras Eletronorte entrou na Aete com
investimentos de R$ 21 milhões. Desse total,
a Empresa já contabilizou, até o exercício de
2009, mais de R$ 16 milhões de lucro, e o prazo de concessão vai até o
ano de 2034. “O que significa que o
empreendimento dá um excelente retorno”, acrescenta Belém (ao lado).
Em outro empreendimento, em
Mato Grosso, a Brasnorte Transmissora está construindo a linha de
transmissão Brasnorte – Nova Mutum, com 272 quilômetros, e o trecho
Juba – Jauru, com 127 quilômetros,
em 230 kV, além de duas subestações associadas (à esquerda). Essas
linhas foram construídas para coletar a energia
produzida no estado e integrar o SIN.
Também tiveram início as obras da Transmissora Matogrossense, composta pela linha
Jauru – Cuiabá, em 230 kV, com 348 quilômetros (foto acima). “Estamos na parte de terraplanagem das subestações e começamos a
escavação das áreas onde serão instaladas as
linhas”, informa Belém.
correntecontínua 23
Foto: Henrique Caldas
Corrente contínua - Num cenário exuberante
ao lado das cachoeiras Andorinhas e Dardanelos, na amazônia matogrossense, a Hidrelétrica
Dardanelos (ver edição anterior), com potência
de 261 MW, está sendo finalizada pela SPE
Energética Águas da Pedra S/A – Eapsa, constituída pela Eletrobras Eletronorte em parceria com a Neoenergia
e a Chesf. A Usina consumiu R$ 760
milhões em investimentos. “A usina
é composta por cinco turbinas e hoje
tenho duas máquinas prontas que já
podiam estar gerando. Até o fim de
2010 ficam prontas as outras três”,
esclarece José Piccolli Neto, diretorpresidente da Eapsa (ao lado).
A partir de Rondônia e cortando os
estados de Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, a linha
de transmissão em corrente contínua em ± 600
kV, com extensão de 2.375 quilômetros, terá
origem na Subestação Coletora Porto Velho, em
Rondônia, e termina na Subestação Araraquara
2, no Estado de São Paulo.
A SPE que vai construir o empreendimento
é a Norte Brasil Transmissora de Energia S/A,
Linha da Intesa, entre
Colinas e Serra da Mesa (GO)
composta pela Eletrobras Eletronorte (24,5%),
Eletrosul (24,5%) e Abengoa (51%), com investimentos de R$ 1,7 bilhão.
A obra em corrente contínua será um desafio para as empresas componentes da SPE,
que está trabalhando para obter o licenciamento ambiental. “A nossa previsão é obter a Licença Prévia e, depois, a Licença de Instalação até
o final de 2010. A expectativa
é começarmos as obras no
início de 2011”, expõe José
Orlando Cintra, diretor da empresa (ao lado).
Essa linha vai escoar a
energia produzida pelas usinas do Complexo do Rio Madeira. “Trata-se de uma obra
estratégica para que possamos dominar a tecnologia de
corrente contínua”, diz Adhemar Palocci.
Cintra também participa da diretoria da Estação Transmissora de Energia S/A, que adquiriu
a concessão para construção, operação e manutenção das estações conversora/inversora
em 500/600 kV, corrente contínua, localizadas
em Porto Velho, no Estado de Rondônia, e em
Araraquara, no Estado de São Paulo. “As estações também estão em fase de licenciamento
ambiental, com previsão de início das obras no
final de 2010”, acrescenta Cintra.
Já nos estados de Goiás e Tocantins, a Eletrobras Eletronorte, em parceria com a Chesf
e FIP Brasil Energia, participa
da Integração Transmissora
de Energia S/A – Intesa, que
construiu a linha de transmissão Colinas / Miracema / Gurupí / Peixe 2 / Serra da Mesa
2, em 500 kV. Com extensão
de 695 quilômetros, o trecho
faz parte da ligação Norte-Sul
e está em operação desde
2008, com investimentos de
R$ 500 milhões.
“A RAP do empreendimento acaba de ser corrigida e será próxima de R$
80 milhões. O nosso objetivo é superar o endividamento e, logo que possível, dar retorno para
os acionistas”, declara Marcelo Oliveira, diretor
da Intesa (acima).
Pré-Madeira - Para construir a linha Porto Velho – Jauru, em 230 kV, com extensão de 987
km, nos estados de Rondônia e Mato Grosso,
integrando o chamado circuito Pré-Madeira, que
vai escoar a energia produzida nas usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, foi constituída a Linha Verde Transmissora de Energia S/A.
O diretor-técnico da empresa, José Eliaz Rosa,
informa que “todos os equipamentos estão comprados e começam a chegar em breve à obra”.
A Eletrobras Eletronorte participa do empreendimento com 49% e está em andamento
negociação para a Abengoa adquirir a participação da CTEEP e ficar com 51% do empreendimento.
Em outro processo de reestruturação societária, estão em tramitação os documentos para
que a Eletrobras Eletronorte adquira 100% do
empreendimento da linha Porto Velho – Rio
Branco, em 230 kV, com extensão de 487 quilômetros,
sob responsabilidade da Rio
Branco Transmissora de Energia S/A. “Já foi realizado o
ensaio de carga na torre que
será utilizada pela Rio Branco
Transmissora (foto à direita). A
torre foi aprovada e a fabricação já foi iniciada”, acrescenta
José Eliaz (ao lado).
Floresta - A Eletrobras Eletronorte também
participa do linhão Oriximiná – Silves – Lechuga, em 500 kV, com extensão de 558 quilômetros, nos estados do Amazonas e Pará. Para
construir a linha, que passará por regiões de
densas florestas e fará a transposição de grandes rios, como o Amazonas, Trombetas e Uatumã, foi constituída a Manaus Transmissora de
Energia S/A, com investimentos previstos que
passam de R$ 1,1 bilhão.
O empreendimento possibilitará o suprimento de energia elétrica a diversos municípios do
Amazonas, incluindo a capital Manaus, e do
Pará, interligando regiões isoladas ao SIN. A
Licença Prévia também já foi concedida pelo
correntecontínua 25
de mineração Anglo Ferrous do Brasil, permitindo a geração de empregos e de divisas.
“A Amapari Energia, por meio de receita proveniente da geração de energia na Termelétrica
Serra do Navio, deve gerar dividendos aos seus
acionistas em 2011”, estima Alcides Sotério,
diretor da empresa.
A PCH Capivara está na fase conclusiva de
análise e aprovação de seu inventário pela Aneel e obtenção da Licença Prévia e de Instalação
pelo órgão ambiental.
E novos ventos sopram para a
Eletrobras Eletronorte no Estado do
Rio Grande do Norte, onde serão
construídas quatro usinas eólicas.
Está em fase final a constituição
das SPE´s destinadas à implantação
dos parques eólicos Rei dos Ventos
1, com 48,6 MW de potência, Rei
dos Ventos 3 (48,6 MW), Miassaba
3 (50,4 MW) e Aratuá 1 (14,4 MW),
situados nas regiões de Guamaré e
Galinhos. (ver edição anterior).
“A presença da Eletronorte em
SPEs tem ampliado a sua participação no mercado, fortalecendo o poder de compras, compartilhando recursos, combinando competências,
riscos e custos, tornando-a, portanto, mais competitiva e ágil”, finaliza Sotério (acima). Como se
vê, no Brasil, o público e o privado podem e devem ser complementares para o bem comum.
Ibama. “Isso quer dizer que nós podemos protocolar o Plano Básico Ambiental para que consigamos a Licença de Instalação para a linha
de transmissão e subestações”, informa Paulo
Sérgio de Oliveira, diretor-técnico da Manaus
Transmissora (abaixo).
Quando da constituição da empresa, os acionistas, ao invés de buscar
no mercado, decidiram montar uma
SPE para fazer também o serviço de
empreiteiro, constituindo a Manaus
Construtora Ltda. A decisão mostrouse acertada, pois a empresa já está
sendo remunerada pelos serviços
prestados e fará a primeira distribuição de dividendos neste ano.
Outra SPE constituída para fazer a
construção de um empreendimento
com participação da Eletrobras Eletronorte é a Norte Brasil Ltda, que construirá a
linha de transmissão Porto Velho – Araraquara
em corrente contínua.
Novos ventos - No Amapá, a Amapari Energia
S/A foi constituída pela Eletrobras Eletronorte e
MPX Energia para a implantação da Usina Termelétrica Serra do Navio, com potência instalada
de 24 MW, e da PCH Capivara, no Rio Amapari,
com potência instalada de 30 MW. A Serra do
Navio está completando dois anos de operação,
gerando energia para atendimento ao complexo
Linha que interligará
Tucuruí a Manaus e
Macapá vai atravessar
rios e florestas alagadas
Usina Termelétrica Serra do Navio, da Amapari Energia
correntecontínua 27
Transmissão
Em Mato Grosso, uma nova
realidade no setor energético
Vista da Subestação Rondonópolis
Arícia Figueiredo
Roupas lavadas em minutos. A comida
aquecida no micro-ondas em segundos, a louça lavada sem demora no lava-louças. Ventilador, aspirador, batedeira... Dispensáveis? Pense
então na geladeira, televisão, chuveiro elétrico,
e para uma região tão conhecida pelo calor
constante: ar-condicionado. A energia elétrica
já é algo tão básico que as pessoas só percebem sua importância quando o fornecimento
é interrompido. Quando alguém aperta o interruptor de uma lâmpada, nem imagina o que a
faz iluminar o ambiente, nem toda a mão de
obra e investimentos empregados para que ela
se mantenha firme e constante.
Todo o conforto, praticidade e desenvolvimento proporcionado pela chegada da energia
elétrica podem ser claramente reconhecidos no
Estado de Mato Grosso. “O norte matogrossense
saiu da escuridão há apenas 15 anos”, contabiliza o coordenador Regional de Representação
da Eletrobras Eletronorte, Francisco Antunes
Sperandéo (abaixo). “A cada dia que passa a
população do Mato Grosso vai se esquecendo
de como é passar meia hora sem energia, o que
era comum pouco tempo atrás. Essa nova realidade se dá graças aos investimentos contínuos
realizados no sistema elétrico, proporcionando
a todos o acesso à energia firme, constante e de
qualidade”, destaca.
Desenvolvimento - A população de Mato Grosso cresceu
31% nos últimos 12 anos,
quase o dobro dos 17% registrados na média nacional.
Junto, veio o aumento do
número de unidades consumidoras, que passou de 500
mil em 1997, para 940 mil
em 2008 e atingiu a marca de um milhão em
junho de 2010, conforme levantamento da Centrais Elétricas Matogrossenses S/A - Cemat. No
mesmo período, o aumento no consumo anual
de energia foi ainda mais significativo: 134%,
saltando de 2,37 mil GWh em 1997 para 5,53
mil GWh em 2009.
Para o vice-presidente da Cemat, Antônio
Carlos Fernandes Fonseca, Mato Grosso cresce de maneira sustentável. “O crescimento no
consumo de energia está relacionado à transformação da matéria-prima em produto industrializado”, explica, acrescentando que, atualmente, o estado passa por uma mudança de
perfil dos consumidores de energia. Na década
de 1990 a representatividade dos consumidores residenciais era maior, hoje já começa a haver uma inversão. “O consumo na indústria está
aumentando e modificando o perfil
estadual”, avalia.
Diante desse panorama de desenvolvimento, o índice de crescimento no consumo do ‘Nortão’ é
considerado um dos mais espantosos, não só se comparado a outras
regiões de Mato Grosso, mas também com a de qualquer outra do
País, segundo o gerente do Centro
Regional de Operação em Mato
Grosso, Sebastião Pereira Rosa (ao
lado), com base em análises da
Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel.
Sebastião usa como exemplo o município
de Nova Mutum. “Criado há apenas 18 anos,
nos últimos dez anos Nova Mutum foi o município que teve o maior aumento de carga, com
Nas cidades de Nova Mutum, (à esquerda), e Sorriso (à direita) ampliações permitirão a exportação de energia
crescimento de 1.435%”. Já o município que
teve o segundo maior crescimento de consumo
de energia, Sorriso, é também o que tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano - IDH
de Mato Grosso.
Investimentos – Para fazer frente ao aumento da demanda de energia elétrica, a Eletrobras Eletronorte tem investido em obras de
engenharia, troca e acréscimo de equipamentos, que reforçam e melhoram o
sistema de transmissão de energia elétrica em Mato Grosso. Nos
últimos dez anos, cerca de 100
empreendimentos foram realizados, totalizando R$ 627 milhões
de investimentos. “De norte a sul
do estado, praticamente todas as
cidades pelas quais passa o linhão
Cuiabá/Jauru foram beneficiadas
por obras da Eletrobras Eletronorte na última década”, afirma a
engenheira civil, Melissa Cristina
Borges (acima).
“Somente entre 2009 e o primeiro semestre
de 2010, a Empresa investiu cerca de R$ 153
milhões em obras nas subestações Rondonópolis, Cuiabá, Nobres, Nova Mutum, Sorriso, Sinop
e Jauru”, destaca o engenheiro Wlamir Antônio
de Jesus (à direita). Dentre elas,
as principais foram na Subestação Cuiabá, na linha Nova Mutum/
Sinop, nas subestações Sorriso
e Nova Mutum, que permitirão a
ampliação da capacidade de Mato
Grosso em exportar energia, inclusive do Aproveitamento Hidrelétrico
Dardanelos, para o Sistema Interligado Nacional - SIN.
30 correntecontínua
de 30 MVA foi instalado, dobrando a disponibilidade de energia à população local. “São obras
que representam o aumento de confiabilidade
e flexibilidade para o sistema elétrico do estado.
Com as mudanças em Nova Mutum e Sorriso
os impactos inesperados ou programados das
interrupções na transmissão de energia na
região foram substancialmente minimizados.
Toda a configuração da linha Nobres/Sinop foi
melhorada com seccionamentos que permitem
agora maior capacidade de manobras e operações. Com essas mudanças estamos preparados para, ainda em 2010, abastecer ao menos
350 mil habitantes do Nortão de Mato Grosso
com uma linha alternativa”, analisa.
“Construímos praticamente uma nova estrutura, pois a que tínhamos era muito simples e
servia apenas para rebaixar a tensão para encaminhar energia para a distribuidora. As obras
permitirão a conexão entre as linhas de nossas
subestações e a que está sendo construída pelo
consórcio Brasnorte Transmissora de Energia”,
esclarece o gerente da Regional de Planejamento e Engenharia de Mato Grosso, Hélio César Monti (acima).
Hélio Monti explica que em Nova Mutum
foram construídos barramentos,
que são estruturas onde as linhas
de transmissão de energia elétrica
são conectadas e que permitem
que sejam feitas manobras para
proteger as linhas e os equipamentos, para manutenções e
mesmo desligar trechos do sistema. Além da instalação dos barramentos, um novo transformador
Futuro - Com o estado se desenvolvendo, a
população crescendo e, consequentemente,
aumentando o consumo, as obras não vão parar por aí. Para o ciclo 2010/2012 estão previstas mais cinco grandes obras, totalizando um
investimento na ordem de R$ 75 milhões.
Com investimentos de R$ 6,7 milhões, a
linha de transmissão em 230 kV, entre Coxipó
e Nobres, será retensionada, consolidando o
reforço para o escoamento do excedente de
geração e o atendimento à região metropolitana de Cuiabá, aumentando a capacidade
de transmissão dos atuais 250 MVA para
387 MVA.
A Subestação Barra do Peixe será ampliada,
com a instalação de dois autotransformadores
trifásicos de 50 MVA cada, ampliando a capacidade de transformação dos atuais 125 MVA
para 225MVA, e aumentando a capacidade de
atendimento do sistema interligado da região
norte e suprindo a necessidade energética do
leste de Mato Grosso. Serão investidos no empreendimento R$ 16,7 milhões.
A implantação do banco de autotransformadores 230/138/13,8 KV, de 3x33 MVA na Subestação Cuiabá permitirá a ampliação da capacidade de transformação dos atuais 400 MVA
para 500 MVA, reforçando o atendimento à demanda da capital e toda a região suprida pela
energia alimentada a partir dessa subestação. O
valor do investimento é de R$ 15,8 milhões.
Outros R$ 14,2 milhões serão investidos na
ampliação da capacidade de transformação da
Subestação Jauru, passando dos atuais 300 MVA
para 600 MVA, com a implementação de um banco de autotransformadores e um módulo completo de saída de autotransformadores em barra dupla a quatro chaves, fornecendo energia elétrica
de melhor qualidade, confiabilidade e segurança
para o sistema de transmissão estadual.
A Subestação Nobres terá R$ 21,8 milhões
investidos na implantação de um sistema de
transformação completo trifásico, de 100 MVA,
reforçando a rede básica.
Hélio Monti explica que essas obras possibilitarão um aumento na capacidade de transformação de 637 MVA no sistema elétrico matogrossense. “Cada empreendimento tem sua
importância para o sistema, mas a instalação de
novos transformadores é muito importante para
suprir a crescente demanda por energia. Esse
aumento da capacidade corresponde a cerca
de 1,4 milhão de pessoas atendidas, seja por
demanda reprimida ou por novas demandas”.
Monti avalia ainda que, apesar da necessidade de expansão do atendimento elétrico em
algumas localidades, certas dificuldades persistem: “Mato Grosso é um estado amplo, onde
há grandes distâncias a vencer e, para tanto,
são necessários muitos investimentos para suprirmos as necessidades de tantas cidades em
desenvolvimento”.
Sustentabilidade
O equilíbrio é o negócio da vez
Michele Silveira
Vitor entra na sala e é surpreendido por colegas sentados à mesa de reuniões, em volta
de um tabuleiro como um daqueles que se
joga com os filhos em casa. Ainda curioso, se
aproxima e ocupa o lugar que o espera. Vai começar a partida. Mas, no lugar da derrota dos
inimigos, o jogo é de ganha-ganha. No lugar
das tradicionais notinhas com cifrões que
ocupam as caixas de Banco Imobiliário, aqui a moeda é outra: pessoas,
recursos naturais, talentos, conhecimento e tecnologia. No lugar da
competição, a ‘coopetição’ ou
‘coopetition’, que é competição
com cooperação lucrativa.
Vitor é um personagem
fictício, que poderia representar qualquer um dos
empregados de empresas
brasileiras que já adotam
o Negócio Sustentável, um
jogo de tabuleiro que provoca uma nova forma de
pensar, agir e gerar riqueza por meio de negócios
sustentáveis. Diferente dos
jogos tradicionais – em que
para um jogador vencer todos os outros têm de perder
- a proposta é que o ganhador estimule os outros jogadores a ganhar mais. Quanto
mais negócios na mesa, maior
a riqueza do tabuleiro e melhores
as oportunidades do ganha-ganha.
É a economia capitalista, globalizada
e sustentável do Século XXI.
Negócio sustentável, emprego verde,
sustentabilidade. Mais empregadas do que
nunca, as expressões ocupam planos de marketing, estratégias de negócios e políticas públicas. Mas há de fato uma definição linear para
sustentabilidade? Para o diretor de Comunicação Empresarial da CPFL Energia e conselheiro
do Movimento Planeta Sustentável, Augusto
Rodrigues, não há fórmulas ou atalhos para a
32 correntecontínua
sustentabilidade. Segundo Augusto (ao lado), não existem empresas sustentáveis, mas organizações que buscam, diariamente, o
caminho do negócio sustentável.
“As preocupações de ordem ambiental integram a agenda empresarial ao menos desde a década
de 1960. Mas o desafio hoje é
mais complexo, tratando-se
de pensar a sustentabilidade de forma ampla e
sistêmica”.
Para
Fernando
Augusto Gillet Lomonaco, gerente da Assessoria de Gestão Corporativa e membro do Comitê
de Sustentabilidade da Eletrobras Eletronorte, a Empresa
já nasceu comprometida
com o meio ambiente. “Isso
foi um bom início. Entretanto, a sustentabilidade é
mais abrangente que apenas o compromisso de preservação do meio ambiente e das comunidades que
sofreram impactos com a
construção de Tucuruí e
das outras hidrelétricas que
construímos nas décadas de
1970 e 1980. A sustentabilidade, em suas três dimensões,
econômico-financeira,
social
e ambiental, engloba outros aspectos que, fundamentalmente,
procuram garantir a perenidade da
organização com a preservação do
meio ambiente e o desenvolvimento das
partes interessadas”.
“Definir sustentabilidade é reconhecer
que o sistema econômico humano é um subsistema do planeta. E os recursos do planeta
são finitos. Meu ponto de partida é reconhecer
a total dependência do homem ao planeta. O
sistema econômico é linear: extrai, produz,
consome e descarta. O planeta é circular”,
explica o economista Hugo Penteado, autor
correntecontínua 33
do livro ‘Ecoeconomia, uma
Nova Abordagem’ e gestor do
Grupo Santander. Para Penteado (ao lado), o modelo econômico atual é degenerativo,
e a natureza é regenerativa.
“Acreditamos em um crescimento infinito, mas o planeta
é finito. Extremos não nos servem. ‘Xiitas ambientais’ não
nos servem. Na construção
de uma estrada, na geração
de energia, temos que levar
em conta o equilíbrio, porque
quem dita as regras é o planeta, não a economia”.
Relatório - Fazer uma pauta sobre sustentabilidade para
uma revista do Setor Elétrico,
por incrível que pareça, é tarefa cercada de preconceito e desconfianças.
Há quem pense que preservação e desenvolvimento não tenham fórmula para caminhar juntas. Mas, ironicamente, é exatamente isso que
forma o conceito de sustentabilidade.
Na edição 2009/2010 do Relatório de Sustentabilidade da Eletrobras Eletronorte, um dos
trechos destaca que, para a Empresa, falar de
meio ambiente e desenvolvimento sustentável
não é nenhum paradigma: “Não é, e nunca
foi. Somos de um setor criticado assiduamente
a cada novo empreendimento a ser estudado
ou implantado. Talvez porque sempre falamos
pouco sobre o que fazemos para além da geração e transmissão de energia. É sabido que
Setor Elétrico é responsável pela intervenção
ambiental de diversas formas, mas é, também,
protagonista de uma busca incessante de práticas socioambientais”.
Reunindo os investimentos e as práticas de
todas as áreas da Empresa, o Relatório consolida um novo conceito e acompanha a inserção da sustentabilidade como um dos pilares
do planejamento estratégico da Empresa. “Das
nossas turbinas e linhas de transmissão sai a
energia para que o desenvolvimento sustentável
aconteça. Nos computadores, nas pranchetas,
nos laboratórios e nas salas de aula, a tecnologia e a inovação permitem que resgatemos o
que foi perdido no passado e avancemos apara
um tempo novo, um tempo de paz com o meio
ambiente. Mais do que energia, nossas linhas
transmitem cidadania e sustentabilidade”.
Em 1620, o filósofo inglês Francis Bacon deixava na história um conceito: “A natureza, para
34 correntecontínua
“Reutilizar e só reciclar
quando necessário”
Um levantamento da ONG WWF divulgado no mês
de junho de 2010 mostrou que, se toda a humanidade
adotasse padrão de consumo semelhante ao do cidadão
médio americano, seriam necessários cinco planetas
para atender à demanda por recursos naturais. Mas a
elite brasileira não fica muito atrás. Se o mundo consumisse como as nossas classes A e B, seriam necessários
três planetas. Se o padrão adotado fosse o da Somália,
na África, bastaria 0,22 planeta.
Para o ecoeconomista Hugo Penteado, o consumo
exagerado está no cerne da questão. “Nesse patamar,
até a reciclagem se torna pouco impactante. Ela é uma
tentativa de imitar a natureza, portanto, bem-vinda, mas
também demanda mais energia. O que define o veneno não é a quantidade, é a substância. O que define a
sustentabilidade não são os materiais, e sim o uso que
fazemos deles. O plástico, por exemplo, é uma matéria
com múltiplas reciclagens. Se mudarmos o modelo de
consumo teremos um planeta melhor. Reutilizar e só reciclar quando necessário”, defende.
Em 2009, a Ford decidiu desligar os computadores
durante a noite, nos finais de semana e nos feriados. Isso
significou uma economia de aproximadamente US$ 1,2
milhão por ano. O funcionamento se dá pela utilização
de um novo programa que configura o quanto os computadores devem gastar de energia em horários ociosos
e até os desliga caso necessário. Mesmo em baixíssimo
consumo de energia ou desligados, os computadores
ligados a intranet conseguem baixar atualizações com
muito pouco gasto energético.
No Mc Donald’s, óleo de fritura vira combustível em
pelo menos 20 lojas do Brasil. Cerca de três milhões de
litros de óleo de cozinha são utilizados na fritura de batatas e empanados nos 580 restaurantes da rede no País.
O resíduo, que antes virava sabão, transforma-se em
biodiesel, para abastecer os caminhões de entrega da
ser comandada, precisa ser obedecida”. Apesar
da desconfiança com o Setor Elétrico, é comum
entre os engenheiros a máxima de que é a natureza quem define onde será instalada uma
hidrelétrica. Hoje, novas tecnologias – como
usinas a fio d’água e plataforma – permitem
impactos ambientais menores. Além disso, a
inovação e a pesquisa têm desenvolvido práticas de mitigação desses impactos. Em visita às
obras da Hidrelétrica Jirau, no Rio Madeira, em
Rondônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
afirmou: “Com 85% de sua energia produzida
A agenda ambiental é cumprida na Empresa e nos programas sociais como o Waimiri Atroari
rede. O projeto, em caráter experimental, já produz entre
dois mil e três mil litros de biodiesel por mês. No próximo
ano deverá ser adotado em todas as lojas do grupo.
A3P - Na Eletrobras Eletronorte, a Agenda Ambiental da
Administração Pública - A3P, já começa a colher frutos de
um trabalho de consciência ambiental iniciado em 2009
entre os empregados. Substituição de copos plásticos por
canecas, separação de lixo e oficinas de reciclagem para
os empregados do setor de limpeza já deixam a marca do
programa no combate ao desperdício, na economia e na
geração de trabalho e renda para as artesãs da Reciclart,
cooperativa que comercializa produtos reciclados que antes iam para o lixo, como papel e plástico.
Em resumo, a Empresa deu lucro, mantém projetos de
responsabilidade social, investe em inovação, tecnologia e é
referência mundial no que diz respeito à valorização de comunidades indígenas com programas como o Parakanã e o
Waimiri Atroari. Também é referência em pesquisa e execução de programas ambientais nas regiões onde tem empreendimentos. Com tudo isso, já é uma empresa sustentável?
Para alguns especialistas como Augusto Rodrigues, da CPFL,
é o caminho da busca permanente pela sustentabilidade.
De acordo com Fernando Lomonaco, os principais desafios para que uma empresa seja realmente sustentável é en-
de forma limpa, o Brasil é hoje referência mundial no quesito desenvolvimento econômico com
sustentabilidade. É preciso ter energia para ter
desenvolvimento. O Brasil não vai abrir mão de
ser autossuficiente em energia, e de preferência
energia limpa, não poluente”.
Atitudes simples - Para o ecoeconomista
Hugo Penteado, energia limpa não existe; o que
existe é energia mais limpa. Por isso, defende
programas de redução de desperdício de energia. Segundo ele, diante da necessidade de se
contrar o equilíbrio entre os resultados econômico-financeiro,
ambiental e social. “A dificuldade é que não temos um padrão
específico para medir os resultados de cada um deles. Se tudo
fosse medido em metros, seria fácil encontrar o equilíbrio, mas
não é o que ocorre. Temos parâmetros para medir o resultado
econômico-financeiro, mas como comparar isso a um resultado ambiental ou social? Como afirmar que há equilíbrio?”
Apesar da indefinição do termo sustentabilidade como um
conceito linear, é possível encaixar a palavra equilíbrio em
qualquer que seja a definição. Mesmo quando quem tem a
palavra defende o chamado crescimento zero.
O professor canadense Peter Victor é um dos chamados
ecológicos e autor do livro ‘Managing Without Growth’ (Vivendo sem Crescimento). Nele descreve o possível cenário de
2035 no Canadá, se fosse possível o crescimento zero: “Pelo
sétimo ano consecutivo, a economia não cresceu. Mas apesar de o aumento do Produto Interno Bruto ter ficado zerado,
não há uma crise. A taxa de pobreza está no seu menor nível histórico, principalmente porque o desemprego também
é o mais baixo da história, apenas 4%. O endividamento do
governo é pequeno, e as emissões de gases do efeito estufa
apresentaram uma queda de 31% em relação ao que eram
em 2005. Em resumo, a população canadense vive melhor,
num país mais limpo e com menos problemas sociais do que
vivia em 2010”.
construir uma hidrelétrica, é preciso negociar
com o planeta, fazê-lo com o menor impacto
possível. Na Eletrobras Eletronorte programas
de eficiência energética como o Procel Educacional e o Cidade Eficiente têm conseguido
reduzir significativamente o desperdício de
energia. Em Rondônia, a cidade de Ariquemes,
por exemplo, reduziu R$ 1 milhão nas contas
de 2009. A economia gerada chegou a mais de
24% ao mês. Com as atividades de conscientização, o consumo de 509.450 kWh/mês caiu
para 384.469 kwh/mês.
correntecontínua 35
Ao longo da sua história, o Procel já ajudou
a economizar 28,5 milhões de MWh, consumo
equivalente a 16,3 milhões de residências e à
energia gerada por uma hidrelétrica de capacidade instalada de 6.841 MW. Em Tucuruí, no
Pará, já é tradicional a Micareta do Procel (acima), quando crianças e professores das escolas que recebem o Procel Educacional saem às
Em Tucuruí,
plantio de mil
mudas para
recuperar
quatro mil m²
36 correntecontínua
ruas dizendo não ao desperdício. É um bom
começo de conversa com o planeta.
O consenso é que essa conversa precisa ser
rápida. “O ser humano é vulnerável, depende
do planeta. Não é a Terra que está ameaçada,
são as pessoas”, alerta Penteado. “A gente não
cuida do outro, mas depende dele. Meu pulmão só se enche de oxigênio porque existe um
ser vivo produzindo o gás”, diz o economista
que rejeita o título de ecologista.
Para Fernando Lomonaco, a dúvida entre o
que é melhor - continuar a crescer e ter um
déficit de recursos naturais no futuro ou parar de crescer e enfrentar o caos econômico -,
permanece sem solução. “Estamos apostando
em crescer a taxas menores, com mais preocupação ambiental e social (sem radicalismos,
mesmo porque o radicalismo do crescimento
zero teria consequências catastróficas). Aliás,
alguns especialistas afirmam que as catástrofes
climáticas que estamos vendo no planeta são
reflexo do crescimento sem sustentação que
tivemos até agora”, defende.
Segundo ele, o aspecto positivo é que, cada
vez mais, a encruzilhada é reconhecida por todos. “Hoje muitas pessoas com poder de decisão têm consciência de que não podemos
continuar crescendo de qualquer forma. Há
que se cuidar do planeta. Há que se cuidar das
pessoas. Iremos encontrar a solução ideal, mas
é importante sabermos desde já que a sustentabilidade não é uma moda, um problema da Empresa ou algo que algum iluminado irá resolver.
A obtenção da sustentabilidade começa no indivíduo, com atitudes simples realizadas a cada
dia. Isso já significa um ganho representativo”.
Realmente, até agora, nada de aparecer
o iluminado que possa resolver a questão ou
definir um único caminho para a sustentabilidade. Ela precisa ser ampla e alterar conceitos profundos; tem de ser lucrativa, mas com
responsabilidade; precisa que a produção seja
grande, mas que o consumo seja consciente.
Mas a busca continua.
Em agosto de 2010, o bilionário australiano
Dick Smith ofereceu um milhão de dólares australianos – ou, R$ 1,6 milhão – para o jovem de
até 30 anos que apresentar uma alternativa que
consiga controlar o crescimento populacional e
o aumento do consumo no planeta. “Procuro
candidatos cujas ações em 2011 mostrem que
eles têm o que é necessário para ser a próxima geração de líderes que o nosso planeta
precisa”, disse. Smith acredita que, pelo bem
da própria humanidade, é preciso chegar a
um modelo econômico que consuma energia
e recursos de maneira equilibrada. Não há inscrições. O desafio será se destacar no próximo
ano, a ponto do projeto repercutir na mídia e
ser visto pelo bilionário. Em um ano, o vencedor
será anunciado. Pense bem, ainda dá tempo.
Enquanto isso, aproveite para descobrir que
vários ‘iluminados’ podem ter como prêmio um
planeta disposto a conversar.
“A sustentabilidade
começa nas pessoas”
Confira entrevista com Fernando Lomonaco, membro do
Comitê de Sustentabilidade da Eletrobras Eletronorte:
O que é hoje a
sustentabilidade para
uma empresa do porte
da Eletrobras Eletronorte?
Eu diria que é um direcionador que deve ser sempre considerado em todos os níveis e por
todas as pessoas. Cabe ressaltar: falar que sustentabilidade é
algo para a Empresa pode dar
uma impressão errada sobre a
abrangência e a profundidade
do assunto. Sustentabilidade é
uma questão que começa nas
pessoas, que são as principais interessadas. Ela não é um problema da Eletrobras Eletronorte no qual devemos ajudar, mas
deve ser vista como um assunto nosso, para o qual devemos
envidar esforços para que passemos a considerá-la em nossas
decisões. A sustentabilidade começa em cada um de nós.
De que forma o quadro de empregados
pode fazer a diferença no processo de construção
da sustentabilidade na Empresa?
O primeiro passo é ter consciência do problema e de sua
amplitude. Depois, é preciso ter sempre em mente que é um
processo de mudança de cultura, de criação. Não fomos educados para a sustentabilidade. Se pararmos para pensar, nossos exemplos de sucesso, que trazemos desde a infância, são
de pessoas com muitas posses, que vivem viajando, andando de helicóptero ou carrões luxuosos. Fomos criados para
buscar esse exemplo de sucesso. Hoje, se formos calcular a
‘pegada ecológica’ (estimativa do quanto o estilo de vida de
alguém impacta o meio ambiente) de uma pessoa desse tipo,
ficaríamos assustados.
E qual seria o estilo de vida ideal nesse caso?
Falar nisso é até um pouco estranho para nós, mas o exemplo a ser buscado atualmente seria de uma pessoa que mora
perto do trabalho, usa transporte coletivo, possui apenas o
que precisa e dedica parte do seu tempo para auxiliar outras
pessoas. Enfim, uma pessoa com pensamento mais coletivo
e menos individualista. Pensar verde é um passo importante.
Precisamos estar atentos a cada momento, a cada ato para
agirmos em favor do meio ambiente e da sociedade. Pequenas atitudes contam e muito. Podemos, com atitudes simples,
economizar recursos naturais e, assim, começar desde agora
a contribuir para a nossa sustentabilidade, que inclui nossa
família, nossa empresa, nosso país e nosso planeta.
correntecontínua 37
Amazônia e Nós
Prólogo – Nesta edição estamos
retomando a coluna Amazônia e
Nós, que já trouxe para as nossas
páginas a presença da Eletrobras
Eletronorte nos estados da Região
Norte e matérias sobre turismo e
gastronomia na Amazônia. Agora,
teremos a presença do nosso pessoal que realiza tarefas no campo,
seja enfrentando a queda de uma
linha de transmissão, seja participando de um estudo de inventário
ou viabilidade, seja no relacionamento com as comunidades do
interior. E o texto virá sempre em
forma de diário. Conheça um dia
na vida de Marx Frederick, auxiliar técnico de engenharia da Regional de Produção do Acre.
um banho, me visto e vou trabalhar. Não tomo café cedo. Meu estômago fica meio enjoado.
Vou pro trabalho, no caminho paro para comer alguma coisinha, um pão, um café-com-leite.
Todo dia é assim.
7h - Antes de chegar ao trabalho começo a pensar na vida e vejo que, apesar da rotina,
nem todos os dias são iguais. Já passei por coisas bem inusitadas trabalhando aqui. Uma
delas aconteceu quando eu ainda estava começando. Estávamos eu e mais dois colegas.
Acho que era o Vinícius, lá de Porto Velho, e o Fiuza, do Maranhão. Tínhamos de fazer a
manobra. Passou o Vinícius, passou o Fiúza, e a casa de marimbondo do lado, daqueles
das asinhas vermelhas... Rapaz, quando eu fui passar... Eles assanharam. Começaram a
zumbir no pé do meu ouvido. Parei. Fiquei quieto. Quando me mexi, elas recomeçaram e
picaram em todo canto. Como a gente estava em estágio probatório, ou era bolsista, não
lembro bem, fiquei meio assim... Isso foi em 2006 ou 2007, em Porto Velho. Fiquei com
medo de falar para o instrutor que queria descer, com medo de estar sendo avaliado. Falei:
“Não vou desistir, não... Vou subir”. Parti lá pra cima, meu amigo... Quando cheguei lá,
começaram uns calafrios. Era daqui até lá na ponta do dedo do pé. Aí eu desci. Quando
cheguei lá embaixo, desabei. Febre, febre, febre... Todo picado. Aí foi assim. Subi, desci,
mas acabou tudo bem.
Marx Frederick Peres Martins enfrenta sol, insetos e viagens cansativas para trabalhar em
uma das atividades fim da Eletrobras Eletronorte: a transmissão de energia. Com sotaque de
carioca, o rio-branquense foi para o Rio de Janeiro aos doze anos junto com o resto da família
para auxiliar no tratamento de saúde da irmã. Hoje, de volta à sua cidade natal, relata que
apesar do cansaço, gosta do trabalho que faz.
8h – Estou chegando ao trabalho. Quando chego, a primeira coisa que faço é cumprimentar meus colegas. Em geral, fazemos comentários sobre o desempenho dos times em tom de
gozação. Mas ninguém ri do meu time, que sempre manda bem. Quando não dá pra falar de
futebol, falamos de outros assuntos, mas sempre gostamos de começar o dia com uma conversa. Isso é importante até para a nossa segurança. Antes de sairmos pra campo, é sempre
bom nos reunir e fazer uma entrevista para saber as condições físicas e psicológicas de cada
membro da equipe. Saber se dormiu bem, se está preocupado, se está confiante, se está sentido algum problema de saúde... Tomamos o cuidado de fazer tudo isso porque trabalhamos
numa área extremamente perigosa e devemos estar constantemente atentos quando estamos
trabalhando na estrutura das torres. A prevenção é a nossa aliada e deve estar sempre em
primeiro lugar. Também é importante lembrar que uma omissão em não querer saber as condições físicas e emocionais dos nossos companheiros de trabalho pode colocar em risco nossa
própria segurança.
11 de agosto de 2010
6h - Acordei às seis da manhã, hora que geralmente levanto para ir trabalhar. Hoje é aniversário da minha mãe. Vou tentar não fazer nada de muito perigoso e voltar inteiro para casa. Até
hoje minha mãe não entendeu muito bem eu trabalhar nessa área. Evito ficar falando, sabe?
Até porque ela trabalha na UTI e vê muito acidente com eletricidade. Fica preocupada. Coisa
de mãe... Quando levanto, geralmente ela já está acordada, então bato um papo com ela, tomo
8h45 - Hoje estamos indo fazer a inspeção, a resistência de aterramento e o patrulhamento
na linha da Tangará. Já, já, vamos pegar a pick-up para irmos até lá. Nesse período verificamos
as condições do tempo e das vias de acesso. Estamos esticando os cabos aqui na torre 93 pra
poder fazer a resistência de aterramento. Essa torre vai dar trabalho. O terreno dela parece
estar se acomodando. A manilha está meio de lado. Não sei se vai dar certo, não... Mas a gente
vai subir pra tentar fazer esse serviço.
Diário de Marx Frederick
38 correntecontínua
correntecontínua 39
9h – O sol já está começando a incomodar. Como eu previa, não deu pra fazer o serviço.
A gente já subiu e já desceu. Não tem como tirar a manilha de lá. O terreno aqui parece
estar se acomodando e cedeu um pouco. Não dá para desconectar o para-raios.
9h10 - Estamos fazendo a torre 96. As torres anteriores a gente não conseguiu fazer porque
tinham umas casas atrapalhando. Também não conseguimos desconectar o para-raios. Pulamos para a torre 96 e iremos até a 120. Acho que em meia hora a gente acaba isso aqui.
9h30 - Eu estou na torre 99. Já estamos beirando... Estamos chegando perto da conclusão dessa linha.
10h40 - Encerrada a torre 105. A 106 não dá pra fazer. O igarapé está ali no meio.
Vamos ver se dá pra fazer a 107.
12h - Agora a gente vai dar uma parada. Vamos almoçar e descansar um pouco. Nosso
trabalho é muito desgastante. É difícil subir nas torres. Ainda mais num sol desses! A gente
sempre fala de condições favoráveis, só que é desumano trabalhar no sol. Temos que subir
numa torre, aí sobe, aí desce... O dia todo nessa batida em um calor de 40º. É doído! E
quando a gente não tem acesso? Tem que cortar de um vão pro outro na pernada? Andar
um, dois, três, quatro vãos... Complica. Às vezes tem fazenda com a porteira fechada com
cadeado e ficamos sem acesso. A gente não pode chegar e já ir metendo a marreta no cadeado dos outros. O jeito é ir a pé. Às vezes, você perde quase uma manhã ou uma tarde toda
pra chegar ao local. E o que nos deixa chateados é a falta de reconhecimento por isso. O
que você mais escuta é: “Ah... o pessoal de linha só sabe quebrar cabo”. Dedicamos quase
que uma vida pela Empresa. Fora o risco, tem outras coisas. Eu já tive colegas que estavam
viajando e não tiveram a oportunidade de ver o filho nascer. Estavam viajando porque a
prioridade deles era essa e tiveram que deixar a família em segundo plano. Mas, voltando à
minha hora de almoço, quando estou na cidade, fico até meio-dia e vou para casa. Chego
em casa meio-dia e meia. Almoço, tomo um banho e saio de casa uma e meia. Chego no
serviço cinco pras duas. Fico na Empresa até umas cinco e meia da tarde e vou pra casa.
14h20 - Vamos liberar o pessoal da Eletroacre que está nos acompanhando, dando
apoio aí para puxarmos esses cabos no meio desse mato. Se Deus quiser, a gente acaba
ainda hoje essa inspeção detalhada. Essa aqui foi a torre de suspensão 108.
14h45 - Estamos indo concluir a inspeção de patrulhamento de ruas. Acho, e espero,
que hoje seja o último dia. Já tem quase quatro semanas que a gente tá trabalhando nesse
serviço na linha de Tangará. Sempre falo ‘a gente’ porque somos uma equipe de verdade. O
nosso diferencial em relação aos outros colegas é que fizemos o curso de formação juntos.
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Entramos juntos na empresa. Quando éramos bolsistas, a época foi difícil. Muitos meses
longe de casa. Todo mundo se tornou uma família. Na nossa equipe é aquela bagunça... Um
alugando o outro. Eu os considero não só companheiros de trabalho, mas uma extensão da
minha família. E o clima no serviço é esse. A gente chega, bate boca e, no final, todo mundo
se entende. Porque todos estamos voltados para um só objetivo: o trabalho da gente. Sabemos que a nossa área é muito perigosa. Eu mesmo fui tirar uma pipa enganchada na torre
e, quando passei ali pelo lado, fiquei a um metro da fase. Se eu me aproximasse um pouco
mais dali, poderia pegar fogo. A gente tem que tomar cuidado, porque geralmente não há
segunda chance. Você simplesmente não sobrevive para contar a história. A segurança está
sempre em primeiro lugar. Eu sou responsável por eles e eles são responsáveis por mim.
18h - Agora estou indo para casa. Quando chego, tomo banho, dou um tempo e vou
para a faculdade às sete da noite. Estou fazendo o quarto período de ciências sociais na
Universidade Federal do Acre. Já tranquei muito. É difícil conciliar com o serviço. A gente
viaja muito. Quando a gente viaja, o pessoal acha que estamos nos dando bem, que é pra diversão, que demos sorte e temos uma vida boa. Nem imaginam que quando viajamos temos
tanto trabalho quanto aqui. Às vezes até mais. Geralmente não saímos para nos divertir. É um
serviço pesado. Ficamos o dia todinho no sol quente... Quando chega a noite, só queremos
dormir e descansar. Às vezes, no final de semana, durante a viagem, a gente sai. Mas isso só
acontece se no outro dia não tivermos serviço. Durante a semana fica difícil, sabe? Quando a
gente vai para uma cidadezinha dessas do interior e não há internet no hotel, a gente vai para
uma lan-house, aí fazemos amizade com o pessoal. Quando vamos jantar também. Apesar
disso, não dá pra criar vínculo de amizade mesmo. É difícil, principalmente porque a gente
geralmente vem muito focado no serviço. Resumidamente, a gente viaja para trabalhar.
Divertimento não é nem segundo plano, é quinto plano, sexto plano. Não dá pra ir e pensar
que vamos nos divertir, não... Sabe que vai é pra ralar mesmo. Mas eu estava falando da faculdade, né? Já era pra eu ter acabado há muito tempo. Estou tentando. Pego uma matéria
aqui, outra ali, e um dia chego lá. Vejo como é importante ter um nível superior hoje em dia.
Para você ser reconhecido, sabe? Aqui na Empresa ocupo um cargo de nível fundamental,
mas tive um curso de formação com carga horária bem maior que a de um eletrotécnico,
por exemplo. Só que nem por isso eu sou mais reconhecido ou trabalho menos.
22h45 – Acabei de chegar em casa. Já, já, vou dar uma zapeada na internet, jogar um
vídeogame... Amanhã vai ser a mesma coisa. Só muda na sexta-feira. Se não tiver serviço
no final de semana eu durmo até as onze da matina, meio-dia. Na sexta saio, tomo a
minha cerveja. Sexta e sábado são os dias que eu gosto de sair, me divertir até mais tarde
e curtir meu samba.
(Colaboraram Leandro Alves, da Regional de Produção do Acre, e Camila Maia, estagiária)
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“Caro Alexandre, parabéns pela bela edição da
Corrente Continua 232. Um cumprimento especial ao Cesar Fechine pela excelente matéria da
página 32”.
Humberto Rodrigues Gama
- Superintendência de Expansão da Geração
- Brasília - DF
Fotolegenda
Correio Contínuo
“Belíssima a última edição da revista Corrente Contínua. Excelente trabalho nas reportagens
sobre os 25 anos de Tucuruí, Dardanelos e os
projetos de geração eólica, com destaque para
o respeito ao meio ambiente. Meus parabéns a
toda a equipe da Coordenação de Comunicação
Empresarial”.
Romualdo Chechin
- Auditoria Interna
- Brasília - DF
“Prezado Alexandre Accioly, somos prestadores de serviços na área de manutenção na rede
de distribuição da Vila Permanente em Tucuruí.
Sempre que posso arrumar um exemplar dessa
belíssima revista, faço uso da leitura por completo. Para termos na empresa o recebimento desses exemplares, gostaria de pleitear o envio para
o nosso setor”.
Francisco Rodrigues
- Eletrotel Engenharia e Telecomunicações Ltda
- Tucuruí - PA
“Prezada Isabel Cristina, li a edição nº 231 da
revista Corrente Contínua e achei o conteúdo rico
em informações. Eu sou um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde Pública do
Estado do Pará (Delegacia de base de Jacundá), e
também filho de expropriado da primeira etapa de
Tucuruí. Gostaria de saber com fazer para receber
a doação da revista”.
José Rubens
- Jacundá - PA
“Olá colegas, não recebi a edição nº231 da
nossa revista Corrente Contínua, que trata da recuperação de áreas em Tucuruí. Solicito o envio de
um exemplar para mim, cinco para a biblioteca da
Faculdade onde dou aulas (Faculdade Gamaliel) e
três para meus familiares que moram fora do estado, por gentileza”.
Adriana Higino Almeida de Souza
- Setor de Estudo e Análise da Operação
- Tucuruí - PA
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Estamos encalhados no tempo
Tudo está preso nos limites
O caminho distorcido pelo andar
Nuvens bobas, mato humilde
O vento aborrece até o perfume
E eu ainda tenho que
Carregar o peixe
Ele volta de bicicleta
E o cachorro
Vem por último
Texto: Alexandre Accioly
Foto: Rony Ramos
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