CIRCUITOMATOGROSSO CIDADES PG 4 www.circuitomt.com.br CUIABÁ, 4 A 10 DE DEZEMBRO DE 2014 VIOLÊNCIA Bairro nobre não garante segurança Moradores de bairro tradicional de Cuiabá sofrem com a falta de segurança. Estudantes são um dos principais alvos Diego Frederici Estabelecer uma residência próxima ao centro comercial e político de uma grande cidade é o sonho de muitas pessoas. A qualidade de vida proporcionada quando moramos num local de fácil acesso a lojas, universidades e demais opções de cultura e lazer dificilmente pode ser medida apenas pelo poder financeiro, embora o custo de manter um imóvel nessas regiões tenda a ser mais alto. O Boa Esperança, bairro localizado em Cuiabá, é um bom exemplo dessa realidade e que também cobra um alto preço de seus moradores. Luiza* é estudante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e moradora do Boa Esperança, bairro que abriga a instituição de ensino. A jovem de 19 anos saiu do interior de Mato Grosso em direção à capital em busca de adquirir conhecimentos e experiências que só quem cursa uma faculdade pública – um privilégio no Brasil – pode adquirir. Infelizmente, uma desses episódios deve ficar marcado negativamente na vida de Luiza: em abril deste ano ela e os demais residentes da pensão em Luiza não pôde contar nem mesmo com a segurança do seu próprio quarto na pensão em que mora, pois foi rendida dentro do seu dormitório que moram foram vítimas de um assalto. “Estava no meu quarto com uma amiga e de repente um homem armado invadiu nosso dormitório. Havia em torno de dez pessoas na pensão e eles renderam todas. Ficamos deitados com o rosto virado para o chão enquanto eles saqueavam nossos pertences”, conta ela. O dia 15 de abril de 2014, um sábado, foi a data escolhida por criminosos para o assalto à pensão onde Luiza reside. Quatro homens armados invadiram o local por Boa Esperança é um dos bairros de Cuiabá que mais contam com praças e áreas de lazer, mas sofre com a escalada de roubos e furtos que vitimam seus moradores Boa Esperança é campeão de ocorrências violentas Dados não oficiais apontam que o Boa Esperança é o campeão de ocorrências de crimes de roubos em Cuiabá. O Onde Fui Roubado (ondefuiroubado.com.br) é um site que possibilita o registro de ocorrências de furtos e roubos das pessoas que sofreram esse tipo de ação. De acordo com o ranking do site, o Boa Esperança aparece em primeiro lugar no índice de bairros mais perigosos da capital, seguido por Centro Norte, Quilombo, Centro Sul, Jardim das Américas, Jardim Europa, Areão e CPA II. De acordo com o site, levando apenas em conta os crimes registrados pelos usuários, Cuiabá é a 24ª cidade mais violenta do Brasil, totalizando 124 assaltos a mão armada, 40 furtos, 19 assaltos coletivos e 7 roubos de veículos. Entre os objetos preferidos dos assaltantes estão celulares (152), bolsas (77), carteiras (74), cartões de crédito (35), notebooks (29) e relógios (19). A maior parte das vítimas é composta de homens (67%) e o horário preferido é o noturno (65%). Desde janeiro de 2012 o site já contabilizou 243 denúncias e estima um prejuízo de mais de R$ 556 mil. volta das 21h. Eles renderam os ocupantes do estabelecimento que se encontravam no local, colocaram-nos em um dos quartos e saquearam “joias, notebooks, cheques e dinheiro”, conta Luiza. A estudante afirma que mesmo nesse momento não pôde contar com ajuda policial. Ela relata que um grupo de amigos, que na hora do assalto veio buscar um dos residentes para uma festa, estranhou a movimentação da casa e o fato de o morador não ter aparecido, mesmo após ser chamado e não responder às mensagens do celular. Luiza afirma que eles se dirigiram à base da Polícia Militar que fica a pouco mais de 200m da pensão, mas que os agentes se recusaram a realizar uma averiguação. Os pequenos furtos também são um problema para os moradores, a exemplo de Flávio*, que caminhava em direção à república que divide com outros estudantes, também no Boa Esperança, quando teve a carteira e o celular roubados em plena luz do dia, em julho deste ano. “Me abordaram e pediram para entregar celular e carteira. Ele me ameaçou com uma faca e estava muito nervoso”, diz o jovem de 21 anos. Violência diminui valor do imóvel Com bom número de praças, abrigando a principal instituição de ensino superior de Mato Grosso (UFMT), vida noturna agitada pelos bares e restaurantes e próximo a shoppings, mercados e comércio em geral, o Boa Esperança teria tudo para se tornar um dos bairros mais caros da capital – não fossem os assaltos, furtos e roubos que intimidam os moradores da região. Esse talvez seja um dos fatores que explicam o resultado de uma pesquisa publicada pela Exame, uma das revistas preferidas dos empresários brasileiros, em junho de 2014. De acordo com ela, os bairros cujo metro quadrado são os mais valorizados em Cuiabá são Cidade Alta, Duque de Caxias 1 e 2 e Santa Helena, com valores que oscilam entre R$ 5,5 mil e R$ 6,35 mil. O alto preço representa quase o dobro do verificado no Boa Esperança, que registra valor do metro quadrado entre R$ 2,95 mil e R$ 3,95 mil – um custo de imóvel comparado a bairros como Porto, Morada do Ouro e Dom Aquino, segundo a pesquisa. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais, Comerciais e Condomínios de Cuiabá e Várzea Grande (Secovi- MT), Marco Pessoz, o valor do aluguel pouco muda em relação à violência, uma vez que o que o determina é a “necessidade das pessoas”. Contudo, de acordo com o representante patronal, o preço de um imóvel é influenciado pelos índices de furtos e roubos que um bairro registra. “O que temos aqui em Cuiabá é falta de imóveis disponíveis para a locação, ou seja, assim que você coloca um imóvel para locar, a demanda é alta. Por isso a violência não influencia muito no preço, diferentemente de seu valor de venda, que pode, sim, cair muito, dependendo do bairro”. Marco Pessoz, do Secovi-MT, afirma que violência pouco influi no valor do aluguel mas pode desvalorizar imóveis na hora da venda