Astronomia - Divulgação ALTERAÇÃO DA DURAÇÃO DO DIA E DO EIXO DA TERRA PELO SISMO DO CHILE O sismo de magnitude 8,8 que teve lugar no Chile no passado dia 27 de Fevereiro de 2010, pode ter encurtado a duração do dia na Terra. Para quantificar esta alteração, uma equipa de cientistas do Jet Propulsion Laboratory (NASA) liderada por Richard Gross, usou simulações de computador e concluiu que o sismo deve ter encurtado a duração do dia Terrestre em cerca de 1,26 microsegundos (um microsegundo é o milionésimo de um segundo, 1/1.000.000 s). Talvez o mais impressionante seja o quão o sismo alterou o eixo de simetria definido pela forma da Terra (eixo em torno do qual a massa da Terra se encontra distribuída), que difere em cerca de 10 metros do eixo de rotação do planeta que, esse sim, define a direcção NorteSul e os pólos. Calcula Gross que o eixo foi desviado em 2,7 milisegundos de arco (cerca de 8 cm). Para comparação, o mesmo modelo computacional estimou que o sismo de Sumatra de magnitude 9,1 (em 2004) deve ter encurtado a duração do dia em 6,8 microsegundos e o eixo terrestre ter-se-á desviado de 2,32 milisegundos de arco (cerca de 7 cm). Apesar do sismo Chileno ter sido muito menor do que o de Sumatra, é previsto que tenha alterado um pouco mais o eixo da forma da Terra, por duas razões. Em primeiro lugar, ao contrário do sismo de Sumatra que foi localizado perto do Equador, o sismo do Chile foi localizado em latitudes médias, o que o torna mais eficaz a produzir esta alteração. Em segundo lugar, a falha geológica responsável pelo sismo de 2010 mergulha na Terra num ângulo mais agudo do que o de Sumatra, o que torna a falha do Chile mais eficaz a mover a massa da Terra verticalmente e, assim, a desviar o eixo de simetria da forma da Terra. A equipa estima que as previsões sofram alguns ajustes consoante as informações do sismo sejam analisadas. Entretanto, estas conclusões são contestadas. Nesta posição encontra-se a autoridade mundial que mede a rotação da Terra, o Earth Orientation Center (EOC), usando referenciais geodésicos e astronómicos de modo permanente e recorrendo a todas as medições efectuadas no Mundo, que pertence ao International Earth Rotation and Reference Systems Service (IERS), entidade que decide da introdução de segundos extra Núcleo de Astronomia do Clube Millennium BCP 1 Astronomia - Divulgação à Hora UTC, por comparação do período de rotação da Terra com a escala do Tempo Atómico Internacional, obtida pela média dos relógios atómicos disseminados pelo mundo. O EOC reportou (recentemente) que o sismo de Fevereiro passado, no Chile, não causou nenhum efeito detectável nem no pólo do eixo nem no período de rotação. Independentemente do sismo, o pólo de rotação move-se desde alguns milímetros a muitos centímetros por dia devido ao contínuo movimento das massas atmosférica, oceânica e hidrológica. Estudos mostram que a mudança média da posição do pólo que ocorreu em cada mês de 2009 ronda os 2,4 metros (variável) correspondendo a uma variação média diária de 8 cm. Até agora o efeito do sismo permanece apenas teórico. De acordo com os modelos de Richard Gross, o sismo terá o efeito de desviar o pólo de rotação em 8 cm durante alguns meses, o que é uma pequena variação em comparação com o percurso de vários metros que regularmente efectua nestes períodos. Com os dados atmosféricos, oceânicos e hidrológicos, a movimentação do eixo será modelada com um erro de 50 cm, de modo que o eventual efeito do sismo não será discernível. A proposta de Gross é medir esta alteração de 8 cm recorrendo a dados obtidos pelo sistema GPS e pela navegação posicional das sondas espaciais da NASA. Estas técnicas têm sido usadas para evidenciar uma possível alteração na direcção do eixo de rotação terrestre ocorrida após o sismo de Sumatra em 2004, mas ainda nada foi detectado, com a acumulação de dados até agora. Na previsão de Gross, o sismo do Chile teria também diminuído a duração do dia, num valor máximo de 2 micro-segundos, o que é abaixo do erro actual de medição (10 microsegundos) e muito abaixo da variação diária normal que por vezes atinge os 50 microsegundos, causado na sua maioria pela movimentação da massa nos ventos dominantes. No seu livro, "Treatise on Geophysics" de 2007, Richard Gross mostra as variações sistemáticas do período da rotação terrestre. Estas estão na ordem dos milisegundos e que uma pequeníssima alteração de 1 microsegundo é extremamente difícil de determinar. Na prática, só um mega-sismo como o de 1960 que ocorreu no Chile, poderia causar efeitos mensuráveis pelas técnicas modernas. Núcleo de Astronomia do Clube Millennium BCP 2 Astronomia - Divulgação Para se ter uma ideia concreta do que ocorreu neste sismo, o Prof. Virgílio Mendes do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia (DEGGE) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, calculou recentemente as posições de algumas estações geodésicas situadas na zona Chilena, recorrendo ao cluster de computação "Nonius" do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, no Observatório Astronómico de Lisboa. O estudo tem como base a posição diária da estação na cidade de Concepcion, que foi determinada com base num referencial constituído por cerca de 40 estações mundiais globalmente distribuídas (o processamento envolve mais de uma centena e meia de estações receptoras GPS). O Prof. Virgílio Mendes da FCUL conclui que os deslocamentos sofridos pelas estações de Caucete, na Argentina, Santiago do Chile e Concepcion, também no Chile, em números redondos, tiveram distâncias de 650 km, 260 km e 100 km até ao epicentro, respectivamente. Houve, portanto, um deslocamento geral para Sudoeste e um afundamento da região. Concepcion foi a cidade mais afectada afundando-se 4 cm e deslocou-se 3 metros (SW). Notícia adaptada do artigo (mais técnico) publicado pelo Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) e que pode ser lido na íntegra em: http://www.oal.ul.pt/astronovas/varios/sismo_chile.html Outras fontes: NASA http://www.nasa.gov/topics/earth/features/earth-20100301.html Resultados das medições do EOC-IERS: http://hpiers.obspm.fr/eop-pc/news/news.html http://hpiers.obspm.fr/eop-pc/ Localizações para usar no "Google Earth": http://www.oal.ul.pt/astronovas/varios/sismo_chile.kmz Imagens: Google Earth e Mathematical Imagery by Joss Leys Núcleo de Astronomia do Clube Millennium BCP 3