Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Education Design in Amazonia: pathways to sustainability in the North Region OLIVEIRA, Alexandre Santos de, MSc, PUC-Rio/Fucapi/FAPEAM [email protected] MACIEL, Francimar Rodrigues, Esp. Fucapi/Indt [email protected] ABRAHÃO, Andre Luiz Batista, Esp. Fucapi [email protected] Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos a partir da experiência do Ensino do Design no Amazonas, através do 2º Simpósio de Educação em Design, realizado no mês de julho de 2009. Num primeiro momento, apresentamos um breve contexto do Ensino do Design na região norte para, em seguida, expor os objetivos e dificuldades encontradas na execução do 2º Simpósio, posteriormente discorremos sobre as principais reflexões levantadas, a partir das discussões, bem como as perspectivas que podem ser delineadas para o Ensino do Design no Amazonas, tomando como vetor a ótica da sustentabilidade. Palavras Chave: Ensino do Design, Amazonas, Sustentabilidade. Abstract This paper aims to present the results of the experience in design education in the Amazon state through the 2nd Amazon Design Symposium that was carried out in july 2009. At the first moment we present a resume of the design education in the Brazil north region. to the second moment the objectives and difficulties found in the proceedings of 2º Symposium will be described, after it the main thinkings emerged during the event as well as the perspectives that can be aligned to Design education in the Amazon State taking as a guide the sustentability view. Keywords: Design education, Amazonas, Sustentability. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Contexto do ensino do Design na Região Norte Segundo dados do MEC/INEP (2010) existem, na Região Norte do Brasil, 24 cursos na área do Design nas seguintes modalidade: Formação Sequencial (1), Bacharelado (7), Graduação Tecnológica (16), esses últimos receberam forte ênfase a partir da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sendo criados a partir de 2001, quando o CNE – Conselho Nacional de Educação (MEC, 2001) inicia o processo de regulamentação da modalidade de graduação tecnológica, com vistas à sua oferta regular. Dentre os 07 (sete) cursos de graduação, os mais antigos são o da Universidade Federal do Amazonas, criado em 1988, e o da Universidade Estadual do Pará, criado em 1999. Ao considerar a sua localização física, observou-se que o maior quantitativo de cursos de Design está no estado do Pará, com 1 (um) curso de Formação Sequencial, 4 (quatro) na modalidade Bacharelado e 7 (sete) na modalidade de Graduação Tecnológica. É importante ressaltar a existência de 1 (um) curso de Design na modalidade Graduação Tecnológica na cidade de Santarém, o único localizado fora da capital do Estado. Em seguida, está o Estado do Amazonas com 5 (cinco) cursos na modalidade Graduação Tecnológica e 3 (três) na modalidade Bacharelado, todos eles na cidade de Manaus. Completando o cenário detectamos nos estados do Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins a existência de 1 (um) curso na modalidade Graduação Tecnológica em cada um dos estados mencionados, confirmando a presença de atividades de ensino relacionadas ao campo do Design em todos os estados da região norte do Brasil. No tocante aos 7 (sete) cursos na modalidade Bacharelado e suas habilitações, 2 (dois) deles assumem uma tendência generalista no que respeita à formação, 2 (dois) denominam-se cursos de Design de Produto, 2 (dois) de Design Gráfico e 1 (um) de Interface Digital. Quanto aos cursos de Graduação Tecnológica, 3 (três) denominam-se cursos de Design Gráfico, 1 (um) de Design Gráfico e de Produto e também aparecem elencadas outras modalidades, tais como: Comunicação Institucional, Design de Interiores, Moda e Produção Multimídia, perfazendo o total de 16 cursos na modalidade Graduação Tecnológica. Atualmente, e com a anuência da legislação educacional que vigora no país, a Lei 9394/96, é possível observar a proliferação dos cursos na modalidade Graduação Tecnológica. A oferta de cursos de Design nesta modalidade, na cidade de Manaus, apresentase, segundo dados do MEC/INEP (2009), com um quantitativo de 5 (cinco) cursos desta natureza, todos eles abrigados em instituições de ensino particular. Por outro lado, os cursos na modalidade Bacharelado, se constituem em número de 3 (três), sendo que, apenas 1 (um) é mantido por instituição pública de ensino, a saber, aquele mantido pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Os dados indicam ainda que há um crescimento da atividade do ensino do Design na região, neste sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de ações com vistas a contextualização deste fenômeno, estando o campo do Design atento às perspectivas e possibilidades que um discurso articulado entre o ensino do Design e as questões de sustentabilidade podem proporcionar ao Design como campo e conhecimento e como atividade profissional. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Por outro lado, é importante ressaltar que os dados apresentados não podem ser comparados com as demais regiões do país, uma vez que a Região Norte possui peculiaridades geográficas, históricas e sociais que a diferem de outras regiões do Brasil. Sendo assim, a região, e especificamente no Estado do Amazonas, o ensino do Design, tal como ele se apresenta ali, precisa ser visto a partir de suas especificidades, seus objetivos e perspectivas de sua implementação à recém-institucionalização da formação em Design. O ensino do Design no Amazonas, uma breve retrospectiva Quando procuramos retomar em retrospectiva os motivos que levaram a implantação de um curso de Design no Estado do Amazonas, entendemos que esta ação se constituía para além da vontade de seus idealizadores, uma consequência direta de um projeto de modernização iniciado na década de 50, que procurou conjugar, em suas várias fases, desenvolvimento econômico, desenvolvimento industrial e desenvolvimento social. Assim, observa-se que, diante dos modelos de desenvolvimento implantados na Amazônia até a década de 1980, fazia-se necessário criar uma série de estruturas tecnoeconômicas e socioculturais, capazes de estabelecer na região um ideal político de modernização, com vistas à sua integração ao cenário nacional, dando suporte aos projetos de desenvolvimento que terão lugar a partir de então. No Amazonas, dentre as instituições e instâncias que foram criadas para dar suporte àquele projeto de modernização, estava a inserção do Desenho Industrial que, segundo Cavalcanti (2005) respondia diretamente às demandas do setor produtivo regional e nacional, incentivando o desenvolvimento de várias ações na área de Design, dentre elas a criação em 1987 da Divisão de Design na Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI. Esta iniciativa se deu por meio de um consórcio entre a SUFRAMA, a ABIPTI – Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, através do Plano Estratégico de Ciência e Tecnologia – PEECT, culminando com a criação em 1988, do curso de Desenho Industrial na Universidade Federal do Amazonas – UFAM, sob forte influência da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Se por um lado, os modelos de desenvolvimento ao redor do mundo começavam a se estruturar sob novas perspectivas, veja-se por exemplo a queda do Muro de Berlim no ano seguinte, por outro, as lideranças nacionais e regionais (Cavalcanti, 2005) viam no Design, como elemento, a possibilidade de agregar valor aos produtos oriundos do surto de industrialização capitaneado pelo Polo Industrial de Manaus – PIM, recém-implantado. A institucionalização do Design através da implementação de um curso de Graduação favorece a ocorrência de uma série de desdobramentos para o recém-nascido campo do Design em solo amazônico, dentre eles podemos citar a atuação dos designers com formação superior nos diversos ramos do mercado e o exercício da docência, tanto no âmbito da Universidade Federal do Amazonas – UFAM como em outros cursos de graduação que foram sendo criados, tais como o da antiga Faculdade do CIEC, absorvido pela Faculdade Martha Falcão – FMF e no Instituto de Ensino Superior Fucapi – CESF-FUCAPI, importante destacar 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte ainda o curso da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, que teve suas atividades suspensas no ano de 2005. Em se tratando de reflexões com relação ao ensino do Design, a tradição brasileira do “saber fazer” como requisito para o exercício de várias profissões, dentre elas a docência e o Design, tem gerado problemas, impasses e equívocos com reflexos, tanto nos processos de ensino, em se tratando da educação, quanto no âmbito do mercado de trabalho, no que respeita ao exercício da profissão pelo designer. Por outro lado e no tocante ao exercício da docência, o discurso da qualidade nos processos de ensino (Braga, 2006), acirrado pelas crescentes demandas da sociedade como um todo e em especial do setor produtivo, coloca ao ensino de Design, talvez por sua natureza interdisciplinar e multifacetada, uma série de desafios, dentre eles, destacamos aqui, as discussões no tocante à sustentabilidade. A percepção de que existia uma carência no tocante às discussões de cunho pedagógico no âmbito do Design no Estado, bem como a constatação de que a maioria dos docentes que atuam no ensino do Design não possuíam formação pedagógica bem como o desejo de fomentar a discussão sobre as especificidades do ser professor em cursos de Design, motivaram aquela iniciativa. À partir daquele primeiro evento, seus organizadores entenderam a necessidade de continuar discutindo a questão, dando ao evento uma periodicidade bienal. É neste contexto e pensando nestas questões que, a UFAM, a Faculdade Martha Falcão – FMF, o SEBRAE/AM – Serviço o Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, liderados pela Faculdade Fucapi e com o apoio da FAPEAM – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, realizaram nos anos de 2007 e 2009, o Simpósio de Educação em Design no Amazonas. No entanto é na segunda versão do evento que surgem as preocupações com a tríade, Design, ensino e sustentabilidade. Educação em Design: caminhos para a sustentabilidade O aumento dos cursos de Graduação em Design na Região Norte, bem como a necessidade premente de discutir o ensino do Design no Amazonas a partir de uma ótica de sustentabilidade, motivou a realização, em caráter regional, do 2º Simpósio de Educação em Design: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte, que teve como objetivo discutir o papel do ensino em Design na Amazônia, no tocante à temática da sustentabilidade, oportunizando a troca de conhecimentos e experiências que permitissem a emergência de processos de ensino e aprendizagem, com vistas a atender às especificidades e demandas do setor produtivo na região. Diante das questões ambientais que envolvem o planeta e a Amazônia, o evento buscou refletir sobre a relevância do discurso sobre sustentabilidade para os processos de integração das Instituições de Ensino Superior em Design na Região Norte. Neste sentido, as discussões sobre as problemáticas sociais, culturais e tecnológicas, envolvendo as áreas de Educação, Design, Tecnologia e Meio Ambiente, que tiveram lugar no evento, constituíram-se como basilares para a troca de conhecimentos na área de Design. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Os 20 (vinte) trabalhos submetidos à Comissão Científica do Evento, evidenciaram as ações de cunho didático que estão sendo desenvolvidas nos cenários local e regional, com vistas à conscientização e desenvolvimento de práticas e métodos de ensino focados na sustentabilidade. O evento objetivou ainda, promover o encontro entre pesquisadores interessados em questões de ensino, Design e sustentabilidade, favorecendo a troca de experiências, com vistas ao desenvolvimento de uma consciência ecológica em projetos de Design, voltada para as demandas regionais. As apresentações de pôsteres, palestras, minicursos e workshops com pesquisadores de âmbito nacional e regional, oportunizaram o compartilhamento de conhecimentos e experiências, possibilitando perspectivas de melhorias na qualificação do profissionais do Design delineando, através da educação em design, processos de conscientização entre discentes e docentes, com vistas ao enfrentamento dos desafios e a promoção de melhorias sociais e ambientais na, e para a, Amazônia. No tocante aos resultados qualitativos alcançados é importante ressaltar, dentre outros, 4 (quatro) aspectos que ficaram evidentes a partir da realização do evento: 1) a inserção do Amazonas e da Região Norte no núcleo da produção intelectual e das discussões concernentes ao ensino do Design sob uma ótica sustentável; 2) a criação de um espaço, entre os cursos de Design da Região Norte, para troca de ideias e produção de conhecimento no âmbito da docência em Design sustentável; 3) a revisão das práticas metodológicas nos cursos de graduação em Design, com impacto direto para os acadêmicos; e 4) a necessidade de uma maior interface entre as áreas de Design, Educação e Meio Ambiente, no tocante às questões da sustentabilidade, sob uma ótica transdisciplinar. Quanto às ocorrências que afetaram a realização do evento, é importante pontuar a presença de estudantes do interior do Estado, com 14 (catorze) inscritos da cidade de Parintins/AM. Outro ponto positivo foi a massiva participação de acadêmicos interessados no tema. A troca de conhecimentos, através da submissão de pôsteres, se constituiu numa oportunidade para que os presentes tivessem um maior conhecimento sobre as ações que estão sendo desenvolvidas, no âmbito das academias de Design na Região Norte, com vistas à sustentabilidade. A contribuição dos palestrantes e dos participantes das mesas redondas, através do diálogo e troca de ideias, se constituiu de suma importância para desencadear ideias e perspectivas para discussões e ações no tocante à temática da sustentabilidade, no âmbito dos processos de ensino, questões estas que serão esboçadas na próxima seção deste artigo. Por outro lado, a realização do evento em período de férias e recesso acadêmico se constituiu numa fragilidade, tendo em vista a participação de um quantitativo de docentes abaixo do esperado, outra constatação é que talvez um evento desta natureza precise ser redirecionado com vistas a abarcar um público mais amplo, inclusive de outras áreas de conhecimento, tais como as Engenharias e as Ciências Biológicas. Ficou evidente ainda a necessidade de estabelecimento de parcerias com instituições ligadas ao meio ambiente, a fim de reconhecer demandas, ouvir especialistas e afinar o discurso, através de práticas e experiências interdisciplinares, no tocante às discussões relativas à sustentabilidade. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte Ensino do Design na Amazônia: a hora da sustentabilidade? Nesta seção apresentamos, de forma sintética, as principais reflexões e conclusões a partir das discussões que tiveram lugar no evento, bem como as perspectivas que podem ser delineadas para o Ensino do Design na Região, tomando como vetor a ótica da sustentabilidade. As discussões tiveram como ponto alto, dois grandes momentos, o primeiro diz respeito ao papel da academia e sua importância como articulador das ações com vistas a um Design sob a ótica sustentável e o segundo, chama a atenção para a necessidade de pensar métodos, produtos e processos sob uma perspectiva sustentável. O papel da academia No conjunto das motivações e provocações geradas no simpósio, recorremos a Salazar (2006: 147) que, ao discutir a questão da sustentabilidade na Amazônia sob o viés da economia, chama a atenção para o papel das instituições de ensino no Brasil no que respeita à produção de conhecimento pelas vias da pesquisa científica e tecnológica, para ele “(...) a comunidade universitária não percebe a sua importância como alavanca científica e tecnológica para o progresso social”. Esta ausência de percepção, aliada à lógica de preparação para o mercado de trabalho, que tem impregnado as mais diversas instituições de ensino no país, inibem o desenvolvimento de práticas acadêmicas que tenham como finalidade pensar a realidade social, na qual as instituições estão inseridas. Considerando ainda, juntamente com Papanek (2004), que o design é o esforço intuitivo e consciente para estabelecer significado às coisas, nos perguntamos: diante deste período transitório, onde se têm na região amazônica brasileira, um dos grandes cenários mundiais de sustentabilidade, observam-se perspectivas positivas para que o ensino superior em Design se constitua, efetivamente como uma potencial ferramenta para o desenvolvimento de ações que beneficiem o homem e o meio ambiente, incentivando novas pesquisas e quiçá, a promoção de uma consciência crítica e ecológica em projetos, pois, a partir de seu olhar multidisciplinar, o Design, como campo de criação e projeto, pode tornar-se um dos agentes construtores da relação entre os atores: cultura, matéria, objeto, sujeito e tecnologia? Por outro lado e durante as duas décadas de institucionalização do Design na região, por meio da atividade acadêmica, a não existência de uma agenda comum que comungasse interesses locais e regionais, tem impossibilitado o diálogo entre os segmentos do Design na região. As discussões em torno da sustentabilidade seguramente, se constituem na pauta de uma agenda que nos interessa a todos e, sendo as academias as principias instâncias de produção de conhecimento deste país e isto não é diferente na região amazônica, talvez o seu poder de mobilização permita avanços neste campo. Um desafio, pois dada diversidade geográfica e as dificuldades para estabelecer um nível de comunicação mínimo entre as instituições, o conhecimento e a troca de experiências ficam pulverizados impedindo a formação de uma rede que favoreça o compartilhamento e consequente fortalecimento de propostas teórico-práticas que deem conta do binômio Design/Sustentabilidade. Assim, o necessário engajamento das pessoas e dos diversos atores da comunidade acadêmica, especialmente daqueles que exercem funções docentes e daqueles que ocupam 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte posições de maior poder hierárquico nas instituições superiores de ensino, se constitui fundamental, com vistas a dinamizar ações voltadas para uma sustentabilidade ecológica. Métodos, produtos e processos Pensar métodos que promovam produtos e processos adequados à realidade da região com vistas a sustentabilidade se constituiu o segundo aspecto que mereceu atenção durante as discussões tratadas no simpósio. Ficou evidente que, pensar em métodos, procedimentos e conceitos no âmbito dos cursos de Design se constitui, ao mesmo tempo num desafio e numa oportunidade (Barbosa, 2009 e Couto, 2009). Para Silva (2009), tanto o cenário acadêmico como o setor produtivo, precisam atualizar-se constantemente. Conduzindo à seguinte pergunta: a quem queremos atender quando ensinamos? Esta pergunta, segundo ela, conduz ainda à perspectiva de uma ecologia industrial que envolva todos os atores da cadeia produtiva: ambiente, consumidores e recicladores. Desmaterialização, substituição de materiais, reciclagem, extração de materiais úteis e resíduos, se constituem desafios para pensar as questões de sustentabilidade, nesta perspectiva, falta pensar produto e processo. Para tanto, o caráter interdisciplinar do Design é ferramenta básica onde “é preciso pensar com a cabeça na floresta” (Silva, 2009). Nas engenharias estes processos são pensados por meio de trocas mas e em termos de Design? Neste sentido, e de acordo com Barbosa (2009), o ensino do Design, com sua capacidade para catalisar coisas, aliada à experiência em projetar produtos e experienciais que levem a inovações sociais, não pode se furtar a atuar em duas grandes frentes: 1) A formação: que deve privilegiar uma formação humanista que favoreça a construção crítica e a convivência de alteridades na discussão teleológica (os fins últimos) sobre o ato de projetar. 2) O desenvolvimento de métodos: para avançar na prática do Design sustentável com vistas ao uso racional e eficiente dos recursos em escala planetária de forma otimizada. Por outro lado, no mote da discussão, ficou evidente que métodos que viabilizem produtos e processos sustentáveis, no cenário amazônico, se constitui numa oportunidade, pois diante da infinidade de recursos e possibilidades materiais, e dada a iminência de desaparecimento desses recursos em escala planetária, a possibilidade de experimentação e de re-aproveitamento, reutilização, revisão de processos, dentre tantas outras atividades inerentes ao Design, tem na região amazônica um palco privilegiado (Silva, 2009), o que nos leva a interrogar se não é chegada a hora e a vez da sustentabilidade no âmbito do Design no Amazonas. Conclusões Em síntese, ficou claro que, os crescentes debates sobre a Amazônia, suas potencialidades e seus problemas, coloca esta região no centro das atenções mundiais, principalmente no que concerne aos recursos naturais, bem como à sua biodiversidade. Neste 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Educação em Design na Amazônia: caminhos para a sustentabilidade na Região Norte sentido, a discussão sobre o papel, importância e finalidades da educação na região se constitui questão estratégica, para subsidiar investigações que tenham como foco o seu desenvolvimento político, social e econômico. O processo de visibilidade do Design nos cenários nacional e regional, requer o desenvolvimento das práticas acadêmicas que possam fazer frente a tais demandas e desafios. Tais práticas acadêmicas devem sobretudo possibilitar o processo colaborativo entre diversas áreas do conhecimento de maneira a permitir uma nova modelagem processual e projetual de ensino em Design, pois conforme afirma Couto (2009), a obsolescência de nossas ideias é consequência da tentativa de manter coerência e compatibilidade com padrões já superados. Assim, o desafio no tocante aos caminhos da sustentabilidade, pensados sob a ótica do ensino do Design, configurou-se, no 2º Simpósio, como um espaço e num fórum para pensar sobre o papel da Amazônia e do ensino do Design, com vistas a uma aproximação entre os processos de ensino e a realidade, através dos grandes temas que estão sendo tratados no conjunto maior da sociedade e um desses temas é a emergência de uma consciência e uma postura sustentável diante do ambiente que nos cerca. Faz-se necessário pensar no Design como necessário ao desenvolvimento de uma cultura que, se propõe interpretar corretamente os feedbacks ambientais e reconhecer o valor das alternativas propostas (Manzini, 2005). Assim, o ensino do Design, comprometido com as demandas da região e com a consequente melhoria da qualidade de vida do homem amazônico, precisa apresentar alternativas viáveis visando o desenvolvimento de ações e metodologias que oportunizem a reflexão-ação para dar conta deste panorama, uma vez que, produtos que utilizem soluções próximas da natureza e em harmonia com ela podem, não só agregar valor, mas contribuir para a sustentabilidade do planeta. Pois, segundo Barbosa (2009), preparar-se para a crise, significa preparar-se para o pior. A crítica levantada por ele aponta para o fato de no caso brasileiro e talvez por tradição ou por imitação também no caso amazônico, parece faltar ousadia de um fazer independente, objetivando a emergência da inovação a partir do conhecimento da nossa história com vistas ao planejamento do nosso devir, como civilização do sul das Américas. Referências BARBOSA, João Carlos Lutz. Panorama do Ensino de Design no Brasil com Vistas à Sustentabilidade. 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