Web tornou-se um diário aberto a fantasias pessoais por Andrea Jotta - psicóloga componente do NPPI Muitas vezes me pergunto até onde o ser humano poderá chegar, por meio da web? Mundo infinito, a web tem se caracterizado como um diário contemporâneo onde eternizamos pensamentos relações, fantasias e complementos. Diariamente postamos aqui um volume infinito de informações e brincamos com o que somos o que temos o que sentimos e sonhamos. Mais que um mundo pra te trazer o mundo, vamos aos pouco desenhando no ciberespaço um mundo novo pra nos trazer a nós mesmos. São os infinitos particulares que postamos, por e-mails ou em redes sociais, que têm forjado muitas vezes o que pensamos e sabemos de nós mesmos. Na inocência de nossos conhecimentos sobre nós e sobre o outro, aprendemos que nem tudo que queremos dizer será bem entendido na web. Da exposição excessiva ao desejo de aprovação dos mais carentes, vamos desenhando nossas necessidades mais secretas e demonstrando nossos sentimentos mais profundos. Enganam–se os que acham necessário fazer alarde sobre o que sentem para que o outro entenda a intensidade de seus sentimentos via web. A rede intensifica tudo, uma vez que o que não é literalmente dito e explicado, acaba sendo preenchido pela fantasia do outro. É assim mesmo: aquela foto com a hostess da boate vira, em segundos, uma amante de mais de cinco anos com quem você montou uma outra família e tem mais dois filhos, inclusive o menino que você tanto almejou mas que não obteve com sua esposa legitima. Nós, seres humanos, temos mesmo essa tendência a completar o que não vemos com nossas fantasias. Muitas vezes, dependendo da intensidade do sentimento que conseguimos nutrir pelo outro, essa fantasia pode nos convencer de que ele é nosso príncipe encantado ou nos decepcionar para sempre com a mesma intensidade. O outro aqui, muitas vezes, nada mais é do que coadjuvante da história que criamos para nós mesmos e que - como está em nós - nos acompanha (algumas vezes até com determinada paranoia) onde quer que estejamos, já que a nós próprios, levamos a todo lugar. Os reencontros entre os ‘exs’, do que hoje se nomeiam “pegantes” (namoros que não engatam, mas também não se desfazem e que a vida se encarrega de esmorecer), histórias de amor que ficaram suspensas e acabam por misturar romance, fantasias, recordações, brincadeiras de sedução e desejos mútuos quando ganham a internet. Trabalhamos ainda com o que imaginamos que o outro é, está sendo ou se tornou. Somamos a isso expectativas não vividas e, pronto: fez-se uma história de novela. A pergunta aqui talvez devesse ser: mas, quem garante o final feliz? Outro dia questionei uma amiga sobre uma foto no MSN, perguntei quem era o lobisomem que estava com ela na foto; ela não entendeu, e respondeu dizendo “não coloquei nenhuma foto de lobisomem, nem de festa a fantasia, nem de nada que pudesse se parecer com isso!” Eu falei “bom, pra mim parecia um lobisomem”, e ela, encafifada, tentou então se lembrar do que poderia ter me feito pensar assim. Trouxe à tona então uma historia comprida sobre uma balada onde uma amiga resolveu colocar o cabelo para frente, e os óculos escuros em cima, em sinal de protesto à balada escolhida. Ela então disse: “não é lobisomem, é o primo iTi”; Ao que concluímos: “veja bem o que você posta na web, pois você posta o primo iTi e eu vejo um lobisomem, sendo que ambos, na verdade eram só uma amiga protestando contra a escolha do lugar da balada”. Pois é, mas então, voltamos à seara da fantasia. Não existem certezas na vida contemporânea e a eternidade faz parte do mundo dos mortos, não dos vivos. Viver buscando eternizar os sentimentos é o mesmo que buscar não mais sentir. Incoerente com nossos comportamentos na web, essa busca de certezas nos faz conflituosos e decepcionados. Talvez um dia consigamos entender de que forma a web de fato nos ajuda. Pode parecer que aqui eternizamos sentimentos, mas, na verdade, eternizamos sua lembrança, ou seja, reavivamos os sentimentos, e é desse avivamento que alimentamos muitos dos nossos relacionamentos no espaço da virtualidade.