A REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO AMAZÔNICO: O CASO DE RONDÔNIA Murilo Mendonça Oliveira de Souza* Profa. Dra. Suely Regina Del Grossi** Resumo O presente artigo tem como objetivo geral compreender as dimensões que concorreram, historicamente, para a formação do espaço regional representado pelo estado de Rondônia. Valorizamos, neste sentido, o processo de formação territorial e planejamento estatal/capitalista que avançou sobre o território rondoniense, especialmente, a partir da década de 1970. Metodologicamente, além do levantamento e leitura de textos referenciais, no que se refere à regionalização do espaço amazônico, foi realizado também um trabalho de campo exploratório em Rondônia, no período de janeiro a fevereiro de 2008, que nos forneceu elementos empíricos para a análise aqui apresentada. Didaticamente, dividimos a reflexão em duas partes principais, sendo a primeira sobre a regionalização amazônica de forma geral e a segunda considerando especificamente o território rondoniense. Esperamos, assim, contribuir com o debate em torno da regionalização do espaço amazônico, considerando seus conflitos e contradições. Palavras-chave: Amazônia. Rondônia. Região. Regionalização. Colonização. 1 INTRODUÇÃO A região como categoria de análise pode ser resgatada em estudos tão antigos quanto a própria existência da geografia como ciência específica. E mesmo antes da geografia ser considerada em sua unidade científica, o filósofo e professor de geografia Emmanuel Kant, como relembra Lencioni (1999), já dizia que nada poderia ser representado sem a noção de espaço, que conteria o fundamento de toda percepção sensível. E a idéia de espaço, neste caso, já vinha acompanhada da concepção de região. Portanto, a noção de região e de regionalização do espaço, ainda que não de forma sistematizada, permeia o desenvolvimento da ciência geográfica desde a consolidação dos elementos que lhe dão sentido. Por outro lado, a região como categoria específica e aprofundada de análise geográfica consolida-se, de fato, com os estudos regionais do francês Paul Vidal de La Blache. Para este autor, apesar de descrições que alcançavam a dimensão humana, o ponto de partida para caracterização das diferentes regiões foi o meio natural. Quando escreve em 1903 o Tableau de la géographie de la France, sua inspiração da divisão regional trazia os ecos da leitura que fazia dos geólogos, principalmente. Portanto: “[...] o conceito de região natural nasce, pois, * Aluno do Curso de Geografia da Faculdade Católica de Uberlândia (FCU). Email: [email protected]. Coordenadora e Professora do Curso de Geografia da Faculdade Católica de Uberlândia. Email: [email protected]. ** Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 126 desta idéia de que o ambiente tem um certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade. Surge daí o primeiro debate que tem a região como um dos epicentros” (GOMES, 2001, p. 55). Com o tempo, entretanto, a região foi agregando elementos de análise ligados, para além do meio natural, às questões sociais, econômicas, políticas e culturais. Isto, mesmo na obra dos geógrafos da escola francesa, que haviam partido do estudo dos elementos físicos da natureza. E, no Brasil, foi esta concepção de região, já permeada pelas dimensões humanísticas, que acabou por se materializar nos estudos geográficos. Os estudos regionais de Pierre Monbeig e Leo Waibel, por exemplo, resguardado seu caráter descritivo, tiveram importância central na construção da geografia brasileira. Inseriram o fator humano na descrição de nosso território, congregando em suas análises a sociedade e a natureza. Estes estudos regionais, desenvolvidos no âmbito da geografia ou de ciências correlatas, foram essenciais para o processo político de regionalização do espaço geográfico brasileiro. Nesse sentido, as análises colocadas em prática foram fornecendo elementos para as delimitações territoriais administrativas do território brasileiro. Às vezes valorizando em maior proporção as características naturais do espaço e, outras, aquelas mais ligadas às questões sócio-econômicas, grande número de propostas para recortar, na teoria e na prática, o espaço territorial do país, foram sendo gradativamente apresentadas. Contanto, algumas propostas conseguiram agregar mais concretamente os elementos constituintes do espaço geográfico brasileiro. Entre todas as proposições de regionalização, contudo, aquela que de fato se perpetuou, em especial para fins político-administrativos, foi a concepção de regiões homogêneas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), construída a partir do início da década de 1940. A idéia central desta concepção transparece na citação abaixo, quando são abordados os critérios para delimitação das mesorregiões. A Divisão Regional do Brasil em mesorregiões, partindo de determinações mais amplas a nível conjuntural, buscou identificar áreas individualizadas em cada uma das Unidades Federadas, tomadas como universo de análise e definiu as mesorregiões com base nas seguintes dimensões: o processo social como determinante, o quadro natural como condicionante e a rede de comunicação e de lugares como elemento da articulação espacial (IBGE, 2010, não paginado). Esta mesma concepção de regionalização do espaço foi base para a divisão do país em estados, em microrregiões geográficas e municípios. Esta proposta de regionalização, no entanto, não responde satisfatoriamente, na atualidade, pelas características particulares assumidas por cada porção do território brasileiro. E se para o país como um todo esse Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 127 problema existe, para a chamada região amazônica, tal problema torna-se ainda mais considerável. A Amazônia, na construção regional do IBGE é vista como uma grande área homogênea, tanto em sua dimensão natural quanto na humana. Ao contrário disto, como destaca Porto Gonçalves (2001), a Amazônia é, sobretudo, diversidade. Em um hectare de floresta existem inúmeras espécies que não se repetem, em sua maior parte, no hectare vizinho. Há a Amazônia da várzea e a da terra firme. Há a Amazônia dos rios de água branca e a dos rios de águas pretas. Há a Amazônia dos terrenos movimentados e serranos do Tumucumaque e do Parima, ao norte, e a da serra do Carajás, no Pará, e há a Amazônia das planícies litorâneas do Pará e do Amapá. Há a Amazônia dos cerrados, a Amazônia dos manguezais e a Amazônia das florestas (PORTO GONÇALVES, 2001, p. 9). Além desta diversidade ambiental, a região amazônica apresenta uma população também muito diversa em sua forma de viver e conviver com o meio natural. E, assim como as características naturais, a cultura amazônica influencia na regionalização do espaço amazônico. Nesta grande e diversa região está inserido o estado de Rondônia. O território rondoniense talvez seja a parcela amazônica que guarda a maior amplitude de características, tanto ambientais quanto humanas. Esta diversidade, por sua vez, está calcada no intenso processo de formação territorial pelo qual passou historicamente o estado. Tal processo transformou ontologicamente a paisagem, constituindo uma região com características específicas. Mas, contudo, perguntamos o que, de fato, confere uma unidade ao território rondoniense, que permite considerá-lo destacadamente? No sentido de buscar respostas para esta questão e para tantas outras quanto à regionalização do espaço amazônico e, especificamente, rondoniense, este artigo tem como objetivo geral compreender as dimensões que concorreram historicamente para a formação do espaço regional congregado pelo território rondoniense. Valorizamos, neste sentido, o processo de formação territorial e planejamento estatal/capitalista que avançou sobre o território rondoniense, especialmente, a partir da década de 1970. Metodologicamente, além do levantamento e leitura de referências, no que se refere à regionalização do espaço amazônico, consideramos também um trabalho de campo exploratório realizado em Rondônia, no período de janeiro a fevereiro de 2008, que nos forneceu elementos empíricos para a análise aqui apresentada. Didaticamente, dividimos a reflexão em duas partes principais: uma primeira parte destaca a regionalização amazônica de forma geral, onde pretendemos revisitar o processo de formação territorial desta macrorregião brasileira; e a segunda considerando especificamente Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 128 o território rondoniense, na qual discutimos as nuanças do processo de constituição territorial do estado, em especial durante o período militar. Esperamos, assim, contribuir com o debate em torno da regionalização do espaço amazônico, considerando seus conflitos e contradições, destacadamente aqueles ocorridos em Rondônia. FORMAÇÃO TERRITORIAL E PLANEJAMENTO NA AMAZÔNIA: UMA PROPOSTA DE RECORTE ESPAÇO-TEMPORAL As questões relacionadas ao processo de regionalização do espaço geográfico brasileiro estiveram, a partir da década de 1960, em especial, fortemente ligadas às políticas de planejamento socioeconômico e político. E, também a partir deste período, a Amazônia torna-se alvo prioritário para avanço capitalista e desenvolvimentista brasileiro, contando com capital nacional e estrangeiro. É importante, contudo, para que compreendamos as diferentes fases de constituição e regionalização do espaço amazônico, que delimitemos os períodos de ocupação desta fronteira. A primeira fase de ocupação dessa região aconteceu já no século XVII. Diversos autores caracterizam as fases de ocupação da Amazônia utilizando esse século como ponto de partida. Mesmo que não houvesse uma estrutura econômica bem estruturada, a região já passava nesse período, de forma esparsa, por um processo de apropriação de terras e das riquezas minerais e florestais. É oportuno apresentar aqui, entretanto, a classificação e delimitação temporal de Becker (2006) que propõe os seguintes períodos de ocupação e regionalização do espaço amazônico: período de Formação Territorial (1616-1930), período de Planejamento Regional (1930-1985) e período da Incógnita da ‘Heartland’(1985-...). Entendemos que esta classificação, resumidamente, engloba os principais períodos de ocupação da região amazônica, inserindo na discussão, ao mesmo tempo uma idéia de desenvolvimento regional. Por isso, seguimos abaixo com uma melhor explicação destes diferentes períodos, com suas respectivas subdivisões. O período de Formação Territorial pode ser dividido, ainda, em outras três fases, a saber: de apropriação do território (1616-1777), de delineamento da região amazônica (18501899) e fase de definição dos limites amazônicos (1899-1930). Até fins do século XVIII, este período teve como motivação a coleta e exportação das ‘drogas do sertão’. O delineamento aproximado do que, atualmente, se entende como região amazônica foi feito somente entre os anos de 1850 e 1899, por decorrência da preocupação imperial com a internacionalização da Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 129 navegação no grande rio e o ‘boom’ da borracha (BECKER, 1990). Os limites da região foram definidos, finalmente, entre 1899 e 1930, devido à preocupação com a manutenção do território e a exploração da borracha por outros países, em especial, a Bolívia. O segundo período de ocupação, período de Planejamento Regional, ocorreu entre 1930 e 1985. Nesse momento, como afirma Becker (2006, p. 25), “[...] acelerou-se sobremaneira o passo do processo de ocupação da Amazônia, marcado pelo planejamento governamental, com formação do moderno aparelho de Estado e sua crescente intervenção na economia e no território”. O inicio dessa fase de ocupação ocorreu na implantação do Estado Novo de Getúlio Vargas, com a “Marcha para o Oeste” e a delimitação oficial da região por critérios técnicos e científicos. Entende-se aqui, contudo, que este período inicial de ocupação amazônica, durante o Estado Novo, foi caracterizado por massiva propaganda Estatal, sendo que na prática o que ocorreu, até a década de 1950, foi um processo migratório espontâneo e pouco relevante (SOUZA; PESSÔA, 2007). No entanto, é somente a partir de 1966 que se inicia o planejamento efetivo na Amazônia. Este foi o momento em que o Estado assumiu a iniciativa de um novo e ordenado ciclo de ocupação da região amazônica, consubstanciado em um amplo projeto geopolítico para a modernização acelerada da sociedade e do território nacional (BECKER, 2006). Finalmente, o Estado brasileiro havia visualizado a possibilidade de tirar algum proveito econômico da Amazônia. Essa nova perspectiva de ocupação se deu, claramente, inserida em um contexto no qual a agricultura passava a se submeter fortemente às relações capitalistas de produção e a conseqüente mecanização do campo excluía grande quantidade de pequenos agricultores e trabalhadores rurais no Sul e Nordeste do país. [...] tratava-se de tirar proveito econômico da utilização do espaço brasileiro, associado à disponibilidade de recursos humanos, com a aplicação de recursos do capital já assegurado às novas regiões. Proveito para apoiar a manutenção do crescimento acelerado e para a abertura de novas frentes na conquista de mercados externos. (CALVENTE, 1980, p.10). Esse processo se desenvolveu no âmbito do Programa de Integração Nacional (PIN), tendo posteriormente se apoiado no primeiro e no segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND I – 1972/1974 e PND II - 1975/1979). Buscava-se com esses planos a integração de todas as regiões do país. Juntamente com os programas desenvolvidos nas áreas de cerrado, visualizava-se a região amazônica, a partir desse período, como área estratégica Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 130 para a definitiva integração do país ao mercado externo. Estratégia que se consolidou na frase “Integrar para não Entregar”. Um exemplo clássico dessa estratégia, a construção da Transamazônica, teve como objetivo principal promover o acesso a terra para 100 mil famílias de agricultores, absorvendo os excedentes demográficos do Nordeste e integrando economicamente esta região brasileira que, até então estava totalmente isolada (VALVERDE; FREITAS, 1980). O terceiro período de ocupação a Amazônia (pós-1985), que Becker (2006) conceitua como período de Incógnita do Heartland, caracteriza-se por uma perspectiva socioambiental que busca o desenvolvimento endógeno, voltada para seus habitantes. Por outro lado, problemas como a dificuldade de inserção nos mercados, acessibilidade e competitividade impedem sua plena expansão econômica e social. A grande leva de migrantes, em sua maioria pequenos produtores e trabalhadores rurais, que chegaram massivamente a partir da década de 1970 não tiveram neste último período o apoio do Estado em termos de infra-estrutura produtiva e apoio creditício para que a região amazônica socialmente se desenvolvesse. A região passa a contar, prioritariamente, com o capital empresarial e com a força de trabalho das famílias migrantes. É importante frisar que os posseiros e indígenas que já ocupavam, historicamente, a região foram totalmente ignorados durante todo o processo de ocupação recente da Amazônia (SOUZA; PESSÔA, 2007). Nesse contexto, o processo de ocupação e territorialização na Amazônia pautou-se por um processo de ocupação extremamente excludente. Ao mesmo tempo em que foram territorializados migrantes de outras regiões, especialmente, Nordeste e Sul (Paraná), foram desterritorializadas comunidades extrativistas, caboclas e indígenas. Em uma perspectiva de exclusão é que se deu a ocupação amazônica. Ou seja, como destaca recorrentemente, Bertha Becker, a região amazônica foi visualizada, historicamente, como uma grande fronteira de recursos, a serem infinitamente explorados. E neste âmbito, além de riquezas vegetais e minerais, está também inserido o povo amazônico. Este caráter foi ainda mais intenso em algumas regiões amazônicas, entre as quais, destacamos o estado de Rondônia, que passou por todo esse processo de ocupação, guardando, contudo, características próprias. Abaixo, buscamos apresentar, mais especificamente, estas características. REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL: O CASO DE RONDÔNIA Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 131 No que se refere ao estado rondoniense, é importante lembrar, em primeiro lugar, que até o inicio da década de 1960, a ocupação de Rondônia apresentava características muito semelhantes àquelas vigentes na região Amazônica de forma geral, a saber, o isolamento, o extrativismo e a baixa articulação com o restante do País. A partir daí, entretanto, Rondônia passa a ser vista como uma importante fronteira para a integração das diversas regiões em um contexto de desenvolvimento nacional (SOUZA; PESSÔA, 2007). A partir de 1960 os reflexos das transformações econômicas e sociais nas outras regiões do País, com a expansão do capital no sudeste, passaram a influenciar o processo de ocupação e exploração econômica de Rondônia. A rodovia CuiabáPorto Velho que fora iniciada na década de 1950 é completada nos fins da década de 1960. Através desta rodovia Rondônia pode estabelecer novas atividades e intensificar o relacionamento econômico com as regiões sudeste e centro-sul (CALVENTE, 1980, p. 17). No período que se estende até o inicio da década de 1970 a prioridade do Estado brasileiro estava direcionada para a área de abrangência da rodovia Belém-Brasilia, assim como, para a construção da rodovia Transamazônica. Esses grandes projetos, de certo modo mobilizaram o país no avanço sobre a região amazônica, mas, também foram responsáveis pelo gasto de uma infinidade de recursos públicos que não proporcionaram os resultados que se esperava. Assim, a Transamazônica, que seria uma região com capacidade de absorção de grande quantidade de migrantes e que teria um futuro promissor quanto à expansão do capital, transformou-se em um grande problema, desde que poucos migrantes conseguiram, de fato, se estabelecer nas margens da Transamazônica. As dificuldades com relação ao escoamento de qualquer tipo de produção agropecuária também tornaram, praticamente, impossível sua comercialização (SOUZA; PESSÔA, 2007). Este contexto político e econômico direcionou, já nos primeiros anos da década, os esforços de ocupação produtiva de fronteira para o estado de Rondônia. Esta perspectiva foi também fortalecida pela conclusão da rodovia Cuiabá-Porto Velho que havia sido, em fins da década de 1960, finalmente concluída. A inauguração desta rodovia aliada á necessidade de alocação de produtores excluídos no Sul e ao relativo insucesso da estratégia transamazônica, direcionou, definitivamente, as forças do Estado para a colonização agrícola de Rondônia (SOUZA; PESSÔA, 2007). O estado de Rondônia passou, conforme identificação de Maciel (2004), por cinco distintas fases durante o processo de ocupação do espaço agrário da região amazônica. Na perspectiva do autor, essas fases foram as seguintes: OPERAÇÃO AMAZÔNIA (1966-1970), Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 132 PROTERRA – I PND (1970-1974), POLOAMAZONIA (1974-1981), POLONOROESTE (1982-1992) e PLANAFLORO4 (1993 -...). A primeira fase, chamada de Operação Amazônia propunha uma nova perspectiva na ocupação da região amazônica, dispondo como principais objetivos: estimular a imigração; proporcionar incentivos ao capital privado; desenvolver a infra-estrutura; e pesquisar o potencial dos recursos naturais (MAHAR, 1978). Com a institucionalização do PROTERRA-I PND e do POLOAMAZONIA se estabeleceram os projetos de colonização dirigida no estado de Rondônia. De acordo com o entendimento de Maciel (2004, p. 98) os projetos de colonização dirigida nasceram “[...] com a finalidade de promover o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais e minerais em 15 áreas selecionadas e espacialmente distribuídas na Amazônia Legal”. Como destacam Souza e Pessôa (2007), nesse conjunto, em função de largas reservas de cassiterita e da qualidade de suas terras, Rondônia representa o pólo principal para o desenvolvimento de atividades agropecuárias e de exploração mineral. Posteriormente, estabeleceu-se o POLONOROESTE, que teve como principal objetivo a criação de infra-estrutura para o desenvolvimento do capitalismo em áreas rurais e urbanas. Esse programa foi responsável por intensificar a exclusão de produtores camponeses aqui estudados. Em 1993 foi criado o PLANAFLORO. Este novo programa iniciou uma era pautada por um suposto contexto de preservação da região amazônica. Buscou-se o incentivo de atividades que pudessem ser, ao mesmo tempo, produtivas e ambientalmente sustentáveis (SOUZA; PESSÔA, 2007). Nesse contexto apresentado, o processo de regionalização do estado em Rondônia caracterizou-se, assim como na Amazônia de forma geral, pela exploração sem limites dos recursos naturais. No inicio explorou-se a borracha, depois os minérios e as terras. E nesse âmbito, o homem foi sempre explorado também. Os próprios migrantes que se destinavam ao estado, o pensavam como uma área para fazerem um “pé de meia” e voltarem para a região de onde vieram. Não pensaram Rondônia como uma região para se construir um novo território. Apenas a partir da década de 1990 é que isto realmente passa a acontecer. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando as reflexões realizadas acima, entendemos que a região amazônica e, especificamente, o estado de Rondônia, tiveram em seu processo de formação e desenvolvimento características fortemente regionais. No estado rondoniense, em especial, a Revista da Católica, Uberlândia, v. 2, n. 3, p. 126-135, 2010 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 133 exploração de recursos naturais e humanos assumiu uma amplitude extrema, dando uma feição de região periférica para todo este território. Da mesma forma, continuamos pensando a região amazônica como um espaço homogêneo, sem diversidades ambientais e sociais. Acreditamos que esta deve ser a principal mudança para que consigamos caracterizar de forma mais aproximada esta grande e diversa região. Referências BECKER, B. K. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990. 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