06 ENTREVISTA www.jhoje.com.br Cascavel, 07 e 08 de junho de 2014 GÁS DE XISTO “Temos que pressionar a ANP para não cometer esse crime” PERFIL Na semana dedicada à preservação ao meio ambiente, um dos assuntos que entrou na pauta para debate é a exploração do gás de xisto, conhecida como fracking. O presidente do Comam (Conselho Municipal de Meio Ambiente), João Beckert, fala dos problemas que este processo pode trazer à cidade. “Se nós deixarmos isso acontecer, vamos ter prejuízos para o resto da vida. Por Entrevista de Romulo Grigoli Foto de Lorena Manarin Hoje: Cascavel está longe de conseguir a preser vação ambiental necessária? João Beckert: Acredito que não, porque a nossa cidade é bem arborizada, mas falta colocarmos em prática o plano de arborização que está sendo elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Nós do Comam temos uma comissão trabalhando neste sentido, contamos também com a FAG, Unioeste e com o Ceep que tem um curso em Meio Ambiente. Hoje: Com urgência? João: Sim. Há necessidade de fazermos isso com urgência porque daqui a 40 anos nossa cidade estará bem maior e precisará de mais árvores, que são responsáveis pela troca do carbono pelo oxigênio. Hoje: Ainda existem muitos cortes e podas inadequados? João: Atualmente não. Até fizemos um pedido ao Ministério Público e fomos atendidos. Não há condições de autorizar cortes de árvores, desde que não haja uma premente necessidade. Isso tem que ser muito bem analisado, mas acredito que a Secretaria tem feito um bom trabalho. A ONG Amigos dos Rios, no próximo dia 14 de junho, fará um plantio de árvores com o grupo de escoteiros Aldeia Verde. Já catalogamos mais de 55 espécies. Já havíamos plantado na área que recuperamos, é uma área degradada, mas já é possível ver mudas com até 40 centímetros, plantadas há cerca de cinco anos, que estão atingindo três metros de altura. Hoje: O que mais preocupa quando tratamos dos problemas do meio ambiente? isso, temos uma posição contra e assim que tivermos um relatório da nossa comissão vamos oficializar ao MP [Ministério Público] e o IAP [Instituto Ambiental do Paraná] para que tomem as devidas providências”. Ele também destaca a falta de educação ambiental, o que resulta no aumento do lixo pelas ruas, entupimentos de bocas de lobo e atitudes que prejudicam o ecossistema. João: O grande problema é a falta de educação. Há aqueles que sujam as vias públicas, entopem as bocas de lobo, deixam os lotes baldios sujos e depois fazem capina química. O Conselho está atento e quando há denúncias, as encaminharemos ao MP. Hoje: O que tem sido feito para controlar o despejo de inertes? João Beckert tem 69 anos é ambientalista, presidente da ONG (Organização Não Governamental) Amigo dos Rios e até o fim deste ano estará à frente do Comam (Conselho Municipal de Meio Ambiente). Casado e pai de três filhos, mora em Cascavel há 43 anos. Cultiva em casa mais de 16 espécies de plantas e defende projetos para ampliar a arborização na cidade. com o ecossistema, está estragando o que o sábio criador fez. Hoje: E quanto à exploração do gás de xisto na região? Hoje: Em relação à construção do Shopping Catuaí em uma área que, inclusive, é considerada de preser vação ambiental qual é a avaliação do Comam? João: Vemos com maus olhos. Em nossa última reunião, discutimos com uma comissão, para que se fossem feitos estudos preliminares, pois ainda não conhecemos a fundo o real prejuízo. Mas sabendo que a Alemanha, França e Itália já se posicionaram contra e que também há sanções em locais onde está sendo feita a exploração do fracking. Os europeus já não compram produtos oriundos dessas regiões, então a Argentina está amargando prejuízos. João: Nossa posição é contrária desde 2010, quando foi atendida a soJoão: O Comam já se posicionou e licitação do promotor Angelo Mazzucriou uma comissão que trabalhou nis- chi para suspensão das obras cuja liso. Informamos o MP, por meio de ofí- cença prévia, não foi outorgada em cio, e estão sendo tomadas as provi- Cascavel pelo IAP, mas em Curitiba. dências. São muitos casos. A falta de Entendemos que por se tratar de uma educação do cidaestrutura econôdão cascavelense mica de grande ainda é muito deve“O CONSELHO ESTÁ ATENTO E proporção, grande. Por isso é ria ser construída necessário mais em outra área. SEMPRE QUANDO HÁ consciência. Não Porém eles a quepodemos deixar rem ali, em cima DENÚNCIAS, AS este planeta de das nascentes. uma forma diferenNa época a obra ENCAMINHAREMOS AO MP” te da qual o recefoi embargada bemos. O nosso por decisão fedeDeus fez um ecossistema perfeito, mas ral, mas passaram por cima de tudo o homem, muitas vezes pela sua ga- e começaram a construção, que está nância financeira ou falta de educação novamente embargada. Hoje: E em outros países? João: Nos Estados Unidos é um projeto fracassado e economicamente inviável. Aqui no País estão focando as áreas mais produtivas na Bahia, onde se produzem mais grãos e tem água abundante. Na região Oeste do Paraná, em Cascavel, Toledo e Corbélia, o interesse é onde também há grande produção. Então se nós deixarmos isso acontecer, vamos ter prejuízos para o resto da vida. Por isso, temos uma posição contra e assim que tivermos um relatório da nossa comissão vamos informar o MP e o IAP, pedir para que tomem as devidas providências. Hoje: Quais os impactos que isso pode trazer ao meio ambiente? João: Serão inúmeros. São mais de 600 produtos químicos injetados há mais de dois mil metros de profundidade contaminando o lençol freático. Por isso temos que nos unir, fazer movimentos de classes e da população de uma forma geral, pressionando a ANP [Agência Nacional do Petróleo] a não dar a liberação, a não cometer este crime que será feito na nossa região. “NÃO PODEMOS DEIXA ESTE PLANETA DE UMA FORMA DIFERENTE DA QUAL O RECEBEMOS”