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Guia orientador de meditação bíblica diária
14 – 20 JUN 2010
Comunidade Evangélica no Rio de Janeiro
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Evangelho - um estilo de vida
(22
(22) O Pai Nosso – Nosso Pai1
Na
semana
passada
iniciamos
um
aprofundamento nos significados das palavras e
expressões utilizadas por Jesus no ‘Pai Nosso’.
Vimos que Deus quer ter um relacionamento de
pai e filho com cada ser humano.
Nesta semana veremos que Deus quer não só
ter um relacionamento de pai e filho, mas um
relacionamento de pai e filhos. Veremos que a
embora a salvação seja pessoal, o crescimento
espiritual nos conduz a considerarmos a
coletividade
mais
importante
que
a
pessoalidade.
O estudo desta semana nos propõe desafios.
Leia o texto e responda: Quais os três desafios
que temos que considerar quando oramos
‘nosso Pai’?
α–Ω
1
Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome;
venha o teu reino; faça-se a tua
vontade, assim na terra como no
céu; o pão nosso de cada dia dános hoje; e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos
perdoado aos nossos devedores;
e não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal,
pois teu é o reino, o poder e a
glória para sempre. Amém!
Referências:
1. KIVITZ, Ed René. Áudio de série de mensagens intitulada “A Oração do Pai Nosso”, proferida na
Igreja Batista da Água Branca, São Paulo, SP, no ano de 2006.
2. WILLARD, Dallas. A conspiração Divina. Editora Mundo Cristão. 2001.
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Dia 14 JUN
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás
nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu
reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como
no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e
perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
temos perdoado aos nossos devedores; e não nos
deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal, pois
teu é o reino, o poder e a glória para sempre.
Amém! Mt 6.9-13
O cristianismo desconhece
o conceito de indivíduo...
Qualquer oração motivada
por interesses egoístas,
paixões egocêntricas e
descomprometida com o
bem comum é uma oração
desconectada deste
propósito universal de
Deus que é ser Pai Nosso...
Pai Nosso! O Senhor Jesus nos ensinou a orar ‘Pai Nosso’. Na semana passada nós
refletimos sobre o significado de termos Deus como Pai, de sermos filhos de Deus.
Nesta semana vamos olhar esta palavra sublinhando o coletivo Pai Nosso. Deus é
nosso Pai.
Quando nos ensinou a orar ‘Pai Nosso’, Jesus deixou claro que Deus é não apenas o
maior responsável por essa comunhão universal como também deseja sentar-se a mesa
conosco. O propósito eterno de Deus contempla a unidade da humanidade.
Karl Barth2 diz que quando nós oramos o Pai Nosso, nós oramos na comunhão de todos
aqueles que oram conosco e oramos de maneira sacerdotal por todos aqueles que não
sabem orar. O propósito eterno de Deus contempla a unidade da humanidade. Assim
como Deus é um em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, Ele deseja que todos
sejamos um. E não apenas um entre nós, mas um com Ele, o Deus eterno. Isto significa
que a comunhão do Pai Nosso não é apenas uma comunhão histórica e universal, ela é
também uma comunhão espiritual e eterna. Deus não está organizando uma caravana
de indivíduos para levar para o céu: a caravana daqueles que individualmente aceitaram
a Jesus como salvador. Deus está redimindo a humanidade. Deus está restaurando a
raça humana, gerando uma nova descendência não mais em Adão, mas em Cristo. Por
isso, o Pai é nosso. Nosso não apenas do nosso grupo com o qual congregamos, mas o
Nosso Pai de toda uma nova raça criada ou recriada em Cristo Jesus. Por esta razão,
no cristianismo, a salvação é pessoal, a vida cristã é comunitária e nada, absolutamente
nada, é individual.
O cristianismo desconhece o conceito de indivíduo. Conhece o conceito de pessoa, mas
desconhece o conceito de indivíduo. Qualquer oração motivada por interesses egoístas,
paixões egocêntricas e descomprometida com o bem comum é uma oração
desconectada do propósito universal de Deus de ser Pai Nosso e está fora da moldura
da oração que o Senhor Jesus nos ensinou. Indivíduos em oração são um quadro
estranho ao cristianismo pois, ainda que o Senhor Jesus diga que devemos fechar a
porta do nosso quarto para orar, quando nós nos dirigimos a Deus a portas fechadas,
nós nos dirigimos a Deus dizendo: Pai Nosso e, portanto levamos no coração a
fraternidade universal. Orar como Jesus orou é orar de maneira inclusiva, abrangente,
graciosa, desprendida, altruísta, dadivosa, generosa. A oração do Pai Nosso é
profundamente marcada pela solidariedade da raça. Somos um! O que me afeta, afeta a
todo mundo, o que afeta ao meu próximo me afeta. O que afeta a um, afeta a todos.
2
Teólogo suíço falecido em 1968 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Barth).
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Ninguém é uma ilha. A vida é um encontro constante. A vida é uma rede, onde cada ser
humano é um nó e a fraqueza de um nó, é a fraqueza da rede inteira. Ou como disse o
poeta contemporâneo, ‘vivemos num mundo de uni multiplicidade, onde cada pessoa é,
sozinha, a casa da humanidade’. Por isso, é que Santo Agostinho orava a Deus como
‘aquele que cuida de um como se fosse todos e de todos como se fossem um’, porque
Deus é Pai Nosso. Assim, a oração acontece na comunhão. A oração não é uma
experiência individual e nem de indivíduos. A oração deve ser uma experiência onde o
nosso coração é dilatado para que caiba o maior número de pessoas dentro.
Nesta semana seremos desafiados. Há três formas de sabermos se estamos crescendo
na direção da fraternidade tal como proposta por Jesus e, assim, sermos capazes de
orar “Pai Nosso”.
A peregrinação cristã é uma peregrinação da individualidade para a pessoalidade, da
individualidade para a comunidade, do solitário para o que está em comunhão. Para que
esta peregrinação seja efetiva, as Escrituras nos sinalizam com indicadores que servem
também de balizadores da jornada. Estes indicadores nos auxiliarão a saber se estamos
tendo experiências de unidade com o próximo; se somos um com o próximo (porque
estar junto é diferente de ser um. Estar ‘com’ é diferente de ‘ser um’). Esse nosso, não é
o somatório de indivíduos. É a unidade de pessoas que, mesmo sendo muitas e
distintas e diversas, são um corpo só. Então, como podemos saber se estamos
desenvolvendo esta unidade?
Dia 15 JUN
1º desafio
Saberemos que estamos
tendo experiências de
unidade com o próximo
quando tiramos do nosso e
damos para o próximo.
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser
que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso,
semelhante fé salvá-lo?
Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem,
contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. (Tiago 2.14-17)
Sabemos que estamos tendo experiências de unidade com o próximo quando tiramos
do nosso e damos para o próximo. Quando ficamos com menos para que o próximo
tenha também. Quando suprimos as necessidades do próximo sem que seja com as
nossas sobras. Quando suprimos as necessidades do próximo, como por exemplo,
supriríamos as dos nosso filhos. Ou melhor, como a mãe supre dos filhos, porque os
pais não necessariamente fazem isso. Os pais, em geral, não deixam de comer para
que os filhos comam; as mães deixam. Pais não amamentam, as mães amamentam. Há
uma intensa relação simbiótica entre mãe e filho, até porque o filho saiu de dentro da
mãe, é parte dela. Certo pastor estava conversando com uma senhora e ela lhe
pergunta: “- Pastor, explica para mim, por que só mulher fica menstruada e homem não?
Por que só a mulher tem dez dias de tensão pré-menstrual e quatro dias de cólica
depois e homem não? Por que a mulher que dá a luz e se arrebenta toda, tem o seu
organismo todo alterado e deformado a partir da maternidade? Por que a mulher sofre
isso e o homem não sofre?” A resposta do pastor foi uma pergunta: “- Você gostaria de
trocar de lugar comigo? E eu gerar os meus filhos e não o seu ventre?”. Ao que a
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mulher respondeu prontamente, sem vacilar: “- Não!” O pastor disse: “- Então, está
respondido”. Porque a mulher tem este privilégio: a experiência de dar de si, enquanto
os homens tem muito mais a experiência de dar do seu. Tem efeitos colaterais, mas tem
esse privilégio. As mulheres têm muito mais a experiência de dar de si.
O texto de Tiago não está se referindo a solidariedade filantrópica; ele não está falando
de atos de bondade durante campanhas de fraternidade; ele não está falando de
campanha de Natal e nem de dar brinquedo em orfanato no dia das crianças. Ele está
falando de pessoas que tiram do seu, que tiram de si, e que repartem. Quando é que
alguém diz “- Estou necessitando de roupas e do alimento de cada dia” e a pessoa que
ouviu não reparte? Só tem uma possibilidade: é que a pessoa que ouviu acredita que
não tem para repartir. A questão é que Tiago está dizendo é “se é assim, se você é do
tipo que o que tem é para você e você não pode tirar nenhuma fração para repartir com
quem não tem, isto é, se você não é capaz de ficar com menos do que o necessário,
então você tem uma fé morta. Você ainda não sente que a fome do outro é a sua fome,
que o frio do outro é o seu frio”. O nosso raciocínio é: é melhor um com frio e um sem
frio do que dois mais ou menos com frio. O raciocínio do Tiago é: é melhor dois mais ou
menos com frio do que um com frio e outro sem frio; é melhor dois comendo pouco e
comendo menos do que o necessário do que um comendo o suficiente e o outro não
comendo nada; é melhor que morramos juntos do que sobrevivamos separados. Essa é
a lógica da Escritura. O que Tiago está dizendo é “se um morrer, os dois morrerão”.
Porque quando tiramos do necessário para repartir, nós começamos a entrar na
dimensão da unidade. E isto significa que a solidariedade legítima é a solidariedade
daqueles que não tem, não tem recursos, não tem tempo, não tem forças, não tem
ânimo, não tem vontade, não tem disposição, não tem experiência, não tem como
ajudar, mas se apresentam. Há um ditado que diz “Quem quer dá um jeito, quem não
quer dá desculpa”. O ser humano é muito melhor em dar desculpas do que em dar um
jeito. Desculpas para a vida egocêntrica há aos montes. Mas a Palavra de Deus diz que
nós não temos que dar desculpas, nós temos que dar um jeito. É quando sangramos,
quando a solidariedade arranca pedaços, quando nos doamos sofrendo, quando nos
damos e isto nos custa mais do que imaginamos que estaríamos dispostos a pagar, é
que estaremos entrando na dimensão da unidade.
Talvez alguém diga que esta visão da solidariedade, da fraternidade, da comunhão, é
uma visão pessimista, é uma visão estoica3, sofredora demais; e que é preferível ficar
com a nossa solidariedade social, politicamente correta, que não suja as mãos, que não
compromete a reputação, que não nos tira da nossa zona de conforto, que não nos faz
abraçar aqueles que não desejamos e muito menos nos faz abraçar aqueles que
julgamos não merecedores do nosso abraço. Mas para sermos um de fato, nós temos
que bendizer ao Senhor mesmo que soframos ao nos doar. Se doamos e não dói, não
doamos. Fizemos do próximo um parceiro das nossas sobras, mas não doamos. Não
tivemos a experiência de nos tornar um com o próximo; chegamos a ficar perto para
ficar com ele, mas quando começou a doer, quando percebemos que isso iria nos
arrancar pedaços, que teria um custo emocional, um custo material, um custo espiritual,
nos afastamos. Não chegamos a ser um: nós nos aproximamos e estivemos com ele,
mas não chegamos a ser um.
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Estoico: Indivíduo que não se abala ante os infortúnios, as adversidades da vida; aquele que se mostra
conformado com o sofrimento.
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Nós estamos neste mundo
para resolver os problemas
dos outros, ainda que
resolver o problema dos
outros nos traga muitos
problemas.
Dia 16 JUN
2º desafio
De onde procedem guerras e contendas que há entre
vós? De onde, senão dos prazeres que militam na
vossa carne?
Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada
podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada
tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em
vossos prazeres. Tiago 4.1-3
Tiago está se referindo a motivações egoístas, egocêntricas, desconectadas do bem
comum. Quando é que oramos pedindo a Deus que primeiramente supra as
necessidades do próximo e, depois a nossa? Talvez alguém diga assim: “Até não
precisa, porque se Deus é Pai Nosso, Ele supre a necessidade de todos nós”. Ocorre
que este é um problema de Deus. O nosso problema é que a palavra de Deus diz que
ninguém deve buscar os seus interesses, mas cada um o interesse do próximo.
Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é
dos outros. Filipenses 2.4
Nós estamos neste mundo para resolver os problemas dos outros, ainda que resolver o
problema dos outros nos traga muitos problemas. Quando nos limitamos a resolver os
nossos problemas, nós causamos problemas. Devemos ser parte da solução, não dos
problemas. Por isso é que Tiago diz “de onde vem as guerras?” Ele não está falando
exclusivamente de terrorismo e revoluções. Ele está falando de marido e mulher
brigando em casa; pais com filhos; irmão e irmã no mesmo quarto brigando pelo DVD,
pelo CD, pelo tênis, pelo computador. Ele está falando de contendas, de disputas. De
onde vem isso? Vem do egoísmo porque cada um quer resolver o seu problema. E isso
é tão ridículo que nós levamos isso para a oração: “Deus resolva o meu problema”. Não!
A oração é: “Senhor, resolva o problema. Porque eu não me esqueci que Tu és Pai
Nosso e eu não posso pedir que Tu resolvas o meu problema se resolver o meu
problema dá problema para um montão de gente. Eu não estou aqui buscando a
solução do meu problema, eu estou aqui buscando o bem comum, eu estou aqui
entendendo que sou um com o meu irmão, com o meu próximo”.
Para ser um, nós temos que nos ajoelhar diante de Deus e pedir o bem comum e não o
nosso próprio bem. Por isso, é que a oração de intercessão é uma oração difícil de
fazer. Uma excelente expressão sobre oração intercessória é a irmão André, o
Contrabandista de Deus4. Ele diz que toda vez que nós nos ajoelhamos para interceder
é como se disséssemos a Deus “Tire o peso das costas do meu próximo e coloque
sobre as minhas costas. Tire a angústia do meu próximo e coloque sobre mim. Ele está
fraco, ele não consegue carregar isso. Então, eu peço que o Senhor reparta o peso e
coloque um pouquinho nas minhas costas que eu vou ajudar o meu irmão a carregar”.
Mas isso vai nos trazer problemas. É! Mas é assim mesmo. Considere a possibilidade
do seguinte diálogo entre Deus, o Pai, e Jesus:
− Meu filho, temos um problema com a raça humana.
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http://www.portasabertas.org.br/conheca/irmao_andre.asp
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− Sim, Papai, pois não.
− Eu gostaria de contar com o Teu amor.
− Pois não, Papai. Eu vou ter que morrer?
− Sim.
− Então, eu acho melhor a gente tentar uma alternativa. Eu vou ter que morrer?
− Um pouco mais do que isso, filho. Você vai ter que ser esbofeteado, cuspido, rejeitado, mal
falado, traído, abandonado, escarnecido, exposto a vergonha pública, injustiçado e morrer
lentamente, a mais lenta de todas as mortes. Você não vai ter apenas que morrer, você vai
ter que sofrer. Porque maior pena é sofrer do que morrer, então você vai ter que morrer
com dor. Você não vai acordar morto meu filho, você vai morrer lentamente, você vai
morrer aos poucos. Porque ao longo do seu caminho, os homens cada um deles há de
cravar no seu corpo, no seu peito, na sua carne, uma faca dolorida. E quando você chegar
ao alto da cruz, não estará apenas cumprindo a pena de morte, estará moído, esmagado,
partido pela raça humana. Meu filho, para resolver o problema deles nós vamos ter que
assumir um grande problema.
− Eu vou, eu vou. Ainda que eu precise sofrer ao me doar, eu bendirei ao Senhor.
Dia 17 JUN
3º desafio
Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros
e orai uns pelos outros, para serdes curados.
Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
Tiago 5.16
Sabemos que estamos
crescendo na dimensão da
unidade e podemos orar “Pai
nosso – nosso Pai”, quando
estamos profundamente
entranhados nos
relacionamentos, quando
expomos os nossos porões ao
próximo, quando expomos
nossos pecados. Quando
damos o nosso pão, nós
damos da nossa virtude;
quando confessamos o nosso
pecado, nós compartilhamos a
nossa podridão, o que é algo
muito mais difícil de se fazer.
Com este texto chegamos ao ápice. Sabemos
que estamos crescendo na dimensão da
unidade e podemos orar “Pai nosso – nosso
Pai”,
quando
estamos
profundamente
entranhados nos relacionamentos, quando
expomos os nossos porões ao próximo, quando
expomos nossos pecados. Quando damos o
nosso pão, nós damos da nossa virtude; quando
confessamos
o
nosso
pecado,
nós
compartilhamos a nossa podridão, o que é algo
muito mais difícil de se fazer. Uma coisa é
recebermos alguém em nossa casa. Outra coisa é convidarmos a pessoa a descer no
nosso porão. Uma coisa é oferecermos a cama de casal do nosso quarto para que a
pessoa se recupere da uma cirurgia. Outra coisa é confessarmos o nosso pecado e
mostrar que a nossa alma é muito mais feia do que o nosso quarto de casal. Talvez não
exista nada tão precioso a compartilharmos com os outros do que o nosso eu
verdadeiro, a nossa real intimidade. E por que quase não se faz isso?
É porque no fundo, no fundo, não se acredita que aqueles que estão conosco são um
conosco. É o medo da rejeição; o medo do estigma, o medo de perder o que se tem
enquanto se aparenta o que não se é. Imagina-se: “No dia em que se souber quem de
fato eu sou, ele / ela não vai ser um comigo. Ele(a) só está comigo, mas não é um
comigo”. Nós não acreditamos que aqueles que veem os nossos porões e os lados
escuros da nossa alma sejam capazes de dizer “Eu sei o que é isso”.
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O capelão Peter Marshall5, entregou uma mensagem cujo título foi “Você estava lá?”.
Sua parte mais marcante é quando ele diz “Levaram o meu Cristo à cruz e todo mundo
estava lá; o centurião estava lá; a mulher com fluxo de sangue estava lá; o cego de
Jericó estava lá; o menino que deu os seus pães e peixes estava lá; Zaqueu estava lá;
Anás, Caifás, Pilatos, estavam lá. Você estava lá? Eu estava lá. Eu estava lá no pecado,
na indiferença de cada um deles. Eu estava lá porque era também minha a mão que
batia no cravo. Era também minha a mão que punha aquela coroa de espinhos. Quando
Pedro negou, eu também estava lá porque eu também já neguei e nego. Quando Judas
traiu, eu também estava lá porque eu sei o que é trair. Quando os outros fugiram e se
encolheram amedrontados, eu também estava lá porque eu sei o que é se acovardar.
Na fraqueza de cada um deles, no pecado de cada um deles, eu estava lá”.
Quando é que temos a experiência de ser um? É quando confessamos o nosso pecado
ao outro; é quando abrimos o porão da nossa alma ao outro. Por quê? Porque as
Escrituras dizem para nós que quando confessamos a Deus, nós somos perdoados,
mas quando confessamos ao outro, nós somos curados. Quando confessamos ao
próximo, ao irmão, aquele que é um conosco, nós somos curados. Há alguns pecados
que a gente pode confessar só a Deus – é um tipo de ferimento que água e sabão dão
conta, a gente se automedica, a gente se resolve com Deus. Mas há alguns pecados
que implicam intervenção cirúrgica e algum irmão tem que abrir o nosso peito à faca e
nos ajudar a arrancar de lá aquilo que sozinhos não conseguimos arrancar. Quando
vivemos isso, aí nós começamos a ter experiência de ser um.
Quando nós oramos ‘Pai
nosso’, Deus vai verificar
se de fato nós nos
ajoelhamos e levamos
conosco todos aqueles que
deveríamos levar para que
legitimamente pudéssemos
orar ‘Pai nosso’.
Dia 18 JUN
São raras as pessoas que oram “Pai nosso” com
uma consciência íntegra de que se está falando
com o “nosso Pai”. Muito mal sabemos estar com
os outros, quanto mais ser um, nos ajoelharmos e
dizer: ‘Pai nosso’. Levar o próximo na oração é
algo muito sério. É bem provável que ao orarmos
Deus diga assim: “- Nosso? Onde estão os outros?
Não vieram? Você não os trouxe? E aquele
próximo?” “- Ah, Senhor, ele me magoou muito e
não o trouxe desta vez”. “- E a sua esposa?” “- Ela não pode ouvir o que eu vou falar
com o Senhor agora.” “- E o seu empregado [seu vizinho, seu patrão], você não o
trouxe?” “- Não, imagina, ele não sabe nem que eu sou cristão.” Quando nós oramos
‘Pai nosso’, Deus vai verificar se de fato nós nos ajoelhamos e levamos conosco todos
aqueles que deveríamos levar para que legitimamente pudéssemos orar ‘Pai nosso’.
É isso que é orar! Não é fácil! Por isso, que cantamos mais do que oramos; lemos a
Bíblia mais do que oramos. Por isso falamos mais do que oramos. Por isso
murmuramos mais do que oramos. Porque quando nos ajoelhamos e dizemos “Abba,
nosso Abba”, o Espírito Santo acende uma luz que ilumina a nossa escuridão e nós
enxergamos tanta coisa e nos amedrontamos tanto que temos a vontade de fugir e não
raras vezes fugimos. Por isso, para orar que Deus é nosso, temos que acreditar que Ele
é Abba. Ele é o Pai, Ele é o Pai que vai nos acolher como filhos, que sabe da nossa
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Marshall
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estrutura, que sabe que somos pó. Ele é o Abba. Ele é o Abba que sabe que temos um
pecado. Mas mesmo assim Ele nos recebe em oração. O Nosso Abba é compassivo e
misericordioso, mui paciente e cheio de amor; o Nosso Abba não acusa sem cessar e
não fica ressentido para sempre; o Nosso Abba não nos trata conforme os nossos
pecados e nem nos retribui conforme as nossas iniquidades; o Nosso Abba é aquele
que age de tal maneira que como os céus se elevam acima da terra, assim também é
grande o Seu amor, e como o Oriente está longe do Ocidente, assim Ele afasta para
longe de nós as nossas transgressões; como um pai tem compaixão de seus filhos,
assim o Nosso Abba tem compaixão dos que o temem, pois Ele sabe do que somos
formados, lembra-Se de que somos pó (Sl 103.8-14). Por isso, não precisamos temer
entrar na presença do Abba. Ele é o Nosso Pai, mas não nos iludamos, porque ao
entrarmos na presença do Pai e gritarmos “Abba!”, Ele vai se inclinar esperando que
digamos “nosso, nosso Pai”, e vai nos acolher como somos.
Portanto, somos incentivados a crescer na direção desses desafios de continuar doando
e se doando, mesmo depois de começar a doer; a se solidarizar de joelhos, ainda que,
para cooperar para a solução dos problemas dos outros, tenhamos que abraçar muitos
problemas; a crescer na direção da unidade, da confissão e da revelação do nosso eu
verdadeiro para juntos nos colocarmos diante do Nosso Abba, o Pai Nosso.
Porque nós não temos alternativa: ou nós bendizemos o nome do Senhor doando-nos
doendo, ou nós não podemos nos ajoelhar diante do Abba. Ou dizemos ‘Pai Nosso’, ou
não podemos dizer ‘Pai’. Nós não podemos adorar o Pai que é Nosso sem levarmos
juntos todos os nossos irmãos. Que assim seja!
Que levemos uns aos outros em oração; que descansemos sabendo que tem muita
gente que entra na presença do Abba e nos leva. Poucas coisas são tão especiais
quanto quando alguém nos abraça e diz “Eu estou orando por você. Estou levando os
seus pesos, o que está doendo em você esta doendo em mim. Eu estou orando por
você.” Então, entre na presença do Abba para bendizê-lo, porque muita gente tem
levado você também para lá. Entre na presença do Abba para bendizê-lo e leve os seus
irmãos. Que o Senhor nos dê graça, e paz, e alegria, e nos dê o brilho de sua luz. Que
Deus nos dê acolhimento e nos dê perdão. Que Deus nos dê irmãos, amigos e amigas
espirituais. Que Deus nos dê oportunidade de servir, de dar, de repartir. Que Deus nos
faça um debaixo do seu amor de Pai. Amém.
α–Ω
Na próxima semana: O Pai Nosso – Pai que estás nos céus.
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