Escola Básica e Secundária de Valença | ano 3 | n.º 19 | fevereiro 2015
Notícias do Universo
Kepler-444: o sistema solar mais
antigo com planetas rochosos
São cinco planetas cheios de particularidades, como serem mais pequenos do que a Terra e
estarem todos quase em cima da sua estrela.
a
té não fica muito
longe de nós – a
116 anos-luz de distância,
o tempo que a luz demora
a viajar de lá até cá –,
mas em termos de idade
bate um recorde. É o mais
antigo sistema solar conhecido com planetas terrestres, ou seja, com uma
superfície rochosa como a
da Terra. Ter-se-á formado
há 11200 milhões de anos,
o que evidencia bem a sua
longevidade, uma vez que
o próprio Universo surgiu
há 13800 milhões de anos.
E agora uma equipa internacional, composta
por vários astrofísicos portugueses, anunciou a
descoberta de cinco planetas neste sistema
solar, identificado como Kepler-444.
Revelada em comunicado do Instituto de
Astrofísica e Ciências do Espaço, com polos em
Lisboa e no Porto, a descoberta tem outra particularidade ligada à longevidade dos planetas. O nosso sistema solar formou-se há cerca
de 4500 milhões de anos, por isso o sistema
solar onde se encontram os cinco planetas é
2,5 vezes mais antigo do que o nosso. E mesmo
o Universo tinha, nessa altura, “apenas” 2600
milhões de anos.
O recorde anterior do sistema solar com planetas terrestres mais antigo pertencia ao
Kepler-10, com 10400 milhões de anos, a 564
Ilustração do sistema solar Kepler-444, com cinco planetas
anos-luz de distância de nós.
“Agora sabemos que planetas do tamanho
da Terra se formaram ao longo dos 13.800
milhões de anos do Universo, por isso é possível
que tenha havido condições para o aparecimento de vida desde muito cedo”, diz o primeiro autor do artigo científico que anuncia a
descoberta, na última edição da revista The
Astrophysical Journal, o astrofísico português
Tiago Campante, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Para Tiago Campante,
citado no comunicado do Instituto de Astrofísica
e Ciências do Espaço, esta descoberta tem
assim implicações profundas nas teorias de formação planetária.
A descoberta de um sistema com planetas do
tipo terrestre tão antigo como o Kepler-444
confirma que os primeiros planetas se formaram muito cedo na vida da nossa galáxia, o
que nos dá uma indicação de quando terá
começado a era da formação planetária.
Os cientistas estão agora em melhores condições de compreender exatamente quando é
que este tipo de planetas começou a formar-se.
Muito se tem avançado na descoberta de
planetas noutros sistemas solares, ou planetas
extrassolares ou, ainda, exoplanetas. O primeiro foi detetado em 1995, por Michel
Mayor e Didier Queloz, do Observatório de
Genebra, Suíça, em redor da estrela Pégaso
51, a 50 anos-luz de distância de nós. Era um
gigante composto por gases, com metade do
tamanho de Júpiter e muito perto da sua estrela, e muitos dos que se lhe seguiram eram também monstros gasosos.
O número atual de planetas extrassolares é
impressionante: 1885, indo desde gigantes
gasosos a pequenos rochosos. Neste último
caso, as suas superfícies são firmes como as de
Mercúrio, Vénus e a Terra, e não gasosas como
as de Júpiter ou Saturno.
Além de rochosos, os planetas do sistema
Kepler-444 são mais pequenos do que a Terra
e contêm menos massa. Têm um tamanho entre
Mercúrio e Vénus. Não sendo propriamente
inédito, não deixa de ser raro.
Foram descobertos com o telescópio espacial
Kepler – lançado pela agência espacial norte-americana NASA em 2009 e que entretanto
deixou de funcionar –, através do método dos
trânsitos. A presença de um planeta em órbita
de uma estrela é detetada quando passa à
frente dela. Rouba-lhe regularmente um pouco
de brilho, denunciando que está ali.
Mas o método dos trânsitos tem limitações: só
permite determinar o tamanho dos planetas
em relação ao da estrela. Para determinar a
dimensão dos próprios planetas, a equipa utilizou a técnica de astrossismologia, ou sismologia estelar. Tal como as diferentes vibrações
de um sismo permitem estudar o interior da
Terra, as oscilações observadas à superfície
de uma estrela, provocadas pela propagação
de ondas acústicas, podem ser usadas para
conhecer a sua estrutura interna, composição,
idade, tamanho e massa.
Desta forma, a equipa concluiu que a estrela
do sistema Kepler-444 é uma anã laranja,
ligeiramente menor do que o Sol e com cerca
de 5000 graus Celsius à superfície (o nosso Sol
tem pouco menos de 6000 graus). A partir daí,
a equipa inferiu ainda a massa dos planetas
que a orbitam. E se um planeta tem uma massa
como Mercúrio ou Vénus, então deverá ser
rochoso.
“Quando a astrossismologia surgiu há cerca
de duas décadas, só podia ser usada no Sol e
em poucas estrelas brilhantes. Com o Kepler
pudemos aplicar esta técnica a milhares de
estrelas”, diz Daniel Huber. “A astrossismologia
permitiu-nos medir de forma precisa os raios
do sistema Kepler-444 e, com isso, o tamanho
dos planetas. Medimos o raio do planeta mais
pequeno, que é ligeiramente maior do que
Mercúrio, com um grau de incerteza de apenas
100 quilómetros.”
As curiosidades do Kepler-444 não acabam
aqui: os cinco planetas estão muito próximos
da anã laranja, tão próximos que as suas órbitas se situam mais perto da estrela do que
Mercúrio está do nosso Sol. Por essa razão,
completam uma volta à anã laranja em dez
dias ou ainda menos. O que leva ainda a
dizer que este sistema solar, além de ser o
mais antigo composto por planetas terrestres,
está bastante compactado.
Embora os planetas sejam certamente bastante inóspitos, devido às temperaturas e
radiação elevadas e falta de água líquida, o
epílogo tão ambicionado desta procura está
um pouco mais próximo, considera Daniel
Huber: “Estamos um passo mais perto de
encontrarmos o Santo Graal dos astrónomos –
um planeta do tamanho da Terra com uma
órbita de um ano à volta de uma estrela semelhante ao nosso Sol”.
Fonte: FIRMINO, Teresa - Kepler-444: o sistema solar mais
antigo com planetas rochosos. Público. [Em linha]. [Consult.
29-01-2015]. Disponível em: http://www.publico.pt/ciencia/
noticia/kepler444-o-sistema-solar-mais-antigo-com-planetasterrestres-1683541
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