ISSN: 1981 - 3031
DE ESTUDANTES A EGRESSOS: OS DESAFIOS DO CURSO
DE FILOSOFIA DA UFAL.
Pércia Alves Silva1
Graduanda/Licenciatura em Filosofia/UFAL
[email protected]
Andréa Giordanna Araújo da Silva2
Professora do Centro de Educação/UFAL
[email protected]
Elizabete Amorim de Almeida Melo3
Professora do Centro de Educação/UFAL
[email protected]
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida com licenciandos do Curso
de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas. O estudo teve como objetivo captar os
fatores que limitam a permanência dos estudantes no ensino superior e dificultam a conclusão
do curso de Licenciatura em Filosofia, assumindo como problemática o fato da reprovação e da
evasão terem se estabelecido como fenômenos comuns nos cursos de formação inicial de
professores da UFAL. Tomamos como recorte temporal para o levantamento e análises dos
dados coletados no Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) o período de 2008 quando a
disciplina de Filosofia tornou-se componente curricular obrigatório do ensino médio, até o ano
2012, período recente em que encontramos dados mais concretos sobre o número de
egressos. Como resultado observou-se que a evasão dos licenciandos é motivada por
fenômenos políticos e sociais de diferentes ordens, porém a falta de espaço físico adequado
para o desenvolvimento das práticas pedagógicas, as dificuldades de aprendizagem nas
disciplinas específicas do campo filosófico e a necessidade de disciplinas complementares
para ampliar o acervo literário do currículo são elementos determinantes, que estão
relacionados à posição político-pedagógico que é assumida pela UFAL, em relação aos cursos
de formação de professores.
Palavras–chaves: Formação de Professores. Projeto Político Pedagógico. Evasão Escolar.
Políticas Públicas.
1
Graduanda no Curso de Filosofia/UFAL. Bolsista do Programa PAINTER/UFAL. Professora
monitora de Filosofia da Rede Estadual de ensino/Al E-mail:[email protected]
2
Graduada no Curso de História/UFRPE. Mestra em Educação pela UFAL. Doutoranda em
Educação
pela
UFPE.
Professora
do
Centro
de
Educação/UFAL.
E-mail:
[email protected].
3
Graduada no Curso de Filosofia/UFAL. Mestra em Educação pela UNICAMP/SP. Professora
do Centro de Educação/UFAL. E-mail: [email protected].
ISSN: 1981 - 3031
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é parte de uma investigação desenvolvida pelo projeto de
pesquisa e extensão “PAINTER” da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
que realiza o mapeamento das condições políticas e pedagógicas do ensino de
Filosofia no estado de alagoas, visando identificar os obstáculos enfrentados e
os desafios a serem superados na formação dos filósofos-licenciandos da
UFAL e na atuação dos professores de Filosofia.
Assim, este estudo teve como objetivo captar os fatores que limitam a
permanência dos estudantes no Curso Superior e dificultam a conclusão do
curso de Licenciatura em Filosofia, assumindo como problemática o fato da
reprovação e da evasão terem se estabelecido como fenômenos comuns nos
curso de formação inicial de professores da UFAL.
De caráter qualitativo, a pesquisa teve como instrumento de coleta dados
empíricos um questionário com questões abertas e discursivas, de cunho social
e acadêmico, aos estudantes da instituição lócus da investigação. Também,
utilizou-se dos estudos de Trombeta e Casagrande (2004) e Rodrigo (2009)
como recursos teóricos para interpretação dos dados coletados. Ainda,
realizou-se a análise do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Licenciatura
em Filosofia (2006) e de informações quantitativas relacionadas ao número de
estudantes que evadiram e concluíram o curso no período de 2008-2012. Os
dados foram obtidos com o Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da
UFAL.
Este estudo mostra-se é imprescindível, porque a UFAL é a única
instituição de ensino universitário do Estado de Alagoas que oferta o Curso de
Licenciatura em Filosofia, logo, é a maior responsável pela formação inicial dos
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professores de Filosofia que atuam nas escolas (públicas e privadas) que
ofertam o ensino médio no Estado.
Destarte, após o estabelecimento da obrigatoriedade das disciplinas de
Filosofia e Sociologia como componentes integrantes do Currículo escolar do
Ensino Médio _ promulgado pela Lei nº 11. 684/ 2008 _ tornou-se ainda maior
a responsabilidade social e política da UFAL, enquanto instituição formadora e
produtora de conhecimentos no campo Filosófico.
2 Permanecer ou desistir? As condições de formação dos graduandos
Nos dias atuais, os desafios que assolam o Curso de Filosofia, são
inúmeros, entretanto, a evasão estudantil ainda é a problemática central. Em
nosso percurso investigativo no Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI),
identificamos o número de alunos que conseguem se formar a cada semestre e
o volume de desistências por ano letivo. Em suma, diagnosticamos que a
evasão é assustadora se comparada com a estrutura organizacional e
funcional do Curso de Filosofia da UFAL, que oferta 60 (sessenta) vagas/ano 4.
Como está escrita no quadro baixo (Quadro 1):
QUADRO 1: Número de alunos evadidos durante o período de 2008 a
2012.
4
Ano
Quantitativo de Evadidos por Ano
2008
52
2009
105
2010
129
São distribuídas 30 (trinta) vagas no primeiro semestre e 30 (trinta) no segundo, ofertadas
exclusivamente no período noturno e na modalidade presencial, com duração de quatro a sete
anos.
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1011
149
2012
156
TOTAL
591
Fonte: Dados do NTI/UFAL (2013).
Como podemos constatar, o número de evasão no Curso de Filosofia tem
sido bastante crescente entre os anos de 2008 e 2012. Enquanto no ano de
2008 registrou um número de 52 alunos evadidos, no ano de 2012 esse valor
triplicou-se, tendo um número de 156 alunos evadidos.
Como os estudantes, usualmente, não informam a desistência, os
números exatos não conseguem ser contabilizados pela coordenação do curso.
Isto gera uma grande dificuldade na identificação do real número de
graduandos do curso de Filosofia por ano. O dado concreto é que o número de
reprovados por faltas aumentou consideravelmente em cada ano, e como
resultado, o total de evadidos chegou a ser praticamente o dobro de
ingressantes em cinco anos de curso, que recebeu um total de 300 alunos
aprovados via o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e de mais algumas
vagas remanescentes que o Curso de Filosofia oferece para alunos que já
cursam na Universidade (os dados não foram disponibilizados pelo
departamento de Filosofia nem pelo NTI).
Embora não seja possível identificar o total de alunos do curso de
Filosofia em 20145, o número de evadidos e, especialmente, de concluirdes já
nos presentam uma visão geral das dificuldades enfrentadas pelo curso de
Filosofia (Quadro 2).
5
O NTI e Coordenação do Curso de Filosofia não tinham os dados sistematizados no primeiro
semestre de 2014.
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QUADRO 2: Número de alunos formados no Curso de Filosofia- UFA no
período de 2008 a 2012.
Ano
Quantitativo Formados por Ano
2008
0
2009
0
2010
11
2011
3
2012
8
Total
23
Fonte: Dados fornecidos pelo NTI/UFAL (2013).
Como podemos observar, no Quadro 2, nos anos de 2008 e 2009, o
Curso e Filosofia da UFAL
não teve concluintes. Por sua vez, em 2010,
alcançou-se um número de 11 formados, em 2011 foram 3 formados e no ano
de 2012 foram 8 alunos formados, somando um total irrisório, de 23
concluintes.
Esses números
são
alarmantes quando
comparados ao
quantitativo de alunos que o departamento de Filosofia recebeu em cinco anos
de atividades _ em torno de 300 ingressantes.
Por conseguinte, para compreender melhor esses dados, Procuramos
desenvolver uma pesquisa empírica com os estudantes do Curso de Filosofia,
por meio da aplicação de questionário com questões abertas, visando
identificar os fatores sociais e pedagógicos que possam explicar a evasão
evidenciada.
Assim, aplicamos um total de 97 questionários e como resultado,
constatamos que: 42% dos entrevistados afirmaram pensar ou já terem
pensado em desistir do curso de Filosofia, inclusive aqueles que se
encontravam cursando os três últimos semestres do curso. As justificativas
estão relacionadas, normalmente, com a desvalorização da disciplina no
currículo escolar e a com desqualificação do papel social e pedagógico do
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professor de Filosofia e, ainda, com as precárias condições estruturais para a
execução do trabalho docente nas escolas:
Entrevistado 18 - “Não vejo expectativa neste curso”. (Cotista, não é bolsista, tem 44 anos,
trabalha, mora em Maceió);
Entrevistado 72 - “Devido não haver nenhum retorno financeiro”. (5º período, não é cotista,
não é bolsista, tem 29 anos, mora em Maceió);
Entrevistado 73- “Por causa do número de vagas no mercado, que são poucas e por causa da
baixa renumeração”. (5º período, não é cotista, é bolsista, tem 23 anos, mora em Maceió);
Entrevistado 75 - “Para ganhar dinheiro”. (5º período, não é cotista, é bolsista, tem 21 anos,
mora em Maceió);
Entrevistado 94 - “Pelo salário que é muito baixo e a desvalorização do professor em geral”.
(8º período, não é cotista, é bolsista, mora em Maceió, trabalha).
A precarização das estruturas materiais do ambiente de formação
também é apresentado como elementos limitador para o desenvolvimento do
curso _ problema que assola o Curso de Filosofia desde sua implantação na
UFAL, visto que, o curso sempre esteve acomodado em condições
inadequadas. O Projeto Político Pedagógico do Curso de Filosofia (2006)
retrata
bem
essa
realidade:
“Mas,
dentre
outros
limites
para
sua
implementação, enfrentamos as condições concretas de trabalhos, a carência
de material e espaço acadêmico adequados [...]” (p. 6).
Considerando a
estrutura arquitetônica dos prédios escolares como um elemento pedagógico,
vejamos os efeitos deste sobre os estudantes:
Entrevistado 35 - “Pelo acesso ao bloco, transporte etc.” (2º período, não-cotista, bolsista, 21
anos, mora em Maceió, não trabalha);
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Entrevistado 37 - “Por falta de tempo e por falta de uma estrutura maior para com o nosso
curso”. (2º período, cotista, não é bolsista, 23 anos, trabalha, mora em Maceió);
Entrevistado 87 - “Carência do curso”. (7º período, não é cotista, é bolsista, tem 22 anos, mora
em Maceió);
Os depoimentos retratam a realidade das condições de formação e
atuação dos professores de Filosofia dentro e fora da Universidade,
acontecimentos estes que interferem nas expectativas dos estudantes em
relação ao futuro profissional.
Destarte, quando questionados sobre as principiais dificuldades de
aprendizagem, 70% dos alunos responderam sofrer com os problemas de
estrutura. As disciplinas que6 apresentaram maior destaque de reação negativa
dos licenciandos foram: Lógica; “Disciplinas Pedagógicas7” e Filosofia
Contemporânea I e II, sequencialmente.
Um dado interessante obtido com o estudo é que 45% dos pesquisados
afirmaram sentir falta de disciplinas complementares, para complementar às
disciplinas nucleares já existentes na grade curricular do curso. Além disso, a
maior parte dos estudantes afirmou sentir dificuldade de aprendizagem em
alguma disciplina nuclear.
As disciplinas mais solicitadas por parte dos entrevistados, para serem
acrescentadas a sua formação e qualificação foram às matérias de língua
estrangeira, mais precisamente, Inglês, Latim, Grego, História da Filosofia
Medieval II e Língua Portuguesa II. Muitos dos entrevistados expressaram senti
falta um maios aprofundamento, por parte dos docentes nas disciplinas já
6
O trabalho realizado com os licenciandos do Curso de Filosofia, por meio de questionários,
avaliou as respostas de todos os alunos presentes nos três dias de pesquisa de campo. Com
isso, tivemos a oportunidade de analisar as percepções de praticamente quase todos os
licenciando que frequentam as aulas do curso de Filosofia da UFAL.
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existentes, especialmente as disciplinas de História da Filosofia Medieval e
Lógica.
Com isso, podemos perceber que o fato do aluno ter dificuldade de
aprender algum conteúdo de ensino não significa, necessariamente, que ele
não aspire se aprofundar sobre certo conhecimento ausente ou já existente no
currículo, mesmo que isso implique no aumento da carga horária do curso, que
já é de 3.220h/a. A afirmativa está fundamentada no fato de que nenhum dos
entrevistados apontado a substituição ou eliminação de disciplinas como
condição para a melhoria da aprendizagem.
3 A Proposta do Projeto Político Pedagógico do Curso de Filosofia na
UFAL para a Formação de Professores
O Projeto Político Pedagógico do Curso de Filosofia foi reformulado em
2006, período em que acontecia uma reorganização no sistema educacional
para adequar-se às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB (Lei Nº 9394/96), que introduziu conteúdos de ensino das
disciplinas Filosofia e Sociologia no currículo escolar do Ensino Médio. Em
2008, o dispositivo foi modificado pela Lei Nº 11.684 que após calorosas
discussões políticas, determinou a obrigatoriedade da oferta da matrícula nas
disciplinas de Sociologia e Filosofia nas escolas secundárias.
Para compreendermos melhor como ocorre o processo de formação, de
apropriação de saberes, no curso de Filosofia da UFAL, apresentaremos o
quadro organizacional do programa curricular ofertado aos estudantes por
semestre (Quadro 3):
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Quadro 3: Programa de disciplinas ofertadas pelo Curso de Filosofia da
UFAL
PRIMEIRO SEMESTRE
DISCIPLINA
Introdução á Filosofia
Organização do Trabalho
Acadêmico
História da Filosofia Antiga I
Projetos Integradores
Profissão Docente
Língua Portuguesa I
Sociologia
CH TOTAL
TERCEIRO SEMESTRE
DISCIPLINA
História da Filosofia Medieval
Projetos Integradores
Desenvolvimento
da
Aprendizagem
Oficina de Textos Filosóficos
CH
80
40
80
40
60
40
40
380
CH
80
40
80
80
Antropologia Filosófica
Eletiva
CH TOTAL
80
40
400
QUINTO SEMESTRE
DISCIPLINA
História da Filosofia Moderna II
CH
80
Problemas
Metafísicos
(Ontologia)
Proj. Ped. Org. e Gest. do Trab.
Escolar
Filosofia Política
Estágio I
Ética
CH TOTAL
40
80
80
40
80
400
SÉTIMO SEMESTRE
DISCIPLINA
Filosofia da Educação
História
da
Filosofia
SEGUNDO SEMESTRE
DISCIPLINA
História da Filosofia Antiga II
CH
80
Pol. e Org. da Educ. Básica no
Brasil.
Projetos Integradores
80
Língua Portuguesa II
Lógica
80
80
CH TOTAL
320
QUARTO SEMESTRE
DISCIPLINA
História da Filosofia Moderna I
Projetos Integradores
Eletiva
Plan.
Curr.
e
Aval.
Aprendizagem
Teoria do Conhecimento
Estética
CH TOTAL
40
CH
80
40
40
da
SEXTO SEMESTRE
DISCIPLINA
História
da
Filosofia
Contemporânea I
Metodologia
da
Pesquisa
Filosófica
Eletiva
Projetos Integradores
Estágio II
Filosofia das Ciências
CH TOTAL
80
80
80
400
CH
80
80
40
40
80
80
400
OITAVO SEMETRE
CH
60
80
DISCIPLINA
História da Filosofia no Brasil
Problemas do Ensino de Filosofia
CH
80
80
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Contemporânea II
Trabalho de Conclusão de Curso
Filosofia da Linguagem
Projetos Integradores
Estágio III
CH TOTAL
60
80
40
80
400
Trabalho de Conclusão de Curso
Eletiva
Estagio IV
Projetos Integradores
CH TOTAL
80
40
80
40
400
FONTE: Projeto Político Pedagógico do Curso de Filosofia (2006).
As disciplinas “específicas” para a licenciatura, de caráter obrigatório, são
comumente
abordadas
pelos
estudantes
como
difíceis.
Isto
ocorre,
provavelmente, porque existe um afastamento entre os saberes e às práticas
do campo filosófico (percebidos como espaços para formação a teórica) e a
formação pedagógica (tomada por formação prática para a aprendizagem de
como se ensina). Esse isolacionismo é uma questão apontada no PPC do
curso de Filosofia (2006) como um problema a ser transposto:
1-Fazer com que as questões Pedagógicas se tornem mais
filosóficas, isto é, que se aproxime das problemáticas filosóficas do
que é ensinar Filosofia, contribuindo assim, com sua especialidade,
para instigar e encaminhar possíveis soluções a essa questão e
construindo um espaço interdisciplinar no curso de Filosofia (p. 22).
As disciplinas Pedagógicas são cinco e são ofertadas do primeiro ao
quinto semestre: 1) Profissão Docente; 2) Política e Organização da Educação
Básica no Brasil; 3) Desenvolvimento e Aprendizagem; 4) Planejamento,
Currículo, Organização e Avaliação da Aprendizagem; e 5) Projeto Pedagógico,
Organização e Gestão do Trabalho Escolar _ todas associadas ao processo de
formação do licenciando, que vivenciada a sala de aula nas disciplinas de
Estágio Supervisionado I, II, III e IV, cursadas, sequencialmente, do quinto ao
oitavo período.
No entanto, embora sejam componentes estruturais do curso de Filosofia,
as disciplinas Pedagógicas, por estarem sobre a responsabilidade do Centro de
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Educação (CEDU), são, usualmente, percebidas na “cultura acadêmica
cotidiana” como conteúdos complementares para preparar o futuro professor
para
a
prática
de
sala
de
aula,
focando-se
nos
recursos
para
instrumentalização técnica, não mantendo nenhum espaço para a formação
política e crítica do licenciando. Como resultado do não diálogo entre os
campos de saberes, os conteúdos do campo pedagógico são abordados,
comumente, de forma generalista, sem que se considere a especificidade do
campo da Filosofia para a formação do professor. Segundo Rodrigo (2009,
p.68) “[...] Não é raro que essas duas frentes de trabalho possuam concepções
divergentes e até mesmo conflitantes sobre o perfil do professor de filosofia no
nível médio”.
Por conseguinte, ocorrem vários tipos de resistência por parte dos
estudantes na vivência das disciplinas pedagógicas. Isso porque, os seus
sentidos sócio-políticos são silenciados pelo ideário pala abordagem tecnicista,
ambos como necessários para trabalho docente.
Mesmo disciplinas próprias do campo filosófico são percebidas como de
difícil apropriação intelectual e “utilização didática”, como as disciplina de
“Lógicas” e “História da Filosofia Contemporânea I e II”, que são ofertadas por
professores do departamento de Filosofia, com formação específica na área.
Isso acontece segundo Trombeta e Casagrande (2004), por que:
A partir do terceiro ou quarto semestre as referencias orientadas pelo
senso comum tendem a ser colocadas em crise. Esse é o momento
em que o aluno vê-se obrigado a encarar a leitura de textos clássicos,
o que começa a demandar o domínio de um nível conceitual
específico, no qual as referências do senso comum não dão conta
das exigências colocadas pelas disciplinas do curso. É o momento
em que o aluno vê-se obrigado a começar uma apropriação
sistemática da linguagem filosófica. Se ele não garantir isso, além de
sentir-se deslocado começará a comprometer sua formação filosófica,
pois não terá o domínio de conceitos e ideias necessários para
avançar nos conteúdos exigidos pelo curso. Nesse momento, o nível
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de exigência nas avaliações também aumentará, pois agora
pressupõe-se que o aluno já tenha um certo domínio conceitual da
filosofia ( p. 150).
Ou seja, as dificuldades de aprendizagem é algo previsto de acontecer,
segundo os estudiosos da área, logo passível de acompanhamento pedagógico
sistemático. Na realidade, pois o que acaba ocorrendo é um confronto entre o
conhecimento do mundo do licenciando e o conhecimento acadêmico, que é
um
saber
mais
comprometimento
exigente,
rigoroso
e envolvimento
e
sistemático
do educando,
que
devido
requer
ao
grau
mais
de
complexidade e maior diversificação das experiências didáticas e nas práticas
docentes, para facilitar a apropriação do saber.
Uma questão para reflexão, quanto aos obstáculos vividos pelos
estudantes no processo de aprendizagem, é sobre a priorização da oferta das
disciplinas, pois as disciplinas de língua estrangeira como: Inglês, Latim e
Grego, e ainda, de Língua Portuguesa II e História da Filosofia Medieval II
foram apontadas pelos estudantes como saberes necessários à formação e
fazem parte das disciplinas estruturais do Projeto Político Pedagógico do Curso
de Filosofia (2006), porém, não vêm sendo regularmente ofertadas.
4 Desvalorização do campo da Filosofia: o curso de formação e os
espaços trabalho dos professores
A desvalorização do papel social do professor de Filosofia na formação
das consciências juvenis e as precárias condições de estudo e atuação dos
professores são fatores concretos que a categoria docente enfrenta
cotidianamente. Além disso, e ocasiona o desânimo e falta de interesse pela
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profissão, inclusive por parte daqueles que afirmam gostar da área. O que é de
se esperar, uma vez que dedicamos parte de nossas vidas a nossa profissão
que é um dos alicerces para a projeção do nosso futuro.
Na pesquisa empírica, questionamos os estudantes, de todos os
períodos, sobre as suas impressões e expectativas em relação ao curso de
Filosofia na UFAL. Como resultado da investigação, mais de 90% dos
participantes expressaram ter percepções negativas. Vale ressaltar que a
reação negativa foi referente ao curso e não a especificidade Filosófica. As
reclamações, em geral, estavam relacionadas às condições estruturais físicas e
humanas do curso de formação inicial, da falta de valorização da disciplina de
Filosofia nas políticas educacionais do estado de Alagoas e, principalmente, da
baixa remuneração salarial do professor:
Entrevistado 14 - “Parece ser um curso desvalorizado”. (1º Período, 19 anos, cotista, não é
bolsista, mora em Maceió);
Entrevistado 20 – “Em termos de rentabilidade não é muito agradável, mas o curso em si é
muito interessante referente a questões pessoais de meu interesse”.
(2º período, Não é
cotista, não é bolsistas, tem 28 anos, mora em Maceió);
Entrevistado 31 -“O curso em si é muito bom, porém, não tem os méritos que merece”. (2º
período, não e cotista, não é bolsista, tem 21 anos, mora em Maceió, não trabalha);
Entrevistado 54 - “Um bom curso, mas acho uma área em que você não ganha bem”. (4º não
é cotista, não é bolsista mora em Maceió, tem 36 anos);
Entrevistado 56 -“Um bom curso, porém, com poucas expectativas”. (4º período, não é cotista,
não é bolsista, mora em Rio Largo, tem 43 anos);
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Entrevistado 65- “Muitos! Porém, aos poucos vamos vendo que os sonhos ou nossas
expectativas não condizem à realidade”. (5º período, não é cotista, não é bolsista, tem 34 anos,
mora em União dos Palmares, trabalha);
Entrevistado 66 - “Minhas primeiras impressões foram boas, no entanto, percebi que o curso
ainda não goza do mesmo prestígio de alguns cursos”. (5º período, não cotista, não bolsista,
tem 33 anos, mora em Maceió);
Entrevista 71- “Que falta muito para chegar a excelência, mas tenho esperanças e
expectativas de pós, mestrado e doutorado, por hora, longe daqui”. (5º período, não é cotista,
não é bolsista, tem 28 anos, mora em Maceió, trabalha);
Entrevistado 83 - "Primeiros foi ser um bom curso, ele não deixou de ser, porém, a falta de
organização, oportunidade deixa a desejar”. (6º período, cotista, não é bolsista, tem 21 anos,
mora em Maceió, trabalha);
Entrevistado 95 - “Infelizmente, são poucas expectativas profissionais, já que minha pretensão
é a escola pública”. (8º período, não é cotista, é bolsista, tem 27 anos, mora em Maceió, não
trabalha);
Entrevista 104 - “Curso bom, salário desestimulante”. (Encontra-se em vários períodos, não é
cotista, não é bolsista, tem 37 anos, mora em Maceió, trabalha).
O depoimento dos alunos é um reflexo das condições matérias do
trabalho dos professores no estado de Alagoas. Ainda, a disciplina de Filosofia
tem apenas a carga horária de 1h/a semanal para cada série do ensino médio.
Assim sendo, o tempo reduzido para o ensino dificulta a realização de um
trabalho pedagógico que apresente sentido para os alunos e, também, provoca
uma sobrecarga de trabalho para os professores que devem assumir várias
turmas, para completar a carga horária das atividades de ensino.
A situação é ainda é mais grave quando o professor é um monitor, ou
seja, um trabalhador contratado temporariamente, sem vínculo empregatício
com o governo. Esse tipo de trabalhador não tem direito a férias, piso salarial,
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salário família, nem qualquer tipo de remuneração pelo planejamento de aula,
construção das cadernetas, ou seguro desemprego ao final do contrato, que é
de um ano, podendo ser renovado por mais um ano. Com remuneração salarial
inferior ao do professor efetivo (concursado), o monitor é remunerado apenas
pelo trabalho efetivado a cada aula ministrada. Logo, o trabalhador deve
realizar o maior volume de trabalho possível para ampliar a sua renda, durante
a vigência do contrato.
Diante dessas problemáticas, é difícil que jovem queira assumir a
formação de professor de Filosofia como projeto profissional. Por mais que o
licenciando sinta prazer pela licenciatura, seguir essa carreira em meios a
tantos obstáculos parece ser uma escolha equivocada, e desistir do curso pode
caracterizar-se como um meio de oportunizar a si mesmo uma chance de
sucesso profissional em outro campo de trabalho.
Porém, como afirmou Ghedin (2009, p. 60), os espaços para o ensino de
filosofia foram “abertos por força de lei”, e esse deve ser o caminho para
criarmos mecanismos de confronto à realidade posta. É no desvelamento das
práticas políticas e pedagógicas que podemos compreender os fatores que
desqualificam a formação dos jovens estudantes do ensino médio e dos
graduandos futuros docentes e criar recursos teóricos e metodológicos para
intervir prepositivamente na esfera política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caminho que percorremos, especialmente no estudo empírico
realizado com o corpo discente do Curso de Licenciatura em Filosofia da UFAL,
foi possível observar que os reais motivos para a assustadora evasão dos
licenciandos são de diferentes ordens, porém, a falta de espaço físico
adequado para o desenvolvimento das práticas pedagógicas, as dificuldades
de aprendizagem nas disciplinas específicas do campo filosófico e a
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necessidade de disciplinas complementares para ampliar o acervo literário são
elementos determinantes, que estão relacionados à posição políticopedagógica que é assumida pela UFAL, em relação aos cursos de formação de
professores. Destarte, conhecer os entraves institucionais que colaboram com
a evasão, possibilita o movimento de reflexão e de criação de mecanismos
internos que subsidiem as estruturas políticas, pedagógicas e físicas
necessárias para o desenvolvimento qualitativo do curso.
Por conseguinte, é dever, também, da instituição, enquanto formadoras
de professores, conhecer as materialidades do ensino médio que provocam a
desmotivação dos estudantes e se envolver em processos de resistência
política que colaborem para a consolidação da disciplina de Filosofia como
campo de conhecimento estrutural do currículo do ensino médio no estado de
Alagoas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996.
GHEDIN, Evandro. Ensino de Filosofia no Ensino Médio/ Evandro Ghendin.
– 2. ed. – São Paulo: Cortez 2009. – (Coleção Docência em Formação. Série
Ensino Médio).
RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o
ensino de filosofia. Campinas/SP: Autores 2009. (Coleção Formação de
Professores).
TROMBETTA, L. G.; CASAGRANDE, E. A, O. A formação teórica e práticopedagógica na estrutura curricular: a experiência do curso de filosofia da UPF/
RS In: CANDIDO, Celso; CARBONARA, Vanderlei. Filosofia e Ensino: um
diálogo transdisciplinar. Ijuí : Ed. Unijuí, 2004. P. 141- 167.
ISSN: 1981 - 3031
UFAL – Universidade Federal de Alagoas. Núcleo de Tecnologia da
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DE ESTUDANTES A EGRESSOS: OS DESAFIOS DO CURSO DE