CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E DOS NÃO-COMPONENTES DA CARCAÇA DE CORDEIROS SUBMETIDOS A DIFERENTES NÍVEIS DE SUBSTITUIÇÃO DE SILAGEM DE MILHO POR SILAGEM DE CASCA DE MANDIOCA Leandro Otávio Vieira Filho², Gabrieli Jacoby Rodrigues¹, Liliane Cerdótes³, Elias Donadel¹, Rodrigo Ribeiro Dalanholli¹, Jean Paulo Pereira Cardoso¹, Douglas Leffa Pirolla¹, Juliana Policastro Velho², Dion Córdova Moraes4, Miguelangelo Ziegler Arboitte³ 1 Discente do curso de Técnico em Agropecuária do Instituto Federal Catarinense - Câmpus Sombrio. 2 Discente do curso de Engenharia Agronômica do Instituto Federal Catarinense - Câmpus Sombrio. 3 Dr., Professor do Instituto Federal Catarinense - Câmpus Sombrio. 4 Técnico Agrícola do Instituto Federal Catarinense - Câmpus Sombrio. 1 INTRODUÇÃO Na região sul do Estado de Santa Catarina há grande produção de polvilho de mandioca (Manihot sculenta Crantz), sendo que um dos subprodutos da industrialização deste é a casca de mandioca, a qual se conservada sob a forma de silagem pode ser utilizada na alimentação de ruminantes, podendo ser boa alternativa de volumoso na alimentação animal. Segundo DONADEL et. al. (2012), que avaliaram as características bromatológicas da silagem de casca de mandioca até 300 dias de ensilagem concluíram que este material apresenta características qualitativas adequadas para ser utilizada na alimentação animal. Os estudos de características quantitativas e qualitativas da carcaça tem como finalidade avaliar parâmetros subjetivos e objetivos, os quais estão relacionados com aspectos qualitativos e quantitativos das mesmas (Garcia et. al., 2003). O estudo de alguns órgãos internos são importantes por resultarem em renda adicional aos frigoríficos, sendo estes comercializados como insumos para a fabricação de rações para pet shops e/ou para consumo humano, como é o caso do fígado, rins, coração e língua. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a influência da substituição da silagem de milho (Zea mays) por silagem de casca de mandioca (Manihot sculenta Crantz) sobre os rendimentos de carcaça, dos cortes comerciais e dos não-componentes da carcaça, além do escore de condição corporal de cordeiros com predominância de sangue da raça Texel, recém desmamados. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Ovino-caprinocultura do IFC-Campus Sombrio. Foram utilizados 16 cordeiros Texel recém-desmamados, com idade fisiológica dente de leite. Os animais foram distribuídos em quatro tratamentos, com quatro repetições, após o bloqueio do peso em kg e verificação da curva de normalidade dos pesos através do programa estatístico SAS (2001). Os tratamentos foram constituídos de níveis de substituição crescente de silagem de milho por silagem de casca de mandioca na fração volumosa da dieta: 0%; 33%; 66%; 100% de silagem de casca de mandioca em substituição a silagem de milho. As dietas foram ajustadas para atender as exigências de proteína bruta e energia metabolizável, para ganho de 0,200 kg/dia (AFRC, 1995). O confinamento perdurou por 61 dias, após os cordeiros foram submetidos a jejum alimentar por 12h e em seguida foram pesados e realizada a avaliação do escore de condição corporal (ECC), em seguida estes foram levados até o abatedouro do IFC- Campus Sombrio onde foram abatidos. Após o abate foi feita a esfola e a evisceração, e em seguida foram coletados e pesados, o coração, a língua, os rins, o fígado mais a bili, e ainda o sangue, a gordura dos rins e do coração e o pulmão mais a traqueia. Após pesou-se a carcaça obtendo-se assim o peso de carcaça quente (PCQ), as quais foram resfriadas por 24h a 4ºC, sendo novamente pesadas obtendo-se o peso de carcaça fria (PCF), e em seguida calculados os rendimentos de carcaça quente (RCQ) e fria (RCF), e as perdas por resfriamento (PPR). As carcaças foram serradas ao meio e em seguida a meia carcaça esquerda foi separada nos cortes pescoço, paleta, lombo com vazio, costela e pernil. Posteriormente, na altura da 12ª e 13ª costelas foi exposto o músculo Longissimus dorsi para determinação da área de olho de lombo (AOL), medida que expressa a musculosidade existente na carcaça, espessura de gordura subcutânea de cobertura da carcaça, comprimento e largura máxima do músculo Longissimus dorsi. Os dados foram submetidos à análise de variância, teste F, e as médias foram comparadas pelo teste de Pdiff, através do programa estatístico SAS (2001). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo verificou-se que o ECC, o peso ao abate, e os pesos de carcaça quente e fria, foram semelhantes (P>0,05) entre os tratamentos, com valores médios de 3,1 pontos, 26,00kg, 11,27kg e 10,95kg, respectivamente. Ao analisar o rendimento de carcaça quente e fria observou-se que os animais que receberam apenas silagem de milho como volumoso, obtiveram melhor rendimento de carcaça quente (46,96%) e fria (45,92), o qual apresentou diferença significativa em relação aos tratamentos que receberam silagem de casca de mandioca nas proporções de 33%, 66% e 100%, que não apresentaram diferença estatística entre si, com valores de 40,57%, 43,17% e 41,36%, para o RCQ e de 39,45%, 41,63%, 40,05% para RCF, citados na mesma ordem. CARVALHO et al. (2006), observaram RCQ de 39,85% para cordeiros meio sangue Texel abatidos com 28,84kg, ou seja, valor inferior ao observado no presente estudo. Já ÍTAVO et al. (2009), trabalhando com cordeiros sem raça definida abatidos com 33,26kg observaram RCQ de 44,99% e de RCF de 41,81%, ou seja, valores aproximados aos observados no presente estudo. Tabela 1 - Médias de peso do escore de condição corporal (ECC), peso de abate (PA), peso de carcaça quente (PCQ), peso de carcaça fria (PCF), rendimentos de carcaça quente (RCQ), rendimento de carcaça fria (RCF) e perdas por resfriamento (PPR) dos cordeiros, de acordo com os diferentes tratamentos. Níveis de substituição de silagem de milho por silagem de casca de mandioca Variáveis Médias P 0% 33% 66% 100% ECC 3,30 2,98 3,18 3,04 3,12 0,2064 PA, kg 29,25 26,25 23,75 24,75 26,00 0,3282 PCQ 13,81 10,71 10,26 10,29 11,27 0,1473 PCF 13,51 10,42 9,90 9,96 10,95 0,1365 RCQ, % 46,96a 43,17b 41,36b 40,57b 43,01 0,0083 RCF, % 45,92a 39,45b 41,63b 40,05b 41,76 0,0098 PPR, % 2,217 2,760 3,580 3,191 2,937 0,1714 Conformação, pontos 2,50a 1,50b 1,25b 1,38b 1,655 0,0484 *Médias, na linha, seguidas por letra diferente, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). Segundo CEZAR & SOUSA (2007) o rendimento de carcaça está diretamente relacionado a sua conformação, ou seja, os animais que apresentam melhor conformação de carcaça também apresentam maior rendimento da mesma, o que esta de acordo com o que foi observado no presente estudo, pois os animais que receberam volumoso de silagem de milho foram os que apresentaram a melhor conformação (2,5 pontos), diferindo estatisticamente dos demais tratamentos, sendo que estes apresentaram valores médios de 1,5; 1,25 e 1,37 pontos, respectivamente para 33, 66 e 100% de substituição de silagem de milho por silagem de casca de mandioca, porém sem diferença estatística entre si (Tabela 1). Em relação as perdas por resfriamento (PPR), observou-se que esta não apresentou diferença estatística entre os tratamentos, sendo que a média foi de 2,9%, valor este, considerado elevado, mas que está dentro dos padrões de normalidade, os quais variam de 1,8 à 3,5%. A alta PPR observada no presente estudo deve ter ocorrido devido as carcaças não apresentarem boa conformação conforme descrito anteriormente. A área de olho de lombo (AOL) foi semelhante (P>0,05) entre os tratamentos (Tabela 2), com valores médios de 11,94 cm², valores estes semelhantes aos observados por MACEDO et al. (2008) que verificaram média de 11,32 cm² em cordeiros mestiços Suffolk. As espessuras de gordura subcutânea apresentaram semelhança (P>0,05), com valores médios de 0,16 cm. O comprimento e a largura máxima do músculo Longissimus dorsi foram semelhantes (P>0,05) entre os tratamentos, apresentando valores de 5,39 e 2,83 cm, citados na mesma ordem. Tabela 2 – Médias da área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (C), comprimento máximo (A) e largura máxima (B) do músculo Longissimus dorsi dos cordeiros, de acordo com os diferentes tratamentos. Níveis de substituição de silagem de milho por silagem de casca de mandioca Variáveis Média P* AOL, cm² C, cm A, cm B, cm 0% 12,25 0,25 5,73 3,00 33% 11,75 0,15 5,25 2,98 66% 12,25 0,12 5,30 2,78 100% 11,50 0,12 5,38 2,60 11,94 0,16 5,39 2,83 0,9819 0,1330 0,2382 0,6107 *P>0,05 indica que não houve diferença significativa entre os tratamentos. Os dados referentes aos cortes comerciais encontram-se na Tabela 3. Observa-se que não houve diferença estatística para estas variáveis nos diferentes tratamentos. A costela foi o corte mais pesado da meia carcaça, apresentando peso médio de 1,57 kg (P>0,05) representando 29,0% (P>0,05) da meia carcaça. O segundo corte mais pesado foi o pernil, corte nobre, com participação expressiva na carcaça de ovinos e com valor agregado, representou em média 1,43 kg representando 26,3% (P>0,05) do peso da meia carcaça. A paleta corte com boa aceitação para o consumo, apresentou peso médio de 1,16 kg representando 21,4% (P>0,05) do peso da meia carcaça. Os valores observados para as variáveis supracitadas estão de acordo com aqueles comentados por CEZAR & SOUSA (2007), os quais comentam que a costela o pernil e a paleta, o pernil e a costela representam respectivamente 27,6; 26,6 e 22,0%, perfazendo um total de 76,2% da carcaça de ovinos. Já para o pescoço e o lombo os autores supra citados comentam que estes representam 23,8% da carcaça, condizendo portanto com os dados obtidos no presente estudo, em que o pescoço apresentou peso médio de 0,416 kg representando 7,7% (P>0,05) da meia carcaça e o lombo, por sua vez, apresentou valor médio de 0,84 kg representando 15,6% (P>0,05) da carcaça dos cordeiros, compreendendo, portanto 23,3% da carcaça. Tabela 3 – Médias de peso dos cortes comerciais dos cordeiros, de acordo com tratamentos. Níveis de substituição de silagem de milho por silagem de casca de mandioca Variáveis Média 0% 33% 66% 100% Pescoço, kg 0,4 0,388 0,400 0,475 0,416 Paleta, kg 1,05 1,125 1,063 1,40 1,159 Pernil, kg 1,35 1,312 1,35 1,70 1,426 Lombo, kg 0,8 0,775 0,75 1,05 0,844 Costela, kg 1,587 1,362 1,375 1,95 1,569 os diferentes P* 0,5854 0,1982 0,2560 0,2117 0,1189 *P>0,05 indica que não houve diferença significativa entre os tratamentos. Os dados referentes aos componentes não integrantes da carcaça encontram-se na Tabela 4. Dentre as variáveis avaliadas a única que apresentou diferença estatística foi a gordura dos rins, que no tratamento com 0% de silagem de casca de mandioca apresentou peso médio de 0,163 kg diferenciando dos demais tratamentos, os quais não diferiram entre si, com peso médio de 0,069; 0,080 e 0,038 kg, respectivamente para 33, 66 e 100% de substituição da silagem de milho por silagem de casca de mandioca. Sabendo-se que a gordura dos rins tem grande relação com o peso de abate, pode-se afirmar que o maior acúmulo de gordura ocorreu nas carcaças de animais recebendo 100% de silagem de milho como volumoso porque foi neste tratamento que ocorreu o maior peso ao abate dos animais, embora sem diferença estatística dos demais tratamentos. Tabela 4 - Médias de peso dos componentes não-integrantes da carcaça dos acordo com os diferentes tratamentos. Níveis de substituição de silagem de milho por silagem de casca de mandioca Variáveis Média 0% 33% 66% 100% Sangue, kg 1,14 1,07 1,09 1,05 1,090 Coração, kg 0,101 0,094 0,116 0,110 0,105 Gcora, kg 0,037 0,054 0,066 0,055 0,053 Pul+Traq, kg 0,415 0,371 0,445 0,396 0,407 Rim, kg 0,073 0,074 0,08 0,073 0,075 Grins, kg 0,163a 0,069b 0,080b 0,038b 0,088 Fig+Bil, kg 0,479 0,425 0,431 0,410 0,436 Língua, kg 0,066 0,068 0,076 0,078 0,072 cordeiros de P* 0,9532 0,5037 0,6453 0,6540 0,6834 0,0003 0,5942 0,5741 Gcora = gordura do coração; Pul+traq = pulmão+traquéia; Grins = gordura dos rins; Fig+Bil = fígado+bili. *Médias, na linha, seguidas por letra diferente, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). Os demais componentes não integrantes da carcaça não apresentaram diferença estatística entre os tratamentos (P>0,05). O peso médio para o sangue, coração, língua, rins, fígado mais bili, gordura do coração e pulmão mais traqueia foram respectivamente de 1,09; 0,105; 0,072; 0,075; 0,436; 0,053 e 0,407 kg. 4 CONCLUSÃO Animais alimentados com 100% de silagem de milho na fração volumosa da dieta apresentaram melhor conformação e melhores rendimentos de carcaça quente e fria. As percentagens dos cortes comerciais e as medidas do músculo Longissimus dorsi não foram influenciadas pela substituição da silagem de milho da fração volumosa da dieta por silagem de casca de mandioca oriundo do processo de fabricação de polvilho. Quanto aos componentes não integrantes da carcaça somente a gordura dos rins foi melhor nos animais alimentados com 100% de silagem de milho na fração volumosa da dieta. Com base nos resultados deste trabalho, pode-se concluir que a silagem de casca de mandioca pode ser utilizada como alternativa de volumoso na alimentação de cordeiros recém desmamados com predominância de sangue da raça Texel. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL- AFRC. Energy and protein requirements of ruminants. Farnham Royal: CAB International, 1995. 59p. CARVALHO, S.; VERGUEIRO, A.; KIELING, R. et. al. Desempenho e características da carcaça de cordeiros mantidos em pastagem de tifton-85 e suplementados com diferentes níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.12, n.3, p. 357-361. 2006. CEZAR, M.F.; SOUSA, W.H. Carcaças Ovinas e Caprinas – obtenção - avaliação – classificação. Uberaba-MG, 1ª edição. Editora Agropecuária Tropical, 2007. 147p. DONADEL, E.; CERDÓTES, L.; RIBEIRO FILHO, H.M.N. et al. Aspectos bromatologicos de ensilaje de la cascara de la mandioca (Manihot esculenta Crantz) desensilada en diferentes periodos. In: CONGRESO ANUAL SOCIEDAD CHILENA DE PRODUCCIÓN ANIMAL, 37, 2012. Parral, Chile. Anais... Parral: SOCHIPA, 2012. GARCIA, C.A.; MONTEIRO, A.L.G.; COSTA, C. et al. Medidas objetivas e composição tecidual da carcaça de cordeiros alimentados com diferentes níveis de energia em creep feeding. Revista Brasileira de Zootecnia,v.32, n.6, p. 1380-1390. 2003. ÍTAVO, C.C.B.F.; MORAIS, M.G.; COSTA, C. et. al. Característica de carcaça, componentes corporais e rendimento de cortes de cordeiros confinados recebendo dieta com própolis ou monensina sódica. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.5, p. 898-905. 2009. MACEDO, V.P.; GARCIA, C.A.; SILVEIRA, A.C. et. al. Composições tecidual e química do lombo de cordeiros alimentados com rações contendo semente de girassol em comedouros privativos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37,n.10,p.1860-1868, 2008. SAS. USER’S GUIDE: Basic and Statistic. Cary: SAS, 2001. 1686p. AGRADECIMENTOS - O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil. - Projeto Repensa Edital CNPq : 12/2010 – Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Mandioca na Região Centro-Sul do Brasil. - Instituto Federal Catarinense – Campus Sombrio – aquisição dos cordeiros e alimentação.