40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia SUPLEMENTAÇÃO COM DIFERENTES FONTES DE ENERGIA EM DIETAS BASEADAS EM FENO DE ALFAFA: DIGESTIBILIDADE, CONSUMO E EFEITOS ASSOCIATIVOS.1 AUTORES FÁBIO SCHULER MEDEIROS 2, HAROLD OSPINA PATINO 3, ANDRÉ LUÍS FINKLER DA SILVEIRA 4, GIOVANNI MATEUS MALLMANN 5, MARICELDA BORGES FIGUEREDO 6 1 2 Trabalho financiado com recursos da FAURGS. Médico Veterinário, aluno do PPG em Zootecnia UFRGS, Bolsista do CNPq. Endereço: Faculdade de agronomia, Departamento de Zootecnia, Av. Bento Gonçalves 7712, Porto Ale gre. CEP 91540-000. Email: [email protected] 3 Zootecnista, Dsc., Professor do Departamento de Zootecnia, Faculdade de Agronomia, UFRGS.Médico Veterinário, MsC., Aluno do PPG em Zootecnia UFRGS, Bolsista CNPq. 4 Médico Veterinário, MsC., Aluno do PPG em Zootecnia UFRGS, Bolsista CNPq. 5 Eng. Agrônomo, aluno do PPG em Zootecnia UFRGS, Bolsista CAPES. Acadêmica do curso de Medicina Veterinária, UFRGS, Bolsista de Iniciação Científica. 6 RESUMO O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar os efeitos da suplementação com distintas fontes energéticas sobre o consumo, digestibilidade e efeitos associativos de uma dieta baseada em volumoso de alta qualidade. Utilizou-se 16 novilhos machos inteiros da raça Hereford, alocados em baias individuais. As dietas constavam de Feno de Alfafa (Medicago sativa)+Minerais (CON), Feno de alfafa + 1% PC casca de soja e minerais (CAS) e Feno de alfafa + 1% PC milho moído e minerais (MIL). Não houve diferença entre o CMO dos tratamentos (2,60, 2,88 e 2,82 %PC), porém houve redução (p<0,05) no CMO e CFDN do feno nos tratamentos suplementados em relação ao controle, mas estes não apresenaram diferença entre si. Os coeficientes de substituição calculados foram 0,71 e 0,79 para CAS e MIL (p>0,05). A DMO diferiu entre os tratamentos, suplemenados e o controle, porem entre estes não houve diferença significativa. A DMO diferiu entre os tratamentos, sendo que CAS e MIL não diferiram pelo teste de Tukey 5%. A DFDN, DCEL e DHEMI foram superiores para CAS, porém não apresentaram diferença significativa entre CON e MIL. Os tratamentos suplementados apresentaram CMOD/UTM 24% superior (p<0,05) ao CON, não diferindo entre si.A suplementação energética afetou positivamente o CMOD/UTM, produzindo efeitos associativos do tipo subsitutivo-aditivo, porém não foram detectadas diferenças entre os suplementos. PALAVRAS- CHAVE Suplementação energética Volumoso de alta qualidade Milho Casca de soja Efeitos associativos TITLE SUPPLEMENTATION WITH DIFERENT SOURCES OF ENERGY IN A LUCERN HAY BASED DIET: DIGESTIBILITY, INTAKE AND ASSOCIATIVE EFFECTS ABSTRACT The experiment was conduced with the aim of evaluating the effects of the supplementation with different energy sources on the intake, digestibility and associative effects of a high quality forage based diet. It was used 16 Hereford bulls, 18 months old allocated in individual stalls. The diets consisted of Lucern hay (Medicago sativa)+Minerals (CON), Lucern Hay + 1% PC soybean hulls+minerals (CAS) and Lucern Hay + 1% PC cracked corn+minerals (MIL). There was not difference among CMO of the treatments (2,60, 2,88 and 2,82 %PC), however there was reduction (p <0,05) in CMO and CFDN of the hay in the supplemented treatments in relation to CON, but these didn’t differed (p>0,05). The substitution coefficients calculated were 0,71 and 0,79 to CAS and MIL (p>0,05). DMO differed among supplemented and the control treatment, but there was not significant Pág 1 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia difference between them (CAS and MIL) for the Tukey 5% test. DFDN, DCEL and DHEMI were superior to CAS, however they didn't presented significant difference among CON and MIL. The supplemented treatments presented 24% higher CMOD/UTM (p<0,05) than the CON, not differing among them. The energy supplementation improved significantly the CMOD presenting a substitutive-aditive associative effect, but not different among energy sources. KEYWORDS Energy supplementation, High quality forage, Corn, Soybean hulls , Associative effects, INTRODUÇÃO A suplementação com alimentos energéticos têm sido indicada por inúmeros trabalhos como sendo uma prática cabível para o melhor aproveitamento e obtenção de altos ganhos de peso em pastagens de alta qualidade, especialmente no início de seu ciclo vegetativo, onde observa-se um marcado desequilíbrio nutricional. Via de regra, o principal nutriente limitante ao desempenho animal é a energia. Muitos trabalhos têm afirmado que o uso de alimentos ricos em amido, como o milho e o sorgo, na formulação de suplementos trariam prejuízos ao aproveitamento do volumoso por reduzirem o pH ruminal influenciando negativamente a atividade dos microorganismos celulolíticos. Uma alternativa viável seria o uso de alimentos energéticos ricos em fibras de alta digestibilidade, como a casca de soja e a polpa de citros, capazes de incorporar energia as dietas sem com isso prejudicar o aproveitamento da fibra da forragem. Recentemente, foi demonstrado que através da otimização do ambiente ruminal poderia-se reverter estes efeitos negativos, em dietas baseadas em volumoso de baixa e média qualidade. A suplementação muitas vezes produz resultados diferentes dos esperados quando da combinação simples das porções volumoso+concentrado. Estes desvios entre o esperado e o observado são conhecidos como efeitos associativos (MOORE et al., 1999). O presente trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos de suplementos formulados a partir de fontes energéticas distinas sobre a digestibilidade, consumo e os efeitos associativos produzidos pela suplementação, utilizandose como base um volumoso de alta qualidade. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado nas instalações do setor de ruminantes do laboratório de ensino zootécnico Prof Geraldo Velloso Vieira e no laboratório de nutrição de ruminantes (LANUR), pertencentes ao departamento de zootecnia da Faculdade de Agronomia, UFRGS, no período de 10 a 28 de abril de 2002. Foram utilizados 16 novilhos Hereford inteiros de 18 meses de idade, com peso inicial médio de 206 kg. No primeiro dia do período experimental, os animais foram dosificados com 5 ml de ivermectina e receberam 5 ml de complexo vitamínico ADE injetável, sendo posteriormente alocados ao acaso em baias individuais com comedouros separados para o volumoso e o concentrado e dotados de bebedouros automáticos. Os tratamentos experimentais foram: Feno de alfafa (Medicago sativa)(17,02% PB e 53% FDN) + mistura mineral a vontade (CON), feno de alfafa + 1%PC de casca de soja e minerais (CAS), feno de alfafa + 1%PC de milho moído + uréia e minerais. A adição de uréia ao suplemento baseado em milho foi feita a fim de que ambas as dietas apresentassem uma relação CPDR/CMOD semelhante, em torno de 130g de PDR/ kg MOD conforme proposto pelo NRC (1996). A formulação do concentrado é apresentada na TABELA1. Foi conduzido um ensaio convencional de digestibilidade e consumo, durante 15 dias, sendo os 10 primeiros dias de adaptação e os 5 dias finais de avaliação do consumo e produção fecal. O feno foi fornecido picado em quanidade suficiente para que houvessem sobras em torno de 30 % da quantidade oferecida. Foram analisadas as fezes, sobras, feno oferecido e os suplementos sendo realizadas as determinações de MS, MO, FDA e LDA (AOAC, 1995) e FDN (VAN SOEST e ROBERTSON, 1991). A fração celulose foi obtida por diferença (%CEL=%FDA-%LDA) e a fração hemicelulose pela diferença entre FDN e FDA (%HEMI=%FDN-%FDA). O delineamento experimental foi o completamente casualisado, sendo que os resultados obtidos foram submetidos a ANDAVA e posteriormente tiveram suas médias comparadas através do teste de Tukey (5%). Pág 2 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia RESULTADOS E DISCUSSÃO O CMO não diferiu (p>0,05) entre os tratamentos. O CMO do feno diferiu (p<0,05) entre tratamentos suplementados e o controle, porém estes não diferiram entre si, observando-se o mesmo comportamento em relação ao CFDN do feno. Os resultados observados concordam com GALLOWAY et al (1993) que observaram aumento no CMO total com adição de suplementos energéticos de fonte fibrosa e amídica, assim como a redução no CMO do feno. A suplementação com ambas as fontes de energia apresentou efeitos associativos do tipo substitutivo aditivo, com coeficientes de substituição de 0,71 e 0,79 para CAS e MIL, não sendo observada diferença significativa entre as fontes (p=0,62). O tipo de suplemento não teve efeito significativo (p>0,05) sobre o CFDN feno, porém observou-se um menor CFDN feno para os tratamentos suplementados em relação ao CON. A DMO diferiu (p<0.05) entre o tratamento CON (61,2%) e os suplementos MIL e CAS (70,1 e 67,2), porém estes não diferiram entre si. A DFDN, DHEMI e DCEL apresentaram valores significativamente superiores para o tratamento CAS, provavelmente devido a própria inclusão deste suplemento composto de fibras de alta digestibilidade, porém não diferiram entre o tratamento CON e MIL. Segundo diversos autores a suplementação com carboidratos rapidamente fermentáveis teria efeitos negativos sobre a digestibilidade da fração fibrosa da dieta, especialmente sobre a digestibilidade da celulose devido a inibição da atividade das bactérias celulolíticas a nível ruminal ocasionada pela queda no pH. Autores como EL-SHAZLI, 1961; BODINE et al., 2001, SILVEIRA, 2002, entre outros, demonstraram que níveis adequados de proteína degradável no rúmen são capazes de reverter ou atenuar os efeitos negativos da suplementação com carboidratos não fibrosos sobre a digestibilidade da fração fibrosa, com volumosos de média e baixa qualidade, sustentando a hipótese de que a redução da atividade celulolítica a nível ruminal seria em decorrência de níveis inadequados de nitrogênio disponível no ambiente ruminal para o desenvolvimento deste tipo de microorganismos. No caso do presente experimento, os suplementos foram formulados para que as dietas suplementadas relações semelhantes entre PDR/MOD, em torno de 130 g de PDR/ kg MOD, nível este não limitante. Deve-se considerar, no entanto, que a alfafa é uma forrageira que possui características peculiares como uma alta capacidade de troca catiônica, a qual exerce efeitos sobre a capacidade de tamponamento no ambiente ruminal (VAN SOEST, 1994), podendo desta forma não ter-se atingido níveis críticos de pH para a atividade dos microorganismos celulolíticos a nível ruminal, visto que parâmetros como pH e amônia ruminal não foram avaliados.O CMOD/UTM foi significativamente superior nos tratamentos suplementados (p<0,05), observando-se um aumento médio da ordem de 24 % para os tratamentos MIL e CAS em relação ao CON, o qual certamente elicitaria maiores desempenhos animais conforme observado por outros autores em situações de volumosos de alta qualidade (HORN et al., 1995) como o do presente experimento. CONCLUSÕES Nas condições em que esse experimento foi realizado, conclui-se que a suplementação energética afetou positivamente o CMOD/UTM, produzindo efeitos associativos do tipo subsitutivo-aditivo, porém não foram detectadas diferenças entre os suplementos. Mais trabalhos devem ser realizados, especialmente avaliando parâmetros ruminais (pH, NNH3) e a digestibilidade da fibra da forragem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. A.O.A.C. Official methods of analysis. . 16th Ed. Association of Official Analytical Chemist. Washington, D.C., 1995. 2. BODINE, T. N.; PURVIS II, H. T.; LALMAN, D. L.. Effects of supplemental type on animal performance, forage intake, digestion, and ruminal measurements of growing beef cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 79, n. , p.1041 – 1051. 2001. 3. El-SHAZLI, K.; DEHORITY, B. A.; JONSON, R. R.. Effect of starch on the digestion of cellulose in vitro and in vivo by rumen microorganisms. Journal of Animal Science, Champaign, v. 20, n. 2, p. 268-273, 1961. 4. GALLOWAY, D. L., GOETSCH, A. L., FORSTER JR., L. A. et al.. Digestion, feed intake, and live weight gain by cattle consuming bermudagrass and supplemented with different grains. Journal of Animal Pág 3 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia Science, Champaign, v.71, n. 4, p. 1288-1297, 1993. 5. HORN, G.W.; CRAVEY, M.D.; McCOLLUM, F.T.; STRASIA, C.A.; KRENZER, E.G.Jr.; CLAYPOOL, P.L.. Influence of high-starch vs high-fiber energy supplements on perf ormance of stocker cattle grazing weaon the digestion of cellulose in vitro and in vivo by rumen microorganisms. Journal of Animal Science, Champaign, v. 20, n. 2, p. 268-273, 1961 6. MOORE, J. E.; BRAND, W. E.; KUNKLE, W. E; HOPKINS, D. I. . Effects of supplementation on voluntary forage intake, diet digestibility, and animal performance. In: 1998 JOINT MEETING SYMPOSIUM ISSUE. [S.I.: s.n.], [1999]. p. 122-135. Publicação conjunta do Journal of Animal Science, v.77, suppl. 2 e Journal of Dairy Science, v. 82, suppl. 2. 7. NRC. 1996.. Nutrient requirement of beef cattle. National Academy Press, Washington, DC. 8. SILVEIRA, A. L. F.. Avaliação nutricional da adição de uréia ao feno suplementado com milho moído. Porto Alegre, 2002, 79f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. 9. VAN SOEST, P. J. . Nutritional ecology of the ruminant. New York: Cornell University Press, 1994. 476 p. 10. VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B.. Analysis of forages and fibrous foods. A laboratory manual for animal science. Cornell University. 202p. 1985. TABELA1 – Formulação dos suplementos utilizados Ingrediente Milho moído Casca de Soja Uréia NaCl Premix Mineral Enxofre Casca de Soja (CAS) 0,00 99,07 0,00 0,49 0,13 0,31 Milho Moído (MIL) 98,45 0,00 0,65 0,47 0,13 0,30 Pág 4 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia TABELA2 – Resultados de digestibilidade da matéria orgânica (DMO), digestibilidade da FDN (DFDN), digestibilidade da hemicelulose (DHEMI), digestibilidade da celulose (DCEL), consumo de matéria orgânica (CMO), consumo de matéria orgânica do feno (CMO feno), consumo de FDN (CFDN), consumo de FDN do feno (CFDN feno) e consumo de matéria orgânica digestível por unidade de amanho metabólico (CMOD/UTM). DMO DFDN DHEMI DCEL Controle (CON) 61,18 b 57,78 b 68,84 ab 61,72 b Digestibilidade Casca de Soja (CAS) 67,19 a 63,74 a 73,20 a 71,33 a Milho Moído (MIL) 70,10 a 54,33 b 67,32 b 59,94 b Consumo Controle Casca de Soja Milho Moído (CON) (CAS) (MIL) CMO % PC 2,60 2,88 2,82 CMO feno %PC 2,60 a 1,93b 1,83b CFDN %PC 1,44 b 1,74 a 1,20 c CFDN feno % PC 1,44 a 1,08 b 1,00b CMOD/UTM (g) 60,46 b 74,04 a 76,17 a Obs: Médias na mesma linha seguidas de letras minúsculas diferentes, diferem entre si pelo teste de Tukey 5%. Pág 5