10 A política A GAZETA CUIABÁ, SEXTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2012 DOIS GUMES Vereador pode ser impedido de participar de eleições até 2020 se renunciar para assumir Assembleia Deucimar ficaria inelegível TÉO MENESES DA REDAÇÃO Se renunciar ao mandato para assumir uma vaga de deputado na Assembleia Legislativa, o vereador Deucimar Silva (PP) poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficar inelegível por 8 anos. A renúncia vem sendo cogitada por aliados dele para fugir do processo que responde na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga superfaturamento na reforma do prédio da Câmara de Cuiabá. Questionado sobre uma eventual renúncia, o ex-presidente da Câmara alega, no entanto, que nem cogitou isso ainda e não conversou com a Mesa Diretora da Assembleia sobre a possibilidade de assumir uma vaga diante do afastamento do deputado Airton Português (PSD). A situação de Deucimar pode se complicar com base na alínea “K” da Lei da Ficha Limpa, que prevê inelegibilidade de detentores de mandato eletivo que renunciarem desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, das constituições estaduais, da Lei Orgânica do Distrito Federal Renúncia para escapar de cassação é vedada desde 2010 ou da leis orgânicas dos municípios. A inelegibilidade prevista se estende para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 anos subsequentes ao término da legislatura. Nesse caso, Deucimar pode ficar impedido de participar da vida pública até dezembro de 2020. O advogado Vilson Nery, um dos coordenadores do Movimento de Comba- te à Corrupção Eleitoral, concorda que Deucimar pode ser enquadrado como “ficha suja”. “A ideia de incluir esse dispositivo na Lei surgiu como uma reação contra as renúncias de deputados federais que queriam fugir de punições do escândalo do Mensalão. Mas cada caso deve ser avaliado separadamente”. Deucimar pode se complicar porque a CPI foi criada para apurar superfaturamento na reforma do prédio da Câmara. A obra custou R$ 3,5 milhões e contou com serviços superfaturados, feitos fora das especificações e pagos mesmo sem realização no valor de R$ 1,1 milhão. Outro agravante é que os problemas levaram à reprovação das contas do vereador no Tribunal de Contas do Estado, o que já o enquadra na Lei da Ficha Limpa por se tratar de uma condenação de órgão colegia- do. Ele afirma, no entanto, que já apresentou recurso (embargos de declaração) e diz estar confiante na anulação da decisão. Deucimar afirmou também que promete conversar hoje com o PP para decidir o assunto. Discordou da tese de que ficará inelegível. “Se renunciar é para assumir uma vaga de deputado, pois, se eu não for para a Assembleia, preciso renunciar também à condição de suplência. Se o partido quiser, vou sim para a Assembleia com toda a tranquilidade”. Otmar de Oliveira Deucimar Silva alega estar tranquilo e diz não acreditar na tese de ficar inelegível por conta de possível enquadramento na Ficha Limpa Depoimento - Vereadores da CPI que investiga superfaturamento ouviram ontem servidores ligados à Comissão de Licitação e administração da Câmara. Os depoimentos confirmaram mais uma vez a falta de controle no Legislativo. Válidos Augusto Miranda, à época membro da Comissão de Licitação da Prefeitura e cedido para acompanhar o processo de licitação para reforma na Câmara, confirmou que o edital foi elaborado no Legislativo. A versão confronta a defesa de Deucimar, que diz ter aderido a um processo e planilhas de preços sugeridas pela Secretaria Municipal de Habitação. Segundo Válidos, o edital foi elaborado numa manhã de sábado, na própria residência dele, e assinou como ouvinte a ata da reunião da comissão mesmo sem ter conhecimento integral do processo e saber a origem da planilha de preços. A ex-secretária de Finanças da Casa, Circe Medeiros, alegou que nunca averiguava as planilhas de preços. Pagava o que era atestado pelo engenheiro Carlos Anselmo e enviado pela presidência. SUPLÊNCIA AL fomenta briga na Câmara DA REDAÇÃO A possível ida de Deucimar Silva para a Assembleia Legislativa motivou um bate-boca entre o ex-presidente da Câmara e Everton Pop (PSD), um dos vereadores que mais defendiam o antigo comando do Legislativo. O clima entre ambos esquentou durante reunião na presidência da Câmara Municipal e a discussão teve que ser separada por outros parlamentares para não acabar em toca de socos. Tudo começou quando os vereadores reclamavam pela manhã da ausência de representantes da Alos Construção no depoimento da CPI que investiga su- perfaturamento na reforma. Foi então que alguns parlamentares questionaram Deucimar sobre a possível ida do ex-presidente para a Assembleia Legislativa. Chegou a circular entre os presentes um convite da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa para a posse do suplente Valdizete Nogueira na vaga do deputado Airton Português para a próxima terça-feira (03), às 17h. Os questionamentos, feitos entre piadas e ironias em relação ao convite, se devem ao fato de que Deucimar está na primeira ordem de preferência entre os suplentes do PP, pois Luizinho Magalhães já ocupa vaga de Antônio Azambuja. Ex-pre- feito de Jaciara, Valdizete é apenas o segundo suplente atualmente, mas já até circulava ontem na Assembleia na expectativa de herdar a cadeira. Deucimar reagiu alegando que alguns vereadores presentes à reunião secreta já estariam planejando para cassá-lo por improbidade administrativa. Ele direcionou as críticas principalmente para Everton Pop, que chegou a ameaçar partir para o soco. Ambos evitaram falar sobre o assunto publicamente depois da ocorrência. Mesmo sem dar detalhes, o presidente Júlio Pinheiro (PTB) afirma que os vereadores já resolveram as divergências. (TM) DISPUTA POR MANDATO PSD e PP se engalfinham por vaga MARCOS LEMOS DA REDAÇÃO A licença do deputado Airton Português (PSD), que em 2010 foi eleito pelo PP e migrou para o partido de Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, acabou provocando um clima de beligerância nos bastidores da Assembleia Legislativa. Tudo porque o PSD só admite abrir vaga para Valdizete Nogueira, que na lista dos eleitos e suplente da Justiça Eleitoral está atrás do vereador Deucimar Silva (PP), que legalmente tem o direito a assumir o exercício do mandato. “Se não for para o Valdizete, não saio de licença”, disse o parlamentar pessedista. O problema é que do outro la- do o PP entende que a vaga é de Deucimar Silva e não abre mão de ter o ainda vereador por Cuiabá como deputado estadual e decidiu impor essa condição com uma ameaça, a de levar de volta para a Assembleia o deputado licenciado Antônio Azambuja (PP), atual secretário de Esportes do governo do Estado. O retorno de Azambuja tira a vaga do primeiro suplente, Luizinho Magalhães, outro eleito pelo PP e que migrou para o PSD. “O PP espera que o vereador Deucimar Silva, que será chamado a assumir a condição de deputado estadual, faça a melhor opção”, disse o deputado Ezequiel Fonseca, secretário-geral do Partido Progressista. O clima, no entanto, entre ambas as siglas que antes era uma só está longe de um entendimento, ainda mais quando os progressistas foram informados de que já está agendada e sendo distribuído convites para a posse de Valdizete Nogueira, que insiste em assumir para poder disputar as eleições municipais em Jaciara.